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CURSO DE FILOSOFIA
Para Aristóteles, a polis não é um espaço artificial, mas natural, pois o homem
possui em sua natureza a necessidade de comunidade. Existir em comunidade é
essencial para uma vida eudaimônica, onde os cidadãos permanecem ligados, numa
relação afetiva chamada amizade, por um objetivo comum: o bem viver.
O homem que por natureza não fizesse parte da polis seria um animal ou um
deus, pois estaria abaixo ou acima da condição humana.
Se abaixo, levaria uma vida miserável, “sem clã, sem leis, sem lar”, ou seja:
a) sem linhagem e, pois, sem identidade, seria um ´ninguém`; b) sem a polis,
a vida pública e suas leis que o educam e o humanizam, isto é, a vida política
– a esfera do mostrar-se – a única humana e, c) sem a oikos, a vida privada,
pondo em risco sua própria proteção e subsistência – nem escravo ele seria
nesse caso. (p. 5)
Nas diferentes comunidades, o homem pode suprir suas carências, mas somente
na polis, na comunidade política, é possível desenvolver as suas potencialidades.
Para Aristóteles, o trabalho na polis tem que existir em função do tempo livre: é
no ócio onde se é possível a contemplação, visto que o homem político e que se
preocupa com questões filosóficas não pode trabalhar e ocupar-se com as funções
domésticas ao mesmo tempo. Para os gregos, o trabalho limita a liberdade e autonomia
do homem ao submetê-lo às questões de sobrevivência ou aquisição de bens, os quais
devem ser apenas um meio para o bem viver. Assim como o trabalho escravo, por sua
vez, não tem a finalidade de prover bens ou riqueza, mas proporcionar ao cidadão da
polis o tempo livre para exercer a atividade contemplativa e desenvolver suas
potencialidades e sua virtude. Nesse sentido, o escravo jamais poderia desenvolver-se
plenamente como humano, mesmo que Aristóteles ainda o considerasse como um.
O trabalho manual se difere da práxis graças ao seu fim; o trabalho sempre tem o
fim no produto e não a ação de produzi-lo, é sempre vinculado à produção, não servindo
para quem o executa. Diferentemente, a práxis é superior nesse sentido, pois tem como
fim a própria ação.
Por ser de ordem inferior, o trabalho para Aristóteles deve servir como meio e
não como fim. Ainda, o cidadão da polis precisa de tempo libre para dedicar-se às
atividades da cidade, de modo que preocupar-se com o trabalho de subsistência lhe
impossibilitaria o tempo livre para isso. Para Aristóteles a escravidão é natural,
necessária e legítima porque alguns seres humanos são feitos para comandar e outros
para obedecer em virtude de uma diferença de natureza e em vista de uma vantagem
mútua; a inferioridade do escravo depende de uma incapacidade de deliberar. Ele não
pode comandar-se a si mesmo, mas somente ser um instrumento animado e, através do
vício de seu próprio corpo ser destinado por sua força ao trabalho pesado, sendo assim
um instrumento animado, um bem. É natural que comande quem pode, por sua
inteligência, prover a casa enquanto o escravo, a não ser pelo trabalho do seu corpo,
naturalmente obedeça, uma vez que o escravo não possui a capacidade de comandar,
deliberar, o logos para ser um ser humano completo para a além da sua capacidade
física de ser as mãos do senhor. Para Aristóteles, a escravidão é salutar não apenas para
o senhor, mas também para o escravo.
O cidadão com tempo livra para desempenhar seu papel político e desenvolver
suas potencialidades, administrar a justiça, governar e criar leis. As leis são importantes
têm caráter educativo, servem para a manutenção dos costumes e formação de sujeitos
mais humanizados e éticos. Por ter um caráter educativo, as crianças são educadas com
base na constituição da cidade. Portanto, uma educação baseada nas leis, mais
fortemente no período da paideia (dos 7 aos 20 anos), deve ser uma educação voltada
para a virtude, porém, para uma educação ser justa a cidade também precisa de leis
justas.