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UFBA 3 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FCH001 3 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA T013


PROF. RÔMULO GUIMARÃES
ALUNA: LEILANE G. DE A. SOUZA

AVALIAÇÃO PARCIAL II

2) FILOSOFIA DO DIREITO

2.5) De maneira geral, no que consiste um suposto direito internacional? Qual/quais


críticas/desafios/problemas que esta noção encontra? Exemplifique.

Conceitualmente é bastante complexo definir o que seria um direito internacional, mas é


tarefa tangível com algum esforço e cautela na aplicação dos termos. De modo geral, hoje entende-
se juridicamente o direito internacional como um conjunto de normas criadas em cooperação por
nações diversas, com intuito de fornecer regramentos supraestatais que se vinculem a todos eles e os
obrigue legalmente de forma mútua, fornecendo assim uma legislação de controle de convívio entre
sociedades distintas.

Os elementos constitutivos deste instituto são Acordos, Tratados, Pactos, Estatutos e


Convenções. Essas figuras jurídicas abrigam disposições a serem seguidas por todos os países que se
fazem signatários de cada um deles. Aqui nasce o primeiro e maior limitador do direito internacional:
necessidade de signatariedade, ou seja, concordância do Estado em fazer parte do sistema e aceitar
normas que são alienígenas ao seu processo jurídico/legislativo, portanto não foram criadas conforme
as regras e costumes da sociedade que o integra. Tais normas devem ser aceitas e incorporadas à
Constituição, ou instrumento equivalente, no país que o recebe e torna-se a partir de então parte
integrante do arcabouço jurídico estatal, tendo inclusive preponderância em caso de conflito
normativo.

Ora, se é necessário subscrição para validade da norma internacional perante atos dos Estados,
dizer-se-á que a internacionalidade do direito é restrita àqueles que voluntariamente aquiescem, não
podendo alcançar os demais. Com efeito, esse é um grande problema num mundo tão globalizado
como o atual, repleto de relações internacionais 3 principalmente no ramo comercial 3 entre países
absolutamente distintos e que invariavelmente envolvem signatários e não signatários dessas normas.
Havendo conflitos, como resolvê-los se alguma das partes, ou todas, optarem por seguir unicamente
seus códigos internos? E em casos extremos em que o conflito progride ao campo bélico? Havendo
excessos e graves violações de direitos humanos há alguma possibilidade de intervenção sob a tutela
do direito internacional se o partícipe não integra o grupo de membros? Aí estão algumas das questões
que nos levam a questionar a legitimidade, o alcance e a propriedade do direito internacional como
norma superior a que se propõe.

Temos de forma exemplar hoje no Brasil uma situação que ilustra a fragilidade desse instituto.
Em 2010, 2018, e mais recentemente em outubro de 2022, nosso país foi condenado pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos por crimes contra a humanidade. Nas duas primeiras
condenações, por crimes respectivamente durante a Guerrilha do Araguaia e na morte do jornalista
Vladimir Herzog. Como a Lei da Anistia, falando de forma direta, retirou a possibilidade legal de que
os agentes da ditadura respondessem criminalmente por seus atos, eles ficaram impunes e uma
infinidade de atrocidades cometidas contra cidadãos brasileiros não obtiveram responsabilização
penal. Essas duas ações em particular foram encaminhadas a CIDH e o Brasil, como signatário do
Pacto de São José da Costa Rica, foi condenado e alertado de que devido à superioridade normativa
da Convenção não podia valer-se da Lei da Anistia para não proceder o devido processo legal,
conforme disposto no Pacto. Quanto à condenação mais recente, refere-se à inércia e ao fracasso da
justiça brasileira na investigação do assassinato de um defensor dos direitos humanos, Gabriel Sales
Pimenta.

Pois vejamos, o Brasil, país que recepcionou em sua Constituição Tratados internacionais,
assentindo em dar-lhe cumprimento, tendo sido condenado pela Corte Internacional, acha-se
atualmente em desrespeito ao direito internacional, não tendo tomado providências para corrigir a
infração, tão pouco sofreu de forma contundente qualquer tipo de sanção ou penalidade por tais
condenações. De forma clara o exemplo brasileiro nos leva a perguntar se existe de fato um direito
internacional, e se existe até que grau ele opera e a que nível tem algum efeito prático, seja
pedagógico ou punitivo. Ao que parece se trata mais de uma utopia, num esforço de abrigar um globo
inteiro num caleidoscópio jurídico.

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