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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Disciplina: Didática
Professora: Fabrícia Vellasquez
Discente: Gianluca

Plano de aula destinado aos alunos do 9º ano do Ensino


Fundamental de uma Escola Municipal de Itaguaí

Tema da aula: A destruição dos cortiços durante a remodelação do Rio de Janeiro.

Seropédica,
2023
Objetivo geral:

 Compreender o processo de reurbanização da cidade do Rio de Janeiro a partir


da perspectiva da destruição dos cortiços.

Objetivos específicos:

 Contextualizar o período de derrubada dos cortiços, compreendendo os motivos


que levaram a tal;

 Identificar a importância dos periódicos como fonte histórica;

 Analisar o recurso imagético do periódico e atribuir significado aos elementos


apresentados;

Tempo estimado:
4 aulas – 3 horas e 20 minutos.

Recursos materiais:
Fonte impressa e quadro.
Referência do documento: Capa Revista Illustrada, 1983, nº656.

“Era de ferro a cabeça. Por isso viveo tranquilla

De tal poder infinito Dos poderes temerosos,

Que se bem nos pareça, Como um louco cão de fila

Devia ser de granito. Humilhando poderosos.

No seu bojo secular Mas eis que um dia a barata,


Objetivo geral:
De forças devastadoras, Deo-lhe na telha almoçal-a,
 Compreender o processo de reurbanização da cidade do Rio de Janeiro a partir
Viviam
dasempre a bailarda destruição dos cortiços.
perspectiva E assim foi, -sem patarata

Punhos e metralhadoras. Roendo, até devoral-a.”


Metodologia:
Debate; aula expositiva; análise de fonte; avaliação somativa.

Desenvolvimento da aula:
O início da aula será feito com uma aproximação dos alunos com o tema
perguntando-lhes se eles sabem o que é um cortiço. Reunir as respostas e sintetizá-las,
explicando que o cortiço foi um tipo de moradia muito comum para as classes mais
pobres da sociedade do Rio de Janeiro no início da República, onde se reuniam diversas
famílias em grandes casarões, que não contavam com uma boa estrutura residencial.
Em seguida, será realizada a leitura dos seguintes trechos da obra “O Cortiço”,
de Aluísio Azevedo:
“E, naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa,
começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma
geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se
como larvas no esterco.”
A partir desse trecho, apresentar aos alunos a importante obra naturalista de
Aluísio Azevedo, explicando-lhes que a mesma é um retrato da realidade de vida nesses
cortiços. Por fim, será debatido com os alunos como eles imaginam que seria o
cotidiano dessas pessoas e sua condição de vida.
Nesse momento assumir-se-á o método denominado por Libâneo de
conversação didática, o qual “não consiste meramente em respostas dos alunos às
perguntas do professor, numa conversa ‘fechada’ [...] a conversação didática é ‘aberta’ e
o resultado que dela decorre supõe a contribuição conjunta do professor e dos alunos.” 1
A partir do questionamento sobre a vida dos moradores dos cortiços, pretende-se
instigar a curiosidade dos alunos sobre o tema, visto que “a forma mais usual de
organizar a conversação didática é a pergunta, tanto do professor quanto dos alunos.
Não se trata de um interrogatório do tipo pingue-pongue, sim e não [...] a pergunta é um
estímulo para o raciocínio, incita os alunos a observarem, pensarem, duvidarem,
tomarem partido.”2
Em seguida, dar início à aula expositiva sobre a remodelação do Rio de Janeiro,
momento no qual esses cortiços foram destruídos sob certas justificativas, que serão
explicitadas em aula.
Segundo Libâneo, no método de exposição pelo professor, “os conhecimentos,
habilidades e tarefas são apresentadas, explicadas ou demonstradas pelo professor. A
atividade dos alunos é receptiva, embora não necessariamente passiva.” 3 Portanto, nesse
momento, pretende-se assumir a exposição dialogada, na qual “o aluno desempenha um
papel mais ativo, pois participa da exposição do professor, fazendo comentários,
relatando fatos, dando exemplos, argumentando, expondo suas dúvidas e respondendo
perguntas.”4
1
LIBÂNEO, José Carlos. Os métodos de ensino. In: Didática. São Paulo: Cortez, 1994, p.168.
2
Idem
3
Ibidem, p.161
4
HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de Didática Geral. 7ª ed. São Paulo: Ática, 2003, p.115.
Assim, com base no texto de Sidney Challoub, a exposição do tema contará com
pontos como: a estrutura ocupacional do Rio de Janeiro no final do século XIX, sua
conjuntura política, os conflitos sociais existentes, a reforma que estava sendo feita no
estado – não somente em âmbito geográfico mas também em caráter populacional –,
assim como a própria importância da capital no Brasil nesta época.
Com a chegada da República, não tardou para que as concepções de civilização,
modernidade e higiene fizessem com que fossem formuladas, por parte da elite,
políticas para delimitar o espaço urbano, eliminando o que se acreditara ser
inconveniente.
Challoub destaca a rapidez em que ocorreu a demolição dos cortiços, assim
como o descaso das autoridades públicas com o destino dos moradores do mesmo.
Desta forma, trata a ação das autoridades públicas a partir de dois pontos: a construção
da assimilação de classes pobres a classes perigosas e a ideia de que a administração da
cidade deveria ser pautada apenas em critérios científicos. Ambos pontos podem ser
discutidos com os alunos para o entendimento das consequências causadas, como a
exclusão de parte da sociedade para o privilégio de outra.
Desta forma a aula expositiva será baseada nos seguintes pontos:
• Estrutura ocupacional do Rio de Janeiro: Com a destruição dos cortiços, supõe-
se que iniciou a formação das favelas;
• Tentativa de se modernizar a capital se espelhando no modelo europeu;
• Conjuntura política do Brasil, especificamente da capital: O autoritarismo
presente na ação de Barata Ribeiro;
• Classes pobres x classes perigosas: Duas expressões que estavam sendo
utilizadas para relatar a mesma realidade. Os pobres eram vistos como perigosos pois a
ociosidade e falta de acúmulo de capital era diretamente relacionada à vícios, e os vícios
por conseguinte, relacionados ao perigo à sociedade. Outra consequência dessa
realidade era a de que os negros eram os principais suspeitos, uma vez que não havia
mais o domínio sobre eles devido ao fim da escravidão e buscava-se manter o domínio
sobre outros aspectos. Além desse aspecto, as classes pobres eram também vistas como
perigosas por serem relacionadas com as doenças e epidemias que surgiam na cidade,
tal argumento foi também utilizado para a exclusão dessa parte da população.
Para finalizar a aula, será distribuída a capa da Revista Illustrada, n°656. Nesta
edição a capa é composta por uma imagem em que uma cabeça de porco está posta em
um prato, com uma lágrima em seu olho, sendo “devorada” por uma barata. Tal figura
faz alusão ao episódio da destruição do famoso cortiço Cabeça de porco pelo prefeito
Barata Ribeiro.
Na Revista Illustrada, o evento foi saudado com um humor asqueroso: o leitor
foi servido de um prato com uma enorme cabeça de porco, de olhos entreabertos e
fisionomia lacrimejante, e sobre a qual se achava uma barata devidamente cascuda e
repugnante. A reputação do cortiço demolido e a atividade do inseto na cabeça do porco
eram descritas em versinhos:
Era de ferro a cabeça,
De tal poder infinito
Que, se bem nos pareça,
Devia ser de granito.

No seu bojo secular


De forças devastadoras,
Viviam sempre a bailar
Punhos e metralhadoras.

Por isso viveu tranquila


Dos poderes temerosos,
Como um louco cão de fila
Humilhando poderosos.

Mais eis que um dia a barata,


Deu-lhe na telha almoçá-la,
E assim foi, sem patarata,
Roendo, até devorá-la!

Será pedido aos alunos que olhem a imagem e leiam o poema que se segue,
assim iniciando um debate sobre o que eles acham que se trata esta capa. Após as
opiniões expostas, explicar-se-á a relação da imagem com o episódio da derrubada do
cortiço “Cabeça de Porco”, um dos mais famosos do período em questão.

Avaliação:

Após a apresentação do tema e aula expositiva sobre o mesmo, será pedido aos alunos
que refaçam uma capa de revista sobre o tema “Cortiços” fazendo uma análise sobre
forma como eram tratados no fim do século XIX. Segundo Paulo Freire, “a construção
ou a produção do conhecimento do objeto implica o exercício da curiosidade, sua
capacidade crítica de “tomar distância” do objeto, de observá-lo, de delimitá-lo, de
cindi-lo, de “cercar” o objeto ou fazer sua aproximação metódica, sua capacidade de
comparar, de perguntar.”5 Dessa forma, através da atividade proposta, será avaliada a
elaboração do caráter crítico dos alunos e o entendimento sobre o tema.

Bibliografia:
CHALHOUB, Sidney; Cap.1 “Cortiços” em Cidade Febril. São Paulo, Companhia das
Letras, 1996, pp.15-60.
O Cortiço, de Aluízio Azevedo. Disponível em Domínio Público.

5
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 2010, p.33

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