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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE FILOSOFIA

DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA

PROF.: ANGELO VITORIO CENCI

ACADÊMICO: LUCAS CASTRO QUOOS

Para Aristóteles, a polis não é um espaço artificial, mas natural, pois o homem
possui em sua natureza a necessidade de comunidade. Existir em comunidade é
essencial para uma vida eudaimônica, onde os cidadãos permanecem ligados, numa
relação afetiva chamada amizade, por um objetivo comum: o bem viver.

A polis é parte constituinte da identidade humana, pois o homem, por ser um


animal político (zoon politikon), tem necessidade de associar-se. O homem é um ser
incompleto, de carências e, por este motivo, precisa da vida em comunidade, que é um
espaço onde as diversas características são unidas. Como vimos, a polis não é uma
invenção artificial do homem, mas sim algo natural que viabiliza a essência humana
com um fim completo, que é o viver bem, o que a difere das demais comunidades como
a família e a aldeia.

O homem que por natureza não fizesse parte da polis seria um animal ou um
deus, pois estaria abaixo ou acima da condição humana.

Se abaixo, levaria uma vida miserável, “sem  clã, sem leis, sem lar”, ou seja:
a) sem linhagem e, pois, sem identidade, seria um ´ninguém`;  b) sem a polis,
a vida pública e suas leis que o educam e o humanizam, isto é, a vida política 
– a esfera do mostrar-se – a única humana e, c) sem a oikos, a vida privada,
pondo em risco  sua própria proteção e subsistência – nem escravo ele seria
nesse caso. (p. 5)

Nas diferentes comunidades, o homem pode suprir suas carências, mas somente
na polis, na comunidade política, é possível desenvolver as suas potencialidades.

O homem se diferencia dos outros animais através da capacidade da fala, que


Aristóteles chamou de phoné, cuja diferença dos sons que os animais fazem e a
deliberação humana é que a capacidade de se comunicar por conceitos e proposições, da
qual se possibilita um senso moral. A esta capacidade, Aristóteles chamou de logos.

É ele que permite a deliberação de ideias frente à contraposição do o bom e o


mau, o justo e o injusto, etc. mediante a discussão para que tais valores sejam comuns
diante da igualdade de fala em assembleia.

Para Aristóteles, o trabalho na polis tem que existir em função do tempo livre: é
no ócio onde se é possível a contemplação, visto que o homem político e que se
preocupa com questões filosóficas não pode trabalhar e ocupar-se com as funções
domésticas ao mesmo tempo. Para os gregos, o trabalho limita a liberdade e autonomia
do homem ao submetê-lo às questões de sobrevivência ou aquisição de bens, os quais
devem ser apenas um meio para o bem viver. Assim como o trabalho escravo, por sua
vez, não tem a finalidade de prover bens ou riqueza, mas proporcionar ao cidadão da
polis o tempo livre para exercer a atividade contemplativa e desenvolver suas
potencialidades e sua virtude. Nesse sentido, o escravo jamais poderia desenvolver-se
plenamente como humano, mesmo que Aristóteles ainda o considerasse como um.

O trabalho e as atividades do homem livre são distintos. Para Aristóteles, o


trabalho é sempre a atividade manual, a techne; enquanto a dimensão cognitiva a que o
trabalho se refere é a poiésis. Este tem como fim proporcionar mais tempo livre para o
homem se dedicar à theoria (contemplação) ou práxis (ação).

O trabalho manual se difere da práxis graças ao seu fim; o trabalho sempre tem o
fim no produto e não a ação de produzi-lo, é sempre vinculado à produção, não servindo
para quem o executa. Diferentemente, a práxis é superior nesse sentido, pois tem como
fim a própria ação.

Aristóteles distingue o possuir tempo livre para as coisas dedicadas ao prazer, à


esfera privada e às coisas do cotidiano, a ashkolia; e o tempo dedicado somente às
coisas da polis, da formação não utilitária e da contemplação, a skholé. A importância
política da educação, que deve ser igual e livre para os cidadãos, deve ter como fim o
estabelecimento do tempo livre e da paz. Os cidadãos libres, portanto, não trabalham,
pois são senhores do próprio tempo.

Por ser de ordem inferior, o trabalho para Aristóteles deve servir como meio e
não como fim. Ainda, o cidadão da polis precisa de tempo libre para dedicar-se às
atividades da cidade, de modo que preocupar-se com o trabalho de subsistência lhe
impossibilitaria o tempo livre para isso. Para Aristóteles a escravidão é natural,
necessária e legítima porque alguns seres humanos são feitos para comandar e outros
para obedecer em virtude de uma diferença de natureza e em vista de uma vantagem
mútua; a inferioridade do escravo depende de uma incapacidade de deliberar. Ele não
pode comandar-se a si mesmo, mas somente ser um instrumento animado e, através do
vício de seu próprio corpo ser destinado por sua força ao trabalho pesado, sendo assim
um instrumento animado, um bem. É natural que comande quem pode, por sua
inteligência, prover a casa enquanto o escravo, a não ser pelo trabalho do seu corpo,
naturalmente obedeça, uma vez que o escravo não possui a capacidade de comandar,
deliberar, o logos para ser um ser humano completo para a além da sua capacidade
física de ser as mãos do senhor. Para Aristóteles, a escravidão é salutar não apenas para
o senhor, mas também para o escravo.

A escravidão serve para a reprodução dos bens necessários à manutenção da


vida e, assim, para que o seu senhor possa se dedicar à atividade política. A escravidão
real pode ser contrária a natureza quando os escravos são explorados além do quadro
doméstico ou quando a lei faz escravos seres humanos que não merecem a servidão,
como no caso de guerras e invasões injustas.

O cidadão com tempo livra para desempenhar seu papel político e desenvolver
suas potencialidades, administrar a justiça, governar e criar leis. As leis são importantes
têm caráter educativo, servem para a manutenção dos costumes e formação de sujeitos
mais humanizados e éticos. Por ter um caráter educativo, as crianças são educadas com
base na constituição da cidade. Portanto, uma educação baseada nas leis, mais
fortemente no período da paideia (dos 7 aos 20 anos), deve ser uma educação voltada
para a virtude, porém, para uma educação ser justa a cidade também precisa de leis
justas.

Com leis justas e um processo educativo virtuoso, formam-se adultos mais


humanizados, éticos e completos. E, mesmo depois de adultos, os cidadãos devem
colocar em prática o que aprenderam e colocar isso em hábitos. Uma educação virtuosa
é difícil, pois não pode se ensinar a virtude por meio de palavras e, tampouco por medo
pois aquele que age virtuosamente por medo da punição não é virtuoso. Para
Aristóteles, uma atitude virtuosa necessita a saber o que se está fazendo e, aquele que
age virtuosamente deve escolher livremente o que está fazendo, a ação virtuosa deve
decorrer de um caráter firme, de modo que a escolha da ação virtuosa tenha fim em si
mesma.

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