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II

.l. responsabilidalle dos actos do poder mode-


rador 8et;lIndo a constitnição prbnitiva.

Aquelles, que negam a 1'e ponsabilidade. dos mi-


nistro pelos actos do poder moderador, aHegam:
1.0 Que Opoder moderador, cOlJforme o art. 89 da
Constituição, é privativamente delegado ao chefe da
nação, ao passo que o art. i 02 diz que o Imperador é o
chefe do poder executivo, c o exercita pelos seus mi-
nistros de estado.
2. o Que o art. 132 determina que o ministro de
estado as ignaráõ todo os actos do poder executivo,
em o que Dão poderáõ ter e:ecução, não dizendo o
me mo dos actos do pod r moderador, donde se infere
que os nlilJi tros de estado não assignam os actos
do poder moderador, ou assignando-o , só o fazem
pal'a « authenticar o reconhecimento, a veracidade da
firma imperial », n.
3.° Que toda a garantia contra o abuso passiveI
das funcções do poder moderador cifra-se na respon-
sabilidade dos conselheiros de estado, os quaes, con·
fotme o art. 1/..2, devem ser ouvidos em todos os
negociO:3 graves e medida gCl'aes da publica admi·
nistração, principalmente sobre a declaração de guerra
e ajustes de pa.z, negociações com as nações estran-

(*) Direito Publico B/'(tsileil'o ~ AIL1,lys~ da ConslituiFio do I11l.pe,"io,


pelo Dr. José Antonio Pimenta Bueno.
geiras, assim como em todas as occasiões, em que o
Imperador se propõe exercer qualquer das attribui-
ções proprias do poder moderador, indicadas no
art. fOI, á excepção da do ~ 6.
4," Que sendo a missão do poder moderador velar
sobre a manutenção da independencia, equilibrio e
harmonia dos mais poderes politicas, se os ministros
tivessem interferencia nos actos des e poLler, acon·
selhando-os ou respondendo por elles, um dos po-
deres activos, o executivo, aproximando-se do mo-
derador, prevalecer-se-hia disso lJara pÓI' em perigo
a independencia, o equilibrio, a harmonia dos po-
deres llue ao podet' moderador incumbe manter.
Apreciarei cada um desses quatro argumentos.

1."

No dizer dos adversarios da respoosabiHdade mi-


nisterial em assnmpLos do pouur moderador, a palavra
privativamente, de que se serve o art. 98 da Consti#
tuição, ergue um muro de bronze entre a con'>a e os
ministros no que toca ao exercicio daqnelle poder,
significando que aos ministros de estado, Ilem com o
seu conselho ao resolver-se, nem com a sua responsa-
bilidade ao executar se qualquer dos acto previ tos no
art. i 01, toca o direito de auxiliar e servir o {chefe su-
premo do Estado.
Tal, porém, 030 é, mas outra e bem distincta, a sig-
nificação daquelle termo.
A Constituição no art. lO recúnhece quatro poderes
politicos: o poder legislativo, o poder moderador, o po-
der executivo, e o poder judicial.
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Desde o art. 13 até o art. 97 trata a Constituição do


poder legislativo e do que com elle tem relação, come-
çando por declarar - que o poder legislativo é dele-
gado á assembléa geral com asancção do Imperauor - ,
a saber: que es e poder não é delegado a uma só
pessoa physica ou moral, mas a tl'es que são - a ca·
mara dos deputado, o senado, e o Imperador.
Passando depoi a tratar do poder model'ador diz
então no art. 98 a lei fundamental, e não podia deixar
de dizê-lo, que esse poder é privativanlef1,te delegado
ao Imperador, isto é, - que é delegado a elle só com
exclusão de mais pessoa:;, e não a diversos como a res-
peito do poder \egi lativo ficára determinano.
Com etIeito, e no teITeno da legislação a jJlul'alidalte
tem todo o lugar, se oconcurso do chefe do Estado e das
duas camaras para fazer leis é da essencia do regimen
representativo, a supl'8ma inspecção do Estado, as im
como a prompta e regular execução das leis, reclamam
indispen avelmente - unidade-, e, pois, a divisão,
que alli cabia, era aqui impl'aticavel, impl'aticavel a
ponto de que, se a admitti sem, desappareceria da
Constitui ão o elemento monarcllico.
Dest'al'te a phl'ase - delegado privat'ivcunente - ,
que o art. 98 applica ao poder moderador, qner sil1l-
plesmente dizer que, nesta parte da soberania nacional,
differentemellte do que ficára assentado sobre o poder
legislativo, a delegaç,ão é feita a um só, ao monarcha,
como a3 mai sãas noções de organisação politica e a
experiencia dos seculos exigiam, mas ao monarcha, está
ubentennido, acooselhano pelas luze de !lomen com-
petentes, porque elle não pMe saber tudo, e sen'ido
por agentes I'e pon aveis, porque é. e pam que seja,
inviolavel e sagrado.
O adverbio-privativamente - , elevado á altura d'3
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argumento irrespondivel para dar ao poder moderador


o caracter de um poder por assim dizer pessoal, com o
qual nada tenham que ver os ministros de estado, deve
de certo pór em serias embaraços os que assj mpensam,
se quizel'em explicar como, sendo esse poder puramente
pessoal, apropriaCon tituição d termina, emo art. '142,
que o Imperador, todas as vezes que se propoul a exer-
cer qualquer das aLLribuições, de que se elle compõe,
exceptuando ómente a do , (j" do art. 10'1, ouça o
conselho de estado, e no art. U,3 queo conselheiros são
Te pons:weis pelo con elhos, que a tal respeito derem,
como geralmente o são pelos que proferem em negocios
e medidas da publica administraç,ão, sendo oppostos ás
leis e interesses publicos.
Se a delegação pr'ivativa do poder moderador ao 010-
narcha não impede a intervenção dos conselheiros de
estado com os seus conselho", e com a garantia de su~
responsabilidade pelos que derem oppostos ás leis e aos
interesses do Estado, manifestamente doloso, não e na
circumstancia de ser p/"ivativa a delegação que se ha
de achar motivo sllfficiente para arredar os ministros de
estado não só do conselho, se não da 1'e ponsabilidade
pr.la execução dos actos do poder mode.'adol', que forem
otTensi vos das leis ou dos interesses do paiz.
Onde, pois, achar-se o motivo de tal exclusão?
Aqui os propugnadores da doutrina, lue reduz o
ministros ao papel de automatos em negocios do poder
moderador, invocam o art. 102 da Constituição. o qual,
declarando o Imperador chefe do poder executivo,
determina que o exercite por seus ministros de estado,
e seu argumento e- que, uma vez que a respeito do
poder executivo a Constituição manda que o 1m pera-
dor o exet'ça por seus ministros e o mesmo não dispõe
quanto ao moderador, os ministros de estado tudo
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tem com o exercicio do poder executivo, e nada com o


do moderador.
Ponder:.trei primeiramente que o argumento, dedu·
zido do art. 102, P cca el1l que, se algu ma cansa pro
vasse, provaria de Illai ; porque scluidos, como se pre-
tende com a cita'ão desse artigo, os ministl'os de estado
de serem medianeiro no G tos do poder moderador,
segue-se CJue, não havendo, como não ha, Da Constitui-
yão outros fUDccionarios por meio dos quaes possa o
imperadol'legalmente exercer os actos do poder mode-
rador, deve·se chegar á conclusão - que o poder mode-
derador é exercido pelo Imoerador directamente-
absmdo de tal quilate em uma monarcbia onstitucional,
que o mesmo é ennncia-lo que refuta-lo.
Depoi , os que combatem a todo o transe a interven-
ção Llo con.elho e responsabilidade mini terial no exer-
cicio do poder moderadol', de medo que esse poder,
com tal contacto, perca o pri ati o de sua delegação.
esquecem-se de que, se o seu presuppo to fo se verda-
deiro, o poder executivo qn , conforme o art. 102 por
elJes citado, é exercido pelo Imperador por meio de
seu ministro:i, seria, contra toda' as idéas r cebidas,
um poder delegado não a um individuo s'l, mas a
gl'ande numero de pessoas, isto é, ao primeiro repre-
sentante da nação e a sei secrot:1I'ifls de e tado, se
maior on menor não rór, como permitte o art. 13'1 da
Constituição, o nUl1lero dos secreta rios de e tado.
Ora tal suppo ição é inadmissi"cl.
No plano da Constituição, traçado nesta parte pelo:
verdatleiros principias de orgaoisação politica, o poder
executivo' delegado s6 ao Impcrador, Lão privativa-
IlJCnto ao imperador como o é o podcr moderador.
Com elfeito o arL. '102 ela Con tiLuição diz: « OIlllpc-

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