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FILOSOFIA
MITO E SENSO COMUM

O QUE É FILOSOFIA? Afinal, a primeira função do estudo da Filosofia é tornar os


estudantes capazes de filosofar com alguma competência.
Quando a Filosofia é apresentada no Ensino Médio, a primeira
Finalmente, a filosofia é uma atividade que todos praticam em
dificuldade que os alunos têm é relativa à compreensão do que é a
vários momentos de todos os dias. A única diferença entre o leigo
Filosofia. Afinal, muitos de vocês, estudantes secundaristas, nunca
e filósofo profissional é que este último aprendeu a utilizar uma
estudaram a disciplina anteriormente, e poucos já leram algum
série de técnicas filosóficas que tornam o filosofar mais eficiente.
livro de iniciação à Filosofia. Um bom modo de introduzi-la na sala
Aprender algumas dessas técnicas é a primeira tarefa que um
de aula é demarcá-la frente a outras disciplinas. É importante que
aluno de filosofia – quer no Ensino Médio, quer na faculdade –
se perceba, logo de início, as particularidades da Filosofia, e em que
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deve cumprir. Para estudar o objeto da filosofia é necessário um


aspectos ela é diferente das outras matérias. A partir daí, é possível
método filosófico, método que conduz ao objetivo de encontrar
compreender o que é a Filosofia.
algumas verdades (ainda que provisórias). Em nossa matéria,
aprenderemos justamente as ferramentas mais básicas para que
COMO COMEÇAR? possamos filosofar melhor: a lógica, a técnica argumentativa crítica
e a história da Filosofia.
Em primeiro lugar, definindo um ponto de partida em comum
com as outras disciplinas. Todas as disciplinas têm um objeto e
um método. O objeto da Biologia, por exemplo, é o conjunto de
fenômenos da vida. O objeto da Física é o conjunto de fenômenos
O MITO
da natureza, de fenômenos do universo. O objeto da História é Como vimos, a reflexão sistemática, metodológica e
o conjunto de registros do homem no tempo passado que se argumentativa sobre a realidade é uma característica da Filosofia,
apresentam em nosso tempo. mas nem sempre foi esse o caminho utilizado pelos seres humanos
à procura de explicações sobre o mundo.
A palavra filosofia compõe-se de dois termos gregos: philia,
que significa amor, e sophia, que significa sabedoria. Portanto, O homem tem sua vivência cotidiana, natural, material,
etimologicamente, filosofia significa amor à sabedoria. Contudo, psicológica e emocional repleta de dúvidas, insegurança, medos,
isso não explica muita coisa. O que, de fato, é a Filosofia? e angústias. Em outras palavras, a trajetória do ser humano é
permeada por eventos e fenômenos que carecem de explicações
A filosofia é uma atividade que tem um objetivo determinado:
racionais, palpáveis e claras. Nessa demanda por explicações,
resolver problemas por meio da argumentação. Problemas
surgem os mitos.
filosóficos são os problemas a priori, independentes da
experiência e conceituais, pois referem-se aos conceitos que Os mitos são narrativas em formato de lendas permeadas
utilizamos em nosso dia a dia e nas ciências. Diferentemente por elementos sobrenaturais, simbólicos, fantasiosos, deuses e
dos problemas científicos, que são resolvidos por meio da entidades místicas que, ao contrário da lógica racional, não exigem
experimentação, os problemas filosóficos somente podem ser comprovação ou explicação metódica. O mito dá conta de explicar
resolvidos pelo debate, pelo diálogo, pela controvérsia: o método aquilo que o ser humano não entende, mas que o assusta, gera
da filosofia é argumentativo. insegurança acerca do desconhecido, daquilo que não é visto,
ouvido ou tocado.
Todas as disciplinas têm, também, um método. O método da
Biologia e da Física é o método experimental, ou o método hipotético-
dedutivo. O método da História é a análise documental, ou a análise
arqueológica, ou o estudo dos registros de várias espécies que podem
ser encontrados no momento em que se faz a história.
A Filosofia tem o objetivo de alcançar a verdade acerca das
noções, dos conceitos e das ideias mais fundamentais. Mas a
verdade não é, necessariamente, absoluta. A verdade é provisória.
A verdade é a melhor resposta que se tem atualmente. Isso não faz
a verdade ser relativa; a verdade é uma consequência necessária
da melhor argumentação possível hoje.
Por isso, é melhor estudar Filosofia do que não estudar. Ter
a certeza de chegar a uma verdade válida, ainda que provisória,
é melhor do que não chegar à verdade e viver cheio de opiniões
frágeis fundamentadas em preconceitos. Viver com uma verdade
provisória, aberta à discussão, é melhor do que viver sem verdade https://pixabay.com/pt/photos/grécia-estátua-mitologia-grega-1358644/
alguma, achando que se tem todas as verdades do mundo.
A Filosofia não é, portanto, mera opinião. Não é, também, A tradição filosófica abre caminho para novas formas de
qualquer argumentação. É a busca pela melhor argumentação, é compreensão e explicação do mundo, entretanto, cabe destacar
o contrário da opinião – isso quer dizer que o filósofo não é uma que o surgimento da Filosofia não exclui a presença de mitos.
pessoa cheia de opiniões sobre tudo, mas uma pessoa que investiga As narrativas mitológicas ainda são presentes e vivas em nosso
ideias e noções, utilizando uma técnica (lógica e argumentativa) cotidiano com lendas e histórias envolvendo, fantasias, deuses e
para estudá-las. entidades sobrenaturais.
Por esse motivo é importante o estudo da lógica e da técnica
argumentativa. Você, aluno, deve saber utilizar os argumentos com
propriedade na construção de ensaios sobre temas filosóficos.

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FILOSOFIA 01 MITO E SENSO COMUM

houve um momento em sua evolução histórico-social em que o ser


EXERCÍCIOS humano começa a conferir um caráter filosófico às suas indagações
PROTREINO e perplexidades, questionando racionalmente suas crenças, valores e
escolhas. Nesse sentido, pode-se afirmar que a filosofia
01. Aponte a origem da palavra filosofia. a) é algo inerente ao ser humano desde sua origem e que, por meio
da elaboração dos sentimentos, das percepções e dos anseios
02. Aponte o objetivo da Filosofia. humanos, procura consolidar nossas crenças e opiniões.
03. Qual a principal característica do método filosófico? b) existe desde que existe o ser humano, não havendo um local ou
uma época específica para seu nascimento, o que nos autoriza
04. Aponte as características do mito. a afirmar que mesmo a mentalidade mítica é também filosófica
05. Aponte as características do senso comum e exige o trabalho da razão.
c) inicia sua investigação quando aceitamos os dogmas e as
certezas cotidianas que nos são impostos pela tradição e pela
sociedade, visando educar o ser humano como cidadão.
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d) surge quando o ser humano começa a exigir provas e


EXERCÍCIOS
justificações racionais que validam ou invalidam suas crenças,
PROPOSTOS seus valores e suas práticas, em detrimento da verdade
revelada pela codificação mítica.
01.(UNICAMP) A dúvida é uma atitude que contribui para
o surgimento do pensamento filosófico moderno. Neste 04. (UEMA) Leia a fábula de La Fontaine, uma possível explicação
comportamento, a verdade é atingida através da supressão para a expressão ¯ ”o amor é cego”.
provisória de todo conhecimento, que passa a ser considerado
No amor tudo é mistério: suas flechas e sua aljava, sua chama e sua
como mera opinião. A dúvida metódica aguça o espírito crítico
infância eterna. Mas por que o amor é cego? Aconteceu que num certo
próprio da Filosofia.
dia o Amor e a Loucura brincavam juntos. Aquele ainda não era cego.
(Adaptado de Gerd A. Bornheim, Introdução ao filosofar.
Porto Alegre: Editora Globo, 1970, p. 11.) Surgiu entre eles um desentendimento qualquer. Pretendeu então o
Amor que se reunisse para tratar do assunto o conselho dos deuses.
A partir do texto, é correto afirmar que: Mas a Loucura, impaciente, deu-lhe uma pancada tão violenta que lhe
privou da visão. Vênus, mãe e mulher, pôs-se a clamar por vingança, aos
a) A Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e verdade
gritos. Diante de Júpiter, de Nêmesis – a deusa da vingança – e de todos
são conceitos equivalentes.
os juízos do inferno, Vênus exigiu que aquele crime fosse reparado. Seu
b) A dúvida é necessária para o pensamento filosófico, por ser filho não podia ficar cego. Depois de estudar detalhadamente o caso, a
espontânea e dispensar o rigor metodológico. sentença do supremo tribunal celeste consistiu em declarar a loucura
c) O espírito crítico é uma característica da Filosofia e surge a servir de guia ao Amor.
quando opiniões e verdades são coincidentes. Fonte: LA FONTAINE, Jean de. O amor e a loucura. In: Os melhores contos de loucura.
Flávio Moreira da Costa (Org.). Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
d) A dúvida, o questionamento rigoroso e o espírito crítico são
fundamentos do pensamento filosófico moderno. A fábula traz uma explicação oriunda dos deuses para uma
realidade humana. Esse tipo de explicação classifica-se como
02. (UPE) A filosofia, no que tem de realidade, concentra-se na vida
a) estética. c) mitológica. e) crítica.
humana e deve ser referida sempre a esta para ser plenamente
compreendida, pois somente nela e em função dela adquire seu b) filosófica. d) científica.
ser efetivo.
VITA, Luís Washington. Introdução à Filosofia, 1964, p. 20. 05. (UEM-PAS 2011- adaptada) Aquilo que se estuda hoje como
filosofia nas escolas nasceu na Grécia antiga (aproximadamente
Sobre esse aspecto do conhecimento filosófico, é CORRETO no séc. VII a.C.), em um contexto cultural de predomínio do
afirmar que pensamento mítico e da religião politeísta grega. Refletindo sobre
a) a consciência filosófica impossibilita o distanciamento para a ciência, questiona Chauí: “a Filosofia nasceu realizando uma
avaliar os fundamentos dos atos humanos e dos fins aos quais transformação gradual nos mitos gregos ou nasceu por uma
eles se destinam. ruptura radical com os mitos?”
(CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, p. 34).
b) um dos pontos fundamentais da filosofia é o desejo de
conhecer as raízes da realidade, investigando-lhe o sentido, o A respeito do surgimento da filosofia e suas relações com o
valor e a finalidade. discurso mítico neste contexto grego, é correto afirmar que
c) a filosofia é o estudo parcial de tudo aquilo que é objeto do a) o discurso filosófico jamais se opôs ao discurso mítico, pois
conhecimento particular. os filósofos eram sábios e sacerdotes; logo, defensores das
d) o conhecimento filosófico é trabalho intelectual, de caráter explicações míticas.
assistemático, pois se contenta com as respostas para as b) os primeiros filósofos gregos buscaram construir uma explicação
questões colocadas. que se aproximasse ao máximo das explicações mítica.
e) a filosofia é a consciência intuitiva sensível que busca a c) houve uma ruptura radical entre a mitologia e a filosofia, pois a
compreensão da realidade por meio de certos princípios filosofia dedica-se a problemas distintos da mitologia.
estabelecidos pela razão.
d) filosofia e mitologia são discursos contrários, pois a filosofia
nega o sobrenatural e busca sempre combater qualquer tipo
03. (UEG) O ser humano, desde sua origem, em sua existência
de divindade.
cotidiana, faz afirmações, nega, deseja, recusa e aprova coisas e
pessoas, elaborando juízos de fato e de valor por meio dos quais e) nas origens do pensamento filosófico grego se verifica uma
procura orientar seu comportamento teórico e prático. Entretanto, substituição gradual, porém, evidente, entre as explicações de
natureza mítica, por explicações de caráter racional.

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06. (UFU) A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir 09.(UEL) Leia atentamente os textos abaixo, respectivamente, de
do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada num exercício Platão e de Aristóteles:
especulativo-racional. De fato, “[...] não é mais uma atividade mítica [...] a admiração é a verdadeira característica do filósofo. Não tem
(porquanto o mito ainda lhe serve), mas filosófica; e isso quer dizer outra origem a filosofia.
uma atividade regrada a partir de um comportamento epistêmico (PLATÃO. Teeteto. Tradução de Carlos Alberto Nunes.
de tipo próprio: empírico e racional”. Belém: Universidade Federal do Pará, 1973. p. 37.)
SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32.
Com efeito, foi pela admiração que os homens começaram a
Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, filosofar tanto no princípio como agora; perplexos, de início, ante as
assinale a alternativa correta. dificuldades mais óbvias, avançaram pouco a pouco e enunciaram
a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um problemas a respeito das maiores, como os fenômenos da Lua, do
intelecto primitivo, próprio de sociedades selvagens. Sol e das estrelas, assim como a gênese do universo.
b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua E o homem que é tomado de perplexidade e admiração julga-se
especulação teórica e adotando a sua metodologia. ignorante (por isso o amigo dos mitos é, em certo sentido, um
filósofo, pois também o mito é tecido de maravilhas); portanto,
c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de
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como filosofavam para fugir à ignorância, é evidente que buscavam


difusão e manutenção de um saber prático fundamental para
a ciência a fim de saber, e não com uma finalidade utilitária.
a vida cotidiana.
(ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I. Tradução Leonel Vallandro.
d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais Porto Alegre: Globo, 1969. p. 40.)
típicas de uma mentalidade filosófica elaborada, crítica e
Com base nos textos acima e nos conhecimentos sobre a origem
radical, baseada no logos.
da filosofia, é correto afirmar:
07.(UEG) A cultura grega marca a origem da civilização ocidental a) A filosofia surgiu, como a mitologia, da capacidade humana
e ainda hoje podemos observar sua influência nas ciências, nas de admirar-se com o extraordinário e foi pela utilidade do
artes, na política e na ética. Dentre os legados da cultura grega para conhecimento que os homens fugiram da ignorância.
o Ocidente, destaca-se a ideia de que b) A admiração é a característica primordial do filósofo porque
a) a natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e ele se espanta diante do mundo das ideias e percebe que o
universais que podem ser plenamente conhecidos pelo nosso conhecimento sobre este pode ser vantajoso para a aquisição
pensamento. de novas técnicas.
b) nosso pensamento também opera obedecendo a emoções e c) Ao se espantarem com o mundo, os homens perceberam
sentimentos alheios à razão, mas que nos ajudam a distinguir os erros inerentes ao mito, além de terem reconhecido a
o verdadeiro do falso. impossibilidade de o conhecimento ser adquirido pela razão.
c) as práticas humanas, a ação moral, política, as técnicas e as d) Ao se reconhecerem ignorantes e, ao mesmo tempo, se
artes dependem do destino, o que negaria a existência de uma surpreenderem diante do anseio de conhecer o mundo e as
vontade livre. coisas nele contidas, os homens foram tomados de espanto, o
que deu início à filosofia.
d) as ações humanas escapam ao controle da razão, uma vez
que agimos obedecendo aos instintos como mostra hoje a e) A admiração e a perplexidade diante da realidade fizeram
psicanálise. com que a reflexão racional se restringisse às explicações
fornecidas pelos mitos, sendo a filosofia uma forma de pensar
intrínseca às elaborações mitológicas.
08. (IFSP) Comparando-se mito e filosofia, é correto afirmar
o seguinte:
10. (UEL 2005) Sobre a passagem do mito à filosofia, na Grécia
a) A autoridade do mito depende da confiança inspirada pelo Antiga, considere as afirmativas a seguir.
narrador, ao passo que a autoridade da filosofia repousa na
razão humana, sendo independente da pessoa do filósofo. I. Os poemas homéricos, em razão de muitos de seus
componentes, já contêm características essenciais da
b) Tanto o mito quanto a filosofia se ocupam da explicação de compreensão de mundo grega que, posteriormente, se
realidades passadas a partir da interação entre forças naturais revelaram importantes para o surgimento da filosofia.
personalizadas, criando um discurso que se aproxima do da
história e se opõe ao da ciência. II. O naturalismo, que se manifesta nas origens da filosofia, já se
evidencia na própria religiosidade grega, na medida em que
c) Enquanto a função do mito é fornecer uma explicação parcial nem homens nem deuses são compreendidos como perfeitos.
da realidade, limitando-se ao universo da cultura grega, a
filosofia tem um caráter universal, buscando respostas para as III. A humanização dos deuses na religião grega, que os entende
inquietações de todos os homens. movidos por sentimentos similares aos dos homens, contribuiu
para o processo de racionalização da cultura grega, auxiliando
d) Mito e filosofia dedicam-se à busca pelas verdades absolutas o desenvolvimento do pensamento filosófico e científico.
e são, em essência, faces distintas do mesmo processo de
conhecimento que culminou com o desenvolvimento do IV. O mito foi superado, cedendo lugar ao pensamento filosófico,
pensamento científico. devido à assimilação que os gregos fizeram da sabedoria dos
povos orientais, sabedoria esta desvinculada de, qualquer base
e) A filosofia é a negação do mito, pois não aceita contradições religiosa.
ou fabulações, admitindo apenas explicações que possam ser Estão corretas apenas as afirmativas:
comprovadas pela observação direta ou pela experiência. a) I e II. c) III e IV. e) I, III e IV.
b) II e IV. d) I, II e III.

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11. Sobre a singularidade do pensamento filosófico, atente ao texto Dos itens acima, pode-se concluir:
a seguir: a) somente I e III estão corretos.
b) somente II e III estão incorretos.
c) somente I está incorreto.
d) todos estão incorretos.
e) todos estão corretos.

14. Diante do desprezo dos pragmáticos de plantão, acenamos


com a impossibilidade e a necessidade de reflexão filosófica. Com
relação à filosofia, pode-se afirmar:
a) A filosofia pressupõe constante disponibilidade para a
indagação. Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude
do filósofo é a admiração.
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b) A filosofia pressupõe constante disponibilidade para


Ao fazer filosofia, o pensamento aprimora sua força de busca, problematizar. Platão e Aristóteles disseram que a primeira
quer dizer, aprende a pensar. Aprender a pensar significa promover virtude do filósofo é a loucura.
o nascimento da realidade.
(BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao Pensar. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 25)
c) A filosofia pressupõe constante disponibilidade para a
indagação. Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude
O autor na citação acima sinaliza, com clareza e distinção, que do filósofo é o sonho.
a) o pensamento filosófico aprende a pensar, declinando da d) A filosofia pressupõe constante disponibilidade para a
realidade. indagação. Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude
do filósofo é o destemor.
b) o aprender a pensar promove a dimensão acrítica.
c) o pensamento crítico substitui a realidade. 15. (UEL 2015) Leia os textos a seguir.
d) o pensamento filosófico está dissociado da realidade. Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo
e) aprender a pensar fomenta o entendimento da realidade na sua seio, de todos sede irresvalável sempre.
inteireza. HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3.ed. Trad. de Jaa Torrano. São Paulo:
Iluminuras, 1995. p.91.

12. Referindo-se à Filosofia, Montaigne escreve:


Segundo a mitologia ioruba, no início dos tempos havia dois
“É singular que em nosso século as coisas sejam de tal forma que mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e Aiyê, que seria dos
a filosofia, até para as pessoas inteligentes, seja um nome vão e homens, feito apenas de caos e água. Por ordem de Olorum, o deus
fantástico, que se considera de nenhum uso e de nenhum valor, supremo, o orixá Oduduá veio à Terra trazendo uma cabaça com
tanto por opinião como de fato. Creio que a causa disso são esses ingredientes especiais, entre eles a terra escura que jogaria sobre o
ergotismos [que significa abuso de silogismos na argumentação] oceano para garantir morada e sustento aos homens.
que invadiram seus caminhos de acesso. É um grande erro pintá- “A Criação do Mundo”. SuperInteressante. jul. 2008. Disponível em: <http://super.abril.
la inacessível às crianças e com um semblante carrancudo, com.br/religiao/criacaomundo-447670.shtm>. Acesso em: 1 abr. 2014.
sobranceiro e terrível. Quem a mascarou com esse falso semblante,
lívido e medonho? Não há nada mais alegre, mais jovial, mais vivaz No começo do tempo, tudo era caos, e este caos tinha a forma de
e quase digo brincalhão. Ela só prega festa e bons momentos. Uma um ovo de galinha. Dentro do ovo estavam Yin e Yang, as duas
fisionomia triste e inteiriçada mostra que não é ali sua morada” forças opostas que compõem o universo. Yin e Yang são escuridão
(MONTAIGNE I, 26, p. 240). e luz, feminino e masculino, frio e calor, seco e molhado.
PHILIP, N. O Livro Ilustrado dos Mitos: contos e lendas do mundo. Ilustrado por Nilesh
Depois de ler o texto acima, atentamente, assinale a alternativa Mistry. Trad. de Felipe Lindoso. São Paulo: Marco Zero, 1996. p.22.
CORRETA.
Com base nos textos e nos conhecimentos sobre a passagem do
a) Montaigne entende que a filosofia destina-se somente a mito para o logos na filosofia, considere as afirmativas a seguir.
algumas pessoas muito inteligentes, pois é inacessível para a
I. As diversas narrativas míticas da origem do mundo, dos seres
maioria delas.
e das coisas são genealogias que concebem o nascimento
b) Montaigne considera que a filosofia é carrancuda e triste ordenado dos seres; são discursos que buscam o princípio que
porque é crítica e precisa assustar as pessoas. causa e ordena tudo que existe.
c) Montaigne concorda que a filosofia é um nome vão e fantástico: II. Os mitos representam um relato de algo fabuloso que afirmam
não tem nenhum uso e nenhum valor para as pessoas inteligentes. ter ocorrido em um passado remoto e impreciso, em geral
d) Montaigne argumenta que a filosofia é brincalhona e jovial, grandes feitos apresentados como fundamento e começo da
aberta a muitos, inclusive para as crianças. história de dada comunidade.
e) Montaigne julga que a filosofia deve ser sempre terrível e se III. Para Platão, a narrativa mitológica foi considerada, em certa
contrapor à festa e à alegria. medida, um modo de expressar determinadas verdades que
fogem ao raciocínio, sendo, com frequência, algo mais do que
uma opinião provável ao exprimir o vir-a-ser.
13. (UFMA 2008) O senso comum se caracteriza por ser:
IV. Quando tomado como um relato alegórico, o mito é reduzido a
I. um conhecimento valorativo, em que cada coisa ou fato nos um conto fictício desprovido de qualquer correspondência com
afeta de maneira diferente. algum tipo de acontecimento, em que inexiste relação entre o
II. um conhecimento generalizador, pois reúne um certo número real e o narrado.
de fenômenos sob as mesmas leis.
III. um conhecimento subjetivo que expressa um saber da nossa
sociedade ou do nosso grupo social.

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Assinale a alternativa correta. d) Filosofia e mito sempre mantiveram uma relação de


a) Somente as afirmativas I e II são corretas. interdependência, uma vez que o pensamento filosófico
necessita do mito para se expressar.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
e) O mito já era filosofia, uma vez que buscava respostas para
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. problemas que até hoje são objeto da pesquisa filosófica.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 18. (UPE-SSA 2 2018) Sobre o conhecimento filosófico, considere
o texto a seguir:
16. (UNIOESTE 2013) “Não é fácil definir se a ideia dos poemas O saber é infinito e difuso; dele se valendo, procura a filosofia aquele
homéricos, segundo a qual o Oceano é a origem de todas as coisas, centro a que fazíamos referência. O simples saber é uma acumulação;
difere da concepção de Tales, que considera a água o princípio a filosofia é uma unidade. O saber é racional e igualmente acessível
original do mundo; seja como for, é evidente que a representação a qualquer inteligência. A filosofia é o modo de pensamento, que
do mar inesgotável colaborou para a sua expressão. Em todas as termina por constituir a essência mesma de um ser humano.
partes da Teogonia, de Hesíodo, reina a vontade expressa de uma (JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix, 1999, p. 13)
compreensão construtiva e uma perfeita coerência na ordem racional
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e na formulação dos problemas. Por outro lado, a sua cosmologia O autor enfatiza a singularidade do conhecimento filosófico. No
ainda apresenta uma irreprimível pujança de criação mitológica, alinhamento dessa reflexão, tem-se como CORRETO que
que, muito mais tarde, ainda age sobre as doutrinas dos “fisiólogos”, a) o conhecimento filosófico se adquire sem ser procurado, surge
nos primórdios da filosofia “científica”, e sem a qual não se poderia espontânea e naturalmente, no âmbito da razão.
conceber a atividade prodigiosa que se expande na criação das
concepções filosóficas do período mais antigo da ciência” b) a filosofia é um saber de acumulação, bastando tão somente
Werner Jaeger.
adquiri-lo.
c) o conhecimento filosófico é a posse do saber racional no
Considerando o texto acima sobre o surgimento da filosofia na âmbito existencial.
Grécia, seguem as afirmativas abaixo: d) o saber filosófico é infinito e difuso, valendo-se da sensação
I. O surgimento da filosofia não coincide com o início do uso do para se constituir em essência do ser humano.
pensamento racional. e) o conhecimento filosófico caracteriza-se pela sua dimensão
II. O surgimento da filosofia não coincide com o fim do uso do crítica e sonda a essência mesma das coisas.
pensamento mítico.
III. Tales de Mileto, no século VI a.C., ao propor a água como 19. (UNICENTRO 2012) A prática filosófica exige do sujeito
princípio original do mundo, rompe, definitivamente, com o disposição para o questionamento e a indagação. Desconfiar
pensamento mítico. do óbvio é uma das exigências da reflexão filosófica. Com base
IV. Mitos estão presentes ainda nos textos filosóficos de Platão nessa afirmativa e em seus conhecimentos filosóficos, é correto
(século IV a.C.), como, por exemplo, o mito do julgamento afirmar que a prática filosófica
das almas. a) é necessária, pois promove a abertura mental, possibilitando
V. Os primeiros filósofos gregos, chamados “pré-socráticos”, em mudanças na vida do ser humano.
sua reflexão, não se ocupavam da natureza (Physis). b) não enxerga nada da realidade, pois seu objeto é apenas
Das afirmativas feitas acima transcendental.

a) apenas a afirmação V está correta. c) é igual a qualquer outra prática humana, por ser apenas
informação.
b) apenas as afirmações III e V estão corretas.
d) não trabalha com o pensamento racional.
c) apenas as afirmações II e IV estão corretas.
e) necessita apenas de bom-senso.
d) apenas as afirmações I, II e IV estão corretas.
e) apenas as afirmações I, III e V estão corretas. 20. (UPE 2012) Que representa a Filosofia? É uma das raras
possibilidades de existência criadora. Seu dever inicial é tornar as
17. (UEL 2007) “Há, porém, algo de fundamentalmente novo na coisas mais refletidas, mais profundas (Heidegger, Martin). Nessa
maneira como os Gregos puseram a serviço do seu problema último perspectiva, é correto afirmar que a Filosofia
– da origem e essência das coisas – as observações empíricas que a) é uma atividade de crítica e de análise dos valores de uma
receberam do Oriente e enriqueceram com as suas próprias, bem dada sociedade, na perspectiva de reorientação dos sentidos/
como no modo de submeter ao pensamento teórico e casual o reino significados da vida e do mundo.
dos mitos, fundado na observação das realidades aparentes do
mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo.” b) começa dizendo sim às crenças e aos preconceitos do senso
comum e, portanto, começa dizendo que sabemos o que
Fonte: JAEGER, W. Paideia. Tradução de Artur M. Parreira. 3.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1995, p. 197. imaginávamos saber.
c) não se distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito em todos os setores do conhecimento e da ação.
e filosofia na Grécia, é correto afirmar:
d) é a impossibilidade da transcendência humana, ou seja, a
a) Em que pese ser considerada como criação dos gregos, a capacidade que só o homem tem de superar a situação dada
filosofia se origina no Oriente sob o influxo da religião e apenas e não escolhida.
posteriormente chega à Grécia.
e) sempre se confronta com o poder, e sua investigação fica
b) A filosofia representa uma ruptura radical em relação aos mitos, alheia à ética e à política
representando uma nova forma de pensamento plenamente
racional desde as suas origens.
c) Apesar de ser pensamento racional, a filosofia se desvincula
dos mitos de forma gradual.

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FILOSOFIA 01 MITO E SENSO COMUM

Com base na ideia de “verdade absoluta”, explique a diferença


EXERCÍCIOS DE entre mito e ciência. Considerando a expressão “confiança total na
05. APROFUNDAMENTO ciência”, explique como o próprio conhecimento científico pode se
transformar em mito.
01. (UDESC) Os atuais filósofos da educação afirmam que o
fundamental na educação de nossos alunos é filosofar e não só 05. (UNESP) O pensamento mítico consiste em uma forma pela
filosofia. O que é filosofar? qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que
vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e as origens
desse povo, bem como seus valores básicos. As lendas e narrativas
02. (UDESC) Afirma-se, comumente, que as principais características
míticas não são produto de um autor ou autores, mas parte da
da filosofia são a reflexão e a atitude crítica. Nesse horizonte,
tradição cultural e folclórica de um povo. Sua origem cronológica
estabeleça a diferença entre a filosofia e o senso comum.
é indeterminada e sua forma de transmissão é basicamente
oral. O mito é, portanto, essencialmente fruto de uma tradição
03. (UFU) Quais são as principais diferenças entre Filosofia e mito? cultural e não da elaboração de um determinado indivíduo. O mito
não se justifica, não se fundamenta, portanto, nem se presta ao
04. (UNESP) À medida que a ciência se mostrou capaz de questionamento, à crítica ou à correção. Um dos elementos centrais
Reprodução Probida. Art.184 do CP.

compreender a realidade de forma mais rigorosa, tornando possível do pensamento mítico e de sua forma de explicar a realidade é o
fazer previsões e transformar o mundo, houve a tendência a apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas
desprezar outras abordagens da realidade, como o mito, a religião, dos fenômenos naturais são explicadas por uma realidade exterior
o bom senso da vida cotidiana, a vida afetiva, a arte e a filosofia. A ao mundo humano e natural, superior, misteriosa, divina, a qual só
confiança total na ciência valoriza apenas a racionalidade científica, os sacerdotes, os magos, os iniciados, são capazes de interpretar,
como se ela fosse a única forma de resposta às perguntas que o ainda que apenas parcialmente.
homem se faz e a única capaz de resolver os problemas humanos. (Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001. Adaptado.)
Maria L. de A. Aranha e Maria H.P. Martins. Temas de filosofia, 1992.
A partir do texto, explique como o pensamento filosófico característico
da Grécia clássica diferenciou-se do pensamento mítico.

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
1.D 5.E 9.D 13.A 17.C
2.B 6.C 10.D 14.A 18.E
3.D 7.A 11.E 15.D 19.A
4.C 8.A 12.D 16.D 20.A

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. Filosofar pode ser considerado como a atitude de reflexão e de problematização das 04. A diferença entre mito e ciência consiste no modo a partir do qual cada um entende que
verdades incorporadas pelo senso comum e pelo pensamento dogmático, além da busca se dá o processo do conhecimento acerca da realidade: enquanto no mito esse processo
por critérios válidos de investigação das verdades e da origem das coisas para que os se fundamenta no sobrenatural e no dogmatismo, na ciência é a experimentação metódica
estudantes criem uma autonomia no seu pensamento e não sejam facilmente enganados e a formulação de teorias e leis gerais que possibilita o conhecimento. Com o aumento
e manipulados. da importância da ciência como paradigma da vida humana e do universo, sobretudo a
02. A Filosofia propriamente dita surge no momento em que o exercício do pensar torna- partir do século XIX, passou a predominar a ideia de que apenas o conhecimento científico
se objeto de reflexão, ou seja, no instante em que o homem retoma o significado de seus possuiria legitimidade e seria capaz de fornecer uma verdade absoluta. No entanto, a
atos e dos seus pensamentos e nesta hora é chamado a pensar o já pensando. A atitude confiança total na ciência pode levar a um processo contraditório no qual ocorre a
crítica na filosofia não faz afirmação apenas, mas se obriga a justificar o pensamento com mitificação da ciência, na medida em que busca-se explicações científicas para aspectos
argumentos que evita contradições e ambiguidades. da condição humana que escapam ao entendimento da mesma e/ou entende-se as
produções da ciência como verdades absolutas inquestionáveis, ou seja, como dogmas.
Senso comum é aquele conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados
ao qual, ao longo da experiência vivida acrescentamos seus resultados a partir do coletivo 05. O pensamento mítico e o pensamento filosófico buscam responder a
em que vivemos. Este conjunto de ideias permite-nos interpretar a realidade, bem como questionamentos acerca da natureza e do homem que muitas vezes coincidem, ou seja,
de um corpo de valores que nos ajuda a avaliar, julgar e agir. ambos os pensamentos buscam o entendimento do mundo que cerca os indivíduos. No
entanto, enquanto o pensamento mítico se baseia na atribuição de caráter sobrenatural
03. A filosofia possui uma tendência à racionalidade, isto é, a razão é o seu critério de às explicações fornecidas, o que dispensa o uso da postura crítica investigativa, o
verdade. Já o mito não possui uma tendência à racionalidade, e sim uma tendência à pensamento filosófico é fundamentado na aplicação do paradigma do raciocínio lógico na
irracionalidade, isto é, os deuses e as fantasias sobre coisas incontroláveis que não formulação das interpretações acerca dos questionamentos considerados, o que impõe o
podemos acessar normalmente, definem o valor da crença. uso de uma perspectiva racional na observação dos fenômenos.

ANOTAÇÕES

12 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
02
FILOSOFIA
SURGIMENTO DA FILOSOFIA

O CONTEXTO GREGO E A FILOSOFIA O USO DA ESCRITA E A MOEDA


A Filosofia surge na Grécia, mas não por acaso, essa pequena A escrita não surgiu associada à pólis, ela já existia antes do
parte da atual Europa conjugava uma série de fatores necessários século XII a.C, mas voltou a ganhar força por volta do século VIII
para surgimento dessa disciplina. a.C.
• Existência da pólis. O uso da escrita tem relevância para o surgimento da lógica
• Viagens Marítimas. filosófica por diversos motivos como:
• Uso da escrita. • os escritos eram submetidos à avaliação pública
• Uso do calendário. • aquilo que estava escrito era passível de crítica, debate e
oposição
• Uso da moeda.
Reprodução proibida. Art. 184 do CP.

• na escrita, a palavra dita ganha uma natureza perene, que


• Não existência de um livro sagrado da religião grega. dura
• a permanência do escrito exigiu maior rigor sobre o que era
A PÓLIS E A DEMOCRACIA GREGA dito, cobrando reflexões mais profundas.
A consolidação da pólis, a cidade-Estado grega no contexto do De modo paralelo ao fortalecimento da pólis e do
início do séculoVII a.C é um acontecimento fundamental para entender estabelecimento da democracia, surge a moeda. O contexto
o surgimento da Filosofia. Nela foram apresentados elementos que grego era marcado por uma aristocracia que devia, em grande
compuseram e até hoje compõem o pensar filosófico. medida, parte da sua posição social de superioridade baseada em
argumentos divinos e ancestrais. Dessa maneira, as noções de
A pólis era espaço do debate. As discussões nas ágoras eram
valor no sistema de troca de mercadorias eram afetadas por esses
permeadas por questões acerca da justiça, poder e moral. Esses
debates tinham como característica fundamental a natureza privilégios e visões de superioridades.
política do processo, em outras palavras, os temas discutidos
eram de natureza coletiva, isto é, falavam sobre a dinâmica da
coletividade, das cidades, daquilo que era comum a todos.
Além disso, o espaço da ágora era o local da palavra, da
primazia da argumentação e da oposição de ideias. A natureza do
debate colocava de lado as explicações mitológicas, aquilo que era
proferido por deuses e as verdades absolutas e inquestionáveis.
Outro elemento importante trata de como ocorria o processo de
participação no debates. A democracia ateniense, que influenciou
as outras cidades-Estado, é marcada pela participação direta, isto é,
cada pessoa tinha a possibilidade de falar diretamente nos espaço
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8a/Naxos-02.jpg
de discussão, ao contrário da lógica da escolha de representantes.
O surgimento da moeda grega, por volta do século VII a.C, teve
a função de estabelecer um padrão para o cálculo dos valores que
tinha como grande novidade ter sido construído e estabelecido pelo
homem, tirando de critérios sagrados o papel dessas convenções
que favoreciam valores aristocráticos.

EXERCÍCIOS
PROTREINO
01. Aponte duas características que contribuíram para o
surgimento da Filosofia.
02. Apresente uma importante característica da democracia grega
03. Aponte uma contribuição do uso da escrita no mundo grego
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/ad/Parthenon_from_west.
jpg/800px-Parthenon_from_west.jpg 04. Aponte uma elemento importante do surgimento da moeda na
Grécia.
É sabido que a participação não era direito de todos, era
05. O que eram as ágoras?
vetada a segmentos da sociedade como mulheres, estrangeiros
e escravos, mas vale ressaltar a relevância de uma lógica de
participação na qual o poder da palavra e da tomada de decisões
estavam garantidos a diversos membros da coletividade e não
apenas a um grupo específico.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 13
FILOSOFIA 02 SURGIMENTO DA FILOSOFIA

A passagem do mito à filosofia iniciou-se com os pré-socráticos.


O primeiro deles foi Tales de Mileto, que iniciou o estudo da
cosmologia. A cosmologia é definida como:
EXERCÍCIOS
a) a investigação racional do agir humano.
PROPOSTOS b) a investigação acerca da origem e da ordem do mundo.
c) o estudo do belo na arte.
01.(UNIMONTES) A passagem da mentalidade mítica para
o pensamento racional e filosófico foi gestada por fatores d) o estudo do estado civil e natural e seu ordenamento jurídico.
considerados relevantes para a construção de uma nova
mentalidade. Algumas novidades do período arcaico ajudaram 05. (UNIOESTE) “O mito é uma narrativa. É um discurso, uma fala.
a transformar a visão que o mito oferecia sobre o mundo e a É uma forma de as sociedades espelharem suas contradições,
existência humana. Nesse aspecto, são todos fatores relevantes: exprimirem seus paradoxos, dúvidas e inquietações. Pode ser visto
como uma possibilidade de se refletir sobre a existência, o cosmos,
a) a invenção da escrita e da moeda, a lei escrita e a imprensa.
as situações de ‘estar no mundo’ ou as relações sociais”.
b) a invenção da escrita e do telefone, a lei escrita e o nascimento Everardo Rocha.
da pólis.
c) a invenção da escrita e da moeda, a lei escrita e o nascimento Mediante essa definição geral de mito é correto afirmar que
da pólis.
Reprodução proibida. Art. 184 do CP.

a) as sociedades com conhecimentos científico, tecnológico e


d) a invenção da escrita e da religião, a lei escrita e o nascimento filosófico complexamente constituídos não possuem mitos,
da pólis. pois eliminaram as dúvidas e os paradoxos.
b) Platão, um dos filósofos mais estudados e influentes do
02. (UEAP) A filosofia surge na Grécia por volta do século VI a.C. pensamento ocidental, não recorria aos mitos em seus diálogos,
Mudanças sociais, políticas e econômicas favoreceram o seu apesar de ter sido o primeiro a utilizar o termo mitologia.
surgimento. Dentre estas mudanças, pode-se mencionar: c) alguns mitos oferecem modelos de vida e podem servir como
a) a estruturação do mundo rural, desenvolvimento do sistema referências para a vida de muitas pessoas mesmo no século XXI.
escravagista e o estabelecimento de uma aristocracia d) as sociedades antigas, ocidentais e orientais, foram fundadas
proprietária de terras. sobre o mesmo mito primitivo, variando, apenas, os nomes de
b) a expansão da economia local fundada no desenvolvimento seus personagens.
do artesanato, o fortalecimento dos “demos” e da organização e) todas as afirmações acima estão corretas.
familiar patriarcal.
c) as disputas entre Atenas e Esparta, o desenvolvimento de 06. (ENEM PPL 2016) O aparecimento da pólis, situado entre os
Mecenas e do comércio jônico. séculos VIII e VII a.C., constitui, na história do pensamento grego,
d) o uso da escrita alfabética, as viagens marítimas e a evolução um acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como
do comércio e do artesanato. no domínio das instituições, a vida social e as relações entre os
e) o predomínio do pensamento mítico. homens tomam uma forma nova, cuja originalidade foi plenamente
sentida pelos gregos, manifestando-se no surgimento da filosofia.
03. (UNICENTRO) A passagem do Mito ao Logos na Grécia antiga VERNANT, J.-P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2004 (adaptado).

foi fruto de um amadurecimento lento e processual. Por muito


tempo, essas duas maneiras de explicação do real conviveram sem Segundo Vernant, a filosofia na antiga Grécia foi resultado do(a)
que se traçasse um corte temporal mais preciso. Com base nessa a) constituição do regime democrático.
afirmativa, é correto afirmar: b) contato dos gregos com outros povos.
a) O modo de vida fechado do povo grego facilitou a passagem c) desenvolvimento no campo das navegações.
do Mito ao Logos.
d) aparecimento de novas instituições religiosas.
b) A passagem do Mito ao Logos, na Grécia, foi responsabilidade
e) surgimento da cidade como organização social.
dos tiranos de Siracusa.
c) A economia grega estava baseada na industrialização, e isso 07. (UEL 2014)Observe a figura a seguir e responda à questão.
facilitou a passagem do Mito ao Logos.
d) O povo grego antigo, nas viagens, se encontrava com outros
povos com as mesmas preocupações e culturas, o que
contribuiu para a passagem do Mito ao Logos.
e) A atividade comercial e as constantes viagens oportunizaram
a troca de informações/conhecimentos, a observação/
assimilação dos modos de vida de outros povos, contribuindo,
assim, de modo decisivo, para a construção da passagem do
Mito ao Logos.

04. (UEG) Tales foi o iniciador da reflexão sobre a physis, pois foi
o primeiro filósofo a afirmar a existência de um princípio originário
e único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que
esse princípio de tudo é a água. Tudo se origina a partir dela. Essa
proposta é importantíssima [...] podendo com boa dose de razão
ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que se
costuma chamar de começo da formação do universo.
REALE, Giovanni. História da filosofia. São Paulo: Loyola, 1990.

14 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
02 SURGIMENTO DA FILOSOFIA FILOSOFIA

A figura mostra Atenas na atualidade. Observam-se as ruínas da III. A Filosofia não é algo importante porque não somos apenas
Acrópolis – onde ficavam os templos como o Parthenon –, o Teatro seres pensantes.
de Dionísio e a Asthy – com a Ágora (Mercado/Praça Pública) e as IV. A reflexão sobre o conhecer e o agir humanos fazem parte da
casas dos moradores. reflexão filosófica.
Sobre a relação entre a organização da cidade de Atenas, a ideia V. A reflexão filosófica é radical porque é feita sem nenhum tipo
de polis e o aparecimento da filosofia na Grécia Clássica, considere de objetivo.
as afirmativas a seguir.
Das afirmações feitas acima
I. A filosofia surgiu simultaneamente à cidade-Estado, ambiente
em que predominava o discurso público baseado na troca de a) apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas.
opiniões e no desenvolvimento da argumentação. b) apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
II. A filosofia afastava-se das preocupações imediatas da c) apenas as afirmativas I, II, III e V estão corretas.
aparência sensível e voltava-se para as questões do espírito. d) todas as afirmativas estão corretas.
III. O discurso proferido pelo filósofo era dirigido a pequenos e) todas as afirmativas estão incorretas.
grupos, o que o distanciava da vida pública.
IV. O discurso da filosofia no contexto da polis restringia-se ao 10. (UEL 2007) Leia o texto a seguir:
mesmo tipo de discurso dos guerreiros e dos políticos ao “Sim bem primeiro nasceu Caos,
Reprodução proibida. Art. 184 do CP.

desejar convencer em vez de proferir a verdade. depois também


Assinale a alternativa correta. Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. sempre
dos imortais que têm a cabeça do
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
Olimpo nevado
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. e Tártaro nevoento no fundo do chão
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. de amplas vias
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. e Eros: o mais belo entre Deuses imortais.”
Fonte: HESÍODO. Teogonia. Tradução de Jaa Torrano. 3ª ed. São Paulo: Iluminuras, 1995,
p. 111.
08. (UPE-SSA 1 2017) Observe o texto a seguir sobre a gênese do
pensamento filosófico. Sobre o exposto acima, podemos afirmar que se trata de um texto:
Com a filosofia, novo critério de verdade se impunha: o critério da I. Do período cosmológico, que compreende as escolas pré-
logicidade. Verdade é aquilo, que concorda com as leis do lógos socráticas, cujo interesse era perseguir a unidade que garantia
(pensamento, razão). É a razão, que nos dá garantia da verdade, a ordem do mundo e a possibilidade do conhecimento humano.
porque o real é racional.
LARA, Tiago Adão. A Filosofia nas suas origens gregas, 1989, p. 54.
II. De caráter ético, cuja narrativa revela a preocupação com a
conduta dos homens e dos deuses.
Sobre a gênese do pensamento filosófico, está CORRETO afirmar que III. De caráter cosmogônico, cuja reflexão busca tornar concebível
a) a evidência da verdade com o crivo da racionalidade tem a origem das coisas e a força que as produziu.
resposta no mito. IV. Anterior à cosmologia filosófica, cuja narrativa reflete ainda a
b) o critério da logicidade está presente na adesão à crença e ao mentalidade mítica.
mito. Estão corretas apenas as afirmativas:
c) a gênese do pensar filosófico e a inspiração criadora de a) I e III. c) II e IV. e) I, II e IV.
sentidos consistem na fantasia. b) III e IV. d) I, II e III.
d) a origem do pensamento filosófico surge entre os gregos, no
século VI a.C., na busca por explicação do sobrenatural com a 11. (UNICENTRO 2010) No século V a.C. Atenas esteve sob o
força do divino. governo de Péricles, um dos grandes estrategos do mundo grego.
e) o despertar da filosofia grega surge na verdade argumentada Naquele período, Atenas vivenciou o grande florescimento das
da razão com o critério da interpretação. artes, ciência, filosofia e política. Segundo alguns autores, é a partir
do governo de Péricles que os gregos traçaram as linhas mestras
09. (UNIOESTE) “Reflexão significa movimento de volta sobre daquilo que viria a ser a política enquanto atividade (e dever) de
si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo. A reflexão é todos os cidadãos que vivem na pólis (cidade-estado).
o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, A partir desta e outras informações sobre o governo de Péricles,
interrogando a si mesmo. A reflexão filosófica é radical porque assinale a alternativa correta.
é um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para a) No governo de Péricles, somente as classes mais favorecidas
conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o próprio tinham direito a voz nas assembleias.
pensamento. Não somos, porém, somente seres pensantes.
Somos também seres que agem no mundo. [...] A reflexão filosófica b) Somente aos sábios caberia o dever de governar a pólis
também se volta para essas relações que mantemos com a grega, porque apenas eles teriam condições de “contemplar” a
realidade circundante, para o que dizemos e para as ações que verdadeira ideia de justiça.
realizamos nessas relações.” (M. Chauí) c) Péricles propõe, como melhor regime político, a sofocracia,
Sobre a Filosofia, conforme o texto acima, seguem as seguintes governo nas mãos do sábio.
afirmações: d) Péricles desenvolveu uma concepção política muito restrita,
I. Independentemente de seu conteúdo ou objeto, uma característica na qual o governo da pólis seria mantido somente por um
fundamental da Filosofia é a indagação, a interrogação. pequeno número de pessoas.
II. A Filosofia direciona perguntas como “o que é?”, “por que é?” e) O governo, próprio de Atenas, recebeu, a partir de Péricles, o
e “como é?” ao mundo que nos cerca, ao próprio homem e às nome de “democracia”, porque a sua direção (poder - cratós)
relações que o homem estabelece. não está na mão de um pequeno grupo, mas sim da maioria
(o demos).

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 15
FILOSOFIA 02 SURGIMENTO DA FILOSOFIA

12. Sobre o conceito Filosofia, assinale a alternativa CORRETA. Considerando o exposto, assinale o que for correto.
a) É o exame do conhecimento em sua generalidade que a) A filosofia surgiu na Grécia durante o séc. VI a.C.. Apesar de
se desdobra por meio da dialética humana: da prática ao seu nascimento ser considerado o “milagre grego”, é conhecida
conhecimento e desse conhecimento de retorno à prática. a frequentação de Atenas por outros sábios que viveram no
b) É um exercício sistemático do pensar com clara inspiração século VI a.C., como Confúcio e Lao Tse (provenientes da
científica. China), Buda (proveniente da Índia) e Zaratustra (proveniente da
Pérsia), fazendo da filosofia grega uma espécie de comunhão
c) É, por si mesma, uma interface sistemático-conceitual dos saberes da antiguidade.
que busca ser a extensão do conhecimento rigoroso e
sistematizado. b) O surgimento da filosofia é coetâneo ao advento da pólis
(cidade). Novas estruturas sociais e políticas permitiram o
d) É uma análise lógico-crítica da realidade. desenvolvimento de formas de racionalidade, modificadoras
da prática do mito.
13.
c) Por serem os únicos filósofos a praticar a retórica, os sofistas
Texto 1 representam, indiscutivelmente, o ponto mais alto da filosofia
Eis aqui, portanto, o princípio de quando se decidiu fazer o homem, clássica grega (séculos V e IV a.C.), ultrapassando Sócrates,
e quando se buscou o que devia entrar na carne do homem. Platão e Aristóteles.
Havia alimentos de todos os tipos. Os animais ensinaram o caminho. d) Filósofo é aquele que busca certezas sem garantias de possuí-
Reprodução proibida. Art. 184 do CP.

E moendo então as espigas amarelas e as espigas brancas, las efetivamente. Por essa razão, o filósofo não deseja o
Ixmucaná fez nove bebidas, e destas provieram a força do homem. conhecimento do mundo e das práticas humanas por meio
Isto fizeram os progenitores, Tepeu e Gucumatz, assim chamados. de critérios aproximativos e compartilhados (de aceitação
A seguir decidiram sobre a criação e formação de nossa primeira comum), através do debate.
mãe e pai. De milho amarelo e de milho branco foi feita sua carne; de e) A atividade filosófica pode ser definida, entre outras habilidades,
massa de milho foram feitos seus braços e as pernas do homem. pela capacidade de generalização e produção de conceitos,
Unicamente massa de milho entrou na carne de nossos pais. encontrando, sob a multiplicidade de objetos do mundo,
(Adaptado: SUESS, P. Popol Vuh: Mito dos Quiché da Guatemala sobre sua origem relações de semelhança e de identidade.
do milho e a criação do mundo. In: A conquista espiritual da América Espanhola: 200
documentos – Século XVI. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 32-33.)
15. Leia o texto a seguir:
Texto 2 Mesmo quando se pretendeu a política, a filosofia sempre teve
“Se você é o que você come, e consome comida industrializada, significado político. Filosofando, o homem chega a si mesmo e
você é milho”, escreveu Michael Pollan no livro O Dilema do encontra razão para moldar e julgar politicamente sua associação
Onívoro, lançado este ano no Brasil. Ele estima que 25% da comida com os outros homens.
industrializada nos EUA contenha milho de alguma forma: do (JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico, São Paulo: Cultrix, 1999, p. 55.
refrigerante, passando pelo Ketchup, até as batatas fritas de uma Adaptado)
importante cadeia de fast food – isso se não contarmos vacas e O texto acima retrata, com clareza, a dimensão do saber filosófico
galinhas que são alimentadas quase exclusivamente com o grão. no âmbito da política. Sobre esse assunto, assinale a alternativa
O milho foi escolhido como bola da vez ao seu baixo preço no CORRETA.
mercado e também porque os EUA produzem mais da metade do a) No âmbito da política, a filosofia tem valor secundário no julgar
milho distribuído no mundo. politicamente.
(Adaptado: BURGOS, P. Show do milhão: milho na comida agora vira combustível. Super
Interessante. Edição 247, 15 dez. 2007, p.33.) b) Julgar politicamente é declinar do filosofar no moldar a
experiência coletiva.
Com base nos textos 1 e 2 e nos conhecimentos sobre as relações c) A filosofia e a política estão ligadas ao julgar e moldar a esfera
entre organização social e mito, é correto afirmar. dos assuntos públicos.
a) Os deuses maias criaram os homens dotados de livre arbítrio d) A política e a filosofia dão ênfase ao espaço do individual em
para, a partir dos princípios da razão e da liberdade, ordenarem detrimento do coletivo.
igualitariamente a sociedade.
e) No julgar politicamente, a esfera do individual se sobrepõe ao
b) A exemplo das narrativas que predominavam no período valor da significância do coletivo.
homérico da Grécia antiga, os mitos expressam uma forma de
conhecimento científico da realidade.
16. (UPE-SSA 1 2016) Sobre a gênese da filosofia entre os gregos,
c) Na busca de um princípio fundante e ordenador de todas as observe o texto a seguir:
coisas, como ocorre na mitologia grega, a narrativa mítica
Seja como termo, seja como conceito, a filosofia é considerada
justifica as bases da legitimação de organização política e de
pela quase totalidade dos estudiosos como uma criação própria
coesão social.
do gênio dos gregos. Quem não levar isso em conta não poderá
d) Assim como nos povos Quiché da Guatemala, também os compreender por que, sob o impulso dos gregos, a civilização
mitos gregos procuram explicar a arché, a origem, a partir de ocidental tomou uma direção completamente diferente da oriental.
um elemento originário onde está presente o milho. (ANTISERI, Dario e RELAE, Giovanni. História da Filosofia, 1990, p. 11).
e) Para certas tradições de pensamento, como a da escola de
Frankfurt, o iluminismo representa a superação completa do mito. Sobre a gênese do pensamento filosófico entre os gregos, é
CORRETO afirmar que
14. “A filosofia surgiu quando alguns gregos, admirados e a) a experiência concreta da racionalidade estava isenta da vida
espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações política na Pólis Grega.
que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar b) a prática político-democrática, atrelada ao enfoque irracional
respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres da vida em sociedade, foi o terreno fértil para a gênese do
humanos, os acontecimentos materiais e as ações dos seres pensamento filosófico.
humanos podem ser conhecidos pela razão humana”
(CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2011. p.32).

16 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
02 SURGIMENTO DA FILOSOFIA FILOSOFIA

c) sob o impulso dos gregos, a dimensão racional se impõe como Com base nessa citação, é correto afirmar que a filosofia nasce
critério de verdade. A filosofia é fruto desse projeto da razão. a) após o declínio das ideias mitológicas, não havendo nenhuma linha
d) a filosofia é fruto do momento cultural em que a sensibilidade e de continuidade entre estas últimas e as novas ciências gregas.
a fantasia impõem-se sobre a razão. b) das representações religiosas míticas que se transpõem nas
e) na gênese do pensamento filosófico grego, na civilização novas representações cosmológicas jônicas.
ocidental, a forma de sabedoria que se sobrepunha à ciência c) da experiência do espanto, a maravilha com um mundo
filosófica, eram as convicções religiosas fundamentadas na ordenado e, portanto, belo.
razão pura.
d) da experiência política grega de debate, argumentação e contra-
17. (UPE-SSA 1 2016) Atente ao texto a seguir: argumentação, que põe em crise as representações míticas.
Sobre o pensamento grego e) da racionalidade intuitiva e natural do ser humano que
gradualmente exclui as explicações mitológicas do seu cotidiano.
Apesar de a filosofia possuir data e local de nascimento, suas
origens não são um fato simples, mas, objeto de controvérsias (o
que, aliás, é muito próprio da filosofia). A causa da controvérsia é, 20. (UFPA 2013) “Em Atenas [...] o povo exercia o poder, diretamente,
justamente, o conteúdo da filosofia nascente, isto é, a cosmologia. na praça pública [...]. Todos os homens adultos podiam tomar
parte nas decisões. Hoje elegemos quem decidirá por nós. A
CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia, 1994.
democracia antiga é vista, geralmente, como superior à moderna.
Reprodução proibida. Art. 184 do CP.

No tocante ao pensamento grego, assinale a alternativa CORRETA. Mas a democracia moderna não é uma degradação da antiga: ela
traz uma novidade importante – os direitos humanos. A questão
a) O pensamento grego, no enfoque da filosofia, é a expressão crucial dos direitos humanos é limitar o poder do governante. Eles
máxima da racionalidade no trato com o conhecimento. protegem os governados dos caprichos e desmandos de quem
b) No pensamento grego, a singularidade da filosofia está imbuída está em cima, no poder.”
na tarefa de uma explicação sensível sobre a origem e a ordem JANINE, Renato. A democracia, São Paulo, Publifolha, 2001, p. 8-10, texto adaptado.
do mundo.
c) Os primeiros filósofos gregos pretenderam explicar, apenas, a A superioridade da democracia antiga com relação à moderna
origem das coisas e da ordem do mundo sem atentar para o pode ser atribuída ao (à)
fluxo das mudanças e repetições. Eles buscavam, pelo simples a) poder dado aos homens mais velhos, dotados de virtude e
discurso, o estudo do cosmos. sabedoria, para decidirem sobre os destinos da cidade.
d) Desde o seu início, o problema cosmológico é o último a destacar- b) condução, de forma justa, da vida em sociedade e garantia do
se claramente como objeto de pesquisa e sistematização. Ou direito de todos os habitantes da cidade de participarem das
seja, a cosmologia estava em segundo plano. assembleias.
e) No pensamento grego, os primeiros filósofos acreditavam que o c) poder dado aos homens que se destacaram como os mais
princípio de todas as coisas se encontrava na substância imaterial corajosos nas guerras e aos mais capazes nas ciências e
e desprezavam a natureza material – o enfoque na cosmologia. nas artes, para estes tomarem as decisões nas assembleias
realizadas em praça pública.
18. (UNCISAL 2011) Segundo Marilena Chauí, a resposta à pergunta d) fato de o povo eleger seus representantes políticos para tomar
“O que é filosofia?” poderia ser: “a decisão de não aceitar como decisões sobre os destinos da cidade e definir os seus direitos,
óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os em praça pública, de modo a evitar atitudes arbitrárias e
valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais injustas dos governantes.
aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido”. e) participação direta dos cidadãos nas decisões de interesse do
(Convite à filosofia)
todo no âmbito do espaço público.
Após ler com atenção essa definição, assinale a alternativa correta.
a) A filosofia identifica-se inteiramente com o senso comum.
b) As reflexões filosóficas apresentam o mesmo nível qualitativo EXERCÍCIOS DE
das reflexões cotidianas. 05. APROFUNDAMENTO
c) Filosofar significa apresentar um ponto de vista crítico sobre
a realidade. 01. (UNESP) Dogmatismo vem da palavra grega dogma, que
d) A filosofia deve, necessariamente, apresentar um ponto de significa: uma opinião estabelecida por decreto e ensinada como
vista místico ou religioso sobre a realidade. uma doutrina, sem contestação. O dogmatismo é uma atitude
autoritária e submissa. Autoritária porque não admite dúvida,
e) Todo filósofo é necessariamente ateu.
contestação e crítica. Submissa porque se curva a opiniões
estabelecidas. A ciência distingue-se do senso comum porque
19. (UECE 2019) “É no plano político que a Razão, na Grécia, esta é uma opinião baseada em hábitos, preconceitos, tradições
primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. A experiência cristalizadas, enquanto a ciência baseia-se em pesquisas,
social só pôde tornar-se entre os gregos objetos de uma reflexão investigações metódicas e sistemáticas e na exigência de que as
positiva, porque se prestava, na cidade, a um debate público de teorias sejam internamente coerentes e digam a verdade sobre a
argumentos. O declínio do mito data do dia em que os primeiros realidade.
Sábios puseram em discussão a ordem humana, procuraram (Marilena Chaui. Convite à filosofia, 1994. Adaptado.)
defini-la em si mesma, traduzi-la em fórmulas acessíveis à sua
inteligência, aplicar-lhe a norma do número e da medida.” a) Cite duas implicações políticas do dogmatismo.
VERNANT, J.-P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil,
1989, p. 94. b) Do ponto de vista da objetividade, explique por que o
conhecimento científico é superior ao senso comum.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 17
FILOSOFIA 02 SURGIMENTO DA FILOSOFIA

02. (UFPR) Leia o excerto a seguir:


GABARITO
“A Grécia se reconhece numa certa forma de vida social, num tipo
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
de reflexão que define a seus próprios olhos sua originalidade,
1.C 5.C 9.A 13.C 17.A
sua superioridade sobre o mundo bárbaro. No lugar do Rei cuja
2.D 6.E 10.B 14.B 18.C
onipotência se exerce sem controle, sem limite, no recesso de
seu palácio, a vida política grega pretende ser o objeto de um 3.E 7.A 11.E 15.C 19.D

debate público em plena luz do sol, na ágora, da parte de cidadãos 4.B 8.E 12.A 16.C 20.E
definidos como iguais e de quem o Estado é a questão comum [...]”. EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
(VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: DIFEL, 2013.) 01.
a) O dogmatismo pode gerar uma submissão a regimes autoritários e totalitários,
Tendo como base as afirmações expostas por Vernant, identifique na medida em que não reconhece a existência da pluralidade entre os homens.
os traços principais da polis grega, o sistema político que ela Além disso, ele também pode impedir o desenvolvimento da ciência, uma vez que
estabelece uma série de verdades incontestes.
substituiu e os principais problemas que ela apresenta.
b) O conhecimento científico é baseado na comprovação metódica, empírica e racional.
Além disso, um dos seus princípios é a falseabilidade. Ou seja, uma teoria, uma
03. (UNIFESP) (...) é no último quartel do século VII [a.C.] que a vez provada falsa, pode ser abandonada em prol de outra. O senso comum, em
economia das cidades (...) volta-se decididamente para o exterior; contrapartida, corresponde a verdades tradicionais, surgidas de forma irrefletida e
imediata, que independem de comprovação empírica e racional.
o tráfico por mar vai então amplamente ultrapassar a bacia oriental
02. Durante o período Arcaico da Grécia, VIII-VI a.C, predominava um governo
do Mediterrâneo, entregue a seu papel de via de comunicação. A
Reprodução proibida. Art. 184 do CP.

aristocrático monopolizado pela elite agrária que possuía o domínio político e econômico.
zona dos intercâmbios estende-se a oeste até a África e à Espanha, No período Clássico, V-IV a.C, foi implantada a democracia e o poder foi transferido
a leste até ao Mar Negro. para os cidadãos. A ágora, praça pública, passou a ser o cenário do debate político dos
cidadãos visando criar leis para a polis. Vale lembrar que polis era uma cidade estado que
(Jean-Pierre Vernant. As origens do pensamento grego. São Paulo: Difel, 1991.) possuía autonomia política, a democracia era direta e participativa e a cidadania era muito
restrita, apenas 10% da população exercia seus direitos políticos. Mulheres, escravos e
O texto fala da expansão das cidades gregas no século VII a.C. estrangeiros estavam excluídos
Explique 03. Porque o mar Mediterrâneo era a principal via de circulação de navios do mundo
antigo, integrando diferentes regiões e povos da Europa, Ásia e África.
a) por que o autor chama o Mar Mediterrâneo de “via de Muitos historiadores contemporâneos apontam como causa para a expansão das cidades
comunicação”. gregas no século VII a.C, necessidades comerciais e o grande crescimento demográfico
que se iniciara no final do Período Homérico. Porém, há discordância quanto aos motivos
b) os principais motivos dessa expansão. comerciais, pois muitas das regiões colonizadas não tinham nenhum atrativo comercial
para os gregos. Observa-se que bons portos, excelentes pontos para o desenvolvimento
da atividade comercial, não foram ocupados por nenhuma colônia grega, indicando que
04. (UFJF-PISM 1) Leia atentamente o trecho e as informações no
nem sempre o objetivo mercantil era o principal para a expansão das cidades. Assim
quadro a seguir: sendo, pode-se apontar que o principal motivo da expansão territorial grega tenha sido
a busca de uma solução para a crise decorrente da explosão populacional iniciada no
Nas cidades gregas e em Roma durante a Antiguidade, existiram duas século VIII a.C. As condições geográficas da área continental da Grécia, um solo pouco
principais maneiras de governar. Numa, a sociedade era governada fértil e pedregoso e o relevo montanhoso, não atendiam as demandas de uma população
por uma só pessoa: o rei ou monarca. Era a monarquia. Noutra, a crescente. Esse movimento é conhecido como Segunda Diáspora Grega.
sociedade era dirigida por um grupo pequeno de homens ricos. Era 04. Em Atenas eram considerados cidadãos os homens, maiores de 21 anos e que
fossem atenienses natos, ou seja, 15% da população;
a aristocracia. Em algumas cidades da Grécia, como em Atenas, foi
experimentada uma terceira forma de governo. Era a democracia. No Brasil atual, o acesso à cidadania, no que tange ao direito ao voto, é amplo: todo
e qualquer cidadão brasileiro (nascido ou naturalizado), ao atingir a idade mínima
KONDER, Leandro. Muito além das Urnas. Revista Ciência hoje das crianças, nº 64. necessária, pode votar.
Adaptado
05. O conceito de democracia ateniense era direto e excludente: os poucos cidadãos
(homens, maiores de 21 anos e atenienses natos) participavam diretamente das tomadas
Disponível em: http://chc.cienciahoje.uol.com.br/muito-alem-das-urnas - Acessado
de decisão da cidade-Estado.
04/09/2015
O conceito de cidadania do Brasil atual é indireto ou representativo e abrangente: todos
somos cidadãos e elegemos um representante para tomar as decisões políticas.

Indivíduos com direito a ANOTAÇÕES


Dados voto
População
estatísticos
Total
aproximados
Números
%
absolutos
ATENAS (Vº
240 mil 38 mil 15,8%
século a.C.)

Brasil – 2014 203 milhões 143 milhões 70,4%

Com base no texto, no quadro e em seus conhecimentos, responda


ao que se pede:
a) O que era necessário para que um indivíduo participasse das
decisões políticas durante a democracia em Atenas?
b) Analise as motivações que explicam a diferença do percentual
existente entre indivíduos com direito a voto na democracia
ateniense e no modelo democrático existente no Brasil atual.

05. (UFPR) Estabeleça duas diferenças entre o conceito de


democracia vigente em Atenas no período antigo e o conceito de
democracia vigente no Brasil atual.

18 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
03
FILOSOFIA
PRÉ-SOCRÁTICOS I

O INÍCIO DO FILOSOFAR Suas contribuições à filosofia envolvem várias disciplinas. Na


astronomia, tentou descrever a mecânica dos corpos celestes em
Os primeiros filósofos eram naturais da cidade de Mileto. relação à Terra. Também desenhou um mapa do mundo que contribuiu
Foram chamados por Aristóteles, tempos depois, de “físicos” grandemente para o avanço da geografia. Esteve envolvido com a
porque o problema central com o qual lidavam era a questão da política de Mileto e foi enviado como líder de uma de suas colônias.
physis. Atualmente, damos aos primeiros filósofos a qualidade Contudo, foi a respeito do princípio fundamental que Anaximandro fez
de “pré-socráticos”, pois investigam questões diferentes das que suas mais duradouras contribuições para a filosofia.
passaram a ser abordadas pela filosofia após Sócrates. As mais
Ao contrário de Tales, que propôs que o arché fosse o princípio
importantes perguntas que os pré-socráticos faziam eram: líquido, ou seja, a água, Anaximandro defendeu que o princípio
• Como surgiu o cosmos? não era líquido, nem sólido, nem gasoso (mesmo que líquido,
• Como a physis é ordenada? sólido ou gasoso fossem tomados como princípios muito gerais
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

e quase metafóricos). Sua proposta foi de que o arché não pode


• Quais são os elementos fundamentais da physis, ou seja,
ter limite, determinação nem forma. Afinal, se o arché tiver forma,
qual é o arché? todas as coisas criadas dele terão necessariamente a forma do
A resposta apresentada por cada um dos três principais arché. Contudo, se o arché não tiver forma, limite ou determinação,
filósofos milesianos foi baseada na ideia de que a physis tinha um pode vir a se tomar a forma, ter o limite e determinar-se como
arché unitário. Em outras palavras, um único princípio deve ser qualquer outra coisa. Anaximandro deu a esse arché indefinido,
utilizado para explicar todas as coisas no cosmos. indeterminado e ilimitado o nome ápeiron. O ápeiron está presente
em todos os lugares; assim como o líquido para Tales, é do ápeiron
O "PRINCÍPIO” DE TODAS AS COISAS que tudo surgiu, é no ápeiron que tudo existe e para o ápeiron tudo
segue – o ápeiron é o início, o meio e o fim. Aqui torna-se evidente
Tales (624-546 a.C.) foi considerado o primeiro filósofo. Em
que estamos diante de algo novo: o ápeiron é um princípio natural
contraste com as antigas explicações mitológicas, Tales tentou
que nos lembra a ideia de Deus – num momento em que ninguém
encontrar explicações naturalistas para o mundo, sem referência
ainda havia pensado em Deus desse modo.
a coisa alguma sobrenatural. Explicou, por exemplo, os terremotos
por meio da teoria de que a Terra flutua na água; os terremotos Mesmo a primeira religião monoteísta, o judaísmo, não tinha
seriam causados pelo encontro da Terra com ondas. ainda naquela época adotado de modo inequívoco a concepção
da tradição sacerdotal hebraica de um Deus universal, onisciente,
Tales procurava pelo “princípio” de todas as coisas, ou seja,
onipresente e onipotente, a concepção que ficaria consagrada
pelo arché. O arché seria aquilo de que todas as coisas seriam
após alguns séculos. Em outras palavras, a concepção racional
compostas, em que todas as coisas subsistem e para que todas
e naturalista de Anaximandro a respeito do arché precedeu
as coisas tendem.
e, possivelmente, influenciou a concepção de Deus que se
Segundo a cosmologia de Tales, a arché seria a água. Todas teria posteriormente na Grécia, no judaísmo e no cristianismo.
as coisas seriam compostas por água. Devido ao  fato de ter sido o Estamos diante de uma concepção naturalista de Deus – um
primeiro pensador a procurar um princípio natural observável (a água) Deus desumanizado, desantropomorfizado, universal, fonte, fim e
para explicar todas as coisas, muitas vezes, Tales é considerado substrato de todos os seres; em suma, estamos diante da primeira
o primeiro cientista. Contudo, provavelmente o que Tales tinha em concepção de um Ser que puramente É – conceito que a Escola
mente com a ideia de água não era o mesmo que nós, que pensamos Eleata desenvolveu mais profundamente ainda nos primórdios da
na  substância H2O. Provavelmente, o que Tales tinha em mente era filosofia grega.
algo como o elemento líquido, o princípio líquido como a fonte de todas
Anaxímenes (585-525 a.C.) foi aluno de Anaximandro. Suas
as coisas na natureza. Este elemento ou princípio líquido, considerado
ideias são próximas a dos dois outros milesianos, mas em lugar do
de modo unitário, seria a fonte, o fim e o substrato de todos os seres
princípio líquido ou do ápeiron, era o ar a ser tomado como arché. Esta
individuais e múltiplos. Assim, o princípio líquido universal é aquilo de
ideia parece, à primeira vista, um retrocesso de um princípio bastante
que todas as coisas surgem, em que todas as coisas existem e para o
complexo, como o ápeiron, de volta a um princípio material (como
que todas as coisas se encaminham.
aparentemente é a água). Contudo, assim como a água a que Tales
Evidentemente, esta ideia, embora seja naturalista, pois o faz referência não é o que nós chamamos comumente água, o que
princípio líquido é parte da natureza, não é materialista. Tales não Anaxímenes chama ar não é o que nós chamamos ar. Anaxímenes
era um filósofo para quem a única realidade era material; na verdade, não se referia à mistura química gasosa entre o oxigênio, o nitrogênio
a realidade substancial é natural, é una, mas não é material. Note- e o gás carbônico: o ar, para os gregos, era considerado algo infinito
se que não material não significa sobrenatural. Mesmo quando que preenche todos os lugares em todo o cosmos.
diz que o ímã tem alma, não utiliza aqui um princípio sobrenatural;
Além disso, tanto para os gregos quanto para talvez todas as
apenas justifica o movimento do ímã na direção do ferro (ou o
civilizações da Antiguidade, o ar, o sopro, o hálito, era considerado
contrário) por um princípio natural, o princípio da vida (a alma), pois
o princípio vital. Isso parece evidente: a respiração, ou a falta dela,
apenas o que tem vida poderia mover-se autonomamente. Embora
indica se um ser vivo vive ou morre; quando um bebê nasce, precisa
não material, o princípio fundamental é parte da physis.
começar a respirar; a morte vem frequentemente acompanhada de
Neste sentido, podemos também compreender a tese mais um último suspiro; e é muito comum na religiosidade antiga que a
conhecida de Anaximandro (610-546 a.C.). Aluno de Tales, vida seja dada pela divindade com um sopro vital (“Então Iahweh
professor de Anaxímenes e de Pitágoras, foi o primeiro filósofo Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas
a escrever seus estudos, embora apenas um fragmento de seu narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente”;
trabalho ainda exista. Anaximandro seguiu a mesma linha de Gn 2,7); na própria tradição judaica e cristã, Deus é, às vezes, visto
Tales e foi além. Afirmou que a natureza é regida por leis, como as como uma brisa ou um vento suave (“e depois do terremoto um
sociedades humanas, e nada que cause distúrbio ao balanço da fogo, mas Iahweh não estava no fogo; e depois do fogo o murmúrio
natureza pode durar muito tempo.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 19
FILOSOFIA 03 PRÉ-SOCRÁTICOS I

de uma brisa suave. Quando Elias o ouviu, cobriu o rosto com o


manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta”; I Reis 19,12-13).
Isso significa que também Anaxímenes propõe um princípio EXERCÍCIOS
natural que não é, a despeito do que possa parecer à primeira vista,
material. Pode-se dizer que este princípio, assim como o proposto PROPOSTOS
por Tales, tem uma manifestação material – mas o princípio uno e
universal não o é. Grande parte dos textos dos primeiros filósofos 01. (UEL) “A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda,
milesianos se perdeu no tempo. A maior fonte de conhecimento com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas.
sobre suas teses vem de filósofos e historiadores posteriores que Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por
relataram as posições defendidas pelos filósofos anteriores. três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia
Esses relatos foram chamados doxografia, palavra que deriva de algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque faz
doxa, que significa opinião na língua grega, e graphia, que significa sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela,
escrita. Então, doxografia de um filósofo é o conjunto de opiniões embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento:
sobre a filosofia de um determinado filósofo da Antiguidade. ‘Tudo é um’. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em
comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira
dessa sociedade e no-lo mostra como investigador da natureza,
TALES DE MILETO mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego”.
Afirmava que a ÁGUA é a substância básica, “tudo é água”,
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

Fonte: NIETZSCHE, F. Crítica Moderna. In: Os Pré-Socráticos. Tradução de Rubens


filósofo e matemático, é considerado o pai da filosofia, sendo o Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 43.

primeiro a expor a ideia de um princípio original.


Com base no texto e nos conhecimentos sobre Tales e o surgimento
da filosofia, considere as afirmativas a seguir.
ANAXÍMENES DE MILETO I. Com a proposição sobre a água, Tales reduz a multiplicidade
Anaximenes, discípulo de Tales, acreditava que o AR era das coisas e fenômenos a um único princípio do qual todas as
o princípio original, que através de processos de rarefação e coisas e fenômenos derivam.
condensação formava o mundo em que vivemos. II. A proposição de Tales sobre a água compreende a proposição
‘Tudo é um’.
ANAXIMANDRO DE MILETO III. A segunda razão pela qual a proposição sobre a água merece
ser levada a sério mostra o aspecto filosófico do pensamento
Anaximandro acredito que tudo é ÁPEIRON, o infinito, o
de Tales.
indeterminado, na falta de uma matéria específica que deu origem
a tudo, Anaximandro acreditava em uma matéria indeterminada. IV. O Pensamento de Tales gira em torno do problema fundamental
da origem da virtude.
A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é:
PITÁGORAS DE SAMOS
a) I e II. d) I, II e IV.
Acreditava que a origem de tudo são os NÚMEROS, o famoso
matemático acreditava que tudo pode ser calculado, matematizado b) II e III. e) II, III e IV.
e respondido através de cálculos, sendo assim somente os c) I e IV.
números poderiam trazer a resposta da origem do universo.
02. (UENP) Mario Quintana, no poema “As coisas”, traduziu o
sentimento comum dos primeiros filósofos da seguinte maneira: “O
DEMÓCRITO DE ABDERA encanto sobrenatural que há nas coisas da Natureza! [...] se nelas
Acreditava na ideia de ÁTOMO, entendendo como algo te dá encanto ou medo, não me digas que seja feia ou má,
princípio original, Demócrito acreditava que o átomo estava é, acaso, singular”. Os primeiros filósofos da antiguidade clássica
presente em todas as coisas, partículas indivisíveis e de grega se preocupavam com:
variadas formas. a) Cosmologia, estudando a origem do Cosmos, contrapondo a
tradição mitológica das narrativas cosmogônicas e teogônicas.
b) Política, discutindo as formas de organização da pólis e
EMPÉDOCLES DE ARIGENTO estabelecendo as regras da democracia.
Acreditava que a árche é uma conjunção de elementos, água, c) Ética, desenvolvendo uma filosofia dos valores e da vida virtuosa.
fogo, ar e terra, como fundamentais para o mundo e a concepção de
universo que possuímos. Tudo existia na junção desses 4 elementos. d) Epistemologia, procurando estabelecer as origens e limites do
conhecimento verdadeiro.
e) Ontologia, construindo uma teoria do ser e do substrato da
EXERCÍCIOS
realidade.
PROTREINO
03. (UFU) “…Princípio dos seres…ele [Anaximandro] disse (que
01. O que é a physis? era) o ilimitado…Pois donde a geração é para os seres, é para
onde também a corrupção se gera segundo o necessário; pois
02. Defina arché. concedem eles mesmos justiça e deferência uns aos outros pela
03. Aponte o arché para Tales de Mileto injustiça, segundo a ordenação do tempo.”
Pré-Socráticos. Coleção “Os Pensadores”. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
04. Aponte o arché para Pitágoras de Samos
05. Aponte o arché para Empédocles de Arigento.

20 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
03 PRÉ-SOCRÁTICOS I FILOSOFIA

A partir da análise do texto de Anaximandro, é correto afirmar que a Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para
filosofia, em contraposição ao mito, se caracteriza por explicar a origem do universo, a partir de uma explicação racional.
a) conceber o tempo como um passado imemorial sem relação As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo
com o presente. medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que
b) os seres divinos concedem, por alianças ou rompimentos, a) eram baseadas nas ciências da natureza.
justiça e deferência uns aos outros. b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
c) o mundo ser explicado por um processo constante e eterno de c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.
geração e corrupção, cujo princípio é o ilimitado. d) postulavam um princípio originário para o mundo.
d) narrar a origem do mundo por meio de alianças e forças e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.
geradoras divinas.
07. (UNCISAL) O período pré-socrático é o ponto inicial das reflexões
04. (UFSJ) Sobre o princípio básico da filosofia pré-socrática, é filosóficas. Suas discussões se prendem a Cosmologia, sendo a
CORRETO afirmar que determinação da physis (princípio eterno e imutável que se encontra na
a) Tales de Mileto, ao buscar um princípio unificador de todos origem da natureza e de suas transformações) ponto crucial de toda
os seres, concluiu que a água era a substância primordial, a formulação filosófica. Em tal contexto, Leucipo e Demócrito afirmam
origem única de todas as coisas. ser a realidade percebida pelos sentidos ilusória. Eles defendem que
os sentidos apenas capturam uma realidade superficial, mutável e
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

b) Anaximandro, após observar sistematicamente o mundo transitória que acreditamos ser verdadeira. Mesmo que os sentidos
natural, propôs que não apenas a água poderia ser considerada apreendam “as mutações das coisas, no fundo, os elementos
arché desse mundo em si e, por isso mesmo, incluiu mais um primordiais que constituem essa realidade jamais se alteram.” Assim,
elemento: o fogo. a realidade é uma coisa e o real outra.
c) Anaxímenes fez a união entre os pensamentos que o Para Leucipo e Demócrito a physis é composta
antecederam e concluiu que o princípio de todas as coisas não
pode ser afirmado, já que tal princípio não está ao alcance dos a) pelas quatro raízes: o úmido, c) pelo fogo.
sentidos. o seco, o quente e o frio. d) pelo ilimitado.
d) Heráclito de Éfeso afirmou o movimento e negou b) pela água. e) pelos átomos.
terminantemente a luta dos contrários como gênese e unidade
do mundo, como o quis Catão, o antigo. 08. (UEMA) A Filosofia nasceu na Jônia no final do século VII a.C.
O conteúdo que norteia a preocupação dos filósofos jônicos é de
05. (UNIMONTES) O primeiro filósofo de que temos notícias é natureza:
Tales, da colônia grega de Mileto, na Ásia Menor. Tales foi um a) Mitológica. c) Religiosa. e) Política.
homem que viajou muito. Entre outras coisas, dizem que, certa b) Antropológica. d) Cosmológica.
vez, no Egito, ele calculou a altura de uma pirâmide medindo
a sombra da mesma no exato momento em que sua própria
09. A filosofia ocidental origina-se na Jônia e na Magna Grécia.
sombra tinha a mesma medida de sua altura. Dizem ainda que,
Entre os primeiros filósofos jônicos, destacam-se os nomes de
em 585 a.C., ele previu um eclipse solar.
Anaxágoras, Anaximandro, Anaxímenes e Tales de Mileto. Sobre o
(GAARDER, J. O Mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995).
pensamento dos filósofos jônicos, assinale o que for correto.
Aos primeiros filósofos que se debruçaram sobre os problemas do a) Os filósofos jônicos polemizaram contra Sócrates e refutaram
cosmo, podemos chamá-los, além de pré-socráticos, de a filosofia socrática por considerá-la incapaz de fundamentar
qualquer verdade e, por conseguinte, conduzir os homens ao
a) naturalistas ou fisicistas. c) empiristas.
ceticismo.
b) existencialistas. d) espiritualistas.
b) Sócrates criticava o caráter metafísico e subjetivista da
filosofia jônica, pois acreditava que a filosofia deveria indagar
06. (ENEM) a realidade objetiva.
TEXTO I c) Empédocles, filósofo da Magna Grécia, concordava com os
Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo jônicos no que se referia à procura da origem, isto é, a arché
o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua do cosmos na physis; todavia, Empédocles discordava dos
descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao jônicos, quando eles procuravam a origem em um único
passo que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a elemento da matéria.
partir do ar por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam- d) A filosofia jônica não distingue-se da representação mítica
se em água. A água, quando mais condensada, transforma-se em do mundo, pois rompe com uma explicação monogenética e
terra, e quando condensada ao máximo possível, transforma-se sobrenatural da origem do cosmos, além de apresentar uma
em pedras. concepção natural e pluralista do universo.
BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).
e) A filosofia pré-socrática, que não inclui a escola jônica,
TEXTO II desenvolveu-se durante um período de grandes mudanças
históricas ocorridas no nível jurídico-político da organização
Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador
social da Grécia antiga.
de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos.
Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta 10. (UFMA) O homem sempre buscou explicações sobre os aspectos
concepção, as especulações contraditórias dos filósofos, para essenciais da realidade que o cerca e sobre sua própria existência.
os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro elementos, Na Grécia antiga, antes da filosofia surgir, essas explicações eram
como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. dadas pela mitologia e tinham, portanto, um forte caráter religioso.
Na verdade, dão a impressão de quererem ancorar o mundo numa Historicamente, considera-se que a filosofia tem inicio com Tales de
teia de aranha”. Mileto, em razão de ele ter afirmado que “a água é a origem e a matriz
GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã.São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado). de todas as coisas”. Nesse sentido, pode-se dizer que a frase de Tales
tem caráter filosófico pelas seguintes razões:

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 21
FILOSOFIA 03 PRÉ-SOCRÁTICOS I

a) Porque destaca a importância da água para a vida; porque faz Com base no texto e nos conhecimentos sobre as relações entre
referência aos deuses como causa da realidade e, porque nela, mito e filosofia, seguem as seguintes proposições:
embora apenas subentendido, esta contido o pensamento: I. Os filósofos pré-socráticos são conhecidos como filósofos
“tudo é matéria”. da physis porque as explicações racionais do mundo por eles
b) Porque enuncia algo sobre a origem das coisas; porque o produzidas apresentam não apenas o início, o princípio, mas
faz sem imagem e fabulação e porque nela, embora apenas também o desenvolvimento e o resultado do processo pelo
subentendido, está contido o pensamento: “tudo é um”. qual uma coisa se constitui.
c) Porque narra uma lenda; porque narra essa lenda através II. Os filósofos pré-socráticos não foram os primeiros a tratarem da
de imagens e fabulação e porque nela, embora apenas origem e do desenvolvimento do universo, antes deles já existiam
subentendido, está contido o pensamento: “tudo é movimento”. cosmogonias, mas estas eram de tipo mítico, descreviam a
d) Porque enuncia uma verdade revelada por Deus; porque o história do mundo como uma luta entre entidades personificadas.
faz através da imaginação e, porque nela, embora apenas III. As explicações racionais do mundo elaboradas pelos pré-
subentendido, esta contido o pensamento: “o homem é a socráticos seguem o mesmo esquema ternário que estruturava
medida de todas as coisas”. as cosmogonias míticas na medida em que também propõem
e) Porque enuncia algo sobre a origem das coisas; porque o faz uma teoria da origem do mundo, do homem e da cidade.
recorrendo a deuses e a imaginação e, porque nela, embora IV. O nascimento das explicações racionais do mundo são
apenas subentendido, está contido o pensamento: “conhece-te também o surgimento de uma nova ordem do pensamento,
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

a ti mesmo”. complementar ao mito; em certos momentos decisivos da


história da filosofia as duas ordens de pensamento chegam
11. De onde vem o mundo? De onde vem o universo? Tudo o que existe a coexistir, exemplo disso pode ser encontrado no diálogo
tem que ter um começo. Portanto, em algum momento, o universo platônico Timeu quando, na apresentação do “mito mais
também tinha de ter surgido a partir de uma outra coisa. Mas, se o verossímil”, a figura mítica do Demiurgo é introduzida para
universo de repente tivesse surgido de alguma outra coisa, então essa explicar a produção do mundo.
outra coisa também devia ter surgido de alguma outra coisa algum V. Tales de Mileto, um dos Sete Sábios, além de matemático e
dia. Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de lugar. Afinal físico é considerado filósofo – o fundador da filosofia, segundo
de contas, algum dia, alguma coisa tinha de ter surgido do nada. Existe Aristóteles – porque em sua proposição “A água é a origem e
uma substância básica a partir da qual tudo é feito? A grande questão a matriz de todas as coisas” está contida a proposição “Tudo é
para os primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do nada. um”, ou seja, a representação de unidade.
O que os instigava era saber como a água podia se transformar em Assinale a alternativa correta.
peixes vivos, ou como a terra sem vida podia se transformar em
árvores frondosas ou flores multicoloridas. a) As proposições III e IV estão incorretas.
Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: b) Somente as proposições I e II estão corretas.
Companhia das Letras, 1995. p.43-44 c) Apenas a proposição IV está incorreta.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgimento da d) Todas as proposições estão incorretas.
filosofia, assinale a alternativa correta. e) Todas as proposições estão corretas.
a) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos e as
transformações da natureza e porque a vida é como é, tendo 13. Os filósofos pré-socráticos tentaram explicar a diversidade e
como limitador e princípio de verdade irrefutável as histórias a transitoriedade das coisas do universo, reduzindo tudo a um ou
contadas acerca do mundo dos deuses. mais princípios elementares, os quais seriam a verdadeira natureza
ou ser de todas as coisas. Assinale o que for incorreto.
b) Os primeiros filósofos da natureza tinham a convicção de que
havia alguma substância básica, uma causa oculta, que estava a) Tales de Mileto, o primeiro filósofo segundo Aristóteles, teria
por trás de todas as transformações na natureza e, a partir da afirmado “tudo é água”, indicando, assim, um princípio material
observação, buscavam descobrir leis naturais que fossem eternas. elementar, fundamento de toda a realidade.
c) Os teóricos da natureza que desenvolveram seus sistemas b) Heráclito de Éfeso interessou-se pelo dinamismo do universo.
de pensamento por volta do século VI a.C. partiram da ideia Afirmou que nada permanece o mesmo, tudo muda; que a
unânime de que a água era o princípio original do mundo por mudança é a passagem de um contrário ao outro e que a luta
sua enorme capacidade de transformação. e a harmonia dos contrários são o que gera e mantém todas
as coisas.
d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem homérica do
mundo e reforçou o antropomorfismo do mundo dos deuses c) Parmênides de Eleia afirmou que o ser não muda. Deduziu a
em detrimento de uma explicação natural e regular acerca dos imobilidade e a unidade do ser do princípio de que “o ser é”
primeiros princípios que originam todas as coisas. e “o não-ser não é”, elaborando uma primeira formulação dos
princípios lógicos da identidade e da não-contradição.
e) Para os pensadores jônicos da natureza, Tales, Anaxímenes e
Heráclito, há um princípio originário único denominado o ilimitado, d) As teorias dos filósofos pré-socráticos foram pouco
que é a reprodução da aparência sensível que os olhos humanos significativas para o desenvolvimento da filosofia e da
podem observar no nascimento e na degeneração das coisas. ciência, uma vez que os pré-socráticos sofreram influência
do pensamento mítico, e de suas obras apenas restaram
12. O que há em comum entre Tales, Anaximandro e Anaxímenes de fragmentos e comentários de autores posteriores.
Mileto, entre Xenófanes de Colofão e Pitágoras de Samos? “Todos e) Para Demócrito de Abdera, todo o cosmo se constitui de
esses pensadores propõem uma explicação racional do mundo, e átomos, isto é, partículas indivisíveis e invisíveis que, movendo-
isso é uma reviravolta decisiva na história do pensamento” se e agregando-se no vácuo, formam todas as coisas; geração
(Pierre Hadot). e corrupção consistiriam, respectivamente, na agregação e na
desagregação dos átomos.

22 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
03 PRÉ-SOCRÁTICOS I FILOSOFIA

14. Observe o texto a seguir sobre a gênese do pensamento 18. (ENEM 2015) A filosofia grega parece começar com uma ideia
filosófico: absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas
Entre o fim do VII século e o começo do VI a.C., o problema as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério?
cosmológico é o primeiro a destacar-se claramente como objeto Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição
de pesquisa sistemática diferente do impreciso complexo de enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar,
problemas que já ocupavam a mente dos gregos ainda antes do porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar,
surgir de uma reflexão filosófica verdadeira e própria. porque nela embora apenas em estado de crisálida, está contido o
(MONDOLFO, Rodolfo. O Pensamento Antigo,São Paulo: Mestre Jou, 1966, p. 31.)
pensamento: Tudo é um.
NIETZSCHE. F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural. 1999
O texto retrata, com clareza, o problema cosmológico, objeto de
estudo da filosofia O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da
filosofia entre os gregos?
a) Socrática. c) Pré-socrática. e) Pós-socrática.
a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os
b) Platônica. d) Mítica. elementos sensíveis em verdades racionais.
b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e
15. A construção de uma cosmologia que desse uma explicação
das coisas.
racional e sistemática das características do universo, em
substituição à cosmogonia, que tentava explicar a origem do c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

universo baseada nos mitos, foi uma preocupação da Filosofia das coisas existentes.
a) medieval. c) iluminista. d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre
as coisas.
b) antiga. d) contemporânea.
e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que
16. (ENEM PPL 2016) Todas as coisas são diferenciações de uma existe no real.
mesma coisa e são a mesma coisa. E isto é evidente. Porque se as
coisas que são agora neste mundo – terra, água ar e fogo e as outras 19. (UPE-ssa 1 2017) Leia o texto a seguir:
coisas que se manifestam neste mundo –, se alguma destas coisas
fosse diferente de qualquer outra, diferente em sua natureza própria
e se não permanecesse a mesma coisa em suas muitas mudanças
e diferenciações, então não poderiam as coisas, de nenhuma
maneira, misturar-se umas às outras, nem fazer bem ou mal umas
às outras, nem a planta poderia brotar da terra, nem um animal ou
qualquer outra coisa vir à existência, se todas as coisas não fossem
compostas de modo a serem as mesmas. Todas as coisas nascem,
através de diferenciações, de uma mesma coisa, ora em uma forma,
ora em outra, retomando sempre a mesma coisa.
DIÓGENES, In: BORNHEIM, G. A. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo, Cultrix, 1967.

O texto descreve argumentos dos primeiros pensadores,


denominados pré-socráticos. Para eles, a principal preocupação
filosófica era de ordem A Grécia é considerada o berço da Filosofia. O pensamento grego
tem a singularidade do intelecto, privilegiando, acima de tudo,
a) cosmológica, propondo uma explicação racional do mundo
a dimensão conceitual e discursiva. De acordo com a tradição
fundamentada nos elementos da natureza.
histórica, a fase inaugural do pensar filosófico grego é conhecida
b) política, discutindo as formas de organização da pólis ao como período pré-socrático.
estabelecer as regras de democracia.
Sendo assim, é CORRETO afirmar que
c) ética, desenvolvendo uma filosofia dos valores virtuosos que
a) filosofia pré-socrática enfatiza, principalmente, a explicação da
tem a felicidade como o bem maior.
liberdade.
d) estética, procurando investigar a aparência dos entes sensíveis.
b) no período pré-socrático da filosofia, o pensar crítico retrata o
e) hermenêutica, construindo uma explicação unívoca da realidade. valor da história dos deuses.
c) o período pré-socrático da filosofia é denominado
17. (UEMA 2015) Leia a letra da canção a seguir. essencialmente de período naturalista.
Nada do que foi será Num indo e vindo infinito d) no período pré-socrático, o enfoque da Filosofia é denominado
De novo do jeito que já foi um dia Tudo que se vê não é de período ético.
Tudo passa Igual ao que a gente
Tudo sempre passará Viu há um segundo e) o período pré-socrático da filosofia enaltece a confiança na
A vida vem em ondas Tudo muda o tempo todo religiosidade das ideias e no problema da vida.
Como um mar No mundo [...]
Fonte: SANTOS, Lulu; MOTTA, Nelson. Como uma onda. In: Álbum MTV ao vivo. Rio de 20. (ENEM 2017) A representação de Demócrito é semelhante à de
Janeiro: Sony-BMG, 2004. Anaxágoras, na medida em que um infinitamente múltiplo é a origem;
mas nele a determinação dos princípios fundamentais aparece de
Da mesma forma como canta o poeta contemporâneo, que vê a maneira tal que contém aquilo que para o que foi formado não é,
realidade passando como uma onda, assim também pensaram absolutamente, o aspecto simples para si. Por exemplo, partículas de
os primeiros filósofos conhecidos como Pré-socráticos que carne e de ouro seriam princípios que, através de sua concentração,
denominavam a realidade de physis. A característica dessa formam aquilo que aparece como figura.
realidade representada, também, na música de Lulu Santos é o(a) HEGEL. G. W. F. Crítica moderna. In: SOUZA, J. C. (Org.). Os pré-socrática: vida e obra.
São Paulo: Nova Cultural. 2000 (adaptado).
a) fluxo. c) infinitude. e) multiplicidade.
b) estática. d) desordem.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 23
FILOSOFIA 03 PRÉ-SOCRÁTICOS I

O texto faz uma apresentação crítica acerca do pensamento de


Demócrito, segundo o qual o “princípio constitutivo das coisas” GABARITO
estava representado pelo(a) EXERCÍCIOS PROPOSTOS
a) número, que fundamenta a criação dos deuses. 01.A 05.A 09.C 13.D 17.A
02.A 06.D 10.B 14.C 18.C
b) devir, que simboliza o constante movimento dos objetos.
03.C 07.E 11.B 15.B 19.C
c) água, que expressa a causa material da origem do universo.
04.A 08.D 12.E 16.A 20.E
d) imobilidade, que sustenta a existência do ser atemporal.
EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
e) átomo, que explica o surgimento dos entes. 01. Anaxímenes de Mileto (585–528 a.C.) é um filósofo pré-socrático preocupado com
a cosmologia, isto é, preocupado com a ordenação das coisas que compões o mundo.
Desse modo, a sua filosofia posiciona princípios dos quais ele pensa poder derivar
de maneira coerente e coesa o sentido da existência de tudo que há na natureza.
EXERCÍCIOS DE Diferenciando-se dos mitos, baseados em contos, lendas e fantasias, sem nenhuma
05. APROFUNDAMENTO comprovação, estabelecendo uma cosmogonia.
02. Preocupados com a origem, ordem e transformação da natureza, os primeiros
filósofos podem ser considerados como naturalistas ou fisicistas, dados os problemas
01. Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de filosóficos sobre os quais se debruçavam. Todas as outras alternativas referem-se a
tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua correntes filosóficas que surgiram somente a partir do período moderno.
descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo 03. O nascimento da filosofia corresponde à passagem de uma explicação mitológica para
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

uma explicação racional e sistemática sobre a origem das coisas e sobre as questões da
que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar natureza. Na afirmação de Tales se observa como o princípio de todas as coisas é o
por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. mesmo, a água. Sendo assim, tal frase também pode ser interpretada como “Tudo é um”.
A água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando 04. O texto apresenta a concepção de Anaximandro de que no mundo ocorre uma
condensada ao máximo possível, transforma-se em pedras. sucessão de geração e corrupção e que o princípio dos seres é ilimitado. Esse tipo de
explicação racional e sistemática sobre a origem e transformação da natureza é uma das
BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006. (adaptado).
características mais marcantes da filosofia nascente.
05. A filosofia pré-socrática pode ser considerada como uma filosofia de transição do
Diferencie cosmogonia e cosmologia, no contexto do pensamento pensamento mítico para o pensamento filosófico propriamente dito. Assim sendo,
grego presente na antiguidade. encontramos muitos elementos míticos nos escritos desses pensadores, como é o caso
de Empédocles, definindo água, fogo, ar e terra, como fundamentais.

02.O primeiro filósofo de que temos notícias é Tales, da colônia ANOTAÇÕES


grega de Mileto, na Ásia Menor. Tales foi um homem que viajou
muito. Entre outras coisas, dizem que, certa vez, no Egito, ele
calculou a altura de uma pirâmide medindo a sombra da mesma
no exato momento em que sua própria sombra tinha a mesma
medida de sua altura. Dizem ainda que, em 585 a.C., ele previu um
eclipse solar.
(GAARDER, J. O Mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995).

Aos primeiros filósofos que se debruçaram sobre os problemas do


cosmo, podemos chamá-los por qual outro termo? Explique.

03. O homem sempre buscou explicações sobre os aspectos


essenciais da realidade que o cerca e sobre sua própria existência.
Na Grécia antiga, antes da filosofia surgir, essas explicações eram
dadas pela mitologia e tinham, portanto, um forte caráter religioso.
Historicamente, considera-se que a filosofia tem inicio com Tales
de Mileto, em razão de ele ter afirmado que “a água é a origem e a
matriz de todas as coisas”. Qual o caráter filosófico representado
na afirmação de Tales?

04. “…Princípio dos seres…ele [Anaximandro] disse (que era) o


ilimitado…Pois donde a geração é para os seres, é para onde
também a corrupção se gera segundo o necessário ; pois
concedem eles mesmos justiça e deferência uns aos outros pela
injustiça, segundo a ordenação do tempo.”
Pré-Socráticos. Coleção “Os Pensadores”. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

A partir da análise do texto de Anaximandro, é correto afirmar que a


filosofia é discrepante em relação aos mitos? Explique.

05. Leia o fragmento de um texto pré-socrático:


“Ainda outra coisa te direi. Não há nascimento para nenhuma das
coisas mortais, como não há fim na morte funesta, mas somente
composição e dissociação dos elementos compostos: nascimento
não é mais do que um nome usado pelos homens”.
(EMPÉDOCLES. Apud ARANHA/ MARTINS. Filosofando: Introdução à Filosofia. 3ª Ed.,
São Paulo: Moderna, 2006. - p. 86.).

A respeito da relação entre mythos e logos (razão) no início da


filosofia grega, quais eram os princípios originais propostos por
Empédocles?

24 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
04
FILOSOFIA
PRÉ-SOCRÁTICOS II

HERÁCLITO DE ÉFESO X PARMÊNIDES faz como Tales e Anaxímenes, que buscavam conhecer o arché, o
princípio fundamental da physis. Heráclito estava preocupado em
DE ELEIA tentar compreender o logos, isto é, a razão universal invisível que
ordena todas as coisas. Em certo sentido, a posição de Heráclito
Entre todos citados, estes merecem destaque, por terem tido
tem semelhanças com a de um dos milesianos: a de Anaximandro,
maior relevância na Filosofia posterior, ambos vão servir de influência
que considerava que o arché é um infinito, ilimitado e indeterminado
para autores como Platão e Aristóteles. Heráclito acreditava que a
que determina todas as coisas particulares na physis. As ideias
vida é um enorme fluxo, uma constante mudança e alteração, o filho
de Heráclito também não estão muito distantes das da escola
de Éfeso acha que a unidade do mundo consiste na eterna mudança,
pitagórica, que buscava compreender a harmonia quantitativa
o ser é múltiplo, variante e está em constante alteração. Parmênides
oculta sob a aparente multiplicidade qualitativa das coisas.
discorda, observa um ser uno, imutável, a ideia essencial do ser é o que
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

possibilita a real verdade presente na natureza. Heráclito formula a doutrina da unidade do ser diante da
pluralidade e mutabilidade das coisas particulares e transitórias.
Essa ideia é exemplificada pelo fato de que os opostos têm sempre
HERÁCLITO DE ÉFESO uma propriedade em comum que os unifica, ou seja, pertencem ao
Heráclito (535 – 475 a.C.) era membro de uma família mesmo domínio do ser. Isso significa também que a realidade única
importante politicamente em Éfeso, mas recusou-se a disputar o é a junção de todas as múltiplas percepções, e que a totalidade é
poder. Desprezava a plebe. É considerado um dos mais eminentes produto de todas as coisas individuais.
pensadores pré-socráticos. Muitos fragmentos de seu livro, “Sobre a Daí deriva-se outra tese importante de Heráclito: a de que todos
Natureza”, foram reproduzidos pelos doxógrafos. A partir desses os seres são dinâmicos, não há seres que permaneçam idênticos
fragmentos é possível ter uma noção mais ou menos precisa das a si mesmos. Isso significa que mesmo o logos fundamental,
ideias de Heráclito - ideias que foram extremamente influentes entre a despeito de ser a condição oculta da harmonia do cosmos, é
os pensadores que buscavam compreender um princípio universal também eterna mudança. É neste sentido que Heráclito afirma
para além da transitoriedade das coisas particulares. que não é possível entrar duas vezes no mesmo rio: o rio muda a
A característica mais evidente dos escritos de Heráclito é a cada instante, não sendo idêntico a si mesmo, e, portanto, é um rio
presença de um grande orgulho e de desprezo. Despreza muitos diferente a cada momento; e nós somos do mesmo modo.
indivíduos considerados importantes pelos gregos, como Homero, Em suma, a posição de Heráclito é que poucos homens tentam
Hesíodo e Pitágoras. Seu fragmento mais obscuro, “Deste logos compreender o logos, que é a unidade racional universal que ordena,
sendo sempre os homens se tornam descompassados quer antes harmoniza e permite explicar todas as coisas particulares, que são,
de ouvir quer tão logo tenham ouvido; pois, tornando-se todas as por sua vez, interminável mudança e confronto de opostos.
coisas segundo esse logos, a inexperientes se assemelham embora
experimentando-se em palavras e ações tais quais eu discorro
segundo a natureza distinguindo cada coisa e explicando como se ESCOLA ELEATA
comporta. Aos outros homens escapa quanto fazem despertos, tal Assim como a Escola de Éfeso, a Escola Eleata (também
como esquecem quanto fazem dormindo” é representativo desse conhecida como a Escola Italiana, porque Eleia fica num lugar que
desprezo. Nele, Heráclito afirma que: hoje é parte da Itália) teve muita influência no pensamento posterior.
1. O Logos (ou seja, a lei universal que rege todos os Os três mais importantes filósofos de Eleia foram Xenófanes (570
acontecimentos particulares e que é o fundamento da – 470 a.C.), Parmênides (510 – 440 a.C.) e Zenão (490 – 430
harmonia de todas as coisas) sempre existiu. a.C.); os três abordaram o mesmo problema e deram respostas
aproximadas. O problema abordado foi a questão da permanência
2. Os que estão prestes a “ouvir” ou que tenham ouvido o
e da identidade diante da mudança dos seres, ou a questão da
Logos ficam descompassados, isto é, deslocados entre os
unidade e da universalidade do Ser diante da multiplicidade dos
outros homens.
seres particulares.
3. Isto deve-se ao fato de que os que ouvem o Logos e,
Este problema foi também abordado por Heráclito. A resposta
consequentemente, passando a perceber todas as coisas
de Heráclito foi ligeiramente diferente da apresentada pelos
a partir do Logos, parecem inexperientes em relação a
eleatas, embora a tradição da história da filosofia muitas vezes
tudo, porque tudo precisam reaprender; como diz Heráclito
tenha considerado as teses de Heráclito não apenas um pouco
em outro fragmento, “o homem como uma criança ouve o
distantes, mas opostas às da Escola de Eleia. A resposta ao
divino, tal como a criança ao homem”.
problema a respeito da natureza da realidade – se a realidade é una
4. Esse aprendizado significa a distinção correta e a ou múltipla, se é estável ou dinâmica – foi dada, do mesmo modo
explicação do comportamento de cada coisa. que na filosofia de Heráclito, por meio da proposta de separação
5. Os outros homens, que não ouvem o Logos, vivem como entre a natureza visível múltipla e variável e a realidade racional.
se estivessem dormindo, não sendo capazes de perceber A grande novidade dos eleatas, contudo, é a atribuição do Um
a verdadeira realidade – e, segundo Heráclito em outro que abarca toda a multiplicidade dos seres ao Absoluto imutável.
fragmento, “não se deve agir nem falar como os que dormem”. Para Heráclito, a realidade do Logos não era o Absoluto imutável;
Heráclito pensava justamente nos homens que não ouvem o era também mudança. O primeiro dos eleatas, Xenófanes, não
Logos ao dizer que “se a felicidade estivesse nos prazeres do corpo, era natural de Eleia, mas de Colófão. Contudo, por ter ido viver em
diríamos felizes os bois, quando encontram ervilha para comer” e Eleia, onde foi professor de Parmênides e ficou conhecido, além de
que “asnos prefeririam palha a ouro”.  As ideias mais importantes ter influenciado toda a tradição eleata, é tratado como se fosse o
de Heráclito são relativas ao problema geral abordado pelos pré- primeiro dos eleatas.
socráticos, que é o problema cosmológico. Contudo, Heráclito não Xenófanes propôs que o único princípio e ser de todas as coisas

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 25
FILOSOFIA 04 PRÉ-SOCRÁTICOS II

é uma unidade, um inteiro; essa unidade não pode ser qualificada,


pois qualquer qualificação excluiria seu contrário, o que tornaria a EXERCÍCIOS
unidade incompleta, e, consequentemente, menor que um, menos
que o inteiro. Então, a unidade não pode ser limitada nem ilimitada,
PROTREINO
nem móvel nem estática.
01. Aponte a principal questão para Heráclito de Éfeso.
Uma ideia inovadora de Xenófanes é que foi o primeiro a
identificar essa unidade do ser que tudo abarca a Deus, a um Deus 02. Defina logos
único e uno. Esse Deus é necessário, e, consequentemente, não pode
03. Aponte a principal ideia de Xenófanes
ter sido criado por nada, sendo incriado desde sempre; como Deus é
o ser absoluto, não pode ter sido criado por outro ser, e muito menos 04. Aponte a principal marca do pensamento de Zenão.
por um não ser. Além disso, Deus não tem atributos humanos; os
homens atribuem a Deus características suas (do mesmo modo 05. Aponte a principal ideia de Parmênides de Eleia
que outro animal atribuiria a Deus características próprias de sua
espécie). Portanto, Xenófanes defendeu, pela primeira vez, uma
concepção filosófica de Deus: o ser necessário, uno e absoluto, sem
começo nem fim no tempo ou no espaço, no qual todas as coisas
particulares têm seu ser. Essa concepção foi e é extremamente EXERCÍCIOS
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

importante na história do pensamento: é este o Deus sugerido por


Aristóteles por meio da figura do primeiro motor; é este o Deus que
PROPOSTOS
as Cinco Vias de Tomás demonstram; é neste Deus que os filósofos
teístas do século XVIII acreditam; é esta a concepção de Deus 01. (UEAP)
compatível inteiramente com a ciência contemporânea. O VÉU E A ASA
O VOO
PARMÊNIDES DE ELEIA O ALVO
de TALES: ÁGUA
O segundo dos filósofos eleatas, Parmênides, foi aluno de ALMA
Xenófanes e de suas ideias partiu para desenvolver seu próprio (Herbert Emanuel, do Livro Nada ou Quase Uma Arte)
pensamento. A primeira tese de Parmênides é que só uma coisa é,
ou seja, só uma coisa tem a propriedade de ser, de existir: somente O poema faz referências explícitas a um filósofo pré-socrático.
o Ser é. Isso significa que todas as coisas que são, que existem, Na história da filosofia, entende-se por pré-socráticos aqueles
compõem uma unidade, pois são no Ser. Contudo, obviamente filósofos que antecederam Sócrates. Entre as alternativas abaixo,
há uma multiplicidade de coisas que são; essa multiplicidade assinale a que contém somente filósofos pré-socráticos.
é evidente pelos próprios fenômenos, ou seja, pelos próprios a) Tales de Mileto / Santo Agostinho / Heráclito.
conhecimentos advindos dos sentidos. Parmênides concilia essa
b) Parmênides / Anaximandro / Empédocles.
dupla realidade propondo que existe uma realidade formal única, o
Ser; e que existe uma realidade fenomênica múltipla, composta por c) Parmênides / Pitágoras / Aristóteles.
todas as coisas que são, ou seja, os seres. d) Anaxágoras / Platão / Demócrito.
Para Parmênides, o Ser é equivalente à concepção de Deus de e) Anaxímenes / Xenófanes / Boécio.
Xenófanes, e é o único Ser verdadeiro; todas as outras coisas são
enquanto coisas nas quais subsiste o Ser imóvel e uno. Isso significa 02. (UFF)
que o movimento e a multiplicidade são o que não é o Ser nas coisas;
ora, o não ser não é, o não ser não existe; consequentemente, a Como uma onda
aparência de multiplicidade e movimento que temos por meio dos Nada do que foi será Tudo muda o tempo todo
sentidos não é parte do Ser, e não existe realmente. De novo do jeito que já foi um dia No mundo
Percebe-se aqui que Parmênides tem uma posição Tudo passa Não adianta fugir
surpreendentemente próxima à de Heráclito, que afirma que a Tudo sempre passará Nem mentir
realidade é o logos e que as pessoas geralmente não conhecem o A vida vem em ondas Pra si mesmo agora
logos, mas permanecem no mundo da multiplicidade e da mudança, Como um mar Há tanta vida lá fora
um mundo de sonhos e não de vigília. Entretanto, Parmênides Num indo e vindo infinito Aqui dentro sempre
tem, ao mesmo tempo, uma posição em parte diferente daquela Tudo que se vê não é Como uma onda no mar
de Heráclito. Enquanto Heráclito segue o caminho da conciliação Igual ao que a gente Como uma onda no mar
dos opostos para chegar à unidade, propondo que da aparente Viu há um segundo Como uma onda no mar
dualidade se chega ao Uno, ao logos, Parmênides segue o caminho Lulu Santos e Nelson Motta

de propor a unidade do Ser imediatamente: o Ser não é divisível


A letra dessa canção de Lulu Santos lembra ideias do filósofo grego
em opostos, o Ser simplesmente é. Este também é o sentido da
Heráclito, que viveu no século VI a.C. e que usava uma linguagem
discordância de Parmênides em relação aos pitagóricos: do mesmo
poética para exprimir seu pensamento. Ele é o autor de uma frase
modo que Heráclito, os pitagóricos afirmavam que da conciliação
famosa: “Não se entra duas vezes no mesmo rio”.
dos opostos se chega à unidade, ou seja: que a realidade é divisível,
por ser número. Para os eleatas, contudo, a realidade simplesmente Dentre as sentenças de Heráclito a seguir citadas, marque aquela
não é número, não é absolutamente divisível. em que o sentido da canção de Lulu Santos mais se aproxima.
O terceiro grande filósofo eleata foi Zenão. Aluno de Parmênides, a) Morte é tudo que vemos despertos, e tudo que vemos dormindo
defendeu as ideias de seu mestre contra as dos pitagóricos. É conhecido é sono.
pelos paradoxos com os quais nega a realidade do movimento. Os b) O homem tolo gosta de se empolgar a cada palavra.
paradoxos de Zenão são argumentos com os quais demonstra que é
c) Ao se entrar num mesmo rio, as águas que fluem são outras.
impossível que a realidade seja descontínua, múltipla e divisível como
queriam os Pitagóricos, e que, portanto, a realidade deveria ser una, d) Muita instrução não ensina a ter inteligência.
contínua e indivisível, o que era a tese de sua Escola. Na doxografia e) O povo deve lutar pela lei como defende as muralhas da sua cidade.
abaixo, seus paradoxos são apresentados por Aristóteles.

26 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
04 PRÉ-SOCRÁTICOS II FILOSOFIA

03. (ENEM) 07. (UFPE 2011 - adaptado) As reflexões sobre o mundo e


Texto I as relações sociais fazem parte da construção da Filosofia,
desde os seus primórdios. Na Grécia, o pensamento filosófico
Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem foi muito importante para a organização da sua sociedade e o
substância mortal alcançar duas vezes a mesma condição; mas pela estabelecimento de uma visão crítica de suas manifestações
intensidade e rapidez da mudança, dispersa e de novo reúne. culturais. Uma das figuras marcantes da Filosofia Grega foi
HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural, 1996 (adaptado).
Parmênides, que:
Texto II a) defendia a concepção de um universo composto pelos quatro
elementos fundamentais da natureza (a água, o fogo, a terra, o
Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e
ar) em constantes movimentos circulares.
indestrutível, pois é compacto, inabalável e sem fim; não foi nem
será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Como b) seguiu as teorias de Heráclito sobre a permanência do sagrado
poderia o que é perecer? Como poderia gerar-se? e dos mitos, como princípios básicos da realização religiosa da
PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado). sociedade, em todos os tempos.
c) se posicionou contra as teorias políticas dos mais democratas,
Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma pois achava a escravidão necessária para se explorar as
oposição que se insere no campo das riquezas e facilitar a organização da economia.
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a) investigações do pensamento sistemático. d) influenciou em muito o pensamento idealista da filosofia


b) preocupações do período mitológico. ocidental, dando destaque à ideia de permanência e
considerando o movimento como uma ilusão dos sentidos.
c) discussões de base ontológica.
e) estabeleceu orientações fundamentais para o pensamento
d) habilidades da retórica sofística.
de Aristóteles, de quem foi mestre, articulando as bases de
e) verdades do mundo sensível. uma lógica dualista com a concepção de governo monárquico
vitalício.
04. (UFU 2017) Leia o fragmento de autoria de Heráclito.
Deus é dia e noite, inverno e verão, guerra e paz, abundância e fome. 08. (UFU) De um modo geral, o conceito de physis no mundo pré-
Mas toma formas variadas assim como o fogo, quando misturado socrático expressa um princípio de movimento por meio do qual
com essências, toma o nome segundo o perfume de cada uma delas. tudo o que existe é gerado e se corrompe. A doutrina de Parmênides,
BORNHEIM, G. (Org.). Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1998, p. 40.
no entanto, tal como relatada pela tradição, aboliu esse princípio e
provocou, consequentemente, um sério conflito no debate filosófico
Conforme o exposto, “Deus”, no pensamento de Heráclito, significa: posterior, em relação ao modo como conceber o ser.
a) A unidade dos contrários. Para Parmênides e seus discípulos:
b) O fundamento da religião monoteísta do período arcaico. a) a imobilidade é o princípio do não ser, na medida em que o
movimento está em tudo o que existe.
c) Uma abstração para refutar o logos.
b) o movimento é princípio de mudança e a pressuposição de um
d) A impossibilidade da harmonia no mundo.
não ser.

05. (UFU) Heráclito de Éfeso (500 a.C.) concebia a realidade do c) um Ser que jamais muda não existe e, portanto, é fruto de
mundo como mobilidade, impulsionada pela luta dos contrários. imaginação especulativa.
Sobre sua filosofia, é correto afirmar que d) o Ser existe como gerador do mundo físico, por isso a realidade
I. a imagem do fogo, com chamas vivas e eternas, representa o empírica é puro ser, ainda que em movimento
Logos que governa o movimento perpétuo dos seres;
09. (UFU) Parmênides de Eleia, filósofo pré-socrático, sustentava que
II. a luta dos contrários é aparência que afeta apenas a
sensibilidade humana; I. o ser é;
III. a mobilidade dos seres resulta no simples aparecer de novos II. o não ser não é;
seres; III. o ser e o não ser existem ao mesmo tempo;
IV. harmonia do cosmo é resultado da tensão eterna da luta dos IV. o ser é pensável e o não ser é impensável.
contrários. Assinale
Assinale a) se apenas I, III e IV estiverem corretas.
a) se as afirmações II e III são corretas. b) se apenas I, II e III estiverem corretas.
b) se as afirmações I e IV são corretas. c) se apenas II, III e IV estiverem corretas.
c) se apenas a afirmação IV é correta. d) se apenas I, II e IV estiverem corretas.
d) se apenas a afirmação I é correta. e) se todas as afirmativas estiverem corretas.

06. (UFU) Heráclito de Éfeso afirmava que “ninguém pode banhar- 10. (UEAP) ...que é e que não é possível que não seja,/ é a vereda da
se duas vezes nas mesmas águas de um rio”. Para ele, o que Persuasão (porque acompanha a Verdade); o outro diz que não é e
mantém o fluxo do movimento é que é preciso que não seja,/ eu te digo que esta é uma vereda em
a) a identidade do ser. que nada se pode aprender. De fato, não poderias conhecer o que
b) o simples aparecer de novos seres. não é, porque tal não é fatível./ nem poderia expressá-lo.
(Nicola, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filosofia. Editora Globo, 2005.)
c) a harmonia que vem da calmaria dos elementos.
d) a estabilidade do ser.
e) a luta dos contrários, pois “a guerra é pai de todos, rei de todos”.

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FILOSOFIA 04 PRÉ-SOCRÁTICOS II

O texto anterior expressa o pensamento de qual filósofo? ó jovem, companheiro de aurigas imortais,
a) Aristóteles, que estabelecia a distinção entre o mundo sensível tu que assim conduzido chegas à nossa morada.
e o inteligível. salve! Pois não foi mau destino que te mandou perlustrar
esta via (pois ela está fora da senda dos homens)...”
b) Heráclito de Éfeso, que afirmava a unidade entre pensamento
Os Pré -Socráticos. Trad. de José Cavalcante de Souza. 1ª ed. São Paulo: Abril Cultural.
e realidade. 1973, p. 147. (Os Pensadores)
c) Tales de Mileto, que afirmava ser a água o princípio de todas
as coisas. Após ler o fragmento, escolha a alternativa que melhor representa
a reIação mito- logos nas origens da filosofia.
d) Parmênides de Eleia, que afirmava a imutabilidade de todas as
coisas e a unidade entre ser e pensar, ser e conhecimento. a) A verdade filosófica aparece no poema de Parmênides como
revelação divina e experiência mística, que são incompatíveis
e) Protágoras, que afirmava que o homem é a medida de todas as
com o pensamento filosófico racional. A deusa do poema
coisas, que o ser é e o não ser não é.
mostra que o conhecimento supremo está fora do alcance da
razão humana.
11. “Só é possível pensar e dizer que o ente é, pois o ser é, mas o
nada não é; sobre isso, eu te peço, reflita, pois esta via de inquérito b) A verdade filosófica, no poema de Parmênides, é apresentada
é a primeira de que te afasto; depois afasta-te daquela outra, por meio de representações míticas que o filósofo retira de uma
aquela em que erram os mortais desprovidos de saber e com dupla tradição religiosa. Essas imagens se transpõem, sem deixar
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cabeça, pois, no peito, a hesitação dirige um pensamento errante: de ser místicas, em uma filosofia do Ser que busca o objeto
eles se deixam levar surdos e cegos, perplexos, multidão inepta, inteligível do logos, ou seja, do pensamento racional e do Uno.
para quem ser e não ser é considerado o mesmo e não o mesmo, c) A verdade filosófica, por ser revelação da deusa, é obtida
para quem todo o caminho volta sobre si mesmo”. apenas pela experiência religiosa. As representações míticas
Parmênides, Sobre a Natureza, 6, 1-9. do poema de Parmênides indicam que a filosofia grega do
século V a.C. é irracional, pois não usa as categorias lógicas do
Sobre este trecho do poema de Parmênides, é correto afirmar que rigor argumentativo.
I. só se pode pensar e dizer que o ser é. d) A filosofia representa o pensamento estritamente racional,
II. para os mortais o ser é considerado diferente do não ser. que busca uma explicação de mundo somente por meio de
princípios materiais. Por essa razão, o poema de Parmênides
III. é possível dizer o não ser, embora não se possa pensá-lo. ainda não representa o pensamento filosófico do século V a.C.,
IV. duas vias de inquérito devem ser afastadas: a do não ser e a caracterizado pela ruptura com todas as imagens míticas da
dos mortais. tradição cultural grega.
Assinale a alternativa que contém todas as afirmações corretas.
a) II e III 15. Parmênides (c. 515-440 a.C.) deixou seus pensamentos
registrados no poema Sobre a natureza, do qual restaram apenas
b) II e IV fragmentos cultivados pelos filósofos do mundo antigo, uma das
c) I e III passagens célebres preservadas é a seguinte:
d) I e IV “Necessário é o dizer e pensar que (o) ente é; pois é ser, e nada não
é; isto eu te mando considerar. Pois primeiro desta via de inquérito
12. Segundo a tradição, Heráclito, também chamado “o obscuro”, eu te afasto, mas depois daquela outra, em que mortais que nada
era um homem reservado e de poucas palavras. Seu “riso” fora sabem erram, duplas cabeças, pois o imediato em seus peitos
interpretado por muitos. Padre Antônio Vieira foi um desses dirige errante pensamento; (...)”
intérpretes e, segundo ele, PARMÊNIDES. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Nova
Cultural, 1989, p. 88. Coleção “Os Pensadores”.
a) Heráclito ria das ignorâncias humanas.
b) Heráclito ria das loucuras humanas. Analise as assertivas abaixo.
c) Heráclito ria das travessuras humanas. I. A opinião humana busca o que é (ser) naquilo que não é (ser).
d) Heráclito ria das misérias humanas. II. O mundo dos sentidos é (ser), portanto, o único digno de ser
conhecido.
13. "Pois pensar e ser é o mesmo" III. Não se pode dizer "não-ser é", porque "não-ser" é impensável.
Parmênides, Poema, fragmento 3, extraído de: Os filósofos pré-socráticos. Tradução de
Gerd Bornheim. São Paulo: Cultrix, 1993.
IV. Dizer "não-ser é não não-ser", é o mesmo que afirmar "não-ser
não é".
A proposição acima é parte do poema de Parmênides, o fragmento Assinale a alternativa que contém as assertivas corretas.
3. Considerando-se o que se sabe sobre esse filósofo, que viveu por a) I e III b) II e III c) II e IV d) I e IV
volta do século VI a.C., assinale a afirmativa correta.
a) Para compreender a realidade, é preciso confiar inteiramente 16. (Uel 2019) Leia o texto a seguir.
no que os nossos sentidos percebem.
Os corcéis que me transportam, tanto quanto o ânimo me impele,
b) O movimento é uma característica aparente das coisas, a conduzem-me, depois de me terem dirigido pelo caminho famoso
verdadeira realidade está além dele. da divindade [...] E a deusa acolheu-me de bom grado, mão na mão
c) O verdadeiro sentido da realidade só pode ser revelado pelos direita tomando, e com estas palavras se me dirigiu: [...] Vamos,
deuses para aqueles que eles escolhem. vou dizer-te – e tu escuta e fixa o relato que ouviste – quais os
d) Tudo o que pensamos deve existir em algum lugar do universo. únicos caminhos de investigação que há para pensar, um que é,
que não é para não ser, é caminho de confiança (pois acompanha a
realidade): o outro que não é, que tem de não ser, esse te indico ser
14. A relação entre mito e logos pode ser ilustrada a partir do
caminho em tudo ignoto, pois não poderás conhecer o não-ser, não
seguinte fragmento do poema Sobre a Natureza de Parmênides.
é possível, nem indicá-lo [...] pois o mesmo é pensar e ser.
“E a deusa me acolheu benévola, e na sua a minha PARMÊNIDES. Da Natureza, frags. 1-3. Trad. José Trindade Santos. 2. ed. São Paulo:
mão direita tomou, e assim dizia e me interpelava: Loyola, 2009. p. 13-15.

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04 PRÉ-SOCRÁTICOS II FILOSOFIA

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filosofia de 19. (UFU 2004) O fragmento seguinte é atribuído a Heráclito de Éfeso.
Parmênides, assinale a alternativa correta. “O mesmo é em (nós?) vivo e morto, desperto e dormindo, novo e
a) Pensar e ser se equivalem, por isso o pensamento só pode velho; pois estes, tombados além, são aqueles e aqueles de novo,
tratar e expressar o que é, e não o que não é – o não ser. tombados além, são estes”.
b) A percepção sensorial nos possibilita conhecer as coisas como Os Pré -Socráticos. Trad. de José Cavalcante de Souza, 1ª ed. São Paulo: Abril Cultural.
1973, p. 93. (Os Pensadores)
elas verdadeiramente são.
c) O ser é mutável, eterno, divisível, móvel e, por isso, a razão A partir do fragmento citado, escolha a alternativa que melhor
consegue conhecê-lo e expressá-lo. representa o pensamento de Heráclito.
d) A linguagem pode expressar tanto o que é como o que não é, a) Não existe a noção de “oposto” no pensamento de Heráclito,
pois ela obedece aos princípios de contradição e de identidade. pois todas as coisas constituem um único processo de
e) O ser é e o não ser não é indica que a realidade sensível é mudança que expressa a concórdia e a harmonia do “fluxo”
passível de ser conhecida pela razão. contínuo da natureza.
b) A equivalência de estados contrários com “o mesmo” exprime
17. (UFU 2018) Considere o seguinte texto do filósofo Heráclito a alternância harmônica de polos opostos, pela qual um estado
(século VI a.C.). é transposto no outro, numa sucessão mútua, como o dia e
a noite. Todas as Coisas são “Um”, toda a multiplicidade dos
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"Para as almas, morrer é transformar-se em água; para a água,


morrer é transformar-se em terra. Da terra, contudo, forma-se a opostos constitui uma unidade, e todos os seres estão num
água e da água, a alma” fluxo eterno de sucessão de opostos em guerra.
Heráclito. Fragmentos, extraído de: MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia. c) Se o morto é vivo, o velho é novo, e o dormente é desperto,
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000. Tradução do autor. então não existe o múltiplo, mas apenas o como verdade
profunda do mundo. A unidade primordial é a própria realidade
Em relação ao excerto acima, podemos afirmar que ele ilustra da phvsis e a multiplicidade, apenas aparência.
a) a concepção heraclitiana que valoriza a importância do d) A alternância entre polos opostos constitui um fluxo eterno,
movimento na descrição da realidade. regido pela “guerra” e pela “discórdia”, que ocorre sem qualquer
b) a concepção dialética do pensamento heraclitiano, segundo a medida e proporção. A guerra entre contrários evidencia que
qual o movimento é uma ilusão dos sentidos. a phvsis é caótica e denota o fato de que o pensamento de
Heráclito é irracionalista.
c) a concepção heraclitiana da realidade, segundo a qual a
multiplicidade dos fenômenos subjaz uma realidade única.
20. (UEL 2013) No livro Através do espelho e o que Alice encontrou
d) o pensamento religioso de Heráclito, segundo o qual a morte é por lá, a Rainha Vermelha diz uma frase enigmática: “Pois aqui,
a libertação da alma. como vê, você tem de correr o mais que pode para continuar no
mesmo lugar.”
18. (UFU 2004 – adaptada) (CARROL, L. Através do espelho e o que Alice encontrou por lá. Rio de Janeiro: Zahar,
“Do arco o nome é vida e a obra é morte.” 2009. p.186.)
HERÁCLITO. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Nova
Cultural, 1989, p. 56. Coleção “Os Pensadores”. Já na Grécia antiga, Zenão de Eleia enunciara uma tese também
enigmática, segundo a qual o movimento é ilusório, pois “numa
Este fragmento ilustra bem o pensamento de Heráclito, que corrida, o corredor mais rápido jamais consegue ultrapassar o mais
acreditou ser o mundo o eterno fluir, comparado a um rio no qual lento, visto o perseguidor ter de primeiro atingir o ponto de onde
“entramos e não entramos”. partiu o perseguido, de tal forma que o mais lento deve manter
Assinale a alternativa que explica o fragmento mencionado acima. sempre a dianteira.”
(ARISTÓTELES. Física. Z 9, 239 b 14. In: KIRK, G. S.; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD, M. Os Pré-
a) Todas as coisas estão em oposição umas com as outras, o que socráticos. 4.ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994, p.284.)
explica o caráter mutável da realidade. A unidade do mundo,
sua razão universal resulta da tensão entre as coisas, daí o Com base no problema filosófico da ilusão do movimento em
emprego frequente, por parte de Heráclito, da palavra guerra Zenão de Eleia, é correto afirmar que seu argumento
para indicar o conflito como fundamento do eterno fluxo.
a) baseia-se na observação da natureza e de suas transformações,
b) A harmonia que anima o mundo é aberta aos sentidos, resultando, por essa razão, numa explicação naturalista
sendo possível ser conhecida na multiplicidade daquilo que é pautada pelos sentidos.
manifesto, uma vez que a realidade nada mais é que o eterno
b) confunde a ordem das coisas materiais (sensível) e a ordem
fluxo da multiplicidade do Logos heraclitídeo.
do ser (inteligível), pois avalia o sensível por condições que lhe
c) A unidade dos contrários, a vida e a morte, é imóvel, podendo são estranhas.
ser melhor representada para o entendimento humano por
c) ilustra a problematização da crença numa verdadeira existência
intermédio da imagem do fogo, que permanece sempre o
do mundo sensível, à qual se chegaria pelos sentidos.
mesmo, imutável e continuamente inerte, e não se oculta aos
olhos humanos. d) mostra que o corredor mais rápido ultrapassará inevitavelmente
o corredor mais lento, pois isso nos apontam as evidências dos
d) O arco, instrumento de guerra, indica que a ideia de eterno
sentidos.
fluxo, das transformações que compõem o fluxo universal, é
o fundamento da teoria do caos, pois o fogo se expande sem e) pressupõe a noção de continuidade entre os instantes, contida no
medida, tornado a realidade sem nenhuma harmonia ou ordem. pressuposto da aceleração do movimento entre os corredores.
e) Segundo Heráclito, o mundo está em constante guerra dos
contrários, o que acaba gerando um estado de imutabilidade,
aproximando sua filosofia a de Parmênides

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FILOSOFIA 04 PRÉ-SOCRÁTICOS II

como o filósofo do Ser, da realidade única, subjacente à pluralidade


EXERCÍCIOS DE dos fenômenos, e precursor da metafísica.
05. APROFUNDAMENTO Heráclito parte do movimento como a questão mais básica em
nosso entendimento do real, vendo no conflito entre os opostos
01.(UFU 1998) a causa do movimento. Sua visão de realidade é profundamente
dinâmica.”
“Tudo flui (panta rei), nada persiste, nem permanece o mesmo”.
MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
(Heráclito – Fragmentos – Col. Os Pensadores)

a) Explique a oposição entre as concepções desses filósofos a


Explique, segundo Heráclito, os pressupostos fundamentais da
respeito da realidade do movimento.
concepção da realidade.
b) Explique como Platão “de certa forma concilia as duas posições”.
02.(UFU 2005) Os fragmentos abaixo representam três temas
fundamentais que configuram o pensamento de Heráclito de Éfeso. GABARITO
“O deus é dia noite, inverno verão, guerra paz, saciedade fome; mas EXERCÍCIOS PROPOSTOS
se alterna como fogo, quando se mistura a incensos, e se denomina 01. B 05. B 09. D 13. B 17. A
segundo o gosto de cada.” 02. C 06. E 10. D 14. B 18. A
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

Fr.67. 03. C 07. D 11. D 15. A 19. B


04. A 08. B 12. D 16. A 20. C
“Por fogo se trocam todas (as coisas) e fogo por todas, tal como
por ouro mercadorias e por mercadorias ouro.” EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
Fr. 90. 01. Alguns fragmentos expõem o caráter enigmático do pensamento de Heráclito e as
suas teses mais conhecidas, a saber:
Os Pré-Socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p.85, 87. Col. Os pensadores. 1) o mundo como eterno devir;
2) a luta dos contrários e a unidade na multiplicidade; e
3) o fogo como elemento primordial, como princípio organizador da natureza.
A partir das citações acima
1) “Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio: suas águas não são nunca as mesmas
a) explicite quais são esses temas. e nós não somos nunca os mesmos”.
b) comente cada um deles de modo a caracterizar a Filosofia de 2) “A guerra é o pai e o rei de todas as coisas”. “É necessário saber que a guerra é a
comunidade; a justiça é discórdia; e tudo acontece conforme a discórdia e a necessidade”.
Heráclito.
“Tudo é um”.
3) “Este mundo, o mesmo e comum para todos, nenhum dos deuses e nenhum homem o fez;
03. (UFU 2007) O pensamento de Parmênides constitui uma das mas era, é e será um fogo sempre vivo, acendendo-se e apagando-se conforme a medida”.
mais profundas doutrinas dos filósofos da physis. Seu poema 02. Nos fragmentos citados podemos encontrar alguns temas da filosofia de Heráclito,
possui uma estrutura bem definida em três partes: prólogo, tais como: o mundo como devir eterno, o fogo como elemento fundamental e a ordem do
caminho da verdade e caminho da opinião. Acerca deste poema, mundo como equilíbrio dos contrários.
responda as seguintes questões: Diferentemente de Parmênides, Heráclito considerava que o mundo fosse uma mudança
contínua, um devir eterno, e que não existia nada que fosse imutável. De fato, uma de suas
a) O poema de Parmênides pertence a qual período da História famosas frases é “tudo flui”. Mas as coisas fluem seguindo uma determinada ordem: a
da Filosofia? transformação de uma coisa em seu contrário. Assim, Heráclito explicava a mudança
entre dia e noite, inverno e verão, guerra e paz, saciedade e fome. Vale ressaltar que para
b) Em qual dos temas seguintes o poema de Parmênides melhor ele, a origem de todas as coisas era o fogo, sendo esse o elemento fundamental para a
se encaixa: política, ética, lógica, metafísica ou estética? medida para todas elas.
Justifique sua resposta. 03. Parmênides é um dos filósofos do período pré-socrático, também chamado de
período cosmológico.
c) A que parte do poema refere-se o fragmento abaixo: prólogo,
O poema de Parmênides melhor se encaixa na metafísica. Ele foi o primeiro filósofo a
caminho da verdade ou caminho da opinião?
pensar o Ser enquanto ser, imutável e eterno, para além daquilo que os sentidos percebem.
Justifique sua resposta. Com isso, ele contrapôs o Ser ao Não-Ser. Para o filósofo, a cosmologia, tratando ela do
Não-Ser, seria impossível, por perceber os seres enquanto multiplicidade e devir, somente
na sua aparência. O pensamento verdadeiro, pelo contrário, exigiria identidade e, por isso,
04.(UFU 2000) a não contradição do Ser, que seria uno e único.
“Para os que entram nos mesmos rios, correm outras e novas O fragmento refere-se ao caminho da opinião. Para Permênides, o caminho da opinião
águas. (...) Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”. é do Não-Ser, é o caminho dos sentidos, que ocupa-se somente com as aparências,
diferentemente do caminho do Ser, que conheceria o Ser pelo pensamento.
(Heráclito. Pré-socráticos, Col. Os Pensadores, Abril Cultural, 1978)
04. Devido à distinção de suas concepções filosóficas, Heráclito e Parmênides são
constantemente comparados. Heráclito pensava o mundo como um eterno devir,
“Necessário é dizer e pensar que só o ser é, e o nada, ao contrário, composto pela harmonia dos contrários entre o ser e o não ser. Parmênides, em
nada é: afirmação que bem deves considerar”. contrapartida, afirmava a imutabilidade do ser e o princípio de identidade. Para ele o ser é,
(Parmênides. Pré-socráticos. Col. Os Pensadores, Abril Cultural, 1978) estando oposto ao não ser, que não é.

05. A filosofia pré-socrática de Heráclito e de Parmênides marca uma oposição acerca


A partir dos fragmentos acima, estabeleça as principais diferenças do entendimento da realidade, o que influenciou os filósofos clássicos posteriores,
entre as concepções do ser de Heráclito e de Parmênides. notadamente Platão. O pensamento de Parmênides baseia-se na concepção da
imutabilidade do Ser, reiterando a unidade e a totalidade do real. Há, nesse pensador, a
concepção de uma unidade do Ser subjacente à diversidade das coisas expressada por
05.(UFU 2018) Considere o seguinte trecho, que comenta opiniões meio das máximas “o ser é” e “o não ser não é”. Em oposição a Parmênides, Heráclito
faz uso da metáfora do fogo para defender que a realidade é explicada pelo movimento
bastante difundidas sobre o pensamento filosófico de Parmênides incessante. Esse pensamento pode ser ilustrado pela máxima heraclitiana de que
e Heráclito, filósofos gregos que viveram no século VI a.C., e “nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio, porque as águas não são as mesmas
responda às questões a respeito. e nós também não”. São termos que expressam o pensamento de Heráclito: a luta dos
contrários, o fluxo contínuo e o conflito dos opostos, o que gera uma harmonia no cosmos.
“Parmênides e Heráclito representam correntes de pensamento Platão foi influenciado pelos filósofos Parmênides e Heráclito e tenta resolver o impasse
rivais na filosofia grega e o conflito entre essas correntes marcou entre o monismo de Parmênides e a teoria do movimento de Heráclito. Ele o faz por meio
profundamente a obra de Platão, que procurará superá-lo, de certa da sua teoria das ideias ou das formas. Platão apresenta uma divisão entre o mundo
sensível e o mundo inteligível, que corresponde à separação entre o mundo do devir e
forma, conciliando as duas posições. do fluxo apresentado por Heráclito, e o mundo do ser e da imutabilidade apresentado
O pensamento de Parmênides baseia-se em uma concepção de por Parmênides. Platão concilia a teoria heraclitiana do movimento no mundo sensível
e a teoria parmenidiana da imutabilidade no mundo inteligível. Desse modo, a Teoria das
unidade do real para além do movimento por ele considerado ideias de Platão concilia a cisão entre o verdadeiro e o aparente, entre o ser e o devir, entre
apenas uma característica aparente das coisas. Parmênides é visto o uno e o múltiplo.

30 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
05
FILOSOFIA
SOFISTAS

QUEM SÃO OS SOFISTAS? eram extremamente úteis para qualquer jovem que procurava o
sucesso político. Na época dos sofistas, a democracia ateniense
As palavras gregas sophos e sophia significavam “sábio” e era extremamente viva, e isso significava que os jovens precisavam
“sabedoria” desde o tempo de Homero, e originalmente indicavam obter o conhecimento que lhes permitiria convencer o público.
qualquer um com conhecimentos em um domínio específico. Assim,
Embora os sofistas não tenham sido diretamente responsáveis
um condutor de charrete, um escultor, um guerreiro poderiam ser
pela democracia ateniense, suas contribuições foram importantes
sophoi em suas ocupações. Gradualmente, a palavra veio a denotar
para o crescimento do espírito democrático. Eles contribuíram para
uma sabedoria geral, especialmente nos assuntos humanos (por
a democracia ao subjetivar a verdade, o que permitiu que surgisse a
exemplo, política, ética ou gerenciamento de negócios). Este era
tolerância aos diferentes. Além disso, os sofistas contribuíram para
o termo dado aos Sete Sábios do século VII e VI a.C., e era neste
o desenvolvimento do Direito, pois foram os primeiros advogados
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

sentido que apareceu nas Histórias de Heródoto. Nessa época, o


profissionais do mundo, graças à sua enorme capacidade
termo sophistes era um sinônimo para “poeta” e para “professor”.
argumentativa. A partir da leitura de Platão e de Aristóteles, os
Na segunda metade do século V a.C., particularmente em sofistas passaram a ser vistos, no fim da Antiguidade, como
Atenas, “sofista” veio a denotar uma classe de intelectuais professores de retórica e oradores públicos. Assim, a filosofia
itinerantes que ministravam cursos sobre “excelência” ou tornou-se distinta da sofística.
“virtude”, especulavam sobre a natureza da linguagem e da
cultura e empregavam a retórica para alcançar seus objetivos, que
geralmente eram persuadir ou convencer os outros. Os sofistas TEXTO COMPLEMENTAR:
afirmavam que poderiam encontrar respostas para todas as
GÓRGIAS – Vou tentar, Sócrates, revelar-te claramente o poder
questões. A maior parte dos sofistas são conhecidos hoje por meio
da retórica em toda a sua amplitude (...). Não ignoras por certo que
dos escritos de seus oponentes (como Platão e Aristóteles), o que
a origem desses arsenais, desses muros de Atenas e de toda a
faz com que seja difícil encontrar uma perspectiva neutra sobre
organização dos vossos portos se deve por um lado aos conselhos
suas práticas e crenças.
de Temístocles e por outro aos de Péricles, mas em nada aos dos
Muitos deles ensinavam suas habilidades por um preço. homens de ofícios.
Devido à importância de tais habilidades na vida social litigiosa de
SÓCRATES – É isso realmente o que se relata a respeito de
Atenas, os sofistas, eventualmente, cobravam bem caro. A prática
Temístocles, e, quanto a Péricles, eu mesmo o ouvi propor a
de cobrar, juntamente com a prática de questionar a existência dos
construção do muro interno.
deuses tradicionais (o que era feito para mostrar que poderiam
provar qualquer coisa), causou uma condenação vigorosa e GÓRGIAS – E, quando se trata de uma dessas eleições de que
ressentimento por parte do povo, o que a fama e a riqueza que falavas há pouco, podes verificar que também são os oradores que
alguns sofistas ostentavam só fazia piorar. Sofistas famosos: em semelhante matéria dão seu parecer e que a fazem triunfar.
Protágoras (que é geralmente considerado o primeiro entre eles), SÓCRATES – Posso verificar isso com espanto, Górgias, e por
Górgias, Pródico, Hípias, Trasímaco, Lícofron, Antífon e Crátilo. isso me pergunto há muito tempo que poder é esse da retórica. Ao
Sócrates era algumas vezes considerado um sofista por ver o que se passa, ela se me aparece como uma coisa de grandeza
seus contemporâneos, mas era diferente deles no sentido em quase divina.
que não cobrava dinheiro, não visava simplesmente convencer GÓRGIAS – Se soubesses tudo, Sócrates, verias que ela
os interlocutores (mas buscava pela verdade) e não afirmava engloba em si, por assim dizer, e mantém sob seu domínio todos
conhecer tudo. Todavia, Sócrates talvez não tomasse os sofistas os poderes. Vou dar-te uma prova impressionante disso:
como seus opositores naturais. Certa vez afirmou que os sofistas Aconteceu-me várias vezes acompanhar meu irmão ou outros
eram melhores educadores do que ele era e chegou mesmo a médicos à casa de algum doente que recusava uma droga ou que
enviar um aluno para estudar com um sofista. não queria ser operado a ferro e fogo, e sempre que as exortações
do médico resultavam vãs eu conseguia persuadir o doente apenas
CRÍTICAS E INFLUÊNCIAS com a arte da retórica. Que um orador e um médico andem juntos
pela cidade que quiseres: se começar uma discussão numa
Platão, o mais famoso aluno de Sócrates, mostra, em vários assembleia popular ou numa reunião qualquer para decidir qual dos
Diálogos, seu mestre refutando os sofistas. Esses textos mostram dois deverá ser eleito médico, afirmo que o médico será anulado e
os sofistas sob uma perspectiva desfavorável e é duvidoso que a que o orador será escolhido, se isso lhe agradar.
representação platônica seja acurada. De qualquer modo, Platão O mesmo aconteceria com qualquer outro artesão: o orador
é o maior responsável pelo uso moderno depreciativo do termo se faria escolher diante de qualquer outro concorrente, pois não
“sofista”, compreendido como um homem culto e ganancioso que há assunto sobre o qual um homem que conhece retórica não
utiliza seu arsenal retórico para defender teses com argumentos consiga falar diante da multidão de maneira mais persuasiva que
falaciosos. Sob esse ponto de vista, os sofistas não se preocupam um homem do ofício, seja ele qual for. Aí está o que é retórica, e do
com a verdade ou com a justiça: querem apenas vencer o debate. que ela é capaz.
Na verdade, parece que pelo menos alguns sofistas assumiram (PLATÃO. Górgias)
uma perspectiva relativista a respeito do conhecimento. Sua filosofia
contém críticas à religião e à lei. As técnicas retóricas dos sofistas

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 31
FILOSOFIA 05 SOFISTAS

03. (UEG) No século V a.C., Atenas vivia o auge de sua democracia.


EXERCÍCIOS Nesse mesmo período, os teatros estavam lotados, afinal, as
PROTREINO tragédias chamavam cada vez mais a atenção. Outro aspecto
importante da civilização grega da época eram os discursos
proferidos na ágora. Para obter a aprovação da maioria, esses
01. Aponte a origem do termo sofista. pronunciamentos deveriam conter argumentos sólidos e
02. Aponte a principal características dos sofistas persuasivos. Nesse caso, alguns cidadãos procuravam aperfeiçoar
sua habilidade de discursar. Isso favoreceu o surgimento de
03. Apresente dois sofistas famosos. um grupo de filósofos que dominavam a arte da oratória. Esses
filósofos vinham de diferentes cidades e ensinavam sua arte em
04. Qual filósofo foi o principal responsável pela visão pejorativa em
troca de pagamento. Eles foram duramente criticados por Sócrates
relação aos sofistas?
e são conhecidos como
05. Aponte uma contribuição dos sofistas para o Mundo Grego. a) maniqueístas.
b) hedonistas.
c) epicuristas.
d) sofistas.
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

EXERCÍCIOS
PROPOSTOS 04. (UEM) Protágoras de Abdera (480-410 a.C.) é considerado
um dos mais importantes sofistas. Ensinou por muito tempo em
Atenas, sendo atribuída à sua autoria a seguinte máxima da filosofia:
01. (UEMA) Leia o poema do moçambicano Craveirinha, Cantiga do “O homem é a medida de todas as coisas”. Sobre Protágoras e os
negro do betelão. sofistas, assinale o que for correto.
Se me visses morrer Digo-te, irmão europeu I. De forma semelhante a pensadores contemporâneos, os
Os milhões de vezes que nasci... Também tu sofistas problematizam a multiplicidade de perspectivas do
Se me visses chorar Havias de nascer conhecimento.
Os milhões de vezes que te riste... Havias de chorar
Se me visses gritar Havias de cantar II. O relativismo de Protágoras pode ser defendido filosoficamente
Os milhões de vezes que me Havias de gritar a partir da percepção do movimento, tese já defendida
calei... Havias de morrer anteriormente por Heráclito.
Se me visses cantar E sangrar... III. Platão e Aristóteles contrapuseram-se aos sofistas, ao não
Os milhões de vezes que morri... Milhões de vezes como eu defender o homem como medida de todas as coisas.
E sangrei IV. Em razão de seu humanismo, atribui-se a Protágoras a
Fonte: CRAVEIRINHA. In: Revista do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da inversão coperniciana, isto é, a tese de que não é o sol que gira
FFCLH da USP. São Paulo: Edusp, 2002, p.100.
em torno da Terra, mas a Terra que gira em torno do sol.
O poeta constrói ou reconstrói a realidade em seus versos e o V. O saber contido na frase de Protágoras é prático, além de
filósofo, ao ser “tocado” pela poesia, é chamado a refletir sobre ela. teórico, ou seja, mobiliza o campo da filosofia para a retórica.
A primeira condição ou primeira virtude para o filosofar é a) I, II e V. c) I e IV. e) I, II, III e V.
a) problematizar. b) I, II e III. d) II, III e IV.
b) questionar.
c) persuadir. 05. (UEM) São designados sofistas os interlocutores de Sócrates
e Platão, pertencentes ao século V a.C., que deram enfoque
d) teorizar.
antropológico a questões morais, políticas e metafísicas que
e) admirar. debatiam. Sobre a filosofia dos sofistas, assinale o que for correto.
I. A palavra sofista vem de sophos, “sábio”, pois designava os
02. Na Grécia antiga houve um grupo de filósofos que teve sua professores da sabedoria. Adquiriu, posteriormente, sentido
trajetória permeada por críticas e questionamentos. Apontados como pejorativo, em virtude da utilização de raciocínios capciosos,
“antifilósofos” e alvo da reprovação de importantes pensadores da chamados “sofismas”.
época, os sofistas sofreram com julgamentos negativos, mas têm
II. O pensamento dos sofistas foi valorizado por Georg Wilhelm
contribuições reconhecidas para o mundo grego.
Hegel, no século XIX, que chamava o período em que viveram de
Sobre esse grupo de filósofos é correto afirmar que: “Aufklärung grega”, comparado ao Iluminismo do século XVIII.
a) Ao se comprometerem com a verdade, os sofistas negaram a III. Os sofistas não representam a nobreza aristocrática enraizada
retórica como estratégia nos debates filosóficos. de Atenas, razão pela qual não praticavam a filosofia por amor
b) Os sofistas defendiam o uso da retórica, desde que à sabedoria, como Sócrates, Platão e Aristóteles, uma vez que,
exclusivamente na esfera privada da vida grega. para garantir a subsistência, cobravam por suas aulas.
c) Pela prática do questionamento da verdade, os sofistas IV. Platão, na obra Teeteto, opõe-se radicalmente a Protágoras,
contribuíram para uma certa tendência democrática, autor da afirmação “o homem é a medida de todas as coisas”.
promovendo a tolerância ao pensamento oposto. V. Pelo teor fortemente relativista em suas teses sobre a origem das
d) Na contramão de outros pensadores, Platão foi um forte espécies, Aristóteles também pode ser considerado um sofista.
defensor dos sofistas em função do marcado compromisso a) I e II. d) II, III e V.
com a justiça desse grupo.
b) III, IV e V. e) I, II, III e IV.
e) Sócrates foi amplamente reconhecido como um sofista por
c) I, II e III.
afirmar ter o conhecimento e domínio sobre todas as coisas
que rodeavam o mundo dos homens.

32 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
05 SOFISTAS FILOSOFIA

06. (UFLA) Leia a citação seguinte do filósofo para responder à O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálogo A
questão. República, de Platão, sustentava que a correlação entre justiça e
“O homem não é mais que o que ele faz.” ética é resultado de
Jean Paul Sartre. O existencialismo é um humanismo, col. Os pensadores.São Paulo. a) determinações biológicas impregnadas na natureza humana.
Abril Cultural. 1973. p. 12
b) verdades objetivas com fundamento anterior aos interesses
Essa subjetividade, presente no contexto acima, tem correspondência sociais.
com a citação e a filosofia relativista do Sofista seguinte: c) mandamentos divinos inquestionáveis legados das tradições
a) Sócrates que diz: “Sei que nada sei”. antigas.

b) Protágoras que afirma: “O homem é a medida de tudo”. d) convenções sociais resultantes de interesses humanos
contingentes.
c) Parmênides que afirma: “O ser é; o não ser não é”.
e) sentimentos experimentados diante de determinadas atitudes
d) Aristóteles que afirma: “O ser se exprime de muitos modos”. humanas.

07. (UEM-PAS 2011 - adaptada) Uma das características marcantes 10. (UFSJ) Assinale a alternativa CORRETA em relação ao objeto
da Grécia antiga foi o advento da polis, cidades-estados, que gozavam da Filosofia.
de autonomia política, econômica e administrativa. Relacionado a
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

esse fenômeno está o nascimento da filosofia, principalmente em a) O objeto da Filosofia é, notadamente, o Conhecimento
função da Ágora – espaço comum, palco dos debates públicos, lugar considerado em toda a sua amplitude, a partir do processo da
de troca de ideias entre iguais (isonomia). Somente ali poderia nascer elaboração cognitiva, que é propriamente o pensamento e a
uma reflexão que valorizasse o aspecto racional dos argumentos. comunicação dessa atividade pensante.
Disso decorre a íntima relação entre o modo de ordenação política b) A Filosofia tem por objeto a expressão de tudo o que pode o
da cidade e o exercício do debate público. Homem pensar.
Sobre esse contexto histórico-cultural da Grécia antiga, assinale o c) O objeto de estudo da Filosofia é idêntico ao objeto de estudo
que for correto. da Ciência, sendo que a sua convergência é orientada pelo
a) Por seu perfil democrático, a igualdade política era uma método experimental utilizado por ambos.
igualdade universal na Grécia antiga, uma vez que todos os d) A Filosofia tem na Teoria do Conhecimento o seu objeto e
habitantes da polis participavam das decisões políticas. a sua mais ampla conceituação, uma vez que essa teoria é a
b) Sendo a democracia uma forma de governo de origem grega, expressão máxima de tudo o que se pode entender por Filosofia.
ele foi o único regime político existente nas diversas polis.
11. Leia o texto a seguir sobre o conhecimento filosófico:
c) Para os gregos, as práticas políticas deveriam valer
exclusivamente para a vida doméstica.
d) O legado político-cultural grego não se espalhou por outros
povos, pois estes não conheciam a filosofia.
e) Os debates públicos na Ágora permitiram o nascimento dos
sofistas, profissionais da argumentação, que não possuíam um
compromisso com a verdade: apenas desejavam convencer os
seus ouvintes.

08. (UEM 2010 - adaptada) A formação da polis, na Grécia Antiga,


caracterizou-se por uma estrutura sociopolítica em que havia uma
divisão substancial entre a esfera privada e a esfera pública. Com No período socrático ou antropológico, no âmbito da filosofia grega,
base na afirmação acima, assinale o que for correto. surgem os sofistas. A palavra era antigamente sinônimo de sábio.
a) A divisão entre a esfera privada e a pública não impediu que Porém, no século V a.C., toma um matiz pejorativo e se aplica a um
todos os habitantes de Atenas participassem da vida política grupo de mestres ambulantes, que recorrem aos cidadãos gregos,
que se realizava na esfera pública. ensinando o que eles chamam de sabedoria.
(COLOMER, Klimke. Historia de la filosofia. Madrid: Labor, 1961, p.39) Adaptado
b) A Retórica era mal vista, pois era considerada um recurso
linguístico enganoso e demagógico utilizado para ascender ao No âmbito do conhecimento filosófico, o texto retrata que, no
poder da esfera pública. período socrático ou antropológico, os sofistas representam algo
c) Na esfera pública, é garantida a igualdade de direitos perante a totalmente novo nesse cenário com relação ao estudo do homem.
lei, isto é, o princípio de isonomia, como também é reconhecida Sobre isso, assinale a alternativa CORRETA.
a igualdade de direito ao uso público e político da palavra, ou a) Os sofistas foram, na verdade, reputados como grandes
seja, o princípio de isegoria. mestres de cultura; inicia-se a fase antropológica.
d) Aristóteles, na sua obra Política, defende uma democracia em b) Os sofistas foram sábios nos estudos da natureza cosmológica
que a participação na esfera pública é concedida a todos os e deram pouca importância ao problema antropológico.
habitantes da polis.
c) Com a sofística, inicia-se uma nova fase no período filosófico,
e) Habituados ao discurso, os cidadãos gregos encontram na o estudo de Deus.
ágora um obstáculo para a participação política.
d) Os sofistas não reconheceram o valor formativo do saber e
elaboraram o conceito de natureza, excluindo o homem da sua
09. (ENEM) Trasímaco estava impaciente porque Sócrates e os
consideração.
seus amigos presumiam que a justiça era algo real e importante.
Trasímaco negava isso. Em seu entender, as pessoas acreditavam e) Os sofistas influenciaram parcialmente o curso da investigação
no certo e no errado apenas por terem sido ensinadas a obedecer às filosófica, com seu enfoque teórico frente aos problemas
regras da sua sociedade. No entanto, essas regras não passavam prático-educativos.
de invenções humanas.
RACHELS. J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 33
FILOSOFIA 05 SOFISTAS

12. Alguns pensam que Protágoras de Abdera pertence também 15. (UEM 2013- adaptada) Protágoras de Abdera (480-410 a.C.) é
ao grupo daqueles que aboliram o critério, uma vez que ele afirma considerado um dos mais importantes sofistas. Ensinou por muito
que todas as impressões dos sentidos e todas as opiniões são tempo em Atenas, sendo atribuída à sua autoria a seguinte máxima
verdadeiras, e que a verdade é uma coisa relativa, uma vez que tudo da filosofia: “O homem é a medida de todas as coisas”. Sobre
o que aparece a alguém ou é opinado por alguém é imediatamente Protágoras e os sofistas, assinale o que for correto.
real para essa pessoa. a) De forma semelhante a pensadores contemporâneos, os
KERFERD, G. B. O movimento sofista. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado). sofistas se negaram a problematizar a multiplicidade de
perspectivas do conhecimento.
O grupo ao qual se associa o pensador mencionado no texto se
caracteriza pelo objetivo de b) A defesa de Protágoras por verdades absolutas pode ser
defendida filosoficamente a partir da percepção do movimento,
a) alcançar o conhecimento da natureza por meio da experiência. tese já defendida anteriormente por Heráclito.
b) justificar a veracidade das afirmações com fundamentos c) Platão e Aristóteles concordam com os sofistas, ao defender o
universais. homem como medida de todas as coisas.
c) priorizar a diversidade de entendimentos acerca das coisas. d) Em razão de seu humanismo, atribui-se a Protágoras a
d) preservar as regras de convivência entre os cidadãos. inversão coperniciana, isto é, a tese de que não é o sol que gira
e) analisar o princípio do mundo conforme a teogonia. em torno da Terra, mas a Terra que gira em torno do sol.
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

e) O saber contido na frase de Protágoras é prático, além de


13. O trecho seguinte, do diálogo platônico Górgias, refere-se ao teórico, ou seja, mobiliza o campo da filosofia para a retórica.
modo de filosofar de Sócrates.
“Assim, Cálicles, desmanchas o nosso convênio e te desqualificas 16. (UEM 2008) Aristóteles considera que só o homem é um
para investigar comigo a verdade, se externares algo contra tua animal político, porque somente ele é dotado de linguagem na
maneira de pensar.” forma de palavra (lógos) e com ela pode exprimir o bem e o mal,
PLATÃO. Górgias. Trad. de Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2002, p. 198, 495a. o justo e o injusto. O fato de os homens poderem estabelecer em
comum esses valores é o que torna possível a vida social e política.
Marque a alternativa que expressa corretamente o procedimento Assinale a alternativa que for correta.
filosófico empregado por Sócrates. a) A retórica é a arte do método racional. Foi utilizada na Antiguidade
a) A base da filosofia socrática é a educação mediante os discursos Clássica como um dos principais recursos da política.
políticos e jurídicos encenados nos tribunais atenienses. Sócrates b) Os sofistas desenvolveram e ensinaram a retórica como
parte das proposições dos adversários para encontrar um instrumentalização da linguagem cujo objetivo era torná-la
discurso oposto que seja retoricamente persuasivo. uma estratégia para vencer adversários nos embates políticos.
b) A base da filosofia socrática é a procura da verdade acerca c) Para os gregos antigos, a palavra mito (mythos) significa
do conhecimento da Natureza e da maneira de pensar sobre racionalidade, a narração sobre a origem dos deuses, do
os princípios racionais que governam o cosmos a partir do mundo, dos homens, da comunidade humana e da vida do
conhecimento acumulado pelos filósofos anteriores. grupo social.
c) A base da filosofia socrática é a refutação, a partir de um d) A linguagem para os gregos antigos tem duas formas de
convênio em busca da verdade, de todas as proposições expressão: o mythos e o lógos. O logos desenvolve a palavra
de seus interlocutores com o intuito de demonstrar que o mágica e encantatória; o mythos, a linguagem como poder de
conhecimento das questões morais é impossível. conhecimento racional.
d) A base da filosofia socrática é a procura da perfeição da alma, e) A obra filosófica de Platão é isenta de qualquer mito, é o que
mediante o exame de si mesmo e dos concidadãos, que é permite caracterizá-la como sendo absolutamente racionalista.
a condição da excelência moral. A refutação socrática é,
sobretudo, um modo de testar a verdade da excelência da vida. 17. (UEM 2012) “A filosofia surgiu quando alguns gregos,
admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as
14. Leia os enunciados abaixo a respeito do pensamento filosófico explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas
de Sócrates. e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os
I. O texto Apologia de Sócrates, cujo autor é Platão, apresenta seres humanos, os acontecimentos materiais e as ações dos seres
a defesa de Sócrates diante das acusações dos atenienses, humanos podem ser conhecidos pela razão humana”
especialmente, os sofistas, entre os quais está Meleto. (CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2011. p.32).

II. Sócrates dispensa a ironia como método para refutar as


Considerando o exposto, assinale a alternativa correta:
acusações e calúnias sofridas no processo de seu julgamento.
a) A filosofia surgiu na Grécia durante o séc. VI a.C.. Apesar de
III. Entre as acusações que Sócrates recebe está a de “corromper
seu nascimento ser considerado o “milagre grego”, é conhecida
a juventude”.
a frequentação de Atenas por outros sábios que viveram no
IV. Sócrates é acusado de ensinar as coisas celestes e terrenas, a século VI a.C., como Confúcio e Lao Tse (provenientes da
não acreditar nos deuses e a tornar mais forte a razão mais débil. China), Buda (proveniente da Índia) e Zaratustra (proveniente da
V. Sócrates nega que seus acusadores são ambiciosos e Pérsia), fazendo da filosofia grega uma espécie de comunhão
resolutos e, em grande número, falam de forma persuasiva e dos saberes da antiguidade.
persistente contra ele. b) O surgimento da filosofia é coetâneo ao estabelecimento
Assinale a alternativa que apresenta apenas as afirmativas do mito como narrativa. Novas estruturas sociais e políticas
CORRETAS. permitiram o desenvolvimento de formas de racionalidade,
a) II, IV e V. d) II, III e V. modificadoras da prática do mito.

b) I, III e IV. e) I, II e III c) Por serem os únicos filósofos a praticar a retórica, os sofistas
representam, indiscutivelmente, o ponto mais alto da filosofia
c) I, III e V. clássica grega (séculos V e IV a.C.), ultrapassando Sócrates,
Platão e Aristóteles.

34 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
05 SOFISTAS FILOSOFIA

d) Filósofo é aquele que busca certezas absolutas e irrefutáveis. 20. (UCS 2017) Sabe-se que os primeiros registros feitos
Por essa razão, o filósofo vê no debate um elemento a ser pelos seres humanos eram marcados em paredes, folhas
desconsiderado no método filosófico. de palmeiras, tijolos de barro, tábuas de madeira. A primeira
e) A atividade filosófica pode ser definida, entre outras habilidades, inovação foi o papiro, que tinha como matéria-prima uma
pela capacidade de generalização e produção de conceitos, planta. Depois ele foi substituído pelo pergaminho – feito de
encontrando, sob a multiplicidade de objetos do mundo, pele de animais –, que tinha maior durabilidade e que tornava
relações de semelhança e de identidade. a escrita mais fácil.
No século II, a partir do córtex de plantas, tecidos velhos e
18. (UEL 2006) Os poemas de Homero serviram de alimento fragmentos de rede de pesca, os chineses inventaram o papel.
espiritual aos gregos, contribuindo de forma essencial para aquilo Em 1448, Johann Fust, juntamente com Gutenberg, fundou a
que mais tarde se desenvolveria como filosofia. Em seus poemas, a Werk der Buchei (Fábrica de Livros), onde foi publicada a Bíblia
harmonia, a proporção, o limite e a medida, assim como a presença de Gutenberg, livro que tinha 42 linhas. O aumento da oferta de
de questionamentos acerca das causas, dos princípios e do porquê papel e o aprimoramento das técnicas de impressão em larga
das coisas se faziam presentes, revelando depois uma constante escala ajudaram a consolidar o livro como veículo de informação
na elaboração dos princípios metafísicos da filosofia grega. e entretenimento.
(Adaptado de: REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. v. I. Trad. Henrique C. Lima
Vaz e MarceloPerine. São Paulo: Loyola, 1994. p. 19.)
Em 1971, a tecnologia inovou o mundo da leitura com os e-books,
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

livros digitais que podem ser lidos em vários aparelhos eletrônicos.


Com base no texto e nos conhecimentos acerca das características Disponível em: <http://blog.render.com.br/diversos/a-evolucao-do-livro/>. Acesso em:
que marcaram o nascimento da filosofia na Grécia, considere as 14 fev. 17. (Parcial e adaptado.)
afirmativas a seguir.
Diante disso, a questão a seguir abordarão o eixo temático “A
I. A política, enquanto forma de disputa oratória, contribuiu para Evolução do Livro: do pergaminho ao e-book”.
formar um grupo de iguais, os cidadãos, que buscavam a
verdade pela força da argumentação. Sócrates, um dos maiores expoentes da Filosofia, não deixou
nada escrito. Foram as obras de Platão, seu principal discípulo, as
II. O palácio real, que centralizava os poderes militar e religioso, foi responsáveis por quase tudo que se sabe sobre suas ideias e sua
substituído pela Ágora, espaço público onde os problemas da personalidade. Sócrates foi o primeiro dos três grandes filósofos
polis eram debatidos. gregos que estabeleceu as bases do pensamento ocidental (os
III. A palavra, utilizada na prática religiosa e nos ditos do rei, perdeu outros dois foram Platão e Aristóteles). Sócrates nasceu em
a função ritualista de fórmula justa, passando a ser veículo do Atenas, por volta de 470 a.C., e conduziu a transição do pensamento
debate e da discussão. dos antigos cosmologistas gregos, que viviam refletindo sobre a
IV. A expressão filosófica é tributária do caráter pragmático dos origem do universo, para preocupações maiores com a ética e a
gregos, que substituíram a contemplação desinteressada dos existência humana.
mitos pela técnica utilitária do pensar racional. Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/historia/quem-foi-socrates/>.
Acesso em: 27 mar. 17. (Parcial e adaptado.)
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e III. b) II e IV. c) III e IV. d) I, II e III. e) I, II e IV. Sobre os filósofos citados no texto, assinale a alternativa correta.
a) Sócrates não concorda com a ação dos sofistas para os quais a
19. (UEM 2017) Platão registra, em seu diálogo Crátilo, a análise de verdade dependia de como se falava e convencia-se. Para ele, a
Sócrates acerca do valor das lições dos sofistas: prática sofista criava apenas uma aparência de conhecimento
“Sócrates – O ensino sobre os termos não é assunto de pouca (doxa) não recordando a verdade (alétheia).
importância. Se eu tivesse ouvido a lição de Pródico [de Ceós] de b) Sócrates entende que o homem produz, ou seja, cria a verdade
cinquenta dracmas, a qual garantia ao ouvinte ficar inteiramente e o conhecimento através do uso da palavra. Daí sua proposta
formado acerca deste assunto, como ele assevera, nada te ser conhecida como maiêutica (maieutiké).
impediria de saber imediatamente toda a verdade acerca do uso c) Aristóteles afirma que o ser humano, por ser dotado de
correto das palavras. Mas só ouvi a lição no valor de um dracma.” sentidos, busca a realização dos prazeres e da felicidade
PLATÃO, Crátilo, 483B apud FIGUEIREDO, V. de (org.). Filósofos na sala de aula. São (eudaimonia), ou seja, do Bem, e, para isso, os sentidos têm
Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2007, vol. 2, p. 28. função fundamental, pois é somente por meio da sensibilidade
que o homem pode atingir o Bem.
Com fundamento no texto acima, assinale a alternativa correta.
d) Platão acredita que existe um mundo além deste, um mundo
a) Não havia na sofística qualquer alusão à lógica e ao estudo metafísico, ao qual deu o nome de Mundo Ideal. Para ele, os
da argumentação, restando apenas lugar à retórica, voltada à sentidos informam a respeito do Mundo Ideal, enquanto que o
noção de argumento correto no contexto dos intensos debates pensamento revela sobre o Mundo Material.
públicos das assembleias democráticas.
e) Platão mostra uma desvalorização do Mundo Inteligível,
b) A preocupação com o uso da palavra ocorre no contexto da colocando-o como secundário em relação ao Mundo Sensível.
pólis grega, em que isegoria reforçava o discurso mitológico Para ele, as ideias podem deixar de existir, uma vez que
frente ao discurso político. mudanças no mundo Material/Sensível também as afetam.
c) O “ensino sobre os termos” era voltado ao desenvolvimento do
discurso racional e pragmático.
d) Ao cobrarem pelo ensino de conceitos e de estratégias para
estabelecer as teses pretendidas, os sofistas contribuíram para
valorizar o saber, inaugurando uma forma de magistério que
despertou a admiração de filósofos como Platão e Aristóteles.
e) O apreço dos sofistas pelos discursos duplos (dissoi logoi)
demonstra certa tendência antidogmática, o que teria levado esses
autores, filósofos e pensadores, à formulação de concepções
flexíveis sobre o gênero humano, a sociedade e a realidade.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 35
FILOSOFIA 05 SOFISTAS

03. Os sofistas foram muito mal vistos devido aos escritos de Platão. Entretanto, ainda
EXERCÍCIOS DE que lucrassem com sua atividade de ensino, esses filósofos desenvolveram importantes

APROFUNDAMENTO
teorias. Hoje sua importância é reconhecida principalmente em relação ao relativismo
05. cultural e às contribuições ao espírito democrático.
04. Aristóteles também se opôs aos sofistas. Estes foram filósofos que, no geral,
apresentavam uma noção relativista de verdade. Eles foram fortemente criticados por
01. Alguns pensam que Protágoras de Abdera pertence também Sócrates e Platão por cobrarem por suas aulas. Vale ressaltar que o trabalho dos sofistas
ao grupo daqueles que aboliram o critério, uma vez que ele afirma de ensinar “a arte de argumentar e persuadir” está fortemente relacionado à atividade
que todas as impressões dos sentidos e todas as opiniões são política na polis grega.

verdadeiras, e que a verdade é uma coisa relativa, uma vez que tudo 05. Platão e Aristóteles também problematizaram uma multiplicidade de perspectivas do
conhecimento, afinal conhecemos parte do pensamento do próprio Protágoras porque
o que aparece a alguém ou é opinado por alguém é imediatamente Platão escreveu diálogos como o homônimo Protágoras e o Teeteto – neste último a
real para essa pessoa. tese “o homem é a medida de todas as coisas” é questionada; além disso, Aristóteles,
KERFERD, G. B. O movimento sofista. como sabemos, foi um bom doxógrafo. O relativismo de Protágoras não é filosófico, ele
São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado). é meramente retórico. O interesse do sofista ao transmitir suas teses era adquirir fama
e seguidores, e não problematizar questões relativas ao conhecimento. E, apesar de
Heráclito se manter firme em uma perspectiva do vir a ser, o pré-socrático não era um
Qual o objetivo dos sofistas, no contexto do mundo grego? relativista. Ele mantinha a existência de um conhecimento verdadeiro sobre o mundo e
estabelecia relações profundas entre física e logos.

02. (UDESC 2011) Comente a diferença entre os filósofos gregos ANOTAÇÕES


e os pensadores conhecidos como sofistas, em relação à busca
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

da verdade.

03. (Adaptada- Unimontes 2010) Via de regra, os sofistas eram


homens que tinham feito longas viagens e, por isso mesmo, tinham
conhecido diferentes sistemas de governo. Usos, costumes e leis
das cidades-estados podiam variar enormemente. Sob esse pano
de fundo, os sofistas iniciaram em Atenas uma discussão sobre o
que seria natural e o que seria criado pela sociedade.
(GAARDER, J. O Mundo de Sofia.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995).

Sobre os sofistas, é corretor afirmar que eles eram mercenários e


só visavam ao lucro na arte de ensinar? Explique.

04. São designados sofistas os interlocutores de Sócrates e Platão,


pertencentes ao século V a.C., que deram enfoque antropológico a
questões morais, políticas e metafísicas que debatiam. Por que eles
eram acusados de não possuírem compromisso com a verdade?

05. Protágoras de Abdera (480-410 a.C.) é considerado um dos


mais importantes sofistas. Ensinou por muito tempo em Atenas,
sendo atribuída à sua autoria a seguinte máxima da filosofia: “O
homem é a medida de todas as coisas”. O que ele quis dizer com
a referida frase?

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. E 05. E 09. D 13. D 17. E
02. C 06. B 10. A 14. B 18. D
03. D 07. E 11. A 15. E 19. E
04. E 08. C 12. C 16. B 20. A

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. Os sofistas, que consideravam não existir verdade absoluta, mas uma diversidade de
pontos de vista acerca da verdade, ou seja, existiriam apenas verdades relativas.
02. A principal diferença entre os filósofos gregos (considerando Sócrates, Platão e
Aristóteles os pensadores clássicos da antiguidade) e os sofistas (Protágoras e Górgias,
por exemplo) é a maneira através da qual cada um deles se apresentava. Os filósofos se
propunham como sábios porque possuíam um anseio por descobrir a ciência das coisas,
já os sofistas se propunham como mestres da educação do cidadão porque possuíam
uma técnica a ser ensinada. Deste modo, se o filósofo, por almejar a ciência das coisas,
mantinha uma relação investigativa com a verdade, então diferentemente seria o sofista,
pois, por possuir uma técnica, não necessitava ir atrás daquilo que já conhecia. Seguindo
está diferenciação, os filósofos criticavam os sofistas porque eles:
“operam apenas com opiniões (dóxai) contrárias, ensinando a argumentar
persuasivamente tanto em favor de uma como de outra, dependendo de quem lhes está
pagando; não se interessam pela verdade (alétheia), que é sempre igual a si mesma e a
mesma para todos. Sendo professores de opiniões, são mentirosos e charlatães. Além disso,
continuavam os socráticos, recebendo dinheiro, o sofista perdia a liberdade de pensamento,
sendo obrigado a conviver com quem quer que lhe pagasse e a ensinar o que lhe fosse
exigido; mas a verdadeira sabedoria, julgava o grupo socrático, é algo que deve ser livremente
compartilhado, e apenas entre amigos ou amantes, isto é, entre os iguais”.
Chauí, M. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, volume I.
São Paulo: Companhia das Letras, 2002, 163.

36 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
06
FILOSOFIA
SÓCRATES

GRÉCIA: POLÍTICA E PENSAMENTO Tudo o que se sabe sobre Sócrates é conhecido  por meio de
três fontes diferentes: Aristófanes, que caricaturou o filósofo em
No século V a.C., Atenas passava por sua época de ouro. O Século As Nuvens; Xenofonte, que descreveu-o respeitosamente, mas
de Péricles foi o momento de máximo poder e, consequentemente, sem compreender sua profundidade filosófica; e Platão, em cujos
de início do declínio do poder ateniense. Péricles, o governante de diálogos idealiza seu professor e provavelmente desenvolve a
Atenas em grande parte do século V a.C., era um democrata (ou um filosofia de Sócrates muito além do seu pensamento original. A
demagogo) que governava com o apoio do povo. Com o dinheiro principal questão colocada por Sócrates é: “Como devo viver?”.
recebido pelo tesouro ateniense por causa dos tributos cobrados Para responder a essa questão, de ordem moral, é que Sócrates faz
às cidades protegidas por Atenas, e com a riqueza produzida pela seu percurso intelectual e procura adquirir conhecimento.
grande quantidade de escravos capturados nas guerras, Péricles
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

incentivou as artes, a literatura e a filosofia, promovendo inúmeros


festivais de poesia e de teatro que reuniam os maiores escritores O MÉTODO SOCRÁTICO
da Grécia. A livre circulação de artistas, poetas, dramaturgos,
Sócrates personifica exemplarmente o amor ateniense pela
sofistas e filósofos, além da pujança econômica ateniense, teve
razão e pela moderação; ele considerava que virtude é conhecimento
como consequência um raro momento na história anterior à
e conhecimento é virtude; e o conhecimento é verdadeiro apenas
Modernidade no qual a liberdade de pensamento foi valorizada não
quando alcança o estágio da definição absoluta. Essa posição
apenas por intelectuais, mas também pelo poder político.
pode ser chamada de “intelectualismo ético”: o conhecimento
No fim do século V, contudo, a Grécia passou por uma grande intelectual conduz à correção moral. Sócrates estabeleceu um
crise econômica, por derrotas militares, pela peste; igualmente, método para solução desse embate com os sofistas. Temos como
o clima de liberdade intelectual foi afetado. Um sinal dessa crise características desse método:
ateniense e grega foi o julgamento e a morte de um dos mais
importantes filósofos de todos os tempos. • Dúvida: Sócrates iniciava seu embate com uma questão,
básica e simples. Por exemplo, em um debate sobre a
felicidade ele iniciaria pela questão “O que é a felicidade?”.
SÓCRATES: TRAJETÓRIA E IDEIAS • Ironia: Sócrates afirmava não saber as respostas dos
Sócrates (470 – 399 a.C.), filho de uma parteira com um questionamentos que ele levava a proposição, isso nem
escultor, foi um valoroso soldado em sua juventude e casou-se sempre era verdadeiro, mas era uma maneira de possibilitar
com uma vendedora de legumes chamada Xantipa. A tradição o outro de expressar suas visões.
diz que Xantipa reclamava por Sócrates não levar dinheiro para • Maiêutica: Uma vez exposta a opinião, começa o processo
casa, ficando, em vez disso, o dia todo na praça conversando com em que se exerce a maiêutica (parto de ideias), fazendo o
seus jovens amigos. O que Xantipa não sabia era que a História seu interlocutor refletir e apurar seu pensamento através
recordaria seu nome somente por causa dessas conversas de seu da oposição de ideias e principalmente do questionamento
marido – conversas que não somente criaram a filosofia como
existe até hoje, mas, principalmente, influenciaram profundamente
certos pensadores, como Platão e Aristóteles, que, por sua vez, O JULGAMENTO DE SÓCRATES
foram a matriz das ciências humanas e naturais do Ocidente. Sócrates, muitas vezes, debate com os sofistas; embora
possuam objetivos muito diferentes, tanto Sócrates quanto os
sofistas compartilhavam seus meios: a argumentação. Isso levou
muitos atenienses a confundir os dois, considerando Sócrates um
sofista e os sofistas, filósofos. Sócrates foi acusado de corromper a
juventude, ensinando a tornar uma ideia fraca mais forte (justamente
o que faziam os sofistas). Considerado culpado, foi condenado a
beber veneno. Aceitou com serenidade o seu julgamento e a sua
condenação. Defrontado com a possibilidade da fuga, preferiu
enfrentar seu destino em nome da justiça; no momento da morte,
foi ele quem consolou seus amigos desesperados.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a4/Socrates_Louvre.jpg

Sócrates foi um dos mais influentes filósofos. Embora nenhum


escrito de Sócrates tenha sobrevivido, é considerado figura
paradigmática da forma como um filósofo deve viver. Sócrates
valorizava a argumentação e a razão para encontrar a verdade sobre
os conceitos utilizados pelos homens. Afirmava ser guiado por um
daimon que avisava sobre o certo e o errado; Platão sugeriu que
Sócrates apreciava experiências místicas. A maior parte de seu tempo
era utilizado em discussões filosóficas com aqueles que encontrava
nos lugares públicos de Atenas. Os rapazes jovens gostavam de https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8c/David_-_The_Death_of_Socrates.jpg
assistir às suas discussões frequentes contra os sofistas.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 37
FILOSOFIA 06 SÓCRATES

TEXTOS COMPLEMENTARES que vos pareça que eu diga qualquer coisa absurda: pois que não
é meu o discurso que estou por dizer, mas refiro-me a outro que é
digno de vossa confiança. Apresento-vos, de fato, o deus de Delfos
Texto I como testemunha de minha sabedoria, se eu a tivesse, e qualquer
Prossigamos, pois, e vejamos, de início, qual é a acusação, que fosse. Conheceis bem Xenofonte. Era meu amigo desde jovem,
de onde nasce a calúnia contra mim, baseado no qual Meleto me também amigo do vosso partido democrático, e participou de vosso
moveu este processo. Ora bem, que diziam os caluniadores ao exílio e convosco repatriou-se. E sabeis também como era Xenofonte,
caluniar-me? É necessário ler a ata da acusação jurada por esses veemente em tudo aquilo que empreendesse. Uma vez, de fato, indo
tais acusadores: – Sócrates comete crime e perde a sua obra, a Delfos, ousou interrogar o oráculo a respeito disso e – não façais
investigando as coisas terrenas e as celestes, e tornando mais rumor, por isso que digo – perguntou-lhe, pois, se havia alguém mais
forte a razão mais débil, e ensinando isso aos outros. – Tal é, mais sábio que eu. Ora, a pitonisa respondeu que não havia ninguém mais
ou menos, a acusação: e isso já vistes, vós mesmos, na comédia de sábio. E a testemunha disso é seu irmão, que aqui está.
Aristófanes, onde aparece, aqui e ali, um Sócrates que diz caminhar Considerai bem a razão por que digo isso: estou para
pelos ares e exibe muitas outras tolices, das quais não entendo demonstrar-vos de onde nasceu a calúnia. Em verdade, ouvindo
nem muito, nem pouco. isso, pensei: que queria dizer o deus e qual é o sentido de suas
E não digo isso por desprezar tal ciência, se é que há sapiência palavras obscuras? Sei bem que não sou sábio, nem muito nem
nela, mas o fato é, cidadãos atenienses, que, de maneira alguma, pouco: o que quer dizer, pois, afirmando que sou o mais sábio?
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me ocupo de semelhantes coisas. E apresento testemunhas: vós Certo não mente, não é possível. E fiquei por muito tempo em dúvida
mesmos, e peço vos informei reciprocamente, mutuamente vos sobre o que pudesse dizer; depois de grande fadiga resolvi buscar
interrogueis, quantos de vós me ouviram discursar algum dia; e a significação do seguinte modo: Fui a um daqueles detentores da
muitos dentre vós são desses. Perguntai-vos uns aos outros se sabedoria, com a intenção de refutar, por meio dele, sem dúvida,
qualquer de vós jamais me ouviu orar, muito ou pouco, em torno de o oráculo, e, com tais provas, opor-lhe a minha resposta: Este é
tais assuntos, e então reconhecereis que tais são do mesmo modo, mais sábio que eu, enquanto tu dizias que eu sou o mais sábio.
as outras mentiras que dizem de mim. Examinando esse tal: – não importa o nome, mas era, cidadãos
atenienses, um dos políticos, este de quem eu experimentava essa
Na realidade, nada disso é verdadeiro, e, se tendes ouvido de impressão. - e falando com ele, afigurou-se-me que esse homem
alguém que instruo e ganho dinheiro com isso, não é verdade. parecia sábio a muitos outros e principalmente a si mesmo, mas
Embora, em realidade, isso me pareça bela coisa: que alguém seja não era sábio. Procurei demonstrar-lhe que ele parecia sábio sem o
capaz de instruir os homens, como Górgias Leontino, Pródico de ser. Daí me veio o ódio dele e de muitos dos presentes. Então, pus-
Coo, e Hípias de Élide. Porquanto, cada um desses, ó cidadãos, me a considerar, de mim para mim, que eu sou mais sábio do que
passando de cidade em cidade, é capaz de persuadir os jovens, os esse homem, pois que, ao contrário, nenhum de nós sabe nada de
quais poderiam conversar gratuitamente com todos os cidadãos belo e bom, mas aquele homem acredita saber alguma coisa, sem
que quisessem; é capaz de persuadir a estar com eles, deixando sabê-la, enquanto eu, como não sei nada, também estou certo de
as outras conversações, compensando-os com dinheiro e não saber. Parece, pois, que eu seja mais sábio do que ele, nisso,
proporcionando-lhes prazer. ainda que seja pouca coisa: não acredito saber aquilo que não
Mas aqui há outro erudito de Paros, o qual eu soube que veio sei. Depois desse, fui a outro daqueles que possuem ainda mais
para junto de nós, porque encontrei por acaso um que despendeu sabedoria que esse, e me pareceu que todos são a mesma coisa.
com os sofistas mais dinheiro que todos os outros juntos. Cálias Daí veio o ódio também deste e de muitos outros.
de Hipônico tem dois filhos e eu o interroguei: – Cálias, se os teus Depois prossegui sem mais me deter, embora vendo,
filhinhos fossem poldrinhos ou bezerros, deveríamos escolher e amargurado e temeroso, que estava incorrendo em ódio; mas
pagar para eles um guardião, o qual os deveria aperfeiçoar nas suas também me parecia dever fazer mais caso da resposta do deus.
qualidades inerentes: seria uma pessoa que entendesse de cavalos Para procurar, pois o que queria dizer o oráculo, eu devia ir a
e de agricultura. Mas, como são homens, qual é o mestre que deves todos aqueles que diziam saber qualquer coisa. E então, cidadãos
tomar para eles? Qual é o que sabe ensinar tais virtudes, a humana atenienses, já que é preciso dizer a verdade, me aconteceu o
e a civil? Creio bem que tens pensado nisso uma vez que tem dois seguinte: procurando segundo o dedo do deus, pareceu-me
filhos. Haverá alguém ou não? – Certamente! – responde. E eu que os mais estimados eram quase privados do melhor, e que,
pergunto: – Quem é, de onde e por quanto ensina? Eveno, respondeu, ao contrário, os outros, reputados ineptos, eram homens mais
de Paros, por cinco minas. – E eu acreditaria Eveno muito feliz, se capazes, quando à sabedoria. Ora, é preciso que eu vos descreva
verdadeiramente possui essa arte e a ensina com tal garbo. Mas os meus passos, como de quem se cansava para que o oráculo
o que é certo é que também eu me sentiria altivo e orgulhoso, se se tornasse acessível a mim. Depois dos políticos, fui aos poetas
soubesse tais coisas; entretanto, o fato é, cidadãos atenienses, que trágicos, e, dos ditirâmbicos fui aos outros, convencido de que,
não sei. Algum de vós, aqui, poderia talvez se opor a mim: entre esses, eu seria de fato apanhado como mais ignorante do que
– Mas Sócrates, que é que fazes? De onde nasceram tais eles. Tomando, pois, os seus poemas, dentre os que me pareciam
calunias? Se não tivesses te ocupado em coisa alguma diversa das os mais bem feitos, eu lhes perguntava o que queriam dizer, para
coisas que fazem os outros, na verdade não terias ganho tal fama aprender também alguma coisa com eles.
e não teriam nascido acusações. Dizes, pois, o que é isso, a fim de Agora, ó cidadãos, eu me envergonho de vos dizer a verdade;
que não julguem a esmo. mas também devo manifestá-la. Pois que estou para afirmar que
Quem diz assim, parece-me que fala justamente, e eu todos os presentes teriam discorrido sobre tais versos quase
procurarei demonstrar-vos que jamais foi essa a causa produtora melhor do que aqueles que os haviam feito.
de tal fama e de tal calúnia. Ouvi-me. Talvez possa parecer a Em poucas palavras direi ainda, em relação aos trágicos, que
algum de vós que eu esteja gracejando; entretanto, sabei-o bem, não faziam por sabedoria aquilo que faziam, mas por certa natural
eu vos direi toda a verdade. Porque eu, cidadãos atenienses, se inclinação, e intuição, assim como os adivinhos e os vates; e em
conquistei esse nome, foi por alguma sabedoria. Que sabedoria verdade, embora digam muitas e belas coisas, não sabem nada
é essa? Aquela que é, talvez propriamente, a sabedoria humana. daquilo que dizem. O mesmo me parece acontecer com os outros
É, em realidade, arriscado ser sábio nela: mas aqueles de quem poetas; e também me recordo de que eles, por causa das suas
falávamos ainda há pouco seriam sábios de uma sabedoria mais poesias, acreditavam-se homens sapientíssimos ainda em outras
que humana, ou não sei que dizer, porque certo não a conheço. Não coisas, nas quais não eram. Por essa razão, pois, andei pensando que,
façais rumor, cidadãos atenienses, não fiqueis contra mim, ainda nisso eu os superava, pela mesma razão que superava os políticos.

38 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
06 SÓCRATES FILOSOFIA

Por fim, também fui aos artífices, porque estava persuadido de de dispêndio de dinheiro, reputação, criação de filhos, Críton,
que por assim dizer nada sabiam, e, ao contrário, tenho que dizer cuidado não sejam na realidade especulações próprias de quem,
que os achei instruídos em muitas e belas coisas. Em verdade, com a mesma facilidade, mataria, e se pudesse, ressuscitaria,
nisso me enganei: eles, de fato, sabiam aquilo que eu não sabia sem nenhum critério, a multidão. Nós, porém, pois que assim
e eram muito mais sábios do que eu. Mas, cidadãos atenienses, ordena a razão, não sujeitemos à consideração nada além do que
parece-me que também os artífices tinham o mesmo defeito dos há pouco dizíamos: se será procedimento justo dar dinheiro aos
poetas: pelo fato de exercitar bem a própria arte, cada um pretendia que me vão tirar daqui, suborná-los, nós mesmos promovendo a
ser sapientíssimo também nas outras coisas de maior importância, fuga e fugindo, ou se, na verdade, procederemos com injustiça em
e esse erro obscurecia o seu saber. todos esses atos, se se provar que cometeremos injustiça, não será
Assim, eu ia interrogando a mim mesmo, a respeito do que absolutamente mister indagar se devo morrer, ficando quieto aqui,
disse o oráculo, se devia mesmo permanecer como sou, nem sábio ou sofrer qualquer outra pena, antes do que praticar uma injustiça.
da sua sabedoria, nem ignorante da sua ignorância, ou ter ambas CRÍTON – Acho que falas com acerto, Sócrates; vê, pois o que
as coisas, como eles o tem. devemos fazer.
Em verdade, respondo a mim e ao oráculo que me convém ficar SÓCRATES – Vejamo-lo juntos, meu caro, e   se puderes de
como sou. Ora, dessa investigação, cidadãos atenienses, me vieram algum modo refutar-me, refuta-me e te obedecerei. Se não, cessa
muitas inimizades e tão odiosas e graves que delas se derivaram desde logo, meu boníssimo amigo, de insistir no mesmo assunto,
outras tantas calúnias e me foi atribuída a qualidade de sábio; pois de que preciso sair daqui contrariando os atenienses; porque dou
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

que, a cada instante, os presentes acreditam que eu seja sábio naquilo muita importância a proceder com o teu assentimento e não mau
que refuto os outros. Do contrário, ó cidadãos, o deus é que poderia grado teu. Vê, pois, se te parecem satisfatórios os argumentos
ser sábio de verdade, ao dizer, no oráculo, que a sabedoria humana é básicos deste exame e procura responder a minhas perguntas com
de pouco ou nenhum preço; e parece que não tenha querido dizer isso a maior sinceridade.
de Sócrates, mas que se tenha servido do meu nome, tomando-me CRÍTON – Pois não, procurarei.
por exemplo, como se dissesse: Aqueles dentre vós, ó homens, são
sapientíssimos os que, como Sócrates, tenham reconhecido que em SÓCRATES – Asseveramos que não se deve cometer injustiça
realidade não tem nenhum mérito quanto à sabedoria. voluntária em caso nenhum, ou que em alguns casos se deve, e
noutros não? Ou que de modo algum é bom nem honroso cometê-
Por isso, ainda agora procuro e investigo segundo a vontade do la, como tantas vezes no passado conviemos? E é o que acabamos
deus, se algum dos cidadãos e dos forasteiros me parece sábio; e de repetir. Porventura, todas aquelas nossas convenções de antes
quando não, indo em auxílio do deus, demonstro-lhe que não é sábio. se entornaram nestes poucos dias e, durante tanto tempo, Críton,
E, ocupado em tal investigação, não tenho tido tempo de fazer nada velhos como somos, em nossos graves entretenimentos não nos
de nada de apreciável, nem nos negócios públicos, nem nos privados, demos conta de que nada diferíamos das crianças? Ou, sem dúvida
mas encontro-me em extrema pobreza, por causa do serviço do deus. alguma é como dizíamos, quer o admita a multidão, quer não? Mais:
Além disso, os jovens ociosos, os filhos dos ricos, seguindo- ainda que tenhamos de experimentar momentos quer ainda mais
me espontaneamente, gostam de ouvir-me examinar os homens, dolorosos, quer mais suaves, o procedimento injusto, em qualquer
e muitas vezes me imitam, por sua própria conta, e empreendem hipótese, não é sempre, para quem o tem, um mal e uma vergonha?
examinar os outros; e então, encontram grande quantidade Afirmamos isso ou não?
daqueles que acreditam saber alguma coisa, mas, pouco ou nada CRÍTON – Afirmamos.
sabem. Daí, aqueles que são examinados por eles encolerizam-se
comigo assim como com eles, e dizem que há um tal Sócrates, SÓCRATES – Logo, jamais se deve proceder contra a justiça.
perfidíssimo, que corrompe os jovens. E quando alguém os CRÍTON – Jamais, por certo.
pergunta o que é que ele faz e ensina, não tem nada o que dizer, SÓCRATES – Nem mesmo retribuir a injustiça com a injustiça,
pois ignoram. Para não parecerem embaraçados, dizem aquela como pensa a multidão, pois o procedimento injusto é sempre
acusação comum, a qual é movida a todos os filósofos: que ensina inadmissível.
as coisas celestes e terrenas, a não acreditar nos deuses, e a tornar
CRÍTON – Parece que não.
mais forte a razão mais débil. Sim, porque não querem, ao meu ver,
dizer a verdade, isto é, que descobriram a presunção de seu saber, SÓCRATES – E daí? Devemos praticar maldades ou não, Críton?
quando não sabem nada. Assim, penso, sendo eles ambiciosos e CRÍTON – Não devemos, sem dúvida, Sócrates.
resolutos e em grande número, e falando de mim concordemente SÓCRATES – Adiante. Retribuir o mal que nos fazem é justo,
e persuasivamente, vos encheram os ouvidos caluniando-me de como diz a multidão, ou injusto?
há muito tempo e com persistência. Entre esses, arremessaram-se
contra mim Meleto, Anito e Licon: Meleto pelos poetas, Anito pelos CRÍTON – Absolutamente injusto.
artífices, Licon pelos oradores. De modo que, como eu dizia no SÓCRATES – Sim, porque entre fazer mal a uma pessoa e
princípio, ficaria maravilhado se conseguisse, em tão breve tempo, cometer uma injustiça, não há diferença nenhuma.
tirar do vosso ânimo a força dessa calúnia, tornada tão grande. CRÍTON – Dizes a verdade.
Eis a verdade, cidadãos atenienses, e eu falo sem esconder SÓCRATES – Em suma, não devemos retribuir a injustiça,
nem dissimular nada de grande ou de pequeno. Saibam, quantos o nem fazer mal a pessoa alguma, seja qual for o mal que ela nos
queiram, que por isso sou odiado; e que digo a verdade, e que tal é a cause. Cautela, porém, Críton, ao admitires esses princípios, não
calúnia contra mim e tais são as causas. E tanto agora como mais o faças em contradição com o teu pensamento, pois sei que
tarde ou em qualquer tempo, podereis considerar essas coisas: são essa opinião é e será de alguns poucos. Entre os que a adotam
como digo. e os que a repelem não existe um ânimo comum; fatalmente se
(PLATÃO. Apologia de Sócrates) a quererão mal uns aos outros, ao verem os propósitos uns dos
outros. Portanto, considera muito bem tu se comungas a minha
opinião, se concordas comigo e se nossa deliberação partirá do
Texto II princípio de que jamais é acertado cometer injustiça, retribuí-la,
SÓCRATES – Por conseguinte, partindo desses princípios nos vingar pelo mal que fazemos o mal que nos fazem, ou se diverges e
quais concordamos, devemos averiguar se é justo que eu tente sair não coparticipas do princípio. Quanto a mim, essa é opinião minha
daqui sem permissão dos atenienses, ou injusto: se se provar que é antiga, que ainda agora mantenho.
justo, tentemos; se não, desistamos. As considerações que aduzes, (PLATÃO. Críton)

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 39
FILOSOFIA 06 SÓCRATES

Sócrates: – Mas dize-nos [se] preferes desenvolver toda a tese que


EXERCÍCIOS queres demonstrar, numa longa exposição ou empregar o método
PROTREINO interrogativo?
Estrangeiro: – Com um parceiro assim agradável e dócil, Sócrates,
01. Quais eram os principais elementos valorizados por Sócrates? o método mais fácil é esse mesmo; com um interlocutor. Do
contrário, valeria mais a pena argumentar apenas para si mesmo.
02. Quem foi o principal discípulo de Sócrates? (Platão. O sofista, 1970. Adaptado.)

03. Aponte os três principais elementos do método socrático É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates escolheu, do ponto
04. Defina maiêutica de vista metodológico, adotar
a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição dos argumentos.
05. Com qual grupo de filósofos gregos Sócrates foi confundido?
b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos contendores.
c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao saber por
meio dos sentidos.
d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão humana na prova
EXERCÍCIOS de existência de Deus.
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

PROPOSTOS e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possibilidade do


saber humano.
01. (UNCISAL) Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou famoso
por interpelar os transeuntes e fazer perguntas aos que se achavam 05. (UNICAMP) A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que
conhecedores de determinado assunto. Mas durante o diálogo, viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de partida na afirmação
Sócrates colocava o interlocutor em situação delicada, levando-o “sei que nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase
a reconhecer sua própria ignorância. Em virtude de sua atuação, foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos
Sócrates acabou sendo condenado à morte sob a acusação de homens. Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates
corromper a juventude, desobedecer às leis da cidade e desrespeitar chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por
certos valores religiosos. Considerando essas informações sobre a reconhecer a sua própria ignorância.
vida de Sócrates, assim como a forma pela qual seu pensamento O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois
foi transmitido, pode-se afirmar que sua filosofia
a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio
a) transmitia conhecimentos de natureza científica. por querer adquirir conhecimentos.
b) baseava-se em uma contemplação passiva da realidade. b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do
c) transmitia conhecimentos exclusivamente sob a forma escrita passado, uma vez que a função da Filosofia era reproduzir os
entre a população ateniense. ensinamentos dos filósofos gregos.
d) ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormente c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o
redigidos pelo filósofo Platão. saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos
e) procurava transmitir às pessoas conhecimentos de natureza rigorosos.
mitológica. d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos
problemas concretos.
02. (UNIMONTES) Lembremos a figura de Sócrates. Dizem que
era um homem feio, mas, quando falava, exercia estranho fascínio. 06. (UNICENTRO 2012) Sobre o pensamento socrático, assinale a
Podemos atribuir a Sócrates duas maneiras de se chegar ao alternativa correta.
conhecimento. Essas duas maneiras são denominadas de a) Sócrates é autor da obra Ética a Nicômaco.
a) doxa e ironia. c) maiêutica e doxa. a) O pensamento socrático está escrito em hebraico.
b) ironia e maiêutica. d) maiêutica e episteme. b) A ironia e a maiêutica são as bases de sua filosofia.
c) Sócrates não criticou o saber dogmático, sendo, por isso,
03. (UEG) Um dos pontos altos da filosofia grega é a teoria do conselheiro dos governantes de Atenas.
conhecimento. Entre seus pensadores encontra-se Sócrates. Ao
dialogar com seus interlocutores, Sócrates assumia humildemente d) Os escritos de Aristóteles são importantes textos filosóficos
a atitude de quem aprende e, multiplicando as perguntas, levava que relatam, na maioria, o pensamento de Sócrates.
seu adversário à contradição, obrigando-o a reconhecer sua
ignorância. Esse método socrático denomina-se: 07. (UNICENTRO) Após as primeiras discussões dos filósofos
“pré-socráticos” no século VI a.C. (período cosmológico), surge
a) Alegoria, metodologia de conhecimento segundo a qual se
outro movimento muito importante na história da filosofia.
desenvolve o conhecimento a partir do senso comum.
Passa a ser abordado uma nova modalidade de problemas e
b) Maiêutica, metodologia segundo a qual a ideia é gerada ou discussões (período antropológico), e assim teremos não só as
acordada. figuras principais do novo cenário da filosofia grega, mas de toda
c) Ironia, método dialético segundo o qual é demonstrada a a história da razão ocidental: Sócrates, Platão e Aristóteles. Com
necessidade de conhecer profundamente as ideias. Sócrates, a filosofia ganha uma nova “roupagem”. Sócrates viveu
d) Criticismo, metodologia de conhecimento que parte da crítica em Atenas no momento de apogeu da cultura grega, o chamado
da razão. período clássico (séculos V e IV a.C.), fase de grande expressão na
política, nas artes, na literatura e na filosofia. O que há de mais forte
na filosofia de Sócrates é o seu método e a maneira pela qual ele
04. (UEA) O sofista é um diálogo de Platão do qual participam
buscava discutir os problemas relacionados à filosofia.
Sócrates, um estrangeiro e outros personagens. Logo no início
do diálogo, Sócrates pergunta ao estrangeiro, a que método ele A partir desta informação, e de seus conhecimentos sobre a
gostaria de recorrer para definir o que é um sofista. filosofia socrática, analise as assertivas e assinale a alternativa que
aponta as corretas.

40 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
06 SÓCRATES FILOSOFIA

I. Sócrates sempre buscava pessoas em praça pública para Assinale


dialogar e questionar sobre a realidade de seu tempo. a) se apenas a afirmação III é correta.
II. A célebre frase de Sócrates, que caracterizava parte de seu b) se as afirmações I e IV são corretas.
método é: “só sei que nada sei”, por isso questionava as ideias
de seus interlocutores. c) se apenas a afirmação IV é correta.

III. Sócrates oferecia grande importância às experiências sensíveis, d) se as afirmações II e III são corretas.
o que caracterizou fortemente o seu método filosófico.
10. (UNIOESTE) “A ignorância mais condenável não é essa de
IV. Para fazer com que os seus interlocutores enxergassem
supor saber o que não se sabe? É talvez nesse ponto, senhores, que
a verdade por si próprios, Sócrates elaborou um método
difiro do comum dos homens; se nalguma coisa me posso dizer
composto de duas partes centrais: a ironia e a maiêutica.
mais sábio que alguém, é nisto de, não sabendo o bastante sobre o
a) Apenas I e II estão corretas. Hades, não pensar que o saiba”. (Platão)
b) Apenas I, II e IV estão corretas. Neste texto, Platão apresenta a concepção socrática de Filosofia.
c) Apenas III e IV estão corretas. Sobre ela, seguem as seguintes afirmações:
d) Apenas I, II e III estão corretas. I. A verdade torna o homem melhor, pois tem como resultado
e) Apenas I e IV estão corretas. ultrapassar o homem comum.
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

II. Saber que nada se sabe é o primeiro passo para se atingir a


08. (UFU) Em um importante trecho da sua obra Metafísica, verdade.
Aristóteles se refere a Sócrates nos seguintes termos: III. O método socrático (a maiêutica) é irônico, porque pressupõe
Sócrates ocupava-se de questões éticas e não da natureza em sua saber que nada se sabe.
totalidade, mas buscava o universal no âmbito daquelas questões, IV. O saber que nada se sabe permite ao indivíduo livrar-se dos
tendo sido o primeiro a fixar a atenção nas definições. preconceitos e abrir caminho até o conhecimento verdadeiro.
Aristóteles. Metafísica, A6, 987b 1-3. V. O constante questionamento deve ser a atividade fundamental
Tradução de Marcelo Perine.São Paulo: Loyola, 2002.
do filósofo.
Das proposições feitas acima
Com base na filosofia de Sócrates e no trecho supracitado, assinale a) apenas II e IV são corretas. d) todas elas são corretas.
a alternativa correta.
b) I, II e V são corretas. e) todas elas são incorretas.
a) O método utilizado por Sócrates consistia em um exercício
dialético, cujo objetivo era livrar o seu interlocutor do erro e c) II, III e IV são corretas.
do preconceito − com o prévio reconhecimento da própria
ignorância −, e levá-lo a formular conceitos de validade 11. (UEM 2009 - adaptado) Sócrates foi um dos mais importantes
universal (definições). filósofos da antiguidade. Para ele, a filosofia não era um simples
conjunto de teorias, mas uma maneira de viver. Sobre o pensamento
b) Sócrates era, na verdade, um filósofo da natureza. Para ele, a
e a vida de Sócrates, assinale o que for correto.
investigação filosófica é a busca pela “Arché”, pelo princípio
supremo do Cosmos. Por isso, o método socrático era idêntico a) Sócrates acreditava que passar a vida filosofando, isto é, a
aos utilizados pelos filósofos que o antecederam (Pré-socráticos). examinar a si mesmo e a conduta moral das pessoas, constitui-
se em perda de tempo e uma atitude contra a vontade de Deus.
c) O método socrático era empregado simplesmente para
ridicularizar os homens, colocando-os diante da própria b) Nas conversações que mantinha nos lugares públicos da
ignorância. Para Sócrates, conceitos universais são inatingíveis Atenas do século V a.C., Sócrates repetia a necessidade da
para o homem; por isso, para ele, as definições são sempre formulação de verdades absolutas.
relativas e subjetivas, algo que ele confirmou com a máxima “o c) Em polêmica com Aristóteles, para quem a cidade nasce de
Homem é a medida de todas as coisas”. um acordo ou de um contrato social, Sócrates escreveu a
d) Sócrates desejava melhorar os seus concidadãos por meio da República, na qual demonstra ser o homem um animal político.
investigação filosófica. Para ele, isso implica não buscar “o que d) O exercício da filosofia, para Sócrates, consistia em questionar
é”, mas aperfeiçoar “o que parece ser”. Por isso, diz o filósofo, e em investigar a natureza dos princípios e dos valores que
o fundamento da vida moral é, em última instância, o egoísmo, devem governar a vida. Assim se comportando, Sócrates
ou seja, o que é o bem para o indivíduo num dado momento de construiu amizades de poderosos que defendiam essa atitude
sua existência. frente ao mundo.
e) A maiêutica socrática é a arte de trazer à luz, por meio de
09. (UFU) O método argumentativo de Sócrates (469-399 a.C.) perguntas e de respostas, a verdade ou os conhecimentos
consistia em dois momentos distintos: a ironia e a maiêutica. Sobre mais importantes à vida que cada pessoa retém em sua alma.
a ironia socrática, pode-se afirmar que
I. tornava o interlocutor um mestre na argumentação sofística; 12. (UEM 2008 - adaptado) Sócrates representa um marco
II. levava o interlocutor à consciência de que seu saber era importante da história da filosofia; enquanto a filosofia pré-
baseado em reflexões, cujo conteúdo era repleto de conceitos socrática se preocupava com o conhecimento da natureza (physis),
vagos e imprecisos; Sócrates procura o conhecimento indagando o homem. Assinale o
que for correto.
III. tinha um caráter purificador, à medida que levava o interlocutor
a confessar suas próprias contradições e ignorâncias; a) Sócrates, para não ser condenado à morte, negou, diante dos
seus juízes, os princípios éticos da sua filosofia.
IV. tinha um sentido depreciativo e sarcástico da posição do
interlocutor. b) Discípulo de Parmênides, Platão utilizou, como protagonista da
maior parte de seus diálogos, o seu mestre.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 41
FILOSOFIA 06 SÓCRATES

c) O método socrático compõe-se de três partes: dúvida, a 16. (ENEM 2017) Uma conversação de tal natureza transforma o
maiêutica e a ironia. ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e embaraça; leva a refletir
d) Tal como os sofistas, Sócrates costumava cobrar dinheiro sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma direção incomum: os
pelos seus ensinamentos. temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele
todo o bem de que são capazes, mas fogem porque receiam essa
e) Sócrates, ao afirmar que só sabia que nada sabia, queria, influência poderosa, que os leva a se censurarem. E sobretudo a esses
com isso, sinalizar a necessidade de adotar uma nova atitude jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação.
diante do conhecimento e apontar um novo caminho para a
sabedoria, sendo esse através da formulação de posições BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

inquestionáveis.
O texto evidencia características do modo de vida socrático, que
se baseava na
13. O diálogo socrático de Platão é obra baseada em um sucesso
histórico: no fato de Sócrates ministrar os seus ensinamentos sob a) contemplação da tradição mítica.
a forma de perguntas e respostas. Sócrates considerava o diálogo b) sustentação do método dialético.
como a forma por excelência do exercício filosófico e o único c) relativização do saber verdadeiro.
caminho para chegarmos a alguma verdade legítima.
d) valorização da argumentação retórica.
De acordo com a doutrina socrática,
e) investigação dos fundamentos da natureza.
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

a) a busca pela essência do bem está vinculada a uma visão


antropocêntrica da filosofia.
17. (UPE-SSA 1 2017) Leia o texto a seguir:
b) é a natureza, o cosmos, a base firme da especulação filosófica.
O exemplo dos filósofos gregos nos deixou uma grande lição: nunca
c) o exame antropológico deriva da impossibilidade do se conformar com as estruturas existentes como se fossem as
autoconhecimento e é, portanto, de natureza sofística. únicas possíveis. Quem quer ser criativo no seu momento histórico
d) a impossibilidade de responder (aporia) aos dilemas humanos deve refletir atenta e criticamente: é preciso filosofar. Filosofar é
é sanada pelo homem, medida de todas as coisas preciso para participar criativamente da luta pela humanização.
CORDI, Cassiano e Outros. Para Filosofar, 2000, p. 18.
14. A Grécia foi o berço da filosofia, destacando-se pela presença
dos filósofos que pensaram o mundo em que viveram utilizando a No tocante ao pensamento grego, assinale a alternativa CORRETA.
ferramenta da razão. O período da história grega e o filósofo que a) No pensamento grego, o diálogo foi o exercício da filosofia de
afirmou que “só sei que nada sei” foram respectivamente o Sócrates para expandir um projeto de humanização.
a) período pós-clássico e Sócrates. b) No pensamento grego, a busca pelo bem na vida em sociedade
b) período helenístico e Platão. estaria dissociada da criticidade.
c) período clássico e Sócrates. c) Filosofar é refletir as estruturas existentes; o bem e a verdade
d) período clássico e Platão. seriam separáveis do ato de humanização.
d) No pensamento grego, o conhecimento deve estar atrelado às
15. impressões sensoriais; ser criativo é permanecer na esfera da
opinião.
e) A dimensão relacional entre o conceito e a realidade tem valor
secundário na esfera crítica da filosofia.

18. (UPE-SSA 2 2017) Sobre Filosofia e Reflexão, considere o texto


a seguir:
Sobre a Filosofia e Reflexão
Exprimir-se-á bem a ideia de que a filosofia é procura e não posse,
definindo o trabalho filosófico como um trabalho de reflexão. O
modelo de reflexão filosófica – e ao mesmo tempo seu exemplo
mais acessível – é a “ironia” socrática.
HUISMAN, Denis; VERGEZ, André. Compêndio Moderno de Filosofia, 1987, p. 25.

O autor acima enfatiza o exemplo sobre Filosofia e Reflexão:


Na obra retratada o filósofo Sócrates aparece discursando logo a) no ato de interrogar os interlocutores, Sócrates expressava sua
antes de beber o veneno que o levaria a morte, para tristeza de seus atitude reflexiva.
discípulos. O cálice de cicuta foi a condenação imposta a Sócrates b) a reflexão filosófica se inicia na consciência e na posse do saber.
por c) a reflexão filosófica nos faz refletir ao ensinar sua opinião com
a) se recusar a participar de suas obrigações militares. certeza irrefutável.
b) aceitar as influências estrangeiras em Atenas. d) na reflexão filosófica, Sócrates expressava sua opinião como
c) lucrar muito com a atividade dos sofistas. verdadeira.
d) representar a importância de sempre se questionar. e) ao perguntar, Sócrates delimitava o modelo e a posse da
sabedoria.
e) defender o porte de armas nas cidades gregas.

42 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
06 SÓCRATES FILOSOFIA

19. (PUCPR 2017) Na primeira parte da Apologia de Sócrates, 02. (UFU 2006) Em diversos diálogos platônicos, a personagem
escrita por Platão, Sócrates apresenta a sua defesa diante dos de Sócrates é caracterizada por um procedimento investigativo
cidadãos atenienses, afirmando que: “(...) considerai o seguinte e refutatório que se contrapõe ao gênero de discurso empregado
só prestai atenção a isto: se o que digo é justo ou não. Essa de fato pelos mestres de retórica. Tomando o seguinte extrato do Górgias
é a virtude do juiz, do orador (...)” (PLATÃO, 2000\2003, p.4). A partir como ponto de partida, explicite:
da análise do fragmento, qual é, segundo Sócrates, a virtude do juiz, a) os temas que compõem o campo de investigação da Filosofia
do orador, a que se refere o texto em questão? socrática;
a) Lidar com a mentira. b) o modo como a refutação socrática opera.
b) Dizer a verdade.
c) Tergiversar a verdade. 03.(UFU 2015) Há um abismo imenso que separa esta escala de
d) Convencer-se das acusações. valores que Sócrates proclama com tanta evidência e a escala
popular vigente entre os gregos e expressa na famosa canção
e) É deixar-se guiar somente pela defesa. báquica antiga:
O bem supremo do mortal é a saúde;
20. (UEL 2018) Sócrates, Giordano Bruno e Galileu foram
pensadores que defenderam a liberdade de pensamento frente O segundo, a formosura do corpo;
às restrições impostas pela tradição. Na Apologia de Sócrates, a O terceiro, uma fortuna adquirida sem mácula;
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

acusação contra o filósofo é assim enunciada: O quarto, desfrutar entre amigos o esplendor da juventude.
Sócrates [...] é culpado de corromper os moços e não acreditar nos JAEGER, W. Paideia. São Paulo: Martins Fontes, 1995, pp. 528-529.
deuses que a cidade admite, além de aceitar divindades novas (24b-c).
Ao final do escrito de Platão, Sócrates diz aos juízes: Responda:
Mas, está na hora de nos irmos: eu, para morrer; vós, para viver. A a) O que é o homem para Sócrates?
quem tocou a melhor parte, é o que nenhum de nós pode saber, b) Qual é a relação entre o que define o homem e a máxima délfica
exceto a divindade. (42a). “Conhece-te a ti mesmo”?
(PLATÃO. Apologia de Sócrates. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2001. p.
122-23; 147.) 04. (UFU 2000) “Pois eu, Atenienses, devo essa reputação
exclusivamente a uma sabedoria. Qual vem a ser esta sabedoria?
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a disputa entre A que é, talvez, a sabedoria humana. É provável que eu a possua
filosofia e tradição presente na condenação de Sócrates, assinale realmente, os mestres mencionados há pouco possuem, talvez
a alternativa correta. uma sobre-humana, ou não sei que diga, porque essa eu não
a) O desprezo socrático pela vida, implícito na resignação à sua aprendi, e quem disser o contrário me estará caluniando.”
pena, é reforçado pelo reconhecimento da soberania do poder “Submeti a exame essa pessoa - é escusado dizer o seu nome;
dos juízes. era um dos políticos. Eis, Atenienses, a impressão que me ficou do
b) A aceitação do veredito dos juízes que o condenaram à morte exame e da conversa que tive com ele; achei que ele passava por
evidencia que Sócrates consentiu com os argumentos dos sábio aos olhos de muita gente, principalmente aos seus próprios,
acusadores. mas não o era. Meti-me, então, a explicar-lhe que supunha ser
c) A acusação a Sócrates pauta-se na identificação da sábio, mas não o era. A consequência foi tornar-me odiado dele e
insuficiência dos seus argumentos, e a corrupção que provoca de muitos dos circundantes.(...) ele supõe saber alguma coisa mas
resulta das contradições do seu pensamento. não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber.”
d) A crítica de Sócrates à tradição sustenta-se no repúdio às “E se algum de vós redarguir que se importa, não me irei embora
instituições que devem ser abandonadas em benefício da deixando-o, mas o hei de interrogar, examinar e confundir e, se
liberdade de pensamento. me parecer que afirma ter adquirido a virtude e não a adquiriu,
hei de repreendê-lo por estimar menos o que vale mais e mais o
e) A sentença de morte foi aceita por Sócrates porque morrer não que vale menos.”
é um mal em si e o livre pensar permite apreender essa verdade (Platão, Defesa de Sócrates.
São Paulo, Abril Cultural, 1973. 20d/e; 21c; 29e).

A partir dos textos citados caracterize a filosofia socrática.


EXERCÍCIOS DE
05. APROFUNDAMENTO 05.(UNESP 2010) Em 399 a.C., o filósofo Sócrates é acusado
de graves crimes por alguns cidadãos atenienses. (...) Em seu
01.(UFU 2008) No livro I da República de Platão, o sofista Trasímaco julgamento, segundo as práticas da época, diante de um júri de 501
faz a seguinte consideração. cidadãos, o filósofo apresenta um longo discurso, sua apologia ou
defesa, em que, no entanto, longe de se defender objetivamente
– Ó Heracles! Aí está a habitual ironia de Sócrates... Eu sabia disso
das acusações, ironiza seus acusadores, assume as acusações,
e aos presentes já havia prevenido que tu não quererias responder,
dizendo-se coerente com o que ensinava, e recusa a declarar-se
que fingirias nada saber e tudo farias, menos responder, se alguém
inocente ou pedir uma pena. Com isso, ao júri, tendo que optar pela
te fizesse uma pergunta.
acusação ou pela defesa, só restou como alternativa a condenação
PLATÃO. República.Trad. de Anna Lia Amaral de Almeida Prado.
São Paulo: Martins Fontes, 2006. p. 18.
do filósofo à morte.
(Danilo Marcondes. Iniciação à História da Filosofia, 1998. Adaptado.)
A partir da leitura do texto acima, responda as seguintes questões.
Com base no texto apresentado, explique quais foram os motivos
a) O que é a ironia Socrática? da condenação de Sócrates à morte.
b) Com qual finalidade Sócrates é irônico?

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 43
FILOSOFIA 06 SÓCRATES

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS 03.
01. D 05. A 09. D 13. A 17. A a) O homem para Sócrates é entendido como um ser dotado de uma alma, sendo que
sua alma é o que lhe confere diferenciação entre todas as outras coisas. O corpo
02. B 06. C 10. D 14. C 18. A
para Sócrates representa um instrumento pelo qual utilizamos para promover o
03. C 07. B 11. E 15. C 19. B enobrecimento desta alma, por meio de nossas ações, portanto deve possuir saúde
04. A 08. A 12. C 16. B 20. E e harmonia física e ser capaz de possuir condições para desempenhar funções na
cidade que se revertam em condições materiais que garantam o seu sustento. A
EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO inteligência é o instrumento da alma e tem por finalidade promover condições para
o homem aprimorar-se, a reflexão. Desta forma, o homem deve buscar ampliar seu
01. conhecimento, controlar suas emoções, desenvolver suas potencialidades agindo por
a) A ironia socrática é uma parte do método utilizado por Sócrates para refutar seus meio da conduta virtuosa. A reflexão realiza a união entre a reflexão e a ação virtuosa,
interlocutores, quando esses acreditam e, até mesmo, anunciam possuir um saber. com isto ocorre o aprimoramento moral que aperfeiçoa o caráter e enobrece a alma.
Nesse sentido, a ironia socrática é um método de combater pretensos saberes. b) Sócrates expõe em sua filosofia que o homem somente pode cuidar de si na medida
Sócrates não é um dissimulado, alguém que finge nada saber, pois, na verdade, ele se em que conhece sua própria natureza. Para isto o homem deve buscar na ciência
reconhece como ignorante; sua sabedoria consiste em saber que não sabe, isto é, em (conhecimento) a capacidade de refletir para poder desenvolver-se em plenitude. Uma
ter consciência de sua ignorância. Por causa disso, Sócrates adotou como finalidade vez posta em ação o conhecimento de si, o homem pode então partir para a ação refletida,
de sua filosofia interrogar (ou refutar) todos aqueles que se julgam sábios. ou seja, uma vez que o homem possui conhecimento de sua essência ele pode então
b) Embora o sofista Trasímaco considere a ironia socrática uma dissimulação, ou melhorar sua vida através da ação virtuosa na qual ocorre a coerência entre a reflexão
seja, uma estratégia para se desviar dos temas debatidos, sabe-se que o intuito de e a ação, produzindo um melhor estado de vida. Por meio do próprio conhecimento o
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

Sócrates não se identifica com um “fingir nada saber”. O método dialético de Sócrates homem é capaz de conhecer seu semelhante e com isto é capaz de agir corretamente no
pressupõe pelo menos dois interlocutores – um perguntador e um respondedor –, intuito de buscar a verdade em todas as ações que realiza. Com este autoconhecimento
característica imprescindível para a efetivação do método. Sendo assim, se Sócrates de si e dos outros, o homem pode atingir a verdadeira felicidade.
é irônico para não dar resposta aos seus interlocutores, não é para fingir não saber, 04. Os trechos citados no enunciado servem para compreender como Sócrates
mas para se posicionar no papel de interrogador no processo dialético; o que lhe compreende o papel do filósofo na polis. Para ele, o filósofo deveria conduzir as pessoas
permitirá efetivar seu método. à sabedoria e à verdade, que ocorreria, antes de tudo, por um conhecimento de si mesmo.
Na presente questão, deverá ser concedido para a resposta que reconhecer que a ironia Tal conhecimento se dá mediante o método socrático da maiêutica, que faz com que o
socrática tem por finalidade situar Sócrates no papel de perguntador no processo interlocutor do filósofo perceba o caráter contraditório de suas crenças e, a partir daí, dê
dialético de perguntas e respostas. à luz novas ideias.
02. 05. É importante, antes de mencionar os motivos pelos quais condenaram Sócrates à
a) A filosofia socrática tem como temas principais a verdade, a moral, a política, a morte, dizer que quando falava, era dono de um estranho fascínio. Requisitado por muitos
virtude e o conhecimento. jovens, passava horas discutindo na praça pública, assim, interpelava a todos assumindo
ser ignorante e fazia perguntas aos que julgavam entender sobre um determinado
b) A refutação socrática opera mediante a atividade dialética. Fazendo perguntas ao assunto colocando qualquer um em tal situação que não havia um outro jeito a não ser
seu interlocutor e refutando cada uma de suas crenças (procedimento que se chama reconhecer sua própria ignorância. Com isso Sócrates além de discípulos, conseguiu
ironia) Sócrates faz como que ele chegue ao estado de aporia, que significa dar-se inúmeros inimigos. Sócrates foi acusado de corromper a mocidade e desconhecer os
conta de que nada sabe. A partir disso, o interlocutor está apto para a maiêutica, que deuses da cidade, por isto, foi condenado à morte. A história de sua condenação, defesa e
significa dar à luz novas ideias. morte é contada num dos mais belos diálogos de Platão, Apologia de Sócrates.

ANOTAÇÕES

44 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
07
FILOSOFIA
PLATÃO I

A POLÍTICA EM PLATÃO motivo, os artistas, os poetas, devem ser banidos da cidade ideal.
Como se pode notar, a concepção de Estado ideal de Platão é uma
Na obra A República, Platão expõe sua concepção de sociedade, concepção totalitária. De fato, ao propor que o povo não sabe o
de política e de arte. Platão, nesse livro, propõe um Estado ideal, que é melhor para si mesmo, e que é necessário que exista uma
uma utopia. Nessa utopia, todas as peças da sociedade deveriam classe de governantes iluminados que conheça com exclusividade
estar perfeitamente encaixadas no lugar certo, pois somente assim a Verdade e saiba o que é melhor para todos, Platão cria a matriz de
tudo funcionaria corretamente. inúmeras ideologias totalitárias posteriores.
Em primeiro lugar, o objetivo do Estado ideal deve ser a Justiça
e o Bem. Contudo, um Estado só pode alcançar a Justiça e o Bem
quando a sua classe governante conhece a ideia perfeita e absoluta
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

de Justiça e de Bem.
O povo não deseja conhecer o Mundo das Ideias; o povo
deseja apenas satisfazer seus apetites imediatos, vivendo
contente no Mundo das Aparências. Portanto, o povo não pode
governar. Assim, Platão afirma que a democracia (o governo do
povo) é um regime inadequado.
Platão era um aristocrata: considerava que apenas os
melhores homens deveriam governar o Estado. Ele representava as
diferentes castas sociais fazendo uma analogia com as partes do
corpo e da alma:
• a casta produtiva, equivalente ao abdômen no corpo, https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/88/Plato_Silanion_Musei_
corresponde à parte da alma responsável pelos apetites, Capitolini_MC1377.jpg/400px-Plato_Silanion_Musei_Capitolini_MC1377.jpg
e é composta pelos trabalhadores, carpinteiros, artesãos,
fazendeiros, mercadores;
• a casta protetora, equivalente ao peito no corpo, TEXTOS COMPLEMENTARES
corresponde à parte da alma responsável pelo “espírito”,
pela coragem, e é composta pelos militares;
• a casta governante (legisladores ou Rei Filósofo), equivalente
TEXTO I
à cabeça, corresponde à parte da alma responsável pela SÓCRATES - No Estado, todos vós sois irmãos (...) mas o deus,
razão, e é composta pelos cidadãos inteligentes, racionais, ao plasmar-vos, a todos os que eram aptos para mandar, infundiu
autocontrolados, que amam a sabedoria. ouro em vosso interior ao gerar-vos, por serdes os mais dignos;
misturou prata na composição de todos os aptos para serem
Podemos ainda representar analogia através do esquema abaixo:
defensores; porém, ferro e bronze na composição dos camponeses
CORPO ALMA VIRTUDE ESTADO e outros artesãos. (...) Aos governantes, principalmente, e antes
de tudo, ordenou o deus que nada vigiem melhor do que à prole
CABEÇA RAZÃO SABEDORIA GOVERNANTES
(...) e se um seu filho chegar a conter bronze e ferro, de nenhuma
PEITO VONTADE CORAGEM GUERREIROS maneira se apiedem, mas dando-lhe um cargo adequado com
a sua natureza, o releguem entre os artesãos e os camponeses,
ABDÔMEN DESEJO TEMPERANÇA TRABALHADORES
e se, em troca, um destes nascer com mistura de ouro e prata,
Segundo esse modelo, a democracia ateniense não é boa, honrando-o, elevem-no à classe dos guardiões ou defensores.
pois todos os homens livres governam, quando na verdade apenas (PLATÃO. A República)
poucos estão aptos a governar. Platão diz que os governantes,
numa democracia, são os que têm maior capacidade retórica, mas TEXTO II
deveriam ser os que têm maior sabedoria.
SÓCRATES – Aqueles que se possuem por meio de compra,
Para Platão, um Estado governado por diferentes tipos de alma que sem discussão possam chamar-se escravos, não participam
declina da aristocracia (governo dos melhores) para a timocracia em absoluto da arte régia.
(governo dos honráveis), e, então, para a oligarquia (governo de
poucos), para a democracia (governo do povo) e, finalmente, para a GLÁUCO – E de que maneira poderiam participar?
tirania (governo de um tirano). De qualquer modo, o pior governo é a SÓCRATES – E então? E todos os que entre livres se dedicam
democracia. Uma democracia ruim é ainda pior que uma tirania ruim, espontaneamente a atividades servis, como os anteriormente
pois, em uma tirania ruim, há apenas uma pessoa praticando o mau citados, transportando e permutando os produtos da agricultura
governo; em uma democracia ruim, todo o povo pratica o mau governo, e das outras atividades; aqueles que, indo de cidade em cidade,
e, portanto, todo o povo é culpado. Platão propõe que, no Estado ideal, nos mercados, por mar ou por terra, trocando dinheiro por outras
a classe governante deve manter o rígido controle sobre todas as coisas ou por dinheiro, aqueles a quem chamamos de banqueiros,
atividades da população, inclusive com a utilização da censura. comerciantes, marinheiros e revendedores, poderiam por acaso
reivindicar para si algo da ciência política? (...) Mas nem mesmo os
Para Platão, tudo o que afastar as pessoas do caminho da que vemos dispostos a prestar serviços a todos por salários ou por
verdade deve ser removido da cidade. A arte, segundo o filósofo, mercês, nunca os encontraremos partícipes da arte de governar...
é imitação da vida comum; portanto, a arte é imitação do Mundo Que nome lhes daremos?
das Aparências; o que significa que a arte é imitação da imitação. SÓCRATES – Como agora acabas de dizer: servidores, mas não governadores dos Estados
Logo, a arte está dois níveis distante do Mundo das Ideias. Por este (PLATÃO. Político)

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FILOSOFIA 07 PLATÃO I

a) aos guerreiros, porque somente eles teriam força para obrigar


EXERCÍCIOS todos a agirem corretamente.
PROTREINO b) aos tiranos, porque somente eles unificariam a sociedade sob
a mesma vontade.
01. Aponte os principais objetivos do Estado para Platão c) aos mais ricos, porque somente eles saberiam aplicar bem os
recursos da sociedade.
02. Qual são as formas de governo apresentada por Platão?
d) aos demagogos, porque somente eles convenceriam a maioria
03. Qual é o pior tipo de governo para Platão? a agir de modo organizado.
04. Qual a forma de governo ideal para Platão? e) aos filósofos, porque somente eles disporiam de conhecimento
verdadeiro e imutável.
05. Defina sofocracia.
04. (ENEM)

EXERCÍCIOS
PROPOSTOS
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

01. (UEPA) Leia o texto para responder à questão.


Platão:
A massa popular é assimilável por natureza a um animal escravo
de suas paixões e de seus interesses passageiros, sensível à lisonja,
inconstante em seus amores e seus ódios; confiar-lhe o poder é No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado apontando para
aceitar a tirania de um ser incapaz da menor reflexão e do menor rigor. o alto. Esse gesto significa que o conhecimento se encontra em
Quanto às pretensas discussões na Assembleia, são apenas disputas uma instância na qual o homem descobre a
contrapondo opiniões subjetivas, inconsistentes, cujas contradições e a) suspensão do juízo como reveladora da verdade.
lacunas traduzem bastante bem o seu caráter insuficiente. b) realidade inteligível por meio do método dialético.
(Citado por: CHATELET, F. História das Ideias Políticas.Rio de Janeiro: Zahar, 1997, p. 17)
c) salvação da condição mortal pelo poder de Deus.
Os argumentos de Platão, filósofo grego da antiguidade, evidenciam d) essência das coisas sensíveis no intelecto divino.
uma forte crítica à: e) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade.
a) oligarquia. c) democracia. e) plutocracia.
b) república. d) monarquia. 05. (UEG 2009) Para Platão, a polis é o modelo de vida em grupo. É
na República que o autor apresenta os vários grupos que compõem
02. (ENEM) Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides a sociedade. De acordo com suas ideias, o grupo que deve governar
era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não a polis é o dos:
de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto a) comerciantes que, sabendo da importância das riquezas para
racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro as Cidades-estado da Grécia, levariam riquezas para a polis.
em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina b) filósofos que, por conhecer a verdade e o bem através da
das Ideias formava-se em sua mente. contemplação do mundo das ideias, proporcionariam o maior
ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia.São Paulo: Odysseus, 2012 bem comum a todos.
(adaptado).
c) guerreiros, pois se caracterizavam por sua força, integridade
O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto e seu grande amor aos sentimentos mais nobres, como
essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427–346 a.C.). De fidelidade e bravura.
acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação? d) trabalhadores que, por meio das mais diversas profissões e
a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas. movidos pela ambição do lucro, garantiriam o sustento de toda
a polis.
b) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles.
e) mulheres, pelo entendimento sensível das questões inatas aos
c) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação
seres humanos.
são inseparáveis.
d) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a
06. (UEL 2014) A República de Platão consiste na busca racional
sensação não.
de uma cidade ideal. Sua intenção é pensar a política para além do
e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é horizonte da decadência da cidade-Estado no século de Péricles. O
superior à razão. esquema a seguir mostra como se organizam as classes, segundo
essa proposta.
03. (UFF) Segundo Platão, as opiniões dos seres humanos sobre
a realidade são quase sempre equivocadas, ilusórias e, sobretudo,
passageiras, já que eles mudam de opinião de acordo com as
circunstâncias. Como agem baseados em opiniões, sua conduta
resulta quase sempre em injustiça, desordem e insatisfação, ou
seja, na imperfeição da sociedade.
Em seu livro A República, ele, então, idealizou uma sociedade
capaz de alcançar a perfeição, desde que seu governo coubesse
exclusivamente

46 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
07 PLATÃO I FILOSOFIA

livremente se escolhem.
c) O reconhecimento da honra como fundamento da organização
do Estado Ideal torna legítima a supremacia dos melhores
sobre as classes inferiores.
d) A condição necessária para que se realize o Estado Ideal é que
Com base na obra de Platão e no esquema, atribua V (verdadeiro) as ocupações próprias de homens e mulheres sejam atribuídas
ou F (falso) às afirmativas a seguir. por suas qualidades distintas.
( ) As três imagens do Bem na cidade justa de Platão, o Anel de e) O Estado Ideal apresenta-se como a tentativa de organizar a
Giges, a Imagem da Linha e a da Caverna, correspondem, sociedade dos melhores fundada na riqueza como valor supremo.
respectivamente, à organização das três classes da República.
( ) Na cidade imaginária de Platão, em todas as classes se 09. (UENP) Platão foi um dos filósofos que mais influenciaram a
contestam a família nuclear e a propriedade privada, fatores cultura ocidental. Para ele, a filosofia tem um fim prático e é capaz
indispensáveis à constituição de uma comunidade ideal. de resolver os grandes problemas da vida. Considera a alma humana
prisioneira do corpo, vivendo como se fosse um peregrino em busca
( ) Na cidade platônica, é dever do filósofo supri-la materialmente do caminho de casa. Para tanto, deveria transpor os limites do corpo
com bens duráveis e alimentos, bem como ser responsável e contemplar o inteligível. Assinale a alternativa correta.
pela sua defesa.
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

a) A teoria das ideias não pode ser considerada uma chave de


( ) O conceito de justiça na cidade platônica estende-se do plano leitura aplicável a todo pensamento platônico.
político à tripartição da alma, o que significa que há justiça na
República mesmo havendo classes e diferenças entre elas. b) Como Sócrates, Platão desenvolveu uma ética racionalista que
desconsiderava a vontade como elemento fundamental entre
( ) O filósofo, pertencente à classe dos magistrados, é aquele cuja os motivadores da ação. Ele acreditava que o conhecimento do
tarefa consiste em apresentar a ideia do Bem e ordenar os bem era suficiente para motivar a conduta de acordo com essa
diferentes elementos das classes, produzindo a sua harmonia. ideia (agir bem).
Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, a sequência c) Platão propõe um modelo de organização política da sociedade
correta. que pode ser considerado estamental e antidemocrático. Para
a) V – V – F – F – F d) F – V – F – V – F ele, o governo não deveria se pautar pelo princípio da maioria. As
b) V – F – V – V – F e) F – F – F – V – V almas têm natureza diversa, de acordo com sua composição,
c) F – V – V – F – V isso faz com que os homens devam ser distribuídos de acordo
com essa natureza, divididos em grupos encarregados do
07. Diferente de seu mestre Platão, Aristóteles concebia o governo, do controle e do abastecimento da polis.
mundo em que vivemos, suficiente para encontrarmos
d) Platão chamava o conhecimento da verdade de doxa e o
as explicações para as nossas perguntas, sem precisar, portanto,
contrapõe a uma outra forma de conhecimento (inferior)
recorrer ao mundo inteligível ou das ideias.
denominada episteme.
(Paulo Andrade)
e) Para Platão, a essência das coisas é dada a partir da análise de
O trecho se mostra correto porque suas causas material e final.
a) Aristóteles, mesmo sendo discípulo de Platão, renegou por
completo a teoria platônica e em nada foi influenciado. 10. (IFSP) “– Mas escuta, a ver se eu digo bem. O princípio que
de entrada estabelecemos que devia observar-se em todas as
b) Platão estabelecia os sentidos como fonte de conhecimento circunstâncias, quando fundamos a cidade, esse princípio é,
seguro, como fonte da verdade, acessível no mundo inteligível. segundo me parece, ou ele ou uma das suas formas, a justiça. Ora
c) Aristóteles não concebia a imaterialidade dos conceitos e por nós estabelecemos, segundo suponho, e repetimo-lo muitas vezes,
isso defendia a impossibilidade da metafísica. se bem te lembras, que cada um deve ocupar-se de uma função na
d) a filosofia grega possui uma visão única da natureza e da cidade, aquela para qual a sua natureza é mais adequada.”
verdade, não só em Platão e Aristóteles, mas em todos os seus (PLATÃO. A República. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. 7 ed. Lisboa: Calouste-
Gulbenkian, 2001, p. 185.)
pensadores.
e) Platão defendia que o mundo sensível, transitório e imperfeito, Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concepção
nos afasta da verdade. Ao passo que Aristóteles promoveu platônica de justiça, na cidade ideal, assinale a alternativa correta.
uma revalorização da natureza e dos sentidos.
a) Para Platão, a cidade ideal é a cidade justa, ou seja, a que
respeita o princípio de igualdade natural entre todos os seres
08. (UEL) No pensamento ético-político de Platão, a organização humanos, concedendo a todos os indivíduos os mesmos
no Estado Ideal reflete a justiça concebida como a disposição das direitos perante a lei.
faculdades da alma que faz com que cada uma delas cumpra a função
que lhe é própria. No Livro V de A República, Platão apresentou o b) Platão defende que a democracia é fundamento essencial para
Estado Ideal como governo dos melhores selecionados. Para garantir a justiça, uma vez que permite a todos os cidadãos o exercício
que a raça dos guardiões se mantivesse pura, o filósofo escreveu: direto do poder.

“É preciso que os homens superiores se encontrem com as mulheres c) Na cidade ideal platônica, a justiça é o resultado natural das
superiores o maior número de vezes possível, e inversamente, os ações de cada indivíduo na perseguição de seus interesses
inferiores com as inferiores, e que se crie a descendência daqueles, pessoais, desde que esses interesses também contribuam
e a destes não, se queremos que o rebanho se eleve às alturas”. para o bem comum.
(Adaptado de: PLATÃO. A República. 7. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993, p.227-228.) d) Para Platão, a formação de uma cidade justa só é possível
se cada cidadão executar, da melhor maneira possível, a sua
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento função própria, ou seja, se cada um fizer bem aquilo que lhe
ético-político de Platão é correto afirmar: compete, segundo suas aptidões.
a) No Estado Ideal, a escolha dos mais aptos para governar a sociedade e) Platão acredita que a cidade só é justa se cada membro do
expressa uma exigência que está de acordo com a natureza. organismo social tiver condições de perseguir seus ideais,
b) O Estado Ideal prospera melhor com uma massa humana exercendo funções que promovam sua ascensão econômica
difusamente misturada, em que os homens e mulheres e social.

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FILOSOFIA 07 PLATÃO I

11. (UEL 2007) Em A República, Platão analisa cinco formas de O autor acima demarca alguns pontos singulares dos temas
governo a fim de determinar qual delas é a melhor e mais justa, isto centrais da ética de Platão. Sobre esse assunto, é CORRETO
é, qual delas corresponde ao modelo de constituição idealizado por afirmar que
ele. Segundo Platão, o Estado é a imagem amplificada do homem a) as virtudes humanas estão em conexão com a transcendência
justo. Considere o seguinte diálogo entre Sócrates e Adimanto, do bem e desvinculadas da ordem política, presidida pela justiça.
apresentado em A República, Livro VIII.
b) o sentido ético-político na filosofia de Platão prioriza a ordem
Sócrates – Sendo assim, diz: não é o desejo insaciável daquilo que individual em detrimento do plano social.
a democracia considera o seu bem supremo que a perde?
c) Platão defende um ideal ético, centrado na sabedoria,
Adimanto – E que bem é esse? declinando da ordem política presidida pela justiça.
Sócrates – A liberdade. [...] d) a justiça e o bem se realizam na ordem individual, e a virtude,
Adimanto – Sim, é isso o que se ouve muitas vezes. na ordem política.
Sócrates – O que eu ia dizer há pouco é: não é o desejo insaciável e) na ética de Platão, a virtude é prática da justiça.
desse bem, e a indiferença por todo o resto, que muda este governo
e o obriga a recorrer à tirania? 13. (UEL 2017) Leia a tirinha e o texto a seguir para responder à
Adimanto – Como? questão.
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

Sócrates – Quando um Estado democrático, sedento de liberdade,


passa a ser dominado por maus chefes, que fazem com que ele
se embriague com esse vinho puro para além de toda a decência,
então, se os seus magistrados não se mostram inteiramente
dóceis e não lhe concedem um alto grau de liberdade, ele castiga-
os, acusando-os de serem criminosos e oligarcas. [...] E ridiculariza
os que obedecem aos magistrados e trata-os de homens servis e
sem valor. Por outro lado, louva e honra, em particular e em público,
os governantes que parecem ser governados e os governados que Exercita-te primeiro, caro amigo, e aprende o que é preciso conhecer
parecem ser governantes. Não é inevitável que, num Estado assim, para te iniciares na política; antes, não. Então, primeiro precisarás
o espírito de liberdade se estenda a tudo? adquirir virtude, tu ou quem quer que se disponha a governar ou
Fonte: PLATÃO. A República. Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, a administrar não só a sua pessoa e seus interesses particulares,
1997, p. 280-281. como a cidade e as coisas a ela pertinentes. Assim, o que precisas
alcançar não é o poder absoluto para fazeres o que bem entenderes
Com base no diálogo anterior e nos conhecimentos sobre as formas contigo ou com a cidade, porém justiça e sabedoria.
de governo analisadas por Platão, considere as seguintes afirmativas: PLATÃO, O primeiro Alcebíades. Trad. Carlos Alberto Nunes.

I. A democracia é a negação da justiça, pois ela rejeita o princípio da


Belém: EDUFPA, 2004. p. 281-285.
escolha de governantes pelo critério da capacidade específica.
II. A democracia é uma forma de governo que, ao dar livre curso Com base na tirinha, no texto e nos conhecimentos sobre a ética e
aos desejos supérfluos e perniciosos dos indivíduos, se a política em Platão, assinale a alternativa correta.
degenera em tirania.
a) A virtude individual terá fraca influência sobre o governo
III. A democracia é a mais bela forma de governo, pois privilegia a da cidade, já que a administração da cidade independe da
liberdade que é o mais belo de todos os bens. qualidade de seus cidadãos.
IV. Na democracia, cada indivíduo assume a sua função própria b) Justiça, sabedoria e virtude resultam da opinião do legislador
dentro da polis. sobre o que seria melhor para a cidade e para o indivíduo.
Estão corretas apenas as afirmativas: c) O indivíduo deve possuir a virtude antes de dirigir a cidade, pois
a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) I, III e IV. assim saberá bem governar e ser justo, já que se autogoverna.
d) Para se iniciar em política, primeiro é necessário o poder
12. (UPE-SSA 3 2017) Leia o texto a seguir sobre a Filosofia e a Ética. absoluto para fazer o bem para a cidade e a si próprio.
e) Todo conflito desaparece em uma cidade se a virtude fizer
parte da administração, mesmo que o dirigente não a possua.

14. (UEL 2009) Para Platão, no livro IV da República, a Justiça, na


cidade ideal,
Baseia-se no princípio em virtude do qual cada membro do
organismo social deve cumprir, com a maior perfeição possível, a
sua função própria. Tanto os guardiões’ como os ‘governantes’ e
os industriais’ têm a sua missão estritamente delimitada, e se cada
um destes três grupos se esforçar por fazer da melhor maneira
possível o que lhes compete, o Estado resultante da cooperação
destes elementos será o melhor Estado concebível.

Toda a obra de Platão tem um profundo sentido ético. Três poderiam (JAEGER, W. Paideia: a formação do homem grego. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999. p. 556.)
ser os eixos centrais, que comandam a ética platônica: primeiro, a
justiça na ordem individual e social; segundo, a transcendência do Bem;
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de
terceiro, as virtudes humanas e a ordem política presididas pela justiça.
Platão, assinale a alternativa correta.
PEGORARO, Olinto. Ética dos maiores mestres através da história. Petrópolis: Vozes,
2006, p. 25-26. (Adaptado).
a) A cidade, de origem divina, encontra sua perfeição quando
reina o amor verdadeiro entre os homens, base da concórdia
total das classes sociais.

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07 PLATÃO I FILOSOFIA

b) A justiça, na cidade ideal, consiste na submissão de todas as c) Reagir como os personagens homéricos e trágicos é digno de
classes ao governante que, pela tirania, promove a paz e o bem elogio, pois Platão considera que a descarga das emoções é
comum. benéfica para a formação ética dos cidadãos.
c) A cidade se torna justa quando os indivíduos de classes d) Poetas como Homero e autores de tragédia provocam emoções
inferiores, no cumprimento de suas funções, ascendem de modo exagerado em quem os lê ou assiste, não sendo bons
socialmente. para a formação do cidadão na Cidade Ideal platônica.
d) A justiça, na cidade ideal, manifesta-se na igualdade de todos e) A imitação de Homero e dos trágicos das reações humanas
perante a lei e na cooperação de cada um no exercício de sua difere da dos pintores, pois, segundo Platão, não estão
função. distantes em graus da essência, por isso podem fazer parte
e) Na cidade ideal, a justiça se constitui na posse do que pertence da cidade justa.
a cada um e na execução do que lhe compete.
17. Leia o texto a seguir sobre o pensamento grego:
15. (UEL 2005) Platão escreveu diálogos filosóficos, verdadeiros dramas em prosa.
“- Mas a cidade pareceu-nos justa, quando existiam dentro dela Foi um dos maiores escritores de todos os tempos, e ninguém
três espécies de naturezas, que executavam cada uma a tarefa que conseguiu, como ele, unir as questões filosóficas à tamanha beleza
lhe era própria; e, por sua vez, temperante, corajosa e sábia, devido literária. As ideias filosóficas de Platão é a primeira grande síntese
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

a outras disposições e qualidades dessas mesmas espécies. do pensamento antigo.


(Adaptado)
- É verdade.
- Logo, meu amigo, entenderemos que o indivíduo, que tiver na sua (REZENDE, Antonio. Curso de Filosofia, Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 46.)
alma estas mesmas espécies, merece bem, devido a essas mesmas
qualidades, ser tratado pelos mesmos nomes que a cidade”. No tocante a essa temática, assinale a alternativa CORRETA sobre
(PLATÃO. A república. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. 7 ed. Lisboa: Fundação
o pensamento de Platão.
Calouste Gulbenkian, 1993. p. 190.) a) Enfatiza as ideias no mundo sensível, buscando a verdade na
natureza.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a justiça em Platão,
é correto afirmar: b) Retrata a doutrina das ideias e salienta a existência do mundo
ideal para fazer possível a verdadeira ciência.
a) As pessoas justas agem movidas por interesses ou por
benefícios pessoais, havendo a possibilidade de ficarem c) Prioriza a verdade do mundo concreto com a confiança no
invisíveis aos olhos dos outros. conhecimento dos sentidos.

b) A justiça consiste em dar a cada indivíduo aquilo que lhe é de d) Sinaliza o valor dos sentidos como condição para o alcance
direito, conforme o princípio universal de igualdade entre todos da verdade.
os seres humanos, homens e mulheres. e) Atenta para o significado da razão no plano da existência da
c) A verdadeira justiça corresponde ao poder do mais forte, o qual, realidade sensível.
quando ocupa cargos políticos, faz as leis de acordo com os
seus interesses e pune a quem lhe desobedece. 18. “Julgam, pelo contrário, descobrir ainda um dia um Atlas mais
possante do que este, mais imortal e capaz de suportar o peso do
d) A justiça deve ser vista como uma virtude que tem sua origem
mundo, sem pensarem que é o Bem o verdadeiro elo que liga entre
na alma, isto é, deve habitar o interior do homem, sendo
si todas as coisas e as suporta. E no entanto, confesso, com que
independente das circunstâncias externas.
alegria me não teria feito discípulo fosse de quem fosse, para me
e) Ser justo equivale a pagar dívidas contraídas e restituir instruir sobre semelhante causa e o seu modo de atuação! Mas,
aos demais aquilo que se tomou emprestado, atitudes que uma vez que esta me falhou e não pude, por minha parte, descobri-
garantem uma velhice feliz. la ou achar quem ma explicasse, tive de tentar uma segunda via
para lançar na sua busca.”
16. Leia o texto a seguir. (PLATÃO. Fédon. Tradução de Maria Teresa Schiappa de Azevedo. Brasília: Editora UNB/
Imprensa Oficial, 2000. p. 86.)
Os melhores de entre nós, quando escutam Homero ou qualquer
poeta trágico a imitar um herói que está aflito e se espraia numa De acordo com a citação e os conhecimentos sobre Platão,
extensa tirada cheia de gemidos, ou os que cantam e batem no considere as afirmativas a seguir:
peito, sabes que gostamos disso, e que nos entregamos a eles, e
os seguimos, sofrendo com eles, e com toda seriedade elogiamos I. Platão refere-se no texto, às teorias dos pensadores anteriores
o poeta, como sendo bom, por nos ter provocado até o máximo, com tendência a localizar a origem imperante de todas as
essas disposições. [...] Mas quando sobrevém a qualquer de nós coisas num objeto de ordem sensível.
um luto pessoal, reparaste que nos gabamos do contrário, se II. Platão defende que a primeira via deve ser abandonada em
formos capazes de nos mantermos tranquilos e de sermos fortes, benefício de uma outra que o leve em direção ao princípio
entendendo que esta atitude é característica de um homem [...]? supremo, o bem.
PLATÃO. A República. 605 d-e. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. 12. ed. Lisboa: III. A segunda via tomada por Platão o conduz à conclusão de que
Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. p. 470 o suprassensível impede a explicação da realidade, pois é mero
fruto de nossa imaginação.
Com base no texto, nos conhecimentos sobre mimesis (imitação) e
sobre o pensamento de Platão, assinale a alternativa correta: IV. Platão sustenta que o conhecimento da verdadeira causa da
geração e da corrupção de todas as coisas deve ser buscado
a) A maneira como Homero constrói seus personagens retratando pela via da observação das imagens dos objetos.
reações humanas deve ser imitada pelos demais poetas, pois é
eticamente aprovada na Cidade Ideal platônica. Assinale a alternativa que contém todas as afirmativas corretas.
b) O fato de mostrar as emoções de maneira exagerada em a) I e II. c) III e IV. e) II, III e IV.
seus personagens faz de Homero e de autores de tragédia b) I e III. d) I, II e IV.
excelentes formadores na Cidade Ideal pensada por Platão.

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FILOSOFIA 07 PLATÃO I

19. “Efetivamente, um bom poeta, se quiser produzir um bom Sócrates: – Mas escuta, a ver se eu digo bem. O princípio que
poema sobre o assunto que quer tratar, tem de saber o que vai de entrada estabelecemos que devia observar-se em todas as
fazer, sob pena de não ser capaz de o realizar. circunstâncias, quando fundamos a cidade, esse princípio é,
Temos, pois, de examinar se essas pessoas não estão a ser ludibriadas segundo me parece, ou ele ou uma das suas formas, a justiça.
pelos imitadores que se lhes depararam, e, ao verem as suas obras, PLATÃO. A República. 7.ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. p.185-186.
não se apercebem de que estão três pontos afastados do real, pois
é fácil executá-las mesmo sem conhecer a verdade, porquanto são Com base nesse fragmento, que aponta para o debate em torno do
fantasmas e não seres reais o que eles representam; ou se tem algum conceito de justiça na obra A República de Platão, explique como
valor o que eles dizem, e se, na realidade, os bons poetas têm aqueles Platão compreende esse conceito.
conhecimentos que, perante a maioria, parecem expor tão bem.”
(PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. 7. ed. Lisboa: Calouste 04. (UFPR 2011) Nos capítulos 9 e 10 do Livro X de A República,
Gulbenkian, s.d., p. 458.) Platão sustenta que “nossa alma é imortal e jamais perece”.
Exponha sucintamente a argumentação que ele usa nesse trecho
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a mímesis em de A República para justificar sua afirmação.
Platão, considere as afirmativas a seguir.
(PLATÃO. A República. Trad. Bento Prado Jr. São Paulo: Martins Fontes, 2006).
I. Platão faz críticas aos poetas que imitam o que não conhecem
e dão ouvidos à multidão ignorante, permanecendo, dessa
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

forma, distantes três graus da verdade representada pela ideia. 05. (UFPR 2007) Leia o seguinte trecho extraído do livro VII de A
II. Apesar de criticar a poesia imitativa, Platão abre uma exceção República, de Platão.
para Homero, por considerar a totalidade da sua poesia como “Eis o que devemos agora pensar sobre o assunto seguinte: a
materialização plena da verdade em primeiro grau e, portanto, educação não é aquilo que alguns, que fazem disso profissão,
benéfica para a educação dos cidadãos. afirmam que é. Se não me engano, pretendem que têm o poder
III. Escrever um bom poema implica seguir uma determinada de, quando o saber não está na alma, introduzi-lo nela como se se
métrica e os conhecimentos do mundo sensível, representando introduzisse a vista em olhos cegos [...] Mas o que nosso discurso
os homens iguais, melhores ou piores do que eles são. atual significa é que este poder está presente na alma de cada um,
assim como o órgão por meio do qual cada um pode aprender.”
IV. Por não estarem em sintonia com a cidade ideal, Platão exclui os (Platão, A República. Livro VII, 518b-c. Lisboa : Didáctica Editora, 2000.)
poetas que se limitam somente à arte de imitar e, por esse motivo,
ao visitarem a cidade, serão aconselhados a seguir adiante. Com base no trecho acima, explique o que Platão entende por
Estão corretas apenas as afirmativas: educação.
a) I e IV. b) II e III. c) III e IV. d) I, II e III. e) I, II e IV.
GABARITO

20. Segundo Platão, há três classes que possuem papel específico na EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Cidade: a dos camponeses e artesãos, a dos guardiões e a dos filósofos. 01. C 05. B 09. C 13. C 17. B
02. D 06. E 10. D 14. E 18. A
Em relação a essa informação, é CORRETO afirmar que
03. E 07. E 11. A 15. D 19. A
a) os artesãos asseguram a defesa da Cidade. 04. B 08. A 12. E 16. D 20. D
b) os guardiões asseguram a divisão do trabalho.
EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
c) os filósofos asseguram a harmonia da Cidade. 01. A democracia em Atenas era restrita aos homens maiores de 18 anos, excluindo da
d) os camponeses e artesãos asseguram a vida material da Cidade. cidadania as mulheres, os escravos e os estrangeiros.
Era uma democracia participativa, através da Eclésia da Bulé e da Ágora.
Atualmente a democracia não restringia a cidadania feminina e é representativa através
EXERCÍCIOS DE dos parlamentos.

05. APROFUNDAMENTO 02. Na “Alegoria da Caverna”, Platão refere-se à figura do filósofo como aquele responsável
por tirar os homens das sombras e trazê-los à luz. Isso significa fazê-los conhecer a verdade
do mundo das ideias, o que só pode acontecer por meio da filosofia. A educação proposta
na República acompanha o mesmo caminho: os jovens devem ser educados no exercício da
01. (UFRN 2000) A cidade-estado de Atenas, na Grécia Antiga, é filosofia e da virtude para saírem das sombras. Somente assim poderão conhecer as ideias
considerada o berço do regime político democrático. A democracia verdadeiras e o Sumo Bem, podendo, portanto, guiar uma cidade da maneira justa.
ateniense, porém, não era a mesma que se tem no mundo 03. A concepção de justiça em Platão está ligada a uma concepção idealista onde esta
contemporâneo. somente ocorre na cidade que educa seus cidadãos. Platão segue uma orientação ética
na qual o foco reside no ensinamento do homem para que este despreze os prazeres,
Descreva duas características da democracia ateniense e explique as riquezas e as honras. A finalidade do homem em Platão é procurar transcender a
de que forma elas se diferenciam da democracia atual. realidade, procurar um bem superior. Isto somente pode acontecer em um modelo ideal
de cidade. A cidade de Calípolis descrita no livro da República representa um local no
qual se torna possível dar a cada um aquilo que lhe é próprio. Este conceito assume uma
02. (UFPR 2008) Por que, de acordo com o personagem Sócrates, postura central dentro da organização da república platônica. Existe baseado nesta teoria
um sistema educacional a fim de orientar cada um segundo suas aptidões. Ou seja, para
aqueles que receberam a educação proposta na República devem Platão cada cidadão deve oferecer o melhor de si para que a cidade prospere. Platão
governar? parte de uma concepção aristocrática, dividindo a sociedade em classes, guerreiros,
comerciantes e administradores, para que cada um desempenhe seu papel de forma
a guiar a cidade para a prosperidade e faze com que cada um encontre sua realização
03. (UEL 2015) Leia o diálogo a seguir. naquilo que lhe for próprio de sua natureza. Desta forma, a justiça é equilíbrio e não se
limita apenas a restaurar o que lhe foi tirado, mas pelo contrário proporcionar condições
Glauco: – Que queres dizer com isso? para o desenvolvimento de cada cidadão.
Sócrates: – O seguinte: que me parece que há muito estamos a 04. Para Platão a existência da imortalidade da alma só tem sentido caso se admita
falar e a ouvir falar sobre o assunto, sem nos apercebermos de que a existência do ser meta-empírito, ou seja, a dimensão inteligível, incorruptível do
homem. Com Platão, o homem se redescobre dualista, como ser de duas dimensões.
era da justiça que de algum modo estávamos a tratar. É possível adquirir como mais profundidade esta afirmação lendo os diálogos Menon e
Glauco: – Longo proémio – exclamou ele – para quem deseja escutar! principalmente Fédon no livro A República.
05. A educação, para Platão, possui uma característica moral de educar para o Bem e para
a Verdade. Isso está relacionado com a sua teria da reminiscência. Uma vez que a alma já
entrou em contato com a Verdade do mundo das ideias, a educação consiste em fazer os
jovens lembrarem esses verdadeiros saberes, criando um homem virtuoso, afastado dos
vícios e conhecedor da verdadeira justiça.

50 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
08
FILOSOFIA
PLATÃO II

A TEORIA DO CONHECIMENTO
A filosofia de Platão expressa a busca de um pensamento Atingir e conhecer o Mundo das Ideias, para Platão, deveria
articulado sobre as questões fundamentais da Filosofia. Entre os ser o objetivo de todos. Contudo, a maioria das pessoas fica
principais problemas abordados por Platão estão: muito satisfeita em viver no Mundo das Aparências e não procura
• o problema da Justiça: Platão considera que o conhecer a essência das coisas. Cada coisa, com efeito, tem uma
conhecimento da Justiça é essencial para o bom governo aparência, que é o aspecto visível da coisa, e uma essência, que
de uma cidade. Contudo, por “Justiça” não se deve é a Ideia imutável, perfeita e universal da coisa. A aparência é
compreender simplesmente  a legislação; a Justiça a que mera cópia imperfeita da Ideia perfeita que permanece no Mundo
Platão faz referência é o conceito puro de Justiça, a Justiça das Ideias. Se alguém acredita nas informações que os sentidos
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ideal. Uma cidade justa é uma cidade cuja configuração apresentam, então acredita em ilusões. Apenas os conceitos
é totalmente ordenada segundo a ideia do Bem, isto é, perfeitos são verdadeiros, diz Platão.
segundo o princípio de que todos os cidadãos devem viver Para conhecer o Mundo das Ideias, é necessário ser filósofo,
conforme a verdade encontrada no Mundo das Ideias; é necessário usar a dialética. Como isso é um exercício difícil e
• o problema do conhecimento: Para Platão, o conhecimento demorado, e exige inteligência e retidão de caráter, poucas pessoas
da verdade era o objetivo da filosofia. Platão propôs uma conseguem vislumbrá-lo.
teoria segundo a qual todas as coisas que apreendemos A Alegoria da Caverna, também chamado Mito da Caverna
por meio dos sentidos são cópias de Ideias perfeitas e (embora não seja um mito realmente), é uma historinha contada por
imutáveis que existem em outro plano de existência: o Platão para tornar mais fácil a compreensão da Teoria das Ideias.
Mundo das Ideias; Platão pede que imaginemos viver em uma caverna, acorrentados
• o problema do ser: o ser de uma coisa é a essência dessa por toda a vida virados para a parede de fundo, de costas para a
coisa, e encontra-se no Mundo das Ideias. O ser distingue- saída da caverna. Atrás de nós, há uma fogueira à frente da qual
se da aparência, que é o não ser, que é a falsidade; passam pessoas com figuras que representam vários objetos. A
sombra desses objetos aparece na parede que vemos por toda a
• o problema da alma: o homem, segundo Platão, tem um
vida, e acreditamos que essa sombra seja o objeto real. Para sair da
corpo e uma alma. O corpo é a parte material, imperfeita
posição original amarrada, é necessário um esforço muito grande.
e em constante mudança, do homem. A alma é, por outro
Contudo, quem conseguir soltar-se das correntes e sair da caverna
lado, a parte imaterial, perfeita e imortal do homem. O
poderá ver a realidade tal como ela é. Na Alegoria da Caverna, o
corpo é a aparência, a alma é a essência.
interior da caverna representa o mundo das aparências, no qual
• A alma divide-se em três partes: tudo é ilusão e sombra, enquanto o exterior da caverna representa
–– alma racional: é a parte que tem a razão e a inteligência, o mundo da Verdade, o mundo das Ideias.
e deve controlar as outras partes. Sua virtude é a Abaixo, a Alegoria da Caverna é apresentada pelo próprio Platão.
prudência. No corpo, é equivalente à cabeça; Trata-se de um trecho do Livro VII de A República: no diálogo, as
–– alma irascível: é a parte que tem os sentimentos. Sua falas na primeira pessoa são de Sócrates, e seus interlocutores,
virtude é a coragem. No corpo, é equivalente ao tórax; GLÁUCO e Adimanto, são os irmãos mais novos de Platão.
–– alma concupiscente: é a parte que tem os apetites e
os desejos. Sua virtude é a moderação. No corpo, é
equivalente ao ventre.
• A diferença entre doxa e episteme: para Platão, existe uma
diferença entre opinião (em grego, doxa) e conhecimento
(em grego, episteme). A opinião é a mera aparência de
conhecimento, é a crença injustificada. Já o conhecimento
verdadeiro é a crença verdadeira justificada, isto é: o
conhecimento existe quando se acredita em alguma coisa
verdadeira e existem razões suficientes para essa crença.

O MUNDO DAS IDEIAS E O MUNDO


DAS APARÊNCIAS
A Teoria das Ideias, também chamada de Teoria das Formas,
é o centro da filosofia de Platão. Segundo a Teoria das Ideias, a
realidade é cindida em duas partes:
1. o Mundo das Aparências, que apreendemos por meio https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b1/Platon_Cave_Sanraedam_1604.jpg
dos nossos sentidos; é um mundo de ilusões, de
enganos, de sombras;
2. o Mundo das Ideias ou das Formas, que somente
pode ser vislumbrado por meio da dialética; é o
mundo das essências perfeitas e imutáveis, o mundo
da verdade absoluta.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 51
FILOSOFIA 08 PLATÃO II

TEXTO COMPLEMENTAR por ponto esta imagem ao que dissemos mais acima, comparar o
mundo que a vista nos revela à morada da prisão e a luz do fogo
SÓCRATES – Agora, representa da seguinte forma o estado de que a ilumina ao poder do sol. No que se refere à subida à região
nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina superior e à contemplação de seus objetos, se a considerares
homens em morada subterrânea, em forma de caverna, que tenha como a ascensão da alma ao lugar inteligível, não te enganarás
em toda a largura uma entrada aberta para a luz; estes homens sobre o meu pensamento, posto que também desejas conhecê-lo.
aí se encontram desde a infância, com as pernas e o pescoço Deus sabe se ele é verdadeiro. Quanto a mim, tal é minha opinião:
acorrentados, de sorte que não podem mexer-se nem ver alhures no mundo inteligível, a ideia do bem é percebida por último e a
exceto diante deles, pois a corrente os impede de virar a cabeça; a custo, mas não se pode percebê-la sem concluir que é a causa
luz lhes vêm de um fogo aceso sobre uma eminência, ao longe atrás de tudo quanto há de direito e belo em todas as coisas; que ela
deles; entre o fogo e os prisioneiros passa um caminho elevado; engendrou, no mundo visível, a luz e o soberano da luz; que, no
imagina que, ao longo deste caminho, ergue-se um pequeno muro, mundo inteligível, ela própria é soberana e dispensa a verdade e a
semelhante aos tabiques que os exibidores de fantoches erigem à inteligência; e que é preciso vê-la para conduzir-se com sabedoria
frente deles e por cima dos quais exibem as suas maravilhas. na vida particular e na vida pública.
GLÁUCO – Vejo isso. GLÁUCO – Partilho de tua opinião na medida em que posso.
SÓCRATES – Figura, agora, ao longo deste pequeno muro (PLATÃO. A República. Livro VII).
homens a transportar objetos de todo gênero, que ultrapassam
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

o muro, bem como estatuetas de homens e animais de pedra, de


madeira e de toda espécie de matéria; naturalmente, entre estes
portadores, uns falam e outros se calam. EXERCÍCIOS
GLÁUCO – Eis um estranho quadro e estranhos prisioneiros! PROTREINO
SÓCRATES – Eles se nos assemelham mas, primeiro, pensas
que em tal situação jamais hajam visto algo de si próprios e de seus 01. Quais são as características que compõem a alma para Platão?
vizinhos, afora as sombras projetadas pelo fogo sobre a parede da
caverna que está à sua frente. 02. Defina doxa
GLÁUCO – E como poderiam se são forçados a quedar-se a 03. Defina episteme
vida toda com a cabeça imóvel?
04. Aponte as principais características do Mundo das Aparências
SÓCRATES – E com os objetos que desfilam, não acontece o para Platão.
mesmo?
GLÁUCO – Incontestavelmente. 05. Aponte as principais características do Mundo das Ideias para Platão.

SÓCRATES – Se, portanto, conseguissem conversar entre si não


julgas que tomariam por objetos reais as sombras que avistassem?
GLÁUCO – Necessariamente.
*** EXERCÍCIOS
SÓCRATES – Considera agora o que lhes sobrevirá PROPOSTOS
naturalmente se forem libertos das cadeias e curados da ignorância.
Que se separe um desses prisioneiros, que o forcem a levantar-se
01. (UNCISAL) Um dos textos mais consagrados da história da
imediatamente, a volver o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos à
filosofia é a alegoria da caverna, escrito por Platão. Sobre esse
luz: ao efetuar todos esses movimentos sofrerá, e o ofuscamento
texto, pode-se afirmar que
o impedirá de distinguir os objetos cuja sombra enxergava há
pouco. O que achas, pois, que ele responderá se alguém lhe vier a) se trata de uma obra religiosa que narra o encontro do filósofo
dizer que tudo quanto vira até então eram vãos fantasmas, mas com Deus.
que presentemente, mais perto da realidade e voltado para objetos b) se trata de um texto que apresenta dimensões pedagógicas,
mais reais, vê de maneira mais justa? Se, enfim, mostrando-lhe filosóficas e políticas.
cada uma das coisas passantes, o obrigar, à força de perguntas, c) seu percurso narra o aprisionamento do filósofo, que perde a
a dizer o que é isso? Não crês que ficará embaraçado e que as liberdade de que desfrutava e passa a viver solitário em uma
sombras que via há pouco lhe parecerão mais verdadeiras do que caverna.
os objetos que ora lhe são mostrados?
d) o texto exalta a importância dos sofistas para o conhecimento
GLÁUCO – Muito mais verdadeiras. filosófico.
*** e) o texto pressupõe a identificação do conhecimento filosófico
SÓCRATES – Imagina ainda que este homem torne a descer à com o senso comum.
caverna e vá sentar-se em seu antigo lugar: não terá ele os olhos
cegados pelas trevas, ao vir subitamente do pleno sol? 02. (UEG 2019) Considerando a história contada por Platão no livro
GLÁUCO – Seguramente sim. VII da República, mais conhecida como Mito da Caverna, podemos
SÓCRATES – E se, para julgar estas sombras, tiver de entrar deduzir que:
de novo em competição com os cativos que não abandonaram as a) o homem, apesar de nascer bom, puro e de posse da verdade,
correntes, no momento em que ainda está com a vista confusa e pode desviar-se e passar a acreditar em outro mundo mais
antes que seus olhos se tenham reacostumado, não provocará riso perfeito de puras ideias.
à própria custa e não dirão eles que, tendo ido para cima, voltou b) não podemos confiar apenas na razão, pois somente guiados
com a vista arruinada, de sorte que não vale mesmo a pena tentar pelos sentimentos e testemunhos dos sentidos poderemos
subir até lá? E se alguém tentar soltá-los e conduzi-los ao alto, e se alcançar a verdade.
conseguissem eles pegá-lo e matá-lo, não o matarão?
c) a caverna, na alegoria platônica, representa tudo aquilo
GLÁUCO – Sem dúvida alguma. que impede o surgimento da consciência filosófica, que
SÓCRATES – Agora, meu caro GLÁUCO, cumpre aplicar ponto possibilitaria uma ascensão para o mundo inteligível.

52 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
08 PLATÃO II FILOSOFIA

d) a razão deve submeter-se aos testemunhos dos sentidos, 06. (UFU) No pórtico da Academia de Platão, havia a seguinte
pois a verdade que está no mundo inteligível só será atingida frase: “não entre quem não souber geometria”. Essa frase reflete
mediante a sensibilidade. sua concepção de conhecimento: quanto menos dependemos da
e) os homens devem se libertar da crença na existência em outro realidade empírica, mais puro e verdadeiro é o conhecimento tal
mundo e buscar resolver seus conflitos aprofundando-se em como vemos descrito em sua Alegoria da Caverna.
sua interioridade. “A ideia de círculo, por exemplo, preexiste a toda a realização imperfeita
do círculo na areia ou na tábula recoberta de cera. Se traço um círculo
03. (ENADE) O princípio que de entrada estabelecemos que devia na areia, a ideia que guia a minha mão é a do círculo perfeito. Isso não
observar-se em todas as circunstâncias, quando fundamos a impede que essa ideia também esteja presente no círculo imperfeito
cidade, esse princípio é, segundo me parece, ou ele ou uma das que eu tracei. É assim que aparece a ideia ou a forma.”
suas formas, a justiça. Ora nós estabelecemos, segundo suponho, JEANNIÈRE, Abel. Platão. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
170 p.
e repetimo-lo muitas vezes, se bem te lembras, que cada um deve
ocupar-se de uma função na cidade, aquela para a qual a sua
Com base nas informações, assinale a alternativa que interpreta
natureza é mais adequada.
corretamente o pensamento de Platão.
Platão. A República. Fundação Calouste Gulbenkian.
a) A Alegoria da Caverna demonstra, claramente, que o verdadeiro
No trecho apresentado acima, faz-se referência à justiça, na conhecimento não deriva do “mundo inteligível”, mas do
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

concepção platônica. Assinale a opção que contém a proposição “mundo sensível”.


verdadeira que sustenta o argumento usado por Platão para definir b) Todo conhecimento verdadeiro começa pela percepção, pois
e justificar tal concepção. somente pelos sentidos podemos conhecer as coisas tais
a) A igualdade natural predispõe o ser humano para a justiça e quais são.
para o bem comum. c) Quando traçamos um círculo imperfeito, isto demonstra que
b) Compartilhar tarefas e habilidades com nossos semelhantes é as ideias do “mundo inteligível” não são perfeitas, tal qual o
a base natural de uma cidade justa. “mundo sensível”.
c) A execução da função própria é uma exigência das convenções d) As ideias são as verdadeiras causas e princípio de identificação
políticas como instrumentos jurídicos para a fundação das cidades. dos seres; o “mundo inteligível” é onde se obtêm os
conhecimentos verdadeiros.
d) O ato de cada um fazer o que lhe é mais adequado por natureza
é necessário para a formação de uma cidade justa.
07. (UFU) Sobre a alegoria da caverna de Platão pode-se afirmar que
e) O interesse pessoal de cada um conduz naturalmente à
implementação da justiça na cidade. a) o filósofo deve ter uma vida exclusivamente contemplativa.
b) a educação do filósofo visa também à atividade política.
04. (UFSJ) Considerando o pensamento de Platão na “Alegoria da c) os sentidos são fundamentais para o conhecimento.
Caverna”, é CORRETO afirmar que
d) qualquer um pode encontrar em si mesmo, pela intuição, a luz
a) os prisioneiros entendem como única realidade o conhecimento para o conhecimento.
que se afasta dos sentidos.
b) os prisioneiros fundamentam o seu conhecimento na reflexão 08. (UEL) Leia o texto a seguir e responda à questão.
sobre o mundo da caverna. Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem
c) a opinião é certa de si mesma quanto mais afastada se soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se,
encontra da verdade. regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo.
d) a verdadeira realidade, para os prisioneiros, é aquela que vai Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se
além dos sentidos. de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, a fazer
tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar
os objetos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria,
05. (UEG) O trecho abaixo faz parte de um diálogo de Sócrates
se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao
contido em A República, de Platão. Leia-o para responder à questão.
passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade,
Sócrates – Agora, com relação à cultura e à falta dela, imagine voltado para objetos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada
nossa condição da seguinte maneira. Pense em homens um desses objetos que passavam, o forçassem com perguntas a
encerrados numa caverna, dotada de uma abertura que permite a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldade e
entrada de luz em toda sua extensão da parede maior. Encerrados suporia que os objetos vistos outrora eram mais reais do que os
nela desde a infância, acorrentados por grilhões nas pernas e no que agora lhe mostravam?
pescoço que os obrigam a ficar imóveis, podem olhar para a frente, (PLATÃO. A República 7. ed. Lisboa: Caiouste &Ibenkian, I993. p. 3I8-3I9.)
porquanto as correntes no pescoço os impedem de virar a cabeça.
Atrás e por sobre eles, brilha a certa distância uma chama. Entre O texto é parte do livro VII da República, obra na qual Platão
esta e os prisioneiros delineia-se uma estrada em aclive, ao longo desenvolve o célebre Mito da Caverna. Sobre o Mito da Caverna, é
do qual existe um pequeno muro, parecido com os tabiques que os correto afirmar.
saltimbancos utilizam para mostrar ao público suas artes.
I. A caverna iluminada pelo Sol, cuja luz se projeta dentro dela,
PLATÃO. A República. 2. ed. Trad. Ciro Mioranza.São Paulo: Escala, 2007. p. 243.
corresponde ao mundo inteligível, o do conhecimento do
verdadeiro ser.
Há uma referência à Alegoria da Caverna, exposta na fala de
Sócrates, no seguinte filme: II. Explicita como Platão concebe e estrutura o conhecimento.
a) Blade Runner. III. Manifesta a forma como Platão pensa a política, na medida
em que, ao voltar à caverna, aquele que contemplou o bem
b) Mad Max.
quer libertar da contemplação das sombras os antigos
c) 2001 – Uma Odisseia no Espaço. companheiros.
d) Matrix. IV. Apresenta uma concepção de conhecimento estruturada
unicamente em fatores circunstanciais e relativistas.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 53
FILOSOFIA 08 PLATÃO II

Assinale a alternativa correta. d) a dialética, que não é o último estágio do ser e do conhecer,
a) Somente as afirmativas I e IV são corretas. permite chegar, mediante um processo difícil, que exige
esforço, às coisas em si mesmas (Formas).
b) Somente as afirmativas II e III são corretas.
e) a dialética, último estágio do ser e do conhecer, permite chegar,
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. mediante um processo difícil, ao conhecimento do Bem.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. 12. Considere o seguinte trecho
"No diálogo Mênon, Platão faz Sócrates sustentar que a virtude não
09. (UFU) A Alegoria da Caverna de Platão, além de ser um texto pode ser ensinada, consistindo-se em algo que trazemos conosco
de teoria do conhecimento, é também um texto político. No sentido desde o nascimento, defendendo uma concepção, segundo a
político, é correto afirmar que Platão sustentava um modelo qual temos em nós um conhecimento inato que se encontra
a) monárquico, cujo governo deveria ser exercido por um filósofo obscurecido desde que a alma encarnou-se no corpo. O papel da
e cujo poder deveria ser absoluto, centralizador e hereditário. filosofia é fazer-nos recordar deste conhecimento“
MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora,
b) aristocrático, baseado na riqueza e que representava os
2000. p. 31.
interesses dos comerciantes e nobres atenienses, por serem
eles os mecenas das artes, das letras e da filosofia.
Nesse trecho, o autor descreve o que ficou conhecido como
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

c) democrático, baseado, principalmente, na experiência política


a) a teoria das ideias de Platão.
de governo da época de Péricles.
b) a doutrina da reminiscência de Platão.
d) aristocrático, cujo governo deveria ser confiado aos melhores
em inteligência e em conduta ética. c) a ironia socrática.
d) a dialética platônica.
10. (UFSJ) Entende-se que, para Platão, na “Alegoria da Caverna”
I. aponta-se para o sentido da entrada do homem no mundo 13. Sócrates foi considerado um dos principais filósofos da antiguidade
inteligível e o retorno ao mundo sensível; clássica. Ao propor uma reflexão sobre o problema da consciência,
levou as ultimas consequências a preocupação antropológica que
II. aponta-se para o sentido da natureza da educação apropriada
havia se iniciado com os sofistas. Uma das principais contribuições
ao filósofo;
de Sócrates foi o desenvolvimento da categoria “consciência” que
III. o mundo da opinião está presente nas imagens que projetam esta associada à concepção que possuía de que o ser humano era
as sombras e as próprias sombras; dotado de uma alma racional, na qual estavam depositadas verdades
IV. a educação deve conduzir para as essências, para a ciência eternas, e que o conhecimento dessas verdades era imprescindível
que a alma possui no seu interior; para o desenvolvimento de uma vida ética. Depois de Sócrates,
as preocupações sobre a natureza da alma, e sobre a Ética jamais
V. a educação deve conduzir para questões que afastem o
abandonaram a filosofia. Sobre o tema, assinale a alternativa correta:
homem das especulações intelectuais.
a) Sócrates desenvolveu uma ética relativista, defendendo que
Estão CORRETAS as afirmações contidas na alternativa
os valores não podem ser considerados absolutos, e estão
a) I, II, IV, V. relacionados aos consensos existentes em cada contexto
b) II, III, IV, V. histórico, devendo ser considerados validos na medida em que
c) I, III, IV, V. possuem alguma utilidade pragmática.
d) I, II, III, IV. b) Platão, um dos mais importantes discípulos de Sócrates, se
afastando do modelo desenvolvido por ele, que desconsiderava
a incontinência (akrasia) como fator relevante para a formação
11. Segundo a conhecida alegoria da caverna, que aparece no
da conduta, desenvolveu uma metáfora de alma tripartite,
Livro VII da República, de Platão, há prisioneiros, voltados para
segundo a qual, a alma seria semelhante ao condutor da briga
uma parede em que são projetadas as sombras de objetos que
de dois cavalos, sendo que um deles seria altivo e elevado, e o
eles não podem ver. Esses prisioneiros representam a humanidade
outro atarracado e indolente.
em seu estágio de mais baixo saber acerca da realidade e de si
mesmos: a doxa, ou “opinião”. Um desses prisioneiros é libertado c) Sócrates concordava com os sofistas quando afirmavam
à força, num processo que ele quer evitar e que lhe causa dor e que o “homem era a medida de todas as coisas”, sendo esse
enormes dificuldades de visão (conhecimento). Gradativamente, aforisma um dos principais postulados de sua ética.
ele é conduzido para fora da caverna, a um estágio em que pode ver d) As virtudes para Platão não estavam associadas à natureza
as coisas em si mesmas, isto é, os fundamentos eternos de tudo o das almas, segundo o filósofo todos os homens possuem
quê, antes, ele via somente mediante sombras. Esses fundamentos a mesma natureza racional, e suas almas são iguais, sendo
são as Formas. Para além das Formas, brilha o Sol, que representa desejável, portanto, que desenvolvam as mesmas virtudes.
a Forma das Formas, o Bem, fonte essencial de todo ser e de todo e) Platão, era relativista do ponto de vista ético, considerava que
conhecer e unicamente acessível mediante intuição direta. embora as virtudes e os valores fossem paradigmas existentes
Com base nisso, responda à seguinte questão: se chegamos no mundo das ideias, como eles deveriam se realizar no mundo
ao conhecimento das Formas mediante a dialética, que é o físico, estariam relacionados a condições muito particulares de
estabelecimento de fundamentos que possibilitam o conhecimento concretização, e não poderiam ser considerados desvinculados
das coisas particulares (sombras), é CORRETO dizer: da história e de circunstâncias particulares.
a) para Platão, a dialética é o conhecimento imediato (doxa) dos
objetos particulares. 14. Leia o trecho a seguir.
b) o Bem é um objeto particular, que pode ser conhecido E que existe o belo em si, e o bom em si, e, do mesmo modo,
sensivelmente, de modo imediato e indolor, por todos os seres relativamente a todas as coisas que então postulamos como
humanos. múltiplas, e, inversamente, postulamos que a cada uma corresponde
c) as Formas são somente suposições teóricas, sem realidade uma ideia, que é única, e chamamos-lhe a sua essência (507b-c).
nelas mesmas. PLATÃO. República. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. 8ª ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian. 1996.

54 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
08 PLATÃO II FILOSOFIA

Marque a alternativa que expressa corretamente o pensamento de Essa narrativa de Platão é uma importante manifestação cultural
Platão. do pensamento grego antigo, cuja ideia central, do ponto de vista
a) Somente por meio dos sentidos, em especial da visão, pode o filosófico, evidencia o(a)
filósofo obter o conhecimento das ideias. a) caráter antropológico, descrevendo as origens do homem
b) No pensamento platônico, o conhecimento das ideias primitivo.
permite ao filósofo discernir a unidade inteligível em face da b) sistema penal da época, criticando o sistema carcerário da
multiplicidade sensível. sociedade ateniense.
c) Para que a alma humana alcance o conhecimento das ideias, ela c) vida cultural e artística, expressa por dramaturgos trágicos e
deve elevar-se às alturas do inteligível, o que somente é possível cômicos gregos.
após a morte ou por meio do contato com os deuses gregos. d) sistema político elitista, provindo do surgimento da pólis e da
d) Tanto a dialética quanto a matemática elevam o conhecimento democracia ateniense.
ao inteligível; mas, somente a matemática, por seu caráter e) teoria do conhecimento, expondo a passagem do mundo
abstrato, conduz a alma ao princípio supremo: a ideia de Bem. ilusório para o mundo das ideias.

15. “Todo aquele que ama o saber conhece por experiência que, 18. (ENEM 2012) Para Platão, o que havia de verdadeiro em
quando a filosofia toma conta de uma alma, vai encontrá-la Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

prisioneira do seu corpo, totalmente grudada a ele. Vê que, impelida razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação
a observar os seres, não em si e por si, mas por meio desse seu entre objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse
caráter, paira por isso na mais completa ignorância. Mas mais o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente,
se dá ainda conta do absurdo de tal prisão: é que ela não tem a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente.
outra razão de ser senão o desejo do próprio prisioneiro, que é ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012
assim levado a colaborar da maneira mais segura, no seu próprio (adaptado).
encarceramento”.
Platão, Fédon. Trad. Maria Tereza S. de Azevedo. Brasília: UnB, 2000, p. 66.
O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto
essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427–346 a.C.). De
Após analisar o texto acima, assinale a alternativa correta. acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação?
a) A ignorância é fruto da observação do que é em si e por si. a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas.
b) A filosofia para Platão é inata, não sendo necessário nenhum b) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles.
esforço de quem a ela se dedica para obtê-la. c) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação
c) A alma encontra-se prisioneira do corpo por desejo do próprio são inseparáveis.
homem. d) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a
d) A alma do filósofo encontra-se desde o início liberta dos sensação não.
entraves do corpo como o demonstram, claramente, a Alegoria e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é
da Caverna e o texto acima. superior à razão.

16. (ENEM PPL 2016) Estamos, pois, de acordo quando, ao ver 19. (UNCISAL 2012) No contexto da Filosofia Clássica, Platão e
algum objeto, dizemos: "Este objeto que estou vendo agora tem Aristóteles possuem lugar de destaque. Suas concepções, que
tendências para assemelhar-se a um outro ser, mas, por ter se opõem, mas não se excluem, são amplamente estudadas e
defeitos, não consegue ser tal como o ser em questão, e lhe é, pelo debatidas devido à influência que exerceram, e ainda exercem,
contrário, inferior". Assim, para podermos fazer estas reflexões, é sobre o pensamento ocidental. Todavia é necessário salientar que
necessário que antes tenhamos tido ocasião de conhecer esse ser o produto dos seus pensamentos se insere em uma longa tradição
de que se aproxima o dito objeto, ainda que imperfeitamente. filosófica que remonta a Parmênides e Heráclito e que influenciou,
PLATÃO, Fédon. São Paulo: Abril Cultural, 1972. direta ou indiretamente, entre outros, os racionalistas, empiristas,
Kant e Hegel.
Na epistemologia platônica, conhecer um determinado objeto implica Observando o cerne da filosofia de Platão, assinale nas opções
a) estabelecer semelhanças entre o que é observado em abaixo aquela que se identifica corretamente com suas concepções.
momentos distintos. a) A dicotomia aristotélica (mundo sensível X mundo inteligível)
b) comparar o objeto observado com uma descrição detalhada dele. se opõe radicalmente as concepções de caráter empírico
c) descrever corretamente as características do objeto observado. defendidas por Platão.

d) fazer correspondência entre o objeto observado e seu ser. b) A filosofia platônica é marcada pelo materialismo e
pragmatismo, afastando-se do misticismo e de conceitos
e) identificar outro exemplar idêntico ao observado. transcendentais.
c) Segundo Platão a verdade é obtida a partir da observação das
17. (ENEM PPL 2015) Suponha homens numa morada
coisas, por meio da valorização do conhecimento sensível.
subterrânea, em forma de caverna, cuja entrada, aberta à luz, se
estende sobre todo o comprimento da fachada; eles estão lá desde d) Para Platão, a realidade material e o conhecimento sensível são
a infância, as pernas e o pescoço presos por correntes, de tal sorte ilusórios.
que não podem trocar de lugar e só podem olhar para frente, pois e) As concepções platônicas negam veementemente a validade
os grilhões os impedem de voltar a cabeça; a luz de uma fogueira do Inatismo.
acesa ao longe, numa elevada do terreno, brilha por detrás deles;
entre a fogueira e os prisioneiros, há um caminho ascendente; ao 20. (UEL 2011) Leia o texto a seguir.
longo do caminho, imagine um pequeno muro, semelhante aos
Para esclarecer o que seja a imitação, na relação entre poesia
tapumes que os manipuladores de marionetes armam entre eles e
e o Ser, no Livro X de A República, Platão parte da hipótese das
o público e sobre os quais exibem seus prestígios.
ideias, as quais designam a unidade na pluralidade, operada pelo
PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.
pensamento. Ele toma como exemplo o carpinteiro que, por sua

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 55
FILOSOFIA 08 PLATÃO II

arte, cria uma mesa, tendo presente a ideia de mesa, como modelo. ascensão da alma ao lugar inteligível, não te enganarás sobre o
Entretanto, o que ele produz é a mesa e não a sua ideia. O poeta meu pensamento, posto que também desejas conhecê-lo. Quanto
pertence à mesma categoria: cria um mundo de mera aparência. a mim, tal é minha opinião: no mundo inteligível, a ideia do bem é
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria das ideias percebida por último e a custo, mas não se pode percebê-la sem
de Platão, é correto afirmar: concluir que é a causa de tudo quanto há de direto e belo em todas
as coisas; e que é preciso vê-la para conduzir-se com sabedoria na
a) Deus é o criador último da ideia, e o artífice, enquanto co- vida particular e na vida pública.
participante da criação divina, alcança a verdadeira causa das
(Platão. A República, texto escrito em V a.C. Adaptado.)
coisas a partir do reflexo da ideia ou do simulacro que produz.
b) A participação das coisas às ideias permite admitir as Explique o significado filosófico da oposição entre as sombras no
realidades sensíveis como as causas verdadeiras acessíveis à ambiente da caverna e a luz do sol.
razão.
c) Os poetas são imitadores de simulacros e por intermédio da 04. (UEL 2013) Observe a charge a seguir.
imitação não alcançam o conhecimento das ideias como
verdadeiras causas de todas as coisas.
d) As coisas belas se explicam por seus elementos físicos, como a
cor e a figura, e na materialidade deles encontram sua verdade:
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

a beleza em si e por si.


e) A alma humana possui a mesma natureza das coisas sensíveis,
razão pela qual se torna capaz de conhecê-las como tais na
percepção de sua aparência.

EXERCÍCIOS DE Após descrever a alegoria da caverna, na obra A República, Platão


05. APROFUNDAMENTO faz a seguinte afirmação:
Com efeito, uma vez habituados, sereis mil vezes melhores do
01. (UFPR 2007) No livro VII de A República, Platão descreve que os que lá estão e reconhecereis cada imagem, o que ela é e o
o que ficou conhecido como a “alegoria da caverna”. Nela, é que representa, devido a terdes contemplado a verdade relativa ao
narrada a libertação de um prisioneiro e sua saída do interior da belo, ao justo e ao bom. E assim teremos uma cidade para nós e
caverna, isto é, do mundo das sombras, para a superfície, onde para vós, que é uma realidade, e não um sonho, como atualmente
brilha a luz do sol. sucede na maioria delas, onde combatem por sombras uns com
Com base nas informações acima e em conhecimentos do livro VII os outros e disputam o poder, como se ele fosse um grande bem.
de A República, explique as seguintes imagens usadas por Platão: (PLATÃO. A República. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994. p.326.)

a) o interior da caverna a) Segundo a alegoria da caverna de Platão e com base nessa


b) o mundo da superfície afirmação, explique o modelo político que configura a
organização da cidade ideal.
02. (UNESP 2013) Do lado oposto da caverna, Platão situa uma b) Compare a alegoria da caverna e a charge, e explicite o que
fogueira – fonte da luz de onde se projetam as sombras – e alguns representa, do ponto de vista político, a saída do homem da
homens que carregam objetos por cima de um muro, como num caverna e a contemplação do bem.
teatro de fantoches, e são desses objetos as sombras que se
projetam no fundo da caverna e as vozes desses homens que os 05. (UFU 2009) Leia o texto a seguir.
prisioneiros atribuem às sombras. Temos um efeito como num
cinema em que olhamos para a tela e não prestamos atenção ao “O método da dialética é o único que procede, por meio da
projetor nem às caixas de som, mas percebemos o som como destruição das hipóteses, a caminho do autêntico princípio, a fim
proveniente das figuras na tela. de tornar seguros os seus resultados, e que realmente arrasta aos
(Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001.)
poucos os olhos da alma da espécie de lodo bárbaro em que está
atolada e eleva-os às alturas...” (533c-d).
Explique o significado filosófico da Alegoria da Caverna de PLATÃO. República. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. 8 ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1996.
Platão, comentando sua importância para a distinção entre
aparência e essência. a) Qual é o nome do método que, segundo Platão, conduz a alma
ao princípio supremo do Bem?
03. (UNESP 2011) Leia o texto, extraído do livro VII da obra magna
b) Qual seria esse autêntico princípio a que Platão se refere? E a
de Platão (A República), que se refere ao célebre mito da caverna e
quem, em primeira instância, caberia essa busca?
seu significado no pensamento platônico.
c) De acordo com a teoria do conhecimento de Platão, o método
Agora, meu caro Glauco – continuei – cumpre aplicar ponto por
dialético permite ao homem abandonar o conhecimento
ponto esta imagem ao que dissemos, comparar o mundo que a
sensível e alcançar o verdadeiro conhecimento inteligível.
visão nos revela à morada da prisão e a luz do fogo que a ilumina
Transcreva a passagem do texto acima citado que corresponde
ao poder do sol. No que se refere à subida à região superior
à afirmação em negrito.
e à contemplação de seus objetos, se a considerares como a

56 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
08 PLATÃO II FILOSOFIA

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS opiniões que existem no mundo das sombras, de onde os acorrentados ainda não tiveram
capacidade de se libertarem. Quanto à luz do sol, é exatamente o oposto, uma vez que
01. B 05. D 09. D 13. B 17. E
já libertos das correntes, ao contemplar fora da caverna a verdadeira realidade passa da
02. C 06. D 10. D 14. B 18. D opinião à ciência, ou melhor, ao amor pela filosofia. Ao que vê a luz do Sol, cabe, segundo
03. D 07. B 11. D 15. C 19. D Platão, ensinar e governar. Trata-se da ação política, da transformação dos homens em
sociedade, desde que as mesmas estejam voltadas para a contemplação do modelo do
04. C 08. B 12. B 16. D 20. C mundo das ideias.
EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 04.
01. a) Platão dedica a obra República para criar a cidade ideal, isto a fim de demonstrar
o que é a justiça e se a vida justa é mais feliz que a injusta. O filósofo rejeita as
a) O interior da caverna corresponde ao mundo material sensível, das imagens e cidades existentes como modelos de cidades justas, pois as aparências não são
opiniões falsas que os homens conhecem. Corresponde a uma cópia imperfeita do suficientes para definir o que algo é em si mesmo. Então, para vislumbrar o que
mundo das ideias. é a justiça, antes necessitamos enxergar o conceito de maneira ampliada, isto é,
b) O mundo da superfície corresponde ao mundo das ideias, o mundo inteligível, onde na cidade ideal e depois de maneira diminuta na alma do indivíduo. A cidade justa
existem as essências. É este o mundo que o filósofo chega a conhecer mediante a de Platão contempla trabalhadores, soldados e governantes realizando as funções
atividade filosófica. para as quais estão mais aptos naturalmente. E assim como na cidade platônica é o
02. A Alegoria da Caverna quer dizer, utilizando uma imagem fictícia, como era a realidade filósofo quem governa, no indivíduo é a razão que o guia.
da cidade de Atenas ou de todas as cidades. Tal realidade é que os homens vivem suas b) Na charge os personagens estão presos por correntes ao televisor, na alegoria os
vidas encantados com imagens, ou seja, eles vivem suas vidas encantados com aquilo homens estão presos à caverna. Assim como na TV a realidade é forjada pelos
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

que mantém apenas a aparência da realidade. Não apenas o homem está nessa situação programas, a realidade era forjada dentro da caverna por alguns homens livres
de enfeitiçado, porém ele também está preso impedido de chacoalhar para fora dessa dos grilhões. Os homens nos dois casos, as sombras são tidas como verdadeiras,
situação. O filósofo é quem consegue se livrar do feitiço e depois quebrar os grilhões porém quando libertos, eles passam a enxergar a realidade mesma. Essa saída
que o impedem de sair desse estado. É fundamental, segundo a alegoria, realizar esse indica a possibilidade de autonomia. No âmbito político, representa a possibilidade
movimento para fora da caverna para conceber que a aparência explicitada pelas do exercício do governo à luz da justiça e o afastamento das formas de dominação.
imagens não revela muito sobre a verdade descoberta sob a luz existente fora da caverna. 05.
A aparência é apenas um simulacro produzido na caverna, a essência é uma descoberta
feita livre do confinamento neste antro que os homens vivem, chamado “cidade”. a) A resposta correta é “método dialético” (ou “dialética”).
03. Nós estamos diante de um trecho que compõe um dos mais famosos da história da b) Trata-se do princípio supremo do Bem (ou: forma (s), ideia (s), mundo inteligível,
filosofia e cujas tarefas, as do filósofo, estão delineadas em forma de alegoria. A primeira mundo das ideias, ideia do Bem e supremo Bem).
tarefa a ser entendida é que a caverna é o nosso mundo, o mundo onde esquecemos Essa tarefa é atribuída ao filósofo ou dialético.
de tudo – supõe Platão – enquanto todos nós já tivéssemos vivido como puro espírito
contemplando o mundo das ideias. Pela teoria da reminiscência, Platão explica como c) “... e que realmente arrasta aos poucos os olhos da alma da espécie de lodo bárbaro
os sentidos correspondem a uma ocasião para despertar nas almas as lembranças em que está atolada e eleva-os às alturas.”
adormecidas. Deste modo, a sombra significa o amor pela doxa (amor pela opinião), pelas

ANOTAÇÕES

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FILOSOFIA 08 PLATÃO II

ANOTAÇÕES
Reprodução proibida Art. 184 do CP.

58 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
09
FILOSOFIA
ARISTÓTELES

A TEORIA DA IDEIAS Segundo Aristóteles, então, para alcançar o conhecimento


é necessário ter em vista a conjunção entre o mundo sensível
E O CONHECIMENTO e o mundo inteligível, isto é, o mundo material. A sua visão não
é dualista como a de Platão pois a verdade está na junção entre
Indubitavelmente, a Teoria das Ideias de Platão é uma das mais
a razão e os sentidos. Logo, a visão aristotélica entende que os
influentes teorias filosóficas. Contudo, Aristóteles, que foi o mais
sentidos, ou seja, aquilo que apreendemos através das nossas
brilhante aluno de Platão, não concordava com seu mestre.
percepções caminha, necessariamente, junto ao que é entendido
Para Aristóteles, a argumentação de Platão de que a Teoria das através da racionalidade, do pensamento lógico.
Ideias possibilita e explica o conhecimento científico prova que o
universal é real e não mera ficção mental. Contudo, a Teoria das
Ideias não consegue provar que o universal subsista à parte das ÉTICA E POLÍTICA
coisas materiais.
Em sua obra Ética a Nicômaco, Aristóteles vai apresentar
Ademais, caso Platão estivesse certo, deveria haver, além das grande parte de suas reflexões sobre as práticas humanas e sua
Ideias dos objetos, também Ideias das negações e das relações – o finalidade. Nesse sentido, o filósofo vai apontar que o fim, o objetivo
que Platão não havia percebido, e que traz dificuldades imensas à das atividades humanas reside na busca por um bem supremo, um
sua tese. Por isso, Aristóteles rejeita a Teoria das Ideias. bem que se aplica a todos os indivíduos e esse sumo bem reside
Aristóteles, portanto, afirma que a doutrina das Ideias é inútil, pois: na noção de uma vida feliz. Dessa forma, a filosofia ética e moral de
Aristóteles é uma eudaimonia uma vez que é amparada na busca
I. simplesmente duplica a existência das coisas visíveis, sem
pela felicidade.
explicá-las, e sem explicar a existência das próprias Ideias;
Entretanto, a ideia de felicidade aristotélica tem particularidades
II. as Ideias são inúteis para o nosso conhecimento das coisas,
que a distancia da nossa noção contemporânea. Para o filósofo,
pois mesmo que conhecêssemos as Ideias perfeitas, ainda
o bem supremo, logo, a felicidade, é alcançado através da virtude
ficariam inexplicadas as coisas imperfeitas com as quais
exercida de forma racional pelo ser humano nos seus hábitos, na
temos contato cotidiano – ou seja, conhecer as Ideias não é
repetição das suas práticas e não em função do acaso, de situações
explicar as suas cópias observáveis;
isoladas ou banais. Aristóteles conclui afirmando que a racionalidade,
III. as Ideias são inúteis quando se trata de explicar o movimento ou seja, a virtude moral está no que ele chama de justa medida que
das coisas, pois não se pode deduzir a mudança incessante é encontrar a mediana, o justo meio entre os extremos nas questões
das cópias a partir da imobilidade eterna das Ideias; práticas do ser humano.
IV. se as Ideias dão origem a objetos sensíveis, elas têm Essa reflexão ética ampara em grande medida o pensamento
também de ser sensíveis; assim, as Ideias não passariam de político de Aristóteles. O pensamento do filósofo não vai apontar um
“sensíveis eternos”. modelo de governo ideal. Na sua visão, a política é tarefa de buscar
Assim, Aristóteles chega à conclusão de que a Teoria das o bem comum, sendo assim, o governo tem como função básica
Ideias, ou das Formas, não é verdadeira. a busca pela felicidade. Aqui coloca-se em questão quais seriam
os caminhos para alcançar essa felicidade. A visão aristotélica
aponta que o governante deve ter seu comportamento, a sua ética
fundamentada na dita justa medida. Em outras palavras, é ter a
postura baseada no meio termo, no equilíbrio, por fim, afastar-se
dos extremos.

TEXTO COMPLEMENTAR
Vejamos agora as dificuldades da filosofia dos que postulam
as Ideias (ou Formas) como causas (isto   é, os platônicos): em
primeiro lugar, ao procurarem apreender as causas das coisas
que nos cercam, introduziram outras em número igual, como um
homem que, dispondo-se a contar diversos objetos, julgasse que
não poderia fazê-lo enquanto eles fossem poucos e tentasse
contá-los aumentando-lhes o número. Com efeito, as Ideias são
em número praticamente igual ou não inferior ao das coisas que
eles procuram explicar passando delas às Ideias. A  cada coisa
corresponde uma entidade que tem o mesmo nome e existe à parte
das substâncias; e, do mesmo modo, para todos os outros grupos
existe o Um por cima dos múltiplos, quer os múltiplos pertençam a
este mundo, quer sejam eternos.
Além disto, de todas as provas que damos da existência das
Ideias nenhuma é convincente, pois de algumas delas não se segue
nenhuma inferência necessária, e de outras surgem Ideias até para
Platão e Aristóteles. Escola de Atenas (1509-1510), fresco de Rafael Sanzio. coisas de que julgamos não existirem Ideias. Com efeito, de acordo
com os argumentos que partem da existência das ciências deve
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/98/
Sanzio_01_Plato_Aristotle.jpg haver Ideias para todas as coisas de que há ciência, enquanto o
argumento do “um sobre muitos” cria Ideias até para as negações;

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 7
FILOSOFIA 09 ARISTÓTELES

e igualmente para as coisas transitórias, segundo o argumento sensíveis, mas também de outras Ideias; isto é, o gênero, como o
de que as coisas que já não existem são também objeto de gênero composto de várias espécies, será uma delas; portanto, a
pensamento, pois fazemos uma imagem delas. Acresce que, dos mesma coisa será simultaneamente modelo e cópia.
argumentos mais rigorosos, alguns conduzem a Ideias de relações, E mais: parece impossível que a substância e aquilo de que
que afirmamos não constituírem uma classe independente, é substância existam separadamente; como, então, poderiam as
enquanto outros introduzem um problema conhecido como o Ideias, sendo substâncias das coisas, ter existência à parte? No
“terceiro homem” (se há algo de comum entre o Homem ideal – Fédon isto é expresso da seguinte maneira: as Ideias são causas
ou seja, a Ideia platônica do homem – e o homem individual, essa tanto do ser como do devir; no entanto, mesmo existindo as Ideias,
essência comum será um “terceiro homem”; e assim ao infinito). as coisas que delas participam não são geradas a menos que
E, em geral, os argumentos em favor das Formas destroem as haja algo para dar origem ao movimento; e muitas outras coisas
coisas cuja existência nos importa mais do que a existência das são produzidas (como uma casa ou um anel), das quais dizemos
Ideias; pois de tudo isso se segue que não a díade, mas o número não existirem Ideias. É  evidente, pois, que também outras coisas
é o primeiro, isto é, que o relativo é anterior ao absoluto – além podem ser e vir a ser por causas semelhantes às que produzem as
de todos os outros pontos a respeito dos quais certas pessoas, coisas mencionadas acima.
deduzindo as consequências lógicas das opiniões sobre as Ideias, Além disso, se as Ideias são números, como podem ser
entraram em conflito com os princípios da teoria. causas? Será porque as coisas existentes sejam outros números,
Mais ainda: de acordo com a concepção sobre que assenta a por exemplo, um número é o homem, outro é Sócrates e outro
nossa crença nas Ideias, haverá Ideias não apenas de substâncias, ainda é Cálias? Então, por que os números de um desses conjuntos
mas também de muitas outras coisas (pois o conceito é um só, são causas dos do outro conjunto? Não importa em absoluto que
refira-se ele a substâncias ou ao que quer que seja, e existem os primeiros sejam eternos e os outros não. Mas, se é porque as
ciências não só de substâncias mas também de outras coisas; e coisas deste mundo sensível (por exemplo, a harmonia) são razões
assim vão se multiplicando as dificuldades). Mas, de acordo com numéricas, evidentemente os termos de tais razões constituem
as necessidades do caso e as opiniões sustentadas a respeito das alguma espécie de coisas. Se, pois, isso – a  matéria – é alguma
Ideias, se a participação nestas é possível só devem existir Ideias coisa definida, evidentemente os próprios números serão razões
de substâncias; pois não se participa delas acidentalmente, mas entre algo e algo mais. Por exemplo, se Cálias é uma razão numérica
uma coisa não deve participar de sua Ideia como de algo que seja entre fogo, terra, água e ar, a sua Ideia também será um número
predicado de um sujeito (por “participação acidental” entendo a de certas outras coisas subjacentes; e o homem em si, quer seja
participação de alguma coisa no “eterno” pelo fato de participar no ou não seja em certo sentido um número, será sempre uma razão
“duplo em si”; mas participação acidental, apenas porque “eterno” numérica de certas coisas e não um número propriamente dito, e
pode ser predicado de “duplo”). Por conseguinte, as Ideias serão tampouco será uma espécie de número simplesmente por ser uma
substância; mas o mesmo termo designa substância neste mundo razão numérica.
e no mundo ideal (senão, que significaria dizer que existe alguma Por outro lado, de muitos números um número é gerado, mas
coisa além dos particulares – o um sobre muitos?). E, se as Ideias como pode uma Ideia gerar-se de muitas Ideias? E se o número
e os particulares que delas participam têm a mesma forma, deve não é gerado dos muitos números em si, mas das unidades que
haver alguma coisa comum a ambos; com efeito, por que haveria neles se acham contidas, como, por exemplo, em 10.000, que
de ser a díade uma mesma e única coisa nas díades corruptíveis dizer das unidades? Se elas são especificamente iguais, muitas
e naquelas que são muitas, mas eternas, e não no caso da “díade consequências absurdas decorrerão daí, e do mesmo modo se são
em si” em face de qualquer díade particular? Se, todavia, elas não desiguais (não sendo semelhantes entre si as unidades contidas
têm a mesma forma, devem possuir em comum apenas o nome; e num só número, nem sendo todas as contidas em diferentes
é como se alguém chamasse de “homem” tanto a Cálias como a números semelhantes a todas); pois em que poderão elas diferir, já
uma imagem de madeira, sem observar qualquer coisa de comum que são destituídas de qualidade? Não é esta uma opinião aceitável
entre os dois. nem coerente com o que pensamos sobre o assunto.
Mas acima de tudo poder-se-ia perguntar com que contribuem Acresce que eles têm de estabelecer uma segunda espécie
as Ideias para as coisas sensíveis, quer para as que são eternas, de número (da qual trata a Aritmética), e todos os objetos que são
quer para as que estão sujeitas à geração e à corrupção. Pois chamados “intermediários” por alguns filósofos; e como existem esses,
elas nem são causas de movimento, nem de qualquer mudança e de que princípio procedem? Ou por que devem ser intermediários
nessas coisas. Por outro lado, de modo algum contribuem para entre as coisas deste mundo sensível e as coisas-em-si?
o conhecimento das outras coisas (pois nem sequer são a sua
substância, do contrário existiriam nelas), ou para o seu ser, uma Além disso, as unidades contidas na díade devem provir de
vez que não se encontram nos particulares que delas participam; uma díade anterior, o que é impossível. Ainda mais: por que é uno
se assim acontecesse, poderiam ser consideradas como causas, um número quando tomado no seu todo?
com o branco que é causa da brancura de um objeto branco por Por outro lado, além do que ficou dito, se as unidades são
entrar na sua composição. Mas é fácil refutar este argumento, diversas os Platônicos deveriam ter falado como os que sustentam
usado primeiro por Anaxágoras e mais tarde por Eudoxo e alguns a existência de quatro ou de dois elementos; pois cada um desses
outros; pois sem dificuldade pode-se levantar muitas e insuperáveis filósofos dá o nome de elemento não àquilo que é comum, como
objeções contra tal opinião. por exemplo o corpo, mas ao fogo e à terra, quer haja, quer não
Além disso, as outras coisas não podem derivar das Ideias em haja algo de comum entre eles (isto é, o corpo). Mas o fato é que os
qualquer dos sentidos usuais da palavra “derivar”. E dizer que são Platônicos falam como se o Um fosse homogêneo, a exemplo do
modelos e que as outras coisas participam delas é usar palavras fogo e da água; e, a ser assim, os números não serão substâncias.
ocas e metáforas poéticas. Pois quem é que trabalha com os Evidentemente, se  existe o “Um-em-si” e esse é um primeiro
olhos postos nas Ideias? E  qualquer coisa pode ser ou tornar-se princípio, a palavra “um” está sendo usada em mais de um sentido;
semelhante a outra sem ser copiada dela; por exemplo: quer exista de outra forma, a teoria é impossível.
(ARISTÓTELES. Metafísica, livro I)
Sócrates, quer não, um homem semelhante a Sócrates poderia
nascer; e evidentemente, assim aconteceria mesmo que Sócrates
Quando desejamos reduzir substâncias aos seus princípios,
fosse eterno. Por outro lado, de cada coisa haverá diversos
dizemos que as linhas provêm do curto e do comprido (isto é, de
modelos e, por conseguinte, diversas Formas; por exemplo,
uma espécie de grande e pequeno), o plano do largo e do estreito,
“animal” e “bípede”, e também “homem em si”, serão Ideias do
e o corpo do espesso e do fino. Mas, nesse caso, como pode o
homem. Acresce que as Ideias não são apenas modelos de coisas
plano conter uma linha, ou o sólido conter um plano ou uma

8 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
09 ARISTÓTELES FILOSOFIA

linha? Pois o largo e o estreito constituem uma classe diferente do aprendizado se baseia em premissas, todas ou algumas delas
espesso e do fino. Por conseguinte, assim como o número não está conhecidas com antecedência – quer o aprendizado se faça
presente neles, porque os muitos e os poucos constituem ainda por demonstração, quer por definições; pois devemos conhecer
outra classe, evidentemente nenhuma das classes superiores previamente os elementos da definição e estar familiarizados
estará presente nas inferiores. Mas, por outro lado, o largo não é com eles; e o aprendizado por indução se processa de forma
um gênero que inclua o espesso, pois nesse caso o sólido seria semelhante. Mas, por outro lado, se esta ciência fosse realmente
uma espécie de plano. E, além disso, de que princípio derivaria a inata, seria pasmoso que possuíssemos a mais alta das ciências
presença dos pontos na linha? O próprio Platão levantava objeções sem nos apercebermos disso.
a esta classe de entidades, como sendo uma ficção geométrica. (ARISTÓTELES. Metafísica, livro I)
Chamou “princípio da linha” às linhas indivisíveis, que muitas vezes
postulou. E contudo, elas devem ter um limite; por conseguinte,
o argumento de que se depreende a existência da linha também
prova a existência do ponto. EXERCÍCIOS
Em geral, se bem que a Filosofia investigue a causa das coisas
perceptíveis, renunciamos a essa busca (pois nada dizemos sobre a
PROTREINO
causa de que se origina a mudança), mas, imaginando estabelecer
01. Quem foi o mentor de Aristóteles?
a substância das coisas perceptíveis, afirmamos a existência de
uma segunda classe de substâncias, enquanto nossa exposição 02. Aponte uma razão para Aristóteles negar a Teoria das Ideias de
da maneira pela qual elas são substâncias das coisas perceptíveis Platão?
não passa de um palavreado oco; porque “participar”, como já
dissemos, nada significa. 03. Defina Eudaimonia.
Tampouco têm as Ideias qualquer relação com o que vemos 04. Defina justa medida para Aristóteles.
ser a causa no que se refere às artes, aquilo para que tende a
05. Defina mundo material, segundo Aristóteles.
operação de toda inteligência, assim como da natureza inteira –
com essa causa que afirmamos ser um dos primeiros princípios;
mas a Matemática passou a identificar-se com a Filosofia para os
pensadores modernos, embora digam que ela deveria ser estudada
no interesse de outras coisas.
EXERCÍCIOS
Também se poderia supor que a substância subjacente
apontada por eles como matéria é excessivamente matemática, e PROPOSTOS
antes um predicado e diferenciação da substância, isto é, da matéria
do que matéria propriamente dita; em outras palavras, o grande e o 01. (UEG) A reflexão ética como tal teve início na Grécia antiga,
pequeno são como o denso e o tênue de que falam os Fisiólogos, quando os pensadores procuravam o fundamento moral de
chamado‑lhes diferenciações primárias do substrato; pois eles são acordo com uma compreensão da realidade puramente racional.
uma espécie de excesso e carência. E no que tange ao movimento, Aristóteles se destacou nesse contexto e exerceu forte influência
se o grande e o pequeno são movimento, evidentemente as Ideias no pensamento ocidental. Segundo sua teoria, conhecida como
se moverão; mas se não são movimento, de onde proveio este? eudemonismo, todas as atividades humanas aspiram a um fim que
Todo o estudo da natureza fica assim aniquilado. recebe o nome de
E aquilo que parece fácil – mostrar que tudo é um – não se a) benevolência.
consegue; pois o que se prova pelo método expositivo não é que
b) felicidade.
tudo seja um, mas que existe o Um-em-si – se concedemos todos
os pressupostos. E nem mesmo isso se segue, se não concedemos c) virtude.
que o universal seja um gênero – o que por vezes é impossível. d) paixão.
Tampouco é possível explicar como existem ou podem existir
as linhas, os planos e os sólidos que vêm depois dos números, 02. (UEL) Leia o texto a seguir.
nem qual seja o significado deles; pois não podem ser Ideias É pois manifesto que a ciência a adquirir é a das causas primeiras
(uma vez que não são números), nem intermediários (os quais (pois dizemos que conhecemos cada coisa somente quando
constituem o objeto da Matemática), nem coisas corruptíveis. julgamos conhecer a sua primeira causa); ora, causa diz-se em
Trata‑se, evidentemente, de uma quarta classe distinta. De um quatro sentidos: no primeiro, entendemos por causa a substância e
modo geral, se buscamos os elementos das coisas existentes sem a essência (o “porquê” reconduz-se pois à noção última, e o primeiro
distinguir os numerosos sentidos em que se diz que elas existem, “porquê” é causa e princípio); a segunda causa é a matéria e o sujeito;
não conseguimos encontrá-los, especialmente se a pesquisa a terceira é a de onde vem o início do movimento; a quarta causa, que
dos elementos de que se compõem as coisas é conduzida desta se opõe à precedente, é o “fim para que” e o bem (porque este é, com
forma. Com efeito, é realmente impossível descobrir de que são efeito, o fim de toda a geração e movimento).
compostos a “ação”, a “paixão” e o “reto”; mas, se possível é Adaptado de: ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. De Vincenzo Cocco.
descobrir elementos, serão apenas os elementos das substâncias. São Paulo: Abril S. A. Cultural, 1984. p.16. (Coleção Os Pensadores.)
Portanto, labora em erro quem procura ou julga haver encontrado
os elementos de todas as coisas existentes. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, assinale a
E como poderíamos aprender os elementos de todas as coisas? alternativa que indica, corretamente, a ordem em que Aristóteles
É evidente que não poderia haver nenhum conhecimento prévio. apresentou as causas primeiras.
Pois, assim como quem está aprendendo Geometria, embora possa a) Causa final, causa eficiente, causa material e causa formal.
ter conhecimento de outras coisas, nada sabe daquelas de que trata b) Causa formal, causa material, causa final e causa eficiente.
essa ciência e que ele se dispõe a aprender, o mesmo sucede
c) Causa formal, causa material, causa eficiente e causa final.
em todos os outros campos. Portanto, se existe uma ciência de
todas as coisas, tal como pretendem alguns, quem começasse d) Causa material, causa formal, causa eficiente e causa final.
a estudá-la nenhum conhecimento prévio teria. No entanto, todo e) Causa material, causa formal, causa final e causa eficiente.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 9
FILOSOFIA 09 ARISTÓTELES

03. (UEL) Leia o texto a seguir. c) preparar os cidadãos como bons combatentes para
A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a conquistarem outros povos.
escolha e consiste numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, d) habituar os seres humanos a obedecer.
a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem e) agradar aos deuses.
dotado de sabedoria prática.
(Aristóteles. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. 07. (UENP 2011) “Estas três formas podem degenerar: [...] A tirania
São Paulo: Abril Cultural, 1973. Livro II, p. 273.)
não é, de fato, senão a monarquia voltada para a utilidade do
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada ética em monarca; a oligarquia, para a utilidade dos ricos; a democracia, para
Aristóteles, pode-se dizer que a virtude ética a utilidade dos pobres. Nenhuma das três se ocupa do interesse
público. Podemos dizer ainda, de um modo um pouco diferente,
a) reside no meio termo, que consiste numa escolha situada entre
que a tirania é o governo despótico exercido por um homem sobre
o excesso e a falta.
o Estado, que a oligarquia representa o governo dos ricos e a
b) implica na escolha do que é conveniente no excesso e do que democracia o dos pobres ou das pessoas pouco favorecidas.”
é prazeroso na falta.
Aristóteles. Política.
c) consiste na eleição de um dos extremos como o mais
adequado, isto é, ou o excesso ou a falta. De acordo com o fragmento de texto, assinale a alternativa que
d) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em razão de melhor completa a tabela abaixo:
preferências pragmáticas.
Forma Forma
e) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com o fato de
que a natureza é que nos torna mais perfeitos.
autêntica degenerada
Um no governo (I) Tirania
04. (UFSJ) “Também se pergunta se a felicidade deve ser adquirida
pela aprendizagem, pelo hábito ou por alguma outra espécie de Alguns no Aristocracia (II)
adestramento, ou se ela nos é conferida por alguma providência governo
divina, ou ainda pelo acaso”.
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro I. Muitos no República (III)
São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 58-59). governo
Considerando-se o trecho acima da Ética a Nicômaco, conclui-se
que a felicidade é a) (I) democracia - (II) monarquia - (III) oligarquia
a) uma atividade virtuosa da alma, e os demais bens são b) (I) monarquia - (II) democracia - (III) oligarquia
condições prévias da felicidade. c) (I) oligarquia - (II) monarquia - (III) democracia
b) indiscutivelmente uma dádiva de Deus. d) (I) monarquia - (II) oligarquia - (III) democracia
c) mero fruto do acaso.
e) (I) democracia - (II) oligarquia - (III) monarquia
d) inata e, portanto, desde criança se é feliz.
08. (ENEM 2013) A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e a
05. Aristóteles considerava que era melhor para a sociedade mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não devem estar
a soberania política ser entregue ao povo, como ocorre na separados como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a
democracia, do que a alguns homens notáveis, como na oligarquia mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais
ou aristocracia. Ele argumentava que, mesmo que um indivíduo doce é ter o que amamos”. Todos estes atributos estão presentes
isoladamente não fosse muito competente no ato de julgar, quando nas mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós a
unido a outros cidadãos julga melhor, porque a união reúne as
identificamos como felicidade.
qualidades de cada um.
ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.
A vantagem da democracia, segundo o ponto de vista de Aristóteles,
seria a de Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes
a) combinar as qualidades de muitos e neutralizar seus defeitos. atributos, Aristóteles a identifica como
b) garantir que os defeitos do povo sejam corrigidos pela elite. a) busca por bens materiais e títulos de nobreza.
c) proporcionar à maioria as vantagens da corrupção. b) plenitude espiritual a ascese pessoal.
d) permitir que os grandes homens falem em nome de todos. c) finalidade das ações e condutas humanas.
e) promover o anonimato das opiniões e decisões. d) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.
e) expressão do sucesso individual e reconhecimento público.
06. (UFF 2011) Durante a maior parte da história da humanidade, o
bem-estar e o interesse dos governantes têm predominado sobre 09. (ENEM PPL 2012) Pode-se viver sem ciência, pode-se adotar
o bem-estar e o interesse dos governados. Os gregos foram os crenças sem querer justificá-las racionalmente, pode-se desprezar
primeiros a experimentar a democracia, isto é, regime político em que as evidências empíricas. No entanto, depois de Platão e Aristóteles,
os cidadãos são livres e o governo é exercido pela coletividade para nenhum homem honesto pode ignorar que uma outra atitude
atender ao bem-estar e ao interesse de todos, e não só de alguns. intelectual foi experimentada, a de adotar crenças com base em
Aristóteles refletiu sobre essa experiência e concluiu que a razões e evidências e questionar tudo o mais a fim de descobrir
finalidade da atividade política é seu sentido último.
a) evitar a injustiça e permitir aos cidadãos serem virtuosos e ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia.
São Paulo: Odysseus, 2002.
felizes.
b) impor a todos um pensamento único para evitar a divisão da Platão e Aristóteles marcaram profundamente a formação do
sociedade. pensamento Ocidental. No texto, é ressaltado importante aspecto
filosófico de ambos os autores que, em linhas gerais, refere-se à

10 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
09 ARISTÓTELES FILOSOFIA

a) adoção da experiência do senso comum como critério de Com base no texto acima, considere as seguintes afirmações:
verdade. I. Somente a ciência é conhecimento universal, cujos juízos
b) incapacidade de a razão confirmar o conhecimento resultante gerais se aplicam a todos os casos semelhantes.
de evidências empíricas. II. A tékhne é uma forma de conhecimento universal, pois, com
c) pretensão de a experiência legitimar por si mesma a base nas experiências, se forma um juízo geral.
verdade. III. Por ser semelhante à experiência, a tékhne não constitui um
d) defesa de que a honestidade condiciona a possibilidade de se conhecimento universal.
pensar a verdade. IV. A experiência é pressuposto dos conhecimentos universais
e) compreensão de que a verdade deve ser justificada (tékhné e epistéme), mas não é ainda um conhecimento universal.
racionalmente. É correto somente o que se afirma em
a) I e IV.
10. (UEL) Analise a imagem e leia o texto a seguir.
b) II e III.
c) I e III.
d) II e IV.

12. (UFU) "O filósofo natural e o dialético darão definições diferentes


para cada uma dessas afecções. Por exemplo, no caso da pergunta
"O que é a raiva?", o dialético dirá que se trata de um desejo de
vingança, ou algo deste tipo; o filósofo natural dirá que se trata de um
aquecimento do sangue ou de fluidos quentes do coração. Um explica
segundo a matéria, o outro, segundo a forma e a definição. A definição
é o "o que é" da coisa, mas, para existir, esta precisa da matéria."
Aristóteles. Sobre a alma, I,1 403a 25-32.
Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2010.

Considerando-se o trecho acima, extraído da obra Sobre a Alma,


de Aristóteles (384-322 a.C.), assinale a alternativa que nomeia
Mobilização pelas “Diretas já”, Praça da Sé, São Paulo, janeiro 1984. (Disponível em:
<http://novaescola.abril.com.br> Acesso em: 13 jun. 2005.)
corretamente a doutrina aristotélica em questão.
a) Teoria das categorias.
“Um cidadão integral pode ser definido por nada mais nem b) Teoria do ato-potência.
nada menos que pelo direito de administrar a justiça e exercer
funções públicas [...].” c) Teoria das causas.
(ARISTÓTELES. Política. d) Teoria do eudaimonismo.
Trad. Mário da Gama Kury. 3. ed. Brasília: UNB, 1997. p. 78.)

13. (UNISC) Aristóteles, na obra Etica a Nicômaco, procura o fim


Tendo como base o conceito de cidadania de Aristóteles, é
último de todas as atividades humanas, uma vez que tudo o que
correto afirmar que o fato político retratado na imagem:
fazemos visa alcançar um bem, ou o que nos parece ser um bem.
a) Confirma o ideal aristotélico de cidadão como aquele que se Pergunta-se, então, pelo “sumo bem”, aquele que em si mesmo é
submete passivamente a uma autoridade coercitiva e ilimitada. um fim, e não um meio para o que quer que seja. Para Aristóteles,
b) Ilustra o conceito que Aristóteles construiu de cidadãos como na Ética a Nicômaco, o sumo bem está
aqueles que estão separados em três classes, sendo que uma a) na honra.
delas governa, de modo absoluto, as demais. b) na riqueza.
c) Manifesta contradição com a concepção de liberdade e de c) na fama.
manifestação pública presente no exercício da cidadania grega, d) na vida feliz.
ao revelar uma campanha submissa e tutelada pela minoria.
e) na lealdade.
d) Mostra o ideário aristotélico de cidade e de cidadania, que exalta
o individualismo e a supremacia do privado em detrimento do 14. (ENEM PPL) Ambos prestam serviços corporais para atender
público. às necessidades da vida. A natureza faz o corpo do escravo e do
e) Caracteriza um exemplo contemporâneo de participação que homem livre de forma diferente. O escravo tem corpo forte, adaptado
demonstra o debate de assuntos públicos, assim como faziam os naturalmente ao trabalho servil. Já o homem livre tem corpo ereto,
cidadãos livres de Atenas. inadequado ao trabalho braçal, porém apto à vida do cidadão.
ARISTÓTELES. Política. Brasília: UnB, 1985.

11. (UECE) Leia atentamente a seguinte passagem:


O trabalho braçal é considerado, na filosofia aristotélica, como
“A experiência parece um pouco semelhante à ciência (epistéme)
a) indicador da imagem do homem no estado de natureza.
e à arte (tékhne). Com efeito, os homens adquirem ciência e arte por
b) condição necessária para a realização da virtude humana.
meio da experiência. A experiência, como diz Polo, produz a arte,
enquanto a inexperiência produz o puro acaso. A arte se produz c) atividade que exige força física e uso limitado da racionalidade.
quando, de muitas observações da experiência, forma-se um juízo d) referencial que o homem deve seguir para viver uma vida ativa.
geral e único passível de ser referido a todos os casos semelhantes.” e) mecanismo de aperfeiçoamento do trabalho por meio da
(Aristóteles, Metafísica, 981a5). experiência.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 11
FILOSOFIA 09 ARISTÓTELES

15. (UEL) mira a vantagem comum, quer de todos, quer dos melhores ou
daqueles que detêm o poder ou algo desse gênero; de modo que,
em certo sentido, chamamos justos aqueles atos que tendem a
produzir e a preservar, para a sociedade política, a felicidade e os
elementos que a compõem.
ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010 (adaptado).

De acordo com o texto de Aristóteles, o legislador deve agir


conforme a
a) moral e a vida privada.
b) virtude e os interesses públicos.
c) utilidade e os critérios pragmáticos.
d) lógica e os princípios metafísicos.
e) razão e as verdades transcendentes.

17. (ENEM PPL 2017) A definição de Aristóteles para enigma é


A figura mostra Atenas na atualidade. Observam-se as ruínas da totalmente desligada de qualquer fundo religioso: dizer coisas
reais associando coisas impossíveis. Visto que, para Aristóteles,
Acrópolis – onde ficavam os templos como o Parthenon –, o Teatro
associar coisas impossíveis significa formular uma contradição,
de Dionísio e a Asthy – com a Ágora (Mercado/Praça Pública) e as sua definição quer dizer que o enigma é uma contradição que
casas dos moradores. designa algo real, em vez de não indicar nada, como é de regra.
Leia o texto a seguir. COLLI, G. O nascimento da filosofia. Campinas: Unicamp, 1996 (adaptado).

Para Aristóteles, a boa convivência entre os habitantes da Segundo o texto, Aristóteles inovou a forma de pensar sobre o
cidade ideal não seria nunca obtida com a mera apathia (ausência enigma, ao argumentar que
de paixões) platônica, mas somente através de uma boa medida a) a contradição que caracteriza o enigma é desprovida de
entre razão e afetividade. Enfim, a arte não apenas é capaz de nos relevância filosófica.
trazer saber, ela tem também uma função edificante e pedagógica. b) os enigmas religiosos são contraditórios porque indicam algo
(FEITOSA, C. Explicando a filosofia com arte. religiosamente real.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2004, p.123.) c) o enigma é uma contradição que diz algo de real e algo de
impossível ao mesmo tempo.
Com base na figura, no texto, nos conhecimentos sobre Aristóteles d) as coisas impossíveis são enigmáticas e devem ser explicadas
e na ideia de que os espaços do Teatro, da Ágora, dos Templos na em vista de sua origem religiosa.
cidade de Atenas foram imprescindíveis para a vocação formativa e) a contradição enuncia coisas impossíveis e irreais, porque ela é
da arte na Grécia Clássica, considere as afirmativas a seguir. desligada de seu fundo religioso.
I. A catarse propiciada pelas obras teatrais trágicas apresentadas
na cidade grega operava uma transformação das emoções e 18. (ENEM PPL 2017) Dado que, dos hábitos racionais com os quais
captamos a verdade, alguns são sempre verdadeiros, enquanto
tornava possível que os cidadãos se purificassem e saíssem
outros admitem o falso, como a opinião e o cálculo, enquanto o
mais elevados dos espetáculos. conhecimento científico e a intuição são sempre verdadeiros, e
II. A obra poética educava e instruía o cidadão da cidade grega, e dado que nenhum outro gênero de conhecimento é mais exato
isso acontecia por consequência da satisfação que este sentia ao que o conhecimento científico, exceto a intuição, e, por outro
imitar os atos dos grandes heróis que eram encenados no teatro. lado, os princípios são mais conhecidos que as demonstrações,
e dado que todo conhecimento científico constitui-se de maneira
III. O poeta demonstrava o universal como possível ao criar argumentativa, não pode haver conhecimento científico dos
modelos de situações exemplares, que permitem fortalecer o princípios, e dado que não pode haver nada mais verdadeiro que o
sentimento de comunidade. conhecimento científico, exceto a intuição, a intuição deve ter por
objeto os princípios.
IV. O belo nas diversas artes, como nos poemas épicos, na tragédia
ARISTÓTELES. Segundos analíticos. In: REALE, G. História da filosofia antiga.
e na comédia, desvinculava-se dos laços morais e sociais São Paulo: Loyola, 1994.
existentes na polis, projetando-se em um mundo idealizado.
Os princípios, base da epistemologia aristotélica, pertencem ao
Assinale a alternativa correta.
domínio do(a)
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. a) opinião, pois fazem parte da formação da pessoa.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. b) cálculo, pois são demonstrados por argumentos.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. c) conhecimento científico, pois admitem provas empíricas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. d) intuição, pois ela é mais exata que o conhecimento científico.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas e) prática de hábitos racionais, pois com ela se capta a verdade.

16. (ENEM PPL 2019) Vimos que o homem sem lei é injusto e o 19. (ENEM PPL 2014) Ao falar do caráter de um homem não dizemos
respeitador da lei é justo; evidentemente todos os atos legítimos que ele é sábio ou que possui entendimento, mas que é calmo ou
são, em certo sentido, atos justos, porque os atos prescritos pela temperante. No entanto, louvamos também o sábio, referindo-se ao
arte do legislador são legítimos e cada um deles é justo. Ora, nas hábito; e aos hábitos dignos de louvor chamamos virtude.
disposições que tomam sobre todos os assuntos, as leis têm em ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova CuIturaI, 1973.

12 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
09 ARISTÓTELES FILOSOFIA

Em Aristóteles, o conceito de virtude ética expressa a Na célebre pintura A escola de Atenas, o artista renascentista
a) excelência de atividades praticadas em consonância com o italiano Rafael reuniu os principais nomes da filosofia grega, tendo
bem comum. ao centro do quadro as figuras de Platão e de Aristóteles. Na figura,
Platão aponta com sua mão para o alto e Aristóteles aponta para
b) concretização utilitária de ações que revelam a manifestação baixo. Deste modo, com estes gestos, Rafael estava ilustrando a
de propósitos privados. distinção entre a filosofia de Platão e a filosofia de Aristóteles.
c) concordância das ações humanas aos preceitos emanados da Indique e discorre sobre a principal diferença entre a filosofia de
divindade. Platão e a de Aristóteles.
d) realização de ações que permitem a configuração da paz
interior. 02. (UFU 2008) Leia o texto a seguir e responda as questões que
e) manifestação de ações estéticas, coroadas de adorno e beleza. se seguem.
Com efeito, onde está ao nosso alcance agir, também está ao
20. (ENEM 2017) Se, pois, para as coisas que fazemos existe um nosso alcance não agir, e onde somos capazes de dizer “não”, também
fim que desejamos por ele mesmo e tudo o mais é desejado no somos capazes de dizer “sim”; consequentemente, se agir, quando agir
interesse desse fim; evidentemente tal fim será o bem, ou antes, é nobilitante, está ao nosso alcance, não agir, que será ignóbil, também
o sumo bem. Mas não terá o conhecimento, porventura, grande estará ao nosso alcance, e se não agir, quando não agir é nobilitante,
influência sobre essa vida? Se assim é, esforcemo-nos por está ao nosso alcance, agir, que será ignóbil, também estará em nosso
determinar, ainda que em linhas gerais apenas, o que seja ele e alcance. Se está em nosso alcance, então, praticar atos nobilitantes ou
de qual das ciências ou faculdades constitui o objeto. Ninguém ignóbeis, e se isto era o que significava ser bom ou mau, está igualmente
duvidará de que o seu estudo pertença à arte mais prestigiosa e ao nosso alcance ser moralmente excelentes ou deficientes.
que mais verdadeiramente se pode chamar a arte mestra. Ora, a ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco.
política mostra ser dessa natureza, pois é ela que determina quais São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 159. Coleção Os Pensadores
as ciências que devem ser estudadas num Estado, quais são as que
cada cidadão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as a) Pode-se afirmar que, para Aristóteles, “agir” é sempre igual a
faculdades tidas em maior apreço, como a estratégia, a economia e “bom” e não agir é sempre igual a “mau”? Por quê?
a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, como a política utiliza as demais b) Pode-se afirmar que, conforme o texto de Aristóteles, as
ciências e, por outro lado, legisla sobre o que devemos e o que não escolhas determinam o caráter (disposição) de uma pessoa?
devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das Justifique sua resposta com base no texto.
outras, de modo que essa finalidade será o bem humano.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Pensadores. 03. (UFMG 2008) Leia este trecho:
São Paulo: Nova Gunman 1991 (adaptado).
“Com efeito, ter a noção de que a Cálias, atingido de tal doença,
Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organização da tal remédio deu alívio, e a Sócrates também, e, da mesma maneira,
pólis pressupõe que a outros tomados singularmente, é da experiência; mas julgar que
tenha aliviado a todos os semelhantes, determinados segundo
a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perseguir seus
uma única espécie, atingidos de tal doença, como os fleumáticos,
interesses.
os biliosos ou os incomodados por febre ardente, isso é da arte.”
b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os portadores ARISTÓTELES. Metafísica, Livro I, cap. I.
da verdade. Tradução de Vinzenzo Cocco. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 11.

c) a política é a ciência que precede todas as demais na Com base na leitura desse trecho e considerando outras
organização da cidade. informações presentes nesta obra de Aristóteles, redija um texto,
d) a educação visa formar a consciência de cada pessoa para agir explicando, do ponto de vista do autor, a diferença entre arte
corretamente. (conhecimento técnico) e experiência.
e) a democracia protege as atividades políticas necessárias para
04. (UFU 2003) “Sendo, pois, de duas espécies a virtude, intelectual
o bem comum.
e moral, a primeira, por via de regra, gera-se e cresce graças ao
ensino - por isso requer experiência e tempo; enquanto a virtude
moral é adquirida em resultado do hábito, donde ter se formado o
EXERCÍCIOS DE seu nome ética [êthiké] por uma pequena modificação da palavra
APROFUNDAMENTO hábito [éthos]. Por tudo isso, evidencia-se também que nenhuma
das virtudes morais surge em nós por natureza; com efeito, nada
do que existe naturalmente pode formar um hábito contrário à sua
01. (UFF 2009) natureza. Por exemplo, a pedra que por natureza se move para
baixo não se pode imprimir o hábito de ir para cima, ainda que
tentemos adestrá-la jogando-a dez mil vezes no ar; nem se pode
habituar o fogo a dirigir-se para baixo, nem qualquer coisa que por
natureza se comporte de certa maneira a comportar-se de outra”.
Aristóteles. Ética a Nicômaco.
São Paulo: Abril Cultural, 1973. Coleção “Os Pensadores”. p. 267.

A partir da análise do texto acima, estabeleça, em primeiro lugar, a


distinção entre virtude intelectual e moral; mostre, a seguir, por que
a virtude moral não surge em nós por natureza.

05. (UEL 2012) Leia os textos a seguir.


Projeto de lei quer tornar ‘busca pela felicidade’ uma obrigação
do Estado.
(Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/787567-projeto-de-lei-quer-
tornar-busca-pela-felicidade-uma-obrigacao-do-estado.shtml>.
Notícia de 23 ago. 2010. Acesso em: 3 jul. 2011.)

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 13
FILOSOFIA 09 ARISTÓTELES

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico modificadas pelo hábito. Se surgissem naturalmente, não necessitariam do hábito para
existir nem poderiam se transformar, como é o caso do fogo que sobe e da pedra que cai.
(OCDE) lançou ontem um índice de “vida melhor” para medir
05. Aristóteles revela que o ser humano pode escolher três espécies fundamentais de vida:
a felicidade dos países, que vai bem além das cifras do Produto vida dos prazeres, a vida política e a vida contemplativa. A maioria busca o prazer – vida
Interno Bruto (PIB). dos prazeres –, pois é uma inclinação natural buscar o prazer e fugir da dor. A vida dos
(Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de- prazeres não se restringe apenas aos seres humanos, mas faz parte da vida de todos
noticias/midias-nacionais/brasil/valor-economico /2011/05/25/ocde-cria-indice-de- os animais, pois esses sentem apetites e desejos. Os apetites ou as coisas apetecidas
felicidade-nacional>. Notícia de 25 maio 2011. Acesso em: 3 jul. 2011.) não são boas nem más; os apetites só se tornam maus se não estiverem mediados pela
racionalidade sendo, assim, imoderados. A vida política é escolhida pelos melhores, pois
esses visam à honra. A honra é o objeto da vida política. O problema é que a honra depende
A felicidade, mais do que qualquer outro bem, é tida como o mais de quem a dá do que daquele que a recebe. Se a felicidade deve ser constituída por
bem supremo, pois a escolhemos por si mesma e nunca por causa algo que seja próprio a cada indivíduo e não por algo que dependa de um terceiro, a vida
de algo mais. Por sua vez, a honra, o prazer e a razão, embora os de honra não pode proporcionar a mais alta felicidade. A felicidade mais perfeita para os
seres humanos reside no exercício da inteligência teorética, isto é, na contemplação. É a
escolhamos por si mesmos (pois os escolheríamos, ainda que nada vida contemplativa que realiza o fim próprio do ser humano. A vida contemplativa é uma
resultasse deles) escolhemo-los por causa da felicidade, pensando espécie de vida: autossuficiente, aquele que a possui já não deseja mais nada, embora
que a posse deles nos tornará felizes. Ao contrário, ninguém escolhe isso não o impeça de desfrutar de outros bens; que buscamos por si mesmo e não como
meio para outra coisa; é uma atividade contínua e duradoura. Mas Aristóteles reconhece
a felicidade tendo em vista algum destes, tampouco, de um modo que o ideal de uma vida contemplativa contínua é apenas possível para os deuses; os
geral, qualquer outra coisa que não seja ela própria. Se a felicidade seres humanos têm necessidades ligadas ao corpo. Portanto, a felicidade também pode
é a atividade conforme à virtude, será razoável que ela esteja em ser encontrada mediante o exercício da sabedoria prática, que consiste em dominar as
paixões e conseguir uma relação amável e satisfatória com o mundo natural e social.
conformidade com a mais alta de todas as virtudes, a qual se refere à
melhor parte de cada um de nós. Não só é a razão a melhor coisa que
existe em nós, como também os objetos da razão são os melhores ANOTAÇÕES
entre os objetos passíveis de ser conhecidos. É a mais contínua, já
que a contemplação da verdade pode ter uma continuidade maior
que a de qualquer outra atividade que possamos exercer.
(Adaptado de: ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd
Bornheim. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p.15; 188. Coleção Os Pensadores.)

Pelas notícias acima, percebe-se que o tema felicidade está em


voga. Para a filosofia, esse tema se impôs ainda na antiguidade
clássica. Para Aristóteles, é insuficiente dizer que a felicidade
– eudaimonia – é o maior bem para os seres humanos, pois há
variações acerca do que cada um identifica por felicidade. Por
essa razão, o filósofo afirma que é preciso compreender que tipo
de vida ou bem viver está subjacente à felicidade. A partir dos
conhecimentos sobre o tema felicidade em Aristóteles, explique em
que cada um dos três tipos principais de vida (honra, prazer, razão)
se aproxima ou se afasta da felicidade.

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. B 05. A 09. E 13. D 17. C
02. C 06. A 10. E 14. C 18. D
03. A 07. D 11. D 15. D 19. A
04. A 08. C 12. C 16. B 20. C

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. Platão e Aristóteles são considerados os dois principais filósofos gregos. Os dois
apresentam inúmeras diferenças entre si, sendo as principais relacionadas à forma
de conhecimento. Ainda que façam a separação entre o conhecimento sensível e o
intelectual, Platão busca a verdade em um mundo ideal, enquanto que Aristóteles a busca
no mundo material, não fazendo a distinção entre os dois mundos. É por isso que, na
pintura de Rafael, Platão aponta o dedo para cima (para o mundo das ideias) e Aristóteles
faz referência para baixo (para o mundo material).
02.
1) Não.
Conforme o texto, podemos observar que o filósofo considera duas situações
fundamentais: pode ocorrer que agir seja nobilitante, então, neste caso, não agir será
ignóbil; no outro caso, pode ocorrer que não agir seja nobilitante, portanto, neste caso,
agir será ignóbil.
2) Sim.
Para Aristóteles, conforme podemos ler, nós devemos escolher agir ou não agir conforme
cada situação. Assim, nosso caráter será nobre ou ignóbil conforme as nossas escolhas,
as quais realizamos de modo prudente ou não. Um fragmento que evidencia tal concepção
de Aristóteles é: “Se está em nosso alcance, então, praticar atos nobilitantes ou ignóbeis,
e se isto era o que significava ser bom ou mau, está igualmente ao nosso alcance ser
moralmente excelentes ou deficientes.”
03. Segundo Aristóteles, a experiência corresponde a um conhecimento singular (no
exemplo de Aristóteles, a cura de Cálias ou a cura de Sócrates). A diferença desse
tipo de experiência para arte está no fato de que a arte corresponde ao conhecimento
das experiências em geral. É por isso que ele afirma que ela é capaz de aliviar a todos
atingidos por uma determinada doença. Há, portanto, uma generalização no caso da arte,
correspondendo esta a um conhecimento universal.
04. As virtudes intelectuais são aquelas que estão mais relacionadas à atividade de
contemplação do filósofo. As virtudes morais, em contrapartida, são aquelas que se
referem ao hábito e que estão mais relacionadas à atividade prática. Segundo Aristóteles,
as virtudes morais não surgem em nós por natureza justamente por poderem ser

14 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
10
FILOSOFIA
LÓGICA I: ARGUMENTAÇÃO

A LÓGICA E O PENSAMENTO ANALOGIA:


O debate argumentativo faz parte do nosso cotidiano, usamos É uma indução parcial ou imperfeita, na qual passamos de um
argumentação para falar com parentes, com amigos, com ou de alguns fatos singulares não a uma conclusão universal, mas
namorados e até na criação dos filhos. Nosso debate lógico é a uma outra enunciação singular ou particular. Da comparação
moldado por estratégias de argumentação, formatos de raciocínio entre objetos ou fenômenos diferentes, inferimos pontos de
e busca de uma linha reguladora no embate. semelhança. Exemplo: se tal comprimido fez bem para um amigo
meu, logo deverá fazer bem a mim também.
O modo de pensar que conhecemos hoje é criado na sua
estrutura por Aristóteles na obra “Analíticos”. Essa e outras obras
sobre o assunto foram denominadas mais tarde, em conjunto, FALÁCIAS:
“Órganon”, que significa “instrumento” (de fato, instrumento para
Falácias são erros de argumentação, ou, num sentido mais estrito,
se proceder corretamente no pensar). A palavra “lógica” só vai ser
argumentos que dão, enganosamente, a impressão de serem válidos
usada posteriormente, não sendo usada por Aristóteles.
ou mesmo corretos, mas que não são.
Antes de entrarmos especificamente na lógica aristotélica, vale
Existem muitos formatos de falácias utilizadas, as mais
falar de alguns conceitos essenciais:
comuns são:
1. Argumento contra o homem (Argumentum ad hominem):
DEDUÇÃO: os argumentos “ad hominem” são falácias condenadas
1. do geral para o particular; porque desqualificam quem fala para não precisar discutir
o teor do que diz o adversário.
2. do universal para o particular;
2. Apelo à autoridade (Argumentum ad verecundiam): apela
3. do todo para a parte;
para a palavra ou reputação de alguma autoridade a fim
4. possui consistência lógica, o que se diz do todo, se diz da de validar o argumento. A argumentação é inválida quando
parte; se baseia exclusivamente na confiança de certa autoridade
5. usado para demonstrar; para validar o argumento e não nas razões e procedimentos
6. usado na argumentação; racionais que a levou a chegar à conclusão.
7. conclusões necessárias, não podem ser negadas, muito 3. Apelo à piedade (Argumentum ad misericordiam): apelo
usados em ciências formais, como a matemática. à piedade é um argumento utilizado quando se apela à
piedade para que uma conclusão seja aceita.
4. Apelo à multidão (Argumentum ad populum): consiste
INDUÇÃO: em dizer que determinada proposição é válida ou boa
1. do particular para o geral; simplesmente porque muitas pessoas a aprovam.
2. do particular para o universal; 5. Apelo à ignorância (Argumentum ad ignorantiam): conclui
3. da parte para o todo; que algo é verdadeiro só porque não pode ser provado
como falso, ou vice-versa.
4. usado em ciências experimentais;
6. Petição de princípio (Petitio principii): é um argumento
5. princípios a partir de vivências; falacioso em que se tenta provar uma conclusão com base
6. experimentação; em premissas que a pressupõem como verdadeira.
7. conclusões prováveis, passíveis de serem negadas, 7. Acidente (Dicto simpliciter): é aplicada a regra geral quando
mantidas pelos hábitos. as circunstâncias sugerem que se deve aplicar uma
Ao se falar em lógica e pensar, observamos que a dedução e exceção à regra.
a indução são caminhos através dos quais, a partir de um cenário 8. Generalização Apressada: generalização apressada é uma
ou fato conhecido, chega-se a algo que ainda não é conhecido falácia lógica que ocorre quando muito poucos exemplos
mediante um encadeamento de ideias e procedimentos racionais. são usados para justificar uma generalização.
dedução 9. Falsa Causa: afirma que apenas porque dois eventos
ocorreram juntos, eles estão relacionados.

GERAL
UNIVERSAL PARTICULAR EXERCÍCIOS
TODO PROTREINO
01. Aponte as principais características da Dedução.
indução
02. Aponte as principais características da Indução.
03. Aponte as principais características da Analogia.
04. Defina Falácia.
05. Aponte as principais características do Apelo à autoridade.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 15
FILOSOFIA 10 LÓGICA I: ARGUMENTAÇÃO

04. (UPE) (JC ONLINE) Pesquisa divulgada pelo Ibope Inteligência,


em parceria com a rede global de pesquisas Worldwide Independent
Network of Market Research (WIN), revela que o Nordeste está bem
EXERCÍCIOS mais preocupado que as demais regiões do País: 44%. No Norte, os
PROPOSTOS preocupados somam 34%. Já as regiões Sul e Sudeste apresentam
índice de preocupação de 36% e 31%, respectivamente.
01. (UFSM) O conhecimento é uma ferramenta essencial para Para se chegar a essa afirmação, utilizou-se do Raciocínio
a sobrevivência humana. Os principais filósofos modernos a) Lógico Dedutivo.
argumentaram que nosso conhecimento do mundo seria muito
b) Lógico Indutivo.
limitado se não pudéssemos ultrapassar as informações que a
percepção sensível oferece. No período moderno, qual processo c) Lógico Analógico.
cognitivo foi ressaltado como fundamental, pois permitia obter d) Dialético.
conhecimento direto, novo e capaz de antecipar acontecimentos e) Lógico Dedutivo e Indutivo.
do mundo físico e também do comportamento social?
a) Dedução. d) Testemunho. 05. (UPE) A validade de nossos conhecimentos é garantida pela
b) Indução. e) Oratória e retórica. correção do raciocínio. São dois os modos de raciocínio: o indutivo
c) Memorização. e o dedutivo.
Sobre isso, assinale a alternativa CORRETA.
02. (UFSM) Há diversos indícios empíricos da evolução das a) O raciocínio indutivo é amplamente utilizado pelas ciências
espécies. Alguns desses indícios são conhecidos desde Darwin,
experimentais.
tais como o registro fóssil, as variações entre indivíduos de uma
mesma espécie e a distribuição geográfica das espécies. Outros b) O raciocínio indutivo parte de uma lei universal, considerada
indícios provêm de estudos mais recentes, notadamente em válida para um determinado conjunto, aplicando-a aos casos
genética. O  conjunto desses indícios torna a teoria da evolução particulares desse conjunto.
mais provavelmente verdadeira que qualquer outra hipótese
alternativa. Essa inferência, em que se parte de indícios empíricos c) O raciocínio dedutivo parte de uma lei particular, considerada
e se conclui com teorias ou enunciados gerais, é comumente válida para um determinado conjunto, aplicando-a aos casos
chamada de inferência universais desse conjunto.
a) lógica. d) indutiva. d) O raciocínio dedutivo é uma argumentação na qual, a partir de
b) dedutiva. e) biológica. dados singulares suficientemente enumerados, inferimos uma
c) analógica. verdade universal.
e) O raciocínio indutivo é o argumento cuja conclusão é inferida
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: necessariamente de duas premissas.
Quem realmente ganha com o “bebê conforto”? Parece que
agora vai. A partir de 1º de setembro, o transporte de crianças em 06. (UFSJ) Assinale a alternativa que apresenta um argumento
veículos deve seguir regras que serão rigorosamente verificadas. indutivo.
Crianças de até um ano irão numa cadeira especial batizada de bebê
a) Todos os homens são racionais. Pedro é homem, logo, Pedro
conforto. {...}. Explicitamente, táxis e coletivos estão desobrigados
é racional.
dessas cadeiras especiais. Como essas formas de transporte
público, em particular os coletivos, são muito utilizadas pelas classes b) Quando estou doente não saio de casa.
menos favorecidas, estaria sendo promovida – com a permissão c) Choveu ontem, logo é provável chover essa semana.
de Charles Darwin – uma espécie de genocídio não natural que iria
d) Com certeza o tempo vai esfriar amanhã.
favorecer a sobrevivência não necessariamente dos mais aptos,
porém dos mais “bebês confortados” ?. {...}. De fato, se o poder e) Todo dia eu vou pra escola, logo, amanhã vou pra escola.
público estivesse comprometido com a segurança nos transportes,
não permitiria que estradas, ruas e avenidas atingissem o estado 07. (UPE) Identifique qual dos contextos abaixo caracteriza um
de degradação em que elas se encontram hoje. Nem permitiria a Raciocínio Lógico Dedutivo.
circulação de veículos sem luzes, com pneus desgastados, para- a) Antônio adquiriu uma geladeira da marca “RUFFER”, porque sua
choques amarrados com barbantes. Construiria estradas com a colega tinha uma geladeira idêntica que era muito resistente,
necessária infraestrutura para pedestres, em vez de pontilhá-las de prática e confiável.
lombadas eletrônicas caça-níqueis. E adotaria uma legislação que
enfatizasse a educação no trânsito e realmente tirasse do volante b) Raimundo escolheu estudar na Universidade S. João Del Rey,
aqueles que já deram repetidas provas de que são uma ameaça, em já que todos os seus colegas estudavam nessa Universidade.
vez de se preocupar em encher os cofres oficiais com multas por c) Os torcedores vibraram com a vitória do Brasil, já que são
infrações tão insignificantes, nas condições de nosso trânsito, como brasileiros.
dirigir momentaneamente com apenas uma das mãos. d) Na minha escola, João gosta de cinema. E, ainda mais, André,
VILLAR, Lígia. Opinião. DP.29.08.10. Pedro, Mário, Welliton, José Antônio... Enfim, na minha escola,
todos gostam de cinema!
03. (UPE) De que tipo é o raciocínio que procura desenvolver a e) Asa Branca é título de uma música do cantor Luiz Gonzaga.
autora no texto? Portanto, Asa Branca é sucesso!
a) Lógico indutivo. d) Dialético.
b) Lógico dedutivo. e) Lógico indutivo – dedutivo. 08. (UFU) Sobre a proposição Todo homem é imortal, podemos
c) Analógico. dizer que
I. é universal e afirmativa.
II. a sua contraditória é Nenhum homem é imortal.

16 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
10 LÓGICA I: ARGUMENTAÇÃO FILOSOFIA

III. é particular e afirmativa. A autora acima enfatiza a singularidade dos tipos de inferência
IV. a sua contraditória é Algum homem não é imortal. no âmbito da razão discursiva. Sobre isso, observe a seguinte
inferência:
Assinale a alternativa que contém as afirmações verdadeiras.
Sócrates é homem e mortal
a) II e III
Platão é homem e mortal
b) I e II
c) I e IV Aristóteles é homem e mortal

d) II e IV Logo, todos os homens são mortais.


A inferência expressa o raciocínio
09. (UFSM) Do outro lado, ecocéticos querem limpar a barra dos a) dedutivo. c) disjuntivo. e) conjuntivo.
seres humanos a qualquer custo. Argumentam, por exemplo, que a b) dialético. d) indutivo.
atividade vulcânica é mais decisiva para o aquecimento global do
que as nossas ações – enquanto estudos avaliam que humanos
emitem 135 vezes mais CO2 do que vulcões. No meio de tantos 12. (UFSM) Alcanos e cicloalcanos são substâncias extraídas do
dados contraditórios, quem sai perdendo é a ciência. petróleo e usadas como combustíveis e matéria-prima industrial.
Fonte: Revista Superinteressante, edição 299, dezembro 2011, p. 57.
Boa parte das indústrias contemporâneas depende de substâncias
desse tipo, extraídas do petróleo.
Considere as seguintes afirmações: Em razão disso, os países exportadores de petróleo possuem
I. Afirmações contraditórias entre si não podem ser ambas grande influência nos rumos da economia mundial. Às vezes, esses
verdadeiras. países, deliberadamente, aumentam ou diminuem a produção de
II. Segundo o texto, os ecocéticos negam a existência de um petróleo, com vistas a aumentar ou diminuir o preço desse produto
aquecimento global. no mercado internacional.
III. A tese dos ecocéticos é verificada pelo exemplo do Considere o seguinte argumento: É um fato que alguns países
impacto da atividade vulcânica sobre o aquecimento fazem isso. Portanto, os outros países também devem agir dessa
global. maneira.
Está(ão) correta(s) Essa afirmação é um exemplo de
a) apenas I. a) petição de princípio.
b) apenas II. b) falácia naturalista
c) apenas III. c) modus ponens.
d) apenas I e II. d) falácia de apelo à autoridade.
e) apenas II e III. e) falácia do jogador.

10. (UEMA) Leia e analise os itens abaixo e identifique o tipo de 13. (UECE) Da premissa “Se estudo filosofia, então gosto de ler”,
argumentação. é logicamente correto, segundo o modus tollens, tirar a seguinte
conclusão:
I. A medicina é inútil. Meu tio gastou um milhão de reais com
médico e morreu doente. a) Gosto de ler, portanto estudo filosofia.
II. Os homens jamais serão felizes. Felicidade não existe. b) Não estudo filosofia, mas gosto de ler.

III. A qualidade do ensino é péssima porque os professores são c) Não gosto de ler, logo não estudo filosofia.
despreparados. d) Estudo Filosofia, logo gosto de ler.
IV. O fim de uma coisa é a sua perfeição; a morte é o fim da
vida; logo, a morte é a perfeição da vida. 14. (UNIOESTE) “Lógica é o estudo de argumentos. Um argumento
é uma sequência de enunciados na qual um dos enunciados é a
V. A prata conduz eletricidade, e o zinco, o ferro, o ouro conclusão e os demais são premissas, as quais servem para provar
e o cobre também, logo, todos os metais conduzem ou, pelo menos, fornecer alguma evidência para a conclusão. As
eletricidade. premissas e a conclusão de um argumento são sempre enunciados
É correto o que se afirma em: ou proposições – isto é, significados ou ideias expressáveis por
sentenças declarativas – em oposição a interrogações, comandos
a) apenas V é indução. ou exclamações. Os enunciados são espécies de ideias verdadeiras
b) apenas I, II e III são deduções. ou falsas. Os não-enunciados, tais como interrogações, comandos
c) apenas I e II são induções. ou exclamações, não são verdadeiros nem falsos. Algumas vezes,
eles sugerem premissas ou conclusões, mas eles mesmos não são
d) apenas III, IV e V são deduções.
premissas ou conclusões.”
e) apenas I é indução. Nolt & Rohatyn.

11. (UPE - SSA 3)Na temática da Lógica, leia o texto a seguir sobre Considerando o texto que define o que é um argumento seguem as
os tipos de inferência: seguintes sentenças:
A dedução e a indução são conhecidas com o nome de inferência, I. O deficit comercial brasileiro está crescendo de forma
isto é, concluir alguma coisa a partir de outra já conhecida. Sobre a preocupante. Como poderemos ter melhorias em nossa
indução e a dedução, entende-se como inferências mediatas. economia?
(CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. II. Eu não quero jantar, pai. O desenho ainda não terminou.
São Paulo: Ática, 1996, p. 68.) Adaptado.
III. O prédio estava arruinado, suas paredes e chão estavam
cobertos de poeira e teias de aranha. O Som de pássaros
ecoava por seus quartos vazios.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 17
FILOSOFIA 10 LÓGICA I: ARGUMENTAÇÃO

IV. Toda pessoa com muito talento para a dança, como você, 17. (UPE-SSA 3) Sobre a Lógica, observe o texto a seguir:
deveria receber uma educação diferenciada. Vá para a
faculdade de dança!
V. No Brasil muitas pessoas não sabem se o país apoia ou se
opõe ao governo da Síria.
Das afirmativas acima
a) somente a afirmação II é um argumento.
b) somente as afirmações II e V são argumentos.
c) somente as afirmações IV e V são argumentos.
d) somente as afirmações I, IV e V são argumentos.
e) somente as afirmações II, IV e V são argumentos.

15. (UNIOESTE) A Lógica tem como uma de suas tarefas a


análise da consistência de um conjunto de proposições, ou seja,
a investigação da compatibilidade entre proposições. Um conjunto
de proposições (argumento) é considerado consistente se houver
ao menos uma situação possível de todas as proposições serem
verdadeiras ao mesmo tempo (Wilfred Hodges). Para Aristóteles, a lógica não era uma ciência teorética nem
Levando em consideração essa descrição da Lógica, analise o prática ou produtiva, mas um instrumento para as ciências. Eis por
seguinte argumento: que o conjunto das obras lógicas aristotélicas recebeu o nome de
Seria errado censurar programas violentos na televisão, pois Órganon, palavra grega que significa instrumento.
o comportamento das pessoas não é realmente afetado pelo que CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 1996, p. 183.
elas assistem na tela. Entretanto, seria uma boa ideia ter mais
programas mostrando os aspectos positivos de nosso modo A autora retrata a dimensão que tem a lógica como instrumento
de vida, pois isso enfraqueceria aquelas pessoas que sempre do pensamento no plano das obras da filosofia de Aristóteles. Com
denigrem o nosso país. relação a esse assunto, é CORRETO afirmar que
Considerando o texto e o argumento acima, é correto afirmar que a) a lógica na concepção de Aristóteles é um instrumento que não
pode ser utilizado pelas ciências.
a) o argumento é CONSISTENTE, pois é uma coisa boa melhorar
a imagem de um país e a violência é algo mau. b) a lógica para Aristóteles possui um caráter instrumental e
preocupa-se primordialmente com o aspecto informal de um
b) o argumento é CONSISTENTE, pois basta uma proposição ser argumento.
verdadeira para que ele seja consistente.
c) Aristóteles, na sua lógica clássica, concebe como instrumento
c) o argumento é INCONSISTENTE, pois, independentemente da do pensamento três funções básicas: conceber, julgar e
verdade ou não da influência da televisão, os programas não raciocinar.
podem, ao mesmo tempo, mudar (melhorar imagem do país) e
não mudar (violência) o comportamento das pessoas. d) a dimensão lógica para Aristóteles não é um estágio
preparatório que antecede ao conhecimento propriamente dito.
d) o argumento é INCONSISTENTE, pois as suas proposições
ainda não foram testadas empiricamente. e) na lógica clássica de Aristóteles, a ciência prática ou produtiva
se sobrepõe ao caráter instrumental do pensamento.
e) o argumento não é CONSISTENTE nem INCONSISTENTE, pois
a compatibilidade de suas proposições depende do país ao
18. (UEM-PAS- ADAPTADA) A lógica é uma disciplina fundamental
qual se refere.
para diversos campos do saber, e é particularmente importante
para o conhecimento filosófico. Ela estuda os métodos e as
16. (UFMA 2009) Assinale qual das alternativas abaixo apresenta técnicas para distinguir os bons dos maus argumentos.
um raciocínio dedutivo logicamente correto.
Nesse sentido, acerca dos argumentos que a lógica estuda, é
a) João tem 3 filhos e, neste caso, necessita trabalhar. O mesmo correto afirmar:
ocorre com Dona Jandira e Seu Bertoldo, portanto todos os
homens e mulheres que tem filhos necessitam trabalhar. a) Um argumento falacioso é, na verdade, um argumento válido,
mas ganha caráter de invalidade por um erro na sua utilização
b) Todos os cavalos bons corredores são também muito dóceis em uma analogia.
e, portanto, são fáceis de ser manejados ou tratados. Pode-se
afirmar que o cavalo de Janete é bom corredor, uma vez que b) Os argumentos dedutivos e os argumentos indutivos
não oferece resistência ao seu tratador. constituem, ambos, classes de argumentos válidos.
c) Ao longo da historia, não foi observado ser vivo que fosse c) Um argumento é válido se, e somente se, sua conclusão não
imortal. Desta forma afirmei ao meu amigo que o seu galo de pode ser falsa, caso suas premissas sejam verdadeiras.
estimação, que é um ser vivo, mais cedo ou mais tarde morrerá. d) A analogia é uma forma de inferência dedutiva, muito útil
d) Uma quantia bastante expressiva de pessoas afirmou a em análises comparativas, quando se parte de premissas
necessidade de todos os homens e mulheres se engajarem verdadeiras e chega-se a uma conclusão igualmente verdadeira.
politicamente. Assim, como não sou uma árvore, nem uma e) Falácias são argumentos bem-sucedidos em demonstrar a
barata, me filiei ao partido político com o qual mais me necessidade lógica da conclusão.
identifico.
e) Um homem e uma mulher que trabalharam durante 40 anos, 19. (UNISC) Em Filosofia, duas espécies de juízos podem ser
ao alcançarem a idade de 60 anos, devem merecer descanso emitidos pelos sujeitos: juízos de fato (quando dizem o que as
pelo resto de sua vida. Isto nos leva a ter a certeza de que coisas são, como são e por que são) e juízos de valor (quando
todos os indivíduos humanos de mais de 60 anos tem direito a dizem não o que é, mas como deveria ser, quando avaliam ações,
descansar ate sua morte. acontecimentos, sentimentos e intenções).

18 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
10 LÓGICA I: ARGUMENTAÇÃO FILOSOFIA

Isso posto, considere as afirmativas: 03.Defina a falácia apresentada:


I. “A chuva é boa para as plantas.” “Você sabe que Deus é justo e benevolente, porque Deus é Deus e
II. “A universidade é um lugar onde se busca a formação não pode serinjusto ou não benevolente”
profissional.”
III. “Você não deveria ter ido àquela festa, e sim ter estudado 04.Defina a falácia apresentada no exemplo a seguir:
para o vestibular.” “Algumas pessoas descobriram que ficar meia hora por dia de
IV. “Essa questão de Filosofia é fácil de ser acertada.” ponta-cabeça as ajuda a ficarem mais alertas e pensar mais
claramente. Portanto, ficar de ponta-cabeça trinta minutos por dia é
A ordem correta, respectivamente e na ordem crescente, dos juízos algo que todos devemos praticar.”
acima é:
a) juízo de fato, juízo de valor, juízo de valor, juízo de fato. 05.Defina a falácia apresentada no exemplo a seguir:
b) juízo de valor, juízo de fato, juízo de valor, juízo de fato. Disse um certo político: “Meu adversário está me acusando de
c) juízo de fato, juízo de valor, juízo de valor, juízo de valor. que o financiamento da minha campanha não foi feito de forma
d) juízo de valor, juízo de fato, juízo de fato, juízo de fato. legal. Em resposta a isso, quero deixar claro para todos que todos
os fundos que meu adversário obteve para a sua campanha foram
e) juízo de valor, juízo de fato, juízo de valor, juízo de valor. obtidos ilegalmente.”

20. (UFSM) Hélio Schwartzmann apresenta a seguinte concepção


GABARITO
de Geoffrey Miller no texto "O sentido da arte", publicado no jornal
Folha de S. Paulo, em 23/9/2010: EXERCÍCIOS PROPOSTOS

A arte é o resultado da seleção sexual. Ela está para o gênero 01. B 05. A 09. A 13. C 17. C

humano como a cauda do pavão está para a família dos fasianídeos: 02. D 06. C 10. A 14. A 18. C
uma exuberância biologicamente custosa que só existe porque 03. A 07. C 11. D 15. C 19. E
atribui a seu detentor inequívoco sucesso entre as fêmeas, o que se 04. B 08. C 12. B 16. C 20. B
traduz em importante vantagem reprodutiva. EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
Considere as seguintes afirmativas: 01. Método indutivo. Os que seguem esse tipo de raciocínio, só colhem “fatos detalhados
e impotentes” com o objetivo de generalizar a situação.
I. O texto apresenta, inequivocamente, um argumento
02. Dedução, partimos de uma ideia geral para uma particular. A premissa é colocada de
indutivo. uma ideia ampla, para uma individual.
II. A seguinte metáfora pode ser legitimamente extraída do 03. PETIÇÃO DE PRINCÍPIO. A conclusão é de que Deus é justo e benevolente, e a razão
argumento: a arte é a cauda de pavão do gênero humano. para isso é que ele não pode ser injusto ou não benevolente. A conclusão apenas repete
a premissa.
III. A tese principal do texto é que a cauda de pavão é resultado 04. GENERALIZAÇÃO APRESSADA. Do fato de que ficar de ponta-cabeça funciona para
da seleção sexual. algumas pessoas não se segue que seja algo que funcione para todas elas.
Está(ão) correta(s) 05. ARGUMENTO CONTRA O HOMEM. Em vez de argumentar que sua campanha não foi
financiada ilegalmente, o político ataca o adversário.
a) apenas I. d) apenas I e III.
ANOTAÇÕES
b) apenas II. e) apenas II e III.
c) apenas III.

EXERCÍCIOS DE
APROFUNDAMENTO
01. “Eu não sou literato, detesto com toda a paixão essa espécie de
animal. O que observei neles, no tempo em que estive na redação
do O Globo, foi o bastante para não os amar, nem os imitar. São em
geral de uma lastimável limitação de ideias, cheios de fórmulas, de
receitas, só capazes de colher fatos detalhados e impotentes para
generalizar, curvados aos fortes e às ideias vencedoras, e antigas,
adstritos a um infantil fetichismo do estilo e guiados por conceitos
obsoletos e um pueril e errôneo critério de beleza.” LIMA BARRETO
Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Penguin
Classics Companhia das Letras, 2010.
“só capazes de colher fatos detalhados e impotentes para
generalizar, (l. 4)”
Esse trecho se refere à utilização de qual método de argumentação?
Explique.

02. “ler nos faz mais felizes. É um caminho para o autoconhecimento,


e o exercício constante de autoconhecimento é um caminho para
a felicidade.” Neste argumento, Rodrigo Lacerda formula uma
premissa geral e uma premissa particular, para relacioná-las na
conclusão.
Essa estrutura é caracterizada por qual formato de argumento?
Explique.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 19
FILOSOFIA 10 LÓGICA I: ARGUMENTAÇÃO

20 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
11
FILOSOFIA
LÓGICA II: SILOGISMO

A LÓGICA E O ARGUMENTO –– As proposições podem ser verdadeiras ou falsas: uma


proposição é verdadeira quando corresponde ao fato
A argumentação lógica é usada que expressa.
em todos os dias de nossas vidas,
–– Os argumentos são válidos ou inválidos (e não
em embates com patrões, amigos,
verdadeiros ou falsos): um argumento é válido
namoradas, maridos, filhos, irmãos,
quando sua conclusão é consequência lógica de
somos seres que usamos a lógica
suas premissas.
para conseguir demonstrar nossos
argumentos. A lógica sustenta a
argumentação, permite evitar enganos AS OITO REGRAS DO SILOGISMO (DEFINIR
e gera maior capacidade de discurso
e retórica. A lógica aristotélica foi A VALIDADE)
apresentada no livro “Órganon”, que 1. O silogismo só deve ter três termos (o maior, o menor
buscava que ocorra uma junção de e o médio).
elementos para chegar até a conclusão. 2. De duas premissas negativas nada resulta.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ae/Aristotle_Altemps_Inv8575.jpg
3. De duas premissas particulares nada resulta.
Aristóteles usa um sistema lógico que chamamos de 4. O termo médio nunca entra na conclusão.
“Silogismo”, que se define por um sistema perfeito dedutivo e 5. O termo médio deve ser pelo menos uma vez total.
estruturado formalmente a partir de duas proposições, das quais
6. Nenhum termo pode ser total na conclusão sem ser total
se obtém uma conclusão. A lógica aristotélica foi introduzida por
nas premissas.
Aristóteles (384-322 a.C.) e sistematizada na Idade Média.
7. De duas premissas afirmativas não se conclui uma
negativa.
O SILOGISMO 8. A conclusão segue sempre a premissa mais fraca (se
Eis um exemplo de raciocínio lógico: nas premissas uma delas for negativa, a conclusão deve
Toda vaca é um mamífero. ser negativa; se uma for particular a conclusão deve ser
particular).
Ora, nenhum mamífero é peixe.
Logo, a vaca não é peixe.
O silogismo possui regras de entendimento e de observação, EXERCÍCIOS
para entendermos sua real validade e veracidade.
1. O primeiro destes elementos é o termo. No exemplo acima, PROTREINO
“vaca”, “mamífero”, e “peixe” são exemplos de termos.
01. Defina Silogismo.
–– O termo médio é aquele que aparece nas premissas e
faz a ligação entre os outros dois: MAMÍFERO. 02. Quais são os três termos de um silogismo?
–– O termo maior é o termo predicado da conclusão:
03. Aponte as principais características da argumentação em um
PEIXE.
silogismo.
–– O termo menor é o termo sujeito da conclusão: VACA.
04. Defina um argumento válido.
2. Qualidade e quantidade: as proposições podem ser
distinguidas pela qualidade e pela quantidade: 05. O que é uma proposição verdadeira em um silogismo?
–– Quanto à qualidade, são afirmativas ou negativas.
–– Quanto à quantidade são gerais - universais ou totais
- ou particulares - singulares.
“Toda vaca é mamífero”: proposição universal afirmativa; EXERCÍCIOS
“Nenhum cachorro é mineral”: universal negativa;
“Algum metal não é sólido”: particular negativa;
PROPOSTOS
“João é mortal”: singular afirmativa. 01. (UFU) Conforme o Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano,
3. O terceiro elemento é a argumentação. Estabelece relações Platão emprega a palavra silogismo para definir o raciocínio em
entre proposições estabelecidas (premissas) e delas pode geral. Aristóteles, por sua vez, o define como o tipo perfeito de
se tirar uma conclusão. raciocínio dedutivo, “um discurso em que, postas algumas coisas,
O mercúrio não é sólido. (premissa maior) outras se seguem necessariamente.” Considere que a premissa
“Todo atleta treina”, sentença universal e afirmativa, é a premissa
O mercúrio é um metal. (premissa menor) maior de um silogismo, cuja conclusão é: “Logo, Maria treina”.
Logo algum metal não é solido. (conclusão) (ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia.
Trad. Alfredo Bosi e Ivone C. Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2003.)
4. Verdade e validade:
É preciso muita atenção no uso de verdadeiro/falso, válido/ De acordo com tal definição, assinale a alternativa que indica,
inválido. corretamente, a premissa menor:

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 21
FILOSOFIA 11 LÓGICA II: SILOGISMO

a) Maria não é atleta. d) Maria é atleta, mas não não vão mudar tão cedo, eis-nos num silogismo bárbaro: se o país
b) Maria não treina. treina. só sobrevive com mais da metade da sua população condenada a
e) Maria não poderia ser atleta. uma subvida 2perpétua, estamos todos condenados a uma lógica
c) Maria é atleta. do absurdo. Aqui o sério é temerário, o sensato é insensato, o adulto
é irreal e o responsável é criminoso. A nossa estabilidade e o nosso
02. (UFU) Nos Primeiros e nos Segundos Analíticos Aristóteles prestígio com a comunidade financeira internacional se devem à
expõe a teoria geral dos silogismos, bem como as especificidades tenacidade com que homens honrados e capazes, resistindo a apelos
do silogismo científico. O exemplo clássico de silogismo é: 3
emocionais, mantêm urna política econômica solidamente fundeada
“Todo homem é mortal. na miséria alheia e uma 4admirável coerência baseada na fome dos
Sócrates é homem. outros. O país só é viável se metade da sua população não for.
Logo, Sócrates é mortal.” (VERISSIMO, L. F. O Globo, 24/03/2000.)
Leia as seguintes afirmativas sobre esse silogismo:
I. É composto por duas premissas e uma conclusão. 05. (UERJ) O encadeamento entre parágrafos - um dos aspectos a
II. O termo maior não aparece na conclusão. serem observados na construção de textos argumentativos - pode
III. É um típico exemplo de raciocínio indutivo. se fazer de maneiras diversas.
IV. O termo “homem” é o termo médio. No texto de Luíz Fernando Veríssimo, o segundo parágrafo liga-se
ao primeiro por meio do seguinte mecanismo:
Assinale a alternativa correta.
a) retomada, por oposição, dos argumentos já apresentados.
a) III e IV são verdadeiras. d) I e IV são verdadeiras.
b) sequenciação, pelo emprego de conectivo, das ideias
b) II, III e IV são verdadeiras. e) II e III são verdadeiras
discutidas.
c) I, II e IV são verdadeiras.
c) reafirmação, por uma ótica diferenciada, das informações já
levantadas.
03. (UERJ) A televisão não transmite regularmente cenas de
d) extensão, por referência a novos exemplos, das afirmações da
violência, nos telejornais, nos filmes e até nos desenhos animados?
introdução.
Pois então: a nossa sociedade é muito violenta! Como fica
demonstrado, a causa da violência é a televisão.
06. (UERJ) SILOGISMO. 5.m Lóg. Dedução formal tal que, postas
Logo, deve-se simplesmente censurar as cenas de violência de
duas proposições, chamadas premissas, delas se tira uma terceira,
todos os programas de televisão.
nelas, logicamente implicada, chamada conclusão.
O argumento apresentado no trecho acima é um sofisma. (FERREIRA, A. B. de Holanda. “Novo dicionário da Língua Portuguesa”.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.)
Podemos caracterizar este sofisma como:
a) círculo vicioso. c) silogismo não válido. Considerando essa definição, pode-se concluir que o silogismo a
b) desvio de assunto. d) confusão entre causas e que se refere o título do texto é encontrado em:
efeitos. a) Boa parte da população sobrevive com apenas um salário
mínimo e o salário mínimo não dá para viver; então, há
04.(UERJ) Antonio Prata, ao comentar o ataque ao jornal Charlie circunstâncias que impedem o salário de ser maior.
Hebdo, construiu uma série de variações do argumento típico do b) Precisamos manter nosso prestígio com a comunidade
método dedutivo, conhecido como “silogismo” e normalmente financeira internacional; temos homens honrados e capazes;
organizado na forma de três sentenças em sequência. então, é preciso resistir a apelos emocionais da sociedade.
A organização do silogismo sintetiza a estrutura do próprio método c) Um salário mínimo maior prejudicaria o país; o salário mínimo
dedutivo, que se encontra melhor apresentada em: impõe miséria a grande parte da população; então, o país
a) premissa geral – premissa particular – conclusão necessita da miséria de grande parte da sua população.
b) premissa particular – premissa geral – conclusão d) O salário mínimo não garante vida digna para a maioria da
c) premissa geral – segunda premissa geral – conclusão particular população; o salário não aumenta mais por exigência do
mercado internacional; então, é  preciso alterar esse modelo
d) premissa particular – segunda premissa particular – conclusão econômico.
geral
e) conclusão - introdução - premissa mediana 07. (UERJ)
PRECONCEITO E EXCLUSÃO
TEXTO PARA AS QUESTÕES 5 E 6:
Os preconceitos lingüísticos no discurso de quem vê nos
estrangeirismos uma ameaça têm aspectos comuns a todo tipo
Silogismo
de posição purista, mas têm também matizes próprios. Tomando
Um salário mínimo maior do que o que vão dar desarrumaria a escrita como essência da linguagem, e tendo diante de si o
as contas públicas, comprometeria o programa de estabilização do português, língua de cultura que dispõe hoje de uma norma escrita
Governo, quebraria a Previdência, inviabilizaria o país e provavelmente desenvolvida ao longo de vários séculos, [o purista] quer acreditar
desmancharia o penteado do Malan. Quem prega um salário mínimo que os empréstimos de hoje são mais volumosos ou mais
maior o faz por demagogia, oportunismo 1político ou desinformação. poderosos do que em outros tempos, em que a língua teria sido
Sérios, sensatos, adultos e responsáveis são os que defendem o mais pura. (...)
reajuste possível, nas circunstâncias, mesmo reconhecendo que é Ao tomar-se a norma escrita, é fácil esquecer que quase tudo
pouco. que hoje ali está foi inicialmente estrangeiro. Por outro lado, é fácil
Como boa parte da população brasileira vive de um mínimo que ver nos empréstimos novos, com escrita ainda não padronizada,
não dá para viver e as circunstâncias que o impedem de ser maior algo que ainda não é nosso. Com um pouco menos de preconceito,
é só esperar para que esses elementos se sedimentem na língua,

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11 LÓGICA II: SILOGISMO FILOSOFIA

caso permaneçam, e que sejam padronizados na escrita, como a 09. (UFU) Analise as seguintes afirmativas a respeito da lógica de
panqueca. Afinal, nem tudo termina em pizza! Aristóteles.
Na visão alarmista de que os estrangeirismos representam I. A forma mediata do pensamento ou raciocínio é chamada,
um ataque à língua, está pressuposta a noção de que existiria por Aristóteles, de silogismo.
uma língua pura, nossa, isenta de contaminação estrangeira. Não
II. Em grego, syllogismós significa raciocinar, vem do verbo
há. Pressuposta também está a crença de que os empréstimos
syllogizo, que significa reunir, juntar pelo pensamento,
poderiam manter intacto o seu caráter estrangeiro, de modo que
conjeturar.
somente quem conhecesse a língua original poderia compreendê-
los. Conforme esse raciocínio, o estrangeirismo ameaça a unidade III. O silogismo é um raciocínio indutivo.
nacional porque emperra a compreensão de quem não conhece a IV. O exemplo clássico de silogismo é aquele que contém
língua estrangeira. (...) duas premissas e uma conclusão.
O raciocínio é o de que o cidadão que usa estrangeirismos – Marque a alternativa correta.
ao convidar para uma happy hour, por exemplo – estaria excluindo a) Apenas as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
quem não entende inglês, sendo que aqueles que não tiveram b) Somente a afirmativa III é falsa.
a oportunidade de aprender inglês, como a vastíssima maioria
c) Todas as afirmativas são falsas.
da população brasileira, estariam assim excluídos do convite.
Expandindo o processo, por analogia, para outras tantas situações d) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras
de maior conseqüência, o uso de estrangeirismos seria um meio
10. (UNIOESTE) Texto:
lingüístico de exclusão social. A instituição financeira banco que
oferece home banking estaria excluindo quem não sabe inglês, e “A questão da verdade é do domínio da teoria do conhecimento,
a loja que oferece seus produtos numa sale com 25% off estaria ou da filosofia da ciência. A questão da validade é do domínio da
fazendo o mesmo. lógica. [...] A verdade e a falsidade das proposições dependem de
investigação de significados e, em geral, de investigação empírica. A
O equívoco desse raciocínio lingüisticamente preconceituoso
validade do argumento [conjunto de proposições], ao contrário, não
não está em dizer que esse pode ser um processo de exclusão.
depende da verdade ou falsidade dos enunciados – isoladamente
O equívoco está em não ver que usamos a linguagem, com ou
encarados – mas depende do tipo de relação que entre eles se
sem estrangeirismos, o tempo todo, para demarcarmos quem é de
estabelece. Um argumento pode, perfeitamente, ser válido, embora
dentro ou de fora do nosso círculo de interlocução, de dentro ou de
tenha uma ou mais proposições falsas”.
fora dos grupos sociais aos quais queremos nos associar ou dos
Leônidas Hegenberg.
quais queremos nos diferenciar. (...)
Silogismo:
(GARCEZ, Pedro M. e ZILLES, Ana Maria S. In: FARACO, Carlos Alberto (org.).
Estrangeirismos - guerras em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2001.) Todo inseto é hematófago. (premissa maior)
A aranha marrom é um inseto. (premissa menor)
O equívoco desse raciocínio linguisticamente preconceituoso não A aranha marrom é hematófaga. (conclusão)
está em dizer que esse pode ser um processo de exclusão. Por meio do texto e do argumento silogístico (silogismo), considere
O fragmento acima inicia, no último parágrafo, uma estratégia que as seguintes afirmativas:
busca demonstrar uma falha no raciocínio criticado pelos autores. I. O silogismo é válido porque a estrutura formal do
Essa falha pode ser definida como: argumento está correta.
a) observação incompleta dos fatos. II. O silogismo é inválido porque a aranha marrom não é um
inseto e nem todos os insetos são hematófagos.
b) apresentação de falso testemunho.
III. As duas premissas são falsas porque empiricamente
c) construção inadequada de silogismo.
verifica-se que a aranha marrom não é um inseto e que
d) ausência de exemplificação suficiente. nem todos os insetos são hematófagos.
IV. A conclusão é falsa porque o silogismo é inválido.
08. (UEL) Leia o texto a seguir.
V. A conclusão tem que ser verdadeira porque o silogismo é
O pensamento moderno caracteriza-se pelo crescente válido.
abandono da ciência aristotélica. Um dos pensadores modernos
Das afirmativas feitas acima
desconfortáveis com a lógica dedutiva de Aristóteles –
considerando que esta não permitia explicar o progresso do a) apenas I e III estão corretas.
conhecimento científico – foi Francis Bacon. No livro Novum b) apenas I, II e III estão corretas.
Organum, Bacon formulou o método indutivo como alternativa ao c) Apenas I, III e V estão corretas.
método lógico-dedutivo aristotélico. d) todas as afirmativas estão corretas.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de e) todas as afirmativas estão incorretas.
Bacon, é correto afirmar que o método indutivo consiste
a) na derivação de consequências lógicas com base no corpo de 11.Considere os seguintes silogismos:
conhecimento de um dado período histórico. I. Todo felino é vertebrado
b) no estabelecimento de leis universais e necessárias com base Todo vertebrado é mamífero
nas formas válidas do silogismo tal como preservado pelos Logo, todo felino é mamífero
medievais. II. Todo paulista é colombiano
c) na postulação de leis universais com base em casos Todo colombiano é sul-americano
observados na experiência, os quais apresentam regularidade. Logo, todo paulista é sul-americano
d) na inferência de leis naturais baseadas no testemunho de III. Todos os mamíferos são vertebrados
autoridades científicas aceitas universalmente. Alguns répteis são vertebrados
e) na observação de casos particulares revelados pela experiência, Logo, alguns mamíferos são répteis
os quais impedem a necessidade e a universalidade no
estabelecimento das leis naturais.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 23
FILOSOFIA 11 LÓGICA II: SILOGISMO

Marque agora a afirmativa correta. c) Em uma economia não capitalista, os bens materiais não
a) Todos os silogismos acima pertencem ao mesmo modo e podem ser produzidos por empresas privadas.
figura. d) Em uma economia não capitalista, empresas privadas
b) O silogismo II tem um modo e figura inválidos. produzem bens não materiais.
c) O silogismo III tem um modo e figura válidos. e) Em uma economia capitalista, há empresas privadas.
d) Os silogismos I e II têm o mesmo modo e figura, os dois são 16. (UECE 2019) “Chamo de princípio de demonstração às
formalmente válidos, mas somente o I prova sua conclusão. convicções comuns das quais todos partem para demonstrar: por
e) Todos os silogismos acima têm premissas universais. exemplo, que todas as coisas devem ser afirmadas ou negadas e
que é impossível ser e não ser ao mesmo tempo.”
12. (UFU) Observe o silogismo abaixo: ARISTÓTELES. Metafísica, 996b27-30.
Muitas pessoas com mais de trinta anos são chatas.
Esta pessoa tem mais de 30 anos. Em sua Metafísica, Aristóteles apresenta um conjunto de princípios
Esta pessoa é chata. lógico-metafísicos que ordenam a realidade e nosso conhecimento
acerca dela. Dentre eles está o princípio de não contradição, o qual
Considerando, respectivamente, as premissas e a conclusão do
silogismo, é correto afirmar que a) indica que afirmações contraditórias são lógica e
metafisicamente aceitáveis, pois a contradição faz parte da
a) as premissas são absolutamente inválidas e a conclusão do
realidade.
silogismo é verdadeira.
b) estabelece que é possível que as coisas que tenham tais e
b) as premissas são verdadeiras, logo, a conclusão do silogismo
tais características não as tenham ao mesmo tempo sob as
é verdadeira.
mesmas circunstâncias.
c) as premissas podem ser verdadeiras, porém, a conclusão do
c) afirma que é impossível que as coisas que tenham tais e
silogismo é inválida.
tais características não as tenham ao mesmo tempo sob as
d) as premissas são logicamente inválidas, portanto, a conclusão mesmas circunstâncias.
do silogismo é falsa.
d) d) é normativo, ou moral; portanto, deve ser rejeitado como
antimetafísico, ou seja, não caracteriza a realidade.
13. (UFU) Todos os homens são mortais.
Sócrates é homem. 17. (UPE-SSA 3) Leia o texto a seguir sobre a temática da Lógica:
Logo, Sócrates é mortal.”
A Aristóteles cabe o mérito de ter iniciado o estudo orgânico das regras
Sobre o silogismo em geral e, sobre este em particular, é correto da lógica. O mérito principal de Aristóteles é ter fixado, com grande
afirmar que: exatidão, as regras da argumentação dedutiva na forma de silogismo.
I. é um raciocínio indutivo, pois parte de duas premissas MONDIN, B. Introdução à Filosofia. São Paulo: Edições Paulinas, 1980, p. 13.
verdadeiras e chega a uma conclusão também verdadeira.
O autor faz algumas considerações acerca da filosofia de
II. o termo médio homem liga os extremos e, por isso, não
Aristóteles, com singularidade no âmbito da lógica. Sobre isso, tem-
pode estar presente na conclusão.
se como CORRETO que
III. é um raciocínio válido, porque é constituído por proposições
a) o silogismo é expresso pela ligação de dois termos por meio
verdadeiras, não importando a relação de inclusão (ou de
de um terceiro.
exclusão) estabelecida entre seus termos.
b) a argumentação dedutiva chega à conclusão valendo-se da
IV. as premissas, desde que uma delas seja universal, devem
experiência sensível.
tornar necessária a conclusão.
c) o silogismo é um tipo de argumento que deve ter um termo
Marque a alternativa que contém todas as afirmações corretas.
maior, nem mais nem menos.
a) II e IV. c) II e III.
d) o tipo de argumento dedutivo faz uso da analogia sem
b) I e II. d) III e IV. inferência das premissas.
e) as regras da argumentação dedutiva chegam a uma conclusão,
14. (UFU) Aristóteles estabeleceu sua lógica sobre alguns partindo de dados particulares.
princípios, percebidos por intuição e que são anteriores a qualquer
raciocínio, devendo servir de base a toda argumentação científica.
18. (UEMA) Considerando as afirmações relativas ao raciocínio
Esses princípios são:
lógico, assinale a opção correta.
a) de identidade, de não contradição e de terceiro excluído.
a) Os argumentos podem ser válidos e inválidos. Os sofismas,
b) de identidade, de contradição e da negação da negação. verdades escondidas, são armas de convencimento. O
c) de tese, de antítese e de síntese. silogismo é uma forma perfeita de dedução.
d) de salto qualitativo, de interpenetração dos opostos e de b) No argumento dedutivo a conclusão está contida nas
negação da negação. premissas. Todo segmento linguístico é um enunciado. Os
argumentos podem ser válidos ou inválidos.
15. Considere a seguinte afirmação: c) No argumento dedutivo a conclusão está contida nas
Em uma economia capitalista, a produção de bens materiais é premissas. A realidade experimental é o ponto originante da
realizada principalmente por empresas privadas. indução. É aparente a lógica do sofisma.
Qual das alternativas é uma consequência lógica dessa afirmação? d) Nem sempre um argumento é uma atividade raciocinante. Os
a) Em uma economia capitalista, os bens materiais devem ser argumentos podem ser válidos ou inválidos. Todo segmento
produzidos apenas por empresas privadas. linguístico é um enunciado.
b) Em uma economia capitalista, os bens não materiais não são e) Todo segmento linguístico é um enunciado. O silogismo é uma
produzidos por empresas privadas. forma perfeita de dedução. A realidade experimental é o ponto
originante da indução.

24 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
11 LÓGICA II: SILOGISMO FILOSOFIA

19. (UNIOESTE) Observe os seguintes argumentos silogísticos: 1. Todo argumento válido tem conclusão verdadeira.,
( ) Sim. ( ) Não.
I. Todos os cães são alados
Todos os pássaros são cães 2. Nenhum argumento correto tem conclusão falsa.
Logo, todos os pássaros são alados. ( ) Sim. ( ) Não.
II. Todos os humanos são mortais Justifique cada uma de suas respostas.
Todos os brasileiros são humanos
Logo, todos os brasileiros são mortais. 03. (UFMG) Considere estes argumentos:
É correto afirmar, a partir de um ponto de vista lógico, que 1. Alguns franceses são canhotos.
a) os argumentos são distintos quanto à estrutura ou forma Alguns canhotos gostam de vinho.
lógica. Logo alguns franceses gostam de vinho.
b) ambos os argumentos são válidos, embora as premissas do 2. Todos os franceses são canhotos.
primeiro sejam falsas.
Todos os canhotos gostam de vinho.
c) o primeiro argumento é inválido, e o segundo é válido.
Logo todos os franceses gostam de vinho.
d) ambos os argumentos são inválidos.
a) IDENTIFIQUE se cada um desses argumentos é válido ou
e) o segundo conjunto de enunciados forma um argumento, mas inválido:
o primeiro não.
Argumento 1
Válido ( )
20. (UNIOESTE) Dados os seguintes enunciados verdadeiros: Inválido ( )
I. Se amanhã for véspera de Natal, minha família irá para a
Argumento 2
casa de meus avós.
Válido ( )
II. Minha família irá amanhã para a casa de meus avós. Inválido ( )
É correto afirmar que b) Com base na definição de argumento válido, justifique suas
a) amanhã não será véspera de Natal. respostas.
b) embora minha família vá amanhã para a casa de meus avós,
isso não significa que amanhã será véspera de Natal. 04. (PUCRJ)
c) como o primeiro enunciado é verdadeiro, então podemos TEXTO
concluir que amanhã será véspera de Natal. Várias situações que presenciei ao longo desses anos me
d) os dois enunciados são idênticos quanto à sua forma ou fizeram refletir bastante sobre o melhor modo de analisar a
estrutura. racionalidade de uma cultura diferente da nossa - no meu caso, de
algumas nações indígenas brasileiras.(...)
e) se amanhã não for véspera de Natal, minha família não irá para
a casa de meus avós. Minha primeira investida na busca da racionalidade waimiri-
atroari foi com os silogismos. Iniciei explicando "como o branco
pensa" (para eles os não índios são denominados brancos,
independente da raça), mostrando alguns silogismos clássicos e
EXERCÍCIOS DE outros do cotidiano deles, como por exemplo: "Todo índio waimiri-
APROFUNDAMENTO atroari caça com arco e flecha, Marcelo é um waimiri-atroari, logo
Marcelo caça com arco e flecha". Isto era mais que natural para
01. (UFU) Dados três termos (mortais, atenienses e homens), eles, pois Marcelo é um professor waimiri-atroari e todos sabiam
construa um silogismo da primeira figura que seja, ao mesmo que ele caçava com arco e flecha.
tempo, verdadeiro e válido. Para tanto, as proposições devem Quando solicitei que construíssem silogismos, obtive frases
ser todas, quanto à qualidade, afirmativas. Além disso, quanto à do tipo: "Todo waimiri-atroari pesca pirarucu, Pedrinho caça, logo
quantidade, todas devem ser universais. Indique também quais Davi é casado". Todas as afirmações são verdadeiras, mas não
são, neste silogismo, os termos maior, médio e menor, bem como a seguem um caminho lógico para o silogismo. Acredito que o que
premissa maior e a premissa menor. significou para eles um silogismo eram verdades que conhecem.
Foram incapazes de construir silogismos descontextualizados de
02. (UFMG) Um argumento é válido quando é impossível suas suas realidades.
premissas serem verdadeiras e sua conclusão, falsa. A validade FERREIRA, Eduardo Sebastiani. "Racionalidade dos índios brasileiros".
In: "Scientific American Brasil". Etnomatemática, n0. 11, pp. 90-93.
não depende do conteúdo das sentenças, mas apenas da forma
do argumento. Por essa razão, a lógica é chamada lógica formal. Explique por que os índios waimiri-atroari foram considerados
Em outras palavras, a validade de um argumento não depende de incapazes de construir silogismos.
as premissas e de a conclusão dele serem, de fato, verdadeiras
ou falsas. Portanto, ao se apresentar um argumento, não basta
que este seja válido. É preciso, também, que ele seja correto. 05. (UFPR) Algumas linhas antes da passagem acima, Aristóteles
Um argumento é correto quando é válido e apresenta premissas emprega a palavra “relativo” para se referir ao que existe por
verdadeiras. Somente nesse caso, pode-se estar certo da verdade derivação e acidente. Nesse sentido, defender a existência de “um
da conclusão. homem em si” e de “um bem em si” é o mesmo que admitir que
tanto homens quanto bens existiriam apenas como algo relativo?
Assinalando a quadrícula apropriada, indique se você concorda, ou Por quê?
não, com estas duas afirmativas.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 25
FILOSOFIA 11 LÓGICA II: SILOGISMO

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. C 05. A 09. B 13. A 17. A
02. D 06. C 10. A 14. A 18. C
03. D 07. A 11. D 15. E 19. B
04. A 08. C 12. C 16. C 20. B

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. Premissa menor: Todos os atenienses (termo menor) são homens (termo médio).
Premissa maior: Todos os homens (termo médio) são mortais (termo maior).
Conclusão: Todos os atenienses (termo menor) são mortais (termo menor).
02. 1. NÃO. O próprio enunciado afirma que “a validade de um argumento não depende de as premissas e de a conclusão serem, de fato, verdadeiras ou falsas”. Isso porque a validade
depende somente da forma do argumento, e não do conteúdo das proposições.
2. SIM. Um argumento correto é aquele que possui uma forma lógica válida e que tanto as suas premissas quanto a sua conclusão são verdadeiras. Sendo assim, um argumento válido
que possui uma conclusão falsa não pode ser chamado de um argumento verdadeiro.
03. a) Argumento 1: Inválido
Argumento 2: Válido
b) O Argumento 1 infere uma proposição particular de outras duas proposições particulares, além disso, entre a primeira e a segunda proposição não há um termo que pudesse fazer
mediação entre as premissas e a conclusão, assim, conclui-se, que “alguns franceses gostam de vinho”, pois, alguns canhotos que gostam de vinho podem não ser franceses.
O Argumento 2 concluiu uma proposição particular de uma geral, então, há presente entre as duas premissas o termo que faz a mediação entre as premissas que permite a inferência.
04. Os índios entendiam silogismos como uma sequência de fatos reais e não como uma sequência lógica.
05. Como o próprio texto citado mostra, o pensamento de Aristóteles se organiza segundo a concepção de que o ser é dito de várias maneiras. Entre as categorias (os modos de ser das
coisas) existe aquela de acordo com a qual algo é substancial e outra de acordo com a qual algo é acidental. Substancial é, grosso modo, 1) a própria coisa e 2) aquilo sem o que a coisa
na sua individualidade não existiria. Então, por exemplo, a expressão “Sócrates é homem” tem como substância primeira – ou o suporte sobre o qual se apoiam os predicados – Sócrates,
e homem como substância segunda – ou aquilo que é próprio da coisa da qual se fala.
Sendo assim, o indivíduo não é apenas relativo, pois ele é dito como substância primeira e o gênero também não, pois é algo sem o que a substância primeira não seria o que é
propriamente.

ANOTAÇÕES

26 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
12
FILOSOFIA
PERÍODO HELENISTA

Como dito, o domínio de Alexandre Magno foi marcado por


O HELENISMO conquistas e expansão territorial em direção ao chamado mundo
Em 356 a.C., Filipe tornou- oriental. Com essa expansão, ocorre um processo de difusão da
se governante da Macedônia Filosofia grega para os territórios conquistados.
e passou a preparar-se para Essa difusão é um fenômeno muito relevante para a
a conquista e submissão das compreensão do período. Passa a ocorrer uma miscigenação
cidades-Estado gregas, fato que entre culturas, nesse caso, o contato da Filosofia do mundo grego
se concretizou na Batalha de com as visões relativas ao mundo oriental. Essa troca de saberes
Queroneia, em 338 a.C., após a é fundamental para compreender as transformações na Filosofia.
derrota imposta a atenienses Vamos aprofundar esse ponto.
e tebanos. Filipe utilizou-se
Por um lado, a Filosofia Grega. Aqui as ideias de Platão e
de habilidade política para se
Aristóteles são a base para o nosso entendimento dessa visão,
impor aos gregos, respeitando a
destacando a relevância de Aristóteles que foi orientador de
autonomia das cidades-Estado
Alexandre, para quem transmitiu conhecimentos de história, política
e preservando suas instituições.
e filosofia, por exemplo. O pensamento grego era profundamente
Alexandre, O Grande. marcado por teorias acerca do conhecimento humano, isto é, os
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ caminhos que os indivíduos traçam para conhecer a sua realidade.
commons/c/cb/AlexanderTheGreat_ Além disso, o debate político envolvendo formas de governos e
Bust.jpg
modelos políticos ideais permeavam a Filosofia Grega da época.
Seu filho e sucessor, Alexandre Magno, passou a governar o Por outro lado, a Filosofia Oriental. Influenciada pelo hinduísmo
Império quando a organização interna da Macedônia já estava e pelo budismo, essa visão era centrada no esforço de entender
completa e o seu exército formado, não tendo, portanto, enfrentado a vida, em questões do espírito, nas ideias de felicidade e nos
grandes dificuldades para reprimir as cidades-Estado que ainda comportamentos humanos e as consequências desses para a
não aceitavam completamente o seu domínio. Expandiu o Império compreensão do mundo.
em direção ao Oriente, chegando até os Rios Ganges e Indo. Com Assim, a combinação da Filosofia Grega com a Filosofia
sua morte, em 323 a.C., seu vasto Império foi dividido entre seus chamada de Oriental, forma a chamada Filosofia Helenística
principais generais, formando os reinos da Macedônia, do Egito e essa nova forma de pensar tem como elemento fundamental
e da Ásia. Entre 197 a.C. e 31 a.C., todos esses territórios foram a ATARAXIA. A ataraxia pode ser entendida como a busca pelos
conquistados pelos romanos. caminhos para a paz de espírito, para a tranquilidade e o equilíbrio,
A filosofia helenística estende-se, pela influência das concepções para uma vida sem perturbações e inquietudes.
gregas e a conjugação com filosofias do mundo oriental, a expansão Desse modo, a Filosofia Helenística vai apresentar diferentes
de Alexandre gerou o contato cultural necessário, historiadores da escolas, ou seja, correntes de pensamento com maneiras diversas
cultura convencionaram como helenismo. As correntes formadas para buscar a ataraxia. Vamos a elas:
neste período, todavia, influenciam vastamente a filosofia posterior.
Alexandre, fundou uma cultura de caráter cosmopolita, que
incorporava traços predominantes do mundo grego e aspectos das CETICISMO
culturas orientais.
O ceticismo caracterizou-se como uma corrente que surgiu
com Pirro de Élis. Denominada de pirronismo, tem como uma
de suas características principais o natural impedimento do
dogmatismo, uma vez que é ideal ao filósofo abster-se de juízo,
ou seja, manter um constante estado de dúvida, impedindo-as de
serem naturalizadas, ou até mesmo possíveis em sua existência.
Para Pirro, não é possível conhecer a verdade das coisas, seja
pelo sentido ou pela razão, desse modo, a ataraxia está em aceitar
e não buscar respostas que são impossíveis de serem alcançadas.

CINISMO
O termo vem de kynos, cachorro, pelo modo de vida que levavam.
O fundador foi Antístenes (400 a.C), mas ganhou notoriedade com
seu mais famoso discípulo Diógenes de Sinopse (325 a.C). Diz-se
que ele viveu em um barril na ágora, Diógenes considerava que a
felicidade é alcançada através da autossuficiência: “não é mais feliz
quem tem mais, mas quem precisa de menos”.

Aristóteles ensinando Alexandre. Por Jean Leon Gerome Ferris (1895)

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f2/Aristotle_tutoring_Alexander.jpg

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 27
FILOSOFIA 12 PERÍODO HELENISTA

ESTOICISMO
O termo vem de stoa: varanda,
fundada por Zenão de Citio. Outros
importantes estoicos romanos:
Epicteto e Sêneca.
Sua doutrina física muito
próxima de Heráclito: existe um
logos ou razão universal (também
Deus), que engloba a natureza
(panteísmo). Há, portanto, um
destino universal racional: não há
liberdade.
Para conseguir a felicidade
deve-se ser sábio, feliz é aquele
que aceita seu destino. Felicidade
consiste em viver de acordo
com a razão universal (ou
natureza), busca em seu objetivo:
imperturbabilidade ou ataraxia.
Zenão de Cítio.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/41/Zeno_of_Citium_pushkin.jpg

EXERCÍCIOS
PROTREINO
Diógenes. Por John William Waterhouse. 1882.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/7a/Waterhouse-Diogenes.jpg

O Cinismo procurava a paz de espírito e a vida de acordo com 01. Aponte as principais características do Helenismo.
a natureza, eles rejeitam as convenções e normas da sociedade, 02. Defina Ataraxia.
visto muitas vezes como um comportamento escandaloso, eram
cosmopolitas, se consideravam “cidadãos do mundo”, livres e sem 03. Aponte as principais correntes da Filosofia Helenística.
apego à pátria.
04. Aponte as principais características do Ceticismo.
05. Aponte as principais características do Cinismo.
EPICURISMO
Na sua parte física, é uma filosofia ateísta e indeterminista:
não há deuses, em relação a sua Ética é hedonista: a felicidade
consiste no prazer ou ausência de dor física e psíquica, nossa vida
é impedida de ser feliz por medos, que causam dores e devem ser EXERCÍCIOS
evitados.
PROPOSTOS
Método para nos libertar da dor e do medo 01. (UTFPR) Para além das conquistas militares, um dos mais
1. Eliminar o medo dos deuses: se eles existem, eles não se importantes feitos de Alexandre, o Grande, foi favorecer o
preocupam com os homens. surgimento de uma nova cultura, com forte influência grega. As
2. Eliminar o medo da morte: se eu sou, ela não é, quando ela cidadesde Alexandria, no Egito, Pérgamo, na Antióquia, e a Ilha
é, eu não sou mais, somos incompatíveis. de Rodes, no Mar Egeu, constituíram-se em centros difusores de
novos valores e de novos saberes, que se estenderam pelas artes,
3. Eliminar o medo do destino (contra o fatalismo): não há pelas ciências e por novas vertentes filosóficas. O nome dado a
propósito predeterminado, mas puro acaso (sua física essa expressão cultural foi:
dependerá do atomismo de Demócrito).
a) modernista. d) realista.
4. Eliminar o medo dos problemas: tudo tem solução, uma
vida serena, alcançada com a imperturbabilidade psíquica - b) renascentista. e) helenística.
Ataraxia - e a tranquilidade do corpo. c) contemporânea.

02. (UEG) Como resultado das campanhas militares de Alexandre


(Magno), surgiu a cultura helenística. Houve influência da cultura
oriental sobre a grega, porém não se deve superestimar a
importância dessa influência. Na realidade, os caracteres da cultura
grega sempre foram dominantes.
ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO, Júlio. Horizontes da História. São Paulo: IBEP, 2005. p. 41.

28 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
12 PERÍODO HELENISTA FILOSOFIA

Essa hegemonia da cultura helênica verificou-se, sobretudo no Alexandre considerava-se enviado pelos deuses para ser
Ocidente, sendo justificada pelo fato de que um governante geral e pacificador do mundo. Usando a força
a) os persas logo revelariam pretensões imperialistas, sendo das armas quando não conseguia unir os homens pela luz da
liderados por Xerxes numa grande campanha militar contra os razão, canalizou todos os recursos para um único e mesmo fim,
gregos. misturando vidas, maneiras, casamentos e costumes dos homens,
como se estivessem numa taça de amor.
b) os habitantes de Alexandria, a capital do Império de Alexandre,
Plutarco (historiador grego)
se recusavam a admitir a presença de estrangeiros em suas
fronteiras. (Alexandre, o Grande. In: “Os grandes líderes: Alexandre: o grande”.
São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 30)
c) os gregos mantinham forte resistência à liderança de Alexandre
Magno, por ele não ser grego de origem, já que nascera na Os textos revelam aspectos relacionados às conquistas
Macedônia. macedônicas na Grécia, Pérsia e outras regiões do Oriente Próximo.
d) os orientais, mesmo tendo se integrado ao império de Alexandre, Identifique as afirmações que possam ser relacionadas a essas
continuaram sendo considerados bárbaros pelos gregos. conquistas, implementadas por Alexandre.
I. Os soldados da Macedônia, obedecendo a ordens diretas do
03. (UENP) Julgue as afirmações sobre a filosofia helenista. rei, destruíram o patrimônio histórico e cultural dos povos
submetidos e lhes impuseram os valores macedônicos.
I. É o último período da filosofia antiga, quando a polis grega
desaparece em razão de invasões sucessivas, por persas II. Alexandre procurou adotar uma política de colaboração
e romanos, sendo substituída pela cosmopolis, categoria que contribuiu para a fusão cultural entre os diferentes
de referência que altera a percepção de mundo do grego, povos submetidos ao Império Macedônico.
principalmente no tocante à dimensão política. III. As principais instituições políticas e religiosas dos vencidos
II. É um período constituído por grandes sistemas e doutrinas foram respeitadas, o que garantiu o apoio das camadas
que apresentam explicações totalizantes da natureza, do dirigentes da sociedade aos macedônios.
homem, concentrando suas especulações no campo da IV. Alexandre, por admirar os atenienses e os espartanos, impôs
filosofia prática, principalmente da ética. a todos os povos submetidos os padrões artísticos, os valores
III. Surgem nesse período a filosofia estoica, o epicurismo, o morais e a religião da civilização grega.
ceticismo e o neoplatonismo. Estão corretas SOMENTE
Estão corretas as afirmativas: a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) II e IV. e) III e IV.
a) Todas elas. c) Apenas III. e) Apenas I.
b) Apenas I e II. d) Apenas II e III. 06. (UEG) Em meados do século IV a.C., Alexandre Magno assumiu
o trono da Macedônia e iniciou uma série de conquistas e, a partir
daí, construiu um vasto império que incluía, entre outros territórios,
04. (ENEM)
a Grécia. Essa  dominação só teve fim com o desenvolvimento
Alexandria começou a ser construída em 332 a.C., por de outro império, o romano. Esse período ficou conhecido como
Alexandre, o Grande, e, em poucos anos, tornou-se gregas. Meio helenístico e representou uma transformação radical na cultura
século mais tarde, Ptolomeu II ergueu uma enorme biblioteca e grega. Nessa época, um pensador nascido em Élis, chamado Pirro,
um museu — que funcionou como centro de pesquisa. A biblioteca defendia os fundamentos do ceticismo. Ele fundou uma escola
reuniu entre 200 mil e 500 mil papiros e, com o museu, transformou filosófica que pregava a ideia de que:
a cidade no maior núcleo intelectual da época, especialmente entre
os anos 290 e 88 a.C. A partir de então, sofreu sucessivos ataques a) seria impossível conhecer a verdade.
de romanos, cristãos e árabes, o que resultou na destruição ou b) seria inadmissível permanecer na mera opinião.
perda de quase todo o seu acervo. c) os princípios morais devem ser inferidos da natureza.
RIBEIRO, F. “Filósofa e mártir”. Aventuras na história.
São Paulo: Abril. ed. 81, abr. 2010 (adaptado). d) os princípios morais devem basear-se na busca pelo prazer.

A biblioteca de Alexandria exerceu durante certo tempo um papel 07. (ENEM)


fundamental para a produção do conhecimento e memória das Pirro afirmava que nada é nobre nem vergonhoso, justo ou
civilizações antigas, porque injusto; e que, da mesma maneira, nada existe do ponto de vista da
a) eternizou o nome de Alexandre, o Grande, e zelou pelas verdade; que os homens agem apenas segundo a lei e o costume,
narrativas dos seus grandes feitos. nada sendo mais isto do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo
b) funcionou como um centro de pesquisa acadêmica e deu com esta doutrina, nada procurando evitar e não se desviando
origem às universidades modernas. do que quer que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo,
precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos.
c) preservou o legado da cultura grega em diferentes áreas do
LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.
conhecimento e permitiu sua transmissão a outros povos.
d) transformou a cidade de Alexandria no centro urbano mais O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por:
importante da Antiguidade. a) Desprezar quaisquer convenções e obrigações da sociedade.
e) reuniu os principais registros arqueológicos até então b) Atingir o verdadeiro prazer como o princípio e o fim da vida feliz.
existentes e fez avançar a museologia antiga.
c) Defender a indiferença e a impossibilidade de obter alguma
certeza.
05. (UFAL) Reflita sobre os textos.
d) Aceitar o determinismo e ocupar-se com a esperança
Não vim para destruir nações; vim para que aqueles que foram
transcendente.
submetidos por minhas armas não tenham nada a lamentar.
Alexandre Magno (rei da Macedônia) e) Agir de forma virtuosa e sábia a fim de enaltecer o homem bom
e belo.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 29
FILOSOFIA 12 PERÍODO HELENISTA

08. (ENEM) 10. (UENP) Sobre as escolas éticas do período helenístico, da


Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais antiguidade clássica da Filosofia Grega, associe a primeira com a
e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas segunda coluna e assinale e alternativa correta.
nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se
não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode I.epicurismo A - É uma moral hedonista. O fim supremo
ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou II. estoicismo da vida é o prazer sensível; o critério único
parecem geradores de dano. de moralidade é o sentimento. Os prazeres
III. ceticismo estéticos e intelectuais são como os mais
EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia.
Rio de Janeiro: Eduff, 1974. IV. ecletismo altos prazeres.
No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim B - Visa sempre um fim último ético-
ascético, sem qualquer metafísica, mesmo
a) alcançar o prazer moderado e a felicidade. negativa.
b) valorizar os deveres e as obrigações sociais. C - Se nada é verdadeiro, tudo vale unicamente.
c) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação. D - A paixão é sempre substancialmente má,
d) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade. pois é movimento irracional, morbo e vício da
e) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber. alma.

09. (UFF) Filosofia a) I – A, II – B, III – C, IV – D


O mundo me condena, e ninguém tem pena b) I – A, II – B, III – D, IV – C
Falando sempre mal do meu nome c) I – A, II – D, III – C, IV – B
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome d) I – A, II – D, III – B, IV – C
Mas a filosofia hoje me auxilia e) I – D, II – A, III – B, IV – C
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim 11. (UFU) O filósofo pré-socrático, Parmênides de Eléia, afirmava
Vou fingindo que sou rico que “o ser é e o não-ser não é”. Por essa afirmação, ele foi
Pra ninguém zombar de mim considerado pelos filósofos posteriores como
Não me incomodo que você me diga
a) o pai do ceticismo.
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo b) o fundador da Metafísica.
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo c) o fundador da sofística.
Quanto a você da aristocracia d) o iniciador do método dialético.
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente e) o filósofo do absurdo.
Que cultiva hipocrisia.
12. (ENEM) A quem não basta pouco, nada basta.
EPICURO. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1985.

Remanescente do período helenístico, a máxima apresentada


valoriza a seguinte virtude:
a) Esperança, tida como confiança no porvir.
b) Justiça, interpretada como retidão de caráter.
c) Temperança, marcada pelo domínio da vontade.
d) Coragem, definida como fortitude na dificuldade.
e) Prudência, caracterizada pelo correto uso da razão.

13. (ENEM PPL) Jamais, a respeito de coisa alguma, digas: “Eu


a perdi”, mas sim: “eu a restituí”. O filho morreu? Foi restituído. A
Estátua de Noel Rosa, localizada na entrada de Vila Isabel, bairro da cidade do
mulher morreu? Foi restituída. “A propriedade me foi subtraída”,
Rio de Janeiro. (In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Noel_Rosa) então também foi restituída. “Mas quem a subtraiu é mau”. O que
te importa por meio de quem aquele que te dá a pede de volta? Na
Assinale a sentença do filósofo grego Epicuro cujo significado é o medida em que ele der, faz uso do mesmo modo de quem cuida das
mais próximo da letra da canção “Filosofia”, composta em 1933 por coisas de outrem. Do mesmo modo como fazem os que se instalam
Noel Rosa, em parceria com André Filho. em uma hospedaria.
a) É verdadeiro tanto o que vemos com os olhos como aquilo que EPICTETO. Encheirídion. In: DINUCCI, A. Introdução ao Manual de Epicteto.
apreendemos pela intuição mental. São Cristóvão: UFS, 2012 (adaptado).

b) Para sermos felizes, o essencial é o que se passa em nosso A característica do estoicismo presente nessa citação do filósofo
interior, pois é deste que nós somos donos. grego Epicteto é
c) P
ara se explicar os fenômenos naturais, não se deve recorrer a) explicar o mundo com números.
nunca à divindade, mas se deve deixá-la livre de todo encargo,
b) identificar a felicidade com o prazer.
em sua completa felicidade.
c) aceitar os sofrimentos com serenidade.
d) As leis existem para os sábios, não para impedir que cometam
injustiças, mas para impedir que as sofram. d) questionar o saber científico com veemência.
e) A natureza é a mesma para todos os seres, por isso ela não e) considerar as convenções sociais com desprezo.
fez os seres humanos nobres ou ignóbeis, e sim suas ações e
intenções.

30 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
12 PERÍODO HELENISTA FILOSOFIA

14. (UFSM - ADAPTADA) A economia verde contém os seguintes 18 (FUVEST) "Alexandre desembarca lá onde foi fundada a atual
princípios para o consumo ético de produtos: a matéria-prima dos cidade de Alexandria. Pareceu-lhe que o lugar era muito bonito para
produtos deve ser proveniente de fontes limpas e não deve haver fundar uma cidade e que ela iria prosperar. A vontade de colocar
desperdício dos produtos. O Estado, entretanto, não impõe, até o mãos à obra fez com que ele próprio traçasse o plano da cidade,
presente momento, sanções àqueles cidadãos que não seguem o local da Ágora, dos santuários da deusa egípcia Ísis, dos deuses
esses princípios. gregos e do muro externo."
Flávio Arriano. "Anabasis Alexandri" (séc. I d.C.).
Marque a alternativa correta:
a) Esses princípios são juízos de fato. Desse trecho de Arriano, sobre a fundação de Alexandria, é
b) Esses princípios não são, atualmente, uma questão de possível depreender:
moralidade, mas de legalidade. a) o significado do helenismo, caracterizado pela fusão da
c) A ética epicurista, a exemplo da economia verde, propõe uma cultura grega com a egípcia e as do Oriente Médio.
vida mais moderada. b) a incorporação do processo de urbanização egípcio, para
d) Esses princípios são juízos de fé efetivar o domínio de Alexandre na região.
e) Esses princípios são relacionados com a interpretação mítica c) a implantação dos princípios fundamentais da democracia
ateniense e do helenismo no Egito.
15. (UFSJ) Sobre o ceticismo, é CORRETO afirmar que d) a permanência da racionalidade urbana egípcia na organização
a) os céticos buscaram uma mediação entre “o ser” e o “poder-ser”. de cidades no Império helênico.
b) o ceticismo relativo tem no subjetivismo e no relativismo e) o impacto da arquitetura e da religião dos egípcios, na Grécia,
doutrinas manifestamente apoiadas em seu princípio maior: após as conquistas de Alexandre.
toda interatividade possível.
c) Protágoras (séc. V a.C.), relativista, afirmou que “o Homem só 19. (UFRN) Acerca de Alexandre Magno (356-323 a. C.), o
entende a natureza porque o conhecimento emana dela e nela historiador inglês Arnold Toynbee comenta:
se instala”. Alexandre viveu o bastante para superar a estreita concepção
d) Górgias (485-380 a.C.) e Pirro (365-275 a.C.) são apontados de uma ascendência helênica sobre os não-helenos, em favor de
como possíveis fundadores do ceticismo absoluto. um ideal maior da fraternidade da humanidade. Em seu contacto
com os persas, reconheceu e admirou todas as virtudes que lhes
e) Sócrates (485-380 a.C.) e Platão (365-275 a.C.) são apontados
permitiram governar uma parte do mundo por mais de duzentos
como possíveis fundadores do ceticismo absoluto.
anos, e passou a sonhar com um mundo governado em conjunto
16. (UFSJ) Sobre a ética na Antiguidade, é CORRETO afirmar que por persas e helenos.
TOYNBEE, Arnold J. "Helenismo: história de uma civilização".
a) o ideal ético perseguido pelo estoicismo era um estado de Rio de Janeiro: Zahar, 1975. p. 118.
plena serenidade para lidar com os sobressaltos da existência.
b) os sofistas afirmavam a normatização e verdades Analisando-se a evolução histórica do período, pode-se afirmar
universalmente válidas. que, em parte, o ideal de Alexandre realizou-se na medida em que
suas conquistas
c) Platão, na direção socrática, defendeu a necessidade de
purificação da alma para se alcançar a ideia de bem. a) estimularam a retomada do despotismo oriental, que se somou
às conquistas de liberdade e direitos que fundamentaram a
d) Sócrates repercutiu a ideia de uma ética intimista voltada para
democracia grega.
o bem individual, que, ao ser exercida, se espargiria por todos
os homens. b) favoreceram a fusão entre as culturas dos povos asiáticos
dominados e os valores gregos, originando a cultura
17. (UNESP) De cidade em cidade, de civilização em civilização, helenística.
a ciência viaja com as caravanas de mercadores, os exércitos c) possibilitaram o domínio das províncias asiáticas pelos
invasores e os viajantes solitários. A matemática dos gregos, entre romanos, que difundiram a cultura helenística em toda a
eles Pitágoras, chegou até nós por meio de Alexandria, cidade egípcia Europa ocidental.
às margens do Nilo. Ali um grego chamado Euclides, que chegou
d) xpandiram os direitos de cidadania a todos os súditos,
à cidade no ano 300 a.C., escreveu um dos livros mais copiados e
adotando a autonomia e as liberdades gregas como modelo
traduzidos de toda a História: Elementos de Geometria.
de administração do Império.
A história dessa cidade e da “viagem” do conhecimento grego se
confunde com a trajetória dos macedônios. 20. (UEG 2018) Leia o texto a seguir.
(Flavio Campos e Renan Garcia Miranda, A escrita da História)
Para justificar a ambição grega de hegemonia universal,
A respeito dos macedônios, pode-se afirmar que foram Aristóteles (384 - 322 a. C.) formulou a hipótese de que certas raças
a) um povo guerreiro, que acabou dominado pelos exércitos são, por natureza, livres desde o berço, enquanto outras são escravas.
romanos de César e Marco Antônio, após décadas de COMAS, Juan. Os mitos raciais. Raça e Ciência.
São Paulo: Perspectiva, 1960. v. I. p. 13.
resistência.
b) grandes matemáticos, que souberam aplicar seus Essa filosofia racial foi incorporada às campanhas militares de
conhecimentos na construção de algumas das maravilhas da um grande general e líder político que foi aluno de Aristóteles. Seu
Antiguidade. nome era
c) conquistadores da Grécia, que expandiram seu império para a) Leônidas, rei espartano que liderou a resistência contra os
o Oriente e promoveram o que passou a ser conhecido como persas com apenas 300 soldados.
Helenismo.
b) Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, que difundiu a cultura
d) precursores da cultura grega; atribui-se aos seus filósofos e grega na África e na Ásia.
pensadores a criação do pensamento mítico.
c) Nero, imperador romano admirador dos gregos, famoso por
e) grandes mercadores, responsáveis por disseminar junto aos ter colocado fogo em Roma.
gregos os avanços técnicos da arquitetura egípcia.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 31
FILOSOFIA 12 PERÍODO HELENISTA

d) Péricles, governante responsável pelo apogeu da cidade de Com base na leitura desse trecho e considerando outros elementos
Atenas no período clássico. contidos na obra citada, explique em que medida a representação
e) Licurgo, legislador conhecido por estabelecer as duras leis da que se faz dos deuses influência na busca da felicidade.
cidade de Esparta.
05. (UFRN) A palavra “democracia” surgiu na Grécia Antiga, mas, em
diferentes tempos, ela denominou realidades distintas. Analisando
a formação da democracia grega no século VI a.C., o historiador
EXERCÍCIOS DE Ciro F. Cardoso afirma:
APROFUNDAMENTO Ao apoiar-se politicamente nas massas populares, em favor das quais
tomava diversas medidas, [...] a tirania promoveu a configuração do
01. (UNICAMP) Nada é mais presente na vida cotidiana da demos como força política mais estruturada do que o fora até então:
coletividade do que a oratória, que partilha com o teatro a ela significou, assim, a destruição, não dos aristocratas, mas da
característica de ser a manifestação cultural mais popular e mais sociedade e do regime aristocrático mais ou menos exclusivo.
praticada na Atenas clássica. A civilização da Atenas clássica é uma CARDOSO, Ciro F. A cidade antiga. São Paulo: Ática, 1993. p. 31.
civilização do debate. As reações dos atenienses na Assembleia
eram influenciadas por sua experiência como público do teatro e vice- a) Mencione duas diferenças entre o modelo político aristocrático
versa. Trata-se de uma civilização substancialmente oral. O grego era e o modelo democrático na Grécia Antiga do século VI a.C.
educado para escutar. O caminho de Sócrates a Aristóteles ilustra b) Compare os direitos de cidadania e o exercício do voto na
perfeitamente o percurso da cultura grega da oralidade à civilização democracia ateniense da Antiguidade e nas sociedades
da escrita, que corresponde, no plano político e social, à passagem democráticas ocidentais contemporâneas.
da cidade-estado ao ecumenismo helenístico.
(Adaptado de Agostino Masaracchia, "La prosa greca del V e del IV secolo a.C.".
In: Giovanni D'Anna (org.). Storia della letteratura greca. GABARITO
Roma: Tascabile Economici Newton, 1995, p. 52-54.)
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. E 05. C 09. B 13. C 17. C
a) Estabeleça relações entre o modelo político vigente na Atenas 02. D 06. A 10. D 14. C 18. A
clássica e a importância assumida pelo teatro e pela oratória 03. A 07. C 11. B 15. D 19. B
nesse período. 04. C 08. A 12. C 16. A 20. B

b) Aponte características do período helenístico que o diferenciam EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO


da Atenas clássica. 01.
a. Na democracia anteniense, os cidadãos participavam diretamente da vida pública,
atuando nos debates sobres as questões políticas, e envolviam-se praticamente da
02. (UDESC) Segundo a tradição filosófica, comente a atitude que mesma forma nas apresentações das tragédias e comédias. A oratória, comum
caracteriza alguém como um cético. às duas situações, possuía valor relevante, tanto para a reflexão sobre questões
políticas, quanto sobre valores morais.

03. (UFPR) Considere a imagem a seguir: b. O período helenístico caracterizou-se pela formação de um vasto império de caráter
universal, diferentemente do regionalismo da Atenas clássica. A democracia foi
superada pelo centralismo autocrático de Alexandre, o Grande. A cultura helênica,
fundamentada no racionalismo, foi superada ao se fundir à cultura oriental, na qual se
sobressaía a suntuosidade e o realismo excessivo, dando lugar à cultura helenística.
02. O ceticismo, como tradição filosófica, tem seu nascimento há muitíssimo tempo.
Apesar de podermos dizer que está presente na própria origem da filosofia certo
posicionamento cético – não podemos ser plenamente sábios sobre as coisas do mundo,
mas apenas amar a sabedoria, isto é, ser filósofo, ou filosofar –, o ceticismo, como
tradição, possui uma história originada em Pirro, de Élis (séc. IV a.c.), que mantém uma
atitude cética mais evidente e persistente – sabemos de Pirro através Diógenes de Laércio
e Tímon de Fliunte.
O principal conceito do ceticismo é a epoché, ou a suspensão do juízo – o desinteresse
pelo juízo afirmativo ou negativo. Esse conceito expõe um movimento de dúvida que
apazigua e possibilita o sábio ter felicidade na indiferença. O movimento é dividido na
neutralização do discurso que conduz ao silêncio (apahsía), à impassibilidade (apatheia)
e à serenidade (ataraxía).
03. Esta escola foi fundada por Antístenes, porém Diógenes foi o pensador mais
relevante. O termo Cinismo e Cínico derivam do grego “kymon”, cainos, cujo significado é
cão. Diógenes acreditava que os humanos viviam artificialmente, de maneira hipócrita e
poderiam ter proveito ao estudar o cão. Os cães, como outros animais, vivem o presente
Caracterize o cinismo no período helenístico e explique o destaque sem ansiedade e aprendem instintivamente quem é amigo/inimigo e desprezam os
dado aos cães na pintura que Jean-Leon Gerome fez do filósofo valores sociais. Diferentemente dos humanos, que enganam e são enganados pelos
outros, os cães reagem com honestidade frente à verdade. Esta escola refutava coisas
Diógenes de Sinope. fúteis como riqueza, poder e reconhecimento social e defendia que a verdadeira felicidade
não depende fatores externos como luxo e poder, e sim fatores internos.
04. (UFMG) Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento 04. Segundo a filosofia epicurista, o homem chega à felicidade por meio da ataraxia, que
que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, corresponde ao estado de tranquilidade da alma. Tal estado só é possível de ser alcançado
se os homens deixam de temer a morte e os deuses. Uma vez que os deuses são indiferentes
essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção aos homens e existem somente em uma dimensão que não pode influenciá-los, a falsa crença
que têm dos deuses. Ímpio não é quem rejeita os deuses em que de que os deuses “causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons”
a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos cria no homem um estado de angústia, que o impede de chegar à ataraxia.
dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses 05.
não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a. O modelo aristocrático, que antecedeu a democracia na Grécia antiga, estava
baseado em privilégios de origem familiar, no qual somente os nascidos
a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e “eupátridas” possuíam efetivamente direitos políticos, tanto na ocupação de
os maiores benefícios aos bons. Irmanados pelas suas próprias cargos públicos, como no processo de escolha; além de manter a terra como
virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e seu privilégio exclusivo. A Democracia ampliou a participação, garantida a todos
independentemente da origem, porém que excluía as mulheres e preservava a
consideram estranho tudo que seja diferente deles. escravidão.
EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu). Trad. de A. Lorencini e E. del Carratore.
b. O direito de voto na Grécia antiga foi garantido apenas aos homens, maiores de idade, que
São Paulo: Editora da UNESP, 2002. p. 25-27.
fossem livres (a escravidão foi preservada), nascidos em Atenas com o pai ateniense.
Nas democracias ocidentais contemporâneas o direito foi estendido às mulheres, porém
na maioria dos casos, ainda existe limite de idade e restrição aos estrangeiros.

32 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: FILOSOFIA

SANTO AGOSTINHO

A RELAÇÃO ENTRE A FILOSOFIA E O e aristotélicas, a busca pela verdade sobre a realidade para melhor
guiar as ações individuais. Porém, sua filosofia também possui
CRISTIANISMO elementos do cristianismo, como a centralidade da ideia de Deus,
a busca pela compreensão de conceitos cristãos como a Trindade,
O Cristianismo estabeleceu contato com a Filosofia por
a problematização da relação entre a fé e a razão.
volta do Século II d.C. Cabe destacar que, apesar de ser possível
encontrar traços de uma lógica filosófica em fragmentos de textos Sua filosofia influenciou profundamente não apenas o
sagrados, a religião cristã e a Filosofia se mantiveram em posições pensamento teórico posterior, mas toda a cristandade e, por
opostas. A dicotomia se assentava em o cristianismo ser entendido consequência, toda a Europa. Por ter estudado várias filosofias
como religião, portanto, baseado na crença e fé para professar gregas, Agostinho utilizou a argumentação filosófica para defender
dogmas e apresentar salvação para o indivíduo. Por outro lado, a as ideias cristãs.
Filosofia era pautada em uma lógica essencialmente contrária sob Agostinho possui uma preocupação em tentar argumentar os
um ponto de vista do questionamento, da dúvida permanente e da dogmas do cristianismo, não baseando-se somente na fé, mas se
argumentação como método para entender e explicar o mundo. adequando aos argumentos racionais. Buscando explicar a origem
Entretanto, com a transição da Antiguidade para a Idade Média, do mal, Agostinho aponta Deus como ser benevolente e criador
a Filosofia e o Cristianismo se encontraram e esse encontro deu de todo o universo, criando um embate em ter sido o criador do
origem ao que os estudiosos chamam de Filosofia Medieval. mal. Argumenta que o mal nada mais é do que a ausência de bem,
não sendo uma criação de Deus. O mal nasce do livre-arbítrio do
Desse modo, a Filosofia Medieval é marcada por um processo
homem que escolhe ir contra a vontade de Deus. A argumentação
de junção entre instrumentos da fé e da razão, visões que,
de Agostinho é uma demonstração clara dos interesses da filosofia
como vimos, sempre foram entendidas como completamente
cristã, comprovar dogmas e visões da Igreja Católica.
dicotômicas, mas que foram moldadas em um período que
conhecemos como Idade Média. Importante lembrar que a Idade
Média se refere a um período de forte influência da Igreja, com
entendimento teocêntrico do mundo. Toda e qualquer relação
social era moldada e formada pela instituição católica, sendo
assim, era viável uma compreensão religiosa da economia, da
política, da sociedade e da vida cotidiana.
Em resumo, a Filosofia Medieval é o uso por parte da Igreja
Católica de instrumentos filosóficos como fundamentos para
a fé cristã. Foram utilizados instrumentos racionais para tentar
explicar tanto dogmas do cristianismo, como uma tentativa de
comprovação da existência de Deus, através de argumentações
filosóficas. Essa filosofia vai apresentar escolas e correntes
de pensamento distintos ao longo da história. A primeira que
estudaremos será a chamada Patrística.

PATRÍSTICA
Chama-se literatura patrística, em sentido lato, ao conjunto
das obras cristãs que datam da idade dos padres da Igreja; mas
nem todas têm como autores os padres, e esse título mesmo não
é rigorosamente preciso.
Num primeiro sentido, ele designa todos os escritores
eclesiásticos antigos, mortos na fé cristã e na comunhão da Igreja;
em sentido estrito, um padre (ou pai) da Igreja deve apresentar
quatro características: ortodoxia doutrinal, santidade de vida,
aprovação da Igreja, relativa à antiguidade (até fins do século III
aproximadamente). Outra marca importante do período é a forte
influência do pensamento platônico.

SANTO AGOSTINHO
Santo Agostinho. Por Philippe de Champaigne.1645
Um dos principais representantes da Patrística é Agostinho de
Hipona (354 - 430). Nascido em Hipona, no norte da África, filho de https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ea/Saint_Augustine_by_Philippe_
pai pagão e mãe cristã, estudou várias correntes filosóficas de seu de_Champaigne.jpg
tempo, como o neoplatonismo e o maniqueísmo.
Outra parte fundamental da obra Agostiniana é sua Teoria da
Sua obra contém elementos da filosofia helênica, como a
Iluminação em que argumenta que o verdadeiro conhecimento
argumentação racional sobre conceitos, o uso de noções platônicas
só é encontrado na iluminação oriunda de Deus. Esse movimento
de Agostinho é uma clara influência platônica, ao separar o
conhecimento em sensorial, razão inferior e aquele baseado na
iluminação divina. Vamos aprofundar:

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 33
FILOSOFIA 13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO

TEORIA DO CONHECIMENTO DE SANTO poderá apreendê-lo, mesmo com o pensamento, para proferir uma
palavra acerca dele? Que realidade mais familiar e conhecida do
AGOSTINHO que o tempo evocamos na nossa conversação? E quando falamos
• O conhecimento sensível é obtido pelos sentidos e dele, sem dúvida compreendemos, e também compreendemos,
acessível a todos os homens. quando ouvimos alguém falar dele. O que é, pois, o tempo? Se
• O conhecimento científico é obtido pela razão e acessível ninguém mo pergunta, sei o que é; mas se quero explicá-lo a
a todos os homens, uma vez que se encontra no plano quem mo pergunta, não sei: no entanto, digo com segurança que
material. sei que, se nada passasse, não existiria o tempo passado, e, se
nada adviesse, não existiria o tempo futuro, e, se nada existisse,
• O conhecimento divino é obtido pela razão superior e é não existiria o tempo presente. De que modo existem, pois, esses
acessível somente a alguns homens, os iluminados. dois tempos, o passado e o futuro, uma vez que, por um lado, o
passado já não existe, por outro, o futuro ainda não existe? Quanto
TEXTO COMPLEMENTAR ao presente, se fosse sempre presente, e não passasse a passado,
já não seria tempo, mas eternidade. Logo, se o presente, para ser
Eis a minha resposta a quem diz: Que fazia Deus antes de fazer tempo, só passa a existir porque se torna passado, como é que
o céu e a terra? Não lhe dou aquela resposta que alguém, segundo dizemos que existe também este, cuja causa de existir é aquela
se diz, terá dado, iludindo com graça a violência da pergunta. porque não existirá, ou seja, não podemos dizer com verdade que o
Preparava, disse, a geena para aqueles que perscrutam questões tempo existe senão porque ele tende para o não existir?
tão profundas. Uma coisa é ver, outra coisa é rir. Esta não é a minha
resposta. Preferiria responder: ‘‘Não sei o que não sei’’, em vez de Permite-me, Senhor, ir mais longe na minha procura, ó minha
dar uma resposta que pusesse a ridículo quem formulou questão esperança; e não se distraia a minha atenção. Se existem coisas
tão profunda e gabasse quem respondeu erradamente. Mas eu futuras e passadas, quero saber onde estão. Mas se isso ainda não
afirmo, ó nosso Deus, que tu és o criador de toda a criatura e, se sob me é possível, sei, todavia, que onde quer que estejam, aí não são
a designação de ‘‘céu e terra’’ se entende toda a criatura, não hesito futuras nem passadas, mas presentes. Na verdade, se também aí
em afirmar: ‘‘Antes de Deus fazer o céu e a terra, não fazia coisa são futuras, ainda lá não estão, e se também aí são passadas, já lá
alguma’’. Com efeito, se fazia alguma coisa, que coisa fazia senão não estão. Por conseguinte, onde quer que estejam e quaisquer que
a criatura? E oxalá assim eu possa saber tudo aquilo que, utilmente, sejam, não existem senão como presentes.
desejo saber, tal como sei que não estava criada nenhuma criatura Ainda que se narrem, como verdadeiras, coisas passadas, o
antes de ser criada alguma criatura. que se vai buscar à memória não são as próprias coisas que já
Mas se algum sentido volúvel vagueia pelas imagens dos passaram, mas as palavras concebidas a partir das imagens de
tempos anteriores à criação e se admira de que tu, Deus onipotente, tais coisas, que, ao passarem pelos sentidos, gravaram na alma
e criador e sustentáculo de todas as coisas, artífice do céu e da terra, como que uma espécie de pegadas. Até a minha infância, que já
durante inumeráveis séculos te abstiveste de tão grande obra, antes não existe, existe no tempo passado, que já não existe; mas vejo
de a fazeres, ele que desperte e repare que se admira de coisas a sua imagem no tempo presente, quando a evoco e descrevo,
falsas. Com efeito, como podiam ter passado inumeráveis séculos, porque ainda está na minha memória. Se é semelhante a
que tu próprio não tinhas feito, sendo tu o autor e criador de todos explicação também da predição do futuro, de tal forma que sejam
os séculos? Ou que tempos teriam existido que não tivessem sido tornadas presentes, como já existentes, as imagens das coisas que
criados por ti? Ou como podiam ter passado se nunca tivessem ainda não existem, confesso-te, meu Deus, que não sei. Há uma
existido? Sendo tu o obreiro de todos os tempos, se existiu algum coisa que eu sei: a maior parte das vezes, nós premeditamos as
tempo antes de fazeres o céu e a terra, por que motivo se diz que nossas ações futuras e essa premeditação é presente, ao passo
tu te abstinhas de agir? De fato, tu tinhas feito o próprio tempo, e que a ação que premeditamos ainda não existe, porque é futura;
os tempos não puderam passar, antes de tu fazeres os tempos. Se, quando a empreendermos e começarmos a realizar aquilo que
no entanto, não existia nenhum tempo antes do céu e da terra, por premeditávamos, então essa ação existirá, porque então já não
que razão se pergunta o que fazias então? Na realidade, não havia será futura, mas presente.
‘então’, quando não havia tempo. Assim, qualquer que seja a natureza deste misterioso
E tu não precedes os tempos com o tempo: se assim fosse, não pressentimento do futuro, não se pode ver senão o que existe. Ora,
precederias todos os tempos. Mas precedes todos os pretéritos o que já existe não é futuro, mas presente. Por isso, quando se diz
com a grandeza da tua eternidade sempre presente, e superas que se veem coisas futuras, não se veem essas mesmas coisas,
todos os futuros porque eles são futuros, e quando eles chegarem, que ainda não existem, ou seja, que hão de existir, mas sim as suas
serão pretéritos; tu, porém, és o mesmo e os teus anos não têm causas ou, talvez, os seus sinais; estes já existem: por isso, não são
fim. Os teus anos não vão nem vêm: os nossos vão e vêm, para futuros, mas já presentes para os que os veem, e, a partir deles, são
que todos venham. Os teus anos existem todos ao mesmo tempo, preditas as coisas futuras concebidas no espírito.
porque não passam, e os que vão não são excluídos pelos que As imagens dessas coisas, por sua vez, já existem, e veem-
vêm, porque não passam: enquanto os nossos só existirão todos, nas como presentes, dentro de si, aqueles que predizem tais
quando todos não existirem. Os teus anos são um só dia, e o teu coisas. Ofereça-me um exemplo a imensa variedade das coisas.
dia não é todos os dias, mas um ‘‘hoje’’, porque o teu dia de hoje Contemplo a aurora: preanuncio que o sol vai nascer. O que vejo é
não antecede o de amanhã; pois não sucede ao de ontem. O teu presente, o que preanuncio é futuro: não é o sol, que já existe, que
hoje é a eternidade: por isso, geraste coeterno contigo aquele a é futuro, mas sim o seu nascimento, que ainda não existe: todavia,
quem disseste: Eu hoje te gerei. Tu fizeste todos os tempos e tu és mesmo o próprio nascimento, se não o imaginasse no meu espírito,
antes de todos os tempos, e não houve tempo algum em que não como agora quando estou a falar dele, não o poderia predizer. Mas
havia tempo. Não houve, pois, tempo algum em que não tivesses aquela aurora que vejo no céu não é o nascimento do sol, embora
feito alguma coisa, porque tinhas feito o próprio tempo. E nenhuns o preceda, nem aquela imagem que está no meu espírito: ambas
tempos te são coeternos, porque tu permaneces o mesmo; ora, se são vistas claramente como presentes, a ponto de se poder dizer
os tempos permanecessem os mesmos, não seriam tempos. antecipadamente aquele futuro. Portanto, as coisas futuras ainda
Não houve, pois, tempo algum em que não tivesses feito alguma não existem e, se ainda não existem, não existem, e, se não existem,
coisa, porque tinhas feito o próprio tempo. E  nenhuns tempos te não podem ser vistas de forma alguma; mas podem ser preditas a
são coeternos, porque tu permaneces o mesmo; ora, se os tempos partir das coisas presentes, que já existem e se veem.
permanecessem os mesmos, não seriam tempos. Que é, pois, o Uma coisa é agora clara e transparente: não existem coisas
tempo? Quem o poderá explicar facilmente e com brevidade? Quem futuras nem passadas; nem se pode dizer com propriedade: há três

34 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO FILOSOFIA

tempos, o passado, o presente e o futuro; mas talvez se pudesse 04. (UFU) A Patrística, filosofia cristã dos primeiros séculos, poderia
dizer com propriedade: há três tempos, o presente respeitante ser definida como
às coisas passadas, o presente respeitante às coisas presentes, a) retomada do pensamento de Platão, conforme os modelos
o presente respeitante às coisas futuras. Existem na minha teológicos da época, estabelecendo estreita relação entre
alma estas três espécies de tempo e não as vejo em outro lugar: filosofia e religião.
memória presente respeitante às coisas passadas, visão presente
respeitante às coisas presentes, expectação presente respeitante b) configuração de um novo horizonte filosófico, proposto por
às coisas futuras. Se me permitem dizê-lo, vejo e afirmo três Santo Agostinho, inspirado em Platão, de modo a resgatar a
tempos, são três. Diga-se também: os tempos são três, passado, importância das coisas sensíveis, da materialidade.
presente e futuro, tal como abusivamente se costuma dizer; diga- c) adaptação do pensamento aristotélico, conforme os moldes
se. Pela minha parte, eu não me importo, nem me oponho, nem teológicos da época.
crítico, contanto que se entenda o que se diz: que não existe agora d) criação de uma escola filosófica, que visava combater os
aquilo que está para vir nem aquilo que passou. Poucas são as ataques dos pagãos, rompendo com o dualismo grego.
coisas que exprimimos com propriedade, muitas as que referimos
e) filosofia que relaciona a fé cristã com Aristóteles.
sem propriedade, mas entende-se o que queremos dizer.
(Agostinho. Confissões)
05. (UFU) Segundo o texto abaixo, de Agostinho de Hipona (354-
430 d. C.), Deus cria todas as coisas a partir de modelos imutáveis e
eternos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões seminais,
EXERCÍCIOS como também são chamadas, não existem em um mundo à parte,

PROTREINO
independentes de Deus, mas residem na própria mente do Criador,
[...] a mesma sabedoria divina, por quem foram criadas todas as
coisas, conhecia aquelas primeiras, divinas, imutáveis e eternas
01. Apresente as principais características da Filosofia Medieval. razões de todas as coisas, antes de serem criadas [...].
Sobre o Gênese, V
02. Apresente as principais características da Patrística.
03. Aponte o principal pensador da Patrística. Considerando as informações acima, é correto afirmar que se pode
perceber:
04. Apresente as principais influências de Santo Agostinho.
a) que Agostinho modifica certas ideias do cristianismo a fim de
05. Apresente a principal teoria do conhecimento de Santo Agostinho. que este seja concordante com a filosofia de Platão, que ele
considerava a verdadeira.
b) uma crítica radical à filosofia platônica, pois esta é contraditória
com a fé cristã.
c) a influência da filosofia platônica sobre Agostinho, mas esta é
EXERCÍCIOS
modificada a fim de concordar com a doutrina cristã.
PROPOSTOS d) uma crítica violenta de Agostinho contra a filosofia em geral.
e) Santo Agostinho não considera que a visão divina gera
01. (UEG) Os primeiros séculos da era cristã são os da constituição conhecimento.
dos dogmas cristãos. A tarefa da filosofia desenvolvida pelos
padres da Igreja nesta época é a de encontrar justificativas
06. (UFU)
racionais para as verdades reveladas, ou seja, conciliar fé e razão.
Santo Agostinho é o principal representante deste período que “Assim até as coisas materiais emitem um juízo sobre as suas
ficou conhecido como formas, comparando-as àquela Forma da eterna Verdade e que
intuímos com o olhar de nossa mente.”
a) racionalismo. d) patrística.
(Sto. Agostinho, A Trindade, Livro IX, Capítulo 6. São Paulo, Paulus, 1994. p. 299)
b) escolástica. e) sofistas.
c) fideismo. Esta frase de Sto. Agostinho refere-se à
a) teologia mística de Agostinho, que se funda na experiência
02. (UNCISAL) A filosofia de Santo Agostinho é essencialmente imediata da alma humana com Deus.
uma fusão das concepções cristãs com o pensamento platônico. b) moral agostiniana que propõe ao homem regras para uma vida
Subordinando a razão à fé, Agostinho de Hipona afirma existirem santa e ascética, apartada do mundo.
verdades superiores e inferiores, sendo as primeiras compreendidas
c) doutrina da iluminação que afirma que o conhecimento
a partir da ação de Deus. Como se chama a teoria agostiniana que
humano é iluminado pela Verdade Eterna, isto é, Deus.
afirma ser a ação de Deus que leva o homem a atingir as verdades
superiores? d) estética intelectualista de Agostinho, que consiste num
profundo desprezo pela sensibilidade humana.
a) Teoria da Predestinação. d) Teoria da Emanação.
e) A crença da não existência de conhecimento divino na razão
b) Teoria da Providência. e) Teoria da Iluminação.
humana.
c) Teoria Dualista.
07. (UFU) Leia o trecho extraído da obra Confissões.
03. (UFU) Para Santo Agostinho, o homem chega à verdade
Quem nos mostrará o Bem? Ouçam a nossa resposta: Está
a) apenas pela fé em Deus. gravada dentro de nós a luz do vosso rosto, Senhor. Nós não somos
b) pelo método alegórico aplicado à interpretação da Bíblia. a luz que ilumina a todo homem, mas somos iluminados por Vós.
c) pela iluminação divina. Para que sejamos luz em Vós os que fomos outrora trevas.
SANTO AGOSTINHO. Confissões IX.
d) pela recordação da alma que estava junto a Deus. São Paulo: Nova Cultural,1987. 4, l0. p.154.
Coleção Os Pensadores
e) pelos sentidos e pelo intelecto.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 35
FILOSOFIA 13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO

Sobre a doutrina da iluminação de Santo Agostinho, marque a sermões de Ambrósio, influenciados por Plotino, que Agostinho
alternativa correta. venceu suas últimas resistências (de tornar-se cristão).
a) A irradiação da luz divina faz com que conheçamos PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In: CHÂTELET, François
imediatamente as verdades eternas em Deus. Essas verdades, (org.) A Filosofia medieval. Rio de Janeiro Zahar Editores: 1983, p. 77.
necessárias e eternas, não estão no interior do homem, porque
seu intelecto é contingente e mutável. Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio
dos escritos de Plotino, o pensamento de Agostinho apresenta
b) A irradiação da luz divina atua imediatamente sobre o intelecto muitas diferenças se comparado ao pensamento de Platão.
humano, deixando-o ativo para o conhecimento das verdades
eternas. Essas verdades, necessárias e imutáveis, estão no Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, uma dessas
interior do homem. diferenças.
c) A metáfora da luz significa a ação divina que nos faz recordar as a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimento
verdades eternas que a alma possuía antes de se unir ao corpo. verdadeiro, enquanto, para Platão, a verdade a respeito do
mundo é inacessível ao ser humano.
d) A metáfora da luz significa a ação divina que nos faz recordar as
verdades eternas que a alma possuía e que nela permanecem b) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das
mediante os ciclos da reencarnação. Ideias, enquanto para Agostinho não existe nenhuma realidade
além do mundo natural em que vivemos.
c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma
08. (UFU) A teoria da iluminação divina, contribuição original de
não é imortal, já que é apenas a forma do corpo.
Agostinho à filosofia da cristandade, foi influenciada pela filosofia
de Platão, porém, diferencia-se dela em seu aspecto central. d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a
alma reconhece as Ideias que ela contemplou antes de nascer;
Assinale a alternativa abaixo que explicita esta diferença.
Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação
a) A filosofia agostiniana compartilha com a filosofia platônica do divina, a centelha de Deus que existe em cada um.
dualismo, tal como este foi definido por Agostinho na Cidade
de Deus. Assim, a luz da teoria da iluminação está situada no 11. (UFU) Agostinho, em Confissões, diz: "Mas após a leitura
plano suprassensível e só é alcançada na transcendência da daqueles livros dos platônicos e de ser levado por eles a buscar a
existência terrena para a vida eterna. verdade incorpórea, percebi que 'as perfeições invisíveis são visíveis
em suas obras' (Carta de Paulo aos Romanos, 1, 20)".
b) A teoria da Iluminação, tal como sugere o nome, está
Agostinho de Hipona. Confissões, livro VII, cap. 20, citado por: MARCONDES, Danilo.
fundamentada na luz de Deus, luz interior dada ao homem interior Textos Básicos de Filosofia.
na busca da verdade das coisas que não são conhecidas pelos Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000. Tradução do autor.
sentidos; esta luz é Cristo, que ensina e habita no homem interior.
Nesse trecho, podemos perceber como Agostinho
c) Agostinho foi contemporâneo da Terceira Academia,
a) se utilizou da Bíblia para conhecer melhor a filosofia platônica.
recebendo os ensinamentos de Arcesilau e Carnéades, o que
resultou na posição dogmática do filósofo cristão quanto b) utiliza a filosofia platônica para refutar os textos bíblicos.
à impossibilidade do conhecimento da verdade, sendo o c) separa nitidamente os domínios da filosofia e da religião.
conhecimento humano apenas verossímil. d) foi despertado para o conhecimento de Deus a partir da
d) A alma é a morada da verdade, todo conhecimento nela filosofia platônica.
repousa. Assim, a posição de Agostinho afasta-se da filosofia e) foi despertado para o conhecimento de Deus a partir da
platônica, ao admitir que a alma possui uma existência anterior, filosofia de Aristóteles.
na qual ela contemplou as ideias, de modo que o conhecimento
de Deus é anterior à existência. 12. (UNESP) Não posso dizer o que a alma é com expressões
materiais, e posso afirmar que não tem qualquer tipo de dimensão,
não é longa ou larga, ou dotada de força física, e não tem coisa
09. (UFU) Agostinho formula sua teoria do conhecimento a partir alguma que entre na composição dos corpos, como medida e
da máxima “creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio tamanho. Se lhe parece que a alma poderia ser um nada, porque não
conheço”. A posição do autor não impede que cada um busque a apresenta dimensões do corpo, entenderá que justamente por isso
sabedoria com suas próprias forças; o que ainda não é conhecido ela deve ser tida em maior consideração, pois é superior às coisas
pode ser revelado mediante a consulta da verdade interior. Com materiais exatamente por isso, porque não é matéria. É certo que
base neste argumento, assinale a alternativa correta. uma árvore é menos significativa que a noção de justiça. Diria que a
a) É incorreto afirmar que a verdade interior que soa no íntimo das justiça não é coisa real, mas um nada? Por conseguinte, se a justiça
pessoas seja o Cristo; e o arbítrio humano é consultado sobre não tem dimensões materiais, nem por isso dizemos que é nada. E a
o que não se conhece. alma ainda parece ser nada por não ter extensão material?
b) As coisas que ainda não conhecemos só podem ser percebidas (Santo Agostinho. Sobre a potencialidade da alma, 2015. Adaptado.)

pelos sentidos do corpo e podem ser comunicadas facilmente


por intermédio das palavras. No texto de Santo Agostinho, a prova da existência da alma
c) A verdade interior está à disposição de cada um e a) desempenha um papel primordialmente retórico, desprovido
encontra-se armazenada na memória, de modo que o uso de pretensões objetivas.
da memória dispensa a contemplação da luz interior. b) antecipa o empirismo moderno ao valorizar a experiência
d) A verdade interior só pode ser percebida pelo homem como origem das ideias.
interior, que é iluminado pela luz desta verdade interior, que é c) serviu como argumento antiteológico mobilizado contra o
contemplada por cada um. pensamento escolástico.
d) é fundamentada no argumento metafísico da primazia da
10. (UFU) A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente substância imaterial.
devedora do platonismo cristão milanês: foi nas traduções de e) é acompanhada de pressupostos relativistas no campo da
Mário Vitorino que leu os textos de Plotino e de Porfírio, cujo ética e da moralidade.
espiritualismo devia aproximá‑lo do cristianismo. Ouvindo

36 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO FILOSOFIA

13. (ENEM PPL) Se os nossos adversários, que admitem a existência agir corretamente, mas também para pecar. Na verdade, por que
de uma natureza não criada por Deus, o Sumo Bem, quisessem admitir deveria ser punido aquele que usasse da sua vontade para o fim
que essas considerações estão certas, deixariam de proferir tantas para o qual ela lhe foi dada?
blasfêmias, como a de atribuir a Deus tanto a autoria dos bens quanto AGOSTINHO. O livre-arbítrio. In: MARCONDES, D.
dos males. Pois sendo Ele fonte suprema da Bondade, nunca poderia Textos básicos de ética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
ter criado aquilo que é contrário à sua natureza. Nesse texto, o filósofo cristão Agostinho de Hipona sustenta que a
AGOSTINHO. A natureza do Bem. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2005 (adaptado).
punição divina tem como fundamento o(a)
Para Agostinho, não se deve atribuir a Deus a origem do mal porque a) desvio da postura celibatária.
a) o surgimento do mal é anterior à existência de Deus. b) insuficiência da autonomia moral.
b) o mal, enquanto princípio ontológico, independe de Deus. c) afastamento das ações de desapego.
c) Deus apenas transforma a matéria, que é, por natureza, má. d) distanciamento das práticas de sacrifício.
d) por ser bom, Deus não pode criar o que lhe é oposto, o mal. e) violação dos preceitos do Velho Testamento.
e) Deus se limita a administrar a dialética existente entre o bem
e o mal. 17. (ENEM) Não é verdade que estão ainda cheios de velhice
espiritual aqueles que nos dizem: “Que fazia Deus antes de criar o
céu e a terra? Se estava ocioso e nada realizava”, dizem eles, “por
14. (UECE) “O maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e
que não ficou sempre assim no decurso dos séculos, abstendo-se,
dualística fundada e propagada por Manes ou Maniqueu, filósofo
como antes, de toda ação? Se existiu em Deus um novo movimento,
cristão do século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom,
uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes
ou Deus, e Mau, ou o Diabo. A matéria é intrinsecamente má e o
criara, como pode haver verdadeira eternidade, se n’Ele aparece
espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do termo,
uma vontade que antes não existia?”
maniqueísta passou a ser um adjetivo para toda doutrina fundada
AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
nos dois princípios opostos do Bem e do Mal.”
Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Manique%C3%ADsmo. A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor, é um
exemplo da reflexão filosófica sobre a(s)
Contra o maniqueísmo, Agostinho de Hipona (Santo Agostinho)
a) essência da ética cristã.
afirmava que
b) natureza universal da tradição.
a) Deus é o Bem absoluto, ao qual se contrapõe o Mal absoluto.
c) certezas inabaláveis da experiência.
b) as criaturas só são más numa consideração parcial, mas são
boas em si mesmas d) abrangência da compreensão humana.
c) toda a criação era boa e tornou-se má, pois foi dominada pelo e) interpretações da realidade circundante.
pecado após a Queda.
d) a totalidade da criação é boa em si mesma, mas singularmente 18. (ENEM)
há criaturas boas e más. TEXTO I
Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de
15. (UFU) Considere o trecho abaixo. tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua
“Quando, pois, se trata das coisas que percebemos pela mente descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo
(...). estamos falando ainda em coisas que vemos como presentes que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar
naquela luz interior da verdade, pela qual é iluminado e de que frui por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água.
o homem interior." A água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando
Santo Agostinho. Do Mestre. São Paulo: Abril Cultural. 1973. p. 320. (Os Pensadores) condensada ao máximo possível, transforma-se em pedras.
BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).
Segundo o pensamento de Santo Agostinho, as verdades contidas
TEXTO II
na filosofia pagã provêm de que fonte? Assinale a alternativa
correta. Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador
de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos. Quão
a) De fonte diferente de onde emanam as verdades cristãs, pois
parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção,
há oposição entre as verdades pagãs e as verdades cristãs.
as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo
b) Da mesma fonte de onde emanam as verdades cristãs, pois se origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os
não há oposição entre as verdades pagãs e cristãs. Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão a
c) De Platão, por ter chegado a conceber a ideia Suprema do Bem. impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha”.
GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).
d) De Aristóteles, por ter concebido o Ser Supremo corno primeiro
motor imóvel.
Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para
e) Da mesma fonte de onde emanam as verdades cristãs, pois há explicar a origem do universo, a partir de uma explicação racional.
oposição entre as verdades pagãs e cristãs. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo
medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que
16. (ENEM) De fato, não é porque o homem pode usar a vontade a) eram baseadas nas ciências da natureza.
livre para pecar que se deve supor que Deus a concedeu para
isso. Há, portanto, uma razão pela qual Deus deu ao homem esta b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
característica, pois sem ela não poderia viver e agir corretamente. c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.
Pode-se compreender, então, que ela foi concedida ao homem d) postulavam um princípio originário para o mundo.
para esse fim, considerando-se que se um homem a usar para
e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.
pecar, recairão sobre ele as punições divinas. Ora, isso seria injusto
se a vontade livre tivesse sido dada ao homem não apenas para

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 37
FILOSOFIA 13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO

19. (UECE) Em diálogo com Evódio, Santo Agostinho afirma:


“parecia a ti, como dizias, que o livre-arbítrio da vontade não devia EXERCÍCIOS DE
nos ter sido dado, visto que as pessoas servem-se dele para pecar.
Eu opunha à tua opinião que não podemos agir com retidão a não
APROFUNDAMENTO
ser pelo livre-arbítrio da vontade. E afirmava que Deus no-lo deu,
sobretudo em vista desse bem. Tu me respondeste que a vontade 01. (UFU) "Creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio
livre devia nos ter sido dada do mesmo modo como nos foi dada também entendo. Tudo o que compreendo conheço, mas nem tudo
a justiça, da qual ninguém pode se servir a não ser com retidão”. que creio conheço."
(Agostinho. De Magistro. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 319.
AGOSTINHO. O livre-arbítrio, Introdução, III, 18, 47.
Coleção "Os Pensadores").

Com base nessa passagem acerca do livre-arbítrio da vontade, em A citação de Agostinho refere-se à relação entre fé e razão. Explique
Agostinho, é correto afirmar que como este filósofo concebe esta relação.
a) o livre-arbítrio é o que conduz o homem ao pecado e ao
afastamento de Deus. 02. (UFU) Segundo Agostinho de Hipona (354-430), as ideias ou
b) o poder de decisão – arbítrio – da vontade humana é o que formas originárias de todas as coisas, razões estáveis e imutáveis
permite a ação moralmente reta. das coisas de nosso mundo, estão contidas na mente divina
e não nascem nem morrem, e tudo o que, em nosso mundo,
c) é da vontade de Deus que o homem não tenha capacidade de nasce e morre é formado a partir delas. Essas ideias eternas não
decidir pelo pecado, já que o Seu amor pelo homem é maior do são criaturas, antes, participam da Sabedoria eterna, mediante
que o pecado. a qual Deus criou todas as coisas e são idênticas a Ele. Assim,
d) a ação justa é aquela que foi praticada com o livre-arbítrio; conhecemos verdadeiramente quando nos voltamos para tais
injusta é aquela que não ocorreu por meio do livre-arbítrio. ideias; sendo o fundamento da natureza das coisas são também o
fundamento para o conhecimento dessas mesmas coisas; assim,
20. (ENEM PPL 2015) por meio delas podemos formar juízos verdadeiros sobre elas.
INÁCIO, Inês. C. & LUCA, Tânia R. de. O Pensamento Medieval.
TEXTO I São Paulo, São Paulo: Ática, 1988, p. 26.
Não é possível passar das trevas da ignorância para a luz da
ciência a não ser lendo, com um amor sempre mais vivo, as obras Levando em consideração o texto acima e a teoria da iluminação
dos Antigos. Ladrem os cães, grunhem os porcos! Nem por isso de Agostinho, responda:
deixarei de ser um seguidor dos Antigos. Para eles irão todos os O que são as ideias eternas? Qual o seu papel ou função em nosso
meus cuidados e, todos os dias, a aurora me encontrará entregue conhecimento do mundo?
ao seu estudo.
BLOIS, P. Apud PEDRERO SÁNCHEZ, M. G. História da Idade Média: 03. (UFU) A fé ajuda o conhecimento e o amor de Deus, não no
texto e testemunhas. São Paulo: Unesp, 2000. sentido de que no-lo faça conhecer e amar porque antes de fato não
o conhecíamos ou não o amávamos, mas nos ajuda a conhecê-lo de
TEXTO II modo mais luminoso e a amá-lo com amor mais firme.
A nossa geração tem arraigado o defeito de recusar admitir Agostinho, A Trindade, VIII, 9, 13.
tudo o que parece vir dos modernos. Por isso, quando descubro
a) Para Agostinho, a fé não tem um caráter a-racional ou
uma ideia pessoal e quero torná-la pública, atribuo-a a outrem e
metarracional, e sim um preciso valor cognoscitivo. Assim,
declaro: – Foi fulano de tal que o disse, não sou eu. E para que
qual é, para ele, a relação entre razão e fé?
acreditem totalmente nas minhas opiniões, digo: – O inventor foi
fulano de tal, não sou eu. b) Em qual teoria Agostinho se baseia para afirmar os critérios
BATH, A. Apud PEDRERO SÁNCHEZ, M. G. História da Idade Média: texto e testemunhas. de conhecimento imutáveis e necessários que vêm de Deus?
São Paulo: Unesp, 2000.
04. (UFU) Leia com atenção o texto abaixo em que o autor comenta
Nos textos são apresentados pontos de vista distintos sobre e cita Santo Agostinho, e, em seguida, responda as questões
as mudanças culturais ocorridas no século XII no Ocidente. apresentadas.
Comparando os textos, os autores discutem o(a) “Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos,
a) produção do conhecimento face à manutenção dos que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões não existem em
argumentos de autoridade da Igreja. um mundo à parte, como afirmava Platão, mas na própria mente ou
b) caráter dinâmico do pensamento laico frente à estagnação dos sabedoria divina, conforme o testemunho da Bíblia.”
estudos religiosos. “Que a mesma sabedoria divina, por quem foram criadas todas
c) surgimento do pensamento científico em oposição à tradição as coisas, conhecia aquelas primeiras, divinas, imutáveis e eternas
teológica cristã. razões de todas as coisas antes de serem criadas, a Sagrada
Escritura dá este testemunho: No princípio era o Verbo e o Verbo
d) desenvolvimento do racionalismo crítico ao opor fé e razão.
estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Todas as coisas foram
e) construção de um saber teológico científico. feitas pelo Verbo e sem Ele nada foi feito. Quem seria tão néscio a
ponto de afirmar que Deus criou as coisas sem conhecê-las? E se
as conheceu, onde as conheceu senão em si mesmo, junto a quem
estava o Verbo pelo qual tudo foi feito?"
(Santo Agostinho, Sobre o Gênese, V, 29).COSTA, José Silveira da. A Filosofia Cristã. In:
RESENDE, Antônio. Curso de Filosofia.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar/SEAF, 1986, p. 78, capítulo 4.

a) Explique a relação, sugerida neste texto, entre a teoria das


Ideias de Platão e o pensamento de Agostinho.
b) Explique como Agostinho usa essa teoria para explicar
o conhecimento humano, na sua conhecida Doutrina da
Iluminação Divina.

38 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO FILOSOFIA

05. (UFJF) Observe a ilustração e leia a citação abaixo. Em seguida, b. Com relação ao conceito de ideias eternas na filosofia de Agostinho, podemos dizer
que as ideias eternas são os modelos ou formas originárias a partir das quais Deus
responda ao que se pede. cria todas as coisas; elas mesmas, porém, não são criadas por Deus nem têm uma
existência independente dEle, mas são coeternas com Ele, estão na mente divina.
Com relação à função dessas ideias em nosso conhecimento, podemos afirmar
que, sendo os modelos para a criação das coisas, as ideias eternas também são os
modelos para o nosso conhecimento; assim, nós conhecemos as coisas voltando-
nos para essas ideias, que contemplamos em nós por causa da iluminação divina.
A teoria agostiniana é influenciada, podemos dizer de modo geral, pelo pensamento
de Platão e dos filósofos neoplatônicos.
04.
a. O pensamento filosófico de Santo Agostinho está muito relacionado com o de
Platão. Platão considera que existe um mundo das ideias e que elas são imutáveis
e eternas. Santo Agostinho adapta essa concepção, afirmando que tais ideias eram
conhecidas por Deus, único ente eterno, imutável e criador.
b. Enquanto Platão considera que os homens aprendem a partir da reminiscência ou
lembrança daquilo que a alma conheceu no mundo das ideias, Santo Agostinho
afirma que o conhecimento humano é fruto da iluminação divina. Sendo assim,
as verdades eternas não podem ser conhecidas pelo homem sem que haja uma
iluminação de Deus que torna o intelecto do homem capaz de pensar corretamente.
05.
a. O estudante poderá destacar, dentre outras: que a Igreja era um poderoso senhor
feudal e, nesta condição, administrava vastos territórios (senhorios e cidades),
exercendo a justiça e cobrando impostos. Essa situação refere-se às terras
pertencentes à Igreja Católica, na qual trabalhavam servos, como em um feudo
privado. Quanto aos reinos, havia forte relação entre os reis – principalmente os
francos – e a Igreja, que interferia na administração na medida em que muitos
conselheiros e ministros do Rei eram membros do alto clero.
b. O estudante poderá destacar, dentre outros elementos: a formação e envio de
religiosos para promover a conversão de pagãos; a organização e participação no
movimento cruzadístico para combater os infiéis. Se remontarmos a formação do
Reino Franco e de seu primeiro rei, Clóvis, percebemos a aliança com a Igreja e
o combate a outros povos não cristãos como apoio ao Papa. A mesma aliança
foi reforçada pelo líder franco mais importante, o Imperador Carlos Magno, como
Nascida nos quadros do Império Romano, a Igreja ia aos poucos demonstra a ilustração acima, coroado no dia de natal do ano 800 pelo próprio
preenchendo os vazios deixados por ele até, em fins do século IV, Papa.
identificar-se com o Estado, quando o cristianismo foi reconhecido
ANOTAÇÕES
como religião oficial. (...) Estreitavam-se, portanto, as relações
Estado-Igreja. (...) No Império Carolíngio, a aliança entre os reis e a
Igreja foi fundamental para a consolidação de ambos os poderes e,
por vezes, a Igreja assumia funções que hoje consideramos ser do
Estado e este por sua vez interferia nos assuntos religiosos.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média. Nascimento do Ocidente.
São Paulo: Brasiliense, 2001. p.67,71

Sobre as relações entre Estado e Igreja, no período medieval,


responda:
a) Qual a importância da Igreja Católica na administração dos
reinos e impérios?
b) De que maneira o poder régio contribuiu para a expansão da
fé cristã?

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. D 05. C 09. D 13. D 17. D
02. E 06. C 10. D 14. B 18. D
03. C 07. B 11. D 15. B 19. B
04. A 08. B 12. D 16. B 20. A

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. A citação de Agostinho demonstra como, para ele, a fé é superior à razão. Ele
afirma que se pode crer em algo sem entender. Isso acontece uma vez que se pode
crer nas verdades da fé sem as compreender. Entretanto, o inverso não é possível. Algo
compreensível é algo necessariamente crível (é por isso que ele afirma “creio tudo o que
entendo”), e é por isso que a razão se submete à fé.
02. Com relação ao conceito de ideias eternas na filosofia de Agostinho, podemos dizer
que as ideias eternas são os modelos ou formas originárias a partir das quais Deus cria
todas as coisas; elas mesmas, porém não são criadas por Deus nem têm uma existência
independente dEle, mas são coeternas com Ele, estão na mente divina.
Com relação à função dessas ideias em nosso conhecimento, podemos afirmar que,
sendo os modelos para a criação das coisas, as ideias eternas também são os modelos
para o nosso conhecimento; assim, nós conhecemos as coisas voltando-nos para essas
ideias, que contemplamos em nós por causa da iluminação divina.
03.
a. A fé, para Agostinho, é consolidada e feita inteligível pela razão, e a razão é
orientada e feita compreensão pela fé. Para o filósofo cristão, o mais importante
era que a fé fosse a principal busca da razão, que o homem acreditasse realmente
para, então, poder compreender.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 39
FILOSOFIA 13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO

ANOTAÇÕES

40 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
14 FILOSOFIA MEDIEVAL II: FILOSOFIA

SÃO TOMÁS DE AQUINO

SÃO TOMÁS DE AQUINO E A 3. Tudo o que é em outro segue aquilo em que é; se pois
a verdade fosse primeiramente na alma, então o juízo
ESCOLÁSTICA sobre a verdade seria segundo a afirmativa da alma,
e assim ressurgiria o erro dos antigos filósofos que
A ESCOLÁSTICA possui uma origem aristotélica, além disso
diziam que é verdadeiro tudo o que alguém opinava
é uma corrente com grande influência das universidades cristãs
com o intelecto, e que duas coisas contraditórias são
que surgiam na Europa ao final da idade média. O maior nome da
simultaneamente verdadeiras, o que é absurdo.
escolástica vai ser São Tomás de Aquino, com suas cinco vias, que
vão buscar demonstrar e comprovar a existência de Deus. 4. Se a verdade é primeiramente no intelecto, é necessário
que na definição de verdade haja algo pertencente ao
Aquino (1225 - 1274), nascido na comuna de Roccasecca, Itália,
intelecto. Mas Agostinho reprova definições tais como:
tem sua trajetória plenamente centrada no século XIII, e não apenas
“Verdadeiro é aquilo que é como aparece”, porque deste
do ponto de vista cronológico: todas as significativas novidades
modo não seria verdadeiro aquilo que não aparece, o que
culturais desse tempo mantêm estreita relação com sua vida e lutas.
é evidentemente falso se consideramos as mais ocultas
Ao contrário do clichê que o apresenta como uma época de paz e
pedras nas vísceras da terra. Analogamente reprova e
equilíbrio harmônico, esse século é um tempo de agudas contradições,
confuta esta outra definição: “É verdadeiro aquilo que é
tanto no plano econômico e social como no do pensamento.
assim como aparece ao cognoscente, caso queira e possa
conhecer”, porque então uma coisa não seria verdadeira no
CINCO VIAS caso que o cognoscente não quisesse e pudesse conhecer.
A mesma razão valeria para qualquer definição contendo
1. O primeiro motor - Tudo está em constante movimento,
algo pertencente ao intelecto; portanto, a verdade não é
mas necessita de algum movimento inicial. É preciso que
primeiramente no intelecto.
uma força externa coloque outra em movimento, que por
sua vez é movida por outra ainda. Na origem de tudo está
Deus, que é o motor inicial, imutável e eterno. Em contrário:
2. A causa eficiente - Tudo que é, é causa ou efeito. Deus é 1. O Filósofo [Aristóteles] diz: “O falso e o verdadeiro não são
a causa 1ª. nas coisas, mas na mente”.
3. Ser necessário e ser contingente - Tudo que existe no 2. “A verdade é a adequação da coisa do intelecto”, mas esta
mundo sensível está em movimento. A sua existência, adequação só pode ser no intelecto; portanto, a verdade é
porém, não é necessária, mas necessita de outra para só no intelecto.
existir, sendo assim, Deus é a existência primeira, que deu
origem as demais. Solução:
4. Os graus da perfeição - O julgamento humano ocorre com Quando predicados dizem-se primeiramente de uma coisa e
referências que não existem em si. Somos imperfeitos, posteriormente de outras, não é necessário que aquela coisa que
porém julgamos a partir da ideia de perfeito. Assim, for causa das outras receba por primeiro a predicação comum, mas
apesar de não conhecermos a perfeição, reconhecemos aquela em que está primeiramente a noção comum completa, como
sua existência. A perfeição é Deus. “sadio” diz-se primeiramente do animal, no qual a noção perfeita de
5. Governo Supremo - Tudo tem uma finalidade, um saúde encontra-se em primeiro lugar, ainda que o remédio diz-se
propósito. Essa finalidade está sendo organizada por sadio enquanto proporciona saúde; e assim, dado que o verdadeiro
alguma instância, que para Aquino é Deus. diz-se antes de uma coisa e depois de outras, é necessário que se
diga antes de tudo aquilo em que se encontra primeiramente a noção
completa de verdade. O complemento de qualquer movimento ou
operação está em seu término. O movimento pois da faculdade
TEXTO COMPLEMENTAR: cognoscitiva termina na alma – é preciso efetivamente que o
“Se a verdade encontra-se antes no intelecto do que nas coisas. conhecido seja no cognoscente segundo o modo do cognoscente –,
Parece que não.” enquanto o movimento da faculdade apetitiva termina na coisa: por
isso o Filósofo [Aristóteles] estabelece um certo círculo nos atos da
alma: a coisa fora da alma move o intelecto, a coisa entendida move
Objeções: o apetite, o apetite tende à coisa da qual o movimento principiou.
1. O verdadeiro, como foi dito, é convertível com o ente; mas E como o bem, como se disse, indica o ajustar-se do ente ao apetite,
o ente encontra-se antes nas coisas do que na alma, o verdadeiro, do ente ao intelecto, o Filósofo diz que o bem e o mal
portanto também o verdadeiro. são nas coisas, o verdadeiro e o falso porém na mente. Ora, uma
2. As coisas são na alma não por essência, mas por suas coisa só se diz verdadeira enquanto é adequada ao intelecto, pelo que
espécies, como diz o Filósofo [Aristóteles]; se pois a o verdadeiro encontra-se nas coisas posteriormente, primariamente
verdade encontra-se principalmente na alma, então não pois no intelecto.
será a essência da coisa, mas sua semelhança e espécie, (TOMÁS DE AQUINO. Verdade e Conhecimento)
e o verdadeiro será uma espécie do ente existente fora
da alma. Mas uma espécie da coisa existente na alma
não se predica da coisa fora da alma, como também
não é convertível com a mesma: ser convertível é pois
predicar-se reciprocamente; portanto, nem o verdadeiro é
convertível com o ente, o que é falso.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 41
FILOSOFIA 14 FILOSOFIA MEDIEVAL II: SÃO TOMÁS DE AQUINO

Discorrendo sobre a “possibilidade de descobrir a verdade divina”,


EXERCÍCIOS ele diz que há duas modalidades de verdade acerca de Deus. A
PROTREINO primeira refere-se a verdades da revelação que a razão humana não
consegue alcançar, por exemplo, entender como é possível Deus
ser uno e trino. A segunda modalidade é composta de verdades que
01. Aponte a corrente da Filosofia Medieval a qual São Tomás de a razão pode atingir, por exemplo, que Deus existe.
Aquino pertencia.
A partir dessa citação, indique a afirmativa que melhor expressa o
02. Aponte as principais características da Escolástica. pensamento de Tomás de Aquino.
03. O que são as Cinco Vias? a) A fé é o único meio do ser humano chegar à verdade.
b) O ser humano só alcança o conhecimento graças à revelação
04. Aponte o “primeiro motor” para Tomás de Aquino.
da verdade que Deus lhe concede.
05. Apresente o principal elemento da via número 5. c) Mesmo limitada, a razão humana é capaz de alcançar certas
verdades por seus meios naturais.
d) A Filosofia é capaz de alcançar todas as verdades acerca de Deus.
e) Deus é um ser absolutamente misterioso e o ser humano nada
EXERCÍCIOS pode conhecer d’Ele.

PROPOSTOS 05. (UFU) A teologia natural, segundo Tomás de Aquino (1225-


1274), é uma parte da filosofia, é a parte que ele elaborou mais
01. (ESPM) Seu principal objetivo era demonstrar, por um raciocínio profundamente em sua obra e na qual ele se manifesta como um
lógico formal, a autenticidade dos dogmas cristãos. A filosofia gênio verdadeiramente original. Se se trata de física, de fisiologia ou
devia desempenhar um papel auxiliar na realização deste objetivo. dos meteoros, Tomás é simplesmente aluno de Aristóteles, mas se
Por isso a tese de que a filosofia está a serviço da teologia. se trata de Deus, da origem das coisas e de seu retorno ao Criador,
(Antonio Carlos Wolkmer – Introdução à História do Pensamento Político) Tomás é ele mesmo. Ele sabe, pela fé, para que limite se dirige,
contudo, só progride graças aos recursos da razão.
O texto deve ser relacionado com: GILSON, Etienne. A Filosofia na Idade Média,
São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 657.
a) a filosofia epicurista.
b) a filosofia escolástica. De acordo com o texto acima, é correto afirmar que
c) a filosofia iluminista. a) a obra de Tomás de Aquino é uma mera repetição da obra de
d) o socialismo. Aristóteles.
e) o positivismo. b) Tomás parte da revelação divina (Bíblia) para entender a
natureza das coisas.
02. (UFU) O filósofo grego que maior influência exerceu sobre c) as verdades reveladas não podem de forma alguma ser
Santo Tomás de Aquino foi compreendidas pela razão humana.
a) Platão. d) Heráclito. d) é necessário procurar a concordância entre razão e fé, apesar
da distinção entre ambas.
b) Aristóteles. e) Parmênides.
c) Sócrates. 06. (UFU) Considere o seguinte texto sobre Tomás de Aquino
(1226-1274).
03. (UFU) Com efeito, existem a respeito de Deus verdades que
Fique claro que Tomás não aristoteliza o cristianismo, mas
ultrapassam totalmente as capacidades da razão humana. Uma
cristianiza Aristóteles. Fique claro que ele nunca pensou que, com
delas é, por exemplo, que Deus é trino e uno. Ao contrário, existem
a razão se pudesse entender tudo; não, ele continuou acreditando
verdades que podem ser atingidas pela razão: por exemplo, que
que tudo se compreende pela fé: só quis dizer que a fé não estava
Deus existe, que há um só Deus etc.
em desacordo com a razão, e que, portanto, era possível dar-se ao
AQUINO, Tomás de. Súmula contra os Gentios. Capítulo Terceiro:
A possibilidade de descobrir a verdade divina. Tradução de Luiz João Baraúna. São
luxo de raciocinar, saindo do universo da alucinação.
Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 61. Eco, Umberto. “Elogio de santo Tomás de Aquino”.
In: Viagem na irrealidade cotidiana, p.339.
Para São Tomás de Aquino, a existência de Deus se prova
É correto afirmar, segundo esse texto, que:
a) por meios metafísicos, resultantes de investigação intelectual.
a) Tomás de Aquino, com a ajuda da filosofia de Aristóteles,
b) por meio do movimento que existe no Universo, na medida em conseguiu uma prova científica para as certezas da fé, por
que todo movimento deve ter causa exterior ao ser que está exemplo, a existência de Deus.
em movimento.
b) Tomás de Aquino se empenha em mostrar os erros da filosofia
c) apenas pela fé, a razão é mero instrumento acessório e de Aristóteles para mostrar que esta filosofia é incompatível
dispensável. com a doutrina cristã.
d) apenas como exercício retórico. c) o estudo da filosofia de Aristóteles levou Tomás de Aquino a
rejeitar as verdades da fé cristã que não fossem compatíveis
04. (UFU) A grande contribuição de Tomás de Aquino para a vida com a razão natural.
intelectual foi a de valorizar a inteligência humana e sua capacidade
d) a atitude de Tomás de Aquino diante da filosofia de Aristóteles
de alcançar a verdade por meio da razão natural, inclusive a respeito
é de conciliação desta filosofia com as certezas da fé cristã.
de certas questões da religião.

42 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
14 FILOSOFIA MEDIEVAL II: SÃO TOMÁS DE AQUINO FILOSOFIA

07. (UFU) As cinco vias consistem em cinco grandes linhas de b) Para Santo Tomás, os objetos inanimados movem-se por si
argumentação por meio das quais se pode provar a existência mesmos e esse fenômeno demonstra a existência de Deus.
de Deus. Sua importância reside sobretudo em que supõe a c) A demonstração do primeiro motor não recorre à sensibilidade,
possibilidade de se chegar no entendimento de Deus, ainda que de
dispensando toda e qualquer observação da natureza, uma vez
forma parcial e indireta, a partir da consideração do mundo natural,
que sua fundamentação é somente racional.
do cosmo, entendido como criação divina.
MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a
d) Conforme o argumento da primeira via podemos concluir que
Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. p. 67. Deus é o motor imóvel, o qual move todas as coisas, mas não
é movido.
A partir do texto, marque a alternativa correta.
a) As cinco vias são argumentos diretos e evidentes da existência 10. (UPE) A religião teve importância para a Idade Média em amplos
de Deus. aspectos da sua vida social. Além do seu destaque político, merece
ressaltar figuras, como Tomás de Aquino, pensador influente, que,
b) Tomás de Aquino formula as cinco vias da prova da existência
no período Medieval,
de Deus, utilizando, sistematicamente, as passagens bíblicas
para fundamentar seus argumentos. a) foi um crítico dos costumes da época, sendo partidário de
heresias que incomodavam o clero secular.
c) As cinco vias partem de afirmações gerais e racionais sobre a
existência de Deus, para chegar a conclusões sobre as coisas b) se firmou como um dos pensadores importantes da Igreja
sensíveis, particulares e verificáveis sobre o mundo natural. Católica, embora tivesse ligações filosóficas com Aristóteles.
d) Tomás de Aquino formula as argumentações que provam c) negou a necessidade de acreditar em Deus de forma
a existência de Deus sob a influência do pensamento de institucional, defendendo o pensamento de santo Agostinho.
Aristóteles, recorrendo não à Bíblia, mas, sobretudo, à d) influenciou as ideias da Igreja no período da Alta Idade Média,
Metafísica do filósofo grego. com sua exaltação da fé individual.
e) se tornou o centro do pensamento cristão no Ocidente,
08. (UFU) Sobre Tomás de Aquino, considere o seguinte trecho, construindo uma reflexão a partir de Platão e dos pré-socráticos.
extraído de uma conhecida História da Filosofia.
“O sistema tomista baseia-se na determinação rigorosa das 11. (ENEM PPL) Enquanto o pensamento de Santo Agostinho
relações entre a razão e a revelação. Ao homem, cujo fim último representa o desenvolvimento de uma filosofia cristã inspirada
em Platão, o pensamento de São Tomás reabilita a filosofia de
é Deus, o qual excede toda a compreensão da razão, não basta a
Aristóteles – até então vista sob suspeita pela Igreja –, mostrando
investigação filosófica baseada na razão. Mesmo aquelas verdades
ser possível desenvolver uma leitura de Aristóteles compatível com
que a razão pode alcançar sozinha, não é dado a todos alcançá-las, a doutrina cristã. O aristotelismo de São Tomás abriu caminho
e não está livre de erros o caminho que a elas conduz. Foi, portanto, para o estudo da obra aristotélica e para a legitimação do interesse
necessário que o homem fosse instruído convenientemente e com pelas ciências naturais, um dos principais motivos do interesse por
mais certeza pela revelação divina. Mas a revelação não anula Aristóteles nesse período.
nem torna inútil a razão: ‘a graça não elimina a natureza, antes a MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
aperfeiçoa’. A razão natural subordina-se à fé tal como no campo
prático as inclinações naturais se subordinam à caridade.” A Igreja Católica por muito tempo impediu a divulgação da obra de
Aristóteles pelo fato de a obra aristotélica
ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia .
Lisboa: Presença, 1978, p. 29-30, Vol. IV. a) valorizar a investigação científica, contrariando certos dogmas
religiosos.
Com base no texto, é correto afirmar que Tomás de Aquino b) declarar a inexistência de Deus, colocando em dúvida toda a
a) rejeitava as verdades da fé cristã que não pudessem ser moral religiosa.
explicadas plenamente pela razão humana. c) criticar a Igreja Católica, instigando a criação de outras
b) desprezava, por serem inúteis, as tentativas racionais em instituições religiosas.
compreender as verdades da fé cristã. d) evocar pensamentos de religiões orientais, minando a
c) buscava conciliar as verdades da fé cristã com as exigências expansão do cristianismo.
da razão humana.
e) contribuir para o desenvolvimento de sentimentos
d) subordinava a fé à razão natural, só sendo digno de crença o antirreligiosos, seguindo sua teoria política.
que pudesse ser cientificamente comprovado.
12. (ENEM) Ora, em todas as coisas ordenadas a algum fim, é
09. (UFU) Santo Tomás de Aquino, nascido em 1224 e falecido em preciso haver algum dirigente, pelo qual se atinja diretamente
1274, propôs as cinco vias para o conhecimento de Deus. Estas o devido fim. Com efeito, um navio, que se move para diversos
vias estão fundamentadas nas evidências sensíveis e racionais. lados pelo impulso dos ventos contrários, não chegaria ao fim de
A primeira via afirma que os corpos inanimados podem ter destino, se por indústria do piloto não fosse dirigido ao porto; ora,
movimento por si mesmos. Assim, para que estes corpos tenham
tem o homem um fim, para o qual se ordenam toda a sua vida
movimento é necessário que algo os mova. Esta concepção leva à
e ação. Acontece, porém, agirem os homens de modos diversos
necessidade de um primeiro motor imóvel, isto é, algo que mesmo
em vista do fim, o que a própria diversidade dos esforços e
não sendo movido por nada pode mover todas as coisas.
ações humanas comprova. Portanto, precisa o homem de um
Sobre a primeira via, que é a do movimento, marque a alternativa dirigente para o fim.
correta.
AQUINO. T. Do reino ou do governo dos homens: ao rei do Chipre. Escritos políticos de
a) Para que os objetos tenham movimento é necessário que São Tomás de Aquino. Petrópolis: Vozes, 1995 (adaptado).
algo os mova; dessa forma, entende-se que é necessário
um primeiro motor. Logo, podemos entender que Deus não é
necessário no sistema.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 43
FILOSOFIA 14 FILOSOFIA MEDIEVAL II: SÃO TOMÁS DE AQUINO

No trecho citado, Tomás de Aquino justifica a monarquia como o 15. (UNIFESP) Terminada a Antiguidade, havia à disposição do
regime de governo capaz de Ocidente medieval duas concepções filosóficas fundamentais e
a) refrear os movimentos religiosos contestatórios. distintas: a visão grega (resumida por Aristóteles) de que o homem
foi formado para viver numa cidade, e a visão cristã (resumida
b) promover a atuação da sociedade civil na vida política. por Santo Agostinho) de que o homem foi formado para viver em
c) unir a sociedade tendo em vista a realização do bem comum. comunhão com Deus. Nos últimos séculos da Idade Média, com
d) reformar a religião por meio do retorno à tradição helenística. relação a essas duas filosofias, é correto afirmar que:
a) foram reconciliadas por São Tomás de Aquino ao unir razão
e) dissociar a relação política entre os poderes temporal e espiritual.
(livre-arbítrio) com revelação (fé).
13. (UFU) “Em sua teoria do conhecimento, Tomás de Aquino b) entraram em conflito e deram lugar a uma nova visão, elaborada
substitui a doutrina da iluminação divina pela da abstração, de por frades beneditinos e dominicanos.
raízes aristotélicas: a única fonte de conhecimento humano seria a c) continuou a prevalecer a visão grega, como se pode ver nos
realidade sensível, pois os objetos naturais encerrariam uma forma escritos de Abelardo a Heloísa.
inteligível em potência, que se revela, porém, não aos sentidos que d) sofreram um processo de adaptação para justificar a primazia
só podem captá-la individualmente - mas ao intelecto.” do poder temporal ou secular.
INÁCIO, Inês C. e LUCA, Tânia Regina de. e) passou a predominar a visão cristã, depois de uma longa
O pensamento medieval. São Paulo: Ática, 1988, p. 74. hegemonia da visão grega.

Considerando o trecho citado, assinale a alternativa verdadeira. 16. (ENEM 2018) Desde que tenhamos compreendido o significado
a) O texto faz referência à influência de Aristóteles no pensamento da palavra “Deus”, sabemos, de imediato, que Deus existe. Com efeito,
de Tomás de Aquino, que se opõe, em muitos pontos, à tradição essa palavra designa uma coisa de tal ordem que não podemos
agostiniana, que tinha influência de Platão. conceber nada que lhe seja maior. Ora, o que existe na realidade e
no pensamento é maior do que o que existe apenas no pensamento.
b) O texto expõe a doutrina da iluminação, formulada por Tomás
Donde se segue que o objeto designado pela palavra “Deus”, que
de Aquino para explicar a origem de nosso conhecimento. existe no pensamento, desde que se entenda essa palavra, também
c) Para Tomás de Aquino, a realidade sensível é apenas uma existe na realidade. Por conseguinte, a existência de Deus é evidente.
cópia enganosa da verdadeira realidade que se encontra na TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica. Rio de Janeiro: Loyola, 2002.
mente divina.
O texto apresenta uma elaboração teórica de Tomás de Aquino
d) Tomás de Aquino substitui a doutrina da iluminação pela teoria
caracterizada por
da abstração aristotélica, a fim de mostrar que a fé em Deus é
incompatível com as verdades científicas. a) reiterar a ortodoxia religiosa contra os heréticos.
b) sustentar racionalmente doutrina alicerçada na fé.
14. (UFU) Em O ente e a essência, Tomás de Aquino argumenta c) explicar as virtudes teologais pela demonstração.
sobre a existência de Deus, refutando teses de outras doutrinas da d) flexibilizar a interpretação oficial dos textos sagrados.
filosofia escolástica. Com este propósito ele escreveu:
e) justificar pragmaticamente crença livre de dogmas.
“Tampouco é inevitável que, se afirmarmos que Deus é
exclusivamente ser ou existência, caiamos no erro daqueles que
17. (ENEM PPL) Tomás de Aquino, filósofo cristão que viveu no
disseram que Deus é aquele ser universal, em virtude do qual todas
século XIII, afirma: a lei é uma regra ou um preceito relativo às nossas
as coisas existem formalmente. Com efeito, este ser que é Deus ações. Ora, a norma suprema dos atos humanos é a razão. Desse
é de tal condição, que nada se lhe pode adicionar. (...) Por este modo, em última análise, a lei está submetida à razão; é apenas uma
motivo afirma-se no comentário à nona proposição do livro Sobre formulação das exigências racionais. Porém, é mister que ela emane
as Causas, que a individuação da causa primeira, a qual é puro ser, da comunidade, ou de uma pessoa que legitimamente a representa.
ocorre por causa da sua bondade. Assim como o ser comum em GILSON, E.; BOEHNER, P. História da filosofia cristã. Petrópolis: Vozes, 1991 (adaptado).
seu intelecto não inclui nenhuma adição, da mesma forma não
inclui no seu intelecto qualquer precisão de adição, pois, se isto No contexto do século XIII, a visão política do filósofo mencionado
acontecesse, nada poderia ser compreendido como ser, se nele retoma o
algo pudesse ser acrescentado.” a) pensamento idealista de Platão.
AQUINO, Tomás. O ente e a essência. Trad. de Luiz João Baraúna. b) conformismo estoico de Sêneca.
São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 15. Coleção “Os Pensadores”. c) ensinamento místico de Pitágoras.
d) paradigma de vida feliz de Agostinho.
Tomás de Aquino está seguro de que nada se pode acrescentar a
Deus, porque e) conceito de bem comum de Aristóteles.
a) sua essência composta de essência e existência é
18. (PUCPR 2009) Em relação ao sentido que São Tomás de Aquino
autossuficiente para gerar indefinidamente matéria e forma,
aplica à virtude da Prudência, considere as seguintes afirmações:
criando todas as coisas.
I. A grande contribuição desse texto de São Tomás é
b) sua essência simples é gerada incessantemente, embora não
apresentar a ideia de Prudência como aquela que passou
seja composta de matéria e forma, multiplica-se em si mesmo
a ser entendida desde então como cautela, que tem como
na pluralidade dos seres.
base o sentimento de cada indivíduo.
c) é essência divina, absolutamente simples e idêntica a si mesma,
II. Para esse pensador medieval, a prudência é a reta razão
constituindo-se, necessariamente, uma essência única.
aplicada ao agir, ou seja, uma virtude que possibilita ao ser
d) é ser contingente, no qual essência e existência não dependem humano encontrar, em cada decisão a ser tomada, aquela
do tempo, por isso, gera a si mesmo eternamente, dando que indica o “caminho certo”.
existência às criaturas.
III. Prudência, para São Tomás, é uma virtude especial que
nem todos os homens possuem, pois depende de uma
capacidade intuitiva.

44 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
14 FILOSOFIA MEDIEVAL II: SÃO TOMÁS DE AQUINO FILOSOFIA

Assinale a alternativa verdadeira: Responda:


a) Apenas afirmação II está correta. Como poderão as realidades sensíveis auxiliar a razão humana a
b) As afirmações I e II estão corretas. conhecer a existência de Deus?
c) As afirmações I e III estão corretas.
03. (UFU) Considere o trecho abaixo.
d) Nenhuma afirmação está correta.
“Se é verdade que a verdade da fé cristã ultrapassa as
e) Apenas a afirmação III está correta. capacidades da razão humana, nem por isso os princípios inatos
19. (UFF) Na Idade Média, se considerava que o ser humano podia naturalmente à razão podem estar em contradição com esta
alcançar a verdade por meio da fé e também por meio da razão. Ao verdade sobrenatural”.
mesmo tempo, o poder religioso (Igreja) e o poder secular (Estado) AQUINO, Tomás de. Suma contra os gentios.
São Paulo: Abril Cultural. v. VIII. 1973. p. 70. (Os Pensadores)
mantinham relacionamento político tenso e difícil. O filósofo Tomás
de Aquino desenvolveu uma concepção destinada a conciliar FÉ e Responda:
RAZÃO, bem como IGREJA e ESTADO.
a) Por que, segundo Tomás de Aquino, os princípios da razão não
De acordo com as ideias desse filósofo, podem contradizer as verdades da fé?
a) o Estado deve subordinar-se à Igreja. b) Havendo conflito entre os princípios da razão e as verdades da
b) a Igreja e o Estado são mutuamente incompatíveis. fé, como se deve resolver tal conflito?
c) a Igreja e o Estado devem fundir-se numa só entidade.
d) a Igreja e o Estado são, em certa medida, conciliáveis. 04. (UFU) Considere o trecho abaixo, extraído da Suma de Teologia
de Tomás de Aquino (1224-1274), texto em que ele apresenta uma
e) a Igreja deve subordinar-se ao Estado. das célebres cinco vias pelas quais se pode provar a existência de
20. (UEPB) A questão central que vai atravessar todo o pensamento Deus.
filosófico medieval é a harmonização de duas esferas: a fé e a razão. “A quinta via é assumida a partir do governo das coisas.
Assinale a alternativa correta: Vemos, com efeito, que aquilo que carece de inteligência, ou seja,
a) A partir de Agostinho e da introdução do aristotelismo, a Igreja os corpos naturais, opera em vista de um fim, o que se percebe
tem uma teologia e uma filosofia que privilegiam a fé em pelo fato de sempre ou frequentemente operarem do mesmo
detrimento da razão, gerando o conflito entre ciência e religião. modo a fim de atingir o que é o melhor. Daí fica claro que não é
por acaso, e sim intencionalmente que atingem este fim. Mas o
b) Tomás de Aquino, influenciado pela visão platônica do mundo,
que não tem inteligência não tende a um fim se não for dirigido por
demonstrou que o caminho de Deus se dá apenas pela intuição.
algo cognoscente e inteligente, assim como a flecha pelo arqueiro.
c) O teocentrismo é a concepção segundo a qual o homem é o Portanto, há algo inteligente pelo qual todas as coisas naturais são
centro do universo: tudo foi criado para ele. ordenadas a seu fim, e este dizemos que é Deus.”
d) Agostinho defende maior autonomia da razão na obtenção de AQUINO, Tomás de. Suma de Teologia, questão 2, artigo 3.
respostas e nega a subordinação desta em relação à fé.
a) Segundo Tomás de Aquino, a prova sobre a existência de Deus
e) O pensamento de Agostinho, século V, reconhecia a importância
não é uma demonstração de fato (caso em que seria evidente),
do conhecimento, mas defendia uma subordinação maior da
e sim uma prova a partir dos efeitos. Explique por que essa
razão em relação à fé, por acreditar que esta última pudesse
quinta via é uma prova a partir dos efeitos.
restaurar a condição decaída da razão humana.
b) Descreva como Tomás de Aquino se utiliza da filosofia de
Aristóteles na elaboração dessa prova.
EXERCÍCIOS DE
APROFUNDAMENTO
05. (UNESP)
TEXTO 1
Para santo Tomás de Aquino, o poder político, por ser uma
01. (UFU) "Para que, pois, a salvação dos homens seja
instituição divina, além dos fins temporais que justificam a ação
alcançada de maneira mais conveniente e segura foi necessário
política, visa outros fins superiores, de natureza espiritual. O Estado
que fossem instruídos a respeito das coisas divinas, pela divina
deve dar condições para a realização eterna e sobrenatural do
revelação. Donde a necessidade de uma ciência sagrada,
homem. Ao discutir a relação Estado-Igreja, admite a supremacia
obtida pela revelação, além das disciplinas filosóficas que são
desta sobre aquele. Considera a Monarquia a melhor forma de
investigadas pela razão. Por isso, nada impede que as mesmas
governo, por ser o governo de um só, escolhido pela sua virtude,
coisas de que tratam as disciplinas filosóficas, na medida em
desde que seja bloqueado o caminho da tirania.
que são cognoscíveis pela luz da razão natural, sejam tratadas
por outra ciência, na medida em que são conhecidas pela luz da TEXTO 2
revelação divina". Maquiavel rejeita a política normativa dos gregos, a qual, ao
(Tomás de Aquino - Suma Teológica, I Q.I, art.1., Porto Alegre, Ed. Sulina) explicar “como o homem deve agir”, cria sistemas utópicos. A
nova política, ao contrário, deve procurar a verdade efetiva, ou seja,
O texto acima de Tomás de Aquino refere-se ao problema da relação “como o homem age de fato”. O método de Maquiavel estipula a
entre revelação (fé) e Filosofia (razão). Explicite, a partir do texto, qual é a observação dos fatos, o que denota uma tendência comum aos
posição de Tomás de Aquino sobre o referido problema. pensadores do Renascimento, preocupados em superar, através da
experiência, os esquemas meramente dedutivos da Idade Média.
02. (UFU) Leia com atenção a citação da obra de Tomás de Aquino.
Seus estudos levam à constatação de que os homens sempre
“Para quem reflete, torna-se claro que as realidades sensíveis agiram pelas formas da corrupção e da violência.
em si mesmas, que fornecem à razão humana a fonte do (Maria Lúcia Aranha e Maria Helena Martins.
conhecimento, conservam nelas um certo vestígio de semelhança Filosofando, 1986. Adaptado.)
com Deus, embora se trate de um vestígio tão imperfeito, que é
incapaz de exprimir a substância de Deus.” Explique as diferentes concepções de política expressadas nos
dois textos.
AQUINO, Tomás de. Súmula contra os gentios.
São Paulo: Nova Cultural, 1988. Coleção “Os Pensadores”. p. 67.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 45
FILOSOFIA 14 FILOSOFIA MEDIEVAL II: SÃO TOMÁS DE AQUINO

05. A primeira concepção é por princípio uma concepção política teológica. O poder
GABARITO político é instituído por Deus e a finalidade da ação política é a salvação. O Estado, por
conseguinte, deve se conformar de tal maneira que permita, ou melhor, condicione
EXERCÍCIOS PROPOSTOS o homem a viver em função do fim maior, em função da eternidade representada na
salvação. São Tomás é evidentemente um católico, considerando a primazia de sua
01. B 05. D 09. D 13. A 17. E
religião sobre quaisquer necessidades mundanas, organizando o poder político e a ação
02. B 06. D 10. B 14. C 18. A do cidadão de tal maneira que reflita apropriadamente os dogmas da Igreja.
03. B 07. D 11. A 15. A 19. D A segunda concepção é por princípio uma concepção política moderna, ou pré-
04. C 08. C 12. C 16. B 20. E moderna. A primeira superação perpetrada por Maquiavel é a superação do discurso
antigo a respeito da necessidade do homem manter um hábito guiado pelas virtudes
EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO cardiais: sabedoria, coragem, temperança e magnanimidade. Não que o homem não
deva possuir tais características, todavia elas não devem de modo algum impedi-lo de
01. Primeiramente, Santo Tomás afirma que a conveniência e a segurança da salvação do realizar uma ação cruel se assim se demonstrar útil para que ele efetive o seu poder. A
homem dependiam de uma instrução sobre as coisas divinas. Segundamente, para que segunda superação perpetrada por Maquiavel é a superação do discurso escolástico que
esta instrução se efetivasse foi necessária uma divina revelação. Terceiramente, desta predispunha o começo, meio e fim das coisas a partir da certeza da palavra revelada. O
revelação surge a ciência sagrada, ou a Teologia, através da qual se instruía o homem mundo da experiência é guiado pela fortuna e não se faz sentido impedir que certas ações
para que ele fosse salvo de modo mais conveniente e seguro. Portanto, a Teologia é uma se realizem, pois circunstancialmente elas podem ser as melhores.
ciência sobre coisas sagradas obtida através da luz divina que serve para salvar da melhor
maneira possível a alma do homem. Evidentemente, Santo Tomás não está colocando a ANOTAÇÕES
Teologia atrás da Filosofia, muito ao contrário a primeira tem absoluta primazia, pois versa
sem a menor dúvida sobre coisas muitíssimo mais elevadas e importantes. Muito menos
a Filosofia incomodaria, ou deveria incomodar, a Teologia, afinal ela seria uma obtenção
da luz da razão natural, algo subordinado a luz da razão divina. Sendo assim, a Teologia e
a Filosofia diferem e convivem, porém a primeira tem primazia e a segunda é subordinada.
“Foi sobretudo em Paris que Tomás de Aquino viveu intensamente os conflitos
intelectuais, típicos de sua época, que opunha o conhecimento pela razão, a teologia à
filosofia, a crença na revelação bíblica às investigações dos filósofos gregos. Em Paris
esses conflitos ganhavam dramaticidade mais intensa do que em qualquer outra parte da
Europa, pois a cidade era a capital do mais poderoso reino da Europa e polo de atração
de estrangeiros de todas as procedências. O papado não abria mão de seus direitos de
organização da universidade e procurava fazê-lo no sentido de combater a predominância
dos dialéticos (como eram então chamados os professores de filosofia) sobre os teólogos,
isto é, os expositores e comentadores das Sagradas Escrituras. A dialética não deveria ser
mais do que instrumento auxiliar e os mestres de teologia não deveriam fazer “ostentação
de filosofia”, determinava uma disposição papal de 1231”.
Mattos, C. L. de. Sto. Tomás – Vida e Obra. In: Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril
Cultural, 1979
02. O conhecimento da existência de Deus mediante a realidade sensível ocorre através
das cinco vias, segundo a acepção de Tomás de Aquino. Segundo o filósofo, ainda que a
interpretação realidade sensível seja incapaz de exprimir a substância de Deus, ela acaba
por provar a Sua existência. Isso porque a lei da causalidade exige um primeiro motor
imóvel, uma primeira causa eficiente, bem como uma inteligência ordenadora das coisas
e um ser necessário e perfeito acima dos demais.
03.
a. Segundo Tomás de Aquino, não se pode pensar que Razão e Fé sejam antagônicas.
Segundo ele, os princípios da razão não podem contradizer as verdades da fé
porque ambos buscam encontrar a mesma verdade. Tal verdade encontra seu
princípio em Deus, que é a origem e o motor de todas as coisas. Assim sendo, os
princípios da razão também encontram sua origem em Deus, e por isso não podem
contrariar as verdades da fé.
b. Como já foi dito, segundo Tomás de Aquino não há contradição entre os princípios
da razão e as verdades da fé. Entretanto, uma vez que as verdades da fé estão
acima da razão, pode acontecer que existam erros filosóficos que façam com que
pareça existir um conflito. Além disso, há verdades da fé que a razão não pode
compreender (como a questão de Deus ser Uno e Trino). Nesse sentido, sempre
que houver tal conflito, significa que a ideia advinda da razão é falsa e deve ser
refutada, de forma a aperfeiçoar a própria razão.
04.
a. “Há duas espécies de demonstração. Uma, pela causa, pelo por que das coisas, a
qual se apoia simplesmente nas causas primeiras. Outra, pelo efeito, que é chamada
a posteriori, embora se baseie no que é primeiro para nós; quando um efeito nos
é mais manifesto que a sua causa, por ele chegamos ao conhecimento desta.
Ora, podemos demonstrar a existência da causa própria de um efeito, sempre que
este nos é mais conhecido que aquela; porque, dependendo os efeitos da causa, a
existência deles supõe, necessariamente, a preexistência desta. Por onde, não nos
sendo evidente, a existência de Deus é demonstrável pelos efeitos que conhecemos.”
(Tomás de Aquino, Suma Teológica, questão 2, Art. 2). Assim, a quinta via toma
como princípio a finalidade dos seres, ou seja, o fato de que tudo o que carece de
inteligência opera em vista de um fim, que busca alcançar o que é o melhor. Essa
finalidade não pode ser alcançada sem que haja uma intenção ou causa. Para Tomás
de Aquino, pensar que essa finalidade possa ser alcançada sem que haja uma causa
anterior é tão absurdo como querer que uma flecha possa alcançar o alvo sem ser
antes arremessada por um arqueiro. Partindo-se desse princípio, o filósofo afirma
que o correto uso do entendimento pode conduzir o raciocínio ao conhecimento de
uma causa anterior e sucessiva, até que não se possa afirmar nenhuma outra que
não seja a primeira causa, ou seja, Theós (Deus). Por isso, afirma-se que a quinta via
é uma prova a partir dos efeitos, pois é a partir do conhecimento da natureza criada
que podemos conhecer algo a respeito do Criador.
b. De acordo com Aristóteles (Metafísica, Livro V, 1013 a 24), entende-se por causa “aquilo
de que como um material imanente provém o ser de uma coisa”. Assim, é inconcebível
que um ser imanente seja ele próprio a sua própria causa, dependendo ele de uma causa
anterior que fundamente a sua existência. Da mesma maneira, o pensamento aristotélico
valoriza a experiência como forma de acesso ao conhecimento; e a experiência nos
mostra coisas múltiplas que se harmonizam ou buscam se harmonizar em vistas de um
fim comum. Para Aristóteles, é forçoso que exista uma ordem anterior e primeira à qual
ele denomina de primeiro motor imóvel. Portanto, tomando o estagirita como referência,
e acrescentando os fundamentos da sua teologia e filosofia cristã, segundo as quais
a Alma é conhecida pelos seus atos, Tomás de Aquino afirma que Deus é essa causa
primeira que ordena as coisas para que elas possam realizar o seu fim.

46 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
15 RENASCIMENTO FILOSOFIA

E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

A EUROPA EM TRANSFORMAÇÃO O Renascimento foi fundamental para Filosofia, ao trazer


para o homem uma necessidade de entender sua realidade,
Após o período medieval vão ocorrer profundas alterações na desvinculando e deixando de lado a exclusividade do pensamento
conjuntura cultural da Europa. O ressurgimento do comércio acaba religioso, a Filosofia Renascentista vai ser marcada por um
por gerar o crescimento de grandes aglomerados urbanos, esses profundo questionamento da ordem vigente na Europa feudal,
apinhados urbanos geram uma convulsão de novas ideias, novas buscando estruturar os caminhos para o novo mundo que se
formas de pensar e novos paradigmas sociais. Uma convulsão de formulava com o renascimento urbano e comercial.
pensamentos que acabam por gerar um renascimento cultural,
É possível observar na arte renascentista todo teor humanista
questionando uma série de comportamentos anteriormente
e antropocêntrico do processo, uma valorização de tudo que é
estabelecidos.
humano, desde seu corpo até sua capacidade de pensamento
Entendido por um período entre a metade do século XIV e o fim e reflexão. Torna-se normal nas obras do período detalhamento
do século XVI, o Renascimento foi um movimento que se estendeu extremo da forma física humana, além de remontes históricos de
para além da Filosofia, tendo forte influência nos campos das artes, períodos da Filosofia, como na obra de Rafael de Sanzio.
economia, religião, política e ciência.

O RENASCIMENTO A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA


O século XVII apresentou grandes mudanças em relação às
O renascimento rebate uma visão teocêntrica de mundo presente
ciências. O foco passou a ser explicar os diferentes fenômenos
ao longo da idade média, trazendo novamente posicionamentos
da natureza através de uma forma racional, superando a fase
do mundo greco-romano, como o uso da razão, o hedonismo e o
anterior que priorizava a descrição. Nesse contexto a adoção e
naturalismo. É importante ressaltar que o renascimento apresenta
desenvolvimento do método científico foram fundamentais para o
um rompimento, mas também é propositivo, ao estabelecer e valorizar
avanço dessa estrutura de conhecimento.
o homem, uma visão humanista, individualista e amplamente
antropocêntrica de mundo. Essa alteração nas estruturas de pensamento rompeu de
maneira decisiva com a lógica católica uma vez que colocava
O renascimento vai além, com influência do mecenato,
o homem em condições de intervir sobre a natureza. A razão
gera uma enormidade de artistas, pintores, autores e demais
passou a ser vista como o instrumento essencial para explicar os
representantes do meio cultural, o renascimento foi uma mudança
fenômenos naturais.
de pensamento, mas foi uma exposição e enaltecimento da cultura
e pensamento humano.

Galileu demonstrando as Novas Teorias Astronômicas


na Universidade de Pádua. Félix Parra. 1873.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/85/F%C3%A9lix_Parra_-_Galileo_
Demonstrating_the_New_Astronomical_Theories_at_the_University_of_Padua_-_Google_
Art_Project.jpg

Entre os principais pensadores da chamada Revolução Científica


temos Galileu Galilei, René Descartes e Isaac Newton. Galileu, por
exemplo, desenvolveu seus estudos com base nas experiências e nas
observações como base do conhecimento científico.
Por fim, essas contribuições permitiram superar a noção
O Homem Vitruviano. Leonardo da Vinci. 1490
de um mundo imóvel, estático como os dogmas católicos
apresentavam, afirmando uma nova percepção de um universo em
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/22/Da_Vinci_Vitruve_Luc_Viatour.jpg permanente movimento. Além disso, foram o fundamento para o
desenvolvimento do pensamento iluminista do Século XVIII.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 47
FILOSOFIA 15 RENASCIMENTO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

Assinale a alternativa que contém os elementos por meio dos quais


EXERCÍCIOS podemos identificar o Renascimento:
PROTREINO a) Antropocentrismo - Otimismo - Razão - Espírito investigativo
- Leonardo da Vinci.
01. Aponte as principais características do Renascimento. b) Teocentrismo - Igreja - Hedonismo - Pessimismo -
Michelangelo.
02. Diferencie as visões teocêntrica e antropocêntrica.
c) Mecenato - Fé - Inquisição - Antropocentrismo - Aristóteles.
03. Defina hedonismo. d) Medievalismo - Vassalos - Racionalismo - Espírito dedutivo -
04. Aponte as principais características da Revolução Científica. Camões.
e) Classicismo - Mecenas - Teologia - Espírito científico - Galileu.
05. Aponte alguns importantes pensadores da Revolução Científica.
04. (CPS) A pintura do teto da Capela Sistina, obra do mestre
Michelangelo Buonarroti, foi realizada no início do século XVI. Veja
uma pequena parte dessa obra.
EXERCÍCIOS
PROPOSTOS
01. (ENEM) Acompanhando a intenção da burguesia renascentista
de ampliar seu domínio sobre a natureza e sobre o espaço
geográfico, através da pesquisa científica e da invenção
tecnológica, os cientistas também iriam se atirar nessa aventura,
tentando conquistar a forma, o movimento, o espaço, a luz, a cor e
mesmo a expressão e o sentimento.
SEVCENKO, N. O Renascimento. Campinas: Unicamp, 1984.

O texto apresenta um espírito de época que afetou também a


produção artística, marcada pela constante relação entre
a) fé e misticismo. (http://tinyurl.com/k5pd3k4 Acesso em: 01.07.2014. Original colorido)

b) ciência e arte.
Analisando as características da pintura apresentada, é correto
c) cultura e comércio. concluir que se trata de uma obra
d) política e economia. a) medieval e cavalheiresca.
e) astronomia e religião. b) medieval e teocêntrica.
c) classicista e modernista.
02. (ESPCEX (AMAN)) “A partir do século XI, a Europa Ocidental
foi palco de uma série de mudanças: crescimento da população, d) renascentista e antropocêntrica.
avanço técnico, aumento da produtividade agrícola, intensificação e) renascentista e ateísta.
do comércio entre o Ocidente e o Oriente e ascensão da burguesia
(mercadores, armadores, banqueiros). 05. (UFTM) Leia a definição de renascença.
Todas essas mudanças inspiraram uma nova visão do mundo, da I. Ato ou efeito de renascer; renascimento.
arte e do conhecimento, impulsionando, assim, um movimento II. Qualquer movimento caracterizado pela ideia de renovação,
de grande renovação cultural, único na história do Ocidente: o de restauração; retorno.
Renascimento.”
(BOULOS JR, 2011)
III. Nova vida, nova existência.
(Dicionário Houaiss da língua portuguesa)
São características do Renascimento:
O termo “renascença” é utilizado para caracterizar a arte, no mundo
a) antropocentrismo e misticismo.
ocidental, entre os séculos XIV e XVI. A escolha do termo pode ser
b) hedonismo e antropocentrismo. explicada
c) teocentrismo e individualismo. a) pelo fato de a produção artística ocidental nascer, de fato, neste
d) teocentrismo e nacionalismo. período.
e) misticismo e hedonismo. b) pela revalorização de ideais estéticos vigentes na Antiguidade
Clássica.
03. (IFSP) Entre os séculos XIV e XVI, ricas cidades dedicavam- c) pela renovação da pintura, fruto da difusão dos ideais
se ao comércio internacional (principalmente de especiarias). protestantes.
Exemplos disso são as cidades europeias de Florença e Roma d) pelo contato com a arte africana, descoberta graças às viagens
(sede do Papado), que atraíram dezenas de artistas e homens marítimas.
cultos em busca da antiguidade clássica como fonte de inspiração.
Trata-se do período do Renascimento Cultural. e) pelo fim da política do mecenato, que financiava a recuperação
das obras de arte.

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15 RENASCIMENTO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA FILOSOFIA

06. (ESPM) c) As transformações artísticas e políticas do Renascimento


Que obra de arte é o homem: tão nobre no raciocínio; tão vário incluíram a inspiração nos ideais da Antiguidade Clássica na
na capacidade; em forma de movimento, tão preciso e admirável, pintura, na arquitetura e na escultura.
na ação é como um anjo; no entendimento é como um Deus; a d) As inquietações religiosas vividas principalmente ao longo do
beleza do mundo, o exemplo dos animais. século XVI culminaram nas Reformas Calvinista, Luterana,
(Willian Shakespeare. Hamlet) Anglicana e finalmente no movimento da Contrarreforma, que
defendeu a fé protestante contra seus inimigos.
Pois o Senhor reinará na terra com seus santos, como dizem
as escrituras, e nela terá sua Igreja, na qual nenhum mal penetrará, 09. (ENEM) Os produtos e seu consumo constituem a meta
afastada e pura de toda a mancha do mal. A Igreja se revelará então declarada do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta
com grande clareza, dignidade e justiça. Então não haverá prazer pela primeira vez no início da Modernidade, como expectativa de que
em enganar, em mentir, em ocultar o lobo sob a pele da ovelha. o homem poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa,
(Santo Agostinho. A Cidade de Deus) convertida em programa anunciado por pensadores como Descartes
Os textos permitem constatar o contraste de diferentes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer
concepções entre a renascença e a mentalidade medieval. A de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de
alternativa que apresenta o contraste que os textos revelam é: libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente.
CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques, Scientiae Studia.
a) humanismo X laicismo. São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado).
b) individualismo X coletivismo.
c) antropocentrismo X teocentrismo. Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o
d) hedonismo X misticismo. projeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber
que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse
e) naturalismo X dogmatismo.
contexto, a investigação científica consiste em
07. (UNESP) Os centros artísticos, na verdade, poderiam ser definidos a) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as
como lugares caracterizados pela presença de um número razoável de disputas teóricas ainda existentes.
artistas e de grupos significativos de consumidores, que por motivações
b) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e
variadas — glorificação familiar ou individual, desejo de hegemonia ou
ocupar o lugar que outrora foi da filosofia.
ânsia de salvação eterna — estão dispostos a investir em obras de arte
uma parte das suas riquezas. Este último ponto implica, evidentemente, c) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas
que o centro seja um lugar ao qual afluem quantidades consideráveis do saber que almejam o progresso.
de recursos eventualmente destinados à produção artística. Além disso, d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e
poderá ser dotado de instituições de tutela, formação e promoção de eliminar os discursos éticos e religiosos.
artistas, bem como de distribuição das obras. Por fim, terá um público
e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e
muito mais vasto que o dos consumidores propriamente ditos: um
impor limites aos debates acadêmicos.
público não homogêneo, certamente (...).
(Carlo Ginzburg. A micro-história e outros ensaios, 1991.)
10. (ENEM) O franciscano Roger Bacon foi condenado, entre 1277
Os “centros artísticos” descritos no texto podem ser identificados e 1279, por dirigir ataques aos teólogos, por uma suposta crença
a) nos mosteiros medievais, onde se valorizava especialmente a na alquimia, na astrologia e no método experimental, e também por
arte sacra. introduzir, no ensino, as ideias de Aristóteles. Em 1260, Roger Bacon
escreveu: “Pode ser que se fabriquem máquinas graças às quais
b) nas cidades modernas, onde floresceu o Renascimento os maiores navios, dirigidos por um único homem, se desloquem
cultural. mais depressa do que se fossem cheios de remadores; que se
c) nos centros urbanos romanos, onde predominava a escultura construam carros que avancem a uma velocidade incrível sem a
gótica. ajuda de animais; que se fabriquem máquinas voadoras nas quais
d) nas cidades-estados gregas, onde o estilo dórico era um homem (...) bata o ar com asas como um pássaro. Máquinas
hegemônico. que permitam ir ao fundo dos mares e dos rios”
e) nos castelos senhoriais, onde prevalecia a arquitetura (apud. BRAUDEL, Fernand. Civilização material,
economia e capitalismo: séculos XV-XVIII. São Paulo: Martins Fontes, 1996, vol. 3).
românica.
Considerando a dinâmica do processo histórico, pode-se afirmar
08. (UNICAMP) De uma forma inteiramente inédita, os humanistas,
que as ideias de Roger Bacon
entre os séculos XV e XVI, criaram uma nova forma de entender
a realidade. Magia e ciência, poesia e filosofia misturavam-se e a) inseriam-se plenamente no espírito da Idade Média ao
auxiliavam-se, numa sociedade atravessada por inquietações privilegiarem a crença em Deus como o principal meio para
religiosas e por exigências práticas de todo gênero. antecipar as descobertas da humanidade.
(Adaptado de Eugenio Garin, Ciência e vida civil no Renascimento italiano. b) estavam em atraso com relação ao seu tempo ao
São Paulo: Ed. Unesp, 1994, p. 11.) desconsiderarem os instrumentos intelectuais oferecidos pela
Sobre o tema, é correto afirmar que: Igreja para o avanço científico da humanidade.
a) O pensamento humanista implicava a total recusa da existência c) opunham-se ao desencadeamento da Primeira Revolução
de Deus nas artes e na ciência, o que libertava o homem para Industrial, ao rejeitarem a aplicação da matemática e do
conhecer a natureza e a sociedade. método experimental nas invenções industriais.
b) A mistura de conhecimentos das mais diferentes origens - como d) eram fundamentalmente voltadas para o passado, pois não
a magia e a ciência - levou a uma instabilidade imprevisível, que apenas seguiam Aristóteles, como também baseavam-se na
lançou a Europa numa onda de obscurantismo que apenas o tradição e na teologia.
Iluminismo pôde reverter. e) inseriam-se num movimento que convergiria mais tarde para
o Renascimento, ao contemplarem a possibilidade de o ser
humano controlar a natureza por meio das invenções.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 49
FILOSOFIA 15 RENASCIMENTO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO 14. (UEL) “[...] Aristóteles estabelecia antes as conclusões, não
TEXTO I consultava devidamente a experiência para estabelecimento de
suas resoluções e axiomas. E tendo, ao seu arbítrio, assim decidido,
O Heliocentrismo não é o “meu sistema”, mas a Ordem de Deus.
submetia a experiência como a uma escrava para conformá-la às
COPÉRNICO, N. As revoluções dos orbes celestes [1543].
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984. suas opiniões”.
(BACON, Francis. Novum Organum. Trad. de José Aluysio Reis de Andrade. 4. ed.
TEXTO II São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 33.)
Não vejo nenhum motivo para que as ideias expostas neste
livro (A origem das espécies) se choquem com as ideias religiosas. Com base no texto, assinale a alternativa que apresenta
DARWIN, C. A origem das espécies [1859]. São Paulo: Escala, 2009. corretamente a interpretação que Bacon fazia da filosofia
aristotélica.
11. (ENEM PPL) Os textos expressam a visão de dois pensadores a) A filosofia aristotélica estabeleceu a experiência como o
— Copérnico e Darwin — sobre a questão religiosa e suas relações fundamento da ciência.
com a ciência, no contexto histórico de construção e consolidação
b) Aristóteles consultava a experiência para estabelecer os
da Modernidade. A comparação entre essas visões expressa,
resultados e axiomas da ciência.
respectivamente:
c) Aristóteles afirmava que o conhecimento teórico deveria
a) Articulação entre ciência e fé — pensamento científico
independente. submeter-se, como um escravo, ao conhecimento da experiência.

b) Poder secular acima do poder religioso — defesa dos dogmas d) Aristóteles desenvolveu uma concepção de filosofia que tem
católicos. como consequência a desvalorização da experiência.
c) Ciência como área autônoma do saber — razão humana e) Aristóteles valorizava a experiência, por considerá-la um
submetida à fé. caminho seguro para superar a opinião e atingir o conhecimento
verdadeiro.
d) Moral católica acima da protestante — subordinação da ciência
à religião. 15. (UNESP) Nada acusa mais uma extrema fraqueza de espírito
e) Autonomia do pensamento religioso — fomento à fé por meio do que não conhecer qual é a infelicidade de um homem sem
da ciência. Deus; nada marca mais uma má disposição do coração do
que não desejar a verdade das promessas eternas; nada é mais
12. (Enem PPL) A ciência ativa rompe com a separação antiga entre covarde do que fazer-se de bravo contra Deus. Deixem então essas
a ciência (episteme), o saber teórico, e a técnica (techne), o saber impiedades para aqueles que são bastante mal nascidos para
aplicado, integrando ciência e técnica. Do ponto de vista da ideia ser verdadeiramente capazes disso. Reconheçam enfim que não
de ciência, a valorização da observação e do método experimental há senão duas espécies de pessoas a quem se possam chamar
opõe a ciência ativa à ciência contemplativa dos antigos; assim razoáveis: ou os que servem a Deus de todo o coração porque o
também, a utilização da matemática como linguagem da física, conhecem ou os que o buscam de todo o coração porque não o
proposta por Galileu sob inspiração platônica e pitagórica, e conhecem.
contrária à concepção aristotélica. Blaise Pascal. Pensamentos, 2015. Adaptado.)
MARCONDES, D. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2008 (adaptado). O pensamento desse filósofo é nitidamente influenciado por uma
ótica
Nesse contexto, a ciência encontra seu novo fundamento na a) científica. c) antropocêntrica. e) teológica.
a) utilização da prova para confirmação empírica. b) ateísta. d) materialista.
b) apropriação do senso comum como inspiração.
c) reintrodução dos princípios da metafísica clássica. 16. (ENEM) A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que
continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o universo), que
d) construção do método em separado dos fenômenos.
não se pode compreender antes de entender a língua e conhecer os
e) consolidação da independência entre conhecimento e prática. caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito em língua
matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras
13. Um estudante, ao realizar pesquisas no laboratório da faculdade, figuras geométricas, sem cujos meios é impossível entender
segue determinados procedimentos que garantem a validade humanamente as palavras; sem eles, vagamos perdidos dentro de
do seu trabalho. As regras básicas que orientam a produção do um obscuro labirinto.
conhecimento científico são objetivas e universais, sendo oriundas GALILEI, G. “O ensaiador”. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
dos esforços de pensadores da Modernidade. Como os modernos
No contexto da Revolução Científica do século XVII, assumir a
viviam em um ambiente de ruptura e evolução, o estabelecimento posição de Galileu significava defender a
de uma metodologia segura que viabilizasse sua produção
científica era de suma importância. No tocante ao pensamento a) continuidade do vínculo entre ciência e fé dominante na Idade
Média.
moderno, assinale a opção que contradiz seus fundamentos.
b) necessidade de o estudo linguístico ser acompanhado do
a) Humanismo, valorização da livre iniciativa e originalidade do
exame matemático.
homem, ruptura com a tradição.
c) oposição da nova física quantitativa aos pressupostos da
b) Individualismo, ceticismo e oposição entre o antigo e o novo.
filosofia escolástica.
c) Ênfase na individualidade, valorização do novo, profunda visão d) importância da independência da investigação científica
humanista. pretendida pela Igreja.
d) Ratificação da autoridade institucional, conservadorismo, e) inadequação da matemática para elaborar uma explicação
manutenção do modelo geocêntrico de cosmo. racional da natureza.
e) Ceticismo, afirmação da linguagem matemática, negação da
ciência contemplativa antiga em prol de uma ciência ativa.

50 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
15 RENASCIMENTO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA FILOSOFIA

17. (ENEM) Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de a) a bíblia, por registrar literalmente a palavra divina, apresenta
que o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. a verdade dos fatos naturais, tornando-se guia para a ciência.
Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devido às grandes b) o significado aparente daquilo que é lido acerca da natureza na
transformações ocorridas, e que ocorrem diariamente, as quais bíblia constitui uma referência primeira.
escapam à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar
inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que c) as diferentes exposições quanto ao significado das palavras
a sorte decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos bíblicas devem evitar confrontos com os dogmas da Igreja.
permite o controle sobre a outra metade. d) a bíblia deve receber uma interpretação literal porque, desse
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado). modo, não será desviada a verdade natural.
e) os intérpretes precisam propor, para as passagens bíblicas,
Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seu
sentidos que ultrapassem o significado imediato das palavras.
tempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seu
pensamento político e o humanismo renascentista ao
20. (UNESP) Galileu tornou-se o criador da física moderna quando
a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos definidores
anunciou as leis fundamentais do movimento. Formulando tais
do seu tempo.
princípios, ele estruturou todo o conhecimento científico da natureza
b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos. e abalou os alicerces que fundamentavam a concepção medieval
c) afirmar a confiança na razão autônoma como fundamento da do mundo. Destruiu a ideia de que o mundo possui uma estrutura
ação humana. finita, hierarquicamente ordenada e substituiu-a pela visão de
um universo aberto, infinito. Pôs de lado o finalismo aristotélico
d) romper com a tradição que valorizava o passado como fonte
e escolástico, segundo o qual tudo aquilo que ocorre na natureza
de aprendizagem.
ocorre para cumprir desígnios superiores; e mostrou que a natureza
e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé e razão. é fundamentalmente um conjunto de fenômenos mecânicos.
(José Américo M. Pessanha. Galileu Galilei, 2000. Adaptado.)
18. (ENEM) (...) Depois de longas investigações, convenci-me por
fim de que o Sol é uma estrela fixa rodeada de planetas que giram A importância da obra de Galileu para o surgimento da ciência
em volta dela e de que ela é o centro e a chama. Que, além dos moderna justifica-se porque seu pensamento
planetas principais, há outros de segunda ordem que circulam a) resgatou uma concepção medieval de mundo.
primeiro como satélites em redor dos planetas principais e com b) baseou-se em uma visão teológica sobre a natureza.
estes em redor do Sol. (...) Não duvido de que os matemáticos
sejam da minha opinião, se quiserem dar-se ao trabalho de c) fundamentou-se em conceitos metafísicos.
tomar conhecimento, não superficialmente mas duma maneira d) fundou as bases para o desenvolvimento da alquimia.
aprofundada, das demonstrações que darei nesta obra. Se e) atribuiu regularidade matemática aos fenômenos naturais.
alguns homens ligeiros e ignorantes quiserem cometer contra
mim o abuso de invocar alguns passos da Escritura (sagrada), a
que torçam o sentido, desprezarei os seus ataques: as verdades EXERCÍCIOS DE
matemáticas não devem ser julgadas senão por matemáticos.
(COPÉRNICO, N. De Revolutionibus orbium caelestium) APROFUNDAMENTO
Aqueles que se entregam à prática sem ciência são como o 01. (UNESP) Em 19 de fevereiro de 1616, o Santo Ofício passou
navegador que embarca em um navio sem leme nem bússola. aos seus teólogos as duas proposições que resumiam o núcleo
Sempre a prática deve fundamentar-se em boa teoria. Antes de da questão para que fossem examinadas. As duas proposições
fazer de um caso uma regra geral, experimente-o duas ou três eram as seguintes: a) ‘Que o Sol é o centro do mundo, sendo
vezes e verifique se as experiências produzem os mesmos efeitos. consequentemente imóvel de movimento local’. b) ‘Que a Terra não
Nenhuma investigação humana pode se considerar verdadeira está no centro do mundo nem é imóvel, mas move-se por si mesma’.
ciência se não passa por demonstrações matemáticas. Cinco dias depois, todos os teólogos de acordo, sentenciaram que
(VINCI, Leonardo da. Carnets)
a primeira proposição era tola e absurda em filosofia e formalmente
O aspecto a ser ressaltado em ambos os textos para exemplificar o herética, enquanto contrastava com as sentenças da Sagrada
racionalismo moderno é Escritura em seu significado literal e segundo a exposição comum
a) a fé como guia das descobertas. dos Santos Padres e dos doutores em teologia.
b) o senso crítico para se chegar a Deus. (Reale e Antiseri. História da Filosofia, 2000. Adaptado.)

c) a limitação da ciência pelos princípios bíblicos.


O texto descreve os motivos que levaram à condenação do
d) a importância da experiência e da observação. filósofo Galileu Galilei por uma instituição religiosa. Responda
e) o princípio da autoridade e da tradição. qual foi a instituição que o condenou e explique os motivos dessa
condenação.
19. (ENEM PPL) Assentado, portanto, que a Escritura, em muitas
passagens, não apenas admite, mas necessita de exposições
02. (Uff) Coube ao cientista italiano Galileu Galilei, que viveu no
diferentes do significado aparente das palavras, parece-me que,
final do Renascimento, definir os princípios que até hoje orientam
nas discussões naturais, deveria ser deixada em último lugar.
a pesquisa científica. Ele defendia a plena liberdade de pesquisa
GALILEI, G. Carta a Benedetto Castelli. In: Ciência e fé: cartas de Galileu sobre o acordo
do sistema copernicano com a Bíblia. São Paulo: Unesp, 2009. (adaptado) e afirmava que os conhecimentos científicos devem ser avaliados
exclusivamente à luz da observação, da razão e da experimentação.
O texto, extraído da carta escrita por Galileu (1564-1642) cerca de Comente essas ideias e discorra sobre a influência da atividade
trinta anos antes de sua condenação pelo Tribunal do Santo Oficio, científica para a formação da consciência dos seres humanos.
discute a relação entre ciência e fé, problemática cara no século
XVII. A declaração de Galileu defende que

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 51
FILOSOFIA 15 RENASCIMENTO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

03. (UERJ) 05. (UFJF-PISM 1) Observe as seguintes figuras e leia o texto a


seguir:

No final da Idade Média, a Europa Ocidental passou por


transformações sociais, políticas e econômicas relacionadas
ao desenvolvimento do comércio e das cidades. E, no âmbito da
cultura, as cidades italianas constituíam um ambiente propício para
a consolidação de um movimento de transformação cultural, o
chamado Renascimento.
a) Disserte sobre uma transformação socioeconômica que
possibilitou a afirmação da cultura renascentista na Península
Sempre que se evoca o tema do Renascimento, a imagem que nos Itálica.
vem à mente é a dos grandes artistas e de suas obras mais famosas. b) Cite e analise um aspecto da cultura renascentista que entrava
Isso nos coloca a questão: por que razão o Renascimento implica em conflito com os ensinamentos da Igreja.
esse destaque tão grande dado às artes visuais? De fato, as artes c) Analise um aspecto do Renascimento no âmbito das artes.
plásticas acabaram se convertendo num centro de convergência
de todas as principais tendências da cultura renascentista. E mais
do que isso, acabaram espelhando os impulsos mais marcantes do GABARITO
processo de evolução das relações sociais e mercantis. EXERCÍCIOS PROPOSTOS
NICOLAU SEVCENKO 01. B 05. B 09. C 13. D 17. C
Adaptado de O Renascimento. São Paulo: Atual; Campinas: Ed. Unicamp, 1984.
02. B 06. C 10. E 14. D 18. D
03. A 07. B 11. A 15. E 19. E
As diversas manifestações da cultura renascentista na Europa
04. D 08. C 12. A 16. C 20. E
ocidental, entre os séculos XIV e XVI, estiveram relacionadas à
criação de novos valores e práticas sociais que se confrontaram EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
com aqueles da sociedade medieval. 01. Galileu Galilei (1564-1642), italiano, físico, matemático e filósofo, lecionou nas
universidades de Pisa e Pádua. Escreveu O ensaidor, Diálogos sobre os dois máximos
Cite dois aspectos da cultura renascentista que justifiquem a sua sistemas do mundo e Discurso sobre duas novas ciências. Foi responsável pela
importância para o início dos Tempos Modernos. superação do aristotelismo quanto a questão do movimento estabelecendo uma
diferença entre movimento qualitativo e quantitativo. Enquanto Aristóteles via qualidades
(corpos pesados e leves), Galileu descobre relações e funções. Sua vida foi marcada
04. (UEL) A respeito do período conhecido como Idade Média, pela perseguição política e religiosa por defender a substituição do modelo ptolomaico
durante muito tempo, historiadores e literatos referiam-se a esses do mundo (geocentrismo) pelo modelo copernicano (heliocentrismo), deste modo, tais
pensamentos iram contra a interpretação literal da Bíblia pela Igreja Católica, onde a Terra
séculos como “Idade das Trevas”. Segundo a historiadora Nuncia S. era, até então, o centro do Universo. Por defender o heliocentrismo foi condenado pela
de Oliveira, por mais que se tenha repensado essas ideias, elas ainda Inquisição - dedicada, sobretudo a supressão da heresia no seio da Igreja Católica – ,
persistem na atualidade. Para a autora, “afinal, quantas vezes não seus livros foram proibidos a não ser nos países convertidos pelo protestantismo e foi
pela mesma obrigado a abjurar publicamente suas ideias, sendo confinado em prisão
ouvimos críticas àqueles que porventura têm um comportamento domiciliar a partir de 1633.
fora daqueles tidos como “civilizados” serem chamados de 02. Galileu sempre argumentou em favor da distinção entre a verdade religiosa e o
“bárbaros”? Quantas vezes não encontramos o adjetivo medieval conhecimento científico para que deixasse clara a dependência de um em relação
ser usado para definir comportamentos violentos? Ou ainda, quem ao outro e argumentou mais além, referindo-se que a autonomia do conhecimento
científico estivesse, em relação à verdade, exclusivamente pautado por sua comprovação,
nunca ouviu alguém dizer “não vivemos mais na Idade Média” racionalidade e verificação. Quando a proposta do método científico de Galileu envolve
desejando exaltar a mudança de comportamentos para atitudes procedimentos de observação dos fenômenos, de formulação teórica – sobretudo
“inovadoras” ou “modernas”?” matemática – de sua explicação e realização de experiências para, na formação da
consciência dos seres humanos, suscitar explicações ou comprovar ou refutar as que
OLIVEIRA, N. S. O estudo da Idade Média em livros didáticos e suas implicações no
tivessem sido concebidas.
Ensino de História. Cadernos de Aplicação. n. 1. v. 23. jan/jun. 2010, p.101-125.
03. Dois dos aspectos:

A respeito dessas afirmações que a autora cita, responda aos itens • valorização do indivíduo.
a seguir. • abandono do teocentrismo.
• defesa dos ideais humanistas.
a) Por que se construiu a ideia de Idade Média como a autora
• defesa dos valores burgueses.
coloca?
• valorização da liberdade individual.
b) Pode-se ou não contestar essa noção sobre a Idade Média? • utilização da razão na explicação do mundo.
Justifique sua resposta.
• visão mais natural e humanizada da religião.
O início da modernidade coincide com o período de expansão das atividades mercantis e
de ascensão da classe burguesa. Os valores do renascimento expressão uma nova visão
de mundo na qual a capacidade de criação e de ação humana se destaca.

52 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
15 RENASCIMENTO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA FILOSOFIA

04.
a. A noção da Idade Média como um período de “trevas” e “atrasos” foi construída no
período histórico seguinte a ela: o Renascimento. Para os renascentistas, eles eram
os portadores da razão e da experimentação científica e tinham como obrigação
combater o misticismo e o teocentrismo do período medieval. Se o Renascimento
era “luz”, o Feudalismo era “treva”.
b. Deve-se contestar. Basta citar o avanço tecnológico ocorrido no campo, a
arquitetura e a literatura cavalheiresca desenvolvidos no período medieval.
05.
a. A reabertura do Mar Mediterrâneo, proporcionada pela ocorrência das Cruzadas,
favoreceu o enriquecimento de mercadores e comerciantes. Tal segmento social
passou a apoiar práticas que denotavam luxo e riqueza, como o colecionamento de
obras de arte, o que incentivou a prática do mecenato, principalmente na Península
Itálica.
b. Concepção antropocêntrica de mundo, em oposição à concepção teocêntrica
proposta pela Igreja Católica.
c. Influência da cultura greco-romana, humanismo, valorização do corpo humano.

ANOTAÇÕES

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 53
FILOSOFIA 15 RENASCIMENTO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

ANOTAÇÕES

54 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
16
FILOSOFIA
RACIONALISMO

DESCARTES E A RAZÃO PENSO, LOGO EXISTO


As mudanças de pensamento geradas pelo Renascimento Descartes utilizou-se da dúvida hiperbólica, uma dúvida
acarretaram a possibilidade de evolução de certos comportamentos constante, permanente e que deve estar presente em toda e
e pensamentos. Nesse contexto cresce e evolui o Racionalismo, qualquer relação do indivíduo. Ele duvidou inicialmente de suas
capitaneado pelo francês René Descartes, que buscava sensações como forma de conhecer o mundo, uma crítica clara ao
encontrar uma resposta indubitável, não passível de dúvidas ou método empirista de conhecimento, pois as sensações enganam
questionamentos. Vale pontuar que as dúvidas de Descartes nada sempre, duvidou posteriormente da realidade externa e da realidade
tem ligação com as dúvidas dos céticos, já que busca e defende a do seu corpo como forma de comprovar que o conhecimento certo,
necessidade de encontrar-se uma resposta. mas não teve como duvidar de que estava duvidando, o argumento
do sonho é essencial nesse processo. Nada garante que não
estamos sonhando, logo nossos sentidos podem encaminhar
para o engano, sendo necessário confiar somente na razão como
fonte de conhecimento. A primeira certeza: duvido, logo existo,
mas duvidar é um modo de pensar, então: ‘Penso, logo existo’,
que significa: penso, logo tenho consciência de mim mesmo. A
conclusão se dá pela evidência lógica, racional, de que é preciso
existir para pensar.
Descartes também foi um exímio matemático, fator que
demonstra sua capacidade de remeter seus pensamentos de
forma lógica e formal, baseando-se na reflexão e capacidade
racional do ser humano.

O ARGUMENTO DO COGITO
As Meditações sobre a Filosofia Primeira compõem a tentativa
de Descartes de alcançar o conjunto de princípios fundamentais
da filosofia que podem ser conhecidos como verdadeiros sem
qualquer possibilidade de dúvida. É importante frisar que a palavra
“filosofia” designava, até fins do século XVIII, tanto o que hoje
chamamos propriamente “filosofia”, quanto o que hoje chamamos
“ciência”. Assim, quando Descartes procura o fundamento da
filosofia, também está à procura do fundamento do que chamamos
René Descartes. Por Frans Hals. 1650 “ciência” em nosso tempo.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/73/Frans_Hals_-_Portret_van_ A Filosofia Primeira a que se refere Descartes é a Metafísica,
Ren%C3%A9_Descartes.jpg compreendida como o estudo dos princípios do conhecimento -
entre os quais estão as explicações sobre Deus e a alma e todas
O racionalismo de Descartes é estritamente humano, ao as noções claras e simples que estão em nós. Descartes propõe,
compreender que somente a razão humana é passível de encontrar nos Princípios da Filosofia, uma analogia da filosofia com uma
verdades, também se contrapõe ao empirismo, ao questionar os árvore, na qual a filosofia primeira, ou metafísica, seria equivalente
sentidos, a experiência e qualquer outra forma de conhecimento às raízes; a física, que examina a composição do universo, seria o
que não seja aquela originada no racionalismo. tronco; e as outras ciências seriam os ramos da árvore.
As noções (ou ideias) claras, distintas e simples que são o
O MÉTODO CARTESIANO objeto da metafísica são aquelas sobre as quais por serem claras,
Descartes não busca as verdades de forma solta, sem reflexão se impõem em sua verdade imediata, sendo indubitáveis e por
ou organização, busca através de um método, conhecido pela serem distintas, não podem ser confundidas com nenhuma outra,
matemática, como método cartesiano. O método é composto por e, quando são simples, não podem ser divididas em ideias ainda
quatro etapas que devem ser seguidas para que ocorra uma real mais simples, sendo elas o resultado final da análise e o ponto de
chegada ao conhecimento. partida da construção das ideias complexas.

• Regra da evidência: só aceitar algo como verdadeiro Para alcançar o conjunto de princípios fundamentais que
desde que seja absolutamente evidente por sua clareza e constituirão a base de todo o conhecimento verdadeiro, Descartes
distinção. busca um ponto de partida indubitável.

• Regra da análise: dividir cada uma das dificuldades O método que utiliza para encontrar esse ponto de partida é a
surgidas em tantas partes quantas forem necessárias para dúvida hiperbólica. A dúvida hiperbólica não é uma dúvida cética
resolvê-las melhor. radical, porque o objetivo da dúvida hiperbólica não é duvidar, como
os céticos fazem, da possibilidade de o conhecimento humano
• Regra da síntese: ordenar o raciocínio dos problemas mais atingir a verdade. A dúvida hiperbólica é, pelo contrário, um método
simples para os mais complexos. racional de investigação - é voluntária, sistemática e provisória.
• Regra da enumeração: realizar verificações completas O  objetivo da dúvida cartesiana é colocar o conhecimento sobre
e gerais para se ter absoluta segurança de que nenhum um fundamento seguro. Para esse fim, devemos suspender o juízo
aspecto do problema foi omitido. sobre qualquer proposição cuja verdade possa ser questionada,

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 55
FILOSOFIA 16 RACIONALISMO

ainda que remotamente. Os critérios para o que pode ser aceito


tornam-se cada vez mais restritivos, à medida em que somos EXERCÍCIOS
convidados a duvidar do que nos é dado pela memória, pelos
sentidos e até pela razão, porque isso tudo pode nos enganar.
PROTREINO
Esse processo acaba sendo dramatizado pela figura do Deus 01. Aponte o principal pensador do Racionalismo.
enganador, que, para mais fácil aceitação, é tomado como o gênio
maligno, que emprega toda a sua indústria para nos enganar 02. Diferencie Racionalismo do Empirismo.
sempre, de modo que nossas lembranças, nossos sentidos e
03. Enuncie o principal caminho que Descartes usa para buscar
nossa razão nos conduzam sempre ao erro.
verdades.
O propósito da dúvida é encontrar um ponto de certeza que
esteja a salvo do gênio maligno - certeza que Descartes formula 04. Apresente a principal característica da Regra da Evidência.
no famoso cogito ergo sum, “penso logo existo”, que representa a
05. Defina “dúvida hiperbólica”.
descoberta de que se eu posso duvidar e acreditar que estou sendo
enganado, então eu sou alguma coisa.
A partir dessa certeza fundamental, Descartes procura as
próximas certezas. A primeira pergunta a partir do Cogito deve ser:
“se eu sou, o que sou?” Descartes então, utiliza um método negativo EXERCÍCIOS
PROPOSTOS
para chegar a uma certeza positiva: se posso imaginar que, mesmo
eu sendo algo, meu corpo e o mundo não existem, então eu não
sou meu corpo nem sou semelhante ao mundo. Minha natureza,
portanto, é o pensamento. Ou seja: eu sou uma alma, e a alma é a 01. (UEG) A Idade Média e a Idade Moderna são duas fases da
substância pensante, em oposição à substância extensa do mundo história europeia marcadas, em muitos aspectos, por visões distintas
e dos corpos. de mundo: a primeira, teocêntrica, procurava conciliar fé e razão; a
A certeza de que eu sou uma substância pensante é clara e segunda, antropocêntrica, se destaca pelo racionalismo. Em termos
distinta: não posso duvidar dela, e ela me aparece com distinção, filosóficos, seus principais representantes foram, respectivamente:
como uma intuição. Intuição, para Descartes, é justamente a visão a) Tomás de Aquino e René Descartes.
racional da evidência. b) Santo Agostinho e Thomas Hobbes.
Investigando então as ideias, partindo dos dados disponíveis c) Maquiavel e Bossuet.
neste ponto, Descartes chega à conclusão de que elas são de
três espécies: as ideias que têm origem fora do sujeito, fora de d) Cícero e Copérnico.
mim, e são resultado da apreensão do mundo pelos sentidos; as e) Sócrates e Platão.
ideias que são originadas de minha imaginação; e a ideia de Deus,
que não posso ter apreendido pelos sentidos, posto que não é 02. (ENEM) É o caráter radical do que se procura que exige a
semelhante às coisas externas, nem posso ter imaginado, visto radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for
que as qualidades de Deus (ser uma substância infinita, eterna, ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí
imutável, onipotente, onisciente e pela qual todas as coisas foram terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será
criadas) são tão grandes que eu não poderia tê-las inventado. seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas
A ideia de Deus, portanto, só pode ter sido imprimida em por essa mesma dúvida.
minha alma pelo próprio Deus. A essa prova da existência de Deus, SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade.
São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).
Descartes adiciona seu argumento ontológico, que diz que, se
Deus é um ser perfeito, e a perfeição exige, além das noções de
Apesar de questionar os conceitos da tradição, a dúvida radical da
eternidade, infinitude, onipotência, onisciência, também a noção de
filosofia cartesiana tem caráter positivo por contribuir para o(a)
existência, então Deus não pode não existir. Se posso conceber um
ser perfeito, então esse ser perfeito necessariamente existe e é a a) dissolução do saber científico.
causa da ideia de ser perfeito que tenho inata. b) recuperação dos antigos juízos.
Com a certeza da existência de Deus, o argumento do Gênio c) exaltação do pensamento clássico.
Maligno perde sua força, pois Deus não pode enganar - ou não
d) surgimento do conhecimento inabalável.
seria Deus.
e) fortalecimento dos preconceitos religiosos.
Assim, neste ponto da argumentação das Meditações se encerra
a exigência da dúvida metódica, dado que a prova da existência de
Deus garante a veracidade do mundo externo (pois Deus não pode 03. (UFF) O filósofo francês René Descartes escreveu o seguinte
desejar me enganar, ou não seria Deus e sim um gênio maligno) e das em seu Discurso do Método:
verdades da razão, como as verdades matemáticas. A partir daqui, é “Logo que adquiri algumas noções gerais relativas à Física,
possível fazer ciência, pois se construiu uma fundamentação sólida julguei que não podia mantê-las ocultas, sem pecar grandemente
para o conhecimento verdadeiro. contra a lei que nos obriga a procurar o bem geral de todos
Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Descartes os homens. Pois elas me fizeram ver que é possível chegar a
é a rejeição de toda e qualquer autoridade distinta da razão no conhecimentos que sejam úteis à vida e assim nos tornar como
processo da fundamentação do conhecimento. Descartes proclama que senhores e possuidores da natureza. O que é de desejar, não
a independência da filosofia, que deve se submeter apenas à razão só para a invenção de uma infinidade de utensílios, que permitiriam
- e essa independência se estende à física e a todas as ciências. gozar, sem qualquer custo, os frutos da terra e de todas as
As três primeiras meditações insistem justamente nessa ideia: a comodidades que nela se acham, mas principalmente também
concepção de que apenas a razão pode, por meio de um método para a conservação da saúde, que é sem dúvida o primeiro bem e o
construído pela própria razão, garantir o conhecimento verdadeiro fundamento de todos os outros bens desta vida.”
- claro e distinto - das coisas. Em outras palavras, a única garantia Assinale a alternativa que resume o pensamento de Descartes.
da ciência é a razão. a) O conhecimento deve ser mantido oculto para evitar que seja
empregado para dominar a natureza.

56 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
16 RACIONALISMO FILOSOFIA

b) O conhecimento da natureza satisfaz apenas ao intelecto e não Mas há um enganador, não sei quem, sumamente poderoso,
é capaz de alterar as condições da vida humana. sumamente astucioso que, por indústria, sempre me engana. Não
c) Nosso intelecto é incapaz de conhecer a natureza. há dúvida, portanto, de que eu, eu sou, também, se me engana:
que me engane o quanto possa, nunca poderá fazer, porém, que
d) Devemos buscar o conhecimento exclusivamente pelo prazer eu nada seja, enquanto eu pensar que sou algo. De sorte que,
de conhecer. depois de ponderar e examinar cuidadosamente todas as coisas é
e) O conhecimento e o domínio da natureza devem ser preciso estabelecer, finalmente, que este enunciado eu, eu sou, eu,
empregados para satisfazer as necessidades humanas e eu existo é necessariamente verdadeiro, todas as vezes que é por
aperfeiçoar nossa existência. mim proferido ou concebido na mente.
(DESCARTES, R. Meditações sobre Filosofia Primeira. Tradução, nota prévia e revisão de
04. (UFSJ) Ao analisar o cogito ergo sum – penso, logo existo, de Fausto Castilho. Campinas: Unicamp, 2008, p. 25.)

René Descartes, conclui-se que


Com base na tira e no texto, sobre o cogito cartesiano, é correto
a) o pensamento é algo mais certo que a própria matéria corporal. afirmar:
b) a subjetividade científica só pode ser pensada a partir da aceitação a) A existência decorre do ato de aparecer e se apresenta
de uma relação empírica fundada em valores concretos. independente da essência constitutiva do ser.
c) o eu cartesiano é uma ideia emblemática e representativa da b) A existência é manifesta pelo ato de pensar que, ao trazer à
ética que insurgia já no século XVI. mente a imagem da coisa pensada, assegura a sua realidade.
d) Descartes consegue infirmar todos os sistemas científicos e c) A existência é concebida pelo ato originário e imaginativo do
filosóficos ao lançar a dúvida sistemático-indutiva respaldada pelas pensamento, o qual impede que a realidade seja mera ficção.
ideias iluministas e métodos incipientes da revolução científica.
d) a existência é a plenitude do ato de exteriorização dos objetos,
cuja integridade é dada pela manifestação da sua aparência.
05. (ENEM) Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo,
embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por e) A existência é a evidência revelada ao ser humano pelo ato
outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie próprio de pensar.
de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os
raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo 08. (UNIOESTE) Considerando-se as primeiras linhas das Meditações
sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter sobre a filosofia primeira de René Descartes:
aprendido, não ciências, mas histórias. “Há já algum tempo dei-me conta de que, desde meus primeiros
DESCARTES. R. Regras para a orientação do espírito. anos, recebera muitas falsas opiniões por verdadeiras e de que aquilo
São Paulo: Martins Fontes, 1999.
que depois eu fundei sobre princípios tão mal assegurados devia ser
apenas muito duvidoso e incerto; de modo que era preciso tentar
Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o
seriamente, uma vez em minha vida, desfazer‑me de todas as opiniões
conhecimento, de modo crítico, como resultado da
que recebera até então em minha crença e começar tudo novamente
a) investigação de natureza empírica. desde os fundamentos, se eu quisesse estabelecer alguma coisa de
b) retomada da tradição intelectual. firme e de constante nas ciências. (...) Agora, pois, que meu espírito está
c) imposição de valores ortodoxos. livre de todas as preocupações e que obtive um repouso seguro numa
solidão tranquila, aplicar-me-ei seriamente e com liberdade a destruir
d) autonomia do sujeito pensante. em geral todas as minhas antigas opiniões”
e) liberdade do agente moral. É correto afirmar sobre a teoria do conhecimento cartesiana que
a) Descartes não utiliza um método ou uma estratégia para
06. (UEL) Tendo por base o método cartesiano da dúvida, é correto
estabelecer algo de firme e certo no conhecimento, já que suas
afirmar que:
opiniões antigas eram incertas.
a) Este método visa a remover os preconceitos e opiniões
b) Descartes considera que não é possível encontrar algo de
preconcebidas e encontrar uma verdade indubitável.
firme e certo nas ciências, pois até então esse objetivo não foi
b) Ao engendrar a dúvida hiperbólica, o objetivo de Descartes era atingido.
provar que suas antigas opiniões, submetidas ao escrutínio da
c) Descartes, ao rejeitar o que a tradição filosófica considerou
dúvida, eram verdadeiras.
como conhecimento, busca fundamentar nos sentidos uma
c) A dúvida hiperbólica é engendrada por Descartes para mostrar base segura para as ciências.
que não podemos rejeitar como falso o que é apenas dubitável.
d) ao investigar uma base firme e indestrutível para o
d) Só podemos dar assentimento às opiniões respaldadas pela conhecimento, Descartes inicia rejeitando suas antigas
tradição. opiniões e utiliza o método da dúvida até encontrar algo de
e) A dúvida metódica surge, no espírito humano, involuntariamente. firme e certo.
e) Descartes necessitou de solidão para investigar as suas
07. (UEL) Observe a tira e leia o texto a seguir: antigas opiniões e encontrar entre elas aquela que seria o
verdadeiro fundamento do conhecimento.

09. (UEL) O principal problema de Descartes pode ser formulado


do seguinte modo: “Como poderemos garantir que o nosso
conhecimento é absolutamente seguro?” Como o cético, ele parte
da dúvida; mas, ao contrário do cético, não permanece nela. Na
Meditação Terceira, Descartes afirma: “[...] engane-me quem puder,
ainda assim jamais poderá fazer que eu nada seja enquanto eu
(Macanudo. Folha de S. Paulo. Ilustrada E 7, segunda-feira, 27 jul. 2009.) pensar que sou algo; ou que algum dia seja verdade eu não tenha
jamais existido, sendo verdade agora que eu existo [...]”
(DESCARTES. René. “Meditações Metafísicas”. Meditação Terceira,
São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 182. Coleção Os Pensadores.)

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 57
FILOSOFIA 16 RACIONALISMO

Com base no enunciado e considerando o itinerário seguido por a) descobre que o verdadeiro conhecimento é o adquirido pelos
Descartes para fundamentar o conhecimento, é correto afirmar: sentidos.
a) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser discerníveis b) tem certeza de que ele é uma reunião de membros que se
pelos sentidos nem pela razão, já que ambos são falhos e chama corpo humano.
limitados, portanto o conhecimento seguro detém-se nas c) tem certeza de que ele é, ele existe, enquanto pensar ser
opiniões que se apresentam certas e indubitáveis. alguma coisa.
b) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apresenta-se d) afirma que ele é um ar tênue, disseminado por todos os seus
como algo relativo, tanto ao sujeito como às próprias coisas membros.
que são percebidas de acordo com as circunstâncias em que
ocorrem os fenômenos observados. e) descobre que o verdadeiro conhecimento é o adquirido pela fé.

c) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingência do


12. (UPE - SSA3) Considere o texto a seguir sobre o paradigma da
conhecimento, uma vez que somente as coisas percebidas por
Modernidade.
meio da experiência sensível possuem existência real.
d) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões que se pode
observar no debate perpétuo e universal sobre o conhecimento
das coisas, sendo a existência de Deus a única certeza que se
pode alcançar.
e) A condição necessária para alcançar o conhecimento seguro
consiste em submetê-lo sistematicamente a todas as
possibilidades de erro, de modo que ele resista à dúvida mais
obstinada.

10. (ENEM) TEXTO I


Não nos esqueçamos de outra não menos importante
Há já de algum tempo eu me apercebi de que, desde meus verdade histórica: a Revolução Científica foi profetizada por Bacon,
primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, realizada por Galileu, tematizada por Descartes, mas só concluída
e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal e sistematizada por Newton.
assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era (JAPIASSU, HIlton. Como Nasceu a Ciência Moderna.
necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer- Rio de Janeiro: Imago, 2007, p. 112. Adaptado.)
me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar
tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável. O autor acima retrata, com singularidade, alguns dos expoentes do
DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. pensamento moderno. Sobre esse assunto, assinale a alternativa
São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado). CORRETA.
TEXTO II a) Com a revolução galileana, a teologia ganha sua autonomia,
libertando-se da ciência.
É de caráter radical do que se procura que exige a radicalização
do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela b) O pensamento cartesiano adota uma atitude de dúvida
dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de metódica para bem conduzir a razão e procurar a verdade nas
alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente ciências.
nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa c) Galileu Galilei foi o verdadeiro fundador do método indutivo na
mesma dúvida. ciência da matemática.
SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. d) A ciência para Francis Bacon é teórica e contemplativa, tendo
São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).
o filósofo profetizado o papel da religiosidade no marco da
cientificidade.
A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para
viabilizar a reconstrução radical do conhecimento, deve-se e) O pensamento newtoniano, com direcionamento na física e na
matemática, não foi um marco essencial para a história e para
a) retomar o método da tradição para edificar a ciência com
a filosofia da ciência.
legitimidade.
b) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e
13. (UPE-SSA 2) Sobre a consciência crítica e a filosofia, analise o
concepções.
texto a seguir:
c) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos
Como relata Descartes no Discurso sobre o método, depois
esclarecidos.
de ter lançado tudo à dúvida, somente depois, tive de constatar
d) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e que, embora eu quisesse pensar que tudo era falso, era preciso
ultrapassados. necessariamente que eu, que assim pensava, fosse alguma coisa.
e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser E, observando que essa verdade – ‘penso, logo sou’ – era tão
questionados. firme e sólida que nenhuma das mais extravagantes hipóteses dos
céticos seria capaz de abalá-la.”
11. (UFSJ) "Suponho, portanto, que todas as coisas que vejo (REALE, Giovanni. História da Filosofia: Do Humanismo a Kant.

são falsas; persuado-me de que jamais existiu de tudo quanto São Paulo: Paulinas, 1990, p. 366).

minha memória referta de mentiras me representa; penso não


possuir nenhum sentido; creio que o corpo, a figura, a extensão, O autor do texto retrata alguns apontamentos sobre o pensamento
o movimento e o lugar são apenas ficções de meu espírito. O que cartesiano. Com relação a esse assunto, assinale a alternativa
poderá, pois, ser considerado verdadeiro?". CORRETA.
(DESCARTES, R. Meditação Segunda. In: ________ Meditações. São Paulo: Abril Cultural, a) As ideias de Descartes enfatizam que a dúvida tem valor
1979, p. 91 (Coleção Pensadores)). secundário sobre como conduzir bem sua razão.
b) O pensamento cartesiano afirma que não devemos rejeitar
Considerando o trecho acima, Descartes
como falso tudo aquilo do qual não podemos duvidar.

58 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
16 RACIONALISMO FILOSOFIA

c) O cartesianismo é um empirismo, ou seja, prioriza o valor dos A relação entre ser humano e natureza ressaltada no texto refletia a
sentidos no âmbito do conhecimento. permanência da seguinte corrente filosófica:
d) O pensamento de Descartes influenciou, efetivamente, o a) Relativismo cognitivo.
mundo cultural francês e retratou a significância do espírito b) Materialismo dialético.
crítico na investigação do conhecimento.
c) Racionalismo cartesiano.
e) O método racionalista prioriza a verdade da fé como critério da
cientificidade. d) Pluralismo epistemológico.
e) Existencialismo fenomenológico
14. (UEL) Leia o texto a seguir.
E se escrevo em francês, que é a língua de meu país, e não em 17. (ENEM 2019) TEXTO I
latim, que é a de meus preceptores, é porque espero que aqueles que Considero apropriado deter-me algum tempo na contemplação
se servem apenas de sua razão natural inteiramente pura julgarão deste Deus todo perfeito, ponderar totalmente à vontade seus
melhor minhas opiniões do que aqueles que não acreditam senão maravilhosos atributos, considerar, admirar e adorar a incomparável
nos livros dos antigos. E quanto aos que unem o bom senso ao beleza dessa imensa luz.
estudo, os únicos que desejo para meus juízes, não serão de modo DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
algum, tenho certeza, tão parciais a favor do latim que recusem
ouvir minhas razões, porque as explico em língua vulgar. TEXTO II
DESCARTES, R. Discurso do Método. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Jr. São Paulo: Qual será a forma mais razoável de entender como é o mundo?
Abril Cultural, 1973. Coleção “Os pensadores”. p. 79.
Existirá alguma boa razão para acreditar que o mundo foi criado
por uma divindade todo-poderosa? Não podemos dizer que a
Com base nos conhecimentos sobre Descartes e o surgimento da
crença em Deus é “apenas” uma questão de fé.
filosofia moderna, assinale a alternativa correta.
RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.
a) A língua vulgar, o francês, expressa de modo mais adequado
o espírito da modernidade por estar livre dos preconceitos da Os textos abordam um questionamento da construção da
língua dos doutos, o latim. modernidade que defende um modelo
b) Redigir o Discurso do Método em francês teve propósito similar a) centrado na razão humana.
à tradução da bíblia para o alemão feita por Lutero: facilitar o b) baseado na explicação mitológica.
acesso à sacralidade do texto em língua vulgar.
c) fundamentado na ordenação imanentista.
c) O desencantamento do mundo, resultante da radical crítica
cartesiana à tradição, teve como consequência o abandono da d) focado na legitimação contratualista.
referência à divindade. e) configurado na percepção etnocêntrica.
d) As ideias expressas por Descartes em seu Discurso do Método
refletem a postura tipicamente moderna de ruptura total com 18. (ENEM PPL 2015) Após ter examinado cuidadosamente todas
o passado. as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta
proposição, eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas
e) A razão natural inteiramente pura é um atributo inerente à
as vezes que a enuncio ou que a concebo em meu espírito.
natureza humana, independentemente da tradição ou da
DESCARTES, R. Meditações. Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
cultura à qual o humano se vincula.
A proposição “eu sou, eu existo” corresponde a um dos momentos
15. (UFU) Na obra Discurso sobre o método, René Descartes propôs um mais importantes na ruptura da filosofia do século XVII com os
novo método de investigação baseado em quatro regras fundamentais, padrões da reflexão medieval, por
inspiradas na geometria: evidência, análise, síntese, controle.
a) estabelecer o ceticismo como opção legítima.
Assinale a alternativa que contenha corretamente a descrição das
regras de análise e síntese. b) utilizar silogismos linguísticos como prova ontológica.

a) A regra da análise orienta a enumerar todos os elementos c) inaugurar a posição teórica conhecida como empirismo.
analisados; a regra da síntese orienta decompor o problema d) estabelecer um princípio indubitável para o conhecimento.
em seus elementos últimos, ou mais simples. e) Questionar a relação entre a filosofia e o tema da existência
b) A regra da análise orienta a decompor cada problema em seus de Deus.
elementos últimos ou mais simples; a regra da síntese orienta
ir dos objetos mais simples aos mais complexos. 19. (UNICAMP 2014) A dúvida é uma atitude que contribui
c) A regra da análise orienta a remontar dos objetos mais simples para o surgimento do pensamento filosófico moderno. Neste
até os mais complexos; a regra da síntese orienta prosseguir comportamento, a verdade é atingida através da supressão provisória
dos objetos mais complexos aos mais simples. de todo conhecimento, que passa a ser considerado como mera
opinião. A dúvida metódica aguça o espírito crítico próprio da Filosofia.
d) A regra da síntese orienta a acolher como verdadeiro apenas
(Adaptado de Gerd A. Bornheim, Introdução ao filosofar.
aquilo que é evidente; a regra da análise orienta descartar o que Porto Alegre: Editora Globo, 1970, p. 11.)
é evidente e só orientar-se, firmemente, pela opinião.
A partir do texto, é correto afirmar que:
16. (ENEM) Dizem que Humboldt, naturalista do século XIX, a) A Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e verdade
maravilhado pela geografia, flora e fauna da região sul-americana, são conceitos equivalentes.
via seus habitantes como se fossem mendigos sentados sobre
b) A dúvida é necessária para o pensamento filosófico, por ser
um saco de ouro, referindo-se a suas incomensuráveis riquezas
espontânea e dispensar o rigor metodológico.
naturais não exploradas. De alguma maneira, o cientista ratificou
nosso papel de exportadores de natureza no que seria o mundo c) O espírito crítico é uma característica da Filosofia e surge
depois da colonização ibérica: enxergou-nos como territórios quando opiniões e verdades são coincidentes.
condenados a aproveitar os recursos naturais existentes. d) A dúvida, o questionamento rigoroso e o espírito crítico são
ACOSTA, A. Bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo: fundamentos do pensamento filosófico moderno.
Elefante, 2016 (adaptado).

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 59
FILOSOFIA 16 RACIONALISMO

20. (UNESP 2018) De um lado, dizem os materialistas, a mente é um formarão sempre o número cinco e o quadrado nunca terá mais do
processo material ou físico, um produto do funcionamento cerebral. De que quatro lados; e não parece possível que verdades tão patentes
outro lado, de acordo com as visões não materialistas, a mente é algo possam ser suspeitas de alguma falsidade ou incerteza.
diferente do cérebro, podendo existir além dele. Ambas as posições DESCARTES. Meditações, Meditação Primeira. Trad. de J. Guinsburg e Bento Prado
estão enraizadas em uma longa tradição filosófica, que remonta pelo Júnior. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1983. p. 87. (Os Pensadores)
menos à Grécia Antiga. Assim, enquanto Demócrito defendia a ideia
de que tudo é composto de átomos e todo pensamento é causado Nesse trecho, o autor encontra nas matemáticas - aritmética e
por seus movimentos físicos, Platão insistia que o intelecto humano é geometria - um conjunto de crenças que, à primeira vista, resistem
imaterial e que a alma sobrevive à morte do corpo. à sua resolução de se desfazer de todas as antigas convicções,
(Alexander Moreira-Almeida e Saulo de F. Araujo. “O cérebro produz a mente?: um
submetendo-as ao preceito metódico de tomar por falso tudo o que
levantamento da opinião de psiquiatras”. www.archivespsy.com, 2015.) não seja absolutamente indubitável. Por meio de uma suposição,
entretanto, Descartes será capaz de colocar em dúvida também as
A partir das informações e das relações presentes no texto, conclui- verdades matemáticas.
se que a) Apresente essa suposição.
a) a hipótese da independência da mente em relação ao cérebro b) Explique por que tal suposição é necessária para se estender a
teve origem no método científico. dúvida ao conhecimento matemático.
b) a dualidade entre mente e cérebro foi conceituada por
Descartes como separação entre pensamento e extensão. 05. (UFU 2013) Suporei, portanto, que há não um Deus ótimo, fonte
c) o pensamento de Santo Agostinho se baseou em hipóteses soberana da verdade, mas algum gênio maligno, e ao mesmo tempo,
empiristas análogas às do materialismo. sumamente poderoso e manhoso, que põe toda a sua indústria em
d) os argumentos materialistas resgatam a metafísica platônica, que me engane: pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras,
favorecendo hipóteses de natureza espiritualista. os sons e todas as coisas externas nada mais são do que ludíbrios
dos sonhos, ciladas que ele estende à minha credulidade.
e) o progresso da neurociência estabeleceu provas objetivas para DESCARTES, R. Meditações sobre Filosofia Primeira. Primeira Meditação /12/, Tradução
resolver um debate originalmente filosófico. de Fausto Castilho. Campinas: IFCH-Unicamp, 1999, p. 25

a) Qual é, para Descartes, a relação existente entre o gênio


EXERCÍCIOS DE maligno e a coisa pensante (Res cogitans)?

APROFUNDAMENTO b) Que argumento é utilizado por Descartes para afirmar a


existência do Mundo?

01. (UEL 2015) Leia o texto a seguir.


GABARITO
Segundo Descartes, o bom método é aquele que nos permite
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
conhecer o maior número possível de coisas, com o menor número
de regras. Deste modo, ele pretende estabelecer um método 01. A 05. D 09. E 13. D 17. A

universal inspirado no rigor da matemática e no encadeamento 02. D 06. A 10. B 14. E 18. D
racional. Para ele, pautado no ideal matemático, o método deve 03. E 07. E 11. C 15. B 19. D
converter-se em uma mathesis universalis: conhecimento 04. A 08. D 12. B 16. C 20. B
completo e inteiramente dominado pela razão. EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
Adaptado de: JAPIASSU, H. “O racionalismo cartesiano”. In: REZENDE, A. (org.) Curso de 01. No “Discurso do Método”, Descartes está preocupado em encontrar o caminho para
Filosofia. 14.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p.104-105. “conduzir bem a razão”. Seu propósito é afastar-se das incertezas do conhecimento. Para
atingir esse objetivo deve-se evitar o incerto e o duvidoso, o que somente pode ocorrer se
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o Discurso do agirmos sob a condução de um método adequado. É com esse propósito que Descartes
apresenta as regras ou preceitos do método. Seu método consiste em quatro partes,
Método, de Descartes, enumere e descreva as quatro regras
sendo elas.
apresentadas pelo filósofo para o método.
1. Regra da evidência - acolher como verdadeiro apenas aquilo que, para ser
conhecido, seja evidente, o que não for passível de dúvida;
02. (UDESC 2010) Qual é o sentido filosófico da famosa expressão 2. Regra da análise - dividir as dificuldades em partes para examiná-las para entender
formulada por Descartes, “Penso, logo existo”? melhor as dificuldades para acessar o problema;
3. Regra da síntese - partir do mais simples para, aos poucos, chegar ao mais
complexo;
03. (UFPR 2012) Na Quarta Parte do Discurso do Método,
4. Regra da enumeração - fazer enumerações e revisões completas para nada ficar
Descartes afirma: de fora.
"Pois, enfim, quer estejamos em vigília, quer dormindo, nunca 02. Esta afirmação corresponde à primeira verdade irrefutável que Descartes chega em seu
nos devemos deixar persuadir se não pela evidência de nossa ceticismo metodológico. Partindo da dúvida metódica (que duvida da existência de todas as
coisas), Descartes procura alcançar uma verdade primeira e irrefutável. A partir do momento
razão. E deve-se observar que digo de nossa razão e de modo que ele duvida, ele pode afirmar que pensa. A frase ficaria mais compreensível como “duvido,
algum de nossa imaginação, ou de nossos sentidos". logo penso, logo existo”. O ato de duvidar e, consequentemente, de pensar é a afirmação do
ser enquanto ser pensante (res cogitans), mais real e verdadeiro que a matéria (res extensa).
Por que, para Descartes, não devemos nos deixar guiar nem pela
03. Segundo Descartes, tanto a imaginação quanto os sentidos são fontes de erro. Para
imaginação nem pelos sentidos? ele, somente os conhecimentos adquiridos pela razão, segundo um método adequado,
são credíveis e verdadeiros. Não por acaso, a teoria cartesiana corresponde ao principal
exemplo do racionalismo moderno.
04. (UFMG 2012) Leia este trecho:
04.
Eis por que, talvez, daí nós não concluamos mal se dissermos a. Descartes supõe a existência de um Deus enganador ou Gênio Maligno capaz de
que a Física, a Astronomia, a Medicina, e todas as outras ciências enganar o homem em todas as suas ideias.
dependentes da consideração das coisas compostas são muito b. O conhecimento matemático não surge a partir dos sentidos, existindo de forma
duvidosas e incertas; mas que a Aritmética, a Geometria, e as outras a priori, ainda que o homem não pense. Sua verdade não tem origem no homem,
mas em algo que lhe é superior. Nesse sentido, as verdades matemáticas somente
ciências desta natureza, que não tratam senão de coisas muito podem ser falsas se Deus ou um Gênio Maligno enganarem o homem. Segundo
simples e muito gerais, sem cuidarem muito em se elas existem esse artifício, Descartes é capaz de colocar todas as verdades em dúvida para, a
ou não na natureza, contêm alguma coisa de certo e indubitável. partir daí, chegar a uma verdade indubitável: a verdade do cogito e de que existe
enquanto ser pensante.
Pois, quer eu esteja acordado, quer esteja dormindo, dois mais três

60 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
16 RACIONALISMO FILOSOFIA

05.
a. A primeira meditação pretende estabelecer uma dúvida forte sobre todas as coisas.
A finalidade deste estabelecimento é forçar o encontro com um conhecimento forte
o bastante para aguentar a contundência de tal dúvida e superá-la. O gênio maligno
e o Deus enganador possuem a mesma função, porém como diz Gérard Lebrun na
nota 21 do texto das meditações:
“o gênio maligno é um artifício psicológico que, impressionando mais a minha
imaginação, levar-me-á a tomar a dúvida mais a sério e a inscrevê-la melhor em
minha memória (“é preciso ainda que cuide de lembrar-me dela”)”. (R. Descartes.
Meditações. In Coleção Os pensadores. São Paulo : Abril Cultural, 1979, p. 88)
Sendo assim, torna-se claro que a função do gênio maligno é, como artifício
psicológico, manter a dúvida a respeito de tudo na sua última consequência e
garantir que esta nulidade de conhecimentos seguros não seja esquecida. Porém,
é esse mesmo gênio maligno que me iludindo a respeito de tudo não consegue me
fazer duvidar de que algo é iludido enquanto pensa, isto é, não consegue me fazer
duvidar desta res cogitans.
b. O mundo exterior é derivado, segundo a filosofia cartesiana, da existência de Deus,
isto é, o ser perfeitíssimo que só pode ser assim caso ele seja maior do que a ideia
dele possuída pela res cogitans. A coisa pensante estaria encerrada em si mesma
se não houvesse nela uma ideia de Deus, e como esta ideia existe então o mundo
exterior pode começar a ser investigado com alguma segurança.

ANOTAÇÕES

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 61
FILOSOFIA 16 RACIONALISMO

62 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
17
FILOSOFIA
EMPIRISMO

OS EMPIRISTAS • Conhecimento de Ideias – proposições cuja verdade pode


ser conhecida por simples análise lógica do significado das
Indo em sentido oposto às visões racionalistas, vamos ter ideias. A relação de verdade é completamente independente
uma larga representação e disputa com os autores empiristas. da experiência: podemos conhecer sem necessidade
O empirismo é uma corrente que acredita que o conhecimento é de recorrer às impressões, isto é, ao confronto com a
possível e originado através dos sentidos, contrariando a visão experiência. Ex.: “O quadrado tem 4 lados”.
de Descartes que considera a razão como única fonte legítima
• Conhecimento de Impressões – proposições cuja
de conhecimento. Para os empiristas a única fonte passível de
verdade só pode ser conhecida mediante a experiência,
conhecimento está nos sentidos, na experiência.
isto é, temos de observar o mundo dos fatos para
verificar se elas são verdadeiras ou falsas, isto é, a
JOHN LOCKE sua verdade ou falsidade só pode ser determinada a
posteriori. Ex.: “Esta mesa é preta”.
O empirismo é a noção de que o conhecimento passa
inicialmente pelos sentidos, como base e fundamento prioritário David Hume expressa também um problema da causalidade.
a razão, não representando real fonte ou estando um papel Hume não estabelece e não crê na causalidade de fatos. Exemplo:
secundário, como demonstra John Locke. O  autor inglês um fato A, que sempre ocorreu originado por um fato B, nada
começa sua contraposição ao racionalismo criticando a visão garante que esses acontecimentos vão se repetir infinitamente. O
de existência das “ideias inatas”. Descartes acreditava que maior exemplo usado por Hume é o nascer do sol, apesar de nascer
algumas ideias são presentes e inatas ao indivíduo, visão negada todos os dias, não existem garantias do nascimento amanhã.
por Locke, que considera que somos uma “tábula rasa”, sem
nenhum conhecimento prévio, sendo amplamente preenchidos
pela experiência.
A visão da “tábula rasa” fundamentada por Locke é
extremamente famosa dentro da Filosofia, por criticar um dos
conceitos básicos do ideário racionalista. Se somos uma folha
em branco, isso significa que todo e qualquer conhecimento
que possuímos foi adquirido ao longo do tempo, não tendo
influências prévias.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1c/Allan_Ramsay_-_David_
Hume%2C_1711_-_1776._Historian_and_philosopher_-_Google_Art_Project.jpg

O princípio de causalidade, um princípio racional, nada mais é


do que uma crença, o produto de um hábito, acreditamos no nascer
do sol pelo fato de vermos esse fato ser repetido historicamente,
mas o fato de não termos vivenciado ainda o dia seguinte, segundo
Hume, não torna possível afirmar com certeza que irá acontecer.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d1/JohnLocke.png
FRANCIS BACON
Porém, isso não significa que Locke considera a razão sendo Em o “Novum Organum”, o filósofo inicia os passos de um
descartável ou não necessária. O autor liberal acredita que devemos método, que tendo o experimento como meio, permitiria que se
sair do nosso inatismo natural, que para ele seria a recepção não chegasse a um conhecimento seguro e verdadeiro. Sendo base
crítica dos conhecimentos que conseguimos pelos sentidos. É para a crença de um conhecimento empírico, totalmente baseado
importante usar esses conhecimentos e ampliá-los através do uso na experimentação.
da razão, a qual seria subordinada aos conhecimentos gerados
pela experiência sensível.

DAVID HUME
David Hume é chamado de empirista radical, leva a reflexão
empírica ao processo máximo, duvidando de qualquer relação
existente fora da experiência do ser. Hume busca estabelecer
princípios que organizem os acontecimentos na mente do indivíduo,
dividindo em impressões e ideias.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5f/Francis_Bacon_filosofo.jpg

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 1
FILOSOFIA 17 EMPIRISMO

O filósofo foi considerado por muitos como o “fundador da a) Empirismo X Criticismo


ciência moderna”, “o criador do método experimental”. Bacon b) Ceticismo X Existencialismo
propunha-se a entender quais seriam os entraves (ídolos) da
mente humana, que atrapalhavam o desenvolvimento produtivo c) Empirismo X Racionalismo
das ciências, para enfim, poder propor e aplicar seu novo método. d) Racionalismo X Existencialismo
• Ídolos da Tribo: “se alicerçam na própria natureza humana e) Racionalismo X Ceticismo
e na própria família humana ou tribo”.
• Ídolos da Caverna: são advindos de cada indivíduo quando 03. (UNICAMP) A maneira pela qual adquirimos qualquer
preso a uma espécie de caverna pessoal. conhecimento constitui sufi ciente prova de que não é inato.
LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p.13.
• Ídolos do Foro: são ídolos, que através das palavras,
penetram no intelecto. O empirismo, corrente filosófica da qual Locke fazia parte,
• Ídolos do Teatro: ocorrem pela adesão a diversas a) afirma que o conhecimento não é inato, pois sua aquisição
doutrinas filosóficas e por causa das péssimas regras de deriva da experiência.
demonstração delas.
b) é uma forma de ceticismo, pois nega que os conhecimentos
possam ser obtidos.
EXERCÍCIOS c) aproxima-se do modelo científico cartesiano, ao negar a

PROTREINO
existência de ideias inatas.
d) defende que as ideias estão presentes na razão desde o
nascimento
01. Aponte as duas principais fontes do conhecimento para os
autores empiristas. 04. (UFAL) O Racionalismo e o Empirismo, correntes filosóficas do
02. Defina a ideia de “tábula rasa”, segundo Locke. denominado pensamento moderno, tiveram em comum:
a) a preocupação com o problema do conhecimento acerca da
03. Aponte a razão pela qual David Hume ser chamado de “empirista
realidade, embora por métodos distintos.
radical”.
b) o interesse especulativo com vistas à elaboração da teologia
04. Aponte, na teoria de Bacon, as principais características do método católica.
experimental.
c) a compreensão da Filosofia como uma disciplina exata e
05. Aponte o significado de “ídolos” segundo o pensamento de Francis resultante da experiência.
Bacon. d) a sua filiação aos pressupostos fundamentais do pensamento
grego original.
e) a vinculação aos princípios da filosofia crítica do Iluminismo.

05. (ENEM 2ª APLICAÇÃO) Pode-se admitir que a experiência


EXERCÍCIOS
passada dá somente uma informação direta e segura sobre
PROPOSTOS determinados objetos em determinados períodos do tempo, dos quais
ela teve conhecimento. Todavia, é esta a principal questão sobre a qual
01. (UNCISAL) No período moderno, emergiu uma escola filosófica gostaria de insistir: por que esta experiência tem de ser estendida a
que pôs em questão as concepções inatistas e metafísicas tempos futuros e a outros objetos que, pelo que sabemos, unicamente
de conhecimento. Para os filósofos partidários dessa escola, são similares em aparência. O pão que outrora comi alimentou-me,
o conhecimento é sempre decorrente da experiência, jamais isto é, um  corpo dotado de tais qualidades sensíveis estava, a este
podendo existir ideias inatas. O nome dessa corrente filosófica, tempo, dotado de tais poderes desconhecidos. Mas, segue-se daí
bem como o nome de um de seus filósofos representativos são, que este outro pão deve também alimentar-me como ocorreu na
respectivamente: outra vez, e que qualidades sensíveis semelhantes devem sempre ser
acompanhadas de poderes ocultos semelhantes? A consequência
a) inatismo; Descartes. d) empirismo; Locke. não parece de nenhum modo necessária.
b) idealismo; Kant. e) metafísica; Platão. HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.
c) escolástica; Santo Agostinho.
O problema descrito no texto tem como consequência a
02. (UENP) A charge abaixo retrata a oposição epistemológica a) universabilidade do conjunto das proposições de observação.
de duas escolas filosóficas cujos iniciadores podem ser b) normatividade das teorias científicas que se valem da experiência.
considerados, respectivamente, Francis Bacon e René Descartes. c) dificuldade de se fundamentar as leis científicas em bases
Assinale a alternativa correta empíricas.
d) inviabilidade de se considerar a experiência na construção
da ciência.
e) correspondência entre afirmações singulares e afirmações
universais.

06. (UFSJ) Sobre os ídolos preconizados por Francis Bacon, é


correto afirmar que:
a) “A consequência imediata da ação dos ídolos é a inscrição do
Homem num universo de massacre e sofrimento racional-
indutivo, onde o conhecimento científico se distancia da
filosofia, se deteriora e se amesquinha”.

2 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
17 EMPIRISMO FILOSOFIA

A figura do homem que triunfa sobre a natureza bruta (Fig. 5) é


b) “Toda idolatria é forjada no hábito e na subjetividade humanos”.
significativa para se pensar a filosofia de Francis Bacon (1561-
c) “Os ídolos invadem a mente humana e para derrogá-los, é 1626). Com base no pensamento de Bacon, considere as
necessário um esforço racional-dedutivo de análise, como afirmativas a seguir.
bem advertiu Aristóteles”.
I. O homem deve agir como intérprete da natureza para melhor
d) “Os ídolos da caverna são os homens enquanto indivíduos, pois conhecê-la e dominá-la em seu benefício.
cada um [...] tem uma caverna ou uma cova que intercepta e
II. O acesso ao conhecimento sobre a natureza depende da
corrompe a luz da natureza”.
experiência guiada por método indutivo.

07. (UEL) III. O verdadeiro pesquisador da natureza é um homem que


parte de proposições gerais para, na sequência e à luz destas,
[...] chamamos esses lugares de regiões superiores. [...] Tais clarificar as premissas menores.
torres, conforme sua altura e posição, servem para experimentos
de isolamento, refrigeração e conservação, e para as observações IV. Os homens de experimentos processam as informações à luz
atmosféricas, como o estudo dos ventos, da chuva, da neve, de preceitos dados a priori pela razão.
granizo e de alguns meteoros ígneos. Assinale a alternativa correta.
(BACON, F. Nova Atlântida. São Paulo: Nova Cultural. 1997. P; 246.) a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
De acordo com o texto e os conhecimentos sobre os subtemas,
pode-se afirmar que o pensamento de Francis Bacon: c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
a) reconhece e valoriza o distanciamento da realidade preconizado d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
pelos autores da escolástica. e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.
b) rejeita a máxima “saber é poder” e compreende a ciência como
meio de controle sobre os seres humanos. 09. (UFF) Segundo o filósofo inglês Francis Bacon (1561- 1626),
c) está voltado para o problema do método e para a defesa da o ser humano tem o direito de dominar a natureza e as técnicas;
experimentação. as ciências são os meios para exercer esse poder.
d) considera o acesso à verdade como um processo que resulta Que processo histórico pode ser diretamente associado a essas ideias?
do método dialético e que parte dos dados gerais para chegar a) Os ideais de retorno à vida natural.
ao particular. b) O bloqueio continental imposto à Europa por Napoleão Bonaparte.
e) estrutura, assim como de Platão, sua “utopia política”, tendo c) A Contrarreforma promovida pela Igreja Católica.
como base a sociedade organizada em trabalhadores,
soldados e governantes. d) O surgimento do estilo barroco nas artes.
e) A Revolução Industrial.
08. (UEL)
10. (PUC-PR) “Ciência e poder do homem coincidem, uma vez que,
sendo a causa ignorada, frustra-se o efeito. Pois a natureza não
se vence, se não quando se lhe obedece. E o que à contemplação
apresenta‑se como causa é regra na prática.”
Fonte: BACON. Novum Organum..., São Paulo: Nova Cultural, 1999, p.40.

Tendo em vista o texto acima, assinale a alternativa correta.


a) Bacon estabelece que a melhor maneira de explicar os
fenômenos naturais é recorrer aos princípios inatos da razão.
b) Através do conhecimento científico, o homem aprende a
aceitar o domínio dos princípios metafísicos de causalidade
sobre a natureza.
c) O conhecimento da natureza depende do poder do homem.
Assim um rei conhece mais sobre a natureza do que um
pobre estudante.
d) Através da contemplação - observação – da natureza o
homem aprende a conhecê-la e, então, reúne condições
para dominar a natureza.
e) Devemos ser práticos e obedecer à natureza, pois o
conhecimento das relações de causa e efeito é impossível
e sempre frustrante.

11. (ENEM) Todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais


do que a faculdade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os
materiais que nos fornecem os sentidos e a experiência. Quando
pensamos em uma montanha de ouro, não fazemos mais do
que juntar duas ideias consistentes, ouro e montanha, que já
conhecíamos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, porque
somos capazes de conceber a virtude a partir de nossos próprios
sentimentos, e podemos unir a isso a figura e a forma de um cavalo,
animal que nos é familiar.
HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 3
FILOSOFIA 17 EMPIRISMO

Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impressão ao seguido de outro, e cujo aparecimento sempre conduz o
considerar que pensamento àquele outro. Mas, não temos ideia dessa conexão,
a) os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação. nem sequer uma noção distinta do que é que desejamos saber
quando tentamos concebê-las.
b) o espírito é capaz de classificar os dados da percepção sensível.
Adaptado de: HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano e sobre os
c) as ideias fracas resultam de experiências sensoriais determinadas princípios da moral. Seção VII, 29. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo:
UNESP, 2004. p. 115
pelo acaso.
d) os sentimentos ordenam como os pensamentos devem ser Com base no texto e nos conhecimentos acerca das noções de
processados na memória. causa e efeito em David Hume, assinale a alternativa correta.
e) as ideias têm como fonte específica o sentimento cujos dados a) As noções de causa e efeito fazem parte da realidade e por isso
são colhidos na empiria. os fenômenos do mundo são explicados através da indicação
da causa.
12. (UECE – ADAPTADA ) Leia atentamente o seguinte excerto: b) A presença do efeito revela a causa nele envolvida, o que
“A liberdade do homem em sociedade consiste em não garante a explicação de determinado acontecimento.
estar submetido a nenhum outro poder legislativo senão àquele c) A causa e o efeito são noções que se baseiam na experiência e,
estabelecido no corpo político mediante consentimento, nem sob por meio dela, são apreendidas.
o domínio de qualquer vontade ou sob a restrição de qualquer lei
afora as que promulgar o poder legislativo, segundo o encargo a d) A causa e o efeito são conhecidos objetivamente pela mente e
este confiado”. não por hábitos formados pela percepção do mundo.
Considerando a definição de liberdade do homem em sociedade, e) A causa e o efeito proporcionam, necessariamente, explicações
de John Locke, marque a alternativa correta: válidas sobre determinados fatos e acontecimentos.
a) A concepção de liberdade do homem em sociedade de Locke
15. (UFSJ) Os termos “impressões” e “ideias”, para David Hume,
elimina totalmente o direito de cada um de agir conforme a
são, respectivamente, por ele definidos como
sua vontade.
a) “nossas percepções mais fortes, tais como nossas sensações,
b) A concepção de liberdade do homem em sociedade de Locke
afetos e sentimentos; percepções mais fracas ou cópias
consiste em viver sob a restrição das leis promulgadas pelo
daquelas na memória e imaginação”.
poder executivo.
b) “aquilo que se imprime à memória e nos permite ativar a
c) A concepção de liberdade do homem em sociedade de Locke
imaginação; lampejos inéditos sobre o objeto e sua natureza”.
consiste em viver segundo uma regra permanente e comum
que todos devem obedecer. c) “o que fica impresso na memória independentemente da força:
ação de criar a partir do dado sensorial”.
d) A concepção de liberdade do homem em sociedade de Locke
consiste em viver sob a restrição das leis promulgadas pelo d) “vaga noção do sensível; raciocínio com força de lei que
poder judiciário. legitima a natureza no âmbito da razão”.
e) A concepção de liberdade do homem em sociedade de Locke
consiste em viver segundo as ordens de um monarca. 16. (ENEM)
TEXTO I
13. (ENEM PPL) Quando analisamos nossos pensamentos Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos,
ou ideias, por mais complexos e sublimes que sejam, sempre e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos
descobrimos que se resolvem em ideias simples que são cópias enganou uma vez.
de uma sensação ou sentimento anterior. Mesmo as ideias que, DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
à primeira vista, parecem mais afastadas dessa origem mostram,
a um exame mais atento, ser derivadas dela. TEXTO II
HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1973
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia
esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisaremos
Depreende-se deste excerto da obra de Hume que o conhecimento
apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se
tem a sua gênese na
for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso
a) convicção inata. servirá para confirmar nossa suspeita.
b) dimensão apriorística. HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).

c) elaboração do intelecto.
Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza
d) percepção dos sentidos. do conhecimento humano. A comparação dos excertos permite
e) realidade transcendental. assumir que Descartes e Hume
a) defendem os sentidos como critério originário para considerar
14. (UEL) Leia o texto a seguir. um conhecimento legítimo.
Podemos definir uma causa como um objeto, seguido de b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de
outro, tal que todos os objetos semelhantes ao primeiro são uma ideia na reflexão filosófica e crítica.
seguidos por objetos semelhantes ao segundo. Ou, em outras c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do
palavras, tal que, se o primeiro objeto não existisse, o segundo conhecimento.
jamais teria existido. O aparecimento de uma causa sempre
conduz a mente, por uma transição habitual, à ideia do efeito; d) concordam que conhecimento humano é impossível em
disso também temos experiência. relação às ideias e aos sentidos.

Em conformidade com essa experiência, podemos, portanto, e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo
formular uma outra definição de causa e chamá-la um objeto de obtenção do conhecimento.

4 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
17 EMPIRISMO FILOSOFIA

17. (ENEM PPL) O contrário de um fato qualquer é sempre possível, 20. (UFU) Hume descreveu a confiança que o entendimento
pois, além de jamais implicar uma contradição, o espírito o concebe humano deposita na probabilidade dos resultados dos eventos
com a mesma facilidade e distinção como se ele estivesse em observados na natureza. Ele comparou essa convicção ao
completo acordo com a realidade. Que o Sol não nascerá amanhã lançamento de dados, cujas faces são previamente conhecidas,
é tão inteligível e não implica mais contradição do que a afirmação porém, nas palavras do filósofo:
de que ele nascerá. Podemos em vão, todavia, tentar demonstrar [...] verificando que maior número de faces aparece mais em
sua falsidade de maneira absolutamente precisa. Se ela fosse um evento do que no outro, o espírito [o entendimento humano]
demonstrativamente falsa, implicaria uma contradição e o espírito converge com mais frequência para ele e o encontra muitas
nunca poderia concebê-la distintamente, assim como não pode vezes ao considerar as várias possibilidades das quais depende o
conceber que 1 + 1 seja diferente de 2. resultado definitivo.
HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. Tradução de Anoar Aiex.
São Paulo: Nova Cultural, 1999 (adaptado). São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 93. Coleção “Os Pensadores”.

O filósofo escocês David Hume refere-se a fatos, ou seja, a eventos Esse tipo de raciocínio, descrito por Hume, conduz o entendimento
espaço-temporais, que acontecem no mundo. Com relação ao humano a uma situação distinta da certeza racional, uma espécie
conhecimento referente a tais eventos, Hume considera que os de “falha”, representada pelo(a)
fenômenos
a) verdade da fantasia, que é superior à certeza racional.
a) acontecem de forma inquestionável, ao serem apreensíveis
pela razão humana. b) crença, que ocupa o lugar da certeza racional.

b) ocorrem de maneira necessária, permitindo um saber próximo c) sentido visual, que é mais verídico que a certeza sensível.
ao de estilo matemático. d) ideia inata, que atua como o a priori da razão humana.
c) propiciam segurança ao observador, por se basearem em
dados que os tornam incontestáveis.
d) devem ter seus resultados previstos por duas modalidades de EXERCÍCIOS DE
provas, com conclusões idênticas. APROFUNDAMENTO
e) exigem previsões obtidas por raciocínio, distinto do
conhecimento baseado em cálculo abstrato. 01. (UNESP) Segundo John Locke, filósofo britânico do século XVII,
a mente humana é como uma tábula rasa, uma folha em branco
18. (UNESP) Posto que as qualidades que impressionam na qual a experiência deixa suas marcas. Responda a qual escola
nossos sentidos estão nas próprias coisas, é claro que as ideias filosófica ele pertenceu e explique duas de suas características.
produzidas na mente entram pelos sentidos. O entendimento não
tem o poder de inventar ou formar uma única ideia simples na 02. (UEL) Leia o texto a seguir.
mente que não tenha sido recebida pelos sentidos. Gostaria que
Hume considerou não haver nenhuma razão para supor
alguém tentasse imaginar um gosto que jamais impressionou
que, dado o que se chama um “efeito”, deva haver uma causa
seu paladar, ou  tentasse formar a ideia de um aroma que nunca
invariavelmente unida a ele. Observamos sucessões de
cheirou. Quando puder fazer isso, concluirei também que um cego
fenômenos: à noite sucede o dia, ao dia, a noite etc.; sempre que
tem ideias das cores, e um surdo, noções reais dos diversos sons.
se solta um objeto, ele cai no chão etc. Diante da regularidade
(John Locke. Ensaio acerca do entendimento humano, 1991. Adaptado.)
observada, concluímos que certos fenômenos são causas e
outros, efeitos. Entretanto, podemos afirmar somente que um
De acordo com o filósofo, todo conhecimento origina-se
acontecimento sucede a outro – não podemos compreender que
a) da reminiscência de ideias originalmente transcendentes. haja alguma força ou poder pelo qual opera a chamada “causa”, e
b) da combinação de ideias metafísicas e empíricas. não podemos compreender que haja alguma conexão necessária
c) de categorias a priori existentes na mente humana. entre semelhante “causa” e seu suposto “efeito”.
(FERRATER-MORA, J. Dicionário de Filosofia, Tomo I, São Paulo: Loyola, 2000, p.427.)
d) da experiência com os objetos reais e empíricos.
e) de uma relação dialética do espírito humano com o mundo. a) Com base na filosofia de Hume, explique a importância
do conceito de causalidade para o conhecimento dos
19. (UECE) Johannes Hessen afirma, sobre o empirismo e o fenômenos naturais.
racionalismo na modernidade, que “quem enxerga no pensamento b) Explicite a leitura que Hume faz do empirismo.
humano, na razão, o único fundamento do conhecimento, está
convencido da independência e especificidade psicológica do
03. (UNESP)
processo de pensamento. Por outro lado, quem fundamenta todo
conhecimento na experiência negará independência, mesmo sob o Texto 1
aspecto psicológico, ao pensamento”. Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de
HESSEN, J. Teoria do conhecimento. Trad. João Vergílio Gallerani Cuter. sua forma de explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural,
São Paulo: Martins Fontes, 2012, p. 48.
ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas dos fenômenos
naturais, aquilo que acontece aos homens, tudo é governado por
Relacione empirismo e racionalismo à descrição apresentada por
uma realidade exterior ao mundo humano e natural, a qual só os
Hessen e assinale a afirmação verdadeira.
sacerdotes, os magos, os iniciados são capazes de interpretar.
a) Racionalista é quem entende que o conhecimento depende Os sacerdotes, os rituais religiosos, os oráculos servem como
psicologicamente de fatos extra mentais. intermediários, pontes entre o mundo humano e o mundo
b) Empiristas fundamentam todo seu conhecimento na capacidade divino. Os cultos e os sacrifícios religiosos encontrados nessas
da razão humana. sociedades são, assim, formas de se agradecer esses favores ou
de se aplacar a ira dos deuses.
c) Empirista baseia o conhecimento na experiência e o racionalista
entende que a razão é o fundamento do conhecimento. (Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001. Adaptado.)

d) Racionalista baseia o conhecimento na experiência e o empirista


entende que a razão é o fundamento do conhecimento.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 5
FILOSOFIA 17 EMPIRISMO

Texto 2 Duas características do empirismo:


1. Nossos conhecimentos começam com a experiência dos sentidos, isto é, com as
Ao longo da história, a corrente filosófica do Empirismo foi sensações. Os objetos exteriores excitam nossos sentidos e vemos cores, sentimos
associada às seguintes características: 1. Negação de qualquer sabores e odores, ouvimos sons, sentimos a diferença entre o áspero e o liso, o quente
conhecimento ou princípio inato, que deva ser necessariamente e o frio, etc.
reconhecido como válido, sem nenhuma confirmação ou verificação. 2. As ideias trazidas pela experiência, isto é, pela sensação, pela percepção e pelo
hábito, são levadas à memória e, de lá, a razão as apanha para formar os pensamentos.
2. Negação do ‘suprassensível’, entendido como qualquer realidade
02.
não passível de verificação e aferição de qualquer tipo. 3. Ênfase
na importância da realidade atual ou imediatamente presente aos a) Hume aponta o conceito de causalidade como importante para a geração do
conhecimento extraído da experiência. O conhecimento empírico apreende a relação
órgãos de verificação e comprovação, ou seja, no fato: essa ênfase causal dos fenômenos naturais, sendo que pela maneira habitual de se conceber a
é consequência do recurso à evidência sensível. constância e a regularidade do dinamismo próprio da natureza que obtemos qualquer
conhecimento sensível. Logo, o conhecimento empírico é formado pela constatação da
(Nicola Abbagnano. Dicionário de filosofia, 2007. Adaptado.)
relação de causalidade existente entre os fenômenos da natureza, o que permite dizer
que sem a causalidade não haveria como processar o conhecimento empírico.
Com base nos textos apresentados, comente a oposição entre o b) As reflexões de Hume sobre o empirismo demonstram a existência de um
pensamento mítico e a corrente filosófica do empirismo. ceticismo mitigado quanto à possibilidade de a experiência constituir-se em
fundamento último do conhecimento. O conhecimento empírico, em última
instância, baseia-se na crença de que a repetição constante de causas semelhantes
04. (UNESP) gera efeitos semelhantes. Essa compreensão resulta na convicção de que relações
causais observadas no passado garantem repetição “certa” no futuro. Isso, segundo
Suponhamos, pois, que a mente é um papel em branco, Hume, não passaria de crença, o que por sua vez colocaria uma considerável
desprovida de todos os caracteres, sem nenhuma ideia; como ela dose de ceticismo na base do próprio empirismo. O hábito é o grande guia da vida
será suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa humana no sentido de que nenhuma questão de fato é resolvida por algo além dele.
Como Hume diz, “sem a ação do hábito, ignoraríamos completamente toda questão
e ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade de fato além do que está imediatamente presente à memória ou aos sentidos”
quase infinita? De onde apreende todos os materiais da razão e (D. Hume. Investigações sobre o entendimento humano. In Coleção Os Pensadores.
do conhecimento? A isso respondo, numa palavra: da experiência. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 152).
Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva Sendo assim, o homem é apenas capaz de crer que a relação de causa e efeito entre
a chama e o calor, por exemplo, se mantenha persistente. A crença é um resultado
fundamentalmente o próprio conhecimento. necessário da mente observar regularidades – diferentemente da ficção que é uma
(John Locke. Ensaio acerca do entendimento humano formulação com aparência de realidade e sem um lastro sensitivo.
[publicado originalmente em 1690], 1999. Adaptado.)
03. O texto 1 coloca que a explicação mítica da realidade foi o recurso disponível
aos homens daquela época para poder compreender a realidade que os cercava.
Qual é a interpretação de Locke sobre as ideias inatas? Explique Neste período a realidade exterior ao mundo natural somente poderia ser conhecida
quais foram as implicações do pensamento desse filósofo no que por meio de explicações que tivessem a magia, o sobrenatural como base
fundante. Desta forma, somente aqueles que se dedicavam exclusivamente a esta
se refere à metafísica. atividade poderiam, ser aqueles capazes de compreender os desígnios dos deuses.
Os  sacerdotes representavam os intermediários entre os dois mundos (humano e
divino). Assim, a autoridade de sua palavra era por si só critério suficiente para
05. (UNESP) estabelecer “verdades” míticas que serviam como forma de explicação para os
Se um estranho chegasse de súbito a este mundo, eu poderia fenômenos naturais.
exemplificar seus males mostrando-lhe um hospital cheio de No texto 2, diferente da explicação mítica, o empirismo, tendo como principais teóricos:
John Locke, Francis Bacon e David Hume, não recorre à autoridade da mesma maneira
doentes, uma prisão apinhada de malfeitores e endividados, um que os mitos, para explicar os fenômenos. Esta corrente de pensamento rejeita que o
campo de batalha salpicado de carcaças, uma frota naufragando conhecimento seja inato, descarta, não considera como válido aquilo que não pode ser
no oceano, uma nação desfalecendo sob a tirania, fome ou aferido, verificado, aquilo que não for evidente. A verdade reside não mais na autoridade
de quem fala, mas na evidência, na constatação, naquilo que pode ser captado pelos
pestilência. Se eu lhe mostrasse uma casa ou um palácio onde sentidos. O suprassensível é negado, pois não é passível de investigação, verificação.
não houvesse um único aposento confortável ou aprazível, onde 04. Para Locke, pensador representante do empirismo britânico, a existência
a organização do edifício fosse causa de ruído, confusão, fadiga, de “ideias” inatas, ou seja, independentes de qualquer experiência anterior, não
obscuridade, e calor e frio extremados, ele com certeza culparia encontra fundamento lógico. Para ele, a apreensão da realidade só é possível a
partir da empiria. Na perspectiva metafísica, a teoria de Locke rompe com a tradição
o projeto do edifício. Ao constatar quaisquer inconveniências ou clássica no que diz respeito à epistemologia ao considerar as experiências sensíveis
defeitos na construção, ele invariavelmente culparia o arquiteto, concretas como fundamento para o conhecimento humano. Dessa forma, até mesmo
sem entrar em maiores considerações. conceitos abstratos, como a ideia de Deus, só seriam possíveis posteriormente a uma
experiência sensível.
(David Hume. Diálogos sobre a religião natural, 1992. Adaptado.)
05.
a) Explicite o tema filosófico abordado no texto e sua relação com a) O tema a que ele se refere é a questão metafísica acerca da natureza do bem e do mal.
Segundo ele, o bem e o mal são resultados da ação humana, e não da vontade divina.
a criação do mundo.
b) David Hume, ao demonstrar os males do mundo, não se utiliza de deduções lógicas,
b) Explique como os argumentos do filósofo evidenciam um mas do efeito de ações que causam algum tipo de mal-estar para o homem. Ou seja,
ponto de vista empirista (fundamentado na experiência) e o mal é resultado da experiência humana. Além disso, ele não apela para explicações
metafísicas e religiosas para categorizar esse mal. Ou seja, o seu empirismo o conduz
cético (baseado na dúvida), em contraste com uma concepção também a uma atitude de ceticismo. Essa visão é oposta ao racionalismo cartesiano,
metafísica sobre o tema. bem como ao idealismo platônico, uma vez que não há, segundo Hume, qualquer noção
inata de bem e de mal no homem.

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. D 05. C 09. E 13. D 17. E ANOTAÇÕES
02. C 06. D 10. D 14. C 18. D
03. A 07. C 11. A 15. A 19. C
04. A 08. A 12. C 16. E 20. B

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. John Locke está junto Thomas Hobbes, George Berkeley e David Hume entre as
figuras mais famosas e conhecidas da filosofia inglesa dos séculos XVI e XVIII, por isso
eram chamados de empiristas ingleses. Na verdade, o empirismo é uma característica
muito marcante da filosofia inglesa. Na Idade Média, por exemplo, temos Roger Bacon e
Guilherme de Ockham e mais próximos de nós Bertrand Russel. Os empiristas afirmam
que a razão, com seus princípios, seus procedimentos e suas ideias, é adquirida
por nós pela experiência. Em grego, experiência se diz empeiria, donde, empirismo,
conhecimento empírico, isto é, conhecimento adquirido por meio da experiência.

6 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
18
FILOSOFIA
LIBERALISMO

AS BASES DO LIBERALISMO
John Locke (1632-1704) foi um filósofo predecessor do
Iluminismo. A filosofia de Locke influenciou as modernas
revoluções liberais: a Revolução Inglesa, a Revolução Americana
e a Revolução Francesa (especialmente na primeira fase). Locke é
um dos “empiristas britânicos”, junto com Hume, Bacon e Berkeley;
em ciência política, enquadra-se na escola do direito natural ou
jusnaturalismo.
A filosofia política de Locke, na qual estão as bases do
liberalismo moderno, é sintetizada principalmente na obra Dois
Tratados sobre o Governo (1689). O Primeiro Tratado é uma
refutação à ideia de que o Absolutismo se fundamenta na ordem
religiosa e rejeita, nomeadamente, a presunção de derivar das
Escrituras a forma de governo mais recomendável, regras de vida
ordenadas divinamente, e a família patriarcal enquanto modelo da
vida política. A partir da rejeição da tese de que a Monarquia absoluta
é justificável permite fundar a limitação do poder dos governantes
na liberdade e igualdade naturais dos seres humanos, tese que é
defendida no Segundo Tratado – que é um dos textos de Filosofia
Política mais influentes da Modernidade.
O Segundo Tratado propõe-se, pois, a estabelecer “a origem,
os limites e os fins verdadeiros do poder civil”. O conjunto
formado por ambos os tratados constituiu, na época, uma das https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/18/37.Adam_Smith.jpg
mais contundentes críticas à Monarquia absoluta e deixou para a
posteridade a concepção da exigência de subordinar a atividade O primeiro passo do autor foi apontar que para a geração de
dos governantes ao consentimento popular. riqueza é fundamental o aumento da produtividade por parte da
Na filosofia política de Locke os seres humanos são iguais por mão de obra. O segundo passo, então, foi estabelecer os caminhos
natureza e apenas através do consentimento voluntário podem se para esse desejado aumento da produtividade. Segundo Adam
submeter à autoridade do outro. Dessa forma, então, Locke, afirma Smith, seria necessário um processo de especialização na lógica
que a lei natural constitui e protege os direitos à vida, liberdade da produção, ou seja, o trabalhador seria responsável por apenas
e propriedade garantindo, assim, aos indivíduos direitos que não uma função e a repetição da tarefa no espaço de trabalho em um
lhe podem ser legalmente retirados, nem alienados, sem processo nível extremo levaria a uma altíssima eficiência e, claro, a uma
em devida forma. Locke sintetiza tais direitos fundamentais, ou grande produtividade.
inalienáveis, como “vida, liberdade e propriedade”. Os princípios na A partir dessa dinâmica ocorreria um significativo aumento
lei natural poderiam ser atingidos através da razão, logo, por um da produção e aqui se apresenta uma situação relevante: criar um
lado, a lei natural identifica-se com a lei divina, por outro lado, com mercado consumidor que dê conta de absorver essa produção
princípios racionais. superlativa. Nesse cenário, Smith aponta um problema: no
A partir do afirmado pela lei natural, com sua noção primeira do período em que escreve, o Mercantilismo é a lógica econômica
ser humano ter propriedade de seu corpo e direito à segurança do preponderante. O autor estabelece uma crítica a esse modelo, pois,
mesmo, Locke aponta que o indivíduo também possui a propriedade em função do forte controle de tarifas e medidas de proteção, isto
de elementos necessários à conservação da vida. Para tal, é é, uma destacada intervenção do Estado nas relações econômicas,
necessário respeitar os compromissos estabelecidos e assegurar o mercado consumidor estaria restrito e aquém do potencial
o contentamento de todos, isto é, o que é bom para a sociedade de esperado e das necessidades criadas pelo aumento da produção.
modo integral é, por consequência, bom para o indivíduo. Nesse ponto Adam Smith traça uma de suas estratégias mais
conhecidas. Baseado na construção das ideias de John Locke,
O LIBERALISMO ECONÔMICO Smith entende que, tendo seus direitos naturais garantidos, os
indivíduos seriam livres e teriam condições para a satisfação de
No plano econômico, o liberalismo apontava para a ideia de suas demandas. Para ele, é partir da livre iniciativa, uma espécie
que o Estado deveria garantir a ordem e a segurança dos indivíduos de “mão invisível” regulando as relações, que a sociedade vai
para que possam realizar livremente suas atividades. Assim, era estabelecer uma lógica de oferta e demanda a partir da busca dos
necessária uma marcada separação entre aquilo que é público, indivíduos pela satisfação de seus interesses.
portanto, de responsabilidade do Estado e o que é privado, que
As ideias de Smith foram amplamente adotadas pela
caberia somente aos indivíduos e sem a intervenção estatal.
burguesia, classe em pleno desenvolvimento no período, pela
Adam Smith (1723-1790) é o autor considerado fundador do crítica ao absolutismo e a defesa de um Estado que garanta a
liberalismo econômico. Em sua obra A Riqueza das Nações de ordem e a segurança dos indivíduos, bem como a manutenção da
1776, Smith vai investigar justamente quais são os processos, os propriedade privada.
movimentos e iniciativas que produzem a riqueza dos países.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 1
FILOSOFIA 18 LIBERALISMO

Texto Complementar
Liberalismo Econômico: Adam Smith e o laissez-faire Trecho
de “O Preço Natural e o Preço de Mercado das Mercadorias”
(“A Riqueza das Nações”, Livro Primeiro) EXERCÍCIOS
Adam Smith.
PROPOSTOS
“Quando o preço de uma mercadoria não é menor nem maior
do que o suficiente para pagar ao mesmo tempo a renda da 01. (ENEM PPL)
terra, os salários do trabalho e os lucros do patrimônio ou capital TEXTO I
empregado em obter, preparar e levar a mercadoria ao mercado, Não é sem razão que o ser humano procura de boa vontade
de acordo com suas taxas naturais, a mercadoria é nesse caso juntar-se em sociedade com outros que estão já unidos, ou
vendida pelo que se pode chamar seu preço natural. (...) pretendem unir-se, para a mútua conservação da vida, da liberdade
O preço efetivo ao qual uma mercadoria é vendida denomina- e dos bens a que chamo de propriedade.
se seu preço de mercado. Esse pode estar acima ou abaixo do LOCKE, J. Segundo tratado sobre governo: ensaio relativo à verdadeira origem, extensão
preço natural, podendo também coincidir exatamente com ele. e objetivo do governo civil. São Paulo: Abril Cultural, 1978 (adaptado).

O preço de mercado de uma mercadoria específica é regulado


TEXTO II
pela proporção entre a quantidade que é efetivamente colocada
no mercado e a demanda daqueles que estão dispostos a pagar o Para que essas classes com interesses econômicos em
preço natural da mercadoria. (...) conflitos não destruam a si mesmas e à sociedade numa luta
estéril, surge a necessidade de um poder que, na aparência, esteja
Quando a quantidade de uma mercadoria colocada no mercado
acima da sociedade, que atenue o conflito, mantenha-o dentro dos
é inferior à demanda efetiva, não há possibilidade de fornecer
limites da ordem.
a quantidade desejada a todos aqueles que estão dispostos o
ENGELS, F. In: GALLINO, L. Dicionário de sociologia. São Paulo: Paulus, 2005 (adaptado).
valor integral (...) que deve ser pago para colocar a mercadoria no
mercado. Em consequência, ao invés de desejar essa mercadoria
Os textos expressam duas visões sobre a forma como os indivíduos
ao preço em que está, alguns deles estarão dispostos a pagar mais.
se organizam socialmente. Tais visões apontam, respectivamente,
Começará imediatamente uma concorrência entre os pretendentes,
para as concepções:
e em consequência o preço de mercado subirá mais ou menos em
relação ao preço natural, na proporção em que o grau de escassez a) Liberal, em defesa da liberdade e da propriedade privada —
da mercadoria ou a riqueza, a audácia e o luxo dos concorrentes Conflituosa, exemplificada pela luta de classes.
acenderem mais ou menos a avidez em concorrer. Entre concorrentes b) Heterogênea, favorável à propriedade privada — Consensual,
de riqueza e luxo igual, o mesmo grau de escassez geralmente sob o controle de classes com interesses comuns.
provocará uma concorrência mais ou menos forte, de acordo com a c) Igualitária, baseada na filantropia — Complementar, com objetivos
menor ou maior importância, para eles, da aquisição da mercadoria. comuns unindo classes antagônicas.
Daí o preço exorbitante dos gêneros de primeira necessidade durante
o bloqueio de uma cidade ou em caso de fome generalizada. d) Compulsória, na qual as pessoas possuem papéis que se
complementam — Individualista, na qual as pessoas lutam por
Quando a quantidade da mercadoria colocada no mercado seus interesses.
ultrapassa a demanda efetiva, não há possibilidade de ser toda
vendida àqueles que desejam pagar o [preço natural]. Uma parte e) Libertária, em defesa da razão humana — Contraditória, na qual
deve ser vendida àqueles que só aceitam pagar menos, e o baixo vigora o estado de natureza.
preço que pagam pela mercadoria necessariamente reduz o
preço total. O preço de mercado descerá mais ou menos abaixo 02. (IFSP) Em 1776, Adam Smith lançou o livro A Riqueza das
do preço natural, na proporção em que o excedente aumentar Nações, que apresenta as bases da economia clássica. Segundo o
mais ou menos a concorrência entre os vendedores, ou segundo autor, o crescimento econômico de uma nação depende
for para eles mais ou menos importante desembaraçar-se a) da quantidade de ouro e prata que cada nação tem entesourados.
imediatamente da mercadoria. (...) b) do dirigismo econômico feito pelo Estado, pois apenas ao rei
Quando a quantidade colocada no mercado coincide cabe conduzir sua nação.
exatamente com o suficiente e necessário para atender à demanda c) da natureza, pois terras áridas e clima desfavorável não trarão
efetiva, muito naturalmente o preço de mercado coincidirá com boas colheitas.
o preço natural, exatamente ou muito aproximadamente. (...) A
concorrência entre os diversos comerciantes os obriga todos a d) da produtividade do trabalho, em função de seu grau de
aceitar este preço natural, mas não os obriga a aceitar menos.” especialização.
SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua natureza e e) do comércio altamente desenvolvido através das companhias
suas causas. São Paulo: Círculo do Livro, 1996, v.1, p. 109-111. de comércio e dos monopólios.

03. (UNESP)
A divisão capitalista do trabalho – caracterizada pelo célebre
EXERCÍCIOS
exemplo da manufatura de alfinetes, analisada por Adam Smith
PROTREINO – foi adotada não pela sua superioridade tecnológica, mas
porque garantia ao empresário um papel essencial no processo
01. Defina “jusnaturalismo” na visão de Locke. de produção: o de coordenador que, combinando os esforços
separados dos seus operários, obtém um produto mercante.
02. Cite três direitos naturais, na perspectiva de John Locke. (Stephen Marglin. In: André Gorz (org.). Crítica da divisão do trabalho, 1980.)

03. Cite duas características do absolutismo político. Ao analisar o surgimento do sistema de fábrica, o texto destaca
04. Cite uma característica do mercantilismo a) o maior equilíbrio social provocado pelas melhorias nos
salários e nas condições de trabalho.
05. Apresente as principais características da livre iniciativa, na visão
de Adam Smith.

2 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
18 LIBERALISMO FILOSOFIA

b) o melhor aproveitamento do tempo de trabalho e a autogestão 06. (PUCCAMP)


da empresa pelos trabalhadores. Quando a circulação do dinheiro se faz no Reino, serve de
c) o desenvolvimento tecnológico como fator determinante para alimentar o Reino; mas, quando sai do Reino, faz nele a mesma
o aumento da capacidade produtiva. falta que o sangue quando sai do corpo humano.
d) a ampliação da capacidade produtiva como justificativa para MACEDO, Duarte Ribeiro
a supressão de cargos diretivos na organização do trabalho.
O conhecimento histórico permite afirmar que o comentário de
e) a importância do parcelamento de tarefas e o estabelecimento Duarte Ribeiro Macedo
de uma hierarquia no processo produtivo.
a) refere-se a um dos fatores da decadência do comércio na
Europa ocidental no século IV.
04. (ENEM PPL)
b) revela uma das mais puras formas de pensar da sociedade
A justiça é a primeira virtude das instituições sociais, como
feudal europeia no século IX.
a verdade o é dos sistemas de pensamento. Cada pessoa possui
uma inviolabilidade fundada na justiça que nem mesmo o c) identifica uma das mais puras expressões da mentalidade
bem‑estar da sociedade como um todo pode ignorar. Por essa mercantilista do século XVII.
razão, a justiça nega que a perda de liberdade de alguns se d) opunha-se a uma das práticas mercantilistas que alimentavam
justifique por um bem maior partilhado por todos. o Estado no século XV.
HAWLS, J. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2000 (adaptado). e) expressa uma das mais fortes crenças do pensamento liberal
europeu, do século XIX
O filósofo afirma que a ideia de justiça atua como um importante
fundamento da organização social e aponta como seu elemento de 07. (PUCCAMP)
ação e funcionamento
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
a) povo. c) governo. e) magistrado.
Um pensamento liberal moderno, em tudo oposto ao pesado
b) Estado. d) indivíduo. escravismo dos anos 1840, pode formular-se tanto entre políticos e
intelectuais das cidades mais importantes quanto junto a bacharéis
05.(UNISC) egressos das famílias nordestinas que pouco ou nada poderiam
esperar do cativeiro em declínio.
(BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 224

Faz parte das características do pensamento liberal europeu,


no século XIX, a defesa
a) da liberdade de imprensa e de ações afirmativas visando à
reparação estatal a grupos discriminados.
b) da distribuição equitativa de riquezas e do estado de bem-
estar social.
c) do livre cambismo e do direito à propriedade privada.
d) da liberdade de culto e do mutualismo.
e) da nacionalização dos meios de produção e da doutrina do
destino manifesto

08. (UNESP)
Este considerável aumento de produção que, devido à divisão
do trabalho, o mesmo número de pessoas é capaz de realizar,
é  resultante de três circunstâncias diferentes: primeiro, ao
aumento da destreza de cada trabalhador; segundo, à economia
A revista “Carta Capital” estampou, na capa, na edição de fevereiro de tempo, que antes era perdido ao passar de uma operação para
de 2009, a seguinte manchete: Estado - a mão visível que segura a outra; terceiro, à invenção de um grande número de máquinas
crise. A matéria a respeito analisa a crise econômica do capitalismo que facilitam o trabalho e reduzem o tempo indispensável para o
e a resposta do Estado, em especial, de países ricos como os EUA, realizar, permitindo a um só homem fazer o trabalho de muitos.
de intervir na economia para salvar grandes empresas como, (Adam Smith. “Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações
por exemplo, a General Motors - GM - e uma série de bancos em (1776)”. In: Adam Smith/Ricardo. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1984.)
processo de falência. A manchete faz referência indireta a um dos
pilares da matriz liberal do século XVIII – a mão invisível do mercado. O texto, publicado originalmente em 1776, destaca três características
da organização do trabalho no contexto da Revolução Industrial:
A expressão mão invisível, introduzida por Adam Smith em A Riqueza
das Nações, significa que a) a introdução de máquinas, a valorização do artesanato e o
aparecimento da figura do patrão.
a) a economia se regularia naturalmente, sem a necessidade da
intervenção do Estado. b) o aumento do mercado consumidor, a liberdade no emprego do
tempo e a diminuição na exigência de mão de obra.
b) era função do Estado criar mecanismo para salvar empresas
com problemas financeiros. c) a escassez de mão de obra qualificada, o esforço de importação
e a disciplinarização do trabalhador.
c) o Estado deveria ter medidas planificadoras para ordenar os
investimentos produtivos. d) o controle rigoroso de qualidade, a introdução do relógio de
ponto e a melhoria do sistema de distribuição de mercadorias.
d) o Estado deveria agir controlando a economia de forma invisível.
e) a especialização do trabalhador, o parcelamento de tarefas e a
e) os liberais eram defensores de medidas de profundo controle maquinização da produção.
do Estado para segurar a crise.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 3
FILOSOFIA 18 LIBERALISMO

09. (PUCPR) O Estado Absoluto da Idade Moderna apresentou estrutura hierárquica nem “um Deus a ser venerado”. Para mim,
um caráter ambíguo, refletindo o sentido de transição do período. esse é um belo caso de conclusão certa pelas razões erradas.
De um lado, foi um “Estado feudal transformado” com a burocracia Creio que o juiz agiu bem ao não censurar os filmes, mas meteu os
administrativa, formada em grande parte pelos senhores feudais, pés pelas mãos ao justificar a decisão. Ao contrário do Ministério
que mantinham valores e privilégios seculares; de outro, um Público, não penso que religiões devam ser imunes à crítica.
dinâmico agente mercantil, unificando mercados, eliminando Se  algum evangélico julga que o candomblé está associado ao
barreiras internas que entravavam o comércio, uniformizando diabo, deve ter a liberdade de dizê-lo. Como não podemos nem
moedas, pesos e leis, além de empreender conquistas de novos sequer estabelecer se Deus e o demônio existem, o mais lógico é
mercados. Entretanto, nascido da aliança do rei com a burguesia que prevaleça a liberdade de dizer qualquer coisa.
na Baixa Idade Média, da necessidade socioeconômica e da SCHWARTSMAN, Hélio. “O candomblé e o tinhoso”. Folha de S. Paulo, 20.05.2014. Adaptado
política da época, acabou se tornando parasitário e aristocrático,
necessitando cada vez mais de uma crescente tributação. Em fins O núcleo filosófico da argumentação do autor do texto é de natureza
da Idade Moderna, o poderio e o esplendor dos reis absolutistas a) liberal.
opunham-se ao empreendimento burguês, à lucratividade e à
b) marxista.
capitalização em curso, levando ao processo das revoluções
burguesas que, ao derrubar os monarcas absolutistas, c) totalitária.
inaugurariam o mundo contemporâneo. d) teológica.
Com base no exposto, assinale a alternativa que caracteriza o e) anarquista.
Estado Absolutista em suas instituições políticas e econômicas.
a) Liberalismo econômico: permitia a ascensão política da burguesia. 12. (UECE)
b) Absolutismo esclarecido: gradual retirada do Estado da arena Atente para o seguinte trecho de um artigo de jornal: “Segundo
econômica. o coordenador do Setor de Ciências Naturais e Sociais da Unesco
c) Economia social de mercado: economia liberal com limitações no Brasil, Fabio Eon, os direitos humanos estão sendo alvo de uma
do Estado, visando melhor distribuição de renda e oferta de onda conservadora que trata a expressão como algo politizado. —
oportunidades para as classes menos privilegiadas. ‘Existe hoje uma tendência a enxergar direitos humanos como algo
ideológico, o que é um equívoco. Os direitos humanos não são algo
d) Absolutismo liberal: iniciativa privada na economia e o Estado da esquerda ou da direita. São de todos, independentemente de
apenas aplica a justiça e conduz a política externa. onde você nasceu ou da sua classe social. É importante enfatizar
e) Absolutismo monárquico: forte intervenção do Estado na economia isso para frear essa onda conservadora’ — ressalta Eon, que sugere
um remédio para o problema: — ‘Precisamos promover uma cultura
10. (UECE) Leia atentamente o seguinte excerto: de direitos humanos’”.
Disponível em: O Globo. https://oglobo.globo.com/sociedade/os-direitos-humanosnao-
“A liberdade do homem em sociedade consiste em não
sao-da-esquerda-ou-da-direita-sao-de-todos-23088573.
estar submetido a nenhum outro poder legislativo senão àquele
estabelecido no corpo político mediante consentimento, nem sob A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada pela
o domínio de qualquer vontade ou sob a restrição de qualquer lei Assembleia Geral da ONU em 1948. Já a Declaração dos Direitos
afora as que promulgar o poder legislativo, segundo o encargo a do Homem e do Cidadão foi aprovada durante a primeira fase da
este confiado”. Revolução Francesa, pela Assembleia Nacional Constituinte.
LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. Martins Fontes, 1998, p. 401-402. Adaptado.
No que diz respeito à Declaração dos Direitos do Homem e do
Considerando a definição de liberdade do homem em sociedade, Cidadão, é correto afirmar que :
de John Locke, atente para as seguintes afirmações: a) apesar de ser um documento revolucionário moderno, tem suas
I. A concepção de liberdade do homem em sociedade de Locke premissas filosóficas no pensamento político de Aristóteles.
elimina totalmente o direito de cada um de agir conforme a b) é de inspiração hobbesiana, tendo seus primórdios nos inícios
sua vontade. do Estado moderno.
II. A concepção de liberdade do homem em sociedade de Locke c) é de inspiração iluminista e liberal, sob influência de grandes
consiste em viver sob a restrição das leis promulgadas pelo pensadores do século XVIII, tais como Locke e Rousseau.
poder legislativo. d) é de inspiração marxista, no influxo dos grandes movimentos
III. A concepção de liberdade do homem em sociedade de Locke grevistas e reivindicatórios que aconteceram na França durante
consiste em viver segundo uma regra permanente e comum o século XIX.
que todos devem obedecer. e) é de inspiração absolutista e radical, sob influência de grandes
É correto o que se afirma em pensadores do século XVIII, tal como Hobbes.
a) I e II apenas.
13. (UEL)
b) I e III apenas.
Por conseguinte, todo homem, ao consentir com outros em
c) II e III apenas.
formar um único corpo político sob um governo único, assume
d) I, II e III. a obrigação, perante todos os membros dessa sociedade,
de submeter-se à determinação da maioria e acatar a decisão desta.
11. (UNESP) Do contrário, esse pacto original, pelo qual ele, juntamente com
Numa decisão para lá de polêmica, o juiz federal Eugênio Rosa outros, se incorpora a uma sociedade, não teria nenhum significado
de Araújo, da 17.ª Vara Federal do Rio, indeferiu pedido do Ministério e não seria pacto algum, caso ele fosse deixado livre e sob nenhum
Público para que fossem retirados da rede vídeos tidos como outro vínculo além dos que tinha antes no estado de natureza.
ofensivos à umbanda e ao candomblé. No despacho, o magistrado LOCKE, J. Dois tratados sobre o governo. Trad. Julio Fischer. São Paulo:
Martins Fontes, 1998. p. 470.
afirmou que esses sistemas de crenças “não contêm os traços
necessários de uma religião” por não terem um texto‑base, uma

4 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
18 LIBERALISMO FILOSOFIA

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Ao que é óbvio responder que, embora no estado natureza tenha tal
John Locke, assinale a alternativa correta. direito, a utilização do mesmo é muito incerta e está constantemente
a) O ser humano deve superar o estado de natureza fundando a exposto à invasão terceiros porque, sendo todos senhores tanto quanto
sociedade civil e o Estado, cedendo seus direitos em prol da ele, todo homem igual a ele e, na maior parte, pouco observadores da
paz social. equidade e da justiça, o proveito da propriedade que possui nesse
estado é muito inseguro e muito arriscado. Estas circunstâncias
b) Os indivíduos, no estado de natureza, são juízes de si mesmos, obrigam-no abandonar uma condição que, embora livre, está cheia
fundam o Estado para garantir segurança e direitos individuais de temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura de
por meio das leis. boa vontade juntar‑se em sociedade com outros estão já unidos, ou
c) O poder do Estado deve ser absoluto para a garantia dos direitos pretendem unir-se, para a mútua conservação da vida, da liberdade e
naturais da humanidade, como a vida, a liberdade e a propriedade. dos bens a que chamo de propriedade."
d) O pacto ou contrato social é o garantidor das liberdades (Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991)
e direitos, sendo o poder legislativo o menos importante,
já que é possível sua revogação por aqueles que participam Do ponto de vista político, podemos considerar o texto como uma
do poder executivo. tentativa justificar:
e) O ser humano se realiza como um ser possuidor de bens, sendo a) a existência do governo como um poder oriundo da natureza.
sua posse o que garante tolerância religiosa, livre-iniciativa b) a origem do governo como uma propriedade do rei.
econômica e liberdade individual. c) o absolutismo monárquico como uma imposição da natureza
humana.
14. (Enem)
d) a origem do governo como uma proteção à vida, aos bens e
Uma sociedade é uma associação mais ou menos autossuficiente aos direitos.
de pessoas que em suas relações mútuas reconhecem certas regras
e) o poder dos governantes, colocando a liberdade individual
de conduta como obrigatórias e que, na maioria das vezes, agem de
acima da propriedade.
acordo com elas. Uma sociedade é bem ordenada não apenas quando
está planejada para promover o bem de seus membros, mas quando é
também efetivamente regulada por uma concepção pública de justiça. 17. (FUVEST) "Um comerciante está acostumado a empregar o seu
Isto é, trata-se de uma sociedade na qual todos aceitam, e sabem que dinheiro principalmente em projetos lucrativos, ao passo que um
os outros aceitam, o mesmo princípio de justiça. simples cavalheiro rural costuma empregar o seu em despesas.
RAWLS, J. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 1997 (adaptado).
Um  frequentemente vê seu dinheiro afastar-se e voltar às suas
mãos com lucro; o outro, quando se separa do dinheiro, raramente
A visão expressa nesse texto do século XX remete a qual aspecto espera vê-lo de novo. Esses hábitos diferentes afetam naturalmente
do pensamento moderno? os seus temperamentos e disposições em toda espécie de
atividade. O comerciante é, em geral, um empreendedor audacioso;
a) A relação entre liberdade e autonomia do Liberalismo. o cavalheiro rural, um tímido em seus empreendimentos..."
b) A independência entre poder e moral do Racionalismo. (Adam Smith, A RIQUEZA DAS NAÇÕES, Livro III, capítulo 4)
c) A convenção entre cidadãos e soberano de Absolutismo.
Neste pequeno trecho, Adam Smith
d) A dialética entre indivíduo e governo autocrata do idealismo.
a) contrapõe lucro a renda, pois geram racionalidades e modos
e) A contraposição entre bondade e condição selvagem do
de vida distintos.
Naturalismo.
b) mostra as vantagens do capitalismo comercial em face da
estagnação medieval.
15. (ENEM PPL) Sendo os homens, por natureza, todos livres, iguais
e independentes, ninguém pode ser expulso de sua propriedade e c) defende a lucratividade do comércio contra os baixos
submetido ao poder político de outrem sem dar consentimento. rendimentos do campo.
A maneira única em virtude da qual uma pessoa qualquer renuncia à d) critica a preocupação dos comerciantes com seus lucros e dos
liberdade natural e se reveste dos laços da sociedade civil consiste em cavalheiros com a ostentação de riquezas.
concordar com outras pessoas em juntar-se e unir-se em comunidade
e) expõe as causas da estagnação da agricultura no final do
para viverem com segurança, conforto e paz umas com as outras,
século XVIII.
gozando garantidamente das propriedades que tiverem e desfrutando
de maior proteção contra quem quer que não faça parte dela.
LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil. Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1978.
18. (UNESP) Um homem transporta o fio metálico, outro
endireita-o, um  terceiro corta-o, um quarto aguça a extremidade,
Segundo a Teoria da Formação do Estado, de John Locke, para um quinto prepara a extremidade superior para receber a cabeça;
viver em sociedade, cada cidadão deve para fazer a cabeça são precisas duas ou três operações distintas;
colocá-la constitui também uma tarefa específica, branquear o
a) manter a liberdade do estado de natureza, direito inalienável. alfinete, outra; colocar os alfinetes sobre o papel da embalagem
b) abrir mão de seus direitos individuais em prol do bem comum. é também uma tarefa independente. [...] Tive ocasião de ver uma
c) abdicar de sua propriedade e submeter-se ao poder do mais forte. pequena fábrica deste tipo, em que só estavam empregados dez
homens, e onde alguns deles, consequentemente, realizavam
d) concordar com as normas estabelecidas para a vida em sociedade.
duas ou três operações diferentes. Mas, apesar de serem muito
e) renunciar à posse jurídica de seus bens, mas não à sua independência. pobres, e possuindo apenas a maquinaria estritamente necessária,
[...] conseguiam produzir mais de quarenta e oito mil alfinetes por
16. (ENEM) O texto abaixo, de John Locke (1632-1704), revela dia. Se dividirmos esse trabalho pelo número de trabalhadores,
algumas características uma determinada corrente de pensamento. poderemos considerar que cada um deles produz quatro mil e
"Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme oitocentos alfinetes por dia; mas se trabalhassem separadamente
dissemos, se é senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, uns dos outros, e sem terem sido educados para este ramo
igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa particular de produção, não conseguiriam produzir vinte alfinetes,
liberdade, por que abandonará o seu império e sujeitar-se ao nem talvez mesmo um único alfinete por dia.
domínio e controle de qualquer outro poder? (Adam Smith. Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, 1984.)

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 5
FILOSOFIA 18 LIBERALISMO

O texto, originalmente publicado em 1776, demonstra


a) o avanço tecnológico representado pelo surgimento da fábrica EXERCÍCIOS DE
na Inglaterra, relacionando a riqueza com o aprimoramento
científico e o trabalho simultâneo de milhares de operários. APROFUNDAMENTO
b) o crescimento do mercado consumidor e a maior velocidade
na distribuição das mercadorias inglesas, destacando o vínculo 01. (UNESP)
entre riqueza e uma boa relação entre oferta e procura. Texto 1
c) a força crescente dos sindicatos e das federações de trabalhadores Entre os que se consideram a parte civilizada da Humanidade,
na Inglaterra, enfatizando o princípio marxista de que apenas o que fizeram e multiplicaram leis positivas para a determinação da
trabalho permite a geração de riqueza. propriedade, ainda vigora esta lei original da natureza e, em virtude
d) a produtividade do artesanato e o conhecimento da totalidade do dessa lei, o peixe que alguém apanha no oceano torna-se propriedade
processo produtivo pelos trabalhadores ingleses, relacionando a daquele que teve o trabalho de apanhá-lo, pelo esforço que o retira
noção de riqueza ao acúmulo de metais nobres. daquele estado comum em que natureza o deixou. Deus, ao dar o
e) a disciplina no trabalho e o parcelamento de tarefas presentes mundo em comum a todos os homens, ordenou-lhes também que
nas manufaturas e fábricas inglesas, associando o crescimento trabalhassem. Aquele que, em obediência a esta ordem de Deus,
da riqueza à produtividade do trabalho. dominou, lavrou e semeou parte da terra, anexou-lhe por esse meio
algo que lhe pertencia, a que nenhum outro tinha direito.
19. (UNESP) Adam Smith, autor de "A Riqueza das Nações" (1776), Locke. Ensaio acerca do entendimento humano, 1991. Adaptado.

referindo-se à produção e à aquisição de riquezas, observou:


Texto 2
"Não é com o ouro ou a prata, mas com o trabalho que toda
a riqueza do mundo foi provida na origem, e seu valor, para Ora, nada é mais meigo do que o homem em seu estado
aqueles que a possuem e desejam trocá-la por novos produtos, primitivo, quando, colocado pela natureza a igual distância da
é precisamente igual à quantidade de trabalho que permite alguém estupidez dos brutos e das luzes funestas do homem civil, é
adquirir ou dominar." impedido pela piedade natural de fazer mal a alguém. Mas, desde
o instante em que se percebeu ser útil a um só contar com
Os pontos de vista de Adam Smith opõem-se às concepções provisões para dois, desapareceu a igualdade, introduziu-se a
a) mercantilistas, que foram aplicadas pelos diversos estados propriedade, o trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas
absolutistas europeus. transformaram‑se em campos que se impôs regar com o suor
b) monetaristas, que acompanharam historicamente as economias dos homens e nos quais logo se viu a escravidão e a miséria
globalizadas. germinarem e crescerem com as colheitas.
Rousseau. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os
c) socialistas, que criticaram a submissão dos trabalhadores aos homens, 1991. Adaptado.
donos do capital.
d) industrialistas, que consideraram as máquinas o fator de Qual a diferença entre os dois textos no tocante à origem do direito
criação de riquezas. à propriedade? A partir dos textos, explique como os autores
influenciaram o desenvolvimento do pensamento liberal e do
e) liberais, que minimizaram a importância da mão de obra na
pensamento socialista.
produção de bens.

02. (UEL) Leia os fragmentos a seguir.


20. (ENEM)
A monarquia absoluta é incompatível com a sociedade civil,
TEXTO I
não podendo ser uma forma de governo civil, porque o objetivo da
A centralização econômica, o protecionismo e a expansão sociedade civil consiste em evitar e remediar os inconvenientes
ultramarina engrandeceram o Estado, embora beneficiassem a do estado de natureza que resultam necessariamente de poder
burguesia incipiente. cada homem ser juiz em seu próprio caso, estabelecendo-se
ANDERSON, P. In: DEYON, P. O mercantilismo. Lisboa: Gradiva, 1989 (adaptado). uma autoridade conhecida para a qual todos os membros dessa
sociedade podem apelar por qualquer dano que lhe causem ou
TEXTO II controvérsia que possa surgir, e à qual todos os membros dessa
As interferências da legislação e das práticas exclusivistas sociedade terão que obedecer.
restringem a operação benéfica da lei natural na esfera das [...]
relações econômicas.
Quem julgará se o príncipe ou o legislativo agem contrariamente
SMITH, A. A riqueza das Nações. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (adaptado).
ao encargo recebido? A isto respondo: O povo será o juiz; porque
Entre os séculos XVI e XIX, diferentes concepções sobre as relações quem poderá julgar se o depositário ou o deputado age bem e de
entre Estado e economia foram formuladas. Tais concepções, acordo com o encargo a ele confiado senão aquele que o nomeia,
associadas a cada um dos textos, confrontam-se, respectivamente, devendo, por tê-lo nomeado, ter ainda o poder para afastá-lo
na oposição entre as práticas de quando não agir conforme seu dever?
Adaptado de: LOCKE, J. Segundo Tratado sobre o Governo (ou Ensaio sobre o Governo
a) valorização do pacto colonial — combate à livre-iniciativa. Civil). 5.ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p.250 e p.312.
b) defesa dos monopólios régios — apoio à livre concorrência.
Com base nos fragmentos e nos conhecimentos sobre a filosofia
c) formação do sistema metropolitano — crítica à livre navegação.
política de John Locke, descreva o modelo de governo civil proposto
d) abandono da acumulação metalista — estímulo ao livre-comércio. pelo filósofo.
e) eliminação das tarifas alfandegárias — incentivo ao livre-cambismo.

6 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
18 LIBERALISMO FILOSOFIA

03. (UFV) Nos últimos anos a mídia em geral e diversos partidos 02. Segundo Locke, o modelo de governo civil vincula-se ao pacto proveniente do mútuo
consentimento entre indivíduos igualmente livres, pelo direito natural. Portanto, tem seu
políticos têm denunciado o chamado "neo-liberalismo" como um fundamento na condição livre e igualitária dos homens, rompendo com a visão hierárquica
sistema econômico que necessariamente amplia as desigualdades do mundo que servia de base de legitimação das monarquias absolutas. Aqui, não se
sociais e penaliza o trabalho em sua relação com o capital. refere a um contrato entre governantes e governados. Como cidadãos, os indivíduos não
renunciam aos seus próprios direitos naturais – absolutamente privados, inalteráveis e
Na  verdade esse "neo-liberalismo" se refere a um retomada dos inalienáveis – em favor do poder dos governantes. A sociedade política é instituída pelos
pressupostos liberais defendidos no século XVIII tendo em Adam participantes do pacto, tendo por finalidade empregar sua força coletiva na proteção e na
Smith e David Ricardo os seus principais teóricos. Quais são as execução das leis naturais. Estas, no estado natural, estariam ameaçadas, sobretudo, a
preservação da vida, a conservação da liberdade e da igualdade e o gozo da propriedade
principais linhas do liberalismo que, ainda hoje, estão na raiz do proveniente do trabalho. Por isso, a instituição da sociedade civil, sobretudo, tem por
"neo-liberalismo"? objetivo reprimir quaisquer violações a estes direitos naturais e, deste modo, para que
possam ser assegurados e usufruídos, garantir a paz necessária.

04. (UFRJ) O mútuo consentimento permite aos cidadãos – neste modelo – instalar a forma de
governo que julgarem conveniente. Aos governantes, é outorgado o poder que, no entanto,
"Quem quiser falar com certa clareza da dissolução do governo além de limitado, é revogável pelo poder originário e soberano dos cidadãos. São eles
que decidem seu destino político e o da sociedade. Neste modelo de governo civil, Locke
deve, em primeiro lugar, distinguir entre dissolução da sociedade defende o direito de resistência e insurreição quando ocorre abuso do poder por parte
e dissolução do governo. O que constitui a comunidade, e leva das autoridades que usurpam de suas prerrogativas e violam o pacto e suas finalidades.
os homens do livre estado de natureza para uma só sociedade 03. A defesa do não intervencionismo do Estado na economia e da livre iniciativa
política, é o acordo que cada um faz com os outros para se consagrando a livre concorrência. No entanto, no estágio atual do capitalismo, a livre
incorporar com eles e deliberar como um só corpo e, desse modo, concorrência tende a desaparecer diante da monopolização do capital.

formar uma única sociedade política distinta. O modo habitual, 04.


e quase o único, pelo qual essa união se dissolve é a invasão de a) A limitação do poder monárquico e o fortalecimento do parlamento.
uma força estrangeira (...)" b) O anti-absolutismo, o não-intervencionismo estatal, o constitucionalismo, o individualismo.
c) As vantagens da livre concorrência, do livre cambismo, da livre produção e a defesa da
(John Locke. TWO TREATISES OF GOVERNMENT) propriedade privada.
05. Nessa obra, Adam Smith defendia a ideia de ordem natural para a relação produtor/
As ideias liberais consagraram um conjunto de atitudes próprias
consumidor. A fixação dos salários seria natural, assim como a luta de classes.
da burguesia. John Locke (1623-1704) foi um dos filósofos a
expressar essa visão de mundo que se fez presente nas revoluções
do século XVII.
a) Explique uma transformação política ocorrida na Inglaterra a ANOTAÇÕES
partir das revoluções do século XVII.
b) Cite dois princípios do liberalismo.
c) Justifique o interesse da burguesia inglesa nos aspectos
econômicos do liberalismo.

05. (UNESP) Ao final da Época Moderna, a civilização europeia


expandia e se transformava. A ação coletiva da salvação começou a
ser suplantada pela busca da felicidade individual. Nova concepção
acerca do mundo repercutia em vários setores do conhecimento.
A partir deste contexto, demonstre que a burguesia já podia encontrar
a expressão de suas necessidades e aspirações nas páginas do livro
INVESTIGAÇÕES SOBRE A NATUREZA E AS CAUSAS DA RIQUEZA
DAS NAÇÕES (1776), escrito pelo escocês Adam Smith.

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. A 05. A 09. E 13. B 17. A
02. D 06. C 10. C 14. A 18. E
03. E 07. C 11. A 15. D 19. A
04. D 08. E 12. C 16. D 20. B

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. Para Locke, o direito à propriedade privada constituiria um direito de ordem natural,
legitimado pelo trabalho, sendo a instituição da sociedade civil o meio para assegurar
a garantia desse direito. Já para Rousseau, a propriedade privada, originada a partir do
estabelecimento da vida em sociedade, é entendida como origem da escravização e da
desigualdade social entre os indivíduos. A interpretação de Locke acerca da propriedade
privada fundamenta o pensamento liberal, segundo o qual o direito à propriedade
privada, sendo natural, seria por consequência inviolável, cabendo ao Estado proteger e
assegurar esse direito aos cidadãos. Por sua vez, o pensamento socialista se aproxima
da concepção roussoniana, na medida em que atribui à propriedade privada a existência
de males sociais, justificando, a partir dessa ideia, a extinção de toda propriedade privada
como meio para assegurar a igualdade entre os indivíduos.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 7
FILOSOFIA 18 LIBERALISMO

ANOTAÇÕES

8 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
19
FILOSOFIA
INTRODUÇÃO À TEORIA KANTIANA

APRESENTANDO KANT da ciência. O trabalho permaneceu incompleto devido à sua morte,


mas foi editado e publicado sob o título de Opus Postumum (obra
Immanuel Kant (1724-1804) foi o mais importante filósofo póstuma).
europeu dos tempos modernos. Kant nasceu, passou sua vida
toda e morreu na cidade de Könisberg, na Prússia Oriental. Após
estudar na Universidade de Könisberg entre 1740 e 1746, trabalhou KANT E OS DEBATES FILOSÓFICOS
por algum tempo como tutor. Em 1755, retornou à Universidade,
Para compreendermos a posição kantiana, precisamos
recebendo seu grau de Mestre, e passou a apresentar conferências.
compreender as posições filosóficas contra as quais ele estava
Em 1770, tornou-se professor, continuando com as conferências,
reagindo. Havia dois movimentos históricos no início do período
que cobriam uma ampla variedade de assuntos, incluindo a
moderno da filosofia que produziram dois impactos significantes
matemática, a física, a antropologia, a pedagogia e a geografia,
em Kant: o Racionalismo e o Empirismo. Kant argumenta que o
além da filosofia, até sua aposentadoria em 1796. Embora nunca
método e o conteúdo dos argumentos dos filósofos de ambos os
tenha casado nem viajado a mais de 90 km de distância de sua
movimentos continham sérias falhas.
cidade natal, não era um homem recluso. Pelo contrário, era
conhecido como um conferencista brilhante, tinha um vasto círculo Um problema epistemológico central para os filósofos
de amigos e era extremamente interessado nos assuntos políticos dos dois movimentos era a determinação de como podemos
e intelectuais de seu tempo. escapar de dentro do confinamento da mente humana
e do conteúdo imediatamente conhecido de nossos próprios
pensamentos para alcançar o conhecimento do mundo fora
de nós. Os empiristas procuravam resolver isso por meio dos
sentidos e dos argumentos a posteriori. Os racionalistas tentavam
usar os argumentos a priori para construir a ponte necessária.
Os conhecimentos a posteriori são posteriores e dependentes
das experiências; os conhecimentos a priori são anteriores e
independentes das experiências.

KANT E OS EMPIRISTAS
Empiristas como Locke, Berkeley e Hume argumentavam que o
conhecimento humano tinha origem em nossas sensações. Locke,
por exemplo, era um realista acerca do mundo externo e tinha
bastante confiança nos sentidos para informar as propriedades
que os objetos empíricos têm em si mesmos. Locke também
afirmava que a mente é uma folha em branco, uma tabula rasa,
que é preenchida com ideias por meio de suas interações com o
mundo. A experiência nos ensina tudo, inclusive os conceitos de
relação, identidade, causa etc.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f2/Kant_gemaelde_3.jpg Kant argumenta que o modelo da folha em branco é insuficiente
para explicar as crenças que temos sobre os objetos; alguns
A carreira filosófica de Kant pode ser dividida em três períodos. componentes de nossas experiências devem ter sido causados
O primeiro, chamado “pré-crítico”, vai de 1747 até 1770, quando pela mente.
publica sua dissertação inaugural, Sobre a Forma e os Princípios
dos Mundos Sensíveis e Inteligíveis. Os escritos desse período são
unificados pela preocupação com questões de fundamentação da KANT E OS RACIONALISTAS
ciência e da metafísica. Racionalistas como Descartes, Spinoza e Leibniz enfrentaram
O período intermediário (1771-80), chamado “a década os problemas do conhecimento humano a partir de outro ângulo.
silenciosa” devido ao fato de Kant não ter publicado praticamente Eles procuraram escapar do confinamento epistemológico da
nada, foi devotado ao estudo e à reflexão que levaram à Crítica da mente construindo o conhecimento do mundo externo, do eu,
Razão Pura. da alma, de Deus, da ética e da ciência a partir das ideias mais
simples e indubitáveis inatas na mente. Descartes, por exemplo,
O terceiro período, chamado “período crítico”, começa com a
acreditava que poderia inferir a existência dos objetos no
primeira edição da Crítica da Razão Pura em 1781. A essa obra,
espaço fora dele baseado na certeza de sua própria existência
seguiu-se os Prolegômenos a Qualquer Metafísica Futura (1783),
juntamente com o argumento de que Deus existe e não permite
os Fundamentos da Metafísica da Moral (1785), as Fundações
que o indivíduo seja enganado sobre a evidência de seus sentidos.
Metafísicas da Ciência Natural (1786), uma segunda edição da
Crítica da Razão Pura (1787), a Crítica da Razão Prática (1788), a Kant refuta Descartes afirmando que o conhecimento dos
Crítica do Juízo (1790), a Religião nos Limites da Razão (1793) e a objetos externos não pode ser inferencial. Ao contrário, a capacidade
Metafísica da Moral (1797), assim como muitos ensaios importantes de ter certeza da própria existência, presente no famoso cogito de
sobre metafísica, ciência, moral, teoria do direito, teoria política e Descartes, já pressupõe a existência de objetos fora de mim.
filosofia da história. Adicionalmente, Kant publicou compilações de
suas conferências sobre antropologia, lógica e pedagogia. Em seus
últimos anos, devotou-se a uma grande revisão de algumas de
suas perspectivas básicas sobre a metafísica e a fundamentação

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 1
FILOSOFIA 19 INTRODUÇÃO À TEORIA KANTIANA

03. (UENP)

EXERCÍCIOS “Ora, propondo-me publicar, um dia, uma Metafísica dos


costumes, faço-a preceder deste opúsculo que lhe serve de
PROTREINO fundamentação. Decerto não há, um rigor, outro fundamento em
que da possa assentar, de não seja a Crítica de uma razão pura
01. Relembre o nome de uma das principais obras de Kant. prática, do mesmo modo que, para fundamentar a Metafísica, se
requer a Crítica da razão pura especulativa por mim já publicada.
02. Aponte duas correntes filosóficas contra as quais Kant argumentava. Mas, em parte, a primeira destas Críticas não é de tão extrema
03. Aponte algumas discordâncias de Kant em relação aos Empiristas. necessidade como a segunda, porque em matéria moral a razão
humana, mesmo entre o comum dos mortais, pode ser facilmente
04. Aponte algumas discordâncias de Kant em relação aos Racionalistas. levada a alto grau de exatidão e de perfeição, ao passo que no seu
uso teorético, mas puro, da é totalmente dialética; e, em parte, no
05. Defina “ problema epistemológico”.
que concerne à Crítica de uma razão pura prática, para que ela seja
completa, reputo imprescindível que se mostre ao mesmo tempo
a unidade da razão prática e da razão especulativa num princípio
comum; pois que, em última instância, só pode haver uma e a
mesma razão, e só na aplicação desta há lugar para distinções.
EXERCÍCIOS Ora, não me seria possível aqui realizar um trabalho tão esmiuçado
PROPOSTOS e completo, sem introduzir considerações de ordem inteiramente
diferente e sem lançar a confusão no ânimo do leitor. Por isso, em
vez de dar a este livrinho o título de Crítica da razão pura prática,
01. (ENEM) Um Estado é uma multidão de seres humanos
denominei-o Fundamentação da Metafísica dos costumes.”
submetida a leis de direito. Todo Estado encerra três poderes
(Kant, Fundamentação da metafísica dos costumes, 1785)
dentro de si, isto é, a vontade unida em geral consiste de três
pessoas: o poder soberano (soberania) na pessoa do legislador; o
Sobre a filosofia moral de Kant, é correto afirmar que:
poder executivo na pessoa do governante (em consonância com
a lei) e o poder judiciário (para outorgar a cada um o que é seu de a) Kant pretende construir uma filosofia moral particularista que
acordo com a lei) na pessoa do juiz. parte da conduta e da ação individual.
KANT, I. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003. b) A proposta kantiana de ética passa pelo conceito de imperativo
categórico que pode ser reduzido na seguinte assertiva: age de
De acordo com o texto, em um Estado de direito tal forma, que a máxima de sua ação possa ser universal.
a) a vontade do governante deve ser obedecida, pois é ele que tem c) Kant usava suas concepções éticas para justificar as
o verdadeiro poder. dominações políticas dos povos não europeus.
b) a lei do legislador deve ser obedecida, pois ela é a representação d) A ética kantiana é relativista, como a dos sofistas combatidos
da vontade geral. por Sócrates na antiguidade clássica.
c) o Poder Judiciário, na pessoa do juiz, é soberano, pois é ele que e) O que constitui o bem de uma vontade boa e aquilo que ela
outorga a cada um o que é seu. efetivamente alcança.
d) o Poder Executivo deve submeter-se ao Judiciário, pois
depende dele para validar suas determinações. 04. (UEL) Leia o texto a seguir:
e) o Poder Legislativo deve submeter-se ao Executivo, na pessoa “Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa
do governante, pois ele que é soberano. com a experiência; [...] Mas embora todo o nosso conhecimento
comece com a experiência, nem por isso todo ele se origina
02. (UNCISAL) No século XVIII, o filósofo Emanuel Kant formulou justamente da experiência”.
as hipóteses de seu idealismo transcendental. Segundo Kant, Fonte: KANT, I. Crítica da Razão Pura. Tradução de Valério Rohden e Udo Baldur
Moosburguer. São Paulo, Abril Cultural, 1980, p. 22.
todo conhecimento logicamente válido inicia-se pela experiência,
mas é construído internamente por meio das formas a priori
Com base no texto e em seus conhecimentos sobre Kant,
da sensibilidade (espaço e tempo) e pelas categorias lógicas do
é correto afirmar:
entendimento. Dessa maneira, para Kant, não é o objeto que possui
uma verdade a ser conhecida pelo sujeito cognoscente, mas sim a) Para Kant, só há conhecimento empírico.
o sujeito que, ao conhecer o objeto, nele inscreve suas próprias b) A sensibilidade tem também uma função ativa na produção
coordenadas sensíveis e intelectuais. de conceitos.
De acordo com a filosofia kantiana, pode-se afirmar que c) O conhecimento de Deus é possível.
a) a mente humana é como uma “tabula rasa”, uma folha em d) Conhecimento depende também de princípios a priori.
branco que recebe todos os seus conteúdos da experiência. e) A razão pura é a fonte de nossos conhecimentos empíricos.
b) os conhecimentos são revelados por Deus para os homens.
c) todos os conhecimentos são inatos, não dependendo da 05. (UENP) Leia o fragmento:
experiência. “Tudo na natureza age segundo leis. Só um ser racional tem
d) Kant foi um filósofo da antiguidade. a capacidade de agir segundo a representação das leis, isto é,
e) para Kant, o centro do processo de conhecimento é o sujeito, segundo princípios, ou: só ele tem uma vontade. Como para derivar
não o objeto. as ações das leis é necessária a razão, a vontade não é outra coisa
senão razão prática. Se a razão determina infalivelmente a vontade,
as ações de um tal ser, que são conhecidas como objetivamente
necessárias, são também subjetivamente necessárias, isto
é, a vontade é a faculdade de escolher só aquilo que a razão
independentemente da inclinação, reconhece como praticamente
necessário, quer dizer bom”.

2 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
19 INTRODUÇÃO À TEORIA KANTIANA FILOSOFIA

(KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes.


Trad. de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1995, p. 47.)
Segundo esse texto de Kant, o Estado
a) deve sustentar todas as pessoas que vivem sob seu poder,
Assinale a alternativa correta: a fim de que a distribuição seja paritária.
a) A ética kantiana tem os mesmos princípios da ética aristotélica, b) está autorizado a cobrar impostos dos cidadãos ricos para
e por isso pode ser considerada eudemonista e utilitarista. suprir as necessidades dos cidadãos pobres.
b) Kant afirmava que o princípio da ação moral era o imperativo c) dispõe de poucos recursos e, por esse motivo, é obrigado a
categórico, que poderia ser reduzido a seguinte assertiva: “...age cobrar impostos idênticos dos seus membros.
de tal forma que a máxima de sua ação possa ser universal”. d) delega aos cidadãos o dever de suprir as necessidades do
c) Kant desenvolve uma ética do dever. Estado, por causa do seu elevado custo de manutenção.
d) No pensamento kantiano não existe qualquer distinção entre e) tem a incumbência de proteger os ricos das imposições
a lei ética, a lei física, a lei moral e a lei jurídica, porque todas pecuniárias dos pobres, pois os ricos pagam mais tributos.
possuem o mesmo princípio elementar de fundamento.
e) O sistema proposto por Kant servirá de crítica para os teóricos 08. (UNIOESTE)
posteriores que procuram defender a ideia de “ética mínima”. “A necessidade prática de agir segundo este princípio, isto é, o
dever, não assenta em sentimentos, impulsos e inclinações, mas,
06. (UEL) Leia os textos a seguir. sim, somente na relação dos seres racionais entre si, relação essa
Exercita-te primeiro, caro amigo, e aprende o que é preciso em que a vontade de um ser racional tem de ser considerada sempre
conhecer para te iniciares na política; antes, não. Então, primeiro e simultaneamente como legisladora, porque de outra forma não
precisarás adquirir virtude, tu ou quem quer que se disponha a podia pensar-se como fim em si mesmo. A razão relaciona, pois,
governar ou a administrar não só a sua pessoa e seus interesses cada máxima da vontade concebida como legisladora universal
particulares, como a cidade e as coisas a ela pertinentes. com todas as outras vontades e com todas as ações para conosco
Assim,  o que precisas alcançar não é o poder absoluto para mesmos, e isto não em virtude de qualquer outro móbil prático ou
fazeres o que bem entenderes contigo ou com a cidade, porém de qualquer vantagem futura, mas em virtude da ideia da dignidade
justiça e sabedoria. de um ser racional que não obedece à outra lei senão àquela que
PLATÃO, O primeiro Alcebíades. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2004. p. 281-285 ele mesmo simultaneamente dá a si mesmo. [...] O que se relaciona
com as inclinações e necessidades gerais do homem tem um
Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, preço venal [...], aquilo, porém, que constitui a condição só graças
da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade a qual qualquer coisa pode ser um fim em si mesma, não tem
de fazer uso do seu entendimento sem a direção de outro somente um valor relativo, isto é, um preço, mas um valor íntimo,
indivíduo... Sapere Aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio isto é, dignidade”.
entendimento, tal é o lema do esclarecimento. Kant.
KANT, I. Resposta à pergunta: que é ‘Esclarecimento’ (‘Aufklärung’). Trad. Floriano de
Souza Fernandes, 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1985. p. 100-117 Considerando o texto citado e o pensamento ético de Kant, seguem
as afirmativas abaixo:
Tendo em vista a compreensão kantiana do Esclarecimento I. Para Kant, existe moral porque o ser humano e, em geral, todo
(Aufklärung) para a constituição de uma compreensão tipicamente o ser racional, fim em si mesmo e valor absoluto, não deve ser
moderna do humano, assinale a alternativa correta. tomado simplesmente como meio ou instrumento para o uso
a) Fazer uso do próprio entendimento implica a destruição da arbitrário de qualquer vontade.
tradição, na medida em que o poder da tradição impede a II. Fim em si mesmo e valor absoluto, o ser humano é pessoa e
liberdade do pensamento. tem dignidade, mas uma dignidade que é, apenas, relativamente
b) A superação da condição de menoridade resulta do uso privado da valiosa, por se encontrar em dependência das condições
razão, em que o indivíduo faz uso restrito do próprio entendimento. psicossociais e político-econômicas nas quais vive.
c) A saída da menoridade instaura uma situação duradoura, pois III. A moralidade, única condição que pode fazer de um ser racional
as verdadeiras conquistas do Esclarecimento se afiguram fim em si mesmo e valor absoluto, pelo princípio da autonomia
como irreversíveis. da vontade, e a humanidade, enquanto capaz de moralidade,
d) A menoridade é uma tendência decorrente da natureza são as únicas coisas que têm dignidade.
humana, sendo, por esse motivo, superada no Esclarecimento, IV. As pessoas têm dignidade porque são seres livres e autônomos,
com muito esforço. isto é, seres que se submetem às leis que se dão a si mesmos,
e) A condição fundamental para o Esclarecimento é a liberdade, atendendo imediatamente aos apelos de suas inclinações,
concebida como a possibilidade de se fazer uso público da razão. sentimentos, impulsos e necessidades.
V. A autonomia da vontade é o fundamento da dignidade da
07. (ENEM (PPL)) Os ricos adquiriram uma obrigação relativamente natureza humana e de toda natureza racional e, por esta
à coisa pública, uma vez que devem sua existência ao ato de razão, a vontade não está simplesmente submetida à lei, mas
submissão à sua proteção e zelo, o que necessitam para viver; submetida à lei por ser concebida como vontade legisladora
o Estado então fundamenta o seu direito de contribuição do universal, ou seja, se submete à lei na exata medida em que ela
que é deles nessa obrigação, visando a manutenção de seus é a autora da lei (moral).
concidadãos. Isso pode ser realizado pela imposição de um imposto Das afirmativas feitas acima
sobre a propriedade ou a atividade comercial dos cidadãos, ou pelo
a) somente a afirmação I está incorreta.
estabelecimento de fundos e de uso dos juros obtidos a partir
deles, não para suprir as necessidades do Estado (uma vez que b) somente a afirmação III está incorreta.
este é rico), mas para suprir as necessidades do povo. c) as afirmações II e IV estão incorretas.
KANT, I. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003. d) as afirmações II e III estão incorretas.
e) as afirmações II, III e V estão incorretas.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 3
FILOSOFIA 19 INTRODUÇÃO À TEORIA KANTIANA

09. “Já desde os tempos mais antigos da filosofia, os estudiosos da A passagem acima informa sobre a relação entre pensamento e
razão pura conceberam, além dos seres sensíveis ou fenômenos, linguagem no racionalismo moderno.
que constituem o mundo dos sentidos, seres inteligíveis Sobre essa relação, pode-se afirmar corretamente que
particulares, que constituiriam um mundo inteligível, e, visto que
confundiam (o que era de desculpar a uma época ainda inculta) a) a linguagem, quer seja sonora quer seja em sinais, tem a
fenômeno e aparência, atribuíram realidade unicamente aos seres função de fazer o pensamento ser entendido pelos outros.
inteligíveis. De fato, se, como convém, considerarmos os objetos b) a capacidade de produzir discursos, isto é, a linguagem, é o que
dos sentidos como simples fenômenos, admitimos assim que lhes permite aos homens ter pensamentos.
está subjacente uma coisa em si, embora não saibamos como c) o entendimento entre homens se dá através da linguagem, que,
ela é constituída em si mesma, mas apenas conheçamos o seu todavia, é anterior ao pensamento.
fenômeno, isto é, a maneira como os nossos sentidos são afetados
d) o pensamento existe independentemente do discurso e, como
por este algo desconhecido”.
ocorre entre surdos e mudos, não precisa ser entendido.
Kant

Sobre a teoria do conhecimento kantiana, conforme o texto acima, 12. (ENEM)


seguem as seguintes afirmativas: TEXTO I
I. Desde sempre, os filósofos atribuíram realidade tanto aos Considero apropriado deter-me algum tempo na contemplação
seres sensíveis quanto aos seres inteligíveis. deste Deus todo perfeito, ponderar totalmente à vontade seus
II. Podemos conhecer, em relação às coisas em si mesmas, maravilhosos atributos, considerar, admirar e adorar a incomparável
apenas seu fenômeno, ou seja, a maneira como elas afetam beleza dessa imensa luz.
nossos sentidos. DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

III. Porque podemos conhecer apenas seus fenômenos, as coisas TEXTO II


em si mesmas não têm realidade.
Qual será a forma mais razoável de entender como é o mundo?
IV. Os filósofos anteriores a Kant não diferenciavam fenômeno de Existirá alguma boa razão para acreditar que o mundo foi criado
aparência, e, assim, consideravam que o fenômeno não era real. por uma divindade todo-poderosa? Não podemos dizer que a
V. As intuições puras da sensibilidade e os conceitos puros do crença em Deus é “apenas” uma questão de fé.
entendimento incidem apenas em objetos de uma experiência RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.
possível; sem as primeiras, os segundos não têm significação.
Das afirmativas feitas acima Os textos abordam um questionamento da construção da
modernidade que defende um modelo
a) apenas II e IV estão corretas.
a) centrado na razão humana.
b) apenas II, IV e V estão corretas.
b) baseado na explicação mitológica.
c) apenas II, III, IV e V estão corretas.
c) fundamentado na ordenação imanentista.
d) todas as afirmativas estão corretas.
d) focado na legitimação contratualista.
e) todas as afirmativas estão incorretas.
e) configurado na percepção etnocêntrica.
10. (ENEM) Dizem que Humboldt, naturalista do século XIX,
maravilhado pela geografia, flora e fauna da região sul-americana, 13. (UNESP) De um lado, dizem os materialistas, a mente é um
via seus habitantes como se fossem mendigos sentados sobre processo material ou físico, um produto do funcionamento cerebral.
um saco de ouro, referindo-se a suas incomensuráveis riquezas De outro lado, de acordo com as visões não materialistas, a mente
naturais não exploradas. De alguma maneira, o cientista ratificou é algo diferente do cérebro, podendo existir além dele. Ambas as
nosso papel de exportadores de natureza no que seria o mundo posições estão enraizadas em uma longa tradição filosófica, que
depois da colonização ibérica: enxergou-nos como territórios remonta pelo menos à Grécia Antiga. Assim, enquanto Demócrito
condenados a aproveitar os recursos naturais existentes. defendia a ideia de que tudo é composto de átomos e todo
ACOSTA, A. Bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos.
pensamento é causado por seus movimentos físicos, Platão insistia
São Paulo: Elefante, 2016 (adaptado). que o intelecto humano é imaterial e que a alma sobrevive à morte
do corpo.
A relação entre ser humano e natureza ressaltada no texto refletia a (Alexander Moreira-Almeida e Saulo de F. Araujo. “O cérebro produz a mente?:
permanência da seguinte corrente filosófica: um levantamento da opinião de psiquiatras”. www.archivespsy.com, 2015.)

a) Relativismo cognitivo. A partir das informações e das relações presentes no texto,


b) Materialismo dialético. conclui-se que
c) Racionalismo cartesiano. a) a hipótese da independência da mente em relação ao cérebro
d) Pluralismo epistemológico. teve origem no método científico.
e) Existencialismo fenomenológico. b) a dualidade entre mente e cérebro foi conceituada por Descartes
como separação entre pensamento e extensão.
11. (UECE) “[É] uma coisa bem notável que não haja homens [...] c) o pensamento de Santo Agostinho se baseou em hipóteses
que não sejam capazes de arranjar em conjunto diversas palavras empiristas análogas às do materialismo.
e de compô-las num discurso pelo qual façam entender seus d) os argumentos materialistas resgatam a metafísica platônica,
pensamentos; [...] os homens que, tendo nascido surdos e mudos, favorecendo hipóteses de natureza espiritualista.
são desprovidos dos órgãos que servem aos outros para falar,
[...] costumam inventar eles próprios alguns sinais, pelos quais e) o progresso da neurociência estabeleceu provas objetivas
se fazem entender por quem, estando comumente com eles, para resolver um debate originalmente filosófico.
disponha de lazer para aprender a sua língua.”
DESCARTES, R. Discurso do método, V.

4 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
19 INTRODUÇÃO À TEORIA KANTIANA FILOSOFIA

14. (ENEM PPL) Quando analisamos nossos pensamentos 17. (UNICAMP)


ou ideias, por mais complexos e sublimes que sejam, sempre A maneira pela qual adquirimos qualquer conhecimento
descobrimos que se resolvem em ideias simples que são cópias constitui suficiente prova de que não é inato.
de uma sensação ou sentimento anterior. Mesmo as ideias que, à LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p.13.
primeira vista, parecem mais afastadas dessa origem mostram, a
um exame mais atento, ser derivadas dela. O empirismo, corrente filosófica da qual Locke fazia parte,
HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
a) afirma que o conhecimento não é inato, pois sua aquisição
deriva da experiência.
Depreende-se deste excerto da obra de Hume que o conhecimento
tem a sua gênese na b) é uma forma de ceticismo, pois nega que os conhecimentos
possam ser obtidos.
a) convicção inata. c) elaboração do intelecto.
c) aproxima-se do modelo científico cartesiano, ao negar a existência
b) dimensão apriorística. d) percepção dos sentidos.
de ideias inatas.
e) realidade transcendental.
d) defende que as ideias estão presentes na razão desde o nascimento.

15. (UNESP) Os ídolos e noções falsas que ora ocupam o


18. (ENEM)
intelecto humano e nele se acham implantados não somente
o obstruem a ponto de ser difícil o acesso da verdade, como, Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do
mesmo depois de superados, poderão ressurgir como obstáculo empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira
à própria instauração das ciências, a não ser que os homens, vez no início da Modernidade, como expectativa de que o homem
já precavidos contra eles, se  cuidem o mais que possam. O poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida
homem se inclina a ter por verdade o que prefere. Em vista disso, em programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e
rejeita as dificuldades, levado pela impaciência da investigação; impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”,
rejeita os princípios da natureza, em favor da superstição; “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o
rejeita a luz da experiência, em favor da arrogância e do orgulho, homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente.
CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques, Scientiae Studia.
evitando parecer se ocupar de coisas vis e efêmeras; rejeita
São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado).
paradoxos, por respeito a opiniões vulgares. Enfim, inúmeras
são as fórmulas pelas quais o sentimento, quase sempre Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o
imperceptivelmente, se insinua e afeta o intelecto. projeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber
(Francis Bacon. Novum Organum [publicado originalmente em 1620], 1999. Adaptado.) que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse
contexto, a investigação científica consiste em
Na história da filosofia ocidental, o texto de Bacon preconiza a) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as
a) um pensamento científico racional afastado de paixões e disputas teóricas ainda existentes.
preconceitos. b) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e
b) uma crítica à hegemonia do paradigma cartesiano no ocupar o lugar que outrora foi da filosofia.
âmbito científico. c) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas
c) a defesa do inatismo das ideias contra os pressupostos da do saber que almejam o progresso.
filosofia empirista. d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e
d) a valorização romântica de aspectos sentimentais e intuitivos eliminar os discursos éticos e religiosos.
do pensamento. e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e
e) uma crítica de caráter ético voltada contra a frieza do impor limites aos debates acadêmicos.
trabalho científico.
19. (PUCPR)
16. (ENEM) Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, “Ciência e poder do homem coincidem, uma vez que, sendo a
embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por causa ignorada, frustra-se o efeito. Pois a natureza não se vence,
outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie se não quando se lhe obedece. E o que à contemplação apresenta-
de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os se como causa é regra na prática.”
raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo Fonte: BACON. Novum Organum..., São Paulo: Nova Cultural, 1999, p.40.
sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter
aprendido, não ciências, mas histórias. Tendo em vista o texto acima, assinale a alternativa correta:
DESCARTES. R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
a) Bacon estabelece que a melhor maneira de explicar os
fenômenos naturais é recorrer aos princípios inatos da razão.
Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o
conhecimento, de modo crítico, como resultado da b) Através do conhecimento científico, o homem aprende a
aceitar o domínio dos princípios metafísicos de causalidade
a) investigação de natureza empírica.
sobre a natureza.
b) retomada da tradição intelectual.
c) O conhecimento da natureza depende do poder do homem.
c) imposição de valores ortodoxos. Assim um rei conhece mais sobre a natureza do que um
d) autonomia do sujeito pensante. pobre estudante.
e) liberdade do agente moral. d) Através da contemplação - observação – da natureza o
homem aprende a conhecê-la e, então, reúne condições para
dominar a natureza.
e) Devemos ser práticos e obedecer à natureza, pois o
conhecimento das relações de causa e efeito é impossível
e sempre frustrante.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 5
FILOSOFIA 19 INTRODUÇÃO À TEORIA KANTIANA

20. (UEG) John Locke afirmou que a mente é como uma folha em Com base no texto e na epistemologia de Kant, disserte acerca de
branco na qual a cultura escreve seu texto e Descartes demonstrava sua crítica ao conhecimento humano.
desconfiança em relação aos sentidos como fonte de conhecimento.
A respeito desses dois filósofos, verifica-se o seguinte: 03. (UFU)
a) Locke é um representante do racionalismo e Descartes é um Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se resolverão
representante do empirismo. melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os objetos se
b) Locke é um representante do empirismo e Descartes é um deveriam regular pelo nosso conhecimento, o que assim já
representante do racionalismo. concorda melhor com o que desejamos, a saber, a possibilidade
c) Descartes e Locke possuíam a mesma concepção, pois ambos de um conhecimento a priori desses objetos, que estabeleça algo
eram críticos do iluminismo. sobre eles antes de nos serem dados.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Tradução de Manuela Pinto dos Santos. Lisboa:
d) Descartes é um representante do teologismo e Locke é um Fundação Calouste Gulbenkian, Prefácio da Segunda Edição, B XVI-XVII, p. 20.
representante do culturalismo.
e) Descartes é um representante do materialismo e Locke é um Com base no texto acima e em seus conhecimentos sobre a
representante do idealismo. filosofia de Kant, responda a que se refere o conhecimento a priori,
segundo Kant?

04. (UFMG) Leia este trecho:


EXERCÍCIOS DE
APROFUNDAMENTO [...] uma crítica que limita a razão especulativa é, nesta medida,
negativa; na medida em que ao mesmo tempo elimina com isso um
obstáculo que limita ou até mesmo ameaça aniquilar o uso prático,
01. (UFU) De acordo com Kant, filósofo alemão que viveu entre de fato possui utilidade positiva muito importante [...]
1724 e 1804, KANT, I. Prefácio à Segunda Edição. Crítica da razão pura. Trad. V. Rohden e U. B.
Moosburger. São Paulo: Nova Cultural, 2005, p.42.
“Nenhum conhecimento em nós precede a experiência
e todo conhecimento começa com ela. Mas, embora todo o Nesse trecho, Kant introduz duas distinções, fundamentais para o
nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso entendimento de sua filosofia, que são esclarecidas ao longo do
todo ele se origina da experiência. Pois, poderia bem acontecer “Prefácio” da obra em referência  a distinção entre as utilidades
que, mesmo o nosso conhecimento de experiência seja um negativa e positiva da crítica da razão pura e a distinção entre a
composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo que razão pura teórica, ou especulativa, e a razão pura prática.
nossa própria faculdade de conhecimento fornece de si mesma.
(...) Tais conhecimentos denominam-se a priori e distinguem-se Com base na leitura desse trecho e em outras informações
dos empíricos, que possuem suas fontes a posteriori, ou seja, contidas no referido “Prefácio à Segunda Edição”, redija dois textos,
na experiência.” a) um, estabelecendo a diferença entre as duas utilidades da crítica.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Introdução, São Paulo, Abril Cultural, 1980, b) um, explicando como essa distinção permite a Kant preservar
coleção Os Pensadores (adaptado).
o que ele chama de interesse prático da razão  isto é, a defesa
Já Hume, filósofo escocês que viveu entre 1713 e 1784, cuja obra da liberdade moral.
despertara o maior interesse em Kant, por sua vez escrevera
05. (UFU) O comentário abaixo foi feito por Kant (1724-1804) para
“O hábito é, pois, o grande guia da vida humana. É aquele
justificar o início do novo estágio da filosofia moderna, almejado
princípio único que faz com que nossa experiência nos seja útil e
com a sua obra Crítica da Razão Pura.
nos leve a esperar, no futuro, uma sequência de acontecimentos
semelhantes aos que se verificaram no passado. Sem a ação do "Até agora se supôs que todo nosso conhecimento tinha que
hábito, ignoraríamos completamente toda questão de fato além do se regular pelos objetos; porém, todas as tentativas de mediante
que está imediatamente presente à memória ou aos sentidos” conceitos estabelecer algo a priori sobre os mesmos, através
HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano, Seção IV, Parte II, 36. do que o nosso conhecimento seria ampliado, fracassaram sob
São Paulo, Abril Cultural, coleção Os Pensadores. esta pressuposição."
(Kant. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p.14. Coleção "Os Pensadores")
Comparando-se os trechos dos escritos desses dois pensadores,
explique A partir desta citação, explique em que consiste a Revolução
a) o que é o ceticismo de Hume. Copernicana realizada por Kant na filosofia.
b) de que maneira cada um desses filósofos considera a experiência
dos sentidos.

02. (UEL) Leia o texto a seguir.


Seduzido por uma tal prova de força da razão, o impulso de
ir mais além não vê limites. A leve pomba, ao sulcar livremente o
ar, cuja resistência sente, poderia crer que, no vácuo, melhor ainda
conseguiria desferir seu voo. Foi precisamente assim que Platão,
abandonando o mundo dos sentidos que encerra o entendimento
em limites tão estreitos, lançou-se nas asas das ideias pelo espaço
vazio do entendimento puro. Não reparou que os seus esforços
não logravam abrir caminho, porque não tinha um ponto de apoio,
como que um suporte, em que se pudesse firmar as suas forças
para mover o entendimento. É, porém, o destino corrente da razão
humana, na especulação, concluir o seu edifício tão cedo quanto
possível e só depois examinar se ele possui bons fundamentos.
Adaptado de: KANT, I. Crítica da Razão Pura. 3. ed. Trad. Manuela Pinto dos Santos e
Alexandre Fradique Morujão. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994. p. 41-42.

6 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
19 INTRODUÇÃO À TEORIA KANTIANA FILOSOFIA

GABARITO
ANOTAÇÕES
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. B 05. B 09. B 13. B 17. A
02. E 06. E 10. C 14. D 18. C
03. B 07. B 11. A 15. A 19. D
04. D 08. C 12. A 16. D 20. B

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01.
a) O ceticismo de Hume consiste na crítica empirista ao princípio da causalidade.
Para ele, não existem certezas irrefutáveis e não é possível conhecer de modo universal e
necessário; em vez disso operamos no conhecimento apenas com probabilidades. Como
a base de todo conhecimento são impressões variáveis e inconstantes, não é possível
obter leis universais. É tão somente pelo costume, adquirido pela sucessão recorrente dos
eventos observados, que estabelecemos relações de causa e efeito. Tal conhecimento
causal, tudo o que nos leva para além de nossa experiência imediata, não se baseia em
princípios racionais ou justificáveis, mas apenas em uma tendência psicológica natural
e inalterável de esperar que as experiências futuras se assemelhem às que tivemos
no passado. Desse modo, nossas convicções em nexos causais resultam apenas da
observação da repetição ou do hábito, e qualquer tentativa para defendê-las nos conduz
ao absurdo e à contradição.
b) A teoria do conhecimento de Hume segue a tradição empirista, atribuindo a origem
das ideias às experiências sensíveis. Para ele, as percepções da mente são de dois
tipos: impressões e ideias, que se diferem por seus graus de força e de vivacidade.
Nossas ideias são cópias das nossas impressões e as representam em todas as suas
partes, por isso são mais fracas e têm menos vivacidade do que as impressões; é o
caso das faculdades da nossa mente, como a memória e a imaginação. A lembrança de
uma dor experimentada, por exemplo, não possui tanto vigor quanto à sensação da dor
no momento em que ela ocorre, pois a experiência dos sentidos é, primeiro, sentida no
presente, como impressão, depois relembrada na memória e projetada na imaginação
como ideia. Para Kant, a experiência dos sentidos ocorre a partir de certas condições de
possibilidade a priori da experiência. Essas condições de possibilidade estão presentes no
intelecto humano e são as formas puras da sensibilidade: o espaço e o tempo. O espaço e
o tempo preexistem como faculdades do sujeito e são formas que atuam na organização
dos fenômenos da experiência e proporcionam a sua intuição empírica. Para Kant,
as intuições em composição com os conceitos do entendimento são o fundamento de
todo conhecimento. O conhecimento da realidade é a maneira como a razão, por meio de
sua estrutura a priori, organiza de modo universal e necessário os dados da experiência.
Por isso, é graças às formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e dos conceitos
a priori do entendimento (as categorias de substância, de causalidade, de relação, de
quantidade, de qualidade, etc.), que possuímos uma capacidade de conhecimento inata,
universal e necessária que não depende da experiência, mas se realiza por ocasião da
experiência sobre os objetos que essa nos oferece.
02. Kant é um filósofo moderno conhecido pelas obras críticas que produziu. No caso
em tela, destaca-se a obra Crítica da Razão Pura, cujo objeto é a reflexão acerca das
condições de possibilidade do conhecimento humano. Ao debruçar sobre tal assunto,
tão pertinente à Filosofia, Kant tece considerações críticas à metafísica, a saber, àquele
conhecimento produzido pela razão humana sem lastro empírico com a realidade.
Para Kant, há uma tendência natural de a razão humana se distanciar da realidade, em
voos altissonantes, e produzir conhecimentos que mais se aproximam de quimeras do
que de verdades. É o que ele chama de uso especulativo da razão. Contrário à metafísica,
firma posição pelo conhecimento construído a partir da experiência, sem concordar, no
entanto, que a fundamentação do conhecimento esteja circunscrita ao campo empírico.
Entre a metafísica e a experiência, entre o idealismo e o realismo, a fundamentação
do conhecimento é fixada na dimensão transcendental, a saber, nas condições de
possibilidade de o sujeito conhecer o real. Em outros termos, dir-se-á que o conhecimento
para Kant não se fundamenta no além, mas no aquém da experiência.
03. Podemos distinguir, na filosofia kantiana, três tipos de juízos que podemos fazer sobre
as coisas: 1) juízos analíticos (ou aqueles juízos nos quais já no sujeito encontramos o
predicado, ou seja, são tautológicos e, por conseguinte, não se obtém por seu intermédio
nenhum tipo de conhecimento); 2) juízos sintéticos a posteriori (ou aqueles juízos nos
quais a experiência sensível está presente e se faz parte decisiva do julgamento, logo este
tipo de juízo é particular e contingente); 3) juízos sintéticos a priori (ou aqueles juízos nos
quais o predicado não está contido no sujeito e a experiência não constitui alguma parte
decisiva do conteúdo, quer dizer, juízos nos quais se obtém conhecimento sobre algo,
porém sem que a experiência seja relevante para a conclusão obtida, o que faz deste
tipo de juízo universal e necessário). O conhecimento a priori é aquele constituído com
juízos sintéticos a priori, os exemplos de Kant que ilustram esse tipo conhecimento são a
matemática, a geometria e a física.
04.
a) A utilidade negativa da crítica da razão pura corresponde ao impedimento de condução
da razão especulativa para além dos limites da experiência. Já a utilidade positiva é de
perceber como os princípios da razão especulativa acabam por reduzir a nada o uso puro
da razão. Assim, tal crítica elimina o obstáculo ao uso prático da razão.
b) Somente seres livres se submetem à razão prática. A liberdade, no sentido kantiano,
pode ser sintetizada como a ausência de qualquer determinação externa. Uma vez que
a crítica da razão especulativa impede que esta crie obstáculos ao uso prático da razão,
isso acaba por dar ao homem a possibilidade de ser racional como fim em si mesmo,
segundo o próprio interesse prático da razão.
05. A revolução copernicana realizada por Kant na filosofia diz respeito à forma como ele
soluciona a oposição entre inatismo e empirismo. Segundo Kant, ambas as correntes
consideravam que o conhecimento deveria ser regulado pelos objetos. Kant desloca o olhar,
passando a considerar a razão como centro do conhecimento. É somente assim que ele
pode considerar o que a razão pode ou não pode conhecer, e de que forma ela conhece.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 7
FILOSOFIA 19 INTRODUÇÃO À TEORIA KANTIANA

ANOTAÇÕES

8 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
20
FILOSOFIA
TEORIAKANTIANA II E HEGEL

RESOLVENDO UM DEBATE ideias inatas e bem formadas prontas para a análise, seja
porque recebe ideias de objetos em uma espécie de teatro vazio
FILOSÓFICO ou folha em branco. A intuição crucial de Kant consiste na
afirmação de que a experiência do mundo, do modo como nós
A resposta de Kant aos problemas gerados pela controvérsia
o experimentamos, somente é possível se a mente provir uma
entre o racionalismo e o empirismo mudou a face da filosofia. Em
estrutura sistemática de suas representações. Essa estrutura
primeiro lugar, Kant defendeu que a velha divisão entre as verdades a
encontra-se abaixo do nível (ou, em outras palavras, é logicamente
priori e as verdades a posteriori empregadas por ambos os campos
anterior) das representações mentais que os empiristas e
era insuficiente para descrever a sorte de afirmações metafísicas
racionalistas analisaram. Suas teorias epistemológicas não
que estavam sob disputa. Uma análise do conhecimento também
poderiam adequadamente explicar o tipo de experiência que nós
requer uma distinção entre verdades analíticas e verdades sintéticas.
temos porque apenas consideram os resultados das interações da
Em uma proposição analítica, o predicado está contido no sujeito.
mente com o mundo, e não investigam a natureza da contribuição
Na proposição “Todo corpo ocupa um espaço”, a  propriedade de
da mente para esses resultados.
ocupar um espaço é revelada na análise do que significa ser um
corpo. O sujeito de uma proposição sintética, todavia, não contém
o predicado. Em “esta árvore mede 30 metros”, os conceitos são
sintetizados ou unidos para formar uma nova proposição que não
está contida em qualquer dos conceitos individuais. Os empiristas
e os racionalistas não conseguiram provar proposições sintéticas
a priori como “cada evento deve possuir uma causa” porque
consideraram que “sintético” e a posteriori significavam a mesma
coisa, e que “analítico” e a priori também não tinham diferença.
Então, assumiram que bastava falar de a posteriori e a priori. Uma
proposição sintética a  priori, argumenta Kant, é uma proposição
que deve ser verdadeira sem ser necessário apelar à experiência,
ainda que o predicado não esteja logicamente contido no sujeito.
Como proposições sintéticas a priori são possíveis, como no
caso de “O  eu é uma substância simples”, dado que “sintético”
não é a mesma coisa que a posteriori e que “analítico” não é o
mesmo que a priori, não há surpresa no fato de que os empiristas
e os racionalistas tenham falhado na busca pela justificação do
conhecimento.
Proposições sintéticas a priori, Kant argumenta, demandam
um tipo inteiramente diferente de provas em relação àquelas
necessárias para as proposições analíticas a priori ou para as Página de rosto da primeira edição de A Crítica da Razão Pura, de 1781.
proposições sintéticas a posteriori. Indicações de como proceder,
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/07/Kritik_der_reinen_vernunft_
diz Kant, podem ser encontradas nos exemplos das proposições erstausgabe.jpg
sintéticas a priori nas ciências naturais e na matemática,
especialmente na geometria. Afirmações como “A quantidade A ideia de que a mente tem um papel ativo na estruturação da
de matéria é sempre preservada” e “a soma dos ângulos de um realidade nos é tão familiar atualmente que é difícil compreender
triângulo sempre é igual a 180º” são conhecidas a priori, mas o caráter profundamente inovador da tese de Kant. Ele tinha
não podem ser conhecidas meramente a partir dos conceitos da bastante consciência do poder transformador de suas ideias:
matéria ou do triângulo. É necessário ir fora e além do conceito. afirmou que estava realizando uma revolução semelhante à de
Assim, as questões geradas pelo empirismo e pelo racionalismo Copérnico em nossa visão de mundo. Até Kant, imaginava-se
podem ser resumidas no problema: “Como são possíveis juízos que a nossa cognição deveria conformar-se aos objetos; mas
sintéticos a priori?” essa abordagem não podia explicar por que algumas proposições
como “Todo evento deve ter uma causa” são verdadeiras a priori.
Similarmente, Copérnico reconheceu que o movimento aparente
O CRITICISMO das estrelas não podia ser explicado somente por meio de suas
A conclusão de Kant é que um certo número de proposições órbitas em torno do observador; é o observador que deve estar se
sintéticas a priori, como as da geometria e das ciências naturais, movendo. De modo análogo, Kant argumentou que precisávamos
são verdadeiras por causa da estrutura da mente que as conhece. reformular o modo como nós pensamos sobre nossa relação
“Cada evento deve ter uma causa” não pode ser provado pela com os objetos. É a própria mente que dá aos objetos pelo menos
experiência, como demonstrou Hume; contudo, a experiência é algumas de suas características, porque eles precisam conformar-
impossível sem esse princípio, porque ele descreve o modo como se à estrutura e às capacidades conceituais da mente. Assim, o
a mente deve necessariamente ordenar suas representações. papel ativo da mente, que contribui para a criação de um mundo
Podemos compreender o argumento de Kant novamente ao que pode ser experimentado, deve ser colocado no centro de
considerarmos seus predecessores. De acordo com a tradição nossas investigações filosóficas. O lugar apropriado para qualquer
racionalista e empirista, a mente é passiva seja porque possui investigação filosófica sobre o conhecimento, diz Kant, é a mente
que é capaz de conhecer.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 1
FILOSOFIA 20 TEORIAKANTIANA II E HEGEL

GEORG W. F. HEGEL A dialética de Hegel traz uma nova visão da história, o mundo
presente deixa de ser um processo natural de construção, de
Hegel nasce em Stuttgart, um reduto da crescente religião acumulação de acontecimentos, em que as coisas acontecem
protestante luterana, dentro de um contexto de amplitude católica, ao acaso. Hegel vai considerar que a história é uma gênese de
inicialmente estuda Filosofia com a intenção de tornar-se pastor. contradições, de embates, de enfrentamentos, em que ocorre
Foi no seminário que deparou-se com a Filosofia, tendo como uma construção perene de novas acepções e formatos de pensar.
amigo Schelling e apaixonando-se pelos acontecimentos da
O processo dialético apresentado por Hegel traz algo além de
então recente Revolução Francesa. Foi um dos poucos filósofos
Heráclito, por organizar um novo pressuposto, se constitui de três
reconhecido por sua obra ainda em vida, seu livro “Fenomenologia
etapas:
do Espírito” ganhou notoriedade.
1. a tese (ou afirmação);
2. a antítese (ou negação da afirmação);
3. e a síntese (ou negação da negação, que é uma nova
afirmação).

Espiral da tese-antÍtese-síntese

A síntese de Hegel transforma-se em tese, não sendo algo


definitivo, estando sempre disposta a encontrar uma visão contrária
que afirme uma nova possibilidade, toda síntese pode virar uma tese,
basta encontrar sua antítese, um processo permanente e contínuo.
Para muitos, a dialética hegeliana é idealista, pela racionalidade
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/bf/1831_Schlesinger_
Philosoph_Georg_Friedrich_Wilhelm_Hegel_anagoria.JPG/2048px-1831_Schlesinger_ não ser mais uma busca, e sim ser a realidade em si, já que
Philosoph_Georg_Friedrich_Wilhelm_Hegel_anagoria.JPG somente com a razão é possível encontrar a realidade dialética, em
que sempre estamos construindo novas possibilidades de pensar.
O conceito de Hegel mais famoso e mais cobrado em provas e
vestibulares está na “dialética”, termo já amplamente utilizado por
outros momentos da Filosofia, como na obra de Heráclito e Sócrates, A CONSCIÊNCIA
mas que torna-se mais rebuscado na obra do autor alemão. Parte do chamado Idealismo alemão, posterior e crítico à obra
de Kant, Hegel vai tentar compreender a formulação da consciência,
DIALÉTICA seus atributos e organizações. Hegel acusava Kant de ter se
distanciado do objetivo fundamental da Filosofia, que ele entende
De maneira literal e etimológica, dialética possui o significado ser a busca pela verdade. Os filósofos anteriores concentram-se
de “dualidade”, “troca”, “diálogo”, etc. Sendo  assim, representa em abordar o entendimento da natureza, vide os racionalistas,
uma função básica e fundamental para o pensamento filosófico. empiristas e Kant, autor criticista, Hegel vai considerar um
O diálogo dialético apresenta mais de uma opinião, apresenta uma afastamento das funções primordiais.
dualidade do uso da razão, com posições contrárias que buscam A busca pela verdade ocorre pelo entendimento da consciência
o enfrentamento. humana, a consciência humana, que Hegel vai chamar de Espírito,
A dialética hegeliana apresenta uma noção permanente desse dá significado para tudo ao nosso redor. A consciência é formada
embate, em que ideias distintas entram em choque constante, em pelas experiências que possuímos com os demais, entendemos
que nenhuma ideia permanece a mesma ou fica sem alteração. quem nós somos observando os demais, em um processo de
Todas  as ideias fechadas e sólidas morrem, por passar por um oposição, que formula nossa percepção de si, sabemos quem
conflito em que novas são construídas. A  força destruidora das somos por oposição aos demais. O homem também cria sua
ideias (dialética) é a matriz do processo histórico, em que ideias consciência em contraposição aos demais seres, observando ser
opostas se enfrentam trazendo sempre novas possibilidades diferente de qualquer outra acepção de espécie.
históricas, nada permanecendo o mesmo, estando em constante A questão é que não basta somente possuir as experiências,
processo de construção. é importante uma interpretação, em que as experiências
O enfrentamento de ideias e a construção de novas percepções sejam pensadas segundo a realidade do indivíduo. Entender
é uma conquista da razão humana, a  capacidade humana de o espírito humano significa, então, relacionar as experiências
reflexão gera novas acepções da verdade, mas de maneira alguma às representações acerca delas.. As consciências evoluem, as
Hegel busca dizer que a verdade é relativa, a intenção é apresentar experiências fazem que se passe por três estágios.
o ponto fundamental da razão humana, que é tão essencial que 1. Consciência Sensível: formulação do ser sobre si mesmo,
constrói novas pontes ao pensamento humano, trazendo novas a partir de suas experiências.
relações dialéticas que constroem novas formas de pensar e olhar
para o mundo, como disse Marilena Chaui: “A razão não está na 2. Consciência Infeliz: percepção do homem em entender
História; ela é a História. A razão não está no tempo; ela é o sua influência sobre o mundo ao seu redor, momento em
tempo. Ela dá sentido ao tempo.” que o indivíduo concebe que o mundo ao seu redor gira

2 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
20 TEORIAKANTIANA II E HEGEL FILOSOFIA

em torno de suas ações. Percepção que nada ao seu redor c) os imperativos (hipotético e categórico) são fórmulas de
possui valor por si só, que o indivíduo que dá valor ao determinação necessária, segundo o princípio de uma vontade
mundo ao seu redor. que é boa em si mesma.
3. Espírito Absoluto/Consciência em si-para-si: d) o imperativo categórico representa a ação como boa em si
entendimento do poder que se tem sobre o mundo mesma e como necessária para uma vontade em si conforme
a razão.
ao seu redor, usar esse poder para mudança.
e) o imperativo hipotético declara a ação como objetivamente
necessária independentemente de qualquer intenção ou
finalidade da ação.
EXERCÍCIOS
PROTREINO 03. (UEG) Leia a citação abaixo:
“(...) Pois segundo essa lei, não poderia haver propriamente
01. Defina conhecimento a priori. promessa alguma, já que seria inútil afirmar a minha vontade quanto
às minhas futuras ações, pois as pessoas não acreditariam em meu
02. Defina conhecimento a posteriori.
fingimento, ou, se precipitadamente o fizessem, pagar-me-iam na
03. Aponte as principais ideias do Criticismo de Kant. mesma moeda. Portanto, a minha máxima, uma vez arvorada em
lei universal, destruir-se-ia a si mesma necessariamente”.
04. Defina dialética, segundo Hegel.
KANT, Immanuel. Fundamentos da metafísica dos costumes e outros escritos.
São Paulo: Martin Claret, 2004. p. 13.
05. Aponte as principais características do Espírito, na visão de Hegel.
No texto citado acima o autor se refere
a) à crítica da razão pura.
b) ao conhecimento a posteriori.
EXERCÍCIOS c) ao conhecimento a priori.
PROPOSTOS d) ao imperativo categórico.
e) ao conhecimento sensível.
01. (ENEM) Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia
regular pelos objetos; porém todas as tentativas para descobrir, 04. (UFU) Autonomia da vontade é aquela sua propriedade graças à
mediante conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimento, qual ela é para si mesma a sua lei (independentemente da natureza
malogravam‑se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma dos objetos do querer). O princípio da autonomia é, portanto: não
vez, experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da escolher senão de modo a que as máximas da escolha estejam
metafísica, admitindo que os objetos se deveriam regular pelo incluídas simultaneamente, no querer mesmo, como lei universal.
nosso conhecimento. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Paulo
KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado). Quintela. Lisboa: Edições 70, 1986, p. 85.

O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido De acordo com a doutrina ética de Kant:
como revolução copernicana na filosofia. Nele, confrontam-se a) O Imperativo Categórico não se relaciona com a matéria da
duas posições filosóficas que ação e com o que deve resultar dela, mas com a forma e o
a) assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do princípio de que ela mesma deriva.
conhecimento. b) O Imperativo Categórico é um cânone que nos leva a agir por
b) defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos inclinação, vale dizer, tendo por objetivo a satisfação de paixões
somente o ceticismo. subjetivas.
c) revelam a relação de interdependência entre os dados da c) Inclinação é a independência da faculdade de apetição das
experiência e a reflexão filosófica. sensações, que representa aspectos objetivos baseados em
d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia um julgamento universal.
das ideias em relação aos objetos. d) A boa vontade deve ser utilizada para satisfazer os desejos
e) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso pessoais do homem. Trata-se de fundamento determinante do
conhecimento e são ambas recusadas por Kant agir, para a satisfação das inclinações.

02. (UNIOESTE) “Como toda lei prática representa uma ação possível 05. (UNESP) A genuína e própria filosofia começa no Ocidente. Só
como boa e por isso como necessária para um sujeito praticamente no Ocidente se ergue a liberdade da autoconsciência. No esplendor
determinável pela razão, todos os imperativos são fórmulas da do Oriente desaparece o indivíduo; só no Ocidente a luz se torna a
determinação da ação que é necessária segundo o princípio de uma lâmpada do pensamento que se ilumina a si própria, criando por si
vontade boa de qualquer maneira. No caso da ação ser apenas boa o seu mundo. Que um povo se reconheça livre, eis o que constitui o
como meio para qualquer outra coisa, o imperativo é hipotético; seu ser, o princípio de toda a sua vida moral e civil. Temos a noção
se a ação é representada como boa em si, por conseguinte, como do nosso ser essencial no sentido de que a liberdade pessoal é
necessária numa vontade em si conforme à razão como princípio a sua condição fundamental, e de que nós, por conseguinte, não
dessa vontade, então o imperativo é categórico”. podemos ser escravos. O estar às ordens de outro não constitui
o nosso ser essencial, mas sim o não ser escravo. Assim, no
Kant Considerando o pensamento ético de Kant e o texto acima, é Ocidente, estamos no terreno da verdadeira e própria filosofia.
correto afirmar que (Hegel. Estética, 2000. Adaptado.)
a) o imperativo hipotético representa a necessidade prática
de uma ação como subjetivamente necessária para um ser De acordo com o texto de Hegel, a filosofia
determinável pelas inclinações. a) visa ao estabelecimento de consciências servis e representações
b) o imperativo categórico representa a necessidade prática de homogêneas.
uma ação como meio para se atingir um fim possível ou real.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 3
FILOSOFIA 20 TEORIAKANTIANA II E HEGEL

b) é compatível com regimes políticos baseados na censura e d) Para Kant, não é possível que o indivíduo constitua um fim em
na opressão. si mesmo. Por isso mesmo, ele precisa espelhar-se na ação
c) valoriza as paixões e os sentimentos em detrimento da dos demais para a sua ação.
racionalidade. e) O imperativo categórico corresponde à condição do estado de
d) é inseparável da realização e expansão de potenciais de razão natureza, que é anterior à instituição do Estado civil.
e de liberdade.
e) fundamenta-se na inexistência de padrões universais de 09. (UEM-ADPTADA) “O propósito desta crítica da razão
julgamento. especulativa pura consiste na tentativa de reformular o
procedimento habitual da metafísica, propondo-nos deste modo
uma completa revolução em relação a esta segundo o exemplo
06. (UFU) A dialética de Hegel dos geômetras e pesquisadores da natureza. Ela é um tratado do
a) envolve duas etapas, formadas por opostos encontrados na método e não um sistema da própria ciência; ainda assim desenha
natureza (dia-noite, claro-escuro, frio-calor). o contorno total da metafísica, tanto no que respeita seus limites
b) é incapaz de explicar o movimento e a mudança verificados quanto à estrutura interna total de seus membros”.
tanto no mundo quanto no pensamento. KANT, I. Crítica da razão pura. In: MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia.
Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 111.
c) é interna nas coisas objetivas, que só podem crescer e perecer
em virtude de contradições presentes nelas. A partir do texto citado, é correto afirmar que o projeto da crítica
d) é um método (procedimento) a ser aplicado ao objeto de de Kant
estudo do pesquisador. a) busca ater-se apenas aos métodos das ciências teóricas,
como a metafísica.
07. (UNIOESTE) O filósofo alemão Immanuel Kant formulou, na b) reformula o modo como são adquiridos os conhecimentos
Crítica da Razão Pura, uma divisão do conhecimento e acesso dialéticos.
da razão aos fenômenos. Fenômenos não são coisas; eles
nomeiam aquilo que podemos conhecer das coisas, através das c) volta-se para a razão especulativa, no tocante aos seus
formas da sensibilidade (Espaço e Tempo) e das categorias do procedimentos mais recorrentes.
entendimento (tais como Substância, Relação, Necessidade etc.). d) visa ser tão somente uma ciência pura, haja vista sua
Assim, Kant afirma que o conhecimento humano é finito (limitado preocupação com a definição de um método próprio.
por suas formas e categorias). Como poderia haver, então, e) busca transformar a razão pura, a razão prática e a estética em
algum conhecimento universalmente válido? Ele afirma que tal um sistema científico.
conhecimento se formula num “juízo sintético a priori”. Juízos são
afirmações; o adjetivo “sintéticos” significa que essas afirmações 10. (UNIOESTE) “Até agora se supôs que todo nosso conhecimento
reúnem conceitos diferentes; “a priori”, por sua vez, indica aquilo tinha que se regular pelos objetos; porém, todas as tentativas de
que é obtido sem acesso à experiência dos fenômenos, antes mediante conceitos estabelecer algo a priori sobre os mesmos,
deles e para que os fenômenos possam ser reunidos em um através do que o nosso conhecimento seria ampliado, fracassaram
conhecimento que tenha unidade e sentido. sob esta pressuposição. Por isso tente-se ver uma vez se não
Com base nisso, indique a alternativa CORRETA. progredimos melhor nas tarefas da Metafísica admitindo que os
a) Para Kant, o conhecimento humano é diretamente dado pela objetos têm que se regular pelo nosso conhecimento a priori, o
experiência das coisas, acessíveis pelos sentidos (visão, que assim já concorda melhor com a requerida possibilidade de
audição, etc.). um conhecimento a priori dos mesmos que deve estabelecer algo
sobre os objetos antes de nos serem dados”.
b) Juízos sintéticos a priori são afirmações de conhecimento cuja
(Kant)
natureza é particular e que se altera caso a caso.
c) Se a Metafísica é o conhecimento da essência das coisas elas De acordo com o pensamento de Kant, é correto afirmar que
mesmas, Kant é, na Crítica da Razão Pura, um defensor da
a) o conhecimento resulta da ação dos objetos sobre nossa
Metafísica, e não um defensor da finitude do conhecimento.
capacidade perceptiva, de modo que todo conhecimento deriva
d) Para Kant, Espaço e Tempo são categorias do entendimento da experiência.
mediante as quais conhecemos os fenômenos.
b) nada pode ser estabelecido sobre os objetos que não seja dado
e) Juízos sintéticos a priori permitem organizar o conhecimento, por eles ou por meio deles.
dando a ele validade universal e unicidade.
c) nosso conhecimento é regulado por princípios que se
encontram em nossa mente; como tais, são anteriores e
08. (UNIOESTE) Na obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes, independentes de toda experiência.
Kant apresenta uma formulação do imperativo categórico:
d) é dispensável fazer uma crítica da Razão e dos limites e
“Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo possibilidade do conhecimento.
tempo querer que ela se torne lei universal”.
e) a Metafísica se constituiu há muito tempo como disciplina que
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes.
São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 129 “encetou o caminho seguro de uma ciência” (Kant).

Em relação ao pensamento de Kant, é CORRETO afirmar. 11. (UNESP) A genuína e própria filosofia começa no Ocidente. Só
a) O propósito do imperativo categórico é o de permitir que o no Ocidente se ergue a liberdade da autoconsciência. No esplendor
indivíduo decida suas ações sem que tenha que se preocupar do Oriente desaparece o indivíduo; só no Ocidente a luz se torna a
com os demais. lâmpada do pensamento que se ilumina a si própria, criando por si
o seu mundo. Que um povo se reconheça livre, eis o que constitui o
b) O imperativo categórico tem por objetivo desfazer o conflito
seu ser, o princípio de toda a sua vida moral e civil. Temos a noção
entre a providência divina, relacionada à cidade de Deus, e o
do nosso ser essencial no sentido de que a liberdade pessoal é
espaço terreno.
a sua condição fundamental, e de que nós, por conseguinte, não
c) O imperativo categórico vincula a conduta moral a uma podemos ser escravos. O estar às ordens de outro não constitui
norma universal. o nosso ser essencial, mas sim o não ser escravo. Assim, no

4 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
20 TEORIAKANTIANA II E HEGEL FILOSOFIA

Ocidente, estamos no terreno da verdadeira e própria filosofia. c) Necessidade da boa vontade e crítica da metafísica.
(Hegel. Estética, 2000. Adaptado.) d) Prescindibilidade do empírico e autoridade da razão.
De acordo com o texto de Hegel, a filosofia e) Interioridade da norma e fenomenalidade do mundo.
a) visa ao estabelecimento de consciências servis e representações
15. (ENEM) Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir
homogêneas.
dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar,
b) é compatível com regimes políticos baseados na censura mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer
e na opressão. firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de
c) valoriza as paixões e os sentimentos em detrimento da fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante para
racionalidade. perguntar a si mesma: não é proibido e contrário ao dever livrar-se
d) é inseparável da realização e expansão de potenciais de razão de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua
e de liberdade. máxima de ação seria: quando julgo estar em apuros de dinheiro,
vou pedi-lo emprestado e prometo pagá-lo, embora saiba que tal
e) fundamenta-se na inexistência de padrões universais de nunca sucederá.
julgamento. KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

12. (UEL) Leia o texto a seguir e responda à questão. De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de pagamento”
O tempo nada mais é que a forma da nossa intuição interna. representada no texto
Se a condição particular da nossa sensibilidade lhe for suprimida, a) assegura que a ação seja aceita por todos a partir da livre
desaparece também o conceito de tempo, que não adere aos discussão participativa.
próprios objetos, mas apenas ao sujeito que os intui. b) garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade
KANT, I. Crítica da razão pura. Trad. Valério Rohden e Udo Baldur Moosburguer.
São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 47. Coleção Os Pensadores.
da vida futura na terra.
c) opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer
Com base nos conhecimentos sobre a concepção kantiana de como norma universal.
tempo, assinale a alternativa correta. d) materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana
a) O tempo é uma condição a priori de todos os fenômenos em geral. podem justificar os meios.
b) O tempo é uma representação relativa subjacente às intuições. e) permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade
c) O tempo é um conceito discursivo, ou seja, um conceito para as pessoas envolvidas.
universal.
d) O tempo é um conceito empírico que pode ser abstraído de 16. (UNESP) A maior violação do dever de um ser humano consigo
qualquer experiência. mesmo, considerado meramente como um ser moral (a humanidade
em sua própria pessoa), é o contrário da veracidade, a mentira [...].
e) O tempo, concebido a partir da soma dos instantes, é infinito. A mentira pode ser externa [...] ou, inclusive, interna. Através de uma
mentira externa, um ser humano faz de si mesmo um objeto de
13. (ENEM PPL) desprezo aos olhos dos outros; através de uma mentira interna, ele
A pura lealdade na amizade, embora até o presente não realiza o que é ainda pior: torna a si mesmo desprezível aos seus
tenha existido nenhum amigo leal, é imposta a todo homem, próprios olhos e viola a dignidade da humanidade em sua própria
essencialmente, pelo fato de tal dever estar implicado como dever pessoa [...]. Pela mentira um ser humano descarta e, por assim
em geral, anteriormente a toda experiência, na ideia de uma razão dizer, aniquila sua dignidade como ser humano. [...] É possível que
que determina a vontade segundo princípios a priori. [a mentira] seja praticada meramente por frivolidade ou mesmo
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Barcarolla, 2009. por bondade; aquele que fala pode, até mesmo, pretender atingir
um fim realmente benéfico por meio dela. Mas esta maneira de
A passagem citada expõe um pensamento caracterizado pela perseguir este fim é, por sua simples forma, um crime de um ser
a) eficácia prática da razão empírica. humano contra sua própria pessoa e uma indignidade que deve
torná-lo desprezível aos seus próprios olhos.
b) transvaloração dos valores judaico-cristãos. (Immanuel Kant. A metafísica dos costumes, 2010.)
c) recusa em fundamentar a moral pela experiência.
d) comparação da ética a uma ciência de rigor matemático. Em sua sentença dirigida à mentira, Kant
e) importância dos valores democráticos nas relações de amizade. a) considera a condenação relativa e sujeita a justificativas, de
acordo com o contexto.
14. (ENEM) b) assume que cada ser humano particular representa toda a
humanidade.
TEXTO I
c) apresenta um pensamento desvinculado de pretensões
Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre
racionais universalistas.
crescentes: o céu estrelado sobre mim e a lei moral em mim.
KANT, I. Crítica da razão prática. Lisboa: Edições 70, s/d (adaptado). d) demonstra um juízo condenatório, com justificação em
motivações religiosas.
TEXTO II e) assume o pressuposto de que a razão sempre é governada
Duas coisas admiro: a dura lei cobrindo-me e o estrelado céu pelas paixões.
dentro de mim.
FONTELA, O. Kant (relido). In: Poesia completa. São Paulo: Hedra, 2015. 17. (UNESP) A fonte do conceito de autonomia da arte é o
pensamento estético de Kant. Praticamente tudo o que fazemos
A releitura realizada pela poeta inverte as seguintes ideias centrais na vida é o oposto da apreciação estética, pois praticamente tudo
do pensamento kantiano: o que fazemos serve para alguma coisa, ainda que apenas para
a) Possibilidade da liberdade e obrigação da ação. satisfazer um desejo. Enquanto objeto de apreciação estética,
uma coisa não obedece a essa razão instrumental: enquanto tal,
b) A prioridade do juízo e importância da natureza.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 5
FILOSOFIA 20 TEORIAKANTIANA II E HEGEL

ela não serve para nada, ela vale por si. As hierarquias que entram 20. (UEL) Leia o texto a seguir.
em jogo nas coisas que obedecem à razão instrumental, isto é, nas Rochedos audazes sobressaindo-se por assim dizer
coisas de que nos servimos, não entram em jogo nas obras de arte ameaçadores, nuvens carregadas acumulando-se no céu,
tomadas enquanto tais. Sendo assim, a luta contra a autonomia avançando com relâmpagos e estampidos, vulcões em sua
da arte tem por fim submeter também a arte à razão instrumental, inteira força destruidora, furacões com a devastação deixada
isto é, tem por fim recusar também à arte a dimensão em virtude para trás, o ilimitado oceano revolto, uma alta queda d’água de
da qual, sem servir para nada, ela vale por si. Trata-se, em suma, da um rio poderoso etc. tornam nossa capacidade de resistência
luta pelo empobrecimento do mundo. de uma pequenez insignificante em comparação com o seu
(Antônio Cícero. “A autonomia da arte”. Folha de São Paulo, 13.12.2008. Adaptado.) poder. Mas o seu espetáculo só se torna tanto mais atraente
quanto mais terrível ele é, contanto que, somente, nos
De acordo com a análise do autor, encontremos em segurança; e de bom grado denominamos
a) a racionalidade instrumental, sob o ponto de vista da filosofia estes objetos sublimes, porque eles elevam a fortaleza da alma
de Kant, fornece os fundamentos para a apreciação estética. acima de seu nível médio e permitem descobrir em nós uma
b) um mundo empobrecido seria aquele em que ocorre o faculdade de resistência de espécie totalmente diversa, a qual
esvaziamento do campo estético de suas qualidades intrínsecas. encoraja a medir-nos com a aparente onipotência da natureza.
(KANT, I. Crítica da Faculdade do Juízo. Trad. Antonio Marques e Valério Rohden. Rio de
c) a transformação da arte em espetáculo da indústria cultural é um Janeiro: Forense Universitária, 1995. p. 107.)
critério adequado para a avaliação de sua condição autônoma.
d) o critério mais adequado para a apreciação estética consiste Com base no texto e nos conhecimentos sobre o juízo de gosto e
em sua validação pelo gosto médio do público consumidor. o sublime na estética moderna, particularmente em Kant, assinale
a alternativa correta.
e) a autonomia dos diversos tipos de obra de arte está
prioritariamente subordinada à sua valorização como produto a) O conceito de beleza, resultante da atividade do entendimento,
no mercado. permite apreender o sentido dos eventos ameaçadores,
protegendo o sujeito da destruição.
18. (UNIOESTE) Em sua crítica a Tales de Mileto, o pensador b) Os elementos da natureza compõem o núcleo da teoria kantiana
alemão Hegel afirmou que a proposição pela qual o primeiro do juízo de gosto, constituindo, também, parte importante da
filósofo ficou conhecido – cuja formulação seria aproximadamente sua concepção de gênio.
‘a água é o princípio essencial de todos os seres’ – é filosófica c) Os eventos naturais de proporções ameaçadoras provocam
porque enunciaria a concepção de que tudo é um. Assim, a infinda nosso interesse quando nos situam na possibilidade iminente
multiplicidade dos seres remeteria a uma unidade essencial. de sermos por eles destruídos.
Para Hegel, porém, esse princípio essencial deve ser absolutamente
d) O sublime não está contido em nenhuma coisa da natureza,
diferente dos seres que ele gera, sustenta e comanda.
e sim em nosso ânimo, quando nos tornamos conscientes de
Com base no que foi dito, é CORRETO afirmar: nossa superioridade à natureza.
a) Hegel concorda com a tese de Tales de que a água é o princípio e) A faculdade de resistência à dimensão ameaçadora e
essencial dos múltiplos seres. destruidora dos eventos naturais de grande magnitude é a
b) Hegel afirma que a multiplicidade não pode ser submetida a faculdade produtora do belo.
um princípio essencial.
c) O primeiro filósofo afirma que o princípio essencial é
universalmente diferente dos seres gerados. EXERCÍCIOS DE
d) Hegel supõe que a filosofia diz a unidade dos seres, mas que a
essência não é um ser entre outros.
APROFUNDAMENTO
e) Tales se baseou na necessidade da água para os seres vivos, 01.(UFPR) O cidadão não pode recusar-se a arcar com os impostos
para fundar a filosofia da natureza. que lhe são cobrados; uma censura impertinente de tais taxas, na
ocasião em que deve pagá-las, pode até mesmo ser punida como
19. (UECE) “No Brasil, a tortura ganhou destaque durante o período um escândalo [...]. Apesar disso, o mesmo indivíduo não age contra
da ditadura militar, quando foram cometidos diversos atos de tortura o dever de um cidadão, quando, na condição de instruído, exprime
contra pessoas consideradas pelo governo como uma ‘ameaça’ publicamente seus pensamentos contra a impropriedade ou
à ordem e à paz. Após esse período turbulento, a Assembleia mesmo injustiça de tais imposições.
Constituinte se reuniu para elaborar a nova Constituição, aquela (KANT, I. Resposta da questão: O que é esclarecimento? Trad. Vinicius de Figueiredo.
que mais tarde seria considerada como a Constituição Cidadã, pois In: MARÇAL, J.; CABARRAÞO, M.; FANTIN, M. E. (Orgs.). Antologia de Textos Filosóficos.
Curitiba: SEED-PR, 2009, p. 410.)
ressalta o respeito à dignidade da pessoa humana e a garantia dos
direitos essenciais”.
Como fica claro na passagem acima, para Kant os homens não
TEIXEIRA, Adriano Mendes. Os crimes de tortura e o princípio constitucional da
dignidade da pessoa humana. Disponível em: https://adrianomendes2016.jusbrasil. poderiam agir segundo o próprio entendimento quando se trata
com.br/artigos/385521311/os-crimes-de-tortura-e-o-principio-constitucionalda- de cumprir as leis. Construa uma argumentação mostrando em
dignidade-da-pessoa-humana que sentido essa afirmação não constitui uma contradição em
relação à defesa que o filósofo faz, no conjunto do texto, de um uso
O conceito de pessoa na expressão “dignidade da pessoa humana” autônomo do entendimento.
se refere ao conceito
a) jurídico de persona, no sentido hobbesiano, como indivíduo em 02. (UNESP)
sua existência legal como membro do Estado.
Texto 1
b) religioso, no sentido agostiniano, da pessoa individual como
Todo ser humano tem um direito legítimo ao respeito de
imago dei, ou seja, criado à imagem e semelhança de Deus.
seus semelhantes e está, por sua vez, obrigado a respeitar todos
c) estético-teatral, como dramatis personae, lista dos personagens os demais. A humanidade em si mesma é uma dignidade, pois
principais de uma obra teatral. um ser humano não pode ser usado meramente como um meio
d) ético-moral, no sentido kantiano, em que o homem, como ser (instrumento) por qualquer ser humano.
racional, é fim em si mesmo e nunca meio. (Immanuel Kant. A metafísica dos costumes, 2010. Adaptado.)

6 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
20 TEORIAKANTIANA II E HEGEL FILOSOFIA

Texto 2 muitas vezes permanecer na menoridade. Considerando essa tese,


Ao se assenhorar de um Estado, aquele que o conquista deve discorra sobre a diferença entre “menoridade” e “esclarecimento”,
definir as más ações a executar e fazê-lo de uma só vez, a fim de em Kant, e explique em que sentido o homem pode ser considerado
não ter de as renovar a cada dia. Deve-se fazer as injúrias todas culpado por não atingir o esclarecimento.
de um só golpe. Quanto aos benefícios, devem ser concedidos aos
poucos, de sorte que sejam mais bem saboreados. GABARITO
(Nicolau Maquiavel. O príncipe, 2000. Adaptado.)
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. A 05. D 09. C 13. C 17. B
a) Considerando o texto 1, explique por que a ética de
Kant apresenta um alcance universalista. Justifique sua 02. D 06. C 10. C 14. E 18. D

compatibilidade com o Iluminismo filosófico. 03. D 07. E 11. D 15. C 19. D


04. A 08. C 12. A 16. B 20. D
b) Considerando o texto 2, explique a posição assumida por Maquiavel
em relação à manipulação política. Justifique a incompatibilidade EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
entre a ética de Kant e os procedimentos recomendados por 01. Pensando a partir das teorias política e ética de Immanuel Kant, filósofo iluminista,
Maquiavel para a manutenção do poder político. percebe-se que, para ele, na organização da vida em sociedade, o indivíduo tem a sua
liberdade limitada pela ação reguladora e pelo aparato jurídico do Estado, exercida através
das suas instituições, e seria dentro dessas condições que a liberdade individual deveria
03. (UNESP) É esse o sentido da famosa formulação do filósofo ser exercida. Kant aponta que cada indivíduo só pode exercer a liberdade que reconhece
igualmente a todos os outros, de modo que essa prática é ela mesma uma solução para
Kant sobre o imperativo categórico: “Aja unicamente de acordo com as contradições da vida em sociedade. Consequentemente, a liberdade é limitada pelas
uma máxima tal que você possa querer que ela se torne uma lei leis civis instituídas a partir do contrato social, não se confundindo, entretanto, com a
universal”. Isso é agir de acordo com a humanidade, em vez de agir obediência alienada e inquestionável, mas sim com a possibilidade de reflexão crítica,
inclusive da crítica sobre o próprio Estado, desde que em conformidade com o poder
conforme o seu “euzinho querido”, e obedecer à razão em vez de normativo democrático. Agir segundo esse princípio seria, do ponto de vista da ética
obedecer às suas tendências ou aos seus interesses. Uma ação só kantiana, uma ação por dever, e este dever ético estaria, por sua vez, fundamentado na
é boa se o princípio a que se submete (sua “máxima”) puder valer, garantia da dignidade dos seres racionais que, fazendo uso de sua liberdade, instituem
leis a si mesmos. Nesse sentido, a afirmação presente no texto, não entra em contradição
de direito, para todos: agir moralmente é agir de tal modo que você com o uso autônomo do entendimento.
possa desejar, sem contradição, que todo indivíduo se submeta aos
02.
mesmos princípios que você. Não é porque Deus existe que devo
a) A ética kantiana é universalista ao ter como elemento central o indivíduo e sua relação
agir bem; é porque devo agir bem que posso necessitar – não para com os demais, exatamente como ele apresenta em seu imperativo categórico. Isso está
ser virtuoso, mas para escapar do desespero – de crer em Deus. alinhado com o iluminismo na medida em que valoriza o indivíduo e a razão, inspirando
Mesmo se Deus não existir, mesmo se não houver nada depois da inclusive a ideia de Direitos Humanos universais.

morte, isso não dispensará você de cumprir com o seu dever, em b) Maquiavel está preocupado com a manutenção da comunidade política. Assim,
o governante deve ser capaz de, guiado pela virtù, identificar qual ação política deve
outras palavras, de agir humanamente. tomar. Sua ética é incompatível com a ética kantiana na medida em que não se alinha ao
André Comte-Sponville. Apresentação da filosofia, 2002. Adaptado. imperativo categórico por reconhecer na “maldade” uma função positiva para a política
03. O imperativo categórico kantiano se baseia na universalidade moral, haja vista que
O conceito filosófico de imperativo categórico é baseado no concebe como ação moral aquela que pode valer como lei universal, constituindo um
dever que seria fundamentado em uma razão também universal. A ética kantiana dispensa
relativismo ou na universalidade moral? Justifique sua resposta. justificativas de caráter religioso pois, para Kant, a moral possui fim em si mesma, ou seja,
Explique o motivo pelo qual a ética kantiana dispensa justificativas a ação moral justifica a si mesma pelo fato de ser moral, não necessitando de nenhuma
de caráter religioso. outra justificativa e sendo uma ação por dever
04.

04. (UFU) Tal é o eterno equivoco da liberdade, o de conhecer a) A liberdade em Hegel é entendida dentro de um contexto maior que é o Estado. Para o
autor, a liberdade concreta está além da satisfação dos desejos e paixões individuais.
apenas o sentimento formal, subjetivo, abstraído dos objetos e fins Para ele, quando limitamos os instintos não estamos limitando toda a liberdade, apenas
que lhe são essenciais. Desse modo, a limitação dos instintos, da parte dela. Desta forma, os impedimentos para a liberdade podem ser descritos pela
cobiça e da paixão, que só pertence ao indivíduo, é tida como uma ausência da organização do Estado e da Sociedade. Esta ausência promove a ilusão
de que os desejos os instintos e paixões são limitados, ou seja, esta visão apresenta-se
limitação da liberdade. Mas antes de mais nada, tal limitação é pura ligada a um determinismo natural do qual os sujeitos individuais não podem escapar.
e simplesmente a condição da qual surge a libertação, sendo a Contudo, a libertação do determinismo natural, ocorre por meio da reflexão, motivada
sociedade e o Estado as condições nas quais a liberdade se realiza. pela razão. Esta reflexão realiza uma purificação dos instintos e eleva o indivíduo para a
construção de uma liberdade plena.
HEGEL, G. W. F. Filosofia da história. 2. ed. Tradução de Maria Rodrigues e Hans Harden.
Brasília/DF: Editora da UnB, 1998. p. 41. b) Pelo uso da razão, utilizam-se os instintos e paixões para realizações maiores. A paixão,
segundo Hegel, move o mundo. Assim, cada ser humano, na realização controlada de
suas paixões e interesses, contribuem para a realização de interesses universais. Como
Com base no texto acima, responda: a realização dos homens é a realização universal, cada ideia instintiva contribui para a
ampliação da realização de todos os homens. O que ocorre neste processo é o fato de
a) Quais são os impedimentos para a liberdade enquanto tal? que por meio do Estado (instrumento) se constrói o fim último do Espírito/Ideia. Em outras
b) Por que o Estado é a condição para a liberdade em sua palavras, o desenvolvimento da liberdade representa o progresso do desenvolvimento
de uma consciência libertadora, como em uma marcha contínua. Por meio do Estado
realidade concreta? ocorre a união da vontade subjetiva e a vontade universal do Espírito. A liberdade concreta
somente se realiza no Espírito Absoluto, por ele representa o fim último a realidade para
o qual todos convergem. Neste Espírito, a liberdade subjetiva (satisfação dos desejos
05. (UFPR) É tão cômodo ser menor. Possuo um livro que faz as e paixões individuais) contribuiu para a realização da liberdade concreta. Pode-se
vezes de meu entendimento; um guru espiritual, que faz as vezes estabelecer então, que a liberdade, na dialética hegeliana, pode ser entendida como: Tese
de minha consciência; um médico, que decide por mim a dieta – a meta da história universal é o progresso na consciência da liberdade. Antítese – os
meios para alcançar o seu fim são as paixões e o egoísmo dos indivíduos. Síntese –
etc.; assim não preciso eu mesmo dispender nenhum esforço. A união de ambos os momentos é a efetivação da liberdade no Estado.
Não  preciso necessariamente pensar, se posso apenas pagar;
05. De acordo com a filosofia kantiana, o conceito de “menoridade” se refere ao estado em
outros se incumbirão por mim dessa aborrecida ocupação. que o indivíduo não faz uso autônomo de sua própria razão, seguindo, por consequência,
(KANT, I. Resposta aÌ questão: O que eì esclarecimento? Trad. Vinicius de Figueiredo. a razão de outro e permanecendo em um estado de menoridade do ponto de vista
In: MARÇAL, J.; CABARRAÞO, M.; FANTIN, M. E. (Orgs.). Antologia de Textos Filosóficos. intelectual. O conceito de “esclarecimento”, por sua vez, se relaciona ao estado em que
Curitiba: SEED-PR, 2009, p. 407.) o indivíduo possui liberdade e autonomia para pensar e fazer uso da razão ele próprio.
Segundo Kant, muitos indivíduos, entretanto, permanecem no estado de menoridade por
conformismo e comodidade ou, ainda, por covardia, diante da possibilidade de pensar por
Na passagem citada acima, Kant apresenta alguns exemplos
si mesmo e das responsabilidades inerentes a isso.
para sua tese de que o homem, mesmo já sendo adulto, prefere

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 7
FILOSOFIA 20 TEORIAKANTIANA II E HEGEL

ANOTAÇÕES

8 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
21
FILOSOFIA
ILUMINISMO E A FILOSOFIA

ENTENDENDO O ILUMINISMO A percepção do ideal iluminista vai entender que através da


razão o homem é capaz de compreender o mundo a sua volta sem
A Filosofia anda conjuntamente aos acontecimentos históricos: as amarras da superstição, do medo e dogmas religiosos. A prática
uma revolução influencia a forma de pensar de um povo, um livro pode racional do pensar e refletir estabelece a base para o ser humano
influenciar uma revolução e todo movimento efetivo foi conjugado a garantir suas liberdades, bem como se posicionar contra diferentes
pensadores que entenderam e trouxeram reflexões acerca do tema. O formas de tirania.
Iluminismo, além de um importante momento histórico, foi um instante
Além disso, da perspectiva iluminista é possível afirmar que
de produção de novos conhecimentos, momento em que o homem
o uso da razão possibilita o avanço das ciências, das artes e da
trouxe novas perspectivas de entendimento de sua realidade.
moral, dessa forma, contribuindo para uma ideia de progresso de
Entre filósofos, existem variadas definições, a mais famosa é de povos e civilizações.
Kant, que diz: Entre seus pensadores mais relevantes temos Voltaire (1694
“O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma - 1778), visto por muitos como o mais importante filósofo do Ilumi-
tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são nismo, defendia o fim da sociedade de privilégios, além das liber-
aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão dades individuais. Montesquieu (1689 - 1755), autor de destaque
independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria em função da sua obra O Espírito das Leis (1748), no qual defendia
tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento, a necessidade de divisão das funções do Estado em três poderes
mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentes para coibir a prática despótica do poder e garantir a
independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem liberdade dos indivíduos.
para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do Iluminismo.”
Mas o Iluminismo promoveu reflexões e transformações não
apenas no plano filosófico. Podemos entendê-lo ainda como um
movimento político, social, cultural e econômico presente
principalmente na Europa do século XVIII, também chamado de
“Ilustração” ou de “Século das Luzes”. Defendia principalmente
liberdades individuais, com destaque para liberdade religiosa, além
de criticar de forma veemente o absolutismo monárquico e os
diversos privilégios do clero e da nobreza. O Iluminismo possui
diversas influências anteriores, como o advento do Racionalismo, o
período do Renascimento Cultural e a Revolução Científica.

OS ILUMINISTAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES


Entre os principais nomes, destacamos Cesare Beccaria,
Voltaire, Denis Diderot, Jean-Jacques Rousseau, David Hume, François-Marie Arouet, conhecido pelo pseudônimo Voltaire.
Adam Smith e Immanuel Por Nicolas de Largillière
Kant. Entre as principais obras https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f2/Atelier_de_Nicolas_de_
Largilli%C3%A8re%2C_portrait_de_Voltaire%2C_d%C3%A9tail_%28mus%C3%A9e_
enfatizamos: Encyclopédie
Carnavalet%29_-002.jpg
(Enciclopédia), que foi
compilada por Denis Diderot
Por fim, Rousseau ( 1712 – 1778), nascido na Suíça e dos mais
e Jean le Rond d’Alembert e
um grupo de 150 cientistas e radicais iluministas, ao contrário de grande parte dos pensadores
filósofos (entre 1751 e 1772); do período, não abraçou uma postura plenamente otimista em
Dictionnaire philosophique relação ao poder da razão e o consequente progresso. Criticava a
(Dicionário Filosófico, 1764) sociedade burguesa em favor das camadas mais populares, com
e Cartas Filosóficas (1733), isso, defendia uma sociedade baseada na soberania do povo, na
de Voltaire; Discurso sobre justiça social e na igualdade.
a Origem e os Fundamentos
da Desigualdade entre os
Homens (1754) e Do Contrato LEGADO DO ILUMINISMO
Social (1762), de Rousseau; A São variadas as propostas trazidas pelo movimento Iluminista
Riqueza das Nações de Adam que ficaram como marcas para a posteridade: a defesa da
Smith (1776); e O Espírito das evidente igualdade jurídica, uma busca pela liberdade religiosa,
Leis (1748), de Montesquieu. Primeira página da uma recorrente crítica ao absolutismo, por considerar que era
Ao falarmos sobre Enciclopédia, ou Dicionário necessário ter um liberalismo econômico, o debate sobre uma maior
as características do Racional das Ciências, das participação política dos cidadãos, que necessitariam possuir seus
Iluminismo, seus pensadores Artes e dos Ofícios. direitos naturais (vida, liberdade e propriedade privada) assegurados
e contribuições é fundamental https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ pelo estado.
destacar um elemento que commons/thumb/2/2b/Encyclopedie_
O Iluminismo serviu como influência para momentos históricos
de_D%27Alembert_et_Diderot_-_Premiere_
entrelaça as diferentes fundamentais, como as Revoluções Americana e Francesa, além de ter
Page_-_ENC_1-NA5.jpg/2048px-
construções filosóficas do Encyclopedie_de_D%27Alembert_et_ sido um fomentador de ideias desenvolvidas ao longo do século XIX,
período: a razão. Diderot_-_Premiere_Page_-_ENC_1-NA5.jpg
como o socialismo, a social-democracia e novos postulados liberais.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 1
FILOSOFIA 21 ILUMINISMO E A FILOSOFIA

03. (ENEM) Fala-se muito nos dias de hoje em direitos do homem.


Pois  bem: foi no século XVIII — em 1789, precisamente — que
EXERCÍCIOS uma Assembleia Constituinte produziu e proclamou em Paris a
PROTREINO Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Essa Declaração
se impôs como necessária para um grupo de revolucionários, por
ter sido preparada por uma mudança no plano das ideias e das
01. Aponte duas características centrais do Iluminismo. mentalidades: o iluminismo.
FORTES, L. R. S. O Iluminismo e os reis filósofos. São Paulo: Brasiliense, 1981 (adaptado).
02. Cite dois filósofos iluministas.
03. Aponte as principais consequências do uso da razão, segundo o Correlacionando temporalidades históricas, o texto apresenta uma
pensamento iluminista. concepção de pensamento que tem como uma de suas bases a
a) modernização da educação escolar.
04. Defina “laicidade”.
b) atualização da disciplina moral cristã.
05. Cite dois acontecimentos históricos influenciados pelo movimento c) divulgação de costumes aristocráticos.
iluminista.
d) socialização do conhecimento científico.
e) universalização do princípio da igualdade civil.

04. (UECE) Atente para o seguinte trecho de um artigo de jornal:


EXERCÍCIOS “Segundo o coordenador do Setor de Ciências Naturais e Sociais
PROPOSTOS da Unesco no Brasil, Fabio Eon, os direitos humanos estão sendo
alvo de uma onda conservadora que trata a expressão como
algo politizado. — ‘Existe hoje uma tendência a enxergar direitos
01. (ENEM) Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, humanos como algo ideológico, o que é um equívoco. Os direitos
da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de humanos não são algo da esquerda ou da direita. São de todos,
fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. independentemente de onde você nasceu ou da sua classe social.
O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela É importante enfatizar isso para frear essa onda conservadora’
não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão — ressalta Eon, que sugere um remédio para o problema: —
e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. ‘Precisamos promover uma cultura de direitos humanos’”.
Disponível em: O Globo. https://oglobo.globo.com/sociedade/os-direitos-humanosnao-
Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema sao-da-esquerda-ou-da-direita-sao-de-todos-23088573.
do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas
quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada pela
de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, Assembleia Geral da ONU em 1948. Já a Declaração dos Direitos
no entanto, de bom grado menores durante toda a vida. do Homem e do Cidadão foi aprovada durante a primeira fase da
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado). Revolução Francesa, pela Assembleia Nacional Constituinte.
Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental No que diz respeito à Declaração dos Direitos do Homem e do
para a compreensão do contexto filosófico da Modernidade. Cidadão, é correto afirmar que
Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa a) apesar de ser um documento revolucionário moderno, tem suas
a) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como premissas filosóficas no pensamento político de Aristóteles.
expressão da maioridade. b) é de inspiração hobbesiana, tendo seus primórdios nos inícios
b) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante do Estado moderno.
das verdades eternas. c) é de inspiração iluminista e liberal, sob influência de grandes
c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, pensadores do século XVIII, tais como Locke e Rousseau.
de forma heterônoma. d) é de inspiração marxista, no influxo dos grandes movimentos
d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem grevistas e reivindicatórios que aconteceram na França durante
da falta de entendimento. o século XIX.
e) a emancipação da subjetividade humana de ideologias
05. (PUC - CAMPINAS) Um pensamento liberal moderno, em tudo
produzidas pela própria razão.
oposto ao pesado escravismo dos anos 1840, pode formular-se
tanto entre políticos e intelectuais das cidades mais importantes
02. (ENEM PPL) Os direitos civis, surgidos na luta contra o quanto junto a bacharéis egressos das famílias nordestinas que
Absolutismo real, ao se inscreverem nas primeiras constituições pouco ou nada poderiam esperar do cativeiro em declínio.
modernas, aparecem como se fossem conquistas definitivas de (BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização.
toda a humanidade. Por isso, ainda hoje invocamos esses velhos São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 224)
“direitos naturais” nas batalhas contra os regimes autoritários que
subsistem. Faz parte das características do pensamento liberal europeu, no
QUIRINO, C. G.; MONTES, M. L. Constituições. São Paulo: Ática, 1992 (adaptado). século XIX, a defesa
a) da liberdade de imprensa e de ações afirmativas visando à
O conjunto de direitos ao qual o texto se refere inclui reparação estatal a grupos discriminados.
a) voto secreto e candidatura em eleições. b) da distribuição equitativa de riquezas e do estado de
b) moradia digna e vagas em universidade. bem‑estar social.
c) previdência social e saúde de qualidade. c) do livre-cambismo e do direito à propriedade privada.
d) igualdade jurídica e liberdade de expressão. d) da liberdade de culto e do mutualismo.
e) filiação partidária e participação em sindicatos. e) da nacionalização dos meios de produção e da doutrina do
destino manifesto.

2 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
21 ILUMINISMO E A FILOSOFIA FILOSOFIA

06. (ENEM) Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas c) os homens possuem a vida, a liberdade e a propriedade como
de maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria direitos naturais e os governos teriam que respeitar esses direitos e,
perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou caso não o fizessem, caberia à sociedade civil o direito de rebelião.
dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer
d) o espírito humano é uma ‘tábua rasa’ e todo conhecimento se faz
leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes
com a própria capacidade intelectual do homem de se desenvolver
ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes
mediante sua atividade e de exercício do pensamento.
Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma independente
para a efetivação da liberdade, sendo que esta não existe se uma e) o Estado deveria garantir aos cidadãos a liberdade, por meio de
pessoa ou grupo exercer os referidos poderes concomitantemente. uma divisão equilibrada dos poderes, quais sejam: o de fazer as
MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado). leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes.

A divisão e a independência entre os poderes são condições 09. (UECE) Os pensadores iluministas do século XVIII difundiram
necessárias para que possa haver liberdade em um Estado. Isso ideias liberais que ganharam força com a Revolução Francesa e a
pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja Independência dos Estados Unidos, e firmaram-se com as Revoluções
a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas. de 1848. No século XIX, o liberalismo defendia os interesses da
b) consagração do poder político pela autoridade religiosa. a) classe operária.
c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-científicas. b) imprensa.
d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições c) elite industrial.
do governo. d) burguesia.
e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de
um governante eleito.
10. (UNESP)
07. (ENEM PPL) Um Estado é uma multidão de seres humanos Todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador
submetida a leis de direito. Todo Estado encerra três poderes de certos direitos inalienáveis, entre os quais figuram a vida,
dentro de si, isto é, a vontade unida em geral consiste de três a liberdade e a busca da felicidade. Para assegurar esses direitos,
pessoas: o poder soberano (soberania) na pessoa do legislador; entre os homens se instituem governos, que derivam seus justos
o poder executivo na pessoa do governante (em consonância poderes do consentimento dos governados. Sempre que uma
com a lei) e o poder judiciário (para outorgar a cada um o que é forma de governo se dispõe a destruir essas finalidades, cabe ao
seu de acordo com a lei) na pessoa do juiz. povo o direito de alterá-la ou aboli-la, e instituir um novo governo,
KANT, I. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003.
assentando seu fundamento sobre tais princípios e organizando
seus poderes de tal forma que a ele pareça ter maior probabilidade
De acordo com o texto, em um Estado de direito de alcançar-lhe a segurança e a felicidade.
a) a vontade do governante deve ser obedecida, pois é ele que tem Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776). In: Harold Syrett (org.).
o verdadeiro poder. (Documentos históricos dos Estados Unidos, 1988.)
b) a lei do legislador deve ser obedecida, pois ela é a representação
da vontade geral. O documento expõe o vínculo da luta pela independência das treze
colônias com os princípios
c) o Poder Judiciário, na pessoa do juiz, é soberano, pois é ele que
outorga a cada um o que é seu. a) liberais, que defendem a necessidade de impor regras rígidas
d) o Poder Executivo deve submeter-se ao Judiciário, pois depende de protecionismo fiscal.
dele para validar suas determinações. b) mercantilistas, que determinam os interesses de expansão do
e) o Poder Legislativo deve submeter-se ao Executivo, na pessoa comércio externo.
do governante, pois ele que é soberano. c) iluministas, que enfatizam os direitos de cidadania e de rebelião
contra governos tirânicos.
08. (PUC - CAMPINAS) José de Alencar retratou o seu herói goitacá
d) luteranos, que obrigam as mulheres e os homens a lutar pela
em prosa, a exemplo do que o escocês Walter Scott havia feito com os
própria salvação.
cavaleiros medievais na célebre novela Ivanhoé. Para evocar um mítico
passado nacional, na falta dos briosos cavaleiros medievais de Scott, e) católicos, que justificam a ação humana apenas em função da
o índio seria o modelo de que Alencar lançaria mão. (...) O índio entrara vontade e do direito divinos.
como tema na literatura universal por influência das ideias dos filósofos
iluministas e especialmente, da obra de Jean-Jacques Rousseau (...).
11. (UNESP) O pensamento iluminista, baseado no racionalismo,
As teses de Rousseau sobre o “bom selvagem”, por sua vez, bebiam na
individualismo e liberdade absoluta do homem, ao criticar todos
fonte das narrativas de viajantes do século XVI, os primeiros europeus
os fundamentos em que se assentava o Antigo Regime, revelava
que haviam colocado os pés no chão americano. Foram esses viajantes
as suas contradições e as tornava transparentes aos olhos de
os responsáveis pela propagação do juízo de que, do outro lado do
oceano, existia um povo feliz, vivendo sem lei nem rei (...). um número cada vez maior de pessoas.
(NETO, Lira. O inimigo do Rei. Uma biografia de José de Alencar. (Modesto Florenzano. As revoluções burguesas, 1982. Adaptado.)
São Paulo: Globo, 2006. p. 166-167)
Entre as críticas ao Antigo Regime, mencionadas no texto, podemos
Para o filósofo iluminista francês a que o texto de Lira Neto se refere,
citar a rejeição iluminista do
a) o governo democrático deveria sempre representar a maioria dos
a) princípio da igualdade jurídica.
cidadãos, a qual opinaria sobre as questões sociais, enquanto os
governantes deveriam consultar o povo sempre que necessário. b) livre comércio.
b) o universo é governado por leis físicas e não submetido a c) liberalismo econômico.
interferências de cunho divino, sendo a universalidade da razão d) republicanismo.
o único caminho que levaria ao conhecimento do mundo de
forma coerente. e) absolutismo monárquico.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 3
FILOSOFIA 21 ILUMINISMO E A FILOSOFIA

12. (UERJ) O Iluminismo é a saída do homem do estado de tutela, 15. (PUC - CAMPINAS) Para responder à questão a seguir, considere
pelo qual ele próprio é responsável. o texto abaixo.
O estado de tutela é a incapacidade de utilizar o próprio Os enciclopedistas constituíram uma pequena elite de letrados
entendimento sem a condução de outrem. Cada um é responsável e de técnicos, ligados à vida material como elementos de ponta
por esse estado de tutela quando a causa se refere não a uma do progresso econômico e também estreitamente vinculados ao
insuficiência do entendimento, mas à insuficiência da resolução aparato estatal, o qual se esforçaram por tornar melhor e mais
e da coragem para usá-lo sem ser conduzido por outrem. Sapere racional. (...) Por toda a parte na Europa das Luzes, encontramos
aude!* Tenha a coragem de usar seu próprio entendimento. esta pretensão e esta vontade [dos filósofos] de pôr-se à testa e na
Essa é a divisa do Iluminismo. direção da sociedade.
IMMANUEL KANT (1784)
VENTURI, Franco. Utopia e reforma no Iluminismo. Bauru: Edusc, 2003, p. 44, 239-240.
*Expressão latina que significa “tenha a coragem de saber, de aprender”.
In: BOMENY, Helena e FREIRE-MEDEIROS, Bianca. Tempos modernos, tempos de A elite intelectual a que o texto se refere foi responsável pela
sociologia. São Paulo: Ed. do Brasil, 2010.
organização e publicação do mais importante veículo de divulgação
No contexto da expansão capitalista no século XIX, uma das ideias das ideias do Iluminismo, no século XVIII: a Enciclopédia. Essa obra
centrais do Iluminismo, de acordo com o texto, está associada de inspiração racionalista,
diretamente à valorização da:
a) defendia a teoria de que a economia deveria funcionar por suas
a) superioridade técnica c) liberdade política próprias leis e na eliminação da intervenção do Estado sobre os
b) soberania econômica d) razão científica negócios comerciais que entravava as aduanas internas.
b) estabelecia a tese segundo a qual as estruturas sociais eram
13. (UNESP) Encontrar uma forma de associação que defenda determinadas pelas circunstâncias ambientais e pela liberdade
e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força como direito incontestável de todos os homens da época.
comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo c) afirmava que a única esperança de garantir os direitos de
a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes. Esse, o cada um seria ceder todos esses direitos à comunidade
problema fundamental cuja solução o contrato social oferece. civil para que a governasse de acordo com as ideias dos
[...] filósofos iluministas.
Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o seu poder d) defendia uma monarquia absolutista moderada por um
sob a direção suprema da vontade geral, e recebemos, enquanto governo baseado na razão e no ideário político e social vigente
corpo, cada membro como parte indivisível do todo. na época e não mais pelos pressupostos religiosos divulgados
pela Igreja.
(Jean-Jacques Rousseau. Do contrato social, 1983.)
e) propunha, de maneira geral, a imediata autonomização da Igreja
O texto apresenta características em relação ao Estado e o combate às superstições e às diversas
a) iluministas e defende a liberdade e a igualdade social plenas manifestações do pensamento dogmático eclesiástico.
entre todos os membros de uma sociedade.
16. (USF) Conhecido como o século das Luzes ou do Iluminismo,
b) socialistas e propõe a prevalência dos interesses coletivos
sobre os interesses individuais. o  século XVIII foi marcado por um movimento do pensamento
europeu (ocorrido mais especificamente na segunda metade do
c) iluministas e defende a liberdade individual e a necessidade de século XVIII) que abrangeu o pensamento filosófico e gerou uma
uma convenção entre os membros de uma sociedade.
grande revolução nas artes (principalmente na literatura), nas
d) socialistas e propõe a criação de mecanismos de união e ciências, nos costumes, na teoria política e na doutrina jurídica.
defesa de todos os trabalhadores. O Iluminismo também se distinguiu pela centralidade da ciência e
e) iluministas e defende o estabelecimento de um poder rigidamente da racionalidade crítica no questionamento filosófico.
concentrado nas mãos do Estado. Disponível em: <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/15543/15543_3.pdf>.
Acesso em: 12/09/2017.
14. (FUVEST) "A autoridade do príncipe é limitada pelas leis da natureza
e do Estado... O príncipe não pode, portanto, dispor de seu poder e de Tomando como base o contexto abordado, podemos afirmar
seus súditos sem o consentimento da nação e independentemente da corretamente que
escolha estabelecida no contrato de submissão..."
a) o liberalismo econômico deu ênfase à economia mercantilista, na
Diderot, artigo "Autoridade política", Enciclopédia. 1751
qual o Estado seria responsável pela regulamentação de preços
Tendo por base esse texto da Enciclopédia, é correto afirmar que e mercados para evitar abusos que prejudicariam a população.
o autor b) a Escola Fisiocrata sustentou a ideia de que existem leis naturais
a) pressupunha, como os demais iluministas, que os direitos de regendo a sociedade, mas que poderiam ser alteradas pelo bem
cidadania política eram iguais para todos os grupos sociais da humanidade, e, além disso, defendeu que a indústria e o
e étnicos. comércio seriam responsáveis pela riqueza de uma nação.
b) propunha o princípio político que estabelecia leis para legitimar c) as ideias defendidas por John Locke, na obra O contrato social,
o poder republicano e democrático. afirmam que o soberano deve conduzir o Estado de forma
c) apoiava uma política para o Estado, submetida aos princípios democrática, de acordo com a vontade do povo.
da escolha dos dirigentes da nação, por meio do voto universal. d) o Despotismo Esclarecido, ligado à associação entre as ideias das
d) acreditava, como os demais filósofos do Iluminismo, na luzes e o poder absolutista dos reis, foi aplicado com ênfase em
revolução armada como único meio para a deposição de todos os Estados europeus no início do século XVIII, resultando no
monarcas absolutistas. nascimento de dezenas de monarquias parlamentaristas.
e) defendia, como a maioria dos filósofos iluministas, os e) o Iluminismo combateu o mercantilismo, o tradicionalismo
princípios do liberalismo político que se contrapunham aos religioso herdado da Idade Média e a divisão da sociedade
regimes absolutistas. em estamentos.

4 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
21 ILUMINISMO E A FILOSOFIA FILOSOFIA

17. (IFCE) O iluminismo (ou ilustração) foi uma corrente de ideias 20. (UPE-SSA 2) O Princípio de Separação dos Poderes, embora
que teve origem no século XVII e se desenvolveu sobretudo no tenha sido positivado por meio da revolução constitucionalista do
século XVIII. O referido movimento é considerado importante por final do século XVIII, tem raízes muito mais profundas, tendo em
transformar a visão tradicional do homem moderno. vista que a preocupação de atribuir as funções fundamentais do
O iluminismo expressou a estado a órgãos distintos é objeto de reflexão e discussão desde
os primórdios da organização estatal. A separação dos poderes do
a) consolidação dos dogmas religiosos como importantes na Estado tem suas bases definidas por meio de uma teoria, que se
vida humana. desenvolveu ao longo do tempo, mediante a reflexão de filósofos
b) negação dos princípios do uso da razão, pois não contribuía que remontam à Antiguidade, consagrando-se efetivamente após
para o conhecimento humano. a análise de Montesquieu, no século XVIII.
c) consolidação do uso da razão, ou racionalismo, como elemento BARBOSA, Marília Costa. Revisão da Teoria da Separação dos Poderes do Estado.
Escola Superior do Ministério Público do Ceará. (Adaptado)
essencial do ser humano.
d) consolidação da providência divina dos reis. Diante do contexto explicado, qual a principal característica da
e) negação dos valores do humanismo e do uso da razão. separação dos poderes no pensamento de Montesquieu?
a) Combater a expansão dos ideais socialistas.
18. (FGV- RJ) A elaboração de um conjunto variado de orientações b) Possibilitar a exploração dos trabalhadores.
e defesa de direitos, associado à liberdade individual, à felicidade, c) Garantir a manutenção do Antigo Regime.
ao progresso, à propriedade privada e à igualdade jurídica
desenvolveu-se d) Propiciar a expansão da industrialização.

a) na Europa, ao longo do século XVIII, e constituiu-se em um e) Assegurar a liberdade dos indivíduos.


movimento intelectual denominado Ilustração.
b) na América do Sul, a partir do século XVII, e fez parte da chamada
Segunda Escolástica. EXERCÍCIOS DE
c) na Itália, a partir do século XIV, com o movimento artístico APROFUNDAMENTO
denominado Renascimento.
d) nos Estados Unidos, ao final do século XIX, com o desenvolvimento 01. (UNESP) Não é preciso uma grande arte, uma eloquência
do pan-americanismo. muito rebuscada, para provar que os cristãos devem tolerar-se
e) na Alemanha, na segunda metade do século XIX, com os uns aos outros. Vou mais longe: afirmo que é preciso considerar
preceitos formadores do nacionalismo. todos os homens como nossos irmãos. O quê! O turco, meu irmão?
O  chinês? O judeu? O siamês? Sim, certamente; porventura não
somos todos filhos do mesmo Pai e criaturas do mesmo Deus?
19. (FGV) “O gênero humano é de tal ordem que não pode subsistir, Penso que poderia surpreender a obstinação de alguns líderes
a menos que haja uma grande infinidade de homens úteis que não religiosos se lhes falasse: “Escutem-me, pois o Deus de todos
possuam nada.” esses mundos me falou: há novecentos milhões de pequenas
(Dicionário filosófico, verbete Igualdade)
formigas como nós sobre a terra, mas apenas o meu formigueiro
é bem-visto por Deus; todos os outros lhe causam horror desde
“O comércio, que enriqueceu os cidadãos na Inglaterra,
a eternidade; meu formigueiro será o único afortunado, e todos
contribuiu para os tornar livres, e essa liberdade deu por sua vez
os outros serão desafortunados”. Eles me agarrariam então e me
maior expansão ao comércio; daí se formou o poderio do Estado.”
perguntariam quem foi o louco que disse essa besteira. Eu seria
(Cartas inglesas)
obrigado a responder-lhes: “Foram vocês mesmos”. Procuraria em
seguida acalmá-los, mas seria bem difícil.
Sobre os trechos de Voltaire, é correto afirmar que o autor
(Voltaire. Tratado sobre a tolerância [originalmente publicado em 1763], 2015. Adaptado.)
a) define, com suas ideias, os interesses da burguesia como
classe, no século XVIII: o comércio como condição para a Qual foi o nome atribuído ao mais importante movimento filosófico
acumulação de capital, a riqueza como fator de liberdade e do francês do século XVIII? Explique a importância do texto de
poder de Estado e a propriedade ligada à desigualdade. Voltaire para o desenvolvimento desse movimento filosófico e
b) crê, como filósofo iluminista do século XVIII, nas igualdades para a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela
social e política, pois a filosofia burguesa elabora uma doutrina Assembleia da ONU em 1948.
universalista que confunde a causa da burguesia com a de
toda a humanidade. 02. (UNESP)
c) critica a centralização do poder na medida em que ela breca a “O Iluminismo é a saída do homem de um estado de menoridade
liberdade, impedindo o progresso das técnicas e a expansão que deve ser imputado a ele próprio. Menoridade é a incapacidade
do comércio que geram riqueza, e, ao mesmo tempo, aceita a de servir-se do próprio intelecto sem a guia de outro. Imputável
propriedade como fundamento da igualdade. a si próprios é esta menoridade se a causa dela não depende de
um defeito da inteligência, mas da falta de decisão e da coragem
d) considera que a burguesia não se constitui em uma classe
de servir-se do próprio intelecto sem ser guiado por outro. Sapere
no século XVIII, e ela precisa do poder do Estado centralizado
aude! Tem a coragem de servires de tua própria inteligência!”
para garantir a sua riqueza e, nessa medida, aproxima-se da
(Immanuel Kant, 1784.)
nobreza para obter apoio político.
e) defende, como representante da Ilustração, a liberdade ligada Esse texto do filósofo Kant é considerado uma das mais sintéticas
à ausência da propriedade e elabora princípios universais, com e adequadas definições acerca do Iluminismo. Justifique essa
direitos e deveres para todos os homens, o que faz a igualdade importância comentando o significado do termo “menoridade”,
econômica ser o fundamento da sociedade. bem como os fatores sociais que produzem essa condição, no
campo da religião e da política.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 5
FILOSOFIA 21 ILUMINISMO E A FILOSOFIA

03. (UERJ) Tudo que está escrito nas Sagradas Escrituras é verdade?
De fato, cada uma das religiões diz: “Minha fé é a certa, e aqueles que GABARITO
creem em outra fé creem na falsidade e são inimigos de Deus”. Assim EXERCÍCIOS PROPOSTOS
como minha fé me parece verdadeira, outro considera verdadeira sua 01. A 05. C 09. D 13. C 17. C
própria fé; mas a verdade é uma só. 02. D 06. D 10. C 14. E 18. A
Marido e mulher estão em pé de igualdade no casamento. 03. E 07. B 11. E 15. E 19. A

Não podemos sair e comprar um homem como se fosse 04. C 08. A 12. D 16. E 20. E
um animal. EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
Todos os homens são iguais na presença de Deus; e todos são 01. O movimento filosófico mais relevante na França do século XVIII, do qual Voltaire
inteligentes, pois são suas criaturas; ele não destinou um povo à é representante, é o movimento iluminista. O texto de Voltaire reflete os valores que
fundamentam o pensamento filosófico iluminista, segundo os quais todos os homens
vida, outro à morte, um à misericórdia e outro ao julgamento. Nossa são naturalmente iguais e possuem o direito inalienável à liberdade de pensamento e
razão nos ensina que esse tipo de discriminação não pode existir. de expressão, o que implica a existência da tolerância religiosa entre os membros de
Adaptado de HERBJORNSRUD, Dag. “Os africanos que propuseram ideias iluministas uma sociedade. Essas ideias tiveram forte influência nos princípios que fundamentaram
antes de Locke e Kant”. Folha de S. Paulo, 24/12/2017. a elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU no ano de 1948,
que estabelece a igualdade e o espírito de fraternidade como bases de todas as ações
humanas e das leis que regem os modos de sociabilidade entre os indivíduos.
As proposições acima foram escritas por Zera Yacob (1599-1692), 02. Ao definir a menoridade como “a incapacidade de servir-se do próprio intelecto sem a
pensador etíope que desenvolveu suas ideias antes de europeus guia de outro”, Kant está fazendo uma crítica ao modo restritivo pelo qual o pensamento
associados ao Iluminismo. humano estava condicionado até aquele período, isto é, até o Iluminismo. Esta restrição
ao livre pensamento era levado a cabo sobretudo pelas instituições religiosas, isto é – e
Identifique dois ideais das proposições do pensador africano de modo geral -, pela Igreja, que não deixava espaço para outras interpretações do mundo
presentes, também, no pensamento iluminista. e de seus fenômenos. É, portanto, justamente contra esta tutela, esta “menoridade”, este
“ser guiado por outro”, que Kant e o movimento Iluminista se rebelam, influenciando
Em seguida, ainda com base nas citações, apresente um aspecto que a mentalidade da época e criando condições para as revoluções burguesas - como a
diferencia Yacob da maior parte dos pensadores iluministas europeus. francesa, por exemplo -, determinando a queda dos regimes absolutistas – baseados
na religião e apoiados pela Igreja - em prol do estabelecimento de um Estado laico,
governado pelo próprio povo.
04. (UERJ) 03. Dois dos ideais:
- primazia da razão
- defesa do secularismo
- condenação da escravidão
- reprovação da discriminação
- defesa do princípio da igualdade
Aspecto: igualdade entre homens e mulheres no casamento.
04. Despotismo Esclarecido. Ocorreu nos países mais atrasados da Europa, nos quais
os reis adotaram algumas ideias Iluministas visando modernizar o Estado com o
intuito de preservar o regime absolutista. O despotismo esclarecido evidenciou-se
como contraditório uma vez que o Estado absolutista tentou se compatibilizar com o
Iluminismo, cujas as ideias eram nitidamente antiabsolutistas. Os déspotas esclarecidos
mais importantes foram José II da Áustria, Catarina II da Rússia, Frederico II da Prússia,
Jose I de Portugal (com seu poderoso ministro Pombal) e Carlos III da Espanha (com seu
ministro Aranda).
05. Os pensadores dessa época ficaram conhecidos como Iluministas. O movimento
iluminista, também denominado de “Ilustração”, nasceu no final do século XVIII, época da
Revolução Gloriosa na Inglaterra e influenciou toda uma grande geração de pensadores,
principalmente na França. A força desse movimento que contestava o absolutismo,
fez com que diversos monarcas adotassem algumas de suas ideias, num processo
Pompeo Batoni. Kaiser José II e o Grão-Duque Leopoldo da Toscana. Óleo sobre tela, 1769. de adaptação parcial, com vistas a reduzir as críticas que sofriam. Esses governantes
foram denominados “Déspotas Esclarecidos”. Déspotas por preservaram a maior
parte das práticas absolutistas e esclarecidas por conhecerem e a adotarem algumas
Na pintura de Pompeo Batoni, de 1769, estão representados dois características iluministas.
imperadores austríacos do Antigo Regime: José II e seu irmão
Leopoldo II. No detalhe, pode-se observar um exemplar em francês ANOTAÇÕES
do livro O espírito das leis, de Montesquieu, expoente da Ilustração
ou Iluminismo. A presença do livro na pintura não é meramente
decorativa, mas revela modos e práticas de governo adotados por
diversos Estados europeus no século XVIII.
Nomeie esse modo de governar. Em seguida, apresente uma
ação promovida por monarquias europeias que empreenderam
tais práticas.

05. (UNESP) No século XVIII, surgiram novas ideias que despertaram


o interesse de muitos adeptos que rejeitavam as tradições e
almejavam explicações racionais para compreender os fenômenos
naturais e sociais. Como ficaram conhecidos os pensadores desse
período e de que modo esses pensadores influenciaram monarcas
e ministros europeus?

6 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
22
FILOSOFIA
ÉTICA E MORAL

A MORAL A ÉTICA
A palavra “moral”, e as suas cognatas, refere-se ao que é bom Em Filosofia, Ética significa o que é bom para o indivíduo e
ou mau, correto ou incorreto, no caráter ou conduta humana. Mas para a sociedade, assim, ela investiga e explica as normas morais,
o bem moral (ou a correção) não é o único tipo de bem; assim, a pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito,
questão é saber como distinguir entre o moral e o não moral. Esta mas principalmente por convicção e inteligência. A palavra “ética”
questão é objeto de discussão. Algumas respostas são em termos relaciona-se com ethos, que em grego significa hábito ou costume.
de conteúdo. A palavra é usada em vários sentidos relacionados, logo, é
necessário distinguir para evitar confusões.
Uma opinião é que as preocupações morais são unicamente as
que se relacionam com o sexo. Mais plausível é a sugestão de que Em um plano, há a ética normativa que é a investigação
as questões morais são unicamente as que afetam outras pessoas. racional, ou uma teoria, sobre os padrões do correto e incorreto,
Mas há teorias (Aristóteles, Hume) que considerariam que mesmo do bom e do mau, com respeito ao caráter e à conduta, que uma
esta demarcação é excessivamente redutora. Outras respostas classe de indivíduos tem o dever de aceitar.
fornecem um critério formal: por exemplo, que as exigências morais Em outro sentido, temos o estudo a partir do exterior, por assim
são as que têm origem em Deus, ou que as exigências morais são dizer, de um sistema de crenças e práticas de um grupo social,
as que derrotam quaisquer outros tipos de exigências ou, ainda, mais especificamente uma ética descritiva, dado que um dos
que os juízos morais são universalizáveis. seus objetivos principais é descrever a ética do grupo. Também
A palavra latina moralis, que é a raiz da palavra portuguesa, chamada por vezes etnoética.
foi criada por Cícero a partir de mos (plural mores), que significa Em uma terceira perspectiva, temos a metaética ou ética
costumes, para corresponder ao termo grego ethos (costumes). É analítica, um tipo de investigação ou teoria filosófica que se
por isso que em muitos contextos, mas nem sempre, os termos distingue da ética normativa. A metaética tem como objeto de
“moral/ético”, “moralidade/ética”, “filosofia moral/ética” são investigação filosófica os conceitos, proposições e sistemas de
sinônimos. crenças éticos. Analisa os conceitos de correto e incorreto, bom e
mau, com respeito ao caráter e à conduta, assim como conceitos
relacionados com estes, como, por exemplo, a responsabilidade
moral, a virtude, os direitos.

Primeira página da edição de 1566, em grego e latim, de Ética


a Nicômaco, de Aristóteles.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/82/Aristotelis_De_
Moribus_ad_Nicomachum.jpg

E QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS ENTRE


A ÉTICA E A MORAL?
A Ética, ou Filosofia moral- como também é conhecida- é a
Tratado da Natureza Humana: Uma Tentativa de Introduzir o disciplina filosófica que trata de questionamentos acerca da moral
Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais (1739), - o dever, o bem e o mal, a consciência moral. Por oposição, a
de David Hume. moral trata do mundo da prática, apesar de não se resumir a ele. O
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/ conjunto de regras e normas que regulam o comportamento de um
7/72/A_Treatise_of_Human_Nature_by_David_Hume.jpg grupo ou grupos é a moral.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 1
FILOSOFIA 22 ÉTICA E MORAL

Há um ponto no qual a moral possui uma característica, que


em certa medida, a distingue da ética, que é a sua transformação EXERCÍCIOS
de acordo com o tempo (época) e o lugar em que é aplicada. A
moral que vigorava em nossa sociedade há alguns poucos anos no
PROTREINO
campo dos relacionamentos pessoais não se aplica mais aos dias
de hoje. A forma recatada como as pessoas viviam há algumas
01. Aponte duas principais características da noção de Moral.
décadas já não é mais observada por muitos nos dias de hoje.
Já quando falamos de ética, devemos ter em mente que a 02. Aponte duas principais características da noção de Ética.
mesma busca realizar uma observação sistematizada das diversas 03. Apresente uma diferença essencial entre ética e moral.
morais vigentes, pertencentes aos mais variados grupos. Seu
objetivo é levar o ser a uma reflexão acerca das motivações por trás 04. Defina “bioética”.
das ações dos grupos ou indivíduos. Essa é mais uma confirmação
05. Defina “Filosofia Moral”.
de que a ética é uma observação teórica sobre a prática humana,
que vem a ser o comportamento moral.

TEXTO COMPLEMENTAR
A julgar pela vida que os homens levam em geral, a maioria EXERCÍCIOS
deles, e os homens de tipo mais vulgar, parecem (não sem um certo
fundamento) identificar o bem ou a felicidade com o prazer, e por
PROPOSTOS
isso amam a vida dos gozos. Pode-se dizer, com efeito, que existem
01. (ENEM) O brasileiro tem noção clara dos comportamentos
três tipos principais de vida: a que acabamos de mencionar, a vida
éticos e morais adequados, mas vive sob o espectro da corrupção,
política e a contemplativa. A grande maioria dos homens se mostra
revela pesquisa. Se o país fosse resultado dos padrões morais que
em tudo iguais a escravos, preferindo uma vida bestial (...).
as pessoas dizem aprovar, pareceria mais com a Escandinávia do
A consideração dos tipos principais de vida mostra que que com Bruzundanga (corrompida nação fictícia de Lima Barreto)
as pessoas de grande refinamento e índole ativa identificam a FRAGA, P. Ninguém é inocente. Folha de S. Paulo. 4 out. 2009 (adaptado).
felicidade com a honra; pois a honra é, em suma, a finalidade da
vida política. No entanto, afigura-se demasiado superficial para O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” efetivamente
aquela que buscamos, visto que depende mais de quem a confere o que é moral constitui uma ambiguidade inerente ao humano,
de que quem a recebe, enquanto o bem nos parece ser algo próprio porque as normas morais são
de um homem e que dificilmente lhe poderia ser arrebatado. (...)
a) decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas.
Quanto à vida consagrada ao ganho [de dinheiro], é uma vida
b) parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de
forçada, e a riqueza não é evidentemente o bem que procuramos; é
obrigação.
algo de útil, nada mais, e ambicionado no interesse de outra coisa.
(...) c) amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir
cumpri-las integralmente.
Voltemos novamente ao bem que estamos procurando e
indaguemos o que é ele, pois não se afigura igual nas distintas d) criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve
ações e artes; é diferente na medicina, na estratégia, e em todas se submeter.
as demais artes do mesmo modo. Que é, pois, o bem de cada uma e) cumpridas por aqueles que se dedicam inteiramente a observar
delas? Evidentemente, aquilo em cujo interesse se fazem todas as normas jurídicas.
as outras coisas. Na medicina é a saúde, na estratégia a vitória,
na arquitetura uma casa, em qualquer outra esfera uma coisa 02. (ENEM) Panayiotis Zavos “quebrou” o último tabu da clonagem
diferente, e em todas as ações e propósitos é ele a finalidade; pois é humana – transferiu embriões para o útero de mulheres, que
tendo-o em vista que os homens realizam o resto. Por conseguinte, os gerariam. Esse procedimento é crime em inúmeros países.
se existe uma finalidade para tudo que fazemos, essa será o bem Aparentemente, o médico possuía um laboratório secreto, no
realizável mediante a ação; e, se há mais de uma, serão os bens qual fazia seus experimentos. “Não tenho nenhuma dúvida de
realizáveis através dela. (...) que uma criança clonada irá aparecer em breve. Posso não ser
Ora, nós buscamos aquilo que merece ser buscado por si eu o médico que irá criá-la, mas vai acontecer”, declarou Zavos.
mesmo mais absoluto do que aquilo que merece ser buscado com “Se nos esforçarmos, podemos ter um bebê clonado daqui a um
vistas em outra coisa, e aquilo que nunca é desejável no interesse ano, ou dois, mas não sei se é o caso. Não sofremos pressão para
de outra coisa mais absoluto do que as coisas desejáveis tanto em entregar um bebê clonado ao mundo. Sofremos pressão para
si mesmas como no interesse de uma terceira; por isso chamamos entregar um bebê clonado saudável ao mundo.”
de absoluto e incondicional aquilo que é sempre desejável em si CONNOR, S. Disponível em: www.independent.co.uk. Acesso em: 14 ago. 2012 (adaptado).
mesmo e nunca no interesse de outra coisa.
A clonagem humana é um importante assunto de reflexão no
Ora, esse é o conceito que preeminentemente fazemos da
campo da bioética que, entre outras questões, dedica-se a
felicidade. É ela procurada sempre por si mesma e nunca com
vistas em outra coisa, ao passo que à honra, ao prazer, à razão e a) refletir sobre as relações entre o conhecimento da vida e os
a todas as virtudes nós de fato escolhemos por si mesmos, mas valores éticos do homem.
também os escolhemos no interesse da felicidade, pensando que b) legitimar o predomínio da espécie humana sobre as demais
a posse deles nos tornará felizes. A  felicidade, todavia, ninguém espécies animais no planeta
a escolhe tendo em vista algum destes, nem, em geral, qualquer
c) relativizar, no caso da clonagem humana, o uso dos valores de
coisa que não seja ela própria.
certo e errado, de bem e mal.
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco)
d) legalizar, pelo uso das técnicas de clonagem, os processos de
reprodução humana e animal.
e) fundamentar técnica e economicamente as pesquisas sobre
células-tronco para uso em seres humanos.

2 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
22 ÉTICA E MORAL FILOSOFIA

03. (ENEM) Na ética contemporânea, o sujeito não é mais um O fragmento evoca o seguinte princípio moral da filosofia socrática,
sujeito substancial, soberano e absolutamente livre, nem um sujeito presente em sua ação dialógica:
empírico puramente natural. Ele é simultaneamente os dois, na a) Examinar a própria vida. d) Debater visando a aporia.
medida em que é um sujeito histórico-social. Assim, a ética adquire
um dimensionamento político, uma vez que a ação do sujeito b) Ironizar o seu oponente. e) Desprezar a virtude alheia.
não pode mais ser vista e avaliada fora da relação social coletiva. c) Sofismar com a verdade.
Desse modo, a ética se entrelaça, necessariamente, com a política,
entendida esta como a área de avaliação dos valores que atravessam 07. (ENEM PPL) Uma criança com deficiência mental deve ser
as relações sociais e que interliga os indivíduos entre si. mantida em casa ou mandada a uma instituição? Um parente
SEVERINO. A. J. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1992 (adaptado). mais velho que costuma causar problemas deve ser cuidado ou
podemos pedir que vá embora? Um casamento infeliz deve ser
O texto, ao evocar a dimensão histórica do processo de formação prolongado pelo bem das crianças?
da ética na sociedade contemporânea, ressalta
MURDOCH, I. A soberania do bem. São Paulo: Unesp, 2013.
a) os conteúdos éticos decorrentes das ideologias político-
partidárias. Os questionamentos apresentados no texto possuem uma
b) o valor da ação humana derivada de preceitos metafísicos. relevância filosófica à medida que problematizam conflitos que
estão nos domínios da
c) a sistematização de valores desassociados da cultura.
a) política e da esfera pública.
d) o sentido coletivo e político das ações humanas individuais.
b) teologia e dos valores religiosos.
e) o julgamento da ação ética pelos políticos eleitos
democraticamente. c) lógica e da validade dos raciocínios.
d) ética e dos padrões de comportamento.
04. (ENEM) e) epistemologia e dos limites do conhecimento.
“A ética exige um governo que amplie a igualdade entre os
cidadãos. Essa é a base da pátria. Sem ela, muitos indivíduos não 08. (ENEM) Fundamos, como afirmam alguns cientistas, o
se sentem “em casa”, experimentam-se como estrangeiros em seu antropoceno: uma nova era geológica com altíssimo poder de
próprio lugar de nascimento”. destruição, fruto dos últimos séculos que significaram um transtorno
SILVA, R. R. “Ética, defesa nacional, cooperação dos povos”. In: OLIVEIRA, E. R. perverso do equilíbrio do sistema-Terra. Como enfrentar esta nova
(Org.).Segurança & defesa nacional: da competição à cooperação regional. São Paulo: situação nunca ocorrida antes de forma globalizada e profunda?
Fundação Memorial da América Latina, 2007 (adaptado).
Temos pessoalmente trabalhado os paradigmas da sustentabilidade
Os pressupostos éticos são essenciais para a estruturação política e do cuidado como relação amigável e cooperativa para com a
e integração de indivíduos em uma sociedade. De  acordo com o natureza. Queremos, agora, agregar a ética da responsabilidade.
BOFF, L. Responsabilidade coletiva. Disponível em: http://leonardoboff.wordpress.com.
texto, a ética corresponde a Acesso em: 14 maio 2013.
a) valores e costumes partilhados pela maioria da sociedade.
b) preceitos normativos impostos pela coação das leis jurídicas. A ética da responsabilidade protagonizada pelo filósofo alemão
Hans Jonas e reivindicada no texto é expressa pela máxima:
c) normas determinadas pelo governo, diferentes das leis estrangeiras.
a) “A tua ação possa valer como norma para todos os homens.”
d) transferência dos valores praticados em casa para a esfera social.
b) “A norma aceita por todos advenha da ação comunicativa e
e) proibição da interferência de estrangeiros em nossa pátria. do discurso.”
c) “A tua ação possa produzir a máxima felicidade para a maioria
05. (ENEM PPL)
das pessoas.”
d) “O teu agir almeje alcançar determinados fins que possam
justificar os meios.”
e) “O efeito de tuas ações não destrua a possibilidade futura da
vida das novas gerações.”

09. (ENEM) A promessa da tecnologia moderna se converteu em uma


ameaça, ou esta se associou àquela de forma indissolúvel. Ela vai além
QUINO. Mafalda. Disponível em: www.nova-acropole.pt. Acesso em: 28 fev. 2013. da constatação da ameaça física. Concebida para a felicidade humana,
a submissão da natureza, na sobremedida de seu sucesso, que agora
A figura do inquilino ao qual a personagem da tirinha se refere é o(a) se estende à própria natureza do homem, conduziu ao maior desafio
a) constrangimento por olhares de reprovação. já posto ao ser humano pela sua própria ação. O novo continente da
b) costume imposto aos filhos por coação. práxis coletiva que adentramos com a alta tecnologia ainda constitui,
para a teoria ética, uma terra de ninguém.
c) consciência da obrigação moral. JONAS. H. O princípio da responsabilidade. Rio de Janeiro: Contraponto;
d) pessoa habitante da mesma casa. Editora PUC-Rio, 2011 (adaptado).

e) temor de possível castigo. As implicações éticas da articulação apresentada no texto


impulsionam a necessidade de construção de um novo padrão de
06. (ENEM PPL) Tomemos o exemplo de Sócrates: é precisamente comportamento, cujo objetivo consiste em garantir o(a)
ele quem interpela as pessoas na rua, os jovens no ginásio, a) pragmatismo da escolha individual.
perguntando: “Tu te ocupas de ti?” O deus o encarregou disso, é
b) sobrevivência de gerações futuras.
sua missão, e ele não a abandonará, mesmo no momento em que
for ameaçado de morte. Ele é certamente o homem que cuida do c) fortalecimento de políticas liberais.
cuidado dos outros: esta é a posição particular do filósofo. d) valorização de múltiplas etnias.
FOUCAULT, M. Ditos e escritos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. e) promoção da inclusão social.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 3
FILOSOFIA 22 ÉTICA E MORAL

10. (ENEM) Trasímaco estava impaciente porque Sócrates e os são por necessidade, a sabedoria prática não pode ser ciência,
seus amigos presumiam que a justiça era algo real e importante. nem arte: nem ciência, porque aquilo que se pode fazer é capaz de
Trasímaco negava isso. Em seu entender, as pessoas acreditavam ser diferentemente, nem arte, porque o agir e o produzir são duas
no certo e no errado apenas por terem sido ensinadas a obedecer às espécies diferentes de coisa. Resta, pois, a  alternativa de ser ela
regras da sua sociedade. No entanto, essas regras não passavam uma capacidade verdadeira e raciocinada de agir com respeito às
de invenções humanas. coisas que são boas ou más para o homem.
RACHELS. J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálogo A Aristóteles considera a ética como pertencente ao campo do saber
República, de Platão, sustentava que a correlação entre justiça e prático. Nesse sentido, ela difere-se dos outros saberes porque é
ética é resultado de caracterizada como
a) determinações biológicas impregnadas na natureza humana. a) conduta definida pela capacidade racional de escolha.
b) verdades objetivas com fundamento anterior aos interesses b) capacidade de escolher de acordo com padrões científicos.
sociais.
c) conhecimento das coisas importantes para a vida do homem.
c) mandamentos divinos inquestionáveis legados das tradições
d) técnica que tem como resultado a produção de boas ações.
antigas.
e) política estabelecida de acordo com padrões democráticos
d) convenções sociais resultantes de interesses humanos
de deliberação.
contingentes.
e) sentimentos experimentados diante de determinadas atitudes
14. (ENEM PPL) Ao falar do caráter de um homem não dizemos
humanas.
que ele é sábio ou que possui entendimento, mas que é calmo ou
temperante. No entanto, louvamos também o sábio, referindo-se
11. (ENEM) Uma norma só deve pretender validez quando todos os ao hábito; e aos hábitos dignos de louvor chamamos virtude.
que possam ser concernidos por ela cheguem (ou possam chegar), ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova CuIturaI, 1973.
enquanto participantes de um discurso prático, a um acordo
quanto à validade dessa norma. Em Aristóteles, o conceito de virtude ética expressa a
HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.
a) excelência de atividades praticadas em consonância com o
bem comum.
Segundo Habermas, a validez de uma norma deve ser estabelecida
pelo(a) b) concretização utilitária de ações que revelam a manifestação
de propósitos privados.
a) liberdade humana, que consagra a vontade.
c) concordância das ações humanas aos preceitos emanados
b) razão comunicativa, que requer um consenso.
da divindade.
c) conhecimento filosófico, que expressa a verdade.
d) realização de ações que permitem a configuração da paz interior.
d) técnica científica, que aumenta o poder do homem.
e) manifestação de ações estéticas, coroadas de adorno e beleza.
e) poder político, que se concentra no sistema partidário.
15. (ENEM PPL) O termo injusto se aplica tanto às pessoas que
12. (ENEM PPL) Quanto à deliberação, deliberam as pessoas infringem a lei quanto às pessoas ambiciosas (no sentido de
sobre tudo? São todas as coisas objetos de possíveis quererem mais do que aquilo a que têm direito) e iníquas, de tal
deliberações? Ou  será a deliberação impossível no que tange forma que as cumpridoras da lei e as pessoas corretas serão
a algumas coisas? Ninguém delibera sobre coisas eternas justas. O justo, então, é aquilo conforme à lei e o injusto é o ilegal
e imutáveis, tais como a ordem do universo; tampouco sobre e iníquo.
coisas mutáveis, como os fenômenos dos solstícios e o nascer ARISTÓTELES. Ética à Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural: 1996 (adaptado).
do sol, pois nenhuma delas pode ser produzida por nossa ação.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Edipro, 2007. (adaptado). Segundo Aristóteles, pode-se reconhecer uma ação justa quando
ela observa o
O conceito de deliberação tratado por Aristóteles é importante para
a) compromisso com os movimentos desvinculados da
entender a dimensão da responsabilidade humana. A partir do
legalidade.
texto, considera-se que é possível ao homem deliberar sobre
b) benefício para o maior número possível de indivíduos.
a) coisas imagináveis, já que ele não tem controle sobre os
acontecimentos da natureza. c) interesse para a classe social do agente da ação.
b) ações humanas, ciente da influência e da determinação dos d) fundamento na categoria de progresso histórico.
astros sobre as mesmas. e) princípio de dar a cada um o que lhe é devido.
c) fatos atingíveis pela ação humana, desde que estejam sob
seu controle. 16. (UNESP) Os homens, diz antigo ditado grego, atormentam-se
d) fatos e ações mutáveis da natureza, já que ele é parte dela. com a ideia que têm das coisas e não com as coisas em si. Seria
grande passo, em alívio da nossa miserável condição, se se provasse
e) coisas eternas, já que ele é por essência um ser religioso.
que isso é uma verdade absoluta. Pois se o mal só tem acesso em
nós porque julgamos que o seja, parece que estaria em nosso poder
13. (ENEM) Ninguém delibera sobre coisas que não podem não o levarmos a sério ou o colocarmos a nosso serviço. Por que
ser de outro modo, nem sobre as que lhe é impossível fazer. atribuir à doença, à indigência, ao desprezo um gosto ácido e mau se
Por conseguinte, como o conhecimento científico envolve o podemos modificar? Pois o destino apenas suscita o incidente; a
demonstração, mas não há demonstração de coisas cujos nós é que cabe determinar a qualidade de seus efeitos.
primeiros princípios são variáveis (pois todas elas poderiam ser
(Michel de Montaigne. Ensaios, 2000. Adaptado.)
diferentemente), e como é impossível deliberar sobre coisas que

4 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
22 ÉTICA E MORAL FILOSOFIA

De acordo com o filósofo, a diferença entre o bem e o mal Sob o ponto de vista filosófico, os valores éticos envolvidos no fato
a) representa uma oposição de natureza metafísica, que não está relatado envolvem problemas essencialmente relacionados
sujeita a relativismos existenciais. a) à legitimidade do domínio da natureza pelo homem.
b) relaciona-se com uma esfera sagrada cujo conhecimento é b) a diferentes concepções de natureza religiosa.
autorizado somente a sacerdotes religiosos. c) a disputas políticas de natureza partidária.
c) resulta da queda humana de um estado original de bem- d) à instituição liberal da propriedade privada.
aventurança e harmonia geral do Universo.
e) aos interesses econômicos da indústria farmacêutica.
d) depende do conhecimento do mundo como realidade em si
mesma, independente dos julgamentos humanos.
20. (UNESP) A produção de mercadorias e o consumismo alteram
e) depende sobretudo da qualidade valorativa estabelecida por as percepções não apenas do eu como do mundo exterior ao
cada indivíduo diante de sua vida. eu; criam um mundo de espelhos, de imagens insubstanciais,
de ilusões cada vez mais indistinguíveis da realidade. O efeito
17. (UNESP) O plano da Mattel de lançar uma boneca Hello Barbie refletido faz do sujeito um objeto; ao mesmo tempo, transforma o
conectada por Wi-Fi é uma grave violação da privacidade de mundo dos objetos numa extensão ou projeção do eu. É enganoso
crianças e famílias. A boneca usa um microfone embutido para caracterizar a cultura do consumo como uma cultura dominada
captar tudo o que a criança diz a ela e tudo o que é dito por qualquer por coisas. O consumidor vive rodeado não apenas por coisas
um ao alcance do microfone. Essas conversas serão transmitidas como por fantasias. Vive num mundo que não dispõe de existência
para servidores em nuvem para armazenamento e análise pela objetiva ou independente e que parece existir somente para
empresa. A Mattel diz que “aprenderá tudo o que as crianças gratificar ou contrariar seus desejos.
gostam e não gostam” e “enviará dados” de volta às crianças, (Christopher Lasch. O mínimo eu, 1987. Adaptado.)
transmitidos via alto-falante embutido na boneca.
(Susan Linn. “Agente Barbie”. O Estado de S.Paulo, 22.03.2015. Adaptado.) Sob o ponto de vista ético e filosófico, na sociedade de consumo,
o indivíduo
Sob aspectos filosóficos e éticos, o produto descrito apresenta
a) estabelece com os produtos ligações que são definidas pela
como implicação
separação entre razão e emoção.
a) questionar estereótipos hegemônicos no campo da estética e
b) representa a realidade mediante processos mentais essencialmente
do gênero.
objetivos e conscientes.
b) valorizar aspectos positivos da inteligência artificial.
c) relaciona-se com as mercadorias considerando prioritariamente
c) garantir a separação entre esfera pública e esfera privada os seus aspectos utilitários.
na infância.
d) relaciona-se com objetos que refletem ilusoriamente seus
d) prejudicar o desenvolvimento cognitivo e intelectual da criança. processos emocionais inconscientes.
e) introduzir ferramentas de marketing no universo infantil. e) comporta-se de maneira autônoma frente aos mecanismos
publicitários de persuasão.
18. (UNICAMP) Por que a ética voltou a ser um dos temas mais
trabalhados do pensamento filosófico contemporâneo? Nos anos
1960 a política ocupava esse lugar e muitos cometeram o exagero
EXERCÍCIOS DE
de afirmar que tudo era político.
(José Arthur Gianotti, “Moralidade Pública e Moralidade Privada”, em Adauto Novaes,
Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 239.)
APROFUNDAMENTO
01. (UDESC) Discuta a distinção comumente estabelecida entre
A partir desse fragmento sobre a ética e o pensamento filosófico, é
“ética” e “moral”, na reflexão filosófica acerca da ação humana.
correto afirmar que:
a) O tema foi relevante na obra de Aristóteles e apenas recentemente
02. (UNESP)
voltou a ocupar um espaço central na produção filosófica.
TEXTO I
b) Os impasses morais e éticos das sociedades contemporâneas
reposicionaram o tema da ética como um dos campos mais Por isso também nós, desde o dia em que soubemos, não
relevantes para a Filosofia. cessamos de rezar por vós e pedir a Deus que vos conceda pleno
conhecimento de sua vontade, perfeita sabedoria e inteligência
c) O pensamento filosófico abandonou sua postura política após
espiritual, a fim de vos comportardes de maneira digna do Senhor,
o desencanto com os sistemas ideológicos que eram vigentes
procurando agradar-lhe em tudo, dando fruto de toda obra boa e
nos anos 1960.
crescendo no conhecimento de Deus, animados de grande energia
d) Na atualidade, a ética é uma pauta conservadora, pois nas pelo poder de sua glória para toda a paciência e longanimidade.
sociedades atuais, não há demandas éticas rígidas. Com alegria, agradecemos a Deus Pai, que vos tornou capazes de
participar da herança dos santos no reino da Luz. Que nos livrou
19. (UNESP) A condenação à violência pode ser estendida à ação do poder das trevas e transportou ao reino do seu Filho amado,
dos militantes em prol dos direitos animais que depredaram os no qual temos a redenção: a remissão dos pecados.
laboratórios do Instituto Royal, em São Roque. A nota emocional é (Bíblia Sagrada. Epístola aos Colossenses 1, 9-14, texto escrito no século I.)
difícil de contornar: 178 cães da raça beagle, usados em testes de
medicamentos, foram retirados do local. De um lado, por mais que TEXTO II
seja minimizado e controlado, há o sofrimento dos bichos. Do outro Olhe ao redor deste universo. Que imensa profusão de seres,
lado, está nosso bem maior: nas atuais condições, não há como animados e organizados, sensíveis e ativos! Examine, porém,
dispensar testes com animais para o desenvolvimento de drogas e um pouco mais de perto essas criaturas dotadas de vida, os únicos
medicamentos que salvarão vidas humanas. seres dignos de consideração. Que hostilidade e destrutividade
(Direitos animais. Veja, 25.10.2013.) entre eles! Quão incapazes, todos, de garantir a própria felicidade!

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 5
FILOSOFIA 22 ÉTICA E MORAL

Quão odiosos ou desprezíveis aos olhos de quem os contempla! de todos os bens; mas o fato é que há muitas ciências, mesmo das
O conjunto de tudo isso nada nos oferece a não ser a ideia de uma coisas compreendidas em uma categoria única — por exemplo, a
natureza cega, que despeja de seu colo, sem discernimento ou da oportunidade, pois a oportunidade na guerra é estudada pela
cuidado materno, sua prole desfigurada e abortiva. estratégia, e na doença pela medicina, e a moderação quanto aos
(David Hume. Diálogos sobre a religião natural, texto escrito em 1779. Adaptado.) alimentos é estudada na medicina e nos exercícios atléticos pela
ciência da educação física. Poder-se-ia perguntar o que se quer
Compare ambos os textos e comente uma diferença entre eles no dizer precisamente com ‘um homem em si’, se (e este é o caso)
que diz respeito à concepção de natureza humana e uma diferença a noção de homem é a mesma e uma só em ‘um homem em si’
referente à concepção de moralidade. e em um determinado homem. Na  verdade, enquanto eles são
homens não diferem em coisa alguma, e sendo assim, o ‘bem em
03. (UFPR) “... não é fácil determinar de que maneira, e com quem si’ e determinados bens não diferirão enquanto eles foram bons.
e por que motivos, e por quanto tempo devemos encolerizar- Tampouco o ‘bem em si’ será melhor por ser eterno, porquanto
nos; às vezes nós mesmos louvamos as pessoas que cedem e aquilo que dura mais não é mais branco do que o efêmero.”
as chamamos de amáveis, mas às vezes louvamos aquelas que (Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro I, § 6, 1096a-1096b)
se encolerizam e as chamamos de viris. Entretanto, as pessoas
que se desviam um pouco da excelência não são censuradas, Apesar de criticar acima a noção de “um bem em si”, universal e
quer o façam no sentido do mais, quer o façam no sentido eterno, Aristóteles defenderá a seguir a necessidade de um bem
do menos; censuramos apenas as pessoas que se desviam supremo e autossuficiente. De que modo a noção de utilidade,
consideravelmente, pois estas não passarão despercebidas. Mas contida na tese de que não se pode “praticar belas ações sem
não é fácil determinar racionalmente até onde e em que medida os instrumentos próprios”, contribui para desfazer essa aparente
uma pessoa pode desviar-se antes de tornar-se censurável (de fato, contradição na filosofia aristotélica?
nada que é percebido pelos sentidos é fácil de definir); tais coisas
dependem de circunstâncias específicas, e a decisão depende
GABARITO
da percepção. Isto é bastante para determinar que a situação
intermediária deve ser louvada em todas as circunstâncias, mas EXERCÍCIOS PROPOSTOS
que às vezes devemos inclinar-nos no sentido do excesso, e às 01. D 05. C 09. B 13. A 17. E
vezes no sentido da falta, pois assim atingiremos mais facilmente 02. A 06. A 10. D 14. A 18. B
o meio-termo e o que é certo.” 03. D 07. D 11. B 15. E 19. A
Aristóteles. Ética a Nicômaco. Livro II. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 150 (Col. Os Pensadores).
04. A 08. E 12. C 16. E 20. D

Uma vez que Aristóteles antes define as virtudes como disposições EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
de caráter e, na passagem acima, acrescenta que as virtudes 01. Moral e ética podem ser consideradas como sinônimas. Entretanto, costuma-se pensar
situam-se num “meio-termo”, de que modo devem ser definidos moral em relação aos costumes aceitos como positivos em uma determinada sociedade,
os vícios? Por quê? sem se colocar como questão a reflexão ética sobre tais comportamentos. Sendo assim,
ética refere-se à reflexão de um agente consciente em busca de critérios válidos para a
definição dos comportamentos e das ações como certos, justos, bons ou desejáveis.
04. (UNESP) Preguiça e covardia são as causas que explicam 02. O texto I integra a Epístola de Paulo do Novo Testamento, literatura cristã, e revela
por que uma grande parte dos seres humanos, mesmo muito uma concepção divina do Universo, marcado por uma ordem moral e com sentido.
A antropologia cristã entende o homem como criatura (criação de Deus), como ser em
após a natureza tê-los declarado livres da orientação alheia,
estado de guerra (pecado original), porém, agraciado pela mensagem de Cristo que
ainda permanecem, com gosto, e por toda a vida, na condição de ofereceu um sentido moral à existência humana.
menoridade. É tão confortável ser menor! Tenho à disposição um O texto II, do filósofo David Hume, nascido em Edimburgo, representante do empirismo
livro que entende por mim, um pastor que tem consciência por mim, inglês, aparece a visão do homem natural (e não sobrenatural), cuja existência é marcada
um médico que prescreve uma dieta etc.: então não preciso me pelo caos e pela desordem que resultam de suas inclinações para o egoísmo, hostilidade
destrutividade. Para o filósofo, adotamos regras de moral e de justiça, não com bases
esforçar. A maioria da humanidade vê como muito perigoso, além abstratas, mas com sentidos pragmáticos, em outras palavras, as decisões éticas e
de bastante difícil, o passo a ser dado rumo à maioridade, uma vez morais são sempre relativas a uma situação específica e a um determinado momento
que tutores já tomaram para si de bom grado a sua supervisão. histórico, não se fundando em nenhum princípio eterno e universal.

Após terem previamente embrutecido e cuidadosamente protegido 03. Em seu livro: “Ética a Nicômaco”, Aristóteles estabelece que o princípio da ação deve
ser a virtude, isto é, o comportamento deve ser conduzido pela reflexão para um fim.
seu gado, para que estas pacatas criaturas não ousem dar O fim do agir humano, segundo Aristóteles, é a felicidade e esta somente pode ser atingida
qualquer passo fora dos trilhos nos quais devem andar, os tutores quando se superou tanto o excesso quanto a falta. A ética do meio-termo proposta por
lhes mostram o perigo que as ameaça caso queiram andar por este filósofo reflete-se pela excelência moral. O comportamento virtuoso sempre irá
buscar o melhor fim. Assim, os extremos do comportamento moral: tanto a falta quanto
conta própria. Tal perigo, porém, não é assim tão grande, pois, o excesso, são determinados como vícios. Estes não produzem uma ação adequada, pois
após algumas quedas, aprenderiam finalmente a andar; basta, são baseados nos afetos, nas paixões e não na razão.
entretanto, o perigo de um tombo para intimidá-las e aterrorizá-las 04. A oposição entre menoridade e maioridade (ou autonomia) é o recurso alegórico
por completo para que não façam novas tentativas. utilizado para falar sobre o estado do homem e o movimento Iluminista que buscava
retirar o homem deste estado. O homem, diz Kant, está acomodado. Preguiçoso e
(Immanuel Kant, apud Danilo Marcondes. Textos básicos de ética – de Platão a covarde, o homem continua, mesmo depois de adquirir plenas capacidades de ser
Foucault, 2009. Adaptado.) autônomo (de se dar a própria lei), servo da consciência de outros, das prescrições de
terceiros. Além da sua própria preguiça e covardia, o ato mesmo de se tornar maior é visto
O texto refere-se à resposta dada pelo filósofo Kant à pergunta como perigoso, o que faria a libertação da tutoria uma escolha ainda menos provável.
Enfim, passar da menoridade para a maioridade é um ato de libertação do homem das
sobre “O que é o Iluminismo?”. Explique o significado da oposição relações de tutela que direcionam opressivamente o seu comportamento.
por ele estabelecida entre “menoridade” e “autonomia intelectual”.
05. A contradição não se faz “apenas aparente” por causa de uma modulação
argumentativa de Aristóteles, ou seja, não se trata de um simples jogo de palavras.
05. (UFPR) “Ademais, já que o termo ‘bem’ tem tantas acepções Isso, pois a própria questão do filósofo a partir da qual surge a necessidade de falar
algo sobre um bem supremo é distinta, por exemplo, daquela que levou Platão a
quanto ‘ser’ (...), obviamente ele não pode ser algo universal, pensar a Ideia de bem. Quer dizer, de certo ponto de vista platônico pode aparentar ser
presente em todos os casos e único, pois então ele não poderia contraditório o argumento aristotélico. Enfim, Aristóteles está ocupado com a questão
ter sido predicado de todas as categorias, mas somente de referente aos costumes, com a formação do hábito do indivíduo e principalmente do
cidadão. Criticar a noção de “um bem em si”, a partir dessa questão sobre os costumes,
uma. Além  disto, já que há uma ciência única das coisas é criticar a posição de Platão de pensar uma Lei a partir da Ideia de bem que deveria ser
correspondentes a cada Forma, teria de haver uma única ciência sobreposta aos indivíduos sem consideração de suas particularidades.

6 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
23 MAQUIAVEL E A CIÊNCIA FILOSOFIA

POLÍTICA

A TRAJETÓRIA DE MAQUIAVEL Devemos notar um trecho da obra bastante citado por


seus admiradores, que mais uma vez remeterá à expressão
Niccolò Machiavelli (1469-1527), conhecido em português “maquiavélico” e ao sentido a ela atribuído. No capítulo “Para os que
como Nicolau Maquiavel, é geralmente considerado o mais influente tomam o poder criminosamente”, Maquiavel aconselha: “Quando
pensador político do Renascimento. Nascido em Florença, foi tomar um estado, o conquistador deve considerar todos os danos
educado na tradição humanista cívica. De 1498 a 1512, foi secretário que deve aplicar e então aplicá-los todos de uma vez, para não ter
da chancelaria da república de Florença, com responsabilidades que aplicá-los diariamente. Dessa forma, pode tranquilizar o povo
nas relações exteriores e na milícia civil doméstica. Suas tarefas e ganhar seu apoio ao distribuir favores”.
envolveram numerosas missões diplomáticas na Itália e fora dela.
Até o fim da primeira metade de “O Príncipe”, Maquiavel
Com a queda da república de Florença, em 1512, foi demitido explorará a temática nesse tom. Será na segunda
pelo regime de Médici, que voltava ao poder. De 1513 a 1527, viveu metade do livro que o autor se dedicará particularmente
em retiro forçado, aliviado pelo ofício de escritor e por indicações às características que o príncipe deve cultivar e aos vícios de que
ocasionais a postos menos importantes. deve se afastar para se manter no poder. Esse, em verdade, é o
grande objetivo do príncipe no entender de Maquiavel: manter-se
no poder, com controle do estado, por mais tempo possível.
O PRÍNCIPE
Pode-se dizer devido ao conteúdo de suas obras,
que muitos escritores do Renascimento permanecem
atuais. Maquiavel, sem dúvida, é um deles. O que faz
da leitura de Maquiavel uma necessidade de todas as épocas é
justamente a característica inovadora de O Príncipe: o realismo na
análise das práticas políticas.
Afinal, hoje, entender O Príncipe não apenas como um manual
da forma de chegada ao poder, mas de como compreender o
funcionamento da política real. Compreendendo como ela funciona,
é possível prevenir-se contra as manipulações de certos políticos e,
quem sabe, influenciar a sua prática pela inserção de novos fatores
que precisarão ser levados em conta. Ou seja; pode‑se tanto usar as
regras do jogo para não se deixar enganar, quanto para influenciar
em seu resultado. Não é à toa que O Príncipe é continuamente
reeditado em inúmeras línguas, inclusive a portuguesa.

Folho de rosto da edição de 1550 de O Príncipe.


https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/77/Machiavelli_Principe_Cover_
Page.jpg

O QUE É NECESSÁRIO PARA O


PRÍNCIPE?
Com Maquiavel emerge uma nova visão da política como
uma atividade autônoma levando à criação de Estados livres e
Lourenço II de Médici, a quem foi dedicada a poderosos. Essa visão deriva suas normas a partir do que as
versão final de O Príncipe. pessoas realmente fazem, em vez de derivá-las a partir do que as
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8f/ pessoas deveriam fazer. Como resultado, o problema do mal surge
Portrait_of_Lorenzo_di_Medici.jpg como uma questão central: o ator político reserva-se ao direito de
“entrar no mal quando for necessário”.
“O Príncipe” é a obra na qual Maquiavel instrui um príncipe
que governe um estado a manter o seu poder de forma eficiente. O requerimento das filosofias políticas clássica, medieval e
A parte inicial do livro se dedica a descrever os diferentes tipo de humanista cívica de que a política deve ser praticada dentro das
estado e a forma de governo a ser adotada pelo príncipe mais fronteiras da virtude é cumprido ao ser redefinido o significado da
adequada a cada um. De forma resumida, podemos dizer que própria virtude. A virtù maquiaveliana é a habilidade de alcançar a
Maquiavel faz duas classificações básicas: há os reinos difíceis de “verdade efetiva” sem ater-se a restrições morais, filosóficas ou
serem conquistados, mas fáceis de serem controlados; e reinos teológicas. Maquiavel reconhece dois limites à virtù:
fáceis de serem conquistados, mas difíceis de serem controlados.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 49
FILOSOFIA 23 MAQUIAVEL E A CIÊNCIA POLÍTICA

1. fortuna, compreendida como o acaso;


EXERCÍCIOS
2. o temperamento do próprio indivíduo.
A história é vista como o produto conjunto da atividade humana PROTREINO
e da alegada atividade celeste (compreendida pela astrologia),
entendida como a “causa geral” de todos os movimentos no
mundo sublunar. Não há lugar aqui para a soberania de Deus, nem 01. Cite a principal obra de Maquiavel.
para a Providência. Reinos, Repúblicas e religiões seguem um
02. Aponte duas características centrais da obra de Maquiavel.
padrão naturalista de nascimento, crescimento e declínio. Mas,
dependendo do resultado da disputa entre virtù e fortuna, há a 03. De acordo com o pensamento de Maquiavel, defina virtú.
possibilidade da renovação política; e Maquiavel via a si mesmo
como o filósofo da renovação política. 04. De acordo com o pensamento de Maquiavel, defina fortuna.
05. Cite uma contribuição da obra de Maquiavel para o pensamento
INTERPRETAÇÕES E LEGADO DE SUA OBRA moderno.

Historicamente, a filosofia de Maquiavel veio a ser identificada


com o maquiavelismo, a doutrina segundo a qual a razão de Estado
não reconhece moral superior alguma e que, para o bem do Estado,
tudo é permitido – ou seja, a ideia da preponderância da Razão de
EXERCÍCIOS
Estado.
No entanto, devemos fazer a justa observação de que Maquiavel PROPOSTOS
não defendia tais princípios. Ele, de forma mais imparcial possível,
admitia a existência de tais práticas. Sua observação transcendia 01. (ENEM) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado
a análise de bem e mal. Seu campo de estudos se voltava para as que temido ou temido que amado. Responde‑se que ambas as
formas de conseguir o poder, em geral, implacáveis. Se tais métodos coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá‑las, é muito
tornavam o indivíduo bom ou mal, a Maquiavel não interessava. Aí mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das
está a origem do termo maquiavélico, que no emprego cotidiano, duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que
não faz a verdadeira justiça a Maquiavel. são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro,
e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem‑te o
sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse,
TEXTO COMPLEMENTAR o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam‑se.
(MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. )
O Príncipe
Capítulo XVII – Da crueldade e da piedade; e se é melhor A partir da análise histórica do comportamento humano em suas
ser amado do que temido, ou o contrário. Examinando as relações sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um ser
outras qualidades já referidas, digo que cada príncipe deve a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si
desejar ser tido como piedoso e não como cruel: não obstante e aos outros.
isso, deve ter o cuidado de não usar mal essa piedade. César
Bórgia era considerado cruel; entretanto, essa sua crueldade b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar
tinha recuperado a Romanha, logrando uni-la e pô-la em paz e êxito na política.
em lealdade. O que, se bem considerado for, mostrará ter sido c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis
ele muito mais piedoso do que o povo florentino, o qual, para e inconstantes.
fugir da fama de cruel, deixou que Pistoia fosse destruída. Um d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e
príncipe não deve, pois, temer a má fama de cruel, desde que portando seus direitos naturais.
por ela mantenha seus súditos unidos e leais, pois que, com
e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com
mui poucos exemplos, ele será mais piedoso do que aqueles
seus pares.
que, por excessiva piedade, deixam acontecer as desordens
das quais resultam assassínios ou rapinagens: porque estes 02. (ENEM) Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de
costumam prejudicar a comunidade inteira, enquanto aquelas que o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso.
execuções que emanam do príncipe atingem apenas um Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devido às grandes
indivíduo. E, dentre todos os príncipes, é ao novo que se torna transformações ocorridas, e que ocorrem diariamente, as quais
impossível fugir à pecha de cruel, visto serem os Estados novos escapam à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar
cheios de perigos. (...) inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que
O príncipe, contudo, deve ser lento no crer e no agir, não se a sorte decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos
alarmar por si mesmo e proceder por forma equilibrada, com permite o controle sobre a outra metade.
prudência e humanidade, buscando evitar que a excessiva confiança MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado). Em O Príncipe, Maquiavel
refletiu sobre o exercício do poder em seu tempo.
o torne incauto e a demasiada desconfiança o faça intolerável.
Nasce daí uma questão: se é melhor ser amado que temido ou No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seu
pensamento político e o humanismo renascentista ao
o contrário. A resposta é de que seria necessário ser uma coisa e
outra; mas, como é difícil reuni-las, em tendo que faltar uma das a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos definidores
do seu tempo.
duas é muito mais seguro ser temido do que amado. Isso porque
dos homens pode-se dizer, geralmente, que são ingratos, volúveis, b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos.
simuladores, tementes do perigo, c) afirmar a confiança na razão autônoma como fundamento da
ação humana.
d) romper com a tradição que valorizava o passado como fonte
de aprendizagem.
e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé e razão.

50 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
23 MAQUIAVEL E A CIÊNCIA POLÍTICA FILOSOFIA

03. (UNESP) Analise o texto político, que apresenta uma visão muito a) defender a fé e honrar os valores morais e sagrados.
próxima de importantes reflexões do filósofo italiano Maquiavel, b) valorizar e priorizar as ações armadas em detrimento do
um dos primeiros a apontar que os domínios da ética e da política respeito às leis.
são práticas distintas.
c) basear suas decisões na razão e nos princípios éticos.
“A política arruína o caráter”, disse Otto von Bismarck
(1815‑1898), o “chanceler de ferro” da Alemanha, para quem d) comportar-se e tomar suas decisões conforme a circunstância
mentir era dever do estadista. Os ditadores que agora enojam o política.
mundo ao reprimir ferozmente seus próprios povos nas praças e) agir de forma a sempre proteger e beneficiar os governados.
árabes foram colocados e mantidos no poder por nações que se
enxergam como faróis da democracia e dos direitos humanos: 06. (ENEM)
Estados Unidos, Inglaterra e França. Isso é condenável? Para Maquiavel, quando um homem decide dizer a verdade
Os ditadores eram a única esperança do Ocidente de continuar pondo em risco a própria integridade física, tal resolução diz respeito
tendo acesso ao petróleo árabe e de manter um mínimo de apenas a sua pessoa. Mas se esse mesmo homem é um chefe de
informação sobre as organizações terroristas islâmicas. Antes de Estado, os critérios pessoais não são mais adequados para decidir
condenar, reflita sobre a frase do mais extraordinário diplomata sobre ações cujas consequências se tornam tão amplas, já que
americano do século passado, George Kennan, morto aos 101 o prejuízo não será apenas individual, mas coletivo. Nesse caso,
anos em 2005: “As sociedades não vivem para conduzir sua política conforme as circunstâncias e os fins a serem atingidos, pode-se
externa: seria mais exato dizer que elas conduzem sua política decidir que o melhor para o bem comum seja mentir.
externa para viver”. ARANHA, M. L. Maquiavel: a lógica da força. São Paulo: Moderna, 2006 (adaptado).
(Veja, 02.03.2011. Adaptado.)
O texto aponta uma inovação na teoria política na época moderna
A associação entre o texto e as ideias de Maquiavel pode ser feita, expressa na distinção entre
pois o filósofo
a) idealidade e efetividade da moral.
a) considerava a ditadura o modelo mais apropriado de governo,
sendo simpático à repressão militar sobre populações civis. b) nulidade e preservabilidade da liberdade.

b) foi um dos teóricos da democracia liberal, demonstrando-se c) ilegalidade e legitimidade do governante.


avesso a qualquer tipo de manifestação de autoritarismo por d) verificabilidade e possibilidade da verdade.
parte dos governantes. e) objetividade e subjetividade do conhecimento
c) foi um dos teóricos do socialismo científico, respaldando as
ideias de Marx e Engels. 07. (UECE)
d) foi um pensador escolástico que preconizou a moralidade “Quando um cidadão, não por suas crueldades ou outra
cristã como base da vida política. qualquer intolerável violência, e sim pelo favor dos concidadãos,
e) refletiu sobre a política através de aspectos prioritariamente se torna príncipe de sua pátria – o que se pode chamar principado
pragmáticos. civil (e para chegar a isto não é necessário grandes méritos
nem muita sorte, mas antes uma astúcia feliz) –, digo que se
04. (ENEM) chega a esse principado ou pelo favor do povo ou pelo favor dos
poderosos. É que em todas as cidades se encontram estas duas
O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação tendências diversas e isto nasce do fato de que o povo não deseja
de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal. De fato, ser governado nem oprimido pelos grandes, e estes desejam
com uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente do que governar e oprimir o povo.”
outros que, por muita piedade, permitem os distúrbios que levem
MAQUIAVEL. O Príncipe. Coleção “Os Pensadores” - adaptado.
ao assassínio e ao roubo.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe, São Paulo: Martin Claret, 2009.
Considerando a questão da política em Maquiavel, analise as
seguintes afirmações:
No século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe, reflexão sobre a
Monarquia e a função do governante. I. Maquiavel rompe com a tradição política ao não admitir
qualquer fundamento anterior e exterior à política.
A manutenção da ordem social, segundo esse autor, baseava-se na
II. Maquiavel considera a cidade uma comunidade homogênea
a) inércia do julgamento de crimes polêmicos.
nascida da ordem natural ou da razão humana.
b) bondade em relação ao comportamento dos mercenários.
III. Maquiavel considera que a política nasce das lutas sociais
c) compaixão quanto à condenação de transgressões religiosas. e é obra da própria sociedade para dar a si mesma unidade
d) neutralidade diante da condenação dos servos. e identidade.
e) conveniência entre o poder tirânico e a moral do príncipe. É correto o que se afirma em
a) I e II apenas. c) II e III apenas.
05. (UNESP) Deveis saber, portanto, que existem duas formas b) I e III apenas. d) I, II e III.
de se combater: uma, pelas leis, outra, pela força. A primeira é
própria do homem; a segunda, dos animais. Como, porém,
08. (UNICAMP) Quanto seja louvável a um príncipe manter a fé,
muitas vezes a primeira não seja suficiente, é preciso recorrer à
aparentar virtudes e viver com integridade, não com astúcia, todos
segunda. Ao príncipe torna-se necessário, porém, saber empregar
o compreendem; contudo, observa-se, pela experiência, em nossos
convenientemente o animal e o homem. [...] Nas ações de todos
tempos, que houve príncipes que fizeram grandes coisas, mas em
os homens, máxime dos príncipes, onde não há tribunal para
pouca conta tiveram a palavra dada, e souberam, pela astúcia,
que recorrer, o que importa é o êxito bom ou mau. Procure, pois,
transtornar a cabeça dos homens, superando, enfim, os que
um príncipe, vencer e conservar o Estado.
foram leais (...). Um príncipe prudente não pode nem deve guardar
Nicolau Maquiavel. O príncipe, 1983.
a palavra dada quando isso se lhe torne prejudicial e quando as
O texto, escrito por volta de 1513, em pleno período do Renascimento causas que o determinaram cessem de existir.
(Nicolau Maquiavel, O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1997, p. 73-85.)
italiano, orienta o governante a

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FILOSOFIA 23 MAQUIAVEL E A CIÊNCIA POLÍTICA

A partir desse excerto da obra, publicada em 1513, é correto afirmar que: Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filosofia política
a) O jogo das aparências e a lógica da força são algumas das principais de Maquiavel, assinale a alternativa correta.
artimanhas da política moderna explicitadas por Maquiavel. a) A anarquia e a desordem no Estado são aplacadas com a
b) A prudência, para ser vista como uma virtude, não depende dos existência de um Príncipe que age segundo a moralidade
resultados, mas de estar de acordo com os princípios da fé. convencional e cristã.
c) Os princípios e não os resultados é que definem o julgamento b) A estabilidade do Estado resulta de ações humanas concretas
que as pessoas fazem do governante, por isso é louvável a que pretendem evitar a barbárie, mesmo que a realidade seja
integridade do príncipe. móvel e a ordem possa ser desfeita.
d) A questão da manutenção do poder é o principal desafio ao c) A história é compreendida como retilínea, portanto a ordem
príncipe e, por isso, ele não precisa cumprir a palavra dada, é resultado necessário do desenvolvimento e aprimoramento
desde que autorizado pela Igreja. humano, sendo impossível que o caos se repita.
d) A ordem na política é inevitável, uma vez que o âmbito dos
09. (ENEM PPL) Mas, sendo minha intenção escrever algo de útil assuntos humanos é resultante da materialização de uma
para quem por tal se interesse, pareceu-me mais conveniente ir vontade superior e divina.
em busca da verdade extraída dos fatos e não à imaginação dos e) Há uma ordem natural e eterna em todas as questões humanas
mesmos, pois muitos conceberam repúblicas e principados jamais e em todo o fazer político, de modo que a estabilidade e a
vistos ou conhecidos como tendo realmente existido. certeza são constantes nessa dimensão.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Disponível em: www.culturabrasil.pro.br. Acesso em: 4 abr. 2013.

A partir do texto, é possível perceber a crítica maquiaveliana à 12. (UFPA) Ao pensar como deve comportar-se um príncipe com
filosofia política de Platão, pois há nesta a seus súditos, Maquiavel questiona as concepções vigentes em
sua época, segundo as quais consideravam o bom governo
a) elaboração de um ordenamento político com fundamento na depende das boas qualidades morais dos homens que dirigem
bondade infinita de Deus. as instituições. Para o autor, “um homem que quiser fazer
b) explicitação dos acontecimentos políticos do período clássico profissão de bondade é natural que se arruíne entre tantos que
de forma imparcial. são maus. Assim, é necessário a um príncipe, para se manter,
c) utilização da oratória política como meio de convencer os que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se
oponentes na ágora. disso segundo a necessidade”.
Maquiavel, O Príncipe, São Paulo: Abril cultural, Os Pensadores, 1973, p.69.
d) investigação das constituições políticas de Atenas pelo
método indutivo. Sobre o pensamento de Maquiavel, a respeito do comportamento
e) idealização de um mundo político perfeito existente no mundo de um príncipe, é correto afirmar que
das ideias. a) a atitude do governante para com os governados deve estar
pautada em sólidos valores éticos, devendo o príncipe punir
10. (UNIOESTE) Considerando-se o seguinte fragmento de Maquiavel, aqueles que não agem eticamente.
indique qual das alternativas abaixo está CORRETA.
b) o Bem comum e a justiça não são os princípios fundadores
“Um príncipe prudente deve, portanto, conduzir-se de uma da política; esta, em função da finalidade que lhe é própria e
terceira maneira escolhendo no seu Estado homens sábios, e só das dificuldades concretas de realizá-la, não está relacionada
a esses deve dar o direito de falar-lhe a verdade a respeito, porém com a ética.
apenas das coisas que ele lhes perguntar. Deve consultá-los a
c) o governante deve ser um modelo de virtude, e é precisamente
respeito de tudo e ouvir-lhes a opinião e deliberar depois como
por saber como governar a si próprio e não se deixar influenciar
bem entender e com conselhos daqueles; conduzir-se de tal modo
pelos maus que ele está qualificado a governar os outros, isto é,
que eles percebam que com quanto mais liberdade falarem, mais
a conduzi-los à virtude.
facilmente as suas opiniões serão seguidas”
(MAQUIAVEL, 1973, p. 105). d) o Bem supremo é o que norteia as ações do governante,
mesmo nas situações em que seus atos pareçam maus.
a) De acordo com Maquiavel, o príncipe, na direção do seu Estado,
e) a ética e a política são inseparáveis, pois o bem dos indivíduos
não deve consultar ninguém ao tomar decisões.
só é possível no âmbito de uma comunidade política onde o
b) Maquiavel considera que todos têm o direito de criticar as governante age conforme a virtude.
ações do príncipe.
c) Maquiavel afirma que homens sábios podem falar ao príncipe o 13. (UFU) Em seus estudos sobre o Estado, Maquiavel busca
que quiserem, e na hora que bem entenderem, sendo obrigação decifrar o que diz ser uma verità effettuale, a “verdade efetiva” das
do príncipe acatá-los. coisas que permeiam os movimentos da multifacetada história
d) Conforme Maquiavel, o príncipe deve cercar-se de conselheiros humana/política através dos tempos. Segundo ele, há certos traços
sábios, mas eles nunca devem ter liberdade para falar a verdade. humanos comuns e imutáveis no decorrer daquela história. Afirma,
e) Maquiavel defende que, como o príncipe precisa da opinião por exemplo, que  os homens são “ingratos, volúveis, simuladores,
livre dos sábios, deve dar-lhes o direito de falar-lhes a verdade, covardes ante os perigos, ávidos de lucro”.
mas apenas das coisas que ele lhe perguntar. (O Príncipe, cap. XVII)
Para Maquiavel:
11. (UEL) A República de Veneza e o Ducado de Milão ao norte, o a) A “verdade efetiva” das coisas encontra-se em plano especulativo
reino de Nápoles ao sul, os Estados papais e a república de Florença e, portanto, no “dever-ser”.
no centro formavam ao final do século XV o que se pode chamar
de mosaico da Itália sujeita a constantes invasões estrangeiras b) Fazer política só é possível por meio de um moralismo piedoso,
e conflitos internos. Nesse cenário, o florentino Maquiavel que redime o homem em âmbito estatal.
desenvolveu reflexões sobre como aplacar o caos e instaurar a c) Fortuna é poder cego, inabalável, fechado a qualquer influência,
ordem necessária para a unificação e a regeneração da Itália. que distribui bens de forma indiscriminada.
(Adaptado de: SADEK, M. T. “Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de d) A Virtù possibilita o domínio sobre a Fortuna. Esta é atraída pela
virtú”. In: WEFORT, F. C. (Org.). Clássicos da política. v.2. São Paulo: Ática, 2003. p.11-24.)
coragem do homem que possui Virtù.

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23 MAQUIAVEL E A CIÊNCIA POLÍTICA FILOSOFIA

14. (IFSP) Reconhecido por muitos como fundador do pensamento 17. (UNIOESTE) No capítulo XV de O Príncipe, Nicolau Maquiavel,
político moderno, Maquiavel chocou a sociedade de seu tempo ao influenciado diretamente pela observação da constituição do
propor, em O Príncipe, que Estado absolutista na Europa ocidental, sintetiza o estilo realista de
a) a soberania do Estado é ilimitada e que o monarca, embora sua nova abordagem da política:
submetido às leis divinas, pode interpretá-las de forma “(...) como é meu intento escrever coisa útil para os que se
autônoma, sem a necessidade de recorrer ao Papa. interessarem, pareceu-me mais conveniente procurar a verdade
b) a autoridade do monarca é sagrada, ilimitada e incontestável, pelo efeito das coisas, do que pelo que delas se possa imaginar”
pois o príncipe recebe seu poder diretamente de Deus. MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 63.

c) o Estado é personificado pelo monarca, que encarna a Sobre as características do realismo político de Maquiavel, é
soberania e cujo poder não conhece outros limites que não correto afirmar que
aqueles ditados pela moral. a) a teoria do Estado e da sociedade deve ser formulada somente
d) a autoridade do príncipe deriva do consentimento dos através da especulação filosófica.
governados, pois a função do Estado é promover e assegurar a b) a teoria do Estado e da sociedade deve ser estabelecida através
felicidade dos seus súditos. da proposição de uma forma utópica e justa de regulação das
e) a política é autonormativa, justificando seus meios em prol de relações sociais humanas.
um bem maior, que é a estabilidade do Estado. c) a teoria do Estado e da sociedade vincula-se à reflexão moral,
constituindo-se num ramo específico desta, que busca um
15. (UEL) Leia o texto a seguir. ideal normativo de regulação da conduta social humana.
Certamente, a brusca mudança de direção que encontramos d) a teoria do Estado e da sociedade deve se vincular à visão de
nas reflexões de Maquiavel, em comparação com os humanistas mundo da religião, estabelecendo uma concepção cristã de
anteriores, explica-se em larga medida pela nova realidade política regulação da vida social e de aplicação do poder político.
que se criara em Florença e na Itália, mas também pressupõe uma
e) a teoria do Estado e da sociedade deve fundar-se na
grande crise de valores morais que começava a grassar.
investigação empírica, apreendendo a realidade política em
Ela não apenas constatava a divisão entre “ser” e “dever ser”, termos de prática humana concreta e o fenômeno do poder
mas também elevava essa divisão a princípio e a colocava como como formalizado na instituição do Estado.
base da nova visão dos fatos políticos.
(REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia. São Paulo: Paulinas, 1990. V. II, p. 127.) 18. (UNIOESTE) Dois dos conceitos mais importantes desenvolvidos
no livro, O Príncipe, de Maquiavel, são os conceitos de virtù e
Dentre as contribuições de Maquiavel à Filosofia Política, fortuna, que são qualidades que um príncipe terá que cultivar na
é correto afirmar: arte de governar e fundamentais na maneira como o poder pode
a) Inaugurou a reflexão sobre a constituição do Estado ideal. ser conquistado. Escolha, entre as alternativas abaixo, a que melhor
corresponde aos propósitos de Maquiavel ao escrever essa obra.
b) Estabeleceu critérios para a consolidação de um governo
tirânico e despótico. a) Maquiavel preocupava-se em moralizar a política e fazer
uma defesa da moral cristã, ou dos valores que sua própria
c) Consolidou a tábua de virtudes necessárias a um bom homem.
sociedade aprova.
d) Fundou os procedimentos de verificação da correção das normas.
b) Maquiavel se detém apenas no estudo das repúblicas e não
e) Rompeu o vínculo de dependência entre o poder civil e a se interessa em fazer uma classificação dos principados
autoridade religiosa. existentes no período.
c) Maquiavel, na maior parte da obra, distingue quatro espécies de
16. (UNIOESTE) No capítulo XV de O Príncipe, Nicolau Maquiavel principados, de acordo como a forma que é utilizado o poder:
(1469-1527) destaca um dos principais fundamentos de sua pela fortuna, pela virtù, pela violência e, por último, aquele que
reflexão política. Visando distinguir-se tanto de seus predecessores não tem o consentimento dos cidadãos.
quanto de seus contemporâneos, ele indica claramente sua
perspectiva realista: d) Maquiavel descreve os caminhos e meios de adquirir e
conservar o poder político. Para Maquiavel, a política tem uma
“Mas, sendo a minha intenção escrever coisa útil a quem a ética e uma lógica próprias.
escute, pareceu-me mais convincente ir direto à verdade efetiva da
coisa do que à imaginação dessa” e) O uso da força não explica o fundamento do poder, porém é a
(MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Hedra, 2011. p. 151).
posse da compaixão cristã a chave por excelência do sucesso
do príncipe. Sucesso este que tem uma medida política: a
A partir da leitura do trecho citado, pode se afirmar CORRETAMENTE que manutenção do poder político.
a) o realismo político de Maquiavel baseia-se na idealização da 19. (UFFS) Princípio enunciado por Maquiavel, segundo o qual
vida política. a ação política encontra em si mesma a própria justificação,
b) o realismo político de Maquiavel baseia-se na análise da vida ao garantir a ordem e a liberdade da convivência civil. A política,
política na sua realidade ou verdade efetiva. portanto, constitui uma ciência autônoma e independente de
c) o realismo político de Maquiavel baseia-se na busca de leis qualquer sistema ético e religioso.
imutáveis que regem a vida religiosa dos homens. Indique-o nas alternativas abaixo.
d) o realismo político de Maquiavel baseia-se na crença da a) Política Neutra.
bondade natural do homem. b) Realismo Político.
e) o realismo político de Maquiavel baseia-se na busca das leis c) Realismo Lógico.
que regem as repúblicas e principados perfeitos propostos
pelos pensadores utópicos. d) Lógica dominante.
e) Política Justificada.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 53
FILOSOFIA 23 MAQUIAVEL E A CIÊNCIA POLÍTICA

20. (UEL) Em O Príncipe, Maquiavel (1469-1527) formulou ideias TEXTO 2


e conceitos que firmaram a sua reputação de o fundador da Um príncipe prudente não pode e nem deve manter a palavra
Ciência Política moderna. Dentre elas, pode-se citar os aspectos dada quando isso lhe é nocivo e quando aquilo que a determinou
relacionados às ações políticas dos governantes e à dominação não mais exista. Fossem os homens todos bons, esse preceito
das massas. Para ele, a política deveria ser compreendida pelo seria mau. Mas, uma vez que são pérfidos e que não a manteriam
governante como uma esfera independente dos pressupostos a teu respeito, também não te vejas obrigado a cumpri-la para
religiosos que até então a impregnavam. Ao propor a autonomia com eles. Nunca, aos príncipes, faltaram motivos para dissimular
da política (esfera da vida pública e da ação dos dirigentes quebra da fé jurada.
políticos) sobre a ética (esfera da vida privada e da conduta (Maquiavel. O Príncipe, 2000. Adaptado.)
moral dos indivíduos), é legítimo afirmar que Maquiavel não
deixou, entretanto, de reconhecer e valorizar a religião como uma Comente as diferenças entre os dois textos no que se refere à
importante dimensão da vida em sociedade. Segundo Maquiavel, necessidade de virtudes pessoais para o governante de um Estado.
a religião dos súditos deveria ser objeto de análise atenta por parte
do governante. Sobre a relação entre política e religião, de acordo 03. (UNESP)
com Maquiavel, é correto afirmar:
TEXTO 1
a) A religião deve ser cultivada pelo governante para garantir que
ele seja mais amado do que temido. Para santo Tomás de Aquino, o poder político, por ser uma
instituição divina, além dos fins temporais que justificam a ação
b) Por se constituírem em personagens importantes na vida política, visa outros fins superiores, de natureza espiritual. O Estado
política de uma comunidade, os líderes religiosos devem deve dar condições para a realização eterna e sobrenatural do
formular as ações a serem executadas pelos príncipes. homem. Ao discutir a relação Estado-Igreja, admite a supremacia
c) O sentimento religioso dos súditos é um valor moral e, portanto, desta sobre aquele. Considera a Monarquia a melhor forma de
deverá ser combatido pelo príncipe, uma vez que conduz ao governo, por ser o governo de um só, escolhido pela sua virtude,
fanatismo e prejudica a estabilidade do Estado. desde que seja bloqueado o caminho da tirania.
d) A religião dos súditos é sempre um instrumento útil nas mãos do TEXTO 2
Príncipe, o qual deve aparentar ser virtuoso em matéria religiosa. Maquiavel rejeita a política normativa dos gregos, a qual, ao
e) O dirigente político deve se esforçar para tornar-se, também, explicar “como o homem deve agir”, cria sistemas utópicos. A nova
o dirigente religioso de seu povo, rompendo, assim, com o política, ao contrário, deve procurar a verdade efetiva, ou seja,
preceito do Estado laico. “como o homem age de fato”. O método de Maquiavel estipula a
observação dos fatos, o que denota uma tendência comum aos
pensadores do Renascimento, preocupados em superar, através da
EXERCÍCIOS DE experiência, os esquemas meramente dedutivos da Idade Média.

APROFUNDAMENTO Seus estudos levam à constatação de que os homens sempre


agiram pelas formas da corrupção e da violência.
(Maria Lúcia Aranha e Maria Helena Martins. Filosofando, 1986. Adaptado.)
01. (UEL) Leia os textos a seguir.
Como é meu intento escrever algo útil para os que se Explique as diferentes concepções de política expressadas nos
interessarem, pareceu-me mais conveniente procurar a verdade dois textos.
efetiva das coisas do que pelo que delas se possa imaginar. Muitos
imaginaram repúblicas e principados que nunca se viram e que 04. (UNESP) “Três maneiras há de preservar a posse de Estados
jamais existiram verdadeiramente. acostumados a serem governados por leis próprias; primeiro,
(Adaptado de: MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p.63. Cap. XV.) devastá-los; segundo, morar neles; terceiro, permitir que vivam
com suas leis, arrancando um tributo e formando um governo de
A preocupação de Maquiavel em suas obras é o Estado. Não poucas pessoas, que permaneçam amigas. Sucede que, na verdade,
o melhor Estado, aquele tantas vezes imaginado, mas que nunca a garantia mais segura da posse é a ruína. Os que se tornam
existiu. Mas o Estado real, capaz de assegurar a ordem. Seu ponto senhores de cidades livres por tradição, e não as destroem, serão
de partida e de chegada é a realidade concreta. Daí a ênfase na destruídos por elas. Essas cidades costumam ter por bandeira, em
“verdade efetiva das coisas”. Isso leva Maquiavel a se perguntar: suas rebeliões, tanto a liberdade quanto suas antigas leis, jamais
como fazer reinar a ordem, como instaurar um Estado estável? esquecidas, nem com o passar do tempo, nem por influência dos
(Adaptado de: SADEK, M. T. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de virtù. favores que receberam.
In. WEFFORT, F. (org.). Os Clássicos da Política. vol.1. 13.ed. São Paulo: Ática, 2001. p.17.)
“Por mais que se faça, e sejam quais forem os cuidados,
sem promover desavença e desagregação entre os habitantes,
Com base nos textos e nos conhecimentos sobre o pensamento
continuarão eles a recordar aqueles princípios e a estes irão
político de Maquiavel, apresente a relação entre a busca da “verdade
recorrer em quaisquer oportunidades e situações”.
efetiva das coisas” e o modo como o príncipe deve pautar sua ação
política tendo em vista a estabilidade e a ordem do Estado. (Nicolau Maquiavel. Publicado originalmente em 1513. Adaptado.)

Partindo de uma definição de moralidade como conjunto de


02. (UNESP)
regras de conduta humana que se pretendem válidas em termos
TEXTO 1 absolutos, responda se o pensamento de Maquiavel é compatível
A verdade é esta: a cidade onde os que devem mandar são os com a moralidade cristã. Justifique sua resposta, comentando o
menos apressados pela busca do poder é a mais bem governada teor prático ou pragmático do pensamento desse filósofo.
e menos sujeita a revoltas, e aquela onde os chefes revelam
disposições contrárias está ela mesma numa situação contrária. 05. (UFPR) “Sendo, portanto, um príncipe obrigado a bem servir-se
Certamente, no Estado bem governado só mandarão os que são da natureza da besta, deve dela tirar as qualidades da raposa e do
verdadeiramente ricos, não de ouro, mas dessa riqueza de que o leão, pois este não tem defesa alguma contra os laços, e a raposa,
homem tem necessidade para ser feliz: uma vida virtuosa e sábia. contra os lobos. Precisa, pois, ser raposa para conhecer os laços
(Platão. A República, 2000. Adaptado.) e leão para aterrorizar os lobos. Os que se fizerem unicamente de

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23 MAQUIAVEL E A CIÊNCIA POLÍTICA FILOSOFIA

leões não serão bem sucedidos. Por isso um príncipe prudente não ANOTAÇÕES
pode nem deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne
prejudicial e quando as causas que o determinaram cessem de
existir. Se os homens todos fossem bons, este preceito seria mau.
Mas dado que são pérfidos e que não a observariam a teu respeito,
também não és obrigado a cumpri-la para com eles.”
(Maquiavel, O Príncipe. In Os Pensadores, Ed. Abril, São Paulo, 1973, p. 80.)

Por que é prudente para um príncipe não manter sua palavra?


Em que condições e por que ele pode fazer isso?

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. C 05. D 09. E 13. D 17. E
02. C 06. A 10. E 14. E 18. D
03. E 07. B 11. B 15. E 19. B
04. E 08. A 12. B 16. B 20. D

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. O objeto das reflexões de Maquiavel é a realidade política pensada em termos de
prática humana tendo por foco o fenômeno do poder formalizado na instituição do
Estado. A busca pela “verdade efetiva das coisas” determinou o ponto de ruptura no
pensamento maquiaveliano. Como tal, impõe-se como critério para pensar e regular
as ações do príncipe e a ordem do Estado frente a uma realidade política marcada pelo
conflito latente decorrente da correlação de forças (desejos e interesses antagônicos)
que a move e que a submete, por suas contingências e incertezas, ao inexorável ciclo
de estabilidade e caos. A questão é de como as iniciativas políticas podem se ajustar
às circunstâncias que se apresentam. Não interessa especular para que serve ou qual
o fim elevado da política. Tudo nela regula-se pela busca estratégica de estabilidade de
modo a garantir a manutenção do poder e a ordem do Estado. Enfim, a “verdade efetiva
das coisas” deve determinar o pensar a política e o agir político. A ação do príncipe deve
ser movida de modo pragmático pela realidade dos fatos e não pelo “como deveria ser”.
É a necessidade diante das circunstâncias (transitórias e mutáveis) que deve reger a
ação política do príncipe. Deste modo, Maquiavel, em sua obra, reivindica a autonomia da
política, por sua radical imanência, e afirma sua racionalidade própria.
02. No texto 1 Platão desenvolve a tese de que cidade seria melhor administrada pelo
“Filósofo Rei”, nesta teoria desenvolvida no livro “A República” o filósofo é o melhor
administrador por ser aquele que possui conhecimento da “verdade” que se identifica
com o Bom, o Bem e o Belo que residem no Mundo das Ideias. Ele (Filósofo Rei) seria
o único capaz de guiar os habitantes da cidade na busca do melhor desenvolvimento
de cada um segundo suas aptidões naturais, ou seja, o bem que reside dentro de cada
indivíduo pode ser alcançado e permitir uma vida feliz a todos. A virtude do governante
centra-se na busca da concretização do bem a todos os habitantes da cidade.
Não  sendo o filósofo guiado por interesses particulares, ele se torna o administrador
ideal para a cidade. Já no texto 2, Nicolau Maquiavel, em seu livro “O Príncipe”,
desenvolve uma tese que rompe com lógica estabelecida entre ética e poder. Seu
pressuposto de que os homens são maus, faz com que o príncipe deve buscar manter o
poder mediante estratégias que não possuem ligação com o comportamento virtuoso.
Elementos como virtú (entendida como impetuosidade, coragem) e fortuna (entendida
como ventura, oportunidade), somado a um conhecimento da moralidade dos homens,
são recursos que permitem ao governante agir de modo calculado, não objetivando
o desenvolvimento de uma bondade natural nos homens como acredita Platão, mas
tendo como foco a condução dos homens rumo a uma melhor condição de vida que não
siga necessariamente o caminho da virtude enquanto retidão moral.
03. A primeira concepção é por princípio uma concepção política teológica. O poder
político é instituído por Deus e a finalidade da ação política é a salvação. O Estado, por
conseguinte, deve se conformar de tal maneira que permita, ou melhor, condicione
o homem a viver em função do fim maior, em função da eternidade representada na
salvação. São Tomás é evidentemente um católico, considerando a primazia de sua
religião sobre quaisquer necessidades mundanas, organizando o poder político e a ação
do cidadão de tal maneira que reflita apropriadamente os dogmas da Igreja.
A segunda concepção é por princípio uma concepção política moderna, ou pré‑moderna.
A primeira superação perpetrada por Maquiavel é a superação do discurso antigo a
respeito da necessidade do homem manter um hábito guiado pelas virtudes cardiais:
sabedoria, coragem, temperança e magnanimidade. Não que o homem não deva possuir
tais características, todavia elas não devem de modo algum impedi-lo de realizar uma
ação cruel se assim se demonstrar útil para que ele efetive o seu poder. A  segunda
superação perpetrada por Maquiavel é a superação do discurso escolástico que
predispunha o começo, meio e fim das coisas a partir da certeza da palavra revelada.
O mundo da experiência é guiado pela fortuna e não se faz sentido impedir que certas
ações se realizem, pois circunstancialmente elas podem ser as melhores.
04. O pensamento de Maquiavel é célebre por ter rompido com a moralidade cristã da
época – é bom lembrar que estamos falando da época do Renascimento, quando as
explicações religiosas começam a ceder espaço para o pensamento racional, baseado na
capacidade humana de explicar o mundo. Deste modo, Maquiavel é racional e totalmente
pragmático, elaborando um tratado político – “O príncipe”, do qual provavelmente foi
retirado esse excerto – que funciona como uma espécie de manual, com conselhos
extremamente práticos e realistas para se obter e manter o poder, sem menção a
qualquer restrição de ordem moral.
05. Um príncipe não pode manter sua palavra quando ela lhe causar prejuízo ou quando
os motivos que o levaram a empenhar a sua palavra deixarem de existir. O príncipe pode
agir dessa maneira pelo fato de seus interlocutores – homens que não são bons em sua
totalidade – agirem segundo o mesmo princípio.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 55
FILOSOFIA 23 MAQUIAVEL E A CIÊNCIA POLÍTICA

ANOTAÇÕES

56 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
24
FILOSOFIA
AUTORES CONTRATUALISTAS

O ESTADO DE NATUREZA
Os autores entendidos como Contratualistas vão buscar
explicar os processos e as causas que levaram os indivíduos a
saírem do chamado “estado de natureza”, para estabelecerem um
pacto, um contrato social, criando assim regras e normas morais
que regulem a vida em sociedade.
Para Hobbes, a condição humana é naturalmente bélica e hostil,
o homem, em seu estado de natureza, vive o que ele denomina de:
“guerra de todos contra todos”, um estado de conflito permanente.
O estado de natureza seria o mundo sem a presença do Estado,
para Hobbes um estado caótico, conflituoso e de guerra constante.
Para Rousseau o homem nasce bom - a noção de “bom
selvagem”- e nessa condição permanece livre de acordo com
as leis naturais. Entretanto, para Rousseau, o estabelecimento
da propriedade privada gera problemas, uma vez que ela leva a
diferenças e desigualdades sociais.
Locke, ao contrário de Hobbes, não observa no estado de
natureza um estado de guerra constante, não olha para o homem
como um ser bélico, conflituoso e que vive um estado constante
de guerra. Locke acredita que o homem já nasce com direitos
naturais, intrínsecos a sua existência, os direitos à vida, à liberdade
e à propriedade. Sendo possuidor de direitos naturais, o estado de
natureza é pacífico.
Página de título da primeira de edição do octavo de “Do
Contrato Social ou Princípios do Direito Político” (1762), de Jean-
O CONTRATO SOCIAL E A Jacques Rousseau.
SOCIEDADE POLÍTICA https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/db/
Social_contract_rousseau_page.jpg
Como vimos, Hobbes aponta que no estado de natureza há
um cenário de conflito permanente e guerra de todos contra todos Já a construção de Locke se assenta na hipótese por detrás
prevalece. A resolução para cenário seria a criação do Estado, que das grandes construções da teoria política da modernidade sobre
deveria buscar encerrar esse estado de guerra. O contrato social a sociedade, a cultura e o Estado: a separação entre estado de
seria a única opção para os sujeitos saírem do estado natural de natureza e estado de sociedade. Na visão lockeana, o estado de
guerra de todos contra todos. Nesse contrato, o indivíduo abre mão liberdade em que cada um apenas conta consigo mesmo não é
de sua liberdade em troca de segurança. um estado de permissividade irrestrita; os homens sentem-se
Para sair de um estado de guerra, de um estado de conflito, o solicitados a obedecer à lei natural, porque são seres racionais. Por
indivíduo aceita ser governado por uma instituição. Para Hobbes isso mesmo, o estado de natureza não apresenta a instabilidade
essa instituição deveria ser uma instância maior com poder polêmica que Hobbes, Rousseau e outros lhe atribuem, e que
de uso da força (Leviatã), que poderá estar representado por conduziria necessariamente à guerra de todos contra todos.
um soberano, rei ou estado. O absolutismo seria um modelo de Na comunidade política será necessária uma eleição para
governo importante, já que para Hobbes “os pactos sem a espada exprimir o consentimento de cada indivíduo em vincular‑se à
não passam de palavras” e assim limitando a ação individual, sociedade civil ou política. O modelo de Locke descreve, então,
garantindo a ordem. a passagem do estado de natureza ao estado de sociedade. No
Diferente de Hobbes, Rousseau acredita que a população deve estado de natureza, o poder executivo da lei natural residia em
poder gerir suas escolhas e governos, não sendo baseado por um cada indivíduo; posteriormente, os homens consentiram viver
controle de força, ou absolutista. Para Rousseau a vontade geral em sociedade comum, regulada pelo poder executivo comum da
deve pautar as escolhas governamentais. Governo é a instituição lei natural. O consentimento entre indivíduos cria a sociedade e o
que executa leis criadas pela população. Assim, o povo é detentor consentimento dentro da sociedade cria o governo.
da soberania, pois sendo as leis expressão da vontade geral, todos É nesta origem e finalidade do governo civil que assentam
obedecem a si mesmos e são livres. a célebre divisão do poder comum em Executivo, Legislativo e
Federativo — modelo do constitucionalismo — e a apologia do

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 1
FILOSOFIA 24 AUTORES CONTRATUALISTAS

governo misto baseado na separação dos poderes. A divisão mãos, segundo as paixões acaloradas ou a ilimitada extravagância
dos poderes não é um mecanismo político-jurídico que, por si só, da própria vontade, mas apenas para retribuir, conforme dita a
garanta a limitação do governo, como pensarão constitucionalistas razão calma e a consciência, de modo proporcional à agressão,
positivistas de séculos posteriores. O governo — e o seu poder ou seja, tanto quanto possa servir para a reparação e a restrição.
federativo e executivo — é que já é uma entidade limitada pela sua Todo homem pode, com base no direito que tem de preservar a
origem no consentimento gerado na sociedade — e é na sociedade humanidade em geral, restringir ou, quando necessário, destruir o
que reside a origem do poder Legislativo, inicialmente presente que seja nocivo a ela; pode assim fazer recair sobre qualquer um
no indivíduo autônomo. Todos os seres humanos adultos são por que tenha transgredido essa lei um mal tal que o faça arrepender-
natureza livres e iguais, sem qualquer mútua subordinação natural. se de o ter praticado e, dessa forma, impedi-lo — e por seu exemplo
O poder político legislativo criado só existe com o seu a outros — de praticar o mesmo mal. E neste caso, com
consentimento. Dessa forma, o poder legislativo seria o mais base no mesmo fundamento, todo homem tem o direito de punir o
importante, por ser a representação da variação social estando transgressor e de ser o executor da lei da natureza. (...)
o poder executivo subordinado a ele. Trata-se de uma relação de Onde encontra-se o estado de natureza?
confiança, se o governante não buscar o bem público, é permitido Pergunta-se muitas vezes, como objeção importante, onde
aos governados retirá-los, colocando outro no poder. estão, ou em algum tempo estiveram, os homens em tal estado
de natureza. Ao que bastará responder, por enquanto, que, dado
TEXTO COMPLEMENTAR que todos os príncipes e chefes de governos independentes
no mundo inteiro encontram-se num estado de natureza, claro
O Estado de Natureza está que o mundo nunca esteve nem jamais estará sem um
certo número de homens nesse estado. Referi-me a todos os
Para entender o poder político corretamente, e derivá-lo de sua
governantes de sociedades políticas independentes, estejam ou
origem, devemos considerar o estado em que todos os homens
não elas em ligação com outras, pois não é qualquer pacto que põe
naturalmente estão, o qual é um estado de perfeita liberdade para
fim ao estado de natureza entre os homens, mas apenas o acordo
regular suas ações e dispor de suas posses e pessoas do modo
mútuo e conjunto de constituir uma comunidade e formar um
como julgarem acertado, dentro dos limites da lei da natureza, sem
corpo político; os homens podem celebrar entre si outros pactos e
pedir licença ou depender da vontade de qualquer outro homem.
promessas e, mesmo assim, continuar no estado de natureza. As
Um estado também de igualdade, em que é recíproco todo o promessas e acordos de troca etc. entre dois homens numa ilha
poder e jurisdição, não tendo ninguém mais que outro qualquer — deserta, ou entre um suíço e um índio nas florestas da América,
sendo absolutamente evidente que criaturas da mesma espécie comprometem a ambos, embora em referência um ao outro eles
e posição, promiscuamente nascidas para todas as mesmas estejam num perfeito estado de natureza. Pois a verdade e a
vantagens da natureza e para o uso das mesmas faculdades, observância da palavra dada cabem aos homens como homens, e
devam ser também iguais umas às outras, sem subordinação ou não como membros da sociedade.
sujeição.
Àqueles que afirmam que nunca houve homens em estado
Mas, embora seja esse um estado de liberdade, não é um de natureza, afirmarei que todos os homens encontram-se
estado de licenciosidade; embora o homem nesse estado tenha naturalmente nesse estado e nele permanecem até que, por seu
uma liberdade incontrolável para dispor de sua pessoa ou posses, próprio consentimento, se tornam membros de alguma sociedade
não tem liberdade para destruir‑se ou a qualquer criatura em sua política. (...)
posse, a menos que um uso mais nobre que a mera conservação
desta o exija. Tendo  todos as mesmas faculdades, não se pode A sociedade política
presumir subordinação alguma entre nós que nos possa autorizar Tendo o homem nascido, tal como se provou, com título
a destruir-nos uns aos outros, como se fôssemos feitos para o uso à liberdade perfeita e a um gozo irrestrito de todos os direitos e
uns dos outros, assim como as classes inferiores de criaturas são privilégios da lei da natureza, da mesma forma que qualquer outro
para o nosso uso. Cada um está obrigado a preservar-se, e não homem ou grupo de homens no mundo, tem ele por natureza o
abandonar sua posição por vontade própria; logo, pela mesma poder não apenas de preservar sua propriedade, isto é, sua vida,
razão, quando sua própria preservação não estiver em jogo, cada liberdade e bens contra as injúrias e intentos de outros homens,
um deve, tanto quanto puder, preservar o resto da humanidade, e como também de julgar e punir as violações dessa lei por outros,
não pode, a não ser que seja para fazer justiça a um infrator, tirar ou conforme se convença merecer o delito, até mesmo com a morte,
prejudicar a vida ou o que favorece a preservação da vida, liberdade, nos casos em que o caráter hediondo do fato, em sua opinião,
saúde, integridade ou bens de outrem. E para que todos os homens assim exija. Mas, como nenhuma sociedade política pode existir
sejam impedidos de invadir direitos alheios e de prejudicar uns ou subsistir sem ter em si o poder de preservar a propriedade e,
aos outros, e para que seja observada a lei da natureza, que quer para tal, de punir os delitos de todos os membros dessa sociedade,
a paz e a conservação de toda a humanidade, a responsabilidade apenas existirá sociedade política ali onde cada qual de seus
pela execução da lei da natureza é, nesse estado, depositada nas membros renunciou a esse poder natural, colocando-o nas mãos
mãos de cada homem, pelo que cada um tem o direito de punir do corpo político em todos os casos que não o impeçam de apelar
os transgressores da dita lei em tal grau que impeça sua violação. à proteção da lei por ela estabelecida. E assim, tendo sido excluído
Pois a lei da natureza seria vã, como todas as demais leis que o juízo particular de cada membro individual, a comunidade passa
dizem respeito ao homem neste mundo, se não houvesse alguém a ser o árbitro mediante regras fixas estabelecidas, imparciais
que tivesse, no estado de natureza, um poder para executar essa e idênticas para todas as partes, e, por meio dos homens que
lei e, com isso, preservar os inocentes e conter os transgressores. derivam sua autoridade da comunidade para a execução dessas
E se qualquer um no estado de natureza pode punir a outrem, regras, decide todas as diferenças que porventura ocorram entre
por qualquer mal que tenha cometido, todos o podem fazer, pois, quaisquer membros dessa sociedade acerca de qualquer questão
nesse estado de perfeita igualdade, no qual naturalmente não de direito; e pune com penalidades impostas em lei os delitos
existe superioridade ou jurisdição de um sobre outro, aquilo que que qualquer membro tenha cometido contra a sociedade. Desse
qualquer um pode fazer em prossecução dessa lei todos devem modo, é fácil distinguir quem está e quem não está em sociedade
necessariamente ter o direito de fazer. política. Aqueles que estão unidos em um corpo único e têm
E desse modo um homem obtém poder sobre outro no uma lei estabelecida comum e uma judicatura à qual apelar, com
estado de natureza; não se trata, porém, de um poder absoluto ou autoridade para decidir sobre as controvérsias entre eles e punir os
arbitrário, para se usar com um criminoso, quando a ele se tem em infratores, estão em sociedade civil uns com os outros. Aqueles,

2 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
24 AUTORES CONTRATUALISTAS FILOSOFIA

porém, que não têm em comum uma tal possibilidade de apelo


vivem ainda em estado de natureza, sendo cada qual, onde não
houver outro, juiz por si mesmo e executor — o que, como antes
demonstrei, constitui o perfeito estado de natureza. EXERCÍCIOS
Portanto, sempre que qualquer número de homens estiver PROPOSTOS
unido numa sociedade de modo que cada um renuncie ao poder
executivo da lei da natureza e o coloque nas mãos do público, 01. (ENEM PPL) A importância do argumento de Hobbes está
então, e somente então, haverá uma sociedade política ou civil. em parte no fato de que ele se ampara em suposições bastante
E tal ocorre sempre que qualquer número de homens no estado plausíveis sobre as condições normais da vida humana. Para
de natureza entra em sociedade para formar um povo, um corpo exemplificar: o argumento não supõe que todos sejam de fato
político sob um único governo supremo, ou então quando qualquer movidos por orgulho e vaidade para buscar o domínio sobre os
um se junta e se incorpora a qualquer governo já formado. Pois, outros; essa seria uma suposição discutível que possibilitaria a
com isso, essa pessoa autoriza a sociedade ou, o que vem a ser o conclusão pretendida por Hobbes, mas de modo fácil demais. O
mesmo, o legislativo desta a elaborar leis em seu nome segundo que torna o argumento assustador e lhe atribui importância e força
o exija o bem público, a cuja execução sua própria assistência dramática é que ele acredita que pessoas normais, até mesmo as
(como se fossem decretos de sua própria pessoa) é devida. E isso mais agradáveis, podem ser inadvertidamente lançadas nesse tipo
retira os homens do estado de natureza e os coloca no de uma de situação, que resvalará, então, em um estado de guerra.
sociedade política, estabelecendo um juiz na Terra, investido de RAWLS, J. Conferências sobre a história da filosofia política.
autoridade para resolver todas as controvérsias e reparar os danos São Paulo: WMF, 2012 (adaptado).
que possam advir a qualquer membro dessa sociedade – juiz este
que é o legislativo ou os magistrados por ele nomeados. E sempre O texto apresenta uma concepção de filosofia política conhecida como
que qualquer número de homens, seja qual for sua maneira de a) alienação ideológica. d) contrato social.
associação, não tiver recurso a um tal poder decisivo de apelo, tais
homens se encontrarão ainda no estado de natureza. b) microfísica do poder. e) vontade geral.

Fica, portanto, evidente que a monarquia absoluta, que alguns c) estado de natureza.
consideram o único governo no mundo, é de fato incompatível com
a sociedade civil, e portanto não pode ser, de modo algum, uma 02. (ENEM)
forma de governo civil. TEXTO I
Pois sendo o fim da sociedade civil evitar e remediar aquelas Até aqui expus a natureza do homem (cujo orgulho e outras
inconveniências do estado de natureza que necessariamente paixões o obrigaram a submeter-se ao governo), juntamente com
decorrem do fato de cada homem ser juiz em causa própria, o grande poder do seu governante, o qual comparei com o Leviatã,
estabelecendo uma autoridade notória à qual cada membro tirando essa comparação dos dois últimos versículos do capítulo
dessa sociedade possa apelar, a todo dano recebido ou a qualquer 41 de Jó, onde Deus, após ter estabelecido o grande poder do
controvérsia surgida, e a que cada um deve obedecer; sempre que Leviatã, lhe chamou Rei dos Soberbos. Não há nada na Terra, disse
houver pessoas desprovidas de uma tal autoridade à qual apelar ele, que se lhe possa comparar.
para a decisão de quaisquer diferenças entre elas, essas pessoas HOBBES, T. O Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
se encontrarão ainda no estado de natureza, do mesmo modo que
qualquer príncipe absoluto em relação àqueles que estiverem sob TEXTO II
o seu domínio. Eu asseguro, tranquilamente, que o governo civil é a solução
(John Locke, Segundo Tratado sobre o Governo) adequada para as inconveniências do estado de natureza, que
devem certamente ser grandes quando os homens podem ser
juízes em causa própria, pois é fácil imaginar que um homem
tão injusto a ponto de lesar o irmão dificilmente será justo para
EXERCÍCIOS condenar a si mesmo pela mesma ofensa.
PROTREINO LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil. Petrópolis: Vozes, 1994.

Thomas Hobbes e John Locke, importantes teóricos contratualistas,


01. Aponte a principal característica do “estado de natureza”
discutiram aspectos ligados à natureza humana e ao Estado.
para Hobbes.
Thomas Hobbes, diferentemente de John Locke, entende o estado
02. Aponte a principal característica do “estado de natureza” para de natureza como um(a)
Locke. a) condição de guerra de todos contra todos, miséria universal,
insegurança e medo da morte violenta.
03. Aponte a principal característica do “estado de natureza”
para Rousseau. b) organização pré-social e pré-política em que o homem nasce
com os direitos naturais: vida, liberdade, igualdade e propriedade.
04. Aponte duas características da sociedade política para Locke.
c) capricho típico da menoridade, que deve ser eliminado pela
05. Defina o conceito de vontade geral para Rousseau. exigência moral, para que o homem possa constituir o Estado civil.
d) situação em que os homens nascem como detentores de
livre-arbítrio, mas são feridos em sua livre decisão pelo
pecado original.
e) estado de felicidade, saúde e liberdade que é destruído pela
civilização, que perturba as relações sociais e violenta a
humanidade.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 3
FILOSOFIA 24 AUTORES CONTRATUALISTAS

03. (ENEM 2ª APLICAÇÃO) A justiça e a conformidade ao contrato A visão de Rousseau em relação à natureza humana, conforme
consistem em algo com que a maioria dos homens parece expressa o texto, diz que
concordar. Constitui um princípio julgado estender-se até os a) o homem civil é formado a partir do desvio de sua própria natureza.
esconderijos dos ladrões e às confederações dos maiores vilões;
até os que se afastaram a tal ponto da própria humanidade b) as instituições sociais formam o homem de acordo com a sua
conservam entre si a fé e as regras da justiça. essência natural.
LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 2000 (adaptado). c) o homem civil é um todo no corpo social, pois as instituições
sociais dependem dele.
De acordo com Locke, até a mais precária coletividade depende de d) o homem é forçado a sair da natureza para se tornar absoluto.
uma noção de justiça, pois tal noção
e) as instituições sociais expressam a natureza humana, pois o
a) identifica indivíduos despreparados para a vida em comum. homem é um ser político.
b) contribui com a manutenção da ordem e do equilíbrio social.
c) estabelece um conjunto de regras para a formação da sociedade. 07. (ENEM)
d) determina o que é certo ou errado num contexto de interesses TEXTO I
conflitantes. Tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo
e) representa os interesses da coletividade, expressos pela vontade homem é inimigo de todo homem, é válido também para o tempo
da maioria. durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que
lhes pode ser oferecida por sua própria força e invenção.
04. (ENEM) A natureza fez os homens tão iguais, quanto às HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se TEXTO II


encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de Não vamos concluir, com Hobbes que, por não ter nenhuma
espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera ideia de bondade, o homem seja naturalmente mau. Esse autor
tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é deveria dizer que, sendo o estado de natureza aquele em que o
suficientemente considerável para que um deles possa com base cuidado de nossa conservação é menos prejudicial à dos outros,
nela reclamar algum benefício a que outro não possa igualmente esse estado era, por conseguinte, o mais próprio à paz e o mais
aspirar. conveniente ao gênero humano.
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo Martins Fontes, 2003 ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a origem e o fundamento da desigualdade entre os
homens. São Paulo: Martins Fontes, 1993 (adaptado).
Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois
homens desejavam o mesmo objeto, eles Os trechos apresentam divergências conceituais entre autores que
sustentam um entendimento segundo o qual a igualdade entre os
a) entravam em conflito. d) apelavam aos governantes.
homens se dá em razão de uma
b) recorriam aos clérigos. e) exerciam a solidariedade.
a) predisposição ao conhecimento.
c) consultavam os anciãos.
b) submissão ao transcendente.
c) tradição epistemológica.
05. (ENEM PPL)
d) condição original.
e) vocação política.

08. (ENEM PPL) Hobbes realiza o esforço supremo de atribuir ao


contrato uma soberania absoluta e indivisível. Ensina que, por um
único e mesmo ato, os homens naturais constituem-se em sociedade
política e submetem-se a um senhor, a um soberano. Não firmam
contrato com esse senhor, mas entre si. É entre si que renunciam, em
proveito desse senhor, a todo o direito e toda liberdade nocivos à paz.
WATTERSON, B. Calvin e Haroldo: O Progresso Científico deu "Tilt". São Paulo: Best News, 1991. CHEVALLIER, J. J. As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias.
Rio de Janeiro: Agir, 1995 (adaptado).
De acordo com algumas teorias políticas, a formação do Estado é A proposta de organização da sociedade apresentada no texto
explicada pela renúncia que os indivíduos fazem de sua liberdade encontra-se fundamentada na
natural quando, em troca da garantia de direitos individuais,
transferem a um terceiro o monopólio do exercício da força. O a) imposição das leis e na respeitabilidade ao soberano.
conjunto dessas teorias é denominado de b) abdicação dos interesses individuais e na legitimidade do governo.
a) liberalismo. d) anarquismo. c) alteração dos direitos civis e na representatividade do monarca.
b) despotismo. e) contratualismo. d) cooperação dos súditos e na legalidade do poder democrático.
c) socialismo. e) mobilização do povo e na autoridade do parlamento.

06. (ENEM PPL) O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade 09. (UECE) “É um dito corrente que todas as leis silenciam em
numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona consigo mesmo tempos de guerra, e é verdade, não apenas se falarmos de leis civis,
ou com seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade mas também naturais [...] E entendemos que tal guerra é de todos
fracionária que se liga ao denominador, e cujo valor está em sua os homens contra todos os homens.”
relação com o todo, que é o corpo social. As boas instituições HOBBES, Thomas. Do Cidadão. Trad. Raul Fiker. São Paulo: Edipro, 2016, p. 83s.

sociais são as que melhor sabem desnaturar o homem, retirar- O Texto de Hobbes se refere a um estado de guerra de todos contra
lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir todos, que enseja, pelo medo da morte, um estado civil. O nome
o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular não se dado por Hobbes a esse estado anterior ao pacto social é
julgue mais como tal, e sim como uma parte da unidade, e só seja
percebido no todo. a) Leviatã. c) Estado de Natureza.
ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999. b) Sociedade Civil. d) Lei Natural.

4 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
24 AUTORES CONTRATUALISTAS FILOSOFIA

10. (UNICAMP) “O homem nasce livre, e por toda a parte encontra- c) A fundação da sociedade civil é legitimada pela racionalidade e
se a ferros. O que se crê senhor dos demais não deixa de ser pela universalidade do ato de instauração da propriedade privada.
mais escravo do que eles. (...) A ordem social, porém, é um direito d) O sentimento mais primitivo do homem, que o leva a instituir
sagrado que serve de base a todos os outros. (...) Haverá sempre a propriedade, é o reconhecimento da necessidade da
uma grande diferença entre subjugar uma multidão e reger propriedade para garantir a subsistência.
uma sociedade. Sejam homens isolados, quantos possam ser
submetidos sucessivamente a um só, e não verei nisso senão um e) A sociedade civil e a propriedade são expressões da perfectibilidade
senhor e escravos, de modo algum considerando-os um povo e humana, ou seja, da sua capacidade de aperfeiçoamento.
seu chefe. Trata-se, caso se queira, de uma agregação, mas não de
uma associação; nela não existe bem público, nem corpo político.” 13. (PUC-PR) Na abertura do “Discurso sobre a Origem e os
(Jean-Jacques Rousseau, Do Contrato Social. [1762]. São Paulo: Ed. Abril, 1973, p. 28,36.) fundamentos da Desigualdade entre os Homens”, Rousseau,
dirigindo-se aos soberanos, senhores de Genebra, diz considerar-
Sobre Do Contrato Social, publicado em 1762, e seu autor, é correto se um felizardo. Por quê?
afirmar que:
Assinale a alternativa CORRETA.
a) Rousseau, um dos grandes autores do Iluminismo, defende a
a) Por haver nascido entre vós e poder meditar sobre a igualdade
necessidade de o Estado francês substituir os impostos por
que a natureza instalou entre os homens e sobre a desigualdade
contratos comerciais com os cidadãos.
de que eles instituíram.
b) A obra inspirou os ideais da Revolução Francesa, ao explicar
b) Por haver nascido na floresta e haver vivido como um animal
o nascimento da sociedade pelo contrato social e pregar a
selvagem.
soberania do povo.
c) Por perceber que na República de Genebra reinava uma
c) Rousseau defendia a necessidade de o homem voltar a seu
igualdade natural e política entre os homens.
estado natural, para assim garantir a sobrevivência da sociedade.
d) Por crer que Deus é o autor da desigualdade entre os homens.
d) O livro, inspirado pelos acontecimentos da Independência
Americana, chegou a ser proibido e queimado em solo francês. e) Por acreditar que só os animais irracionais conseguem viver
plenamente a igualdade entre eles.
11. (PUC -PR) Leia o fragmento a seguir, extraído do Discurso sobre
a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, de 14. (UNICAMP) “O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-
Rousseau: se a ferros. O que se crê senhor dos demais não deixa de ser
mais escravo do que eles. (...) A ordem social, porém, é um direito
“É do homem que devo falar, e a questão que examino me
sagrado que serve de base a todos os outros. (...) Haverá sempre
indica que vou falar a homens, pois não se propõem questões
uma grande diferença entre subjugar uma multidão e reger
semelhantes quando se teme honrar a verdade. Defenderei, pois,
uma sociedade. Sejam homens isolados, quantos possam ser
com confiança a causa da humanidade perante os sábios que a
submetidos sucessivamente a um só, e não verei nisso senão um
isso me convidam e não ficarei descontente comigo mesmo se me
senhor e escravos, de modo algum considerando-os um povo e
tornar digno de meu assunto e de meus juízes”.
seu chefe. Trata-se, caso se queira, de uma agregação, mas não de
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade
entre os homens. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p.159.
uma associação; nela não existe bem público, nem corpo político.”
(Jean-Jacques Rousseau, Do Contrato Social. [1762]. São Paulo: Ed. Abril, 1973, p. 28,36.)
A partir da teoria contratualista de Rousseau, assinale a alternativa
que representa aquilo que o filósofo de Genebra pretende defender No trecho apresentado, o autor
na obra. a) argumenta que um corpo político existe quando os homens
a) Que a desigualdade social é permitida pela lei natural e, encontram-se associados em estado de igualdade política.
portanto, o Estado não é responsável pelo conflito social. b) reconhece os direitos sagrados como base para os direitos
b) Que a desigualdade social é autorizada pela lei natural, ou seja, políticos e sociais.
que a natureza não se encontra submetida à lei. c) defende a necessidade de os homens se unirem em agregações,
c) Que no estado natural existe apenas o direito de propriedade. em busca de seus direitos políticos.
d) Que a desigualdade moral ou política é uma continuidade d) denuncia a prática da escravidão nas Américas, que obrigava
daquilo que já está presente no estado natural. multidões de homens a se submeterem a um único senhor.
e) Que há, na espécie humana, duas espécies de desigualdade: a 15. (UEMA) Para Thomas Hobbes, os seres humanos são livres
primeira, natural, e a segunda, moral ou política. em seu estado natural, competindo e lutando entre si, por terem
relativamente a mesma força. Nesse estado, o conflito se perpetua
12. (UEL) Leia o texto a seguir. através de gerações, criando um ambiente de tensão e medo
Por que só o homem é suscetível de tornar-se imbecil? [...] O permanente. Para esse filósofo, a criação de uma sociedade
verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo submetida à Lei, na qual os seres humanos vivam em paz e deixem
cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou de guerrear entre si, pressupõe que todos renunciem à sua liberdade
pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. original. Nessa sociedade, a liberdade individual é delegada a um só
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre dos homens que detém o poder inquestionável, o soberano.
os homens. Trad. Lourdes Santos Machado, 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. pp. 243; 259.
Fonte: MALMESBURY, Thomas Hobbes de. Leviatã ou matéria, forma e poder de um
estado eclesiástico e civil. Trad. João Paulo Monteiro; Maria Beatriz Nizza da Silva.
Com base nos conhecimentos sobre sociedade civil, propriedade São Paulo: Editora NOVA Cultural, 1997.
e natureza humana no pensamento de Rousseau, assinale a
alternativa correta. A teoria política de Thomas Hobbes teve papel fundamental
na construção dos sistemas políticos contemporâneos que
a) A instauração da propriedade decorre de um ato legítimo
consolidou a (o)
da sociedade civil, na medida em que busca atender às
necessidades do homem em estado de natureza. a) Monarquia Paritária. d) Monarquia Absolutista.
b) A instauração da propriedade e da sociedade civil cria uma b) Despotismo Soberano. e) Despotismo Esclarecido.
ruptura radical do homem consigo mesmo e de distanciamento c) Monarquia Republicana.
da natureza.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 5
FILOSOFIA 24 AUTORES CONTRATUALISTAS

16. (UFPA) “Desta guerra de todos os homens contra todos os homens 19. (UNIOESTE) Segundo a filosofia política clássica, mesmo
também isto é consequência: que nada pode ser injusto. As  noções considerando a diversidade de concepções de contrato partilhada
de bem e de mal, de justiça e injustiça, não podem aí ter lugar. Onde por seus principais representantes (Hobbes, Locke e Rousseau),
não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. Na a constituição do estado civil ou sociedade política marcaria uma
guerra, a força e a fraude são as duas virtudes cardeais. A justiça e a ruptura profunda no ordenamento da sociedade humana. Com base
injustiça não fazem parte das faculdades do corpo ou do espírito. Se na ideia de contrato defendida por estes autores, é correto afirmar
assim fosse, poderiam existir num homem que estivesse sozinho no que a constituição do estado civil ou sociedade política representaria
mundo, do mesmo modo que seus sentidos e paixões.” a) a superação do estado de natureza.
HOBBES, Leviatã, São Paulo: Abril cultural, 1979, p. 77.
b) a redenção teológica da humanidade.
Quanto às justificativas de Hobbes sobre a justiça e a injustiça c) um retorno à idílica Idade de Ouro da história humana.
como não pertencentes às faculdades do corpo e do espírito,
d) uma regressão da vida em sociedade ao estado de selvageria.
considere as afirmativas:
e) a superação da exploração do homem pelo homem e o fim da
I. Justiça e injustiça são qualidades que pertencem aos homens
propriedade privada dos meios de produção.
em sociedade, e não na solidão.
II. No estado de natureza, o homem é como um animal: age por
20. (UFMG) "[As] camadas sociais elevadas, que se pretendem úteis às
instinto, muito embora tenha a noção do que é justo e injusto.
outras, são de fato úteis a si mesmas, à custa das outras [...] Saiba ele [o
III. Só podemos falar em justiça e injustiça quando é instituído o jovem Emílio] que o homem é naturalmente bom [...], mas veja ele como
poder do Estado. a sociedade deprava e perverte os homens, descubra no preconceito
IV. O juiz responsável por aplicar a lei não decide em conformidade a fonte de todos os vícios dos homens; seja levado a estimar cada
com o poder soberano; ele favorece os mais fortes. indivíduo, mas despreze a multidão; veja que todos os homens
carregam mais ou menos a mesma máscara, mas saiba também que
Estão corretas as afirmativas:
existem rostos mais belos do que a máscara que os cobre."
a) I e II c) II e IV e) II, III e IV (ROUSSEAU, Jean-Jacques. "Emílio ou Da educação". São Paulo: Martins Fontes, 1985. p. 311.)
b) I e III d) I, III e IV
A partir dessa leitura e considerando-se outros conhecimentos
17. (UFU) Para bem compreender o poder político e derivá-lo de sua sobre o assunto, é CORRETO afirmar que o autor
origem, devemos considerar em que estado todos os homens se a) compreende que os preconceitos do homem são inatos e
acham naturalmente, sendo este um estado de perfeita liberdade para responsáveis pelos infortúnios sociais e pelas máscaras de
ordenar-lhes as ações e regular-lhes as posses e as pessoas conforme que este se reveste.
acharem conveniente, dentro dos limites da lei de natureza, sem pedir b) considera a sociedade responsável pela corrupção do homem,
permissão ou depender da vontade de qualquer outro homem. pois cria uma ordem em que uns vivem às custas dos outros
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. São Paulo: Abril Cultural, 1978. e gera vícios.
A partir da leitura do texto acima e de acordo com o pensamento c) deseja que seu discípulo seja como os homens do seu tempo
político do autor, assinale a alternativa correta. e, abraçando as máscaras e os preconceitos, contribua para a
coesão da sociedade.
a) Segundo Locke, o estado de natureza se confunde com o
estado de servidão. d) faz uma defesa do homem e da sociedade do seu tempo, em
que, graças à Revolução Francesa, se promoveu uma igualdade
b) Para Locke, o direito dos homens a todas as coisas independe social ímpar.
da conveniência de cada um.
c) Segundo Locke, a origem do poder político depende do estado
de natureza.
EXERCÍCIOS DE
d) Segundo Locke, a existência de permissão para agir é compatível
com o estado de natureza. APROFUNDAMENTO
18. (UFU) Os filósofos contratualistas elaboraram suas teorias 01. (UNESP)
sobre os fundamentos ou origens do poder do Estado a partir de TEXTO 1
alguns conceitos fundamentais tais como, a soberania, o estado Se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que
de natureza, o estado civil, o estado de guerra, o pacto social etc. é impossível ela ser gozada por ambos, eles tornam-se inimigos.
[...] O estado de guerra é um estado de inimizade e destruição E no caminho para seu fim (que é principalmente sua própria
[...] nisto temos a clara diferença entre o estado de natureza e conservação, e às vezes apenas seu deleite) esforçam-se por se
o estado de guerra, muito embora certas pessoas os tenham destruir ou subjugar um ao outro. E disto se segue que, quando um
confundido, eles estão tão distantes um do outro [...]. invasor nada mais tem a recear do que o poder de um único outro
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. São Paulo: Ed. Abril Cultural, 1978. homem, se alguém planta, semeia, constrói ou possui um lugar
conveniente, é provável de esperar que outros venham preparados
Leia o texto acima e assinale a alternativa correta. com forças conjugadas, para desapossá-lo e privá-lo, não apenas do
a) Para Locke, o estado de natureza é um estado de destruição, fruto de seu trabalho, mas também de sua vida e de sua liberdade.
inimizade, enfim uma guerra “de todos os homens contra todos Por sua vez, o invasor ficará no mesmo perigo em relação aos outros.
os homens”. (Thomas Hobbes. Leviatã [publicado originalmente em 1651], 1999. Adaptado.)

b) Segundo Locke, o estado de natureza se confunde com o TEXTO 2


estado de guerra.
Anarquismo é a doutrina segundo a qual o indivíduo é a
c) Segundo Locke, para compreendermos o poder político, é única realidade, que deve ser absolutamente livre e que qualquer
necessário distinguir o estado de guerra do estado de natureza. restrição que lhe seja imposta é ilegítima. Costuma-se atribuir a
d) Uma das semelhanças entre Locke e Hobbes está no fato de Proudhon (1809-1865) o nascimento do Anarquismo. Sua principal
ambos utilizarem o conceito de estado de natureza exatamente preocupação foi mostrar que a justiça não pode ser imposta ao
com o mesmo significado. indivíduo, mas é uma faculdade do eu individual que, sem sair do

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24 AUTORES CONTRATUALISTAS FILOSOFIA

seu foro interior, sente a dignidade da pessoa do próximo como O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo
a sua própria e, portanto, adapta-se à realidade coletiva mesmo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou
conservando a sua individualidade. pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes,
(Nicola Abbagnano. Dicionário de Filosofia, 2000. Adaptado.) guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao
gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo
Qual foi a solução proposta por Hobbes para a resolução do o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “Defendei-vos de
problema exposto no texto 1? acreditar nesse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os
frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém”.
02. (UEL) Leia os textos a seguir. (Jean-Jacques Rousseau. Discurso sobre a origem da desigualdade
entre os homens. Adaptado.)
A única maneira de instituir um tal poder comum é conferir
toda sua força e poder a um homem ou a uma assembleia de Cite a principal diferença estabelecida por Rousseau entre a vida
homens. É como se cada homem dissesse a cada homem: Cedo e em estado de natureza e a vida na sociedade civil, e explique o
transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, significado dessa diferença no âmbito da filosofia política.
ou a esta assembleia de homens, com a condição de transferires
a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as
05. (UNICAMP) Na segunda metade do século XVIII, pensadores
suas ações. Feito isso, à multidão assim unida numa só pessoa se
importantes, como Denis Diderot, atacaram os próprios
chama Estado.
fundamentos do imperialismo. Para esse filósofo, os seres
(Adaptado de: HOBBES, T. Leviatã. Trad. de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da
Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p.109. Coleção Os Pensadores.)
humanos eram fundamentalmente formados pelas suas culturas
e marcados pelas diferenças culturais, não existindo o homem
O ponto de partida e a verdadeira constituição de qualquer no estado de natureza. Isso levava à ideia de relatividade cultural,
sociedade política não é nada mais que o consentimento de um segundo a qual os povos não podiam ser considerados superiores
número qualquer de homens livres, cuja maioria é capaz de se ou inferiores a partir de uma escala universal de valores.
unir e se incorporar em uma tal sociedade. Esta é a única origem (Adaptado de Sankar Muthu, Enlightenment Against Empire. Princeton: Princeton
University Press, 2003, p. 258, 268.)
possível de todos os governos legais do mundo.
(Adaptado de: LOCKE, J. Segundo tratado do governo civil: ensaio sobre a origem, os No pensamento de Jean-Jacques Rousseau, qual a relação entre
limites e os fins verdadeiros do governo civil. Trad. de Magda Lopes e Marisa Lobo da
Costa. Petrópolis: Vozes, 1994. p.141. Coleção Os Pensadores.)
a ideia de “homem no estado de natureza” e a organização das
sociedades civilizadas?
A partir da análise dos textos e dos conhecimentos sobre o
jusnaturalismo e contratualismo no que se refere à instituição GABARITO
do Estado, explique as diferenças entre o contrato proposto por
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
Hobbes e o proposto por Locke.
01. C 05. E 09. C 13. A 17. C
02. A 06. A 10. B 14. A 18. C
03. (UNESP) “O homem é o lobo do homem” é uma das frases
03. B 07. D 11. E 15. D 19. A
mais repetidas por aqueles que se referem a Hobbes. Essa máxima
04. A 08. B 12. B 16. B 20. B
aparece coroada por uma outra, menos citada, mas igualmente
importante: “guerra de todos contra todos”. Ambas são fundamentais EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
como síntese do que Hobbes pensa a respeito do estado natural em 01. O texto I trata dos homens em estado de natureza, caracterizado pela guerra constante
que vivem os homens. O estado de natureza é o modo de ser que que impossibilita a garantia do direito à vida e à propriedade. A solução proposta por Hobbes
para a superação desse estado é o estabelecimento, entre os indivíduos, de um contrato
caracterizaria o homem antes de seu ingresso no estado social. social, a partir do qual todos se submeteriam à limitação de sua liberdade em favor do
O altruísmo não seria, portanto, natural. No estado de natureza poder regulador do Estado, que seria a única autoridade com legitimidade que possibilitaria
o recurso à violência generaliza-se, cada qual elaborando novos a existência da sociedade civil a partir da garantia do direito à vida e à propriedade.
meios de destruição do próximo, com o que a vida se torna “solitária, 02. Para Hobbes, o contrato é firmado pelos homens naturais entre si, que outorgam a um
terceiro o poder soberano, sendo a instituição deste apenas a conclusão do contrato. O
pobre, sórdida, embrutecida e curta, na qual cada um é lobo para o
Estado é instituído, quando uma multidão de homens escolhe um representante e aceita
outro, em guerra de todos contra todos”. Os homens não vivem em todos os seus atos e decisões como se fossem seus atos e decisões. Assim, em Hobbes
cooperação natural, como fazem as abelhas e as formigas. O acordo os seres humanos, com o objetivo de preservar suas vidas, transferem a outro homem ou
assembleia a força de coerção da comunidade; trocam voluntariamente a liberdade que
entre elas é natural; entre os homens, só pode ser artificial. Nesse
possuíam no estado de natureza pela segurança do Estado - Leviatã. Para Locke os seres
sentido, os homens são levados a estabelecer contratos entre si. humanos concordam em estabelecer a sociedade política - civil - com o objetivo de preservar
Para o autor do Leviatã, o contrato é estabelecido unicamente entre e consolidar os direitos que já possuíam no estado de natureza - direito à vida, à liberdade e
aos bens. Locke acredita que no estado civil os direitos naturais inalienáveis estarão mais
os membros do grupo, que, entre si, concordam em renunciar a seu
bem protegidos sob o amparo da lei, do arbítrio e da força do corpo político unitário.
direito a tudo para entregá-lo a um soberano capaz de promover a
03. O estado de natureza pode ser considerado como um estado de natural insegurança,
paz. Não submetido a nenhuma lei, o soberano absoluto é a própria na medida em que impera a “guerra de todos contra todos” na luta pela sobrevivência. Em
fonte legisladora. A obediência a ele deve ser total. oposição, o estado de vida social é caracterizado pela segurança. Na medida em que todos
transferem ao soberano, mediante o contrato social, o direito do uso legítimo e exclusivo
(João Paulo Monteiro. Os Pensadores, 2000.)
da força, o soberano se torna a fonte da segurança civil. Dado que os homens não podem
quebrar o contrato social para não caírem em contradição, Hobbes afirma que ninguém
Caracterize a diferença entre estado de natureza e vida social, pode questionar o poder do soberano. É nesse sentido que Hobbes é considerado como
segundo o texto, e explique por que a é atribuída a Hobbes a idealizador de um absolutismo sem teologia, por considerar que o poder do soberano é
advindo do contrato social, sem fazer qualquer referência a uma fonte divina.
concepção política de um “absolutismo sem teologia”.
04. Jean-Jacques Rousseau, filho de um relojoeiro de poucas posses, nasceu em
Genebra (Suíça) e, vivendo em Paris em 1752, testemunhou arder as ideias que
04. (UNESP) Enquanto os homens se contentaram com suas inspiraram a Revolução Francesa em 1789. Assim como seus antecessores, Hobbes e
Locke, Rousseau procurou legitimar o poder político fundamentado na teoria do contrato
cabanas rústicas, enquanto se limitaram a costurar com espinhos social. Em seu livro, Origem sobre a Desigualdade entre os Homens, revela-se um filósofo
ou com cerdas suas roupas de peles, a enfeitarem-se com plumas contratualista. Para ele, os homens, no passado, teriam vivido o estado de natureza,
e conchas, a pintar o corpo com várias cores, a aperfeiçoar ou movidos pelo instinto de forma sadia, benevolente e feliz, voltados unicamente para a
própria sobrevivência. Em determinado momento, porém, como bem mostra o texto, teria
embelezar seus arcos e flechas, a cortar com pedras agudas sido criada a propriedade privada, estabelecendo-se relações entre senhores e escravos,
algumas canoas de pescador ou alguns instrumentos grosseiros uns trabalhando para outros, gerando as desigualdades sociais. Isso gerou a necessidade
de música – em uma palavra: enquanto só se dedicavam a obras do artifício da vida em sociedade. A vida na sociedade civil começa quando o indivíduo de
abdica de todos os seus direitos para viver em comunidade, desde que todos se abdiquem
que um único homem podia criar e a artes que não solicitavam o igualmente. É na sociedade civil que os interesses de todos e de cada um, enquanto
concurso de várias mãos, viveram tão livres, sadios, bons e felizes componentes do corpo coletivo, transformam o estado de guerra de todos contra todos,
quanto o poderiam ser por sua natureza. numa existência humana marcada pelo desenvolvimento marcada pelo afeto.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 7
FILOSOFIA 24 AUTORES CONTRATUALISTAS

05. O conceito de estado de natureza ou também de condição natural tem a função de explicar a situação pré-social na qual os indivíduos existem isoladamente, deste modo,
Jean-Jacques Rousseau (no século XVIII) pensou primeiramente os indivíduos isolados pelas florestas sobrevivendo sempre com o que a natureza lhes oferece, deste modo,
desconhecendo as lutas, comunicavam-se pela linguagem dos gestos (gritos, cantos) o que tornava sua comunicação mais generosa. Este estado de felicidade primitiva, na qual os
homens existem na condição de bom selvagem inocente, termina quando alguém toma para si um terreno e o cerca dizendo: “É propriedade minha”. Ora, esta divisão da propriedade
privada é que dá origem a sociedade civilizada que tem como característica a guerra entre todos contra todos. A percepção de Rousseau evidencia a luta entre fracos e fortes,
privilegiando o poder do mais forte ou a vontade do mais forte. Quanto isto acontece, em toda parte reina o medo, a insegurança, a luta e a morte e para que isto não ocorra, para
que este medo não prevaleça é preciso que os humanos decidam pela sociedade civilizada criando o poder político e as leis criando o contrato social cujos governos representariam
a “vontade geral” numa tentativa de minimizar as diferenças existentes.

ANOTAÇÕES

8 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
25 MONTESQUIEU E FILOSOFIA

O ESPÍRITO DAS LEIS

ILUMINISMO, POLÍTICA E uma figura humana: sua atuação estaria de acordo com as vontades
de Deus, sendo ele a representação humana do ser sobrenatural.
LIBERDADES Montesquieu teve grande destaque em função da sua obra O
Charles-Louis de Secondat, Barão de La Brède e de Montesquieu Espírito das Leis (1748), na qual defendia a necessidade de divisão
(1689-1755) foi um pensador político do Iluminismo. Famoso pela das funções do Estado em três poderes independentes para coibir
sua concepção e descrição da teoria da separação dos poderes, a prática despótica do poder e garantir a liberdade dos indivíduos.
que é adotada como ponto pacífico nas discussões modernas Montesquieu aparece no contexto iluminista também buscando
sobre o governo e implementada em todas as democracias “amarrar” a atribuição de poder ao Estado, concebendo em sua
ocidentais. Além disso, Montesquieu também formulou os termos obra a concepção de divisão dos poderes: Executivo, Legislativo
“feudalismo” e “Império Bizantino”. e Judiciário, independentes e inter-relacionais. Esse modelo
A divisão do poder político entre Executivo, Legislativo e pensado por Montesquieu não visava necessariamente um regime
Judiciário foi desenvolvido por Montesquieu a partir do modelo do democrático, mas sim a um regime monárquico constitucional, em
sistema constitucional britânico, no qual percebia a divisão entre a que o rei e seu poder fossem legítimos na mesma medida em que
Monarquia, o Parlamento e os tribunais legais. o poder jurídico e o legislativo.

TEXTO COMPLEMENTAR
Do espírito das leis
Existem em cada Estado três tipos de poder: o poder Legislativo,
o poder Executivo das coisas que emendem do direito das gentes e
o poder Judiciário daquelas que dependem do direito civil.
Com o primeiro, o príncipe ou o magistrado cria leis por um
tempo ou para sempre e corrige ou anula aquelas que foram
feitas. Com o segundo, ele faz a paz ou a guerra, envia ou recebe
embaixadas, instaura a segurança, previne Invasões. Com o
terceiro, ele castiga os crimes, ou julga as querelas entre os
particulares. Chamaremos a este último poder de julgar e ao outro
simplesmente poder Executivo do Estado. A liberdade política, em
um cidadão, é esta tranquilidade de espírito que provém da opinião
que cada um tem sobre a sua segurança; e para que se tenha esta
liberdade é preciso que o governo seja tal que um cidadão não
possa temer outro cidadão.
Quando, na mesma pessoa ou no mesmo corpo de magistratura,
o poder legislativo está reunido ao poder Executivo, não existe
liberdade; porque se pode temer que o mesmo monarca ou o
OS TRÊS PODERES mesmo senado crie leis tirânicas para executá-las tiranicamente.
O modelo dos três poderes foi criado na Grécia Antiga e na
Tampouco existe liberdade se o poder de julgar não for
República Romana. Sob este modelo, o Estado é dividido em
separado do poder Legislativo e do Executivo. Se estivesse unido ao
poderes separados e independentes, com áreas de responsabilidade
poder Legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos
diferentes, de modo que cada poder não tenha mais força do que
seria arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se estivesse unido ao
os outros.
poder Executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor.
O cenário no qual Montesquieu vive e produz sua obra é
Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o mesmo
fortemente marcado por uma lógica de Estado absolutista. Nesse
corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo exercesse os três
modelo o poder estava plenamente centralizado nas mãos do
poderes: o de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas e o
rei, de um soberano. Além disso, havia nos planos econômico e
de julgar os crimes ou as querelas entre os particulares(...)
social membros do clero e da nobreza que gozavam de diversos
privilégios e o estado era marcado por destacada intervenção nas Eis então a constituição fundamental do governo de que
relações econômicas. falamos. Sendo o cargo legislativo composto de duas partes,
uma prende a outra com sua mútua faculdade de impedir. Ambas
Outra característica é a forma de legitimação desse poder. A
estarão presas ao poder Executivo, que estará ele mesmo preso
lógica de hereditariedade era o caminho para a transição do poder
ao Legislativo. Estes três poderes deveriam formar um repouso
de um membro para o outro na linhagem, porém é fundamental
ou uma inação. Mas, como pelo movimento necessário das
entender que o soberano, centro do estado absolutista, era
coisas eles são obrigados a avançar, serão obrigados a avançar
legitimado, em grande medida, por uma lógica de ordem religiosa,
concertadamente.
uma forma de direito divino no qual o rei seria mais do que apenas
(MONTESQUIEU. Do espírito das leis. Livro XI)

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 7
FILOSOFIA 25 MONTESQUIEU E O ESPÍRITO DAS LEIS

03. (ENEM) É verdade que nas democracias o povo parece fazer


EXERCÍCIOS o que quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Deve-se
PROTREINO ter sempre presente em mente o que é independência e o que
é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis
permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem,
não teria mais liberdade, porque os outros também teriam tal poder.
01. Aponte as principais características do absolutismo.
MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 (adaptado).
02. Defina brevemente a noção de “direito divino”.
A característica de democracia ressaltada por Montesquieu diz
03. Cite uma característica do pensamento iluminista na obra de respeito
Montesquieu.
a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as
04. Aponte as principais motivações para o modelo de separação dos decisões por si mesmo.
poderes. b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à conformidade
05. Aponte brevemente as funções dos poderes Executivo, Legislativo às leis.
e Judiciário. c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso,
livre da submissão às leis.
d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido,
desde que ciente das consequências.
e) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acordo com seus
EXERCÍCIOS valores pessoais.
PROPOSTOS
04. (UFF) De acordo com o filósofo iluminista Montesquieu, no
01. (UNESP) Do nascimento do Estado moderno até a Revolução livro clássico O Espírito das Leis, quando as mesmas pessoas
Francesa, ou seja, do século XVI aos fins do século XVIII, a concentram o poder de legislar, de executar e de julgar, instaura-se
filosofia política foi obrigada a reformular grande parte de suas o despotismo, pois, para que os cidadãos estejam livres do abuso
teses, devido às mudanças ocorridas naquele período. O que se de poder, é preciso que “o poder freie o poder”.
buscou na modernidade iluminista foi fortalecer a filosofia em uma Identifique a sentença que melhor resume esse pensamento de
configuração contrária aos dogmas políticos que reforçavam a Montesquieu.
crença em uma autoridade divina. a) Para que a sociedade seja bem governada é necessário que
(Thiago Rodrigo Nappi. “Tradição e inovação na teoria das formas de governo:
uma só pessoa disponha do poder de legislar, agir e julgar.
Montesquieu e a ideia de despotismo”. In: Historiæ, vol. 3, no 3, 2012. Adaptado.)
b) A separação dos poderes enfraquece o Estado e toma a
O filósofo iluminista Montesquieu, autor de Do espírito das leis, sociedade vulnerável aos ataques de seus inimigos.
criticou o absolutismo e propôs c) A separação e independência entre os poderes é uma das
a) a divisão dos poderes em executivo, legislativo e judiciário. condições fundamentais para que os cidadãos possam exercer
b) a restauração de critérios metafísicos para a escolha de sua liberdade.
governantes. d) A sociedade melhor organizada é aquela em que o executivo
c) a justificativa do despotismo em nome da paz social. goza de poder absoluto.
d) a obediência às leis costumeiras de origem feudal. e) As mesmas pessoas podem concentrar o poder, desde que
sejam bem intencionadas.
e) a retirada do poder político do povo.
05. (UFSJ) Leia o trecho abaixo.
02. (ENEM) Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas
de maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria “Ninguém deverá se espantar se votos forem comprados a
perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dinheiro. Não se pode dar muito ao povo sem retirar dele ainda
dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer mais, porém para retirar dele é necessário subverter o Estado.
leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes Quanto mais o povo pensa aproveitar de sua liberdade, mais se
ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes aproximará do momento em que deve perdê-la. Cria pequenos
Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma independente tiranos que possuem todos os vícios de um só. Em breve, o que
para a efetivação da liberdade, sendo que esta não existe se uma resta da liberdade torna-se insuportável: surge um único tirano; o
pessoa ou grupo exercer os referidos poderes concomitantemente. povo perde tudo, até mesmo as vantagens de sua corrupção”.
MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado). (MONTESQUIEU. Livro 8º: “Da corrupção dos princípios nos três governos”. Cap. II, p.
113. Rio de Janeiro: Pensadores, 1979).

A divisão e a independência entre os poderes são condições


Conforme Montesquieu,
necessárias para que possa haver liberdade em um Estado. Isso
pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja a) vendendo seus votos o povo terá um governo com liberdade
plena e governo digno.
a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.
b) o povo conseguirá a sua liberdade vendendo os seus votos.
b) consagração do poder político pela autoridade religiosa.
c) é comum corruptores da democracia comprarem votos.
c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-científicas.
d) com um governo tirano o povo também ganha vantagens de
d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições
sua corrupção.
do governo.
e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de
um governante eleito.

8 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
25 MONTESQUIEU E O ESPÍRITO DAS LEIS FILOSOFIA

06. (ENEM - LIBRAS) 10. (UNESP) (...) O trono real não é o trono de um homem, mas o
Constituição Política do Império do Brasil trono do próprio Deus. Os reis são deuses e participam de alguma
(de 25 de março de 1824) maneira da independência divina. O rei vê de mais longe e de mais
alto; deve-se acreditar que ele vê melhor, e deve obedecer-se-lhe
Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organização sem murmurar, pois o murmúrio é uma disposição para a sedição.
política, e é delegado privativamente ao Imperador, como Chefe (Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704), Política tirada da Sagrada Escritura. apud
Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, para que Gustavo de Freitas, 900 textos e documentos de História)
incessantemente vele sobre a manutenção da independência,
Com base no texto, assinale a alternativa correta.
equilíbrio e harmonia dos demais Poderes Políticos.
Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 18 abr. 2015 (adaptado).
a) O autor critica o absolutismo do rei e enfatiza o limite da sua
autoridade em relação aos homens.
A apropriação das ideias de Montesquieu no âmbito da norma b) Para Bossuet, o poder real tem legitimidade divina e não admite
constitucional citada tinha o objetivo de nenhum tipo de oposição dos homens.
a) expandir os limites das fronteiras nacionais. c) Bossuet defende a autoridade do rei, mas alerta para as
b) assegurar o monopólio do comércio externo. limitações impostas pelas obrigações para com Deus.
c) legitimar o autoritarismo do aparelho estatal. d) Os princípios de Bossuet defendem a soberania dos homens
diante da autoridade divina dos reis.
d) evitar a reconquista pelas forças portuguesas.
e) O autor reconhece o direito humano de revolta contra o
e) atender os interesses das oligarquias regionais. soberano que não se mostre digno de sua função.

07. (UNESP) O pensamento iluminista, baseado no racionalismo, 11. (UPE-SSA 2) O Princípio de Separação dos Poderes, embora
individualismo e liberdade absoluta do homem, ao criticar todos tenha sido positivado por meio da revolução constitucionalista do
os fundamentos em que se assentava o Antigo Regime, revelava final do século XVIII, tem raízes muito mais profundas, tendo em
as suas contradições e as tornava transparentes aos olhos de um vista que a preocupação de atribuir as funções fundamentais do
número cada vez maior de pessoas. estado a órgãos distintos é objeto de reflexão e discussão desde
(Modesto Florenzano. As revoluções burguesas, 1982. Adaptado.) os primórdios da organização estatal. A separação dos poderes do
Estado tem suas bases definidas por meio de uma teoria, que se
Entre as críticas ao Antigo Regime, mencionadas no texto, podemos desenvolveu ao longo do tempo, mediante a reflexão de filósofos
citar a rejeição iluminista do que remontam à Antiguidade, consagrando-se efetivamente após
a análise de Montesquieu, no século XVIII.
a) princípio da igualdade jurídica.
BARBOSA, Marília Costa. Revisão da Teoria da Separação dos Poderes do Estado.
b) livre comércio. Escola Superior do Ministério Público do Ceará. (Adaptado)
c) liberalismo econômico.
Diante do contexto explicado, qual a principal característica da
d) republicanismo.
separação dos poderes no pensamento de Montesquieu?
e) absolutismo monárquico.
a) Combater a expansão dos ideais socialistas.
b) Possibilitar a exploração dos trabalhadores.
08. (UECE) Os efeitos da Revolução Francesa sobre a vida privada
ultrapassaram as expressões da cultura política representadas c) Garantir a manutenção do Antigo Regime.
pelo vestuário, pela linguagem e pelo ritual político. O novo Estado d) Propiciar a expansão da industrialização.
atacou rigorosamente os poderes das comunidades do Antigo e) Assegurar a liberdade dos indivíduos.
Regime em muitos outros campos tais como:
a) a música, a pintura e as artes em geral. 12. (UNIOESTE) “Três razões fazem ver que este governo é o
melhor. A primeira, é que é o mais natural e se perpetua por si
b) a Igreja, as corporações e a nobreza.
próprio… A segunda razão... é que esse governo é o que interessa
c) a saúde, a higiene e as organizações sanitárias. mais na conservação do Estado e dos poderes que o constituem:
d) a constituição civil e todos os símbolos da vida familiar e o príncipe, que trabalha para o seu Estado, trabalha para os seus
doméstica. filhos... A terceira razão tira-se da dignidade das casas reais… O
trono real não é trono de um homem, mas o trono de Deus… O rei
vê mais longe e de mais alto… e deve-se obedecer-se-lhe sem
09. (UNESP) Quando sucumbe o monarca, a majestade real não murmura, pois o murmúrio é uma disposição para sedição”.
morre só, mas, como um vórtice, arrasta consigo tudo quanto o BOSSUET, Jaques-Benigne. Política Tirada da Sagrada Escritura. In: FREITAS, Gustavo
rodeia (...) Basta que o rei suspire para que todo o reino gema. de. 900 Textos e Documentos de História. Lisboa, Plátano Editora, s/d, p.201.
(Hamlet, 1603.)
No trecho acima, Bossuet justificou uma forma de organização
Essas palavras, pronunciadas por Rosencrantz, personagem de um do Estado europeu na Idade Moderna, em relação a qual é correto
drama teatral de William Shakespeare, aludem afirmar que
a) ao absolutismo monárquico, regime político predominante nos a) se tratava do Estado Moderno, caracterizado pela centralização
países europeus da Idade Moderna. do poder nas mãos do rei, cuja legitimidade seria conferida por
b) à monarquia parlamentarista, na qual os poderes políticos Deus.
derivam do consentimento popular. b) o Estado Absolutista foi constituído sob a influência das ideias
iluministas, um movimento filosófico e político que fundou as
c) ao poder mais simbólico do que verdadeiro do rei, expresso
bases do Estado Absolutista.
pela máxima “o rei reina, mas não governa”.
c) a formação do Estado Moderno estava apoiada em termos
d) à oposição dos Estados europeus à ascensão da burguesia e à filosóficos no pensamento teocêntrico e, em termos políticos,
emergência das revoluções democráticas. na fragmentação política.
e) à decapitação do monarca inglês pelo Parlamento durante as d) o Estado Moderno se sustentava na tradição democrática
Revoluções Puritana e Gloriosa. herdada da antiguidade clássica.
e) Bossuet representa uma corrente de filósofos que justificava
o poder soberano dos reis através da teoria do contrato social.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 9
FILOSOFIA 25 MONTESQUIEU E O ESPÍRITO DAS LEIS

13. (UPF) O movimento iluminista teve maior desenvolvimento na c) O poder descentralizado foi uma das marcas da Instituição
França. Entre os intelectuais que se destacaram naquele contexto Estado Nacional Moderno.
estão Voltaire, Rousseau e o nobre Charles de Montesquieu, cuja d) A forte mobilidade social fez com que os burgueses
obra de maior repercussão foi Do espírito das leis, publicação produzissem a Instituição do Estado Nacional Moderno.
na qual defendia um fracionamento dos poderes, como se lê na
seguinte passagem: “Não há liberdade se o poder Judiciário não e) Os burgueses controlavam o exército e cobravam impostos do
está separado do Legislativo e do Executivo... Se o Judiciário se povo para as cortes.
unisse com o Executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor”
(Charles de Montesquieu, Do espírito das leis, 1748). 17. (ENEM) A grande maioria dos países ocidentais democráticos
adotou o Tribunal Constitucional como mecanismo de controle
Sobre o pensamento e o constante nas obras de Montesquieu é dos demais poderes. A inclusão dos Tribunais no cenário político
correto afirmar que: implicou alterações no cálculo para a implementação de políticas
públicas. O governo, além de negociar seu plano político com o
a) os poderes Legislativo, Executivo e Federativo, independentes
Parlamento, teve que se preocupar em não infringir a Constituição.
um do outro, são a melhor garantia contra a opressão dos
Essa nova arquitetura institucional propiciou o desenvolvimento
governantes.
de um ambiente político que viabilizou a participação do Judiciário
b) cada governo deve ser eleito por sufrágio universal, válido para nos processos decisórios.
todos os que tiverem renda econômica igual ou superior a três CARVALHO, E. R. Revista de Sociologia e Política, nº 23. nov. 2004 (adaptado).
salários mínimos.
c) a infelicidade humana deriva de liberdade, pois essa leva à O texto faz referência a uma importante mudança na dinâmica
anarquia. de funcionamento dos Estados contemporâneos que, no caso
d) o Legislativo, o Executivo e o Judiciário devem ser independentes brasileiro, teve como consequência a
e fiscalizar um ao outro, reciprocamente. a) adoção de eleições para a alta magistratura.
b) diminuição das tensões entre os entes federativos.
14. (UNIMONTES) Entre as propostas formuladas no século XVIII c) suspensão do principio geral dos freios e contrapesos.
por Montesquieu, em sua obra O espírito das leis, pode-se citar: d) judicialização de questões próprias da esfera legislativa.
a) O regime presidencialista. e) profissionalização do quadro de funcionários da Justiça.
b) O sufrágio universal.
c) O regime parlamentarista. 18. (ENEM) Judiciário contribuiu com ditadura no Chile,
d) A separação entre os poderes do Estado. diz Juiz Guzman Tapia
As cortes de apelação rejeitaram mais de 10 mil habeas corpus
15. (UFU) A tranquilidade dos súditos só se encontra na obediência. nos casos das pessoas desaparecidas. Nos tribunais militares,
[...] Sempre é menos ruim para o público suportar do que controlar todas as causas foram concluídas com suspensões temporárias
incluso o mau governo dos reis, do qual Deus é único juiz. Aquilo ou definitivas, e os desaparecimentos políticos tiveram apenas
que os reis parecem fazer contra a lei comum funda-se, geralmente, trâmite formal na Justiça. Assim, o Poder Judiciário contribuiu para
na razão de Estado, que é a primeira das leis, por consentimento de que os agentes estatais ficassem impunes.
todo mundo, mas que é, no entanto, a mais desconhecida e a mais Disponível em: http://www.cartamaior.com.br.Acesso em: 20 jul. 2010 (adaptado).
obscura para todos aqueles que não governam.
LUÍS XIV, Rei da França. Memorias. (Versão espanhola de Aurelio Garzón del Camino). Segundo o texto, durante a ditadura chilena na década de 1970, a
México: Fondo de Cultura Económica, 1989. p. 28-37 (Adaptado). relação entre os poderes Executivo e Judiciário caracterizava-se pela
a) preservação da autonomia institucional entre os poderes.
As palavras do rei Luís XIV exemplificam um complexo e longo
processo sociopolítico, identificado com o que comumente b) valorização da atuação independente de alguns juízes.
chamamos de Idade Moderna e que podia ser caracterizado. c) manutenção da interferência jurídica nos atos executivos.
a) por um crescente deslocamento do poder político da burguesia, d) transferência das funções dos juízes para o chefe de Estado.
que passou a ver a ascensão da nobreza feudal, cada vez mais e) subordinação do poder judiciário aos interesses políticos
próxima do poder e ocupando importantes cargos políticos. dominantes.
b) pela centralização administrativa sobre os particularismos
locais e pela crescente unificação territorial, ainda que os 19. (UNIOESTE) De acordo com o Art. 44 da Constituição Federal, o
senhores de terra não perdessem inteiramente seus privilégios. Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe
c) pelo fortalecimento do poder político da Igreja Católica, da Câmara dos Deputados (com representantes do povo brasileiro),
resultado de um processo de crescente mercantilização de o Senado Federal (com representantes dos Estados e do Distrito
suas terras e de sua consequente adequação ao mercado. Federal), e o Tribunal de Contas da União (órgão que presta auxílio ao
Congresso Nacional nas atividades de controle e fiscalização externa).
d) pelo processo de cercamento dos campos, com o
Com base na Constituição Federal é correto afirmar que
consequente fortalecimento da nobreza feudal, a qual, com os
altos impostos que pagava, contribuiu decisivamente para o a) uma das atribuições do Congresso Nacional é nomear
fortalecimento do poder real. Ministros de Estado, Ministros do Supremo Tribunal Federal e o
Procurador-Geral da República.
16. (UDESC) Em relação à Formação dos Estados Nacionais b) é da competência do Congresso Nacional processar e julgar
Modernos, é correto afirmar. ações de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal
a) O absolutismo e o poder centralizado no monarca foram as ou estadual.
bases iniciais para a formação do Estado Nacional Moderno. c) é da responsabilidade do Congresso Nacional zelar pelo efetivo
b) Os Estados se formam sob bases democráticas e não sob as respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância aos
absolutistas. direitos assegurados na Constituição Federal, promovendo as
medidas necessárias a sua garantia.

10 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
25 MONTESQUIEU E O ESPÍRITO DAS LEIS FILOSOFIA

d) cabe ao Congresso Nacional elaborar as leis e proceder à Os séculos XVI e XVII marcaram a afirmação do absolutismo
fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e político na Europa, embora com particularidades em cada reino.
patrimonial da União e das entidades da Administração direta Dois exemplos de reis absolutistas são Felipe II, cujos domínios
e indireta. eram tão vastos que se dizia que neles “o sol nunca se punha”, e
Luís XIV, conhecido como “rei sol”.
e) cabe ao Congresso Nacional sancionar, promulgar e fazer
publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos Indique duas medidas estabelecidas pelo poder real que tenham
para sua fiel execução. auxiliado a afirmação do absolutismo político e dois fatores que
funcionaram como resistência ao processo de centralização
política.
20. (UEL) De acordo com Norberto Bobbio, “ao lado do problema
do fundamento do poder, a doutrina clássica do Estado sempre
03. (UERJ) A liberdade política é esta tranquilidade de espírito que
se ocupou também do problema dos limites do poder, problema
provém da opinião que cada um tem sobre a sua segurança; e para
que geralmente é apresentado como problema das relações entre que se tenha esta liberdade é preciso que o governo seja tal que um
direito e poder (ou direito e Estado)”. cidadão não possa temer outro cidadão. Quando o poder legislativo
Fonte: BOBBIO, N. Estado, Governo e Sociedade: para uma teoria geral da política. está reunido ao poder executivo, não existe liberdade. Tampouco
Tradução de Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000, p. 93-94.
existe liberdade se o poder de julgar não for separado do poder
legislativo e do executivo.
Os limites do poder no Estado democrático de direito moderno são
Montesquieu. O espírito das leis, 1748.
estabelecidos:
I. Pela autonomia constitucional entre os poderes judiciário, O direito eleitoral ampliado, a dominação do parlamento, a
legislativo e executivo. debilidade do governo, a insignificância do presidente e a prática
II. Por normas legais, definidas por processos legítimos, que do referendo não respondem nem ao caráter, nem à missão que
regulam e estabelecem direitos e deveres tanto para governantes o Estado alemão deve cumprir tanto no presente como no futuro
quanto para os indivíduos na sociedade. próximo.
Jornal Kölnishe Zeitung, 04/08/1919. Adaptado de REIS FILHO, Daniel Aarão (org.).
III. Por normas legais que subordinam os poderes judiciário e História do século XX. Volume 2. Rio de Janeiro: Record, 2002.
legislativo ao poder executivo e asseguram a prevalência dos
interesses do partido majoritário. Os trechos apresentam aspectos do pensamento político em
IV. Por normas legais que assegurem que todos os cidadãos duas épocas distintas: o liberalismo proposto por Montesquieu no
tenham garantias individuais mínimas, como o direito à defesa, século XVIII e a crise do liberalismo na crítica de um jornal alemão
direito a ir e vir e direito a manifestar suas opiniões. na recém-estabelecida República de Weimar.
A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é: Identifique um dos princípios liberais expresso no texto de
Montesquieu e a opinião no texto do jornal alemão que contradiz
a) I e III c) I, II e III e) I, III e IV esse princípio.
b) II e IV d) I, II e IV
04. (UFRN) Durante o século XVIII, ganhou corpo na Europa o
Iluminismo, um movimento intelectual que propunha a transformação
EXERCÍCIOS DE das relações sociopolíticas que caracterizavam o Antigo Regime.
APROFUNDAMENTO Montesquieu e Rousseau, citados abaixo, são pensadores
cujas ideias exemplificam as posições iluministas.
01. (UFU) No que diz respeito aos regimes democrático e ditatorial, Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo
na sociedade capitalista, indique o que é próprio a cada um deles dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três
quanto aos seguintes aspectos: poderes: o de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas, e
o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos.
a) Existência e funcionamento efetivo de um órgão de representação
MONTESQUIEU, Charles de. O espírito das leis. Brasília: Editora Universidade de Brasília,
política (parlamento). 1982. p. 187. (Pensamento Político).
b) Relação entre Executivo, Legislativo e Judiciário.
A primeira e mais importante consequência decorrente
02. (UERJ) dos princípios até aqui estabelecidos é que só a vontade geral
pode dirigir as forças do Estado de acordo com a finalidade de
sua instituição, que é o bem comum, porque, se a oposição dos
interesses particulares tornou necessário o estabelecimento
das sociedades, foi o acordo desses mesmos interesses que o
possibilitou.[...] Somente com base nesse interesse comum é que a
sociedade pode ser governada.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 43.

a) A partir dos fragmentos textuais acima, identifique uma


característica do Antigo Regime e explique-a.
b) Explique outras duas características do Antigo Regime às
quais se opunha o pensamento iluminista.

05. (UFMG) Analise o trecho publicado na Enciclopédia pelo filósofo


francês Denis Diderot.
A autoridade do príncipe é limitada pelas leis da natureza e do
Estado. [...] O príncipe não pode, portanto, dispor de seu poder e de
seus súditos sem o consentimento da nação e independentemente
da escolha estabelecida no contrato de submissão [...].
Autoridade política, Enciclopédia, 1751.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 11
FILOSOFIA 25 MONTESQUIEU E O ESPÍRITO DAS LEIS

A partir da leitura do trecho e considerando outros conhecimentos c) Os pensadores iluministas refletiam em seus escritos a visão de mundo da burguesia,
que tinha sua ascensão política e econômica, bem como suas liberdades individuais
sobre o assunto, limitadas pelas características do Antigo Regime (Absolutismo Monárquico). O aluno
a) IDENTIFIQUE a corrente de pensamento a qual pertenceu Denis poderá citar entre os motivos das críticas feitas pelos iluministas:
Diderot. – o poder absoluto dos reis;
– a divisão da sociedade em estamentos;
b) DEFINA o sistema político criticado pelo trecho.
– as relações de servidão feudal;
c) EXPLIQUE um dos motivos que mobilizou Diderot e muitos de – o dirigismo econômico e os monopólios mercantilistas;
seus contemporâneos a se oporem ao sistema político vigente.
– a intolerância religiosa;
– a aproximação entre Igreja e Estado por meio do padroado.
GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS ANOTAÇÕES
01. A 05. C 09. A 13. D 17. D
02. D 06. C 10. B 14. D 18. E
03. B 07. E 11. E 15. B 19. D
04. C 08. B 12. A 16. A 20. D

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. a) Democracia: Necessidade da existência e funcionamento de um órgão de
representação (parlamento/congresso) em que as decisões políticas expressam
indiretamente, a vontade popular (democracia representativa).
- Grau de participação popular nas decisões públicas através de plebiscitos, referendos,
votos, orçamentos participativos.
- Separação e independência dos poderes executivo, legislativo e judiciário.
Ditadura: Preponderância/hipertrofia do poder executivo.
- Ausência/fechamento de órgão de representação (parlamento/congresso).
- Controle/manipulação das informações na mão do Estado.
- Inexistência do Estado de direito (supressão de direitos políticos e civis).
b) Relação entre Executivo, Legislativo e Judiciário.
Democracia: Há um equilíbrio e independência na divisão dos poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário.
Ditadura: Supressão dos direitos individuais e preponderância do poder executivo sobre
os demais.
02. Como fatores para a afirmação do absolutismo político, podemos citar:
1) criação da Justiça Real, para unificação dos critérios de Justiça nos Reinos;
2) formação dos Exércitos Reais, para defender os Reinos e enfrentar possíveis
resistências da Nobreza.
Como fatores que funcionaram como resistência ao processo de centralização, podemos
citar:
1) manutenção dos privilégios nobiliárquicos;
2) desejo de ascensão política da burguesia.
03. Um dos princípios liberais: a divisão dos poderes em três, como forma de não
concentrar o poder nas mãos de apenas uma pessoa;
Opinião do jornal que contradiz o princípio: “a dominação do parlamento, a debilidade do
governo, a insignificância do presidente”;
04. a) CARACTERÍSTICAS DO ANTIGO REGIME IDENTIFICADAS NOS TEXTOS
- Absolutismo monárquico: concentração dos poderes nas mãos dos reis, a quem cabia
fazer as leis (poder legislativo), executar as resoluções públicas (poder executivo) e julgar
os crimes ou as divergências entre os indivíduos (poder judiciário).
- Ideologia do “direito divino” dos reis: a concepção de que o poder dos reis derivava
diretamente de Deus servia de justificava ao poder absolutista dos monarcas.
b) O ANTIGO REGIME À LUZ DAS CRÍTICAS DO ILUMINISMO
- Ausência de leis que garantissem as liberdades individuais, sendo a vontade do
soberano a “lei” da nação.
- Sociedade estamental, em que os costumes tornavam quase impossível qualquer
mudança de condição social, e a nobreza-clero tinha mais direitos do que os artesãos-
camponeses.
- Manutenção dos privilégios da nobreza, que perdera o poder típico da ordem feudal,
mas transformara-se numa nobreza cortesã, vivendo à sombra do monarca e recebendo
privilégios da parte deste.
- Restrições à participação política da burguesia, classe que emergiu na época final da
Idade Média e se consolidara durante a Idade Moderna, mas que continuava alijada do
poder.
- A política econômica do Mercantilismo, caracterizada pela grande interferência do
Estado na ordem econômica, com vistas a alcançar aquilo que se tinha como fundamental
para a prosperidade nacional: a acumulação de metais preciosos e a balança comercial
favorável.
- Manutenção de muitas práticas fiscais (impostos/taxas) do período medieval (corveia,
por exemplo), as quais sustentavam o modo de vida da corte e da nobreza cortesã.
- Profunda relação entre a Igreja e o Estado, restringindo, muitas vezes, a liberdade
religiosa e de pensamento.
05. a) Denis Diderot foi um filósofo iluminista enciclopedista e comungava dos ideais do
liberalismo político.
b) Diderot criticava o absolutismo monárquico, que é a construção de um Estado
centralizador e autoritário na forma de uma monarquia nacional.

12 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
26 ESCOLA DE FRANKFURT: FILOSOFIA

PENSAMENTO DE HABERMAS

COMUNICAÇÃO E DEMOCRACIA O filósofo indica ‘’pretensões de validade’’ implícitas no ato


comunicativo voltado à mútua compreensão, sendo elas as
Participante da segunda geração da famosa Escola de seguintes:
Frankfurt - sempre lembrada pelas obras de Theodor Adorno e Max
• Pretensão de Inteligibilidade - as expressões devem ser
Horkheimer - Jürgen Habermas (1929 -) tornou-se um expoente
inteligíveis
mundial da luta democrática e do multiculturalismo. Estudioso
admirável, Habermas expressou toda sua capacidade ao elaborar • Pretensão de Verdade - o conteúdo deve ser verdadeiro
conceitos essenciais para o debate filosófico contemporâneo, sua • Pretensão de Sinceridade - o falante tem que expressar
“Teoria do agir comunicativo” e seus entendimentos sobre “Esfera suas intenções de modo sincero
Pública” são essenciais para entender o mundo atual. • Pretensão de Correção Normativa - os enunciados têm
A democracia é um modelo político praticado em grande que ser corretos no contexto de normas e de valores
parte do planeta, gerador de críticas e elogios, esse modelo está existentes
amplamente presente nos últimos séculos. Habermas vai buscar
compreender as relações presentes para ampliação dessa
possibilidade social. O autor acredita que devemos criar um novo
modelo de comunicação, que busque entendimento entre os EXERCÍCIOS
diferentes sujeitos da sociedade.
A proposta de Habermas é transformadora, por acreditar que a
PROTREINO
democracia só vai ocorrer de maneira adequada quando os seres
01. Aponte algumas características da prática democrática,
humanos estiverem abertos para ouvir aos demais, uma proposta
segundo Habermas.
ousada, mas que se torna essencial para a melhora social. Para
que isso ocorra, Habermas vai considerar que o indivíduo deve
deixar de lado as paixões e discutir baseado somente em aspectos 02. Aponte as principais características da Teoria do Agir
racionais, argumentos emotivos levam a uma ruptura, a base de Comunicativo, para Habermas.
uma discussão só pode ser racional.
Habermas estabelece alguns critérios para que a discussão 03. Defina brevemente “Pretensões de Validade” na visão de
democrática ocorra de maneira adequada: primeiramente deve Habermas.
haver igualdade nas relações, não é possível uma discussão justa
em que indivíduos estejam em estamentos sociais distintos. Além 04. Defina brevemente “Pretensão de Verdade” na visão de
disso, Habermas vai considerar que a escolha de argumentos deva Habermas.
ser cuidadosa, utilizar argumentos socialmente aceitos por ambas
as partes. 05. Defina brevemente “Pretensões de Sinceridade” na visão de
Habermas.

EXERCÍCIOS
PROPOSTOS
01. (ENEM) O conceito de democracia, no pensamento de
Habermas, é construído a partir de uma dimensão procedimental,
calcada no discurso e na deliberação. A legitimidade democrática
exige que o processo de tomada de decisões políticas ocorra a
partir de uma ampla discussão pública, para somente então
decidir. Assim, o caráter deliberativo corresponde a um processo
coletivo de ponderação e análise, permeado pelo discurso, que
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4d/JuergenHabermas.jpg
antecede a decisão.
VITALE. D. Jürgen Habermas, modernidade e democracia deliberativa.
Cadernos do CRH (UFBA), v. 19, 2006 (adaptado).
O AGIR COMUNICATIVO
O conceito de democracia proposto por Jürgen Habermas pode
Habermas em sua “Teoria do Agir comunicativo” vai buscar
favorecer processos de inclusão social. De acordo com o texto, é
estabelecer o consenso, o discurso e a democracia como formas
uma condição para que isso aconteça o(a)
de chegar a um ideal comum. Os fenômenos sociais podem ser
alterados, podem passar por modificações, não são estáveis. O a) participação direta periódica do cidadão.
discurso geraria esse processo. Os indivíduos utilizam argumentos b) debate livre e racional entre cidadãos e Estado.
sempre racionais para estabelecimento desse processo, todo c) interlocução entre os poderes governamentais.
litígio, todo conflito, poderia gerar um princípio de debate, mas que
ocorra em uma situação ideal de fala. Esse ideal de Habermas é d) eleição de lideranças políticas com mandatos temporários.
utilizado até os dias atuais na ONU e no direito internacional. e) controle do poder político por cidadãos mais esclarecidos.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 13
FILOSOFIA 26 ESCOLA DE FRANKFURT: PENSAMENTO DE HABERMAS

02. (ENEM) Na regulamentação de matérias culturalmente políticas que seja satisfatório para todos. A democracia ativista
delicadas, como, por exemplo, a linguagem oficial, os currículos desconfia das exortações à deliberação por acreditar que,
da educação pública, o status das Igrejas e das comunidades no mundo real da política, onde as desigualdades estruturais
religiosas, as normas do direito penal (por exemplo, quanto ao influenciam procedimentos e resultados, processos democráticos
aborto), mas também em assuntos menos chamativos, como, que parecem cumprir as normas de deliberação geralmente tendem
por exemplo, a posição da família e dos consórcios semelhantes a beneficiar os agentes mais poderosos. Ela recomenda, portanto,
ao matrimônio, a aceitação de normas de segurança ou a que aqueles que se preocupam com a promoção de mais justiça
delimitação das esferas pública e privada — em tudo isso reflete- devem realizar principalmente a atividade de oposição crítica, em
se amiúde apenas o autoentendimento ético-político de uma vez de tentar chegar a um acordo com quem sustenta estruturas
cultura majoritária, dominante por motivos históricos. Por causa de poder existentes ou delas se beneficia.
de tais regras, implicitamente repressivas, mesmo dentro de uma YOUNG. I. M. Desafios ativistas à democracia deliberativa.
comunidade republicana que garanta formalmente a igualdade de Revista Brasileira de Ciência Política. n. 13. jan.-abr. 2014.
direitos para todos, pode eclodir um conflito cultural movido pelas
minorias desprezadas contra a cultura da maioria. As concepções de democracia deliberativa e de democracia
HABERMAS, J. A inclusão do outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola, 2002.
ativista apresentadas no texto tratam como imprescindíveis,
respectivamente,
A reivindicação dos direitos culturais das minorias, como a) a decisão da maioria e a uniformização de direitos.
exposto por Habermas, encontra amparo nas democracias b) a organização de eleições e o movimento anarquista.
contemporâneas, na medida em que se alcança
c) a obtenção do consenso e a mobilização das minorias.
a) a secessão, pela qual a minoria discriminada obteria a igualdade
de direitos na condição da sua concentração espacial, num tipo d) a fragmentação da participação e a desobediência civil.
de independência nacional. e) a imposição de resistência e o monitoramento da liberdade.
b) a reunificação da sociedade que se encontra fragmentada
em grupos de diferentes comunidades étnicas, confissões 05. (ENEM PPL) A teoria da democracia participativa é construída em
religiosas e formas de vida, em torno da coesão de uma cultura torno da afirmação central de que os indivíduos e suas instituições não
política nacional. podem ser considerados isoladamente. A existência de instituições
representativas em nível nacional não basta para a democracia;
c) a coexistência das diferenças, considerando a possibilidade de
pois o máximo de participação de todas as pessoas, a socialização
os discursos de autoentendimento se submeterem ao debate
ou “treinamento social” precisa ocorrer em outras esferas, de modo
público, cientes de que estarão vinculados à coerção do melhor
que as atitudes e as qualidades psicológicas necessárias possam
argumento.
se desenvolver. Esse desenvolvimento ocorre por meio do próprio
d) a autonomia dos indivíduos que, ao chegarem à vida adulta, processo de participação. A principal função da participação na teoria
tenham condições de se libertar das tradições de suas origens democrática participativa é, portanto, educativa.
em nome da harmonia da política nacional. PATEMAN, C. Participação e teoria democrática. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
e) o desaparecimento de quaisquer limitações, tais como
linguagem política ou distintas convenções de comportamento, Nessa teoria, a associação entre participação e educação tem
para compor a arena política a ser compartilhada. como fundamento a
a) ascensão das camadas populares.
03. (ENEM) No século XX, o transporte rodoviário e a aviação civil b) organização do sistema partidário.
aceleraram o intercâmbio de pessoas e mercadorias, fazendo
c) eficiência da gestão pública.
com que as distâncias e a percepção subjetiva das mesmas se
reduzissem constantemente. É possível apontar uma tendência de d) ampliação da cidadania ativa.
universalização em vários campos, por exemplo, na globalização e) legitimidade do processo legislativo.
da economia, no armamentismo nuclear, na manipulação genética,
entre outros. 06. (ENEM PPL) Na sociedade democrática, as opiniões de cada um
HABERMAS, J. A constelação pós-nacional: ensaios políticos. não são fortalezas ou castelos para que neles nos encerremos como
São Paulo: Littera Mundi, 2001 (adaptado).
forma de autoafirmação pessoal. Não só temos de ser capazes
Os impactos e efeitos dessa universalização, conforme descritos no de exercer a razão em nossas argumentações, como também
texto, podem ser analisados do ponto de vista moral, o que leva à devemos desenvolver a capacidade de ser convencidos pelas
defesa da criação de normas universais que estejam de acordo com melhores razões. A partir dessa perspectiva, a verdade buscada é
sempre um resultado, não ponto de partida: e essa busca inclui a
a) os valores culturais praticados pelos diferentes povos em suas conversação entre iguais, a polêmica, o debate, a controvérsia.
tradições e costumes locais. SAVATER, F. As perguntas da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2001 (adaptado).
b) os pactos assinados pelos grandes líderes políticos, os quais
dispõem de condições para tomar decisões. A ideia de democracia presente no texto, baseada na concepção
c) os sentimentos de respeito e fé no cumprimento de valores de Habermas acerca do discurso, defende que a verdade é um(a)
religiosos relativos à justiça divina. a) alvo objetivo alcançável por cada pessoa, como agente racional
d) os sistemas políticos e seus processos consensuais e autônomo.
democráticos de formação de normas gerais. b) critério acima dos homens, de acordo com o qual podemos
e) os imperativos técnico-científicos, que determinam com julgar quais opiniões são as melhores.
exatidão o grau de justiça das normas. c) construção da atividade racional de comunicação entre os
indivíduos, cujo resultado é um consenso.
04. (ENEM) A democracia deliberativa afirma que as partes d) produto da razão, que todo indivíduo traz latente educativo.
do conflito político devem deliberar entre si e, por meio de e) resultado que se encontra mais desenvolvido nos espíritos
argumentação razoável, tentar chegar a um acordo sobre as elevados, a quem cabe a tarefa de convencer os outros.

14 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
26 ESCOLA DE FRANKFURT: PENSAMENTO DE HABERMAS FILOSOFIA

07. (ENEM) Uma norma só deve pretender validez quando todos os a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
que possam ser concernidos por ela cheguem (ou possam chegar), b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
enquanto participantes de um discurso prático, a um acordo
quanto à validade dessa norma. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
Segundo Habermas, a validez de uma norma deve ser estabelecida
pelo(a) 10. (UEG) “Uma moral racional se posiciona criticamente em
relação a todas as orientações da ação, sejam elas naturais,
a) liberdade humana, que consagra a vontade. autoevidentes, institucionalizadas ou ancoradas em motivos
b) razão comunicativa, que requer um consenso. através de padrões de socialização. No momento em que uma
c) conhecimento filosófico, que expressa a verdade. alternativa de ação e seu pano de fundo normativo são expostos
ao olhar crítico dessa moral, entra em cena a problematização. A
d) técnica científica, que aumenta o poder do homem.
moral da razão é especializada em questões de justiça e aborda em
e) poder político, que se concentra no sistema partidário. princípio tudo à luz forte e restrita da universalidade.”
(HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. v. I. Trad.
08. (UEL) “As instâncias do Poder, que os cidadãos acreditavam Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p. 149.)
terem instalado democraticamente, estão, sob o peso da crítica, em
vias de perder sua identidade. A opinião não lhes confere mais o Com base no texto e nos conhecimentos sobre a moral em
certificado de conformidade que a legitimidade deles exige. Jürgen Habermas, é correto afirmar:
Habermas [...] vê nessa situação ‘um problema de regulação’. A a) A formação racional de normas de ação ocorre
opinião pública, abalada em suas crenças mais firmes, não dá mais independentemente da efetivação de discursos e da autonomia
sua adesão às regulações que o direito constitucional ou, mais pública.
amplamente, o direito positivo do Estado formaliza”. b) O discurso moral se estende a todas as normas de ações
(GOYARD-FABRE, Simone. O que é democracia?. Trad. de Cláudia Berliner. passíveis de serem justificadas sob o ponto de vista da razão.
São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 202-203.)
c) A validade universal das normas pauta-se no conteúdo dos
Com base no texto e nos conhecimentos sobre os Estados valores, costumes e tradições praticados no interior das
Democráticos de Direito na contemporaneidade, é correto afirmar: comunidades locais.
a) A atual identidade das instâncias do poder é confirmada pela d) A positivação da lei contida nos códigos, mesmo sem o
“crítica”. consentimento da participação popular, garante a solução
b) Legalidade e legitimidade das instâncias de poder são moral de conflitos de ação.
coincidentes nos Estados Democráticos de Direito. e) Os parâmetros de justiça para a avaliação crítica de normas
c) A regulação das instituições de poder deve ser independente pautam-se no princípio do direito divino.
da opinião pública.
11. (UEL) Leia o texto a seguir.
d) A legitimidade das instâncias de poder deve ser baseada no
direito positivo. Em Técnica e Ciência como “ideologia”, Habermas apresenta
uma reformulação do conceito weberiano de racionalização pela
e) A opinião pública é que deve dar legitimidade às instâncias de
qual lança as bases conceptuais de sua teoria da sociedade.
poder.
Neste sentido, postula a distinção irredutível entre trabalho ou
agir instrumental e interação ou agir comunicativo, bem como
09. (UEL) Leia o texto a seguir. a pertinência da conexão dialética entre essas categorias, das
A utilização da Internet ampliou e fragmentou, simultaneamente, quais deriva a diferenciação entre o quadro institucional de uma
os nexos de comunicação. Isto impacta no modo como o diálogo é sociedade e os subsistemas do agir racional com respeito a
construído entre os indivíduos numa sociedade democrática. fins. Segundo Habermas, uma análise mais pormenorizada da
(Adaptado de: HABERMAS, J. O caos da esfera pública. primeira parte da Ideologia Alemã revela que “Marx não explicita
Folha de São Paulo, 13 ago. 2006, Caderno Mais!, p.4-5.) efetivamente a conexão entre interação e trabalho, mas sob o título
nada específico da práxis social reduz um ao outro, a saber, a ação
A partir dos conhecimentos sobre a ação comunicativa em comunicativa à instrumental”.
Habermas, considere as afirmativas a seguir. (Adaptado: HABERMAS, J. Técnica e ciência como “ideologia”.
I. A manipulação das opiniões impede o consenso ao usar os Lisboa: Edições 70, 1994. p.41-42.)
interlocutores como meios e desconsiderar o ser humano
como fim em si mesmo. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de
Habermas, é correto afirmar:
II. A validade do que é decidido consensualmente assenta-se
na negociação em que os interlocutores se instrumentalizam a) O crescimento das forças produtivas e a eficiência
reciprocamente em prol de interesses particulares. administrativa conduzem à organização das relações sociais
baseadas na comunicação livre de quaisquer formas de
III. Como regra do discurso que busca o entendimento, devem-
dominação.
se excluir os interlocutores que, de algum modo, são afetados
pela norma em questão. b) A liberação do potencial emancipatório do desenvolvimento
da técnica e da ciência depende da prevenção das
IV. O projeto emancipatório dos indivíduos é construído
disfuncionalidades sistêmicas que entravam a reprodução
a partir do diálogo e da argumentação que prima pelo
material da vida e suas respectivas formas interativas.
entendimento mútuo.
c) O desenvolvimento da ciência e da técnica, enquanto forças
Assinale a alternativa correta. produtivas, permite estabelecer uma nova forma de legitimação
que, por sua vez, nega as estruturas da ação instrumental,
assimilando-as à ação comunicativa.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 15
FILOSOFIA 26 ESCOLA DE FRANKFURT: PENSAMENTO DE HABERMAS

d) Com base na irredutibilidade entre trabalho e interação, a luta pela IV. Do ponto de vista democrático, os Estados nacionais sofrem
emancipação diz respeito tanto ao agir comunicativo, contra as restrição em seu fundamento de integração social em
restrições impostas pela dominação, quanto ao agir instrumental, decorrência do aumento da imigração, da segmentação cultural
contra as restrições materiais pela escassez econômica. e, sobretudo, da ampliação da economia no plano global.
e) A racionalização na dimensão da interação social submetida Assinale a alternativa correta.
à racionalização na dimensão do trabalho na práxis social a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
determina o caráter emancipatório do desenvolvimento das
forças produtivas e do bem-estar da vida humana. b) Somente as afirmativas II e III são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
12. (UEL) Leia o texto a seguir. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
Na tradição liberal, a ênfase é posta no caráter impessoal das e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
leis e na proteção das liberdades individuais, de tal modo que o
processo democrático é compelido pelos (e está a serviço dos) 14. (UFPA) Na contemporaneidade, uma das mais marcantes
direitos pessoais que garantem a cada indivíduo a liberdade de concepções acerca das possibilidades da ação moral vincula-se
buscar sua própria realização. Na tradição republicana, a primazia à ideia de uma razão comunicativa. Sobre essa ideia, julgue as
é dada ao processo democrático enquanto tal, entendido como afirmações abaixo:
uma deliberação coletiva que conduz os cidadãos à procura do
I. A razão comunicativa permanece presa aos condicionantes
entendimento sobre o bem comum.
da razão prática moderna, isto é, aos agentes considerados
(Adaptado de: ARAÚJO, L. B. L. Moral, direito e política. “Sobre a Teoria do Discurso de”
Habermas. In: OLIVEIRA, M.; AGUIAR, O. A.; SAHD, L. F. N. de A. e S. (Orgs.).
individual ou coletivamente.
Filosofia Política Contemporânea. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 214-235.) II. O que propicia a razão comunicativa é a mediação linguística,
por meio da qual as relações entre os sujeitos ocorrem e o
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filosofia política modo de vida contemporâneo se estrutura.
na teoria do discurso, é correto afirmar que Habermas
III. A razão comunicativa somente pode ser entendida como uma
a) privilegia a ideia de Estado de direito em detrimento de uma capacidade subjetiva, capaz de dizer aos agentes o que devem
democracia participativa. realizar.
b) concede maior relevância à autonomia pública, opondo-se à Está(ão) correta(s) a(s) afirmação(ões):
autonomia privada.
a) apenas a I
c) ignora tanto a autonomia privada quanto a pública,
substituindo-as pela utilidade das normas morais. b) apenas a II
d) enfatiza a compreensão individualista e instrumental do papel c) I e II
do cidadão na lógica privada do mercado. d) II e III
e) concilia, na mesma base, direitos humanos e soberania popular, e) I e III
reconhecendo-os como distintos, porém complementares.
15. (UEL) A ação política pressupõe a possibilidade de decidir,
13. (UEL) Leia o seguinte texto de Habermas: através da palavra, sobre o bem comum. Esta acepção do
A democracia se adapta a essa formação moderna do Estado termo ‘política’, somente válida enquanto ideal aceito, guarda
territorial, nacional e social, equipado com uma administração uma estreita relação com a concepção de política defendida por
efetiva. Isto porque um ente coletivo tem necessidade de se Habermas. Em particular, com o modelo normativo de democracia
integrar, política e culturalmente, além de ser suficientemente que este desenvolveu no início dos anos de 1990 e que inclui
autônomo do ponto de vista espacial, social econômico e militar. um procedimento ideal de deliberação e tomada de decisões: a
[...] Em decorrência da imigração e da segmentação cultural, as chamada política deliberativa.
(VELASCO ARROVO, J. C. Para ler Habermas. Madrid: AIIanza, 2003, p. 93.)
tendências subsumidas no termo “globalização” ameaçam a
composição, mais ou menos homogênea, da população em seu
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a democracia no
âmago, ou seja, o fundamento pré-político da integração dos
pensamento de Habermas, considere as afirmativas a seguir.
cidadãos. No entanto, convém salientar outro fato mais marcante
ainda: o Estado, cada vez mais emaranhado nas interdependências I. As normas se tornam legitimas pelo fato de terem sido
da economia e da sociedade mundial, perde, não somente em submetidas ao crivo participativo de todos os concernidos.
termos de autonomia e de competência para a ação, mas também II. O principio da regra da maioria está subordinado à possibilidade
em termos de substancia democrática. prévia de que todos os concernidos tenham tido a oportunidade
(HABERMAS, J. Era das Transições. Tradução e Introdução de Flavio Beno Siebeneichler. de apresentar seus posicionamentos de forma argumentativa
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003, p. 106.)
e sem coerção.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre democracia em III. A deliberação visa formalizar posições cristalizadas pelos
Habermas, considere as afirmativas a seguir: membros da sociedade política, limitando-se ao endosso das
opiniões prévias de cada um.
I. A ampliação da economia além das fronteiras dos Estados
nacionais revela a integração democrática dos países e, IV. As práticas políticas democráticas restringem-se à escolha,
consequentemente, o fortalecimento da cidadania mundial. mediante sufrágio universal, dos Iíderes que governam as
cidades.
II. A democracia se amplia à medida que a economia e a imigração se
deslocam além das fronteiras dos Estados nacionais, produzindo Assinale a alternativa correta.
um intercâmbio social e cultural do ponto de vista global. a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
III. A democracia circunscrita ao âmbito nacional goza de b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
autonomia em segmentos significativos como a economia, c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
a política e a cultura, porém, quando o Estado entra na fase
da constelação pós-nacional, sofre uma redução no exercício d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
democrático. e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.

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26 ESCOLA DE FRANKFURT: PENSAMENTO DE HABERMAS FILOSOFIA

16. (UEL) A proposta ética de Habermas não comporta conteúdos. a) abrange as ações isoladas das pessoas visando adequar-se às
Ela é formal. Ela apresenta um procedimento, fundamentado mudanças climáticas e às catástrofes naturais.
na racionalidade comunicativa, de resolução de pretensões b) corresponde à maneira como o homem deseja construir e
normativas de validade. realizar plenamente a sua existência no planeta.
(DUTRA, D. J. V. Razão e consenso em Habermas. A teoria discursiva da verdade,
da moral, do direito e da biotecnologia. Florianópolis: Editora da UFSC. 2005, p. 158.) c) compreende a atitude conservacionista que o sistema
econômico adota em relação ao ambiente.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a obra de Habermas, d) implica a instrumentalização dos recursos tecnológicos em
é correto afirmar que, na Ética do Discurso, benefício da redução da poluição.
a) o processo de justificação das normas morais e o procedimento e) refere-se à atitude de retorno do homem à vida natural,
de deliberação das pretensões de validade de correção observando as leis da natureza e sua regularidade.
normativa são falíveis.
b) o formalismo da ética habermasiana é idêntico ao formalismo 19. (UEL) Leia o texto a seguir.
presente nas éticas de Kant e Bentham, pois desconsidera o
que resulta concretamente das normas morais.
c) o modelo monológico da ética kantiana é reformulado na
perspectiva de uma comunidade discursiva na qual os
participantes analisam as pretensões de validade tendo como
critério a força do melhor argumento.
d) o puro respeito à lei é considerado por Habermas como o
critério fundamental para conferir moralidade à ação, restando
excluídos do debate da ética discursiva os desejos e as
necessidades manifestados pelos indivíduos.
e) o princípio “U” possibilita que sejam acatadas normas que não
estejam sintonizadas com uma vontade universal, coadunando,
dessa forma, particularismo e universalismo ético.

17. (UEM - ADAPTADA) Jürgen Habermas (1929) pertenceu


inicialmente à escola de Frankfurt, também conhecida como
Teoria Crítica, antes de fazer seu próprio caminho de investigação
filosófica.
Sobre o pensamento de Jürgen Habermas, assinale o que for
correto. O ser humano, no decorrer da sua existência na face da terra
e graças à sua capacidade racional, tem desenvolvido formas de
a) Ao afastar-se da Escola de Frankfurt, Jürgen Habermas
explicação do que há no intuito de estabelecer um nexo de sentido
abandona, ao mesmo tempo, a teoria crítica da sociedade e a
entre os fenômenos e as experiências por ele vivenciados. Essas
crítica da razão instrumental.
vivências, à medida que são passíveis de expressão através das
b) Ao contrário de Max Horkheimer, Theodor W. Adorno e Walter construções simbólicas contidas na linguagem, apresentam um
Benjamin, Jürgen Habermas continua fiel ao materialismo caráter eminentemente social.
histórico, ou seja, à ortodoxia marxista. (HANSEN, Gilvan. Modernidade, Utopia e Trabalho. Londrina: Edições Cefil, 1999. p.13.)
c) A relação posta pela Filosofia positivista entre o objeto da
investigação científica e o sujeito que investiga é, para Jürgen Com base na obra Molhe Espiral, no texto e nos conhecimentos
Habermas, o caminho a ser adotado por uma racionalidade que sobre o pensamento de Habermas, assinale a alternativa correta.
deseja a emancipação humana. a) A linguagem, em razão de sua dimensão material, inviabiliza a
d) A racionalidade comunicativa, contida na Teoria da ação (re)produção simbólica da sociedade.
comunicativa de Jürgen Habermas, elabora-se na interação b) As construções simbólicas se valem do apreço instrumental e
intersubjetiva, mediatizada pela linguagem de sujeitos que do valor mercantil.
desejam alcançar, por meio do entendimento, um consenso c) A importância do simbólico na sociedade decorre de sua
autêntico. adequação aos parâmetros funcionais e técnicos.
d) A dimensão simbólica da sociedade é inerente à forma como o
18. (UEL) Elaborada nos anos de 1980, em um contexto de
homem assegura sentido à realidade.
preocupações com o meio ambiente e o risco nuclear, a Ética
do Discurso buscou reorientar as teorias deontológicas que a e) A forma de expressão dos elementos simbólicos na arena
antecederam. Um exemplo está contido no texto a seguir. social deve atender a uma utilidade prática.
De maior gravidade são as consequências que um conceito
restrito de moral comporta para as questões da ética do meio 20. (UEL) Sobre o pensamento de Habermas, é correto afirmar
ambiente. O modelo antropocêntrico parece trazer uma espécie de que, no modelo da democracia deliberativa, a noção de cidadania
cegueira às teorias do tipo kantiano, no que diz respeito às questões enfatiza
da responsabilidade moral do homem pelo seu meio ambiente. a) os direitos e as liberdades metafísicas.
(HABERMAS, Jürgen. Comentários à Ética do Discurso. Trad. de Gilda Lopes b) as liberdades individuais e a heteronomia.
Encarnação. Lisboa: Instituto Piaget, 1999, p.212.)
c) os direitos objetivos e o cerceamento da sociedade civil.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a Ética do Discurso, d) os direitos subjetivos e as liberdades cidadãs.
é correto afirmar que a ética
e) os direitos naturais originários e a submissão à autoridade.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 17
FILOSOFIA 26 ESCOLA DE FRANKFURT: PENSAMENTO DE HABERMAS

EXERCÍCIOS DE
APROFUNDAMENTO
01. (UEL) Leia o texto a seguir.
Desde o início dos anos oitenta, a ética discursiva de Jürgen Habermas teve como proposta reformular o programa universalista da
moral kantiana com base em uma teoria da competência comunicativa. Ao substituir a regra do imperativo categórico pelo princípio de
uma argumentação moral racional, a ética do discurso persegue a redefinição dos traços dentontológico, cognitivista e formalista do ponto
de vista moral.
(Adaptado de: LANGLOIS, L. Discurso Moral e Discurso Ético segundo Habermas: uma distinção fundada? In. ARAÚJO, L. B. L.; BARBOSA, R. J. C. (org.)
Filosofia Prática e Modernidade. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2003. p.53.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre Habermas, apresente os princípios do cognitivismo e do formalismo que caracterizam a
Ética do Discurso.

02. (UFPR) “A liberdade religiosa tem como contrapartida, de fato, uma pacificação do pluralismo das visões de mundo cujos custos
se mostraram desiguais. Até aqui, o Estado liberal só exige dos que são crentes entre seus cidadãos que dividam a sua identidade, por
assim dizer, em seus aspectos públicos e privados. São eles que têm de traduzir as suas convicções religiosas para uma linguagem
secular antes de tentar, com seus argumentos, obter o consentimento das maiorias. É assim que, quando querem reclamar o estatuto
de portador de direitos fundamentais para os óvulos fecundados fora do corpo materno, os católicos e protestantes procuram hoje
(talvez prematuramente) traduzir a imagem e semelhança a Deus da criatura humana para a linguagem secular do direito constitucional.
Mas a procura por argumentos voltados à aceitação universal só não levará a religião a ser injustamente excluída da esfera pública,
e a sociedade secular só será privada de importantes recursos para a criação de sentido, caso o lado secular se mantenha sensível
para a força de articulação das linguagens religiosas. Os limites entre os argumentos seculares e religiosos são inevitavelmente fluidos.
Logo, o estabelecimento da fronteira controversa deve ser compreendido como uma tarefa cooperativa em que se exija dos dois lados
aceitar também a perspectiva do outro. (...) O senso comum democraticamente esclarecido não é algo singular, mas algo que descreve a
constituição mental de uma esfera pública com muitas vozes”.
HABERMAS, Jürgen. Fé e saber. Editora São Paulo: Unesp, 2013, p. 15-16.

Uma vez que “os limites entre os argumentos seculares e religiosos são inevitavelmente fluidos”, qual é, segundo Habermas, a exigência
básica para que ocorra um trabalho cooperativo entre as tradições religiosas e a tradição secular do Estado liberal? Por quê?

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


“Há ortodoxias endurecidas tanto no Ocidente como no Oriente Médio e no Extremo Oriente; entre cristãos e judeus como entre
muçulmanos. Quem quer evitar a guerra de culturas precisa ter em mente a dialética inconclusa do nosso próprio processo ocidental de
secularização. A ‘guerra contra o terror’ não é uma guerra, e no terrorismo também se expressa um choque desastrosamente silencioso
de dois mundos que precisariam desenvolver uma linguagem comum, para além da violência muda dos terroristas e dos mísseis. Em
vista de uma globalização imposta por meio de mercados sem limites, muitos de nós têm a esperança de um retorno do político sob outra
forma – não a forma hobbesiana original de um Estado de segurança globalizado, ou seja, com dimensões de polícia, serviço secreto e
forças militares, mas de um poder mundial de configuração civilizadora. No momento não nos resta muito mais do que a pálida esperança
em alguma astúcia da razão – e um pouco de autorreflexão. Pois aquela ruptura muda cinde também a nossa própria casa. Nós só
conseguiremos aferir adequadamente os riscos de uma secularização que saiu dos trilhos em outros lugares, se tivermos claro o que
significa a secularização em nossas sociedades pós-seculares”.
HABERMAS, Jürgen. Fé e saber. Editora São Paulo: Unesp, 2013, p. 4.

03. (UFPR) Com base nos próprios termos de Habermas, em que consiste o “retorno do político”?

04. (UFPR) Considerando o que o autor compreende por “sociedades pós-seculares”, explique por que, para compreender “os riscos de
uma secularização que saiu dos trilhos”, é preciso ter “claro o que significa a secularização em nossas sociedades pós-seculares”.

05. (UFPR - ADAPTADA) No dia 09/09/2014, o jornal Gazeta do Povo publicou um editorial sob o título “O papel da religião no debate
público”, de onde extraímos o trecho abaixo e as seguintes manifestações dos seus leitores (com algumas adaptações):
Editorial: “Assim, a fé e as convicções inspiradas por ela não são aspectos que obrigatoriamente devam ficar restritos à intimidade de
cada um; ao contrário, têm lugar no debate público quando fazem suas reivindicações usando argumentos racionais – não basta ir à rua,
ou ao Congresso, ou ao Supremo Tribunal Federal, e se declarar contra ou a favor de algo ‘porque a Bíblia disse’. É justamente nisso que
se funda a laicidade: que as políticas de Estado sejam baseadas em princípios racionais – independentemente de quem os defenda, o que
não exclui os grupos religiosos –, e não nos dogmas desta ou daquela fé.”
Leitor 1: “Concordo com o Editorial e discordo dos que emitem opiniões sem fundamentação. Desafio-os a apresentar a base cientifica
para afirmar que as opiniões da religião não estão baseadas na razão, mas em dogmas.”
Leitor 2: “Eu discordo totalmente da ideia apresentada no editorial e o motivo é muito simples. Vejam os senhores que argumentos
científicos estão subordinados à lógica e à razão, enquanto as religiões baseiam-se em dogmas.”
Leitor 3: “Religião se baseia em um ser indeterminado e dogmas, portanto não há base racional alguma.”

Tendo em vista a perspectiva de Habermas, construa argumentos que expressem sua concordância ou sua discordância com qualquer um
dos pontos de vista acima defendidos, seja pelo editorial seja por qualquer um dos seus leitores.

18 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
26 ESCOLA DE FRANKFURT: PENSAMENTO DE HABERMAS FILOSOFIA

ANOTAÇÕES
GABARITO
.
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. B 05. D 09. B 13. C 17. D
02. C 06. C 10. B 14. B 18. B
03. D 07. B 11. D 15. A 19. D
04. C 08. E 12. E 16. C 20. D

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. A ética do discurso, como o próprio Habermas afirma, alia-se à razão prática kantiana.
Em linhas gerais, a ética do discurso implica as mesmas características da moral
kantiana, a saber, o cognitivismo, o formalismo e o universalismo. Destas características,
a questão em tela cobra o cognitivismo e o formalismo. O cognitivismo requer que as
questões de ordem prático-moral possam ser fundamentadas racionalmente. Isso
implica que as questões práticas podem ser justificadas, na medida em que o agente
apresente as razões pelas quais sua ação foi realizada em uma ou outra direção.
Defende-se que há, no âmbito da ação, uma pretensão de validade normativa análoga
à pretensão de verdade requerida para os fatos objetivos. O aspecto formal da ética do
discurso indica que ela não fornece conteúdos materiais nem normas concretas, mas
apenas um critério formal para a averiguação, via discurso, daquelas normas e regras
que podem encontrar aceitabilidade entre os possíveis concernidos, ou seja, aqueles que
suportarão o peso de normas acordadas. Nesse aspecto, valendo-se do discurso como
condição de tematização da validade normativa, a ética do discurso se ampara em regras
discursivas estabelecidas universalmente para validar o consenso fático alcançado em
relação a determinada norma. Assim, o consenso fático alcançado tem sua validade
estendida aos concernidos.

02. Para Habermas, a sociedade secular não está livre da perspectiva religiosa, ou seja,
as decisões que são tomadas no âmbito secular devem estar abertas a escutar todos
os que resistirem a uma decisão, pois o Estado liberal possui fundamentos morais
alicerçados exatamente naqueles que resistem e contestam as decisões seculares.
Mesmo na sociedade utilitarista ainda não houve a libertação das tradições religiosas, se
fazendo necessário ter cuidados nas decisões, pois segundo o filósofo, o que a sociedade
secular determina, não elimina de fato aquilo que ela considera uma perturbação. Sendo
assim, como os limites são fluídos, a chave para o trabalho cooperativo entre as tradições
religiosas e a tradição secular no estado liberal está alicerçada no diálogo, que visa o
desenvolvimento do consenso.

03. Para Habermas, o retorno do político consiste na recuperação da capacidade de


construção do espaço público nos quais a fala e o diálogo possam ser exercidos na busca
do consenso não coercitivo. Diferente da forma que Hobbes concebe o significado do
político, Habermas faz uma crítica a concepção deste filósofo que concebe que o “político”
deve ser regido pela força para garantir a segurança dos indivíduos. Para Habermas,
a construção do político não é atingida pela força, mas pelo consenso proporcionado
pelo diálogo. Esta concepção inaugura, assim, um ”novo poder mundial de configuração
civilizatória”.

04. Para Habermas, a mistura entre fé e razão ocorreu no fim da idade antiga e início da
idade média e permaneceu por um longo período, deixando raízes profundas no modo
de como os indivíduos compreendem e sentem o mundo. Com o desenvolvimento da
civilização surge a necessidade de separar por definitivo a questão da fé a razão a fim
de garantir uma igualdade entre os indivíduos. Assim, a secularização ocorre quando
o Estado se apropria das funções da igreja, isto é, quando o Estado pretende validar
racionalmente a fé em uma proporção simétrica (autocompreensão) a fim de efetivar
a separação por completo da fé e razão. Habermas observa que nas sociedades onde
este processo ocorreu de maneira inadequada ou incompleta (sociedades pós-seculares)
há o sentimento de perda, o sentimento de vazio que afeta o juízo do senso comum
esclarecido (proposto pela sociedade), gerando frustrações que representam um risco
para o desenvolvimento de um consenso.

05. Em concordância com o editorial, utilizando-se da perspectiva de Jürgen Habermas,


deve-se entender que, segundo este autor, a questão da fé e religião misturou-se no
fim da idade antiga e início da idade média. Esta forma de pensar acabou por moldar o
modo como o ocidente compreende a questão religiosa. Assim, pensando na justificativa
religiosa, Habermas entende que o conflito entre o senso comum, como fonte de
explicação imediata, e a razão, com a exigência da justificativa racional, na verdade é mal
compreendido. O autor percebe que uma destas concepções não se anula, pelo contrário,
ambas as formas se combinam e possuem possibilidade de compreensão e explicação
mútua. A maior dificuldade é o fato de que o Estado Liberal pretende determinar o
modo como os indivíduos devem perceber a questão religiosa, isto é, o estado secular
não compreende a questão da religião sob a visão de uma comunidade religiosa, mas
estabelece que as crenças devam ser entendias a partir da visão privada, exigindo uma
postura clara e pública da fé professada. Assim ocorre a separação da questão religiosa
com a questão racional. A exigência de uma tradução da fé para a linguagem racional
cria uma perda do sentimento religioso, apenas para que as maiorias deem o seu
consentimento em relação àquilo que o crente acredita, ampliando ainda mais o abismo
entre uma possível conciliação entre fé e razão.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 19
FILOSOFIA 26 ESCOLA DE FRANKFURT: PENSAMENTO DE HABERMAS

ANOTAÇÕES

20 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
27
FILOSOFIA
KARL MARX E A IDEOLOGIA

FILOSOFIA, HISTÓRIA E CONFLITOS ALIENAÇÃO E IDEOLOGIA


Um dos autores mais discutidos da humanidade, o pensador A luta de classes ocorre por relações de desigualdade entre
alemão é amplamente conhecido, entre outros motivos, por suas os indivíduos, necessitando assim ser encerrada, para que acabe
teorias sociais e entendimentos acerca do Socialismo, mas Marx a desigualdade. Entretanto, na visão marxista, as relações sociais
(1818 – 1883) representou no século XIX muito mais do que um de produção estão amparadas em um cenário tão amplo de
teórico, foi um ativo autor da realidade social europeia, concebendo desigualdades, exploração e opressão que a manutenção desse
a realidade como algo passível de alteração. Marx é um autor da cenário demanda que a classe dominante lance mão de estratégias
“Práxis”, compreende que a obra deva-se tornar prática, que deva para o controle de iniciativas transformadoras.
servir para alterar a realidade e não somente compreendê-la. Nessa conjuntura de relações sociais no modo capitalista
A obra marxista sofreu grande influência de Hegel, a dialética de produção, o trabalhador estabelece relações nas quais a sua
hegeliana serviu como inspiração para o entendimento histórico força de trabalho é transformada em mercadoria: há o trabalho,
das sociedades. Marx construiu o conceito de “Materialismo a produção de riqueza e a remuneração por isso. Entretanto, para
Histórico”, em que estabelece a história humana como história das Marx, há um elemento central nesse processo para entendimento
disputas econômicas e produtivas, essa percepção marxista trouxe da manutenção da exploração. O trabalho e o fruto do trabalho do
para o debate o conflito entre classes sociais. proletariado não pertencem completamente a ele. A jornada, o ritmo,
o que será produzido e, especialmente, o resultado do trabalho não
Marx vai estabelecer que se a sociedade é modificada por suas
pertencem ao trabalhador, mas são apropriados pela burguesia.
relações produtivas, aqueles que estão inferiores nesse processo
Dessa forma, ocorre um fenômeno chamado de alienação no qual
tendem a sofrer opressão e exploração, e vão buscar reagir em
o trabalho e o fruto do trabalho tornam-se estranhos, alheios ao
relação a elas. As classes sociais são antagônicas e conflituosas,
trabalhador, portanto, alienado.
passando por um processo que Marx chama de “Luta de Classes”.
É nesse cenário que atua a ideologia. Em sua vasta obra,
especialmente em A Ideologia Alemã, Marx entende a ideologia
como um conjunto de ideias e representações acerca da realidade
que buscam camuflar, encobrir e naturalizar a opressão, a
desigualdade e os conflitos de classes existentes. São visões de
mundo provenientes da classe dominante que busca transmitir
suas perspectivas como universais, dando a ilusão de que todos
compartilham daquelas mesmas formas de agir e interpretar a
realidade, mantendo certa harmonia social e a dominação de uma
classe sobre a outra.
Marx vai estabelecer que a única maneira de encerrar essa
luta é com o Socialismo, por estabelecer uma sociedade sem
propriedade privada e consequentemente sem relações dispares
nas relações produtivas. Após esse período conhecido como
Socialismo, estaríamos prontos para o Comunismo, um período
em que não existiriam mais classes e nem propriedade privada,
gerando assim o “fim da história”, já que sua força motriz estaria
encerrada.

EXERCÍCIOS
PROTREINO

01. Defina brevemente “práxis” na visão de Marx.

Estátua representando Karl Marx em Tréveris (Alemanha), 02. Aponte as principais características da “dialética” no contexto
sua cidade natal. filósofico.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e2/Karl-Marx-Statue_in_
Trier.jpg/320px-Karl-Marx-Statue_in_Trier.jpg 03. Defina brevemente “luta de classes” na visão de Marx.

A “Luta de Classes” ocorre de forma incessante ao longo da 04. Defina brevemente “alienação” na visão de Marx.
história, ao ponto de Marx dizer que a “A história da sociedade até
aos nossos dias é a história da luta de classes.”. Sempre ocorreu e 05. Aponte as principais características da “ideologia” na visão de
na visão Marxista vai ocorrer até acabarmos com sua força motriz. Marx.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 21
FILOSOFIA 27 KARL MARX E A IDEOLOGIA

I. os respectivos modos de produção.


II. a própria produção de sua vida material.
EXERCÍCIOS III. a forma de utilidade dos objetos produzidos em sociedade.
PROPOSTOS IV. o estado de desenvolvimento de sua consciência depende de
sua história de vida.
V. a produção dos meios de subsistência tendo em vista o bem
01. (UEG) O termo alienação é polêmico e possui diversas
comum da sociedade.
interpretações filosóficas e científicas. O filósofo Hegel foi um
dos primeiros a oferecer relevância para esse termo. A concepção Os fatores estão corretamente identificados em:
mais conhecida de alienação, no entanto, é a de Karl Marx, que a) I e II b) II e IV c) III e IV d) II e V e) I, III e V
desenvolveu uma discussão aprofundada sobre o trabalho
alienado, que, segundo ele, é 04. (UNCISAL) Observe o trecho da música “Admirável Gado Novo”,
a) um processo mental no qual o trabalhador se vê alienado e de Zé Ramalho, e perceba que sua análise pode nos levar a discutir
fora da realidade, ficando completamente alheio ao mundo, tal o conceito de alienação.
como diziam os alienistas do século XIX. O povo foge da ignorância
b) um termo filosófico abstrato e ideológico, que deveria ser Apesar de viver tão perto dela
substituído pelo conceito de exploração, que revelava a E sonha com melhores tempos idos
verdadeira relação entre capitalistas e trabalhadores. Contemplam essa vida numa cela...
Espera nova possibilidade
c) um conceito universal existente em todas as sociedades De ver este mundo se acabar
humanas, pois o ser humano precisa efetivar o trabalho para A Arca de Noé, o dirigível
sobreviver e, assim, é constrangido a fazer o que não gosta. Não voam nem se pode flutuar
d) uma relação social na qual o não-trabalhador controla a Seguindo o pensamento de Karl Marx, veremos que a alienação
atividade do trabalhador e, por conseguinte, o resultado do se dá em uma situação determinada que gera toda uma gama de
trabalho, explicando assim a origem da propriedade. desdobramentos e consequências. Tal situação ocorre na esfera
e) uma ideia ultrapassada produzida por filósofos materialistas a) religiosa, por meio das concepções escatológicas.
que queriam transferir a alienação da consciência, tal como
colocava Hegel, para o trabalho humano. b) cientifica, com a ampliação do conhecimento.
c) política, por meio da organização partidária.
02. (UEG) Para Marx, diante da tentativa humana de explicar a d) cultural, com o avanço da cultura de massa.
realidade e dar regras de ação, é preciso considerar as formas de e) produtiva, a partir das relações de produção.
conhecimento ilusório que mascaram os conflitos sociais. Nesse
sentido, a ideologia adquire um caráter negativo, torna-se um 05. (UNICENTRO) “Na produção social de sua existência, os homens
instrumento de dominação na medida em que naturaliza o que estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes
deveria ser explicado como resultado da ação histórico-social dos da sua vontade, relações de produção que correspondem a um
homens, e universaliza os interesses de uma classe como interesse determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas
de todos. A partir de tal concepção de ideologia, constata-se que materiais.”
a) a sociedade capitalista transforma todas as formas de IN: Karl Marx, Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Martins Fontes,
consciência em representações ilusórias da realidade 1977, p. 23. APUD: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires.
Filosofando – introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 4. ed., 2009.
conforme os interesses da classe dominante.
b) ao mesmo tempo que Marx critica a ideologia ele a considera A partir da análise desse fragmento de texto, é correto afirmar:
um elemento fundamental no processo de emancipação da a) A existência para Marx se reduz à transcendência.
classe trabalhadora. b) O pensamento marxista pode ser denominado de materialista
c) a superação da cegueira coletiva imposta pela ideologia é um mecanicista.
produto do esforço individual principalmente dos indivíduos da c) As relações de produção para Marx determinam a produção
classe dominante. social da existência.
d) a frase “o trabalho dignifica o homem” parte de uma noção d) As forças produtivas materiais não têm importância para o
genérica e abstrata de trabalho, mascarando as reais condições pensamento marxista.
do trabalho alienado no modo de produção capitalista.
e) O conceito de relações de produção, em Marx, está restrito às
classes dominantes.
03. (UFPA) “Pode-se referir à consciência, à religião e tudo o que se
quiser como distinção entre os homens e os animais; porém, esta 06. (UFSJ) Para Caio Prado Jr., a observação de Engels: “O núcleo
distinção só começa quando os homens iniciam a produção dos que encerra as verdadeiras descobertas de Hegel... o método
seus meios de vida [...]. dialético na sua forma simples em que é a única forma justa do
A forma como os indivíduos manifestam a sua vida reflete desenvolvimento do pensamento”, revela
muito exatamente o que são. O que são coincide portanto com a a) a herança da dialética hegeliana assumida por Karl Marx.
sua produção, isto é, com aquilo que produzem como com a forma
como produzem.” b) a filosofia de Marx com sua herança escolástica partilhada por
Marx, K. Ideologia Alemã, Lisboa: Editora Presença, 1980, p. 19.
Hegel.
c) a perspectiva dialética do Homem, que permite considerá-lo
Considerando que, segundo Marx, a maneira de ser do homem capaz de conceituar termos científicos no aspecto ou feição
depende de alguns fatores, identifique, no conjunto de fatores do Universo.
listados abaixo, os que, na visão do citado filósofo, distinguem o d) o tema central da filosofia, a saber, o desenvolvimento da
ser humano: dialética do ser humano, fator determinante do existencialismo
contemporâneo.

22 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
27 KARL MARX E A IDEOLOGIA FILOSOFIA

07. (UEMA) A palavra ideologia, criada por Destutt de Tracy (1754- 10. (UFU) Marx, no Prefácio de 1859 de Para a crítica da economia
1836), significa estudo da gênese e do desenvolvimento das ideias. política, afirma que “(...) na produção social da própria vida,
Com Karl Marx, o termo ideologia adquiriu um significado crítico os homens contraem relações determinadas necessárias e
e negativo. Identifique, nas opções abaixo, a única que contém independentes de sua vontade, relações de produção estas que
informação correta sobre a concepção de Marx sobre ideologia. correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento de
a) Conjunto de ideias que apresenta a sociedade dividida em duas suas forças produtivas materiais”.
classes, dominantes e dominados, visando à conscientização Nesse sentido, desenvolve também seu conceito de consciência,
dos indivíduos. que define como sendo determinada
b) Conjunto de ideias que mostra a totalidade da realidade, a) pela Filosofia. Assim, é o pensamento filosófico que forma as
levando os indivíduos a compreenderem-na em si mesma. consciências dos homens.
c) Conjunto de ideias que dissimula e oculta a realidade, b) pela produção espiritual dos homens. Assim, é a consciência
mostrando-a de maneira parcial e distorcida em relação ao que determina a produção social da vida e não a produção
que de fato é. social da vida que determina a consciência.
d) Conjunto de ideias que esclarece de forma contundente a c) pela religião. Assim, é toda a ética religiosa que determina a
realidade, mostrando que apenas pessoas da classe dominante consciência humana.
podem governar. d) pelo ser social dos homens. Assim, é a produção social da
e) Conjunto de ideias que estimula a classe dominada a alcançar vida que determina a consciência e não a consciência que
o poder. determina a produção social da vida.

08. (UFU) Em Marx, o conceito de ideologia designa uma forma 11. (UFU) “Para compreender a História, a análise marxista
de consciência invertida, que distorce e encobre as formas de remonta aos fundamentos materiais da ação humana, à produção
dominação existentes nas relações sociais. e à reprodução materiais da vida humana. Nela descobre as
leis históricas objetivas, mas não nega, no entanto, o papel da
Tomando isso em consideração, marque a alternativa que subjetividade na História. Apenas determina o lugar exato que
apresenta corretamente a relação entre os conceitos de estrutura e lhe cabe na totalidade objetiva da evolução da natureza e da
superestrutura no pensamento de Marx. sociedade.”
a) Marx afirma que a superestrutura projeta falsamente as LUKÁCS, G. Existencialismo ou marxismo. São Paulo: Senzala, 1967. p. 127.
relações sociais de produção como justas, e que uma
sociedade igualitária somente poderá surgir com a revolução A citação acima exprime, com rigor, o método materialista dialético,
da estrutura econômica da sociedade. concebido por Karl Marx para a investigação social, cujo propósito
b) Marx afirma que a superestrutura jurídica é o fundamento da era a transformação da sociedade, tendo em vista a superação do
divisão social do trabalho, e que toda revolução deve principiar capitalismo e a construção da sociedade sem classes.
com a alteração da legislação que regulamenta a atividade Com base na citação, assinale a alternativa correta.
econômica. a) Os fundamentos materiais da ação humana decorrem das
c) Marx afirma que os homens retêm em sua consciência uma relações sociais, manifestadas nas relações de produção, que
imagem transparente das relações sociais de produção, e que determinam o ser social do homem e interferem no mundo da
somente a alteração da consciência de cada indivíduo pode natureza.
conduzir à revolução dessas relações sociais de produção. b) A subjetividade é o motor da história, pois é ela, como
d) Marx afirma que a democracia burguesa e os partidos políticos consciência, que determina todo o progresso material e dirige
são o motor da história. Logo, toda revolução social principia no a integração do homem com a natureza, resultando, então, a
domínio político, que é a esfera em que podem se manifestar objetivação da natureza.
legitimamente os conflitos de interesses. c) As relações de produção, enquanto relações materiais
celebradas entre os homens, são relações mecânicas e
09. (UFU) Qual é a diferença entre o conceito de movimento independentes da vontade e da subjetividade humana, que se
histórico, em Hegel, e o de processo histórico, em Marx? submetem à lei natural.
a) Para Hegel, através do trabalho, os homens vão construindo d) A totalidade objetiva da evolução da natureza e da sociedade
o movimento da produção da vida material e, assim, o cumprem seu destino natural e realizam a sua finalidade, que
movimento histórico. Para Marx, a consciência determina cada é a harmonia, a paz e a prosperidade do homem graças ao
época histórica, desenvolvendo o processo histórico. trabalho assalariado.
b) Para Hegel, a História pode sofrer rupturas e ter retrocessos, por
isso utiliza-se do conceito de movimento da base econômica da 12. (UFU) Conforme Arruda e Aranha, o materialismo de Karl Marx
sociedade. Marx acredita que o modo de produção encaminhe diferencia-se do materialismo mecanicista. Analisando estas
para um objetivo final, que é a concretização da Razão. diferenças as autoras concluem:
c) Para Hegel, a História tem uma circularidade que não permite a [...] segundo o materialismo dialético, o espírito não é
continuidade. Para Marx, a História é construída pelo progresso consequência passiva da ação da matéria, podendo reagir sobre
da consciência dos homens que formam o processo histórico. aquilo que determina. Ou seja o conhecimento do determinismo
d) Para Hegel, a História é teleológica, a Razão caminha para liberta o homem por meio da ação deste sobre o mundo,
o conceito de si mesma, em si mesma. Marx não tem uma possibilitando inclusive a ação revolucionária.
visão linear e progressiva da História, sendo que, para ele, ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando.
São Paulo, Ed. Moderna, 2000, p. 241.
ela é processo, depende da organização dos homens para a
superação das contradições geradas na produção da vida Com base em seus conhecimentos e nas informações acima,
material, para transformar ou retroceder historicamente. assinale a alternativa correta.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 23
FILOSOFIA 27 KARL MARX E A IDEOLOGIA

a) Diferentemente dos idealistas, Marx considera que as 15. (UNESP) A condição essencial da existência e da supremacia
manifestações espirituais humanas derivam da estrutura da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos dos
material ou econômica da sociedade, mas não de modo particulares, a formação e o crescimento do capital; a condição de
absoluto, pois o espírito pode se libertar. existência do capital é o trabalho assalariado. [...] O desenvolvimento
b) Como em Marx, a estrutura material ou econômica determina da grande indústria socava o terreno em que a burguesia assentou
as manifestações do espírito, que será, em consequência, o seu regime de produção e de apropriação dos produtos. A
sempre passivo diante desta estrutura. burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros. Sua queda e
a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis.
c) Marx entende que o espírito é resultado da estrutura material
(Karl Marx e Friedrich Engels. “Manifesto Comunista”. Obras escolhidas, vol. 1, s/d.)
ou econômica da sociedade, por isso jamais pode modificá-la.
d) A dialética materialista de Marx sintetiza os momentos da Entre as características do pensamento marxista, é correto citar
realização da razão na história e não o agir histórico que realiza a) o temor perante a ascensão da burguesia e o apoio à
os conteúdos da razão. internacionalização do modelo soviético.
b) o princípio de que a história é movida pela luta de classes e a
13. (UFU) Para Marx, o materialismo histórico é a aplicação do
defesa da revolução proletária.
materialismo dialético ao campo da história. Conforme Aranha
e Arruda (2000) “Marx inverte o processo do senso comum que c) a caracterização da sociedade capitalista como jurídica e
pretende explicar a história pela ação dos ‘grandes homens’ ou, socialmente igualitária.
às vezes, até pela intervenção divina. Para o marxismo, no lugar d) o reconhecimento da importância do trabalho da burguesia na
das ideias, estão os fatos materiais; no lugar dos heróis, a luta de construção de uma ordem socialmente justa.
classes”. e) a celebração do triunfo da revolução proletária europeia e o
Assim, para compreender o homem é necessário analisar as desconsolo perante o avanço imperialista.
formas pelas quais ele reproduz suas condições de existência, pois
são estas que determinam a linguagem, a religião e a consciência. 16. (UNICAMP) A história de todas as sociedades tem sido a história
(ARANHA, M. L. de A. e MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. das lutas de classe. Classe oprimida pelo despotismo feudal, a
São Paulo: Moderna, 2000, p. 241.)
burguesia conquistou a soberania política no Estado moderno, no
qual uma exploração aberta e direta substituiu a exploração velada
A partir da explicação acima e dos seus conhecimentos sobre
por ilusões religiosas.
o pensamento de Karl Marx, assinale a alternativa que indica,
corretamente, os dois níveis de “condições de existência” para Marx. A estrutura econômica da sociedade condiciona as suas formas
jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas. Não é a consciência
a) Infraestrutura (ou estrutura), caracterizada pelas relações
do homem que determina o seu ser, mas, ao contrário, são as relações
dos homens entre si e com a natureza; e superestrutura,
de produção que ele contrai que determinam a sua consciência.
caracterizada pelas estruturas jurídico-políticas e ideológicas.
(Adaptado de K. Marx e F. Engels, Obras escolhidas.
b) Infraestrutura (ou estrutura), caracterizada pelas relações dos São Paulo: AlfaÔmega, s./d., vol 1, p. 21-23, 301-302.0
homens entre si e com a natureza; e materialismo dialético, que
é na verdade a forma pela qual o homem produz os meios de As proposições dos enunciados acima podem ser associadas ao
sobrevivência. pensamento conhecido como
c) Modos de produção, caracterizados pelo pensamento filosófico a) materialismo histórico, que compreende as sociedades
dos socialistas utópicos; e o imperialismo, característica humanas a partir de ideias universais independentes da
máxima do capitalismo industrial. realidade histórica e social.
d) Imperialismo, característica do capitalismo industrial; e b) materialismo histórico, que concebe a história a partir da luta
infraestrutura (ou estrutura), caracterizada pelas relações dos de classes e da determinação das formas ideológicas pelas
homens entre si e com a natureza. relações de produção.
c) socialismo utópico, que propõe a destruição do capitalismo por
14. (UEMA) O Maranhão vive a expectativa da implantação de meio de uma revolução e a implantação de uma ditadura do
um grande polo siderúrgico. De um lado, o discurso afirma que proletariado.
os maranhenses terão um momento de desenvolvimento com a d) socialismo utópico, que defende a reforma do capitalismo,
geração de emprego e renda. Do outro, o discurso versa sobre o com o fim da exploração econômica e a abolição do Estado por
impacto ambiental para a população. meio da ação direta.
Ambos os discursos são ideológicos, embora diferentes, pois há
vários sentidos para a palavra ideologia que, segundo Karl Marx, 17. (UEG)
adquiriu um sentido negativo, como instrumento de dominação,
que tem como função:
a) produzir uma divergência entre as classes.
b) enfatizar as diferenças, como as de classe, e de fornecer aos
membros da sociedade um sentimento de identidade social.
c) desenvolver consciência crítica na relação dos homens entre si
e suas condições de existência.
d) dar aos membros da sociedade dividida em classes um sentido
de desigualdade entre todos.
e) dar aos membros da sociedade dividida em classes uma
explicação racional para as diferenças sociais, políticas e
econômicas.

24 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
27 KARL MARX E A IDEOLOGIA FILOSOFIA
Algumas pessoas conseguem mais do que outras nas
sociedades – mais dinheiro, mais prestígio, mais poder, mais 20. (UEL) No capitalismo, os trabalhadores produzem todos os
vida, e tudo aquilo que os homens valorizam. Tais desigualdades objetos existentes no mercado, isto é, todas as mercadorias; após
criam divisões na sociedade – divisões com respeito a idade, sexo, havê-las produzido, entregam-nas aos proprietários dos meios
riqueza, poder e outros recursos. Aqueles no topo dessas divisões de produção, mediante um salário; os proprietários dos meios de
querem manter sua vantagem e seu privilégio; aqueles no nível produção vendem as mercadorias aos comerciantes, que as colocam
inferior querem mais e devem viver em um estado constante de no mercado de consumo; e os trabalhadores ou produtores dessas
raiva e frustração [...]. Assim, a desigualdade é uma máquina que mercadorias, quando vão ao mercado de consumo, não conseguem
produz tensão nas sociedades humanas. É a fonte de energia por comprá-las. [...] Embora os diferentes trabalhadores saibam que
trás dos movimentos sociais, protestos, tumultos e revoluções. produziram as diferentes mercadorias, não percebem que, como
As sociedades podem, por um período de tempo, abafar essas classe social, produziram todas elas, isto é, que os produtores de
forças separatistas, mas, se as severas desigualdades persistem, a tecidos, roupas, alimentos [...] são membros da mesma classe
tensão e o conflito pontuarão e, às vezes, dominarão a vida social. social. Os trabalhadores se veem como indivíduos isolados [...], não
TURNER, Jonathan H. Sociologia: Conceitos e aplicações. se reconhecem como produtores da riqueza e das coisas.
São Paulo: Pearson, 2000. p. 111. (Adaptado).
(CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. 13 ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 387.)

A observação da figura e a leitura do texto permitem inferir: Com base no texto e nos conhecimentos sobre alienação e
a) no plano social, a igualdade humana está explícita em dois ideologia, considere as afirmativas a seguir:
setores bem definidos: na Justiça, segundo a qual todos são a) A consciência de classe para os trabalhadores resulta da
iguais perante a lei, e na educação, em que todos devem ter vontade de cada trabalhador em superar a situação de
oportunidades iguais; essas práticas são vivenciadas pela exploração em que se encontra sob o capitalismo.
sociedade brasileira. b) É no mercado que a exploração do trabalhador torna-se
b) segundo Karl Marx, aqueles que possuem ou controlam os explícita, favorecendo a formação da ideologia de classe.
meios de produção têm poder, sendo capazes de manipular c) A ideologia da produção capitalista constitui-se de imagens e
os símbolos culturais através da criação de ideologias que ideias que levam os indivíduos a compreenderem a essência
justifiquem seu poder e seus privilégios. das relações sociais de produção.
c) a estratificação de classes existe quando renda, poder e prestígio d) As mercadorias apresentam-se de forma a explicitar as relações
são dados igualmente aos membros de uma sociedade, de classe e o vínculo entre o trabalhador e o produto realizado.
gerando, portanto, grupos culturais, comportamentais e
organizacionais semelhantes. e) O processo de não identificação do trabalhador com o produto
de seu trabalho é o que se chama alienação. A ideologia liga-se
d) a estratificação, na visão de Karl Marx, mostra que a luta de a este processo, ocultando as relações sociais que estruturam
classes não se polariza entre o ter e o não ter e envolve mais do a sociedade.
que a ordem econômica.

18. (UNICAMP) Da perspectiva do senso comum, dizer que


EXERCÍCIOS DE
uma ideia ou uma declaração é “ideológica” implica sugerir sua
falsidade, o que logicamente leva à conclusão de que seu oposto APROFUNDAMENTO
é a verdade. Esse binarismo é uma forma de construir visões de
mundo simplistas e manipuláveis, que ocultam interesses sociais. 01. (UFU) Leia a citação a seguir.
Sobre o conceito de ideologia, é correto afirmar: [...] o homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo.
a) desde o seu nascimento, ele se mantém inalterado, e tem o O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Esse
mesmo significado para as diferentes classes sociais. Estado e essa sociedade produzem a religião, uma consciência
b) o aspecto útil do conceito é que ele permite associar ideias e invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido.
produtos ao exercício do poder. MARX, K. Crítica da filosofia do direito de Hegel. Tradução de Rubens Enderle e
Leonardo de Deus. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013, p. 151 – grifos do autor.
c) a neutralidade é a chave de sua definição, já que, entre o falso e
o verdadeiro, está o posicionamento social neutro. Responda:

d) a tendência é o seu fim como instrumento de análise social, a) Quando Marx afirma que “o homem não é um ser abstrato”, ele
privilegiando a objetividade no tratamento da realidade. aponta para a condição efetiva da existência humana e para a
sua historicidade. Então, quais relações são responsáveis pela
vida concreta do homem?
19. (UFU) E se, em toda ideologia, os homens e suas relações
aparecem invertidos como numa câmara escura, tal fenômeno b) Explique o que é a “consciência invertida do mundo”, segundo
decorre de seu processo histórico de vida, do mesmo modo porque Marx.
a inversão dos objetos na retina decorre de seu processo de vida
diretamente físico. 02. (UFU) Na obra Introdução à História da Filosofia, Hegel
expressou o seguinte juízo:
MARX, Karl, A ideologia alemã. São Paulo: Hucitec, 1987. p. 37.
“Na realidade, porém, tudo o que somos, somo-lo por obra
Com essa famosa metáfora, Marx realiza a definição de ideologia da história; ou para falar com maior exatidão, do mesmo modo
como inversão da realidade, da qual decorre para ele que na história do pensamento o passado é apenas uma parte,
assim no presente, o que possuímos de modo permanente está
a) a alienação da classe trabalhadora. inseparavelmente ligado com o fato da nossa existência histórica.
b) a consciência de classe dos trabalhadores. O patrimônio da razão autoconsciente que nos pertence não surgiu
c) a existência de condições para a práxis revolucionária. sem preparação, nem cresceu só do solo atual, mas é característica
de tal patrimônio o ser herança e, mais propriamente, resultado do
d) a definição de classes sociais. trabalho de todas as gerações precedentes do gênero humano.”
Hegel. Introdução à História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1989.
Coleção “Os Pensadores”, p. 87.

Aponte a diferença fundamental entre a concepção de história de


Hegel e a de Marx.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 25
FILOSOFIA 27 KARL MARX E A IDEOLOGIA

03. (UFU) Considere o fragmento abaixo. riqueza e permitida a todos a partilha de sua fruição, a má vontade e
“O modo de produção da vida material condiciona o processo a hostilidade desapareceriam entre os homens. (…) Mas sou capaz
em geral de vida social, político e espiritual.” de reconhecer que as premissas psicológicas em que o sistema se
MARX, K. Prefácio de 1859 de Para a crítica da Economia Política.
baseia são uma ilusão insustentável. (…) A agressividade não foi
Col. Os Pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1978. criada pela propriedade. (…) Certamente (…) existirá uma objeção
muito óbvia a ser feita: a de que a natureza, por dotar os indivíduos
Explique como é determinada a consciência, segundo Karl Marx com atributos físicos e capacidades mentais extremamente
(1818-1883). desiguais, introduziu injustiças contra as quais não há remédio.
(Sigmund Freud. Mal-estar na civilização, 1930. Adaptado.)
04. (UFPR) Os processos históricos cumprem um papel de
fundamental importância na teoria social marxista. A história e Qual a diferença que os dois textos estabelecem sobre a relação
suas diferentes formas de representação auxiliaram Karl Marx entre a propriedade privada e as tendências de hostilidade e
e Friedrich Engels na composição de suas análises sobre as agressividade entre os homens e as nações? Explicite, também, a
sociedades capitalistas, bem como na elaboração de conceitos diferença entre os métodos ou pontos de vista empregados pelos
como de “alienação”, “dialética”, “materialismo”, “práxis” ou mesmo autores dos textos para analisar a realidade.
“capital”. Noutras palavras: qualquer teoria, por mais abstrata que
possa nos parecer, somente fará sentido se compreendida a partir GABARITO
dos processos históricos que a engendram e a tornam necessária .
no momento em que é formulada. Assim, segundo argumento EXERCÍCIOS PROPOSTOS
de Tânia Quintaneiro, “os economistas do tempo de Marx não 01. D 05. C 09. D 13. A 17. B
reconhecem a historicidade dos fenômenos que se manifestam 02. D 06. A 10. D 14. E 18. B
na sociedade capitalista, por isso suas teorias são comparáveis às 03. A 07. C 11. A 15. B 19. A
dos teólogos, para os quais ‘toda religião estranha é pura invenção 04. E 08. A 12. A 16. B 20. E
humana, enquanto a deles próprios é uma emanação de Deus’.
Ele questiona a perspectiva para a qual as relações burguesas de EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
produção são naturais, estão de acordo com as leis da natureza, 01. a) A teoria marxista, em oposição à filosofia idealista hegeliana que caracteriza
como se fossem ‘independentes da influência do tempo’, sendo por o indivíduo em uma perspectiva abstrata, pressupõe as relações materiais como as
isso consideradas como ‘leis eternas que devem reger sempre a responsáveis pela vida concreta do homem. Assim, seriam as relações de produção,
entre as quais se destacam as relações de trabalho, identificadas na base material da
sociedade. De modo que até agora houve na história, mas agora sociedade, ou seja, na infraestrutura, que se daria a luta de classes, conceito fundamental
já não há’. Assim, as instituições feudais teriam sido históricas, para a análise social proposta por Marx.
ironiza, mas as burguesas seriam naturais e, portanto, ‘imutáveis’. b) A crítica à religião elaborada por Marx aponta que a mesma é um produto ideológico
Para Marx, tanto os processos ligados à produção são transitórios, da burguesia – tomando o conceito de ideologia marxista, ou seja, de que a ideologia é
como as ideias, gostos, crenças, categorias dos conhecimentos um mascaramento da realidade – na medida em que legitima o Estado burguês a partir
de um fundamento abstrato. Esse produto ideológico seria uma “consciência invertida
e ideologias, os quais, gerados socialmente, dependem do modo do mundo” pois, segundo Marx, busca estabelecer que a superestrutura determinaria a
como os indivíduos se organizam para produzir. Portanto, o infraestrutura, ou seja, a base material da sociedade, quando, na realidade, ocorreria o
pensamento e a consciência são, em última instância, decorrência inverso: as relações materiais de produção determinariam a superestrutura.
da relação homem/natureza, isto é, das relações materiais” 02. A diferença fundamental entre a concepção hegeliana e a marxista é o seu pressuposto.
(QUINTANEIRO, Tânia et. al. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim, Weber. Hegel é um idealista, enquanto que Marx é um materialista. O hegelianismo pensa
Belo Horizonte, 2003, p. 31). o processo histórico como um processo de desenvolvimento da Razão. É dela que se
extraem as relações materiais. Já o marxismo pensa de maneira inversa. Segundo Marx,
A partir da passagem acima, explique como esse entendimento a história é um processo de produção da vida material e as ideias lhe são posteriores, são
o resultado das relações materiais de existência.
de Marx sobre a história e seus processos materiais de produção
oferece-nos uma explicação sobre a formação do capitalismo 03. Toda a análise marxista parte de um ponto básico: o modo de produção da vida
material. A partir disso, Marx identifica a luta de classes como motor da história. Nesse
moderno, bem como das teorias que o consideram “natural” no sentido, a produção da consciência é determinada por essas relações materiais. A
processo de “evolução” das sociedades humanas. consciência humana será, portanto, ou uma ideologia ou uma consciência de classe. A
ideologia é a forma de pensar produzida pelas inversões do sistema, sendo comprometida
com a classe dominante e com a manutenção da exploração do homem pelo homem. A
05. (UNESP) Leia os textos. consciência de classe, em contrapartida, resulta de uma justa interpretação das relações
sociais e materiais existentes e corresponde à percepção do papel político transformador
TEXTO 1 que a pessoa possui ao fazer parte de uma determinada classe social.
Ora, a propriedade privada atual, a propriedade burguesa, 04. De acordo com a teoria marxista, a história é resultado da luta de classes. Assim, o
é a última e mais perfeita expressão do modo de produção e de capitalismo é a síntese de lutas entre classes dominantes e dominadas, produzindo a
apropriação baseado nos antagonismos de classes, na exploração diferenciação entre burguesia e proletariado. Por não perceberem essa transformação
material, muitos teóricos acabavam desenvolveram teorias que são, na realidade, uma
de uns pelos outros. Neste sentido, os comunistas podem resumir ideologia que nega e ignora a luta de classes e a exploração do homem pelo homem.
sua teoria nesta fórmula única: a abolição da propriedade privada. Essas teorias então reforçam a dominação de classe ao aparecerem como “naturais” e
(…) fora da história.

(…) 05. A diferença entre a abordagem marxista e a freudiana exemplifica a oposição clássica
entre sociologia e psicologia acerca da análise sobre a realidade. Enquanto Marx e Engels
A ação comum do proletariado, pelo menos nos países extraem da estrutura social a explicação para a hostilidade, Freud faz sua análise a
civilizados, é uma das primeiras condições para sua emancipação. partir dos atributos psicológicos dos homens. Nesse sentido, Marx e Engels consideram
como sendo a propriedade privada a expressão dos antagonismos de classe e a origem
Suprimi a exploração do homem pelo homem e tereis suprimido a da hostilidade entre as nações. Freud, em contrapartida, considera que ainda que seja
exploração de uma nação por outra. Quando os antagonismos de abolida a propriedade privada, persistirão as injustiças, a má vontade e a hostilidade entre
classes, no interior das nações, tiverem desaparecido, desaparecerá os homens, dado que o homem é naturalmente agressivo.
a hostilidade entre as próprias nações. ANOTAÇÕES
(Marx e Engels. Manifesto comunista, 1848.)

TEXTO 2
Os comunistas acreditam ter descoberto o caminho para nos
livrar de nossos males. Segundo eles, o homem é inteiramente
bom e bem disposto para com seu próximo, mas a instituição
da propriedade privada corrompeu-lhe a natureza. (…) Se a
propriedade privada fosse abolida, possuída em comum toda a

26 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
28
FILOSOFIA
NIETZSCHE E O NIILISMO

NIETZSCHE E A MORAL cristianismo. Sócrates iniciou uma decadência da humanidade,


que foi aprofundada com os valores de uma “moral escrava”
Nietzsche (1844 – 1900) vai estabelecer que certos valorizada pelo cristianismo. A prática cristã tornou pecado valores,
comportamentos sociais são representativos de uma moral prazeres e vontades presentes no homem, o cristianismo seria um
de controle, que busca conter os indivíduos e suas revoltas. O platonismo para as massas. O sentimento de culpa trazido pelo
pensador feriu ferozmente a moral que previne a rebeldia dos pecado domestica o homem, controla e se volta contra ele. A moral
sujeitos rebaixados, das classes subordinadas e presas contra a escrava gera repouso e passividade. Essa moral escrava suprime
classe elevada e aristocrática. elementos fundamentais da vida como a criação, invenção e a
Com elevado espírito de combate às posições alçadas, ele se valorização dos instintos, presentes na “moral dos senhores”.
lança contra os “ídolos” (referência a Francis Bacon), as ilusões
remotas e jovens do Ocidente: a moral religiosa, os grandes
equívocos da filosofia, as ideias e as disposições modernas e seus O FILÓSOFO E O NIILISMO
emissários. Levando a sua mais famosa frase: “Deus está morto: Um autor do Niilismo vai ter como base a destruição de
não existe qualquer instância superior, eterna. O Homem depende paradigmas aceitos através de convenções sociais. Nietzsche
apenas de si mesmo”. busca romper com as verdades ditas e colocadas como
O Nietzsche vai trazer um entendimento da vida como inquestionáveis, um rompimento com a moral do rebanho, uma
irracionalidade, destruição e sofrimento. O lidar com a vida pode tentativa de destruir todo pensamento baseado em contratos
ocorrer com dois instintos fundamentais: o dionisíaco e apolíneo. O estabelecidos. Além disso, a moral tradicional formula uma
dionisíaco está vinculado aos prazeres, desejos e vontades sexuais, perspectiva metafísica que cria um mundo superior, que não é real
o apolíneo está inteirado à moderação, ao controle e à realização e alcançado pelo pensamento humano.
da norma. O homem ao longo do tempo teve seu estado apolíneo O Niilismo vai representar a quebra da ordem, dos valores,
sendo sobreposto ao dionisíaco, gerando uma desvalorização da das normas estabelecidas e principalmente uma grande crítica à
busca de prazeres e desejos. ordem vigente na Filosofia, que buscava expressar a razão como
real instrumento para responder às questões da sociedade. Muitas
interpretações da obra de Nietzsche dão conta de associá-lo ao
niilismo, mas outras tantas não concordam com essa visão, pois
entendem que o niilismo tende a manter o homem numa posição
de mediocridade e uniformidade. Ao contrário, Nietzsche defende a
potência, a “vontade de poder”, superando explicações metafísicas
e que inibem a ação, valorizando a realização humana, a criação e o
nascimento de novos valores.

Capa da primeira edição de Genealogia da Moral (1887)

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/99/Genealogie_der_Moral_cover.jpg

A crítica a Sócrates ocorre por considerar que o pensador


grego permitiu que a moderação e o espírito apolíneo fossem https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1b/Nietzsche187a.jpg
valorizados. A história da Filosofia, ao valorizar o racional, gerou
essa valorização, que foi corroborada ao longo do tempo pelo

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 27
FILOSOFIA 28 NIETZSCHE E O NIILISMO

03. (UNESP) “Em algum remoto rincão do sistema solar cintilante


EXERCÍCIOS em que se derrama um sem-número de sistemas solares, havia
PROTREINO uma vez um astro em que animais inteligentes inventaram o
conhecimento.
Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da história
01. Aponte as principais características do Niilismo. universal: mas também foi somente um minuto. Passados poucos
fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os animais inteligentes
02. Aponte brevemente uma crítica de Nietzsche à metafísica. tiveram de morrer. - Assim poderia alguém inventar uma fábula
03. Aponte as principais críticas de Nietzsche em relação à “moral de e nem por isso teria ilustrado suficientemente quão lamentável,
controle”. quão fantasmagórico e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica
o intelecto humano dentro da natureza. Houve eternidades em
04. Aponte as principais características do estado apolíneo, segundo que ele não estava; quando de novo ele tiver passado, nada terá
Nietzsche. acontecido. Ao contrário, ele é humano, e somente seu possuidor
e genitor o toma tão pateticamente, como se os gonzos do mundo
05. Aponte as principais características do estado dionisíaco, segundo
girassem nele. Mas se pudéssemos entender-nos com a mosca,
Nietzsche.
perceberíamos então que também ela boia no ar [...] e sente em si o
centro voante deste mundo”.
(NIETZSCHE. O Livro das Citações, 2008.)

Sobre o texto, é correto afirmar que:


EXERCÍCIOS
a) Seu teor acerca do lugar da humanidade na história do universo
PROPOSTOS é antropocêntrico.
b) O autor revela uma visão de mundo cristã.
01. (ENEM PPL) Eis o ensinamento de minha doutrina: “Viva c) O autor apresenta uma visão cética acerca da importância da
de forma a ter de desejar reviver – é o dever –, pois, em todo humanidade na história do universo.
caso, você reviverá! Aquele que ama antes de tudo se submeter,
obedecer e seguir, que obedeça! Mas que saiba para o que dirige d) Ao comparar a vida humana com a vida de uma mosca,
sua preferência, e não recue diante de nenhum meio! É a eternidade Nietzsche corrobora os fundamentos de diversas teologias,
que está em jogo!”. não se limitando ao ponto de vista cristão.
NIETZSCHE apud FERRY, L. Aprender a viver: filosofia para os novos tempos. Rio de e) Para o filósofo, a vida humana é eterna.
Janeiro: Objetiva, 2010 (adaptado).

04. (UECE) “Não existe contraposição maior à exegese e justificação


O trecho contém uma formulação da doutrina nietzscheana do puramente estética do mundo [...] do que a doutrina cristã, a qual é
eterno retorno, que apresenta critérios radicais de avaliação da e quer ser somente moral, e com seus padrões absolutos, já com
a) qualidade de nossa existência pessoal e coletiva. sua veracidade de Deus, por exemplo, desterra a arte, toda arte, ao
b) conveniência do cuidado da saúde física e espiritual. reino da mentira – isto é, nega-a, reprova-a, condena-a.”
NIETZSCHE, F. O nascimento da tragédia, ou helenismo e pessimismo. –
c) legitimidade da doutrina pagã da transmigração da alma. “Tentativa de autocrítica”. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 19.
d) veracidade do postulado cosmológico da perenidade do
mundo. Nessa passagem, Nietzsche
e) validade de padrões habituais de ação humana ao longo da a) apoia a valorização moral da obra de arte, negando que seja
história. possível obras de arte divergentes da moral cristã.
b) defende uma arte verdadeira, contra a arte cristã, que adere à
02. (ENEM) A filosofia grega parece começar com uma ideia mentira, pois não passa de uma moral.
absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas c) concebe que os padrões absolutos do cristianismo são
as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? supraestéticos, suprassensíveis, e por isso valorizam a arte.
Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição
enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, d) critica a concepção moral da existência em defesa do caráter
porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, sensível, estético do mundo, tal como se configura na arte.
porque nela embora apenas em estado de crisálida, está contido o
pensamento: Tudo é um. 05. (UNESP) Convicção é a crença de estar na posse da verdade
NIETZSCHE. F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural. 1999 absoluta. Essa crença pressupõe que há verdades absolutas,
que foram encontrados métodos perfeitos para chegar a elas e
O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da que todo aquele que tem convicções se serve desses métodos
filosofia entre os gregos? perfeitos. Esses três pressupostos demonstram que o homem
das convicções está na idade da inocência, e é uma criança, por
a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os
adulto que seja quanto ao mais. Mas milênios viveram nesses
elementos sensíveis em verdades racionais.
pressupostos infantis, e deles jorraram as mais poderosas fontes
b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e de força da humanidade. Se, entretanto, todos aqueles que faziam
das coisas. uma ideia tão alta de sua convicção houvessem dedicado apenas
c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira metade de sua força para investigar por que caminho haviam
das coisas existentes. chegado a ela: que aspecto pacífico teria a história da humanidade!
d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre (Nietzsche. Obras incompletas, 1991. Adaptado.)

as coisas.
e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que
existe no real.

28 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
28 NIETZSCHE E O NIILISMO FILOSOFIA

Nesse excerto, Nietzsche O texto exprime uma construção alegórica, que traduz um
a) defende o inatismo metafísico contra as teses empiristas entendimento da doutrina niilista, uma vez que
sobre o conhecimento. a) reforça a liberdade do cidadão.
b) valoriza a posse da verdade absoluta como meio para a b) desvela os valores do cotidiano.
realização da paz. c) exorta as relações de produção.
c) defende a fé religiosa como alicerce para o pensamento crítico. d) destaca a decadência da cultura.
d) identifica a maturidade intelectual com a capacidade de e) amplifica o sentimento de ansiedade.
conhecer a verdade absoluta.
e) valoriza uma postura crítica de autorreflexão, em oposição ao 09. (UEG) Friedrich Nietzsche (1844-1900) é um importante e
polêmico pensador contemporâneo, particularmente por sua
dogmatismo.
famosa frase “Deus está morto”. Em que sentido podemos
interpretar a proclamação dessa morte?
06. (ENEM PPL) Jamais deixou de haver sangue, martírio e
sacrifício, quando o homem sentiu a necessidade de criar em si a) O Deus que morre é o Deus cristão, mas ainda vive o deus-
uma memória; os mais horrendos sacrifícios e penhores, as mais natureza, no qual o homem encontrará uma justificativa e um
repugnantes mutilações (as castrações, por exemplo), os mais consolo para sua existência sem sentido.
cruéis rituais, tudo isto tem origem naquele instinto que divisou na b) Não fomos nós que matamos Deus, ele nos abandonou na
dor o mais poderoso auxiliar da memória. medida em que não aceitamos o fato de que essa vida só poderá
NIETZSCHE, F. Genealogia da moral. São Paulo: Cia. das Letras, 1999. ser justificada no além, uma vez que o devir não tem finalidade.
c) O Deus que morre é o deus-mercado, que tudo nivela à condição
O fragmento evoca uma reflexão sobre a condição humana e a de mercadoria, entretanto o Deus cristão poderá ainda nos
elaboração de um mecanismo distintivo entre homens e animais, salvar, desde que nos abandonemos à experiência de fé.
marcado pelo(a)
d) A morte de Deus não se refere apenas ao Deus cristão, mas
a) racionalidade científica. d) domínio da contingência. remete à falta de fundamento no conhecimento, na ética, na
b) determinismo biológico. e) consciência da existência. política e na religião, cabendo ao homem inventar novos valores.
c) degradação da natureza. e) A morte de Deus serve de alerta ao homem de que nada é
infinito e eterno, e que o homem e sua existência são momentos
07. (UNESP) Jamais um homem fez algo apenas para outros e sem fugazes que devem ser vividos intensamente.
qualquer motivo pessoal. E como poderia fazer algo que fosse sem
referência a ele próprio, ou seja, sem uma necessidade interna? Como 10. (UPE-SSA 2) Sobre a consciência crítica, considere o texto a seguir:
poderia o ego agir sem ego? Se um homem desejasse ser todo amor O homem é corda estendida entre o animal e o Super-homem:
como aquele Deus, fazer e querer tudo para os outros e nada para uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar;
si, isto pressupõe que o outro seja egoísta o bastante para sempre perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. O que é de grande
aceitar esse sacrifício, esse viver para ele: de modo que os homens valor no homem é ele ser uma ponte e não um fim; o que se pode
do amor e do sacrifício têm interesse em que continuem existindo amar no homem é ele ser uma passagem e um acabamento. Eu
os egoístas sem amor e incapazes de sacrifício, e a suprema só amo aqueles que sabem viver como que se extinguindo, porque
moralidade, para poder subsistir, teria de requerer a existência da são esses os que atravessam de um para outro lado.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. São Paulo, 1999, p. 27.
imoralidade, com o que, então, suprimiria a si mesma.
(Friedrich Nietzsche. Humano, demasiado humano, 2005. Adaptado.) O filósofo Nietzsche elucida, sobre a consciência crítica e a filosofia,
que
A reflexão do filósofo sobre a condição humana apresenta
a) o valor da natureza íntima do homem está na pura razão e não
pressupostos
na vontade de viver.
a) psicológicos, baseados na crítica da inconsistência subjetiva
b) a dimensão existencial tem importância e conduz à exaltação
da moral cristã. da vida e à superação do homem.
b) cartesianos, baseados na ideia inata da existência de Deus na c) a virtude do homem está na superação do existir para alcançar
substância pensante. a salvação.
c) estoicistas, exaltadores da apatia emocional como ideal de d) o homem deve renunciar à vida e buscar o sentido do super-
uma vida sábia. homem na transcendência.
d) éticos, defensores de princípios universais para orientar a e) a consciência crítica é a supressão da vontade de viver, já que
conduta humana. o homem é o Super-homem.
e) metafísicos, uma vez que é alicerçada no mundo inteligível
platônico. 11. (UEG) Para Nietzsche, uma educação superior da humanidade
exigiria uma transvaloração de todos os valores que têm como
08. (ENEM) Vi os homens sumirem-se numa grande tristeza. frente de combate a transvaloração platônico-cristã. Em relação à
Os melhores cansaram-se das suas obras. Proclamou-se uma transvaloração proposta por Nietzsche, nota-se que
doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é oco, tudo é igual, a) visa retirar o homem da alienação na qual se encontra,
tudo passou! O nosso trabalho foi inútil; o nosso vinho tornou-se mostrando que tudo já está decidido e escolhido para nós.
veneno; o mau olhado amareleceu-nos os campos e os corações. b) sustenta uma visão metafísica que valoriza e postula uma
Secamos de todo, e se caísse fogo em cima de nós, as nossas possível realidade para além do mundo sensível.
cinzas voariam em pó. Sim; cansamos o próprio fogo. Todas as c) implica uma valorização dos valores presentes eliminando a
fontes secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se ideia de um mundo metafísico de verdades eternas.
querem abrir, mas os abismos não nos querem tragar!
d) visa aprofundar a cisão platônico-cristã entre esse mundo (o
NIETZSCHE. F. Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Ediouro,1977.
empírico) e o outro mundo (o mundo-verdade).
e) opera uma inversão de valores, na medida em que considera os
valores vigentes como sintoma de decadência.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 29
FILOSOFIA 28 NIETZSCHE E O NIILISMO

12. (UFSJ) Na filosofia de Friedrich Nietzsche, é fundamental entender 16. (UEG) No século XIX, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche
a crítica que ele faz à metafísica. Nesse sentido, é CORRETO afirmar vislumbrou o advento do “super-homem” em reação ao que para
que essa crítica ele era a crise cultural da época. Na década de 1930, foi criado
a) tem o sentido, na tradição filosófica, de contentamento, plenitude. nos Estados Unidos o Super-Homem, um dos mais conhecidos
personagens das histórias em quadrinhos. A diferença entre os
b) é a inauguração de uma nova forma de pensar sem metafísica dois “super-homens” está no fato de Nietzsche defender que o
através do método genealógico. super-homem
c) é o discernimento proposto por Nietzsche para levar à supres- a) agiria de modo coerente com os valores pacifistas, repudiando
são da tendência que o homem tem à individualidade radical. o uso da força física e da violência na consecução de seus
d) pressupõe que nenhum homem, de posse de sua razão, tem objetivos.
como conceber uma metafísica qualquer, que não tenha b) expressaria os princípios morais do protestantismo, em
recebido a chancela da observação. contraposição ao materialismo presente no herói dos
quadrinhos.
13. (UFSJ) Ao declarar que “a moral e a religião pertencem
c) abdicar-se-ia das regras morais vigentes, desprezando
inteiramente à psicologia do erro”, Nietzsche pretendeu
as noções de “bem”, “mal”, “certo” e “errado”, típicas do
a) destruir os caminhos que “a psicologia utiliza para negar ou cristianismo.
afirmar a moral e a religião”.
d) representaria os valores políticos e morais alemães, e não o
b) criticar essa necessidade humana de se vincular a valores e individualismo pequeno burguês norte-americano.
instituições herdados, já que “o Homem é forjado para um fim
e como tal deve existir”. 17. (UFU) Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) opõe à moral tradicional,
c) denunciar o erro que tanto a moral quanto a religião cometem herdeira do pensamento socrático-platônico e da religião judaica-
ao confundir “causa com efeito, ou a verdade com o efeito do cristã, a transvaloração de todos os valores. Conforme Aranha e
que se considera como verdade”. Arruda (2000): “Ao fazer a crítica da moral tradicional, Nietzsche
preconiza a ‘‘transvaloração de todos os valores’’. Denuncia a falsa
d) comprovar que “a moral e a religião estão no imaginário coletivo,
moral, ‘decadente’, ‘de rebanho’, ‘de escravos’, cujos valores seriam
mas para se instalarem enquanto verdade elas precisam ser a bondade, a humildade, a piedade e o amor ao próximo”. Desta
avalizadas por uma ciência institucionalizada”. forma, opõe a moral do escravo à moral do senhor, a nova moral.
(ARANHA, M. L. de A. e MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia.
14. (UFSJ) “O homem projetou em torno de si seus três dados São Paulo: Moderna, 2000, p. 286.)
interiores, nos quais cria firmemente: a vontade, o espírito e
o eu. Primeiramente, deduzo a noção do ser da noção do eu, Assinale a alternativa que contenha a descrição da “moral do
representando-se as coisas como existentes a sua imagem e senhor” para Nietzsche.
semelhança, de acordo com sua noção do eu enquanto causa. Que a) É caracterizada pelo ódio aos instintos; negação da alegria.
tem de estranho que depois tenha encontrado nas coisas apenas b) É negativa, baseada na negação dos instintos vitais.
aquilo que eu mesmo tinha colocado nelas?”
c) É transcendental; seus valores estão no além-mundo.
O fragmento acima representa uma
d) É positiva, baseada no sim à vida.
a) descrição da máxima nietzscheana fundada na ideia da
vontade de poder, em que “o poder nos leva a acreditar num
18. (UEPG - ADAPTADA) Conforme o viés filosófico, assinale a
mundo objetivamente construído”, o que se constitui no erro
alternativa correta em relação ao conceito de moral.
da causalidade.
a) Conforme Nietzsche, a moral antinatural é aquela que “castra”
b) crítica ferrenha de Nietzsche a toda manifestação apolínea
o homem e o obriga a negar os valores vitais.
fundada na subjetividade ou na construção do eu a partir de
uma vontade imanente declarada no erro da confusão entre a b) Nietzsche concorda com a universalidade da moral, proposta
causa e o efeito. por Kant.
c) posição nietzscheana sobre as causas imaginárias, que revela o c) Kant acreditava que era possível desenvolver um sistema moral
fracasso da existência humana a partir da crença que nutrimos consistente e particular, utilizando apenas as experiências
em relação ao eu e ao ser e ao ordenamento que insistimos em sensíveis.
dar para as coisas reafirmadas num logos. d) Na teoria moral kantiana, o conceito de “dever” deve ser
d) consideração na qual Nietzsche aprofunda as suas convicções compreendido como a necessidade de uma ação por respeito
acerca do erro como causalidade falsa e repercute a ideia da às sensações.
crença que temos num mundo interior repleto de fantasmas e
de reflexos enganosos. 19. (UEM - ADAPTADA) “Na ciência as convicções não têm
nenhum direito de cidadania, assim se diz com bom fundamento:
15. (UFSJ) O que motivou a crítica de Nietzsche à cultura ocidental somente quando elas se resolvem a rebaixar-se à modéstia de
a partir de Sócrates foi uma hipótese, de um ponto de vista provisório de ensaio, de uma
ficção regulativa, pode ser-lhes concedida a entrada e até mesmo
a) a atitude niilista de Sócrates de recusar a vida e optar por
um certo valor dentro do reino do conhecimento – sempre com a
ingerir a letal dose de cicuta.
restrição de permanecerem sob vigilância policial, sob a polícia da
b) a busca e aferição da verdade por meio de um método que desconfiança.”
Sócrates denominou de maiêutica. NIETZSCHE, F. Gaia Ciência, aforismo 344 apud FIGUEIREDO, V.
Filósofos na sala de aula. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2007, vol. 2, p. 181.
c) o fato de Sócrates ter negado a intuição criadora da filosofia
anterior, pré-socrática.
A partir do texto citado, assinale a alternativa correta
d) a total falta de vinculação da filosofia socrática aos preceitos
a) As hipóteses impulsionam a pesquisa científica e são
básicos de uma lógica possível, o que o tornava obscuro.
comprovadas pelas convicções.
b) O conhecimento científico deve ser colocado a todo instante
sob o crivo da dúvida, da desconfiança.

30 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
28 NIETZSCHE E O NIILISMO FILOSOFIA

c) Não é possível produzir conhecimento científico seguro sem a restrito semelhante que o homem quer somente a verdade: deseja
vigilância do Estado, por meio da sua polícia. as consequências da verdade que são agradáveis e conservam
d) É próprio da ciência acabar com o caráter provisório das a vida: diante do conhecimento puro sem consequências ele é
hipóteses e apresentar-se como uma certeza racional indiferente, diante das verdades talvez perniciosas e destrutivas ele
inquestionável. tem disposição até mesmo hostil.
(Nietzsche, “Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral”, § 1)

20. (UEM - ADAPTADA) A Filosofia de Friedrich Nietzsche (1844-


No texto acima, Nietzsche afirma que o que “deve ser verdade” é
1900) é marcada por uma nova relação entre o racional e o
o resultado de um “acordo de paz”. Isso seria o mesmo que dizer
irracional, na medida em que o irracional adquire validade por
que a busca da verdade é, em última instância, determinada por
corresponder à necessidade de um movimento de afirmação da
necessidades sociais? Por quê?
vida. Com base nessa afirmação, assinale a alternativa correta
a) O recurso metodológico proposto por Nietzsche é a genealogia,
isto é, movimento teórico que recorre à gênese de um discurso, Texto para as questões 04 e 05:
conceito ou prática, apontando suas arbitrariedades e “Esse impulso à formação de metáforas, esse impulso
interesses. fundamental do homem (...), quando se constrói para ele, a partir de
b) Para Nietzsche, o conhecimento é fruto de um lento processo suas criaturas liquefeitas, os conceitos, um novo mundo regular e
de acumulação e comprovação empírica, cuja finalidade é rígido como uma praça forte, nem por isso, na verdade, ele é subjugado
salvar os fenômenos. e mal é refreado. Ele procura um novo território para sua atuação e um
outro leito de rio, e o encontra no mito e, em geral, na arte”.
c) Contra a moral dos aristocratas e nobres, Nietzsche defende os
(Nietzsche, Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral)
fracos, isto é, a moral dos escravos.
d) A “vontade de potência” é a afirmação do nacional-socialismo
alemão, expresso na doutrina do super-homem e no 04. (UFPR) Em contraste com o “homem racional”, como Nietzsche
antissemitismo nietzscheano. caracteriza o “homem intuitivo” ou “artístico”?

05. (UFPR) Nietzsche afirma que o conhecimento humano


EXERCÍCIOS DE é resultado desse “impulso à formação de metáforas”. Em

APROFUNDAMENTO consequência dessa afirmação, como Nietzsche avalia a “verdade


do conhecimento”, a relação do conhecimento com a “realidade” ou
a “essência das coisas”?
01. (UFU) Por meio da genealogia da moral, um método de
investigação sobre a origem dos valores morais, Nietzsche (1844- GABARITO
1900) mostra que a cultura ocidental adotou um sistema de
moralidade denominada por ele de “moral de escravos”. EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. A 05. E 09. D 13. C 17. D
Sobre isso, explique
02. C 06. E 10. B 14. D 18. A
a) como Nietzsche caracteriza essa moral de escravos. 03. C 07. A 11. E 15. C 19. B
b) o que é a vontade de potência e como Nietzsche usa essa 04. D 08. D 12. B 16. C 20. A
noção na superação da moral de escravos.
EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. a) A Moral de Escravo, segundo Nietzsche, constitui-se em reação à que ele chama de
02. (UFU) No livro de 1872, O nascimento da tragédia, Nietzsche Moral dos Nobres, nascida anteriormente, cuja característica fundamental é uma atitude e
dizia a respeito de Sócrates e Platão: modo de existência afirmativo, de valoração e de intensificação da vida e, consequentemente,
de afirmação de todos os valores que se geram dessa atitude, a saber: a afirmação de si, da
Aqui o pensamento filosófico sobrepassa a arte e a vida e dos instintos (pulsões), do desejo e do prazer, do corpo, da coragem, do orgulho, da
constrange a agarrar-se estreitamente ao tronco da dialética. No alegria e do estado de alma elevado. Na Moral dos Nobres afirma-se a plenitude da força, a
ação e a potência criadora, de tal modo que a felicidade, nesta Moral, não se separa da própria
esquematismo lógico crisalidou-se a tendência apolínia: como em
ação e afirmação de si. O modo de existência da Moral dos Nobres orgulha-se alegremente de
Eurípides, cumpre notar algo de correspondente e, fora disso, uma dizer “Nós, os nobres, nós, os bons, belos e felizes”, desprezando, portanto, todas as atitudes
transposição do dionisíaco em afetos naturalistas. opostas a essa ação afirmativa: despreza o covarde, o medroso, o mesquinho, o que se
rebaixa a si mesmo, o submisso, o adulador e o que se permite humilhar, em suma, o fraco e
NIETZSCHE, O nascimento da tragédia, helenismo e pessimismo. Tradução de J.
a passividade reativa de seu modo de existência.
Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 89 – grifos do autor.
A Moral de Escravo, constituída numa atitude reativa em relação à Moral dos Nobres,
caracteriza-se por um modo de existência que é, desde sua origem, negativo, isto é,
Considerando o comentário de Nietzsche, justamente um dizer “não” ao modo de existência da Moral dos Nobres, uma vez que
a) descreva as duas forças antagônicas: apolínio e dionisíaco. aqueles que moldam sua existência sob a Moral de Escravo se ressentem de não se
virem a si mesmos como fortes, mas, ao contrário, têm na fraqueza, na impotência e
b) explique em que o pensamento filosófico difere da atividade na passividade e na atitude rebaixada a sua constituição. Daí a Moral de Escravo se
artística. caracterizar também por uma Moral dos Fracos. Esta Moral de Escravos ou dos Fracos
gera-se, pois, justamente a partir do Ressentimento, isto é, de um despeito e de um rancor
a tudo que não é pautado pela fraqueza e pela subserviência. Constitui-se, portanto, a
03. (UFPR) “Enquanto o indivíduo, em contraposição a outros partir de uma reação e de uma vingança imaginária contra todos os valores gerados pela
Moral dos Nobres, invertendo-os e gerando seus valores exclusivamente a partir da força
indivíduos, quer conservar-se, ele usa o intelecto, em um estado reativa do ressentimento tais como: negação de tudo que não se reconhece como “igual
natural das coisas, no mais das vezes somente para a representação: a si”, isto é, de tudo que não é “fraco e abnegado”; negação da vida, dos instintos, dos
mas, porque o homem, ao mesmo tempo por necessidade e tédio, desejos, dos prazeres e de tudo que se liga ao corpo; valoração da razão sobre os instintos
e como controle do corpo e dos desejos (ideal ascético) e de um mundo transcendente
quer existir socialmente e em rebanho, ele precisa de um acordo de além-morte; valoração da atitude de passividade e de submissão, contidas na suposta
paz e se esforça para que pelo menos a máquina bellum omnium virtude cristã da humildade; valoração do sofrimento, da infelicidade neste mundo terreno,
contra omnes (a guerra de todos contra todos) desapareça de seu da culpa como força que se volta contra si mesmo (má-consciência) e do estado de
subserviência, típico do espírito gregário ou de rebanho. Na Moral de Escravos, os fracos
mundo. Esse tratado de paz traz consigo algo que parece ser o e os impotentes, em vez de agir com afirmação alegre de sua própria força e até mesmo
primeiro passo para alcançar aquele enigmático impulso à verdade. inocência, reagem meramente, tomados de sentimentos hostis e venenosos contra tudo
(...) Os homens, nisso, não procuram tanto evitar serem enganados, o que é diferente deles. Sua ação é sempre reativa, nunca franca, mas sempre desonesta
por refúgios, por subterfúgios e por caminhos ocultos. Nessa Moral de Escravos, a
quanto serem prejudicados pelo engano: o que odeiam, mesmo vontade de potência torna-se vontade de nada e a vida é valorada como fraqueza e
nesse nível, no fundo não é a ilusão, mas as consequências nocivas, mutilação. É o niilismo negativo que se impõe nessa Moral dos fracos, e a vontade de
hostis, de certas espécies de ilusões. É também em um sentido potência deixa de ser a potência criadora para ser potência de dominação.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 31
FILOSOFIA 28 NIETZSCHE E O NIILISMO

b) A vontade de potência é, segundo Nietzsche, a essência da vida: como recuperação


da onipresença atuante dos instintos, como reaproximação entre homem e animal,
que o projeto filosófico de Nietzsche tenciona, a vontade de potência corresponde à
afirmação da vida, ela é a cura daquela doença que caracteriza a Moral de escravo e a
ideia de um além-mundo transcendente ao jogo de forças e de instintos (pulsões) que,
segundo o autor, constituem a realidade. A vontade de potência é a recuperação daquela
saúde debilitada pela Moral de escravo; ela consiste na liberação dos instintos até então
impedidos de realizar diretamente sua satisfação. A satisfação desses instintos (pulsões),
contudo, não configuram um tipo de homem meramente tirânico, agressivo, cruel ou
arrivista. Fosse assim a vontade de potência se converteria naquilo que ela própria crítica,
qual seja, sua qualidade negativa: o instinto que degenera, que se volta contra a vida
por meio de um ódio velado. Conforme Nietzsche, todo tipo de idealismo; a filosofia de
Schopenhauer; o cristianismo; e, em certo sentido, já a filosofia de Platão, todos podem
ser vistos como representantes desse pensamento que se volta contra a vida e contra
sua afirmação. Antes, a vontade de potência é um instinto de liberdade; ela é liberação da
forma mutilada de liberdade engendrada pela moral cristã, pela Moral de escravo.
A vontade de potência é uma afirmação superior nascida da plenitude e da abundância;
ela é uma aprovação sem restrições, aprovação até mesmo daquilo que figura como
problemático e estranho. A qualidade de afirmação superior da vontade de potência,
contudo, exige o pensamento profundo acerca da verdade, pensamento que não se
encontra naquilo que o cristianismo e outros tipos de niilismo aprovam e outorgam. Assim,
essa compreensão profunda exige, antes de tudo, coragem – e, aquilo que é condição da
coragem, um excedente de força, pois, segundo Nietzsche, coragem é a condição daquele
que pode se colocar à frente. O homem corajoso, capaz de enfrentar o niilismo em todas as
suas versões, é o homem capaz de superar a si mesmo. A vontade de potência em qualidade
afirmativa resulta, portanto, no conceito de além-homem, sua realização suprema, e que se
opõe ao que Nietzsche chama “homem moderno”, aos “homens bondosos”, aos cristãos e
a outros niilistas. Esse tipo superior só pode se engendrar, ainda, em oposição àquele tipo
de homem representante da moral de escravo. Destaque-se que o além-homem não é um
tipo idealizado, que figura em um horizonte inalcançável. Antes, é um processo de elevação
do homem e de sua humanidade. O além-homem constitui-se, assim, a recuperação da
Moral dos nobres.
02. a) Nietzsche recorre a mitologia grega para caracterizar a arte na trágica na Grécia.
Sendo assim, Dionísio representa a embriaguez, os instintos, o comportamento
desmedido e as ações motivadas pela emoção. Apolo representa a sobriedade, a ordem,
o equilíbrio, a harmonia e a razão. Estas forças representam antagonicamente a tensão
artística sendo que ambas se complementam e não existem por si só, mas somente em
conjunto. Desta maneira, a arte é composta pela tensão entre estas forças.
b) A separação de Nietzsche se faz clara para ele na relação entre filosofia e arte. Para
o pensador a filosofia é representada pela figura de Apolo (sobriedade, ordem, equilíbrio,
harmonia e razão) enquanto que a arte é representada pela figura de Dionísio (embriaguez,
instintos, comportamento desmedido e ações motivadas pela emoção). Desta maneira,
o conhecimento filosófico representa uma atividade pautada pela uso da razão, já a
atividade artística é pautado pelo uso dos instintos e emoção.
03. O impulso à verdade, para Nietzsche, é resultante de um tratado de paz que retira do
mundo a guerra de todos contra todos, isto é, a verdade é uma convenção apaziguadora
dada através da uniformidade de designações válidas e obrigatórias sobre as coisas.
A verdade, por conseguinte, possui origem convencional e por esquecimento disso o
homem poderia supor ser sua linguagem algo mais que determinações subjetivas.
“Somente por esquecimento pode o homem alguma vez chegar a supor que possui uma
“verdade” no grau acima designado. [...] Como poderíamos nós, se somente o ponto de
vista da certeza fosse decisivo nas designações, como poderíamos no entanto dizer: a
pedra é dura: como se para nós esse “dura” fosse conhecido ainda de outro modo, e não
somente como uma estimulação inteiramente subjetiva! Dividimos as coisas por gêneros,
designamos a árvore como feminina, o vegetal como masculino: que transposições
arbitrárias! A que distância voamos do cânone da certeza!”. (NIETZSCHE, F. Sobre verdade
e mentira no sentido extra-moral. In: Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural,
1978, p. 47)
04. Nietzsche enxerga o homem intuitivo ou artístico de forma positiva. Possuindo uma
dimensão criativa, o homem intuitivo não necessita criar a máscara do conhecimento
conceitual, vivendo o mundo como um devir, de forma mais vibrante.
05. Segundo Nietzsche, a “essência das coisas” não pode ser alcançada pelo homem.
O homem acredita conhecer a verdade, a realidade das coisas; entretanto, seu
conhecimento nada mais é que metáforas que servem somente para ele. Nesse sentido,
tanto conhecimento científico quanto a narrativa mítica e da arte são expressões do
“impulso à formação de metáforas” que o homem possui.

ANOTAÇÕES

32 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
29 FENOMENOLOGIA E FILOSOFIA

ESTRUTURALISMO

FENOMENOLOGIA Entre essas estruturas, o autor busca mostrar que há estruturas


comuns a todas as culturas, quais aspectos comuns podemos
Fenômeno é tudo aquilo que aparece, tudo aquilo que se encontrar em toda e qualquer cultura humana, independente de
apresenta. A Fenomenologia para Edmund Husserl (1859 – 1938) espaço ou território e compreender quais são as análises comuns
apresenta uma perspectiva em que cada indivíduo vai entender da atividade humana. Essas estruturas representariam a base da
a realidade dos fenômenos de forma diferenciada. Sua realidade, humanidade, em sua forma cultural.
suas visões, histórias e culturas vão mover os entendimentos
Para o Estruturalismo, existem elementos que são
da fenomenologia de forma distinta. Nenhum indivíduo vai
universais, encontrados em toda e qualquer cultura, pensamento
compreender os fenômenos apresentados ao longo da vida da
apresentado nas obras Raça e História e Antropologia Estrutural.
mesma maneira.
O Estruturalismo vai buscar entender os sistemas e as análises
A teoria de Husserl parte da tentativa de compreender os inconscientes que permitem a organização dos indivíduos, cabendo
fenômenos, a intenção por trás do fenômeno - intencionalidade - e reforçar que, apesar de universais, as estruturas apresentam
de seus entendimentos possíveis, o que permitiu seu acontecimento. diferenças e particularidades dentro de cada cultura
Uma análise que não parte das ideias, de concepções prontas e
estabelecidas.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8d/Edmund_Husserl_1910s.jpg
.
Platão na antiguidade separou a realidade em dois mundos, https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e3/Prins_Bernhard_
o inteligível (das ideias) e sensível (das sombras) sendo sua reikt_Erasmusprijs_uit_aan_prof_Claude_Levi_Strauss_in_Tropenmus%2C_
Bestanddeelnr_926-4412.jpg
teoria das ideias uma forte influência para o entendimento dos
fenômenos. Platão destacava a necessidade de estudarmos o
mundo das ideias, o mundo ideal, que demonstraria a verdade,
aquele determinado em base racional e lógica, desvalorizando
EXERCÍCIOS
os entendimentos oriundos dos sentidos, por considerar que são
enganosos. A Fenomenologia vai dar destaque aos acontecimentos PROTREINO
do mundo sensível, utilizando-se da teoria platônica, é uma
inversão da primazia da razão que ocorreu ao longo da história. 01. Cite um autor de referência para os pensadores da Fenomenologia.
A fenomenologia vai valorizar os acontecimentos que ocorrem na
realidade sensível. 02. Aponte duas características do pensamento valorizadas pelo
método fenomenológico, segundo Husserl.

ESTRUTURALISMO 03. Cite duas importantes obras do pensador Claude Lévi-Strauss.

Construída na segunda metade do século XX, o Estruturalismo 04. Aponte as principais características do “particularismo” no estudo
é uma corrente que se opõe à teoria Evolucionista, defendida das diferentes culturas.
por grande parte da Antropologia ao longo do século XIX. Tendo
05. Defina brevemente “estruturas sociais”, na visão de Lévi-Strauss.
no belga Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009) seu maior nome,
busca não estabelecer nenhuma cultura como superior ou inferior,
compreendendo que cada sociedade possui sua própria estrutura.
O entendimento das características de cada uma das estruturas
humanas é transformador e fundamental para o desenvolvimento
do pensamento humanista no século XX.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 33
FILOSOFIA 29 FENOMENOLOGIA E ESTRUTURALISMO

03. (UFU) A humanidade cessa nas fronteiras da tribo, do grupo


linguístico, às vezes mesmo da aldeia; a tal ponto, que um grande
número de populações ditas primitivas se autodesigna com um nome
que significa ‘os homens’ (ou às vezes – digamo-lo com mais discrição?
EXERCÍCIOS – os ‘bons’, os ‘excelentes’, ‘os completos’), implicando assim que as
PROPOSTOS outras tribos, grupos ou aldeias não participam das virtudes ou mesmo
da natureza humana, mas são, quando muito, compostos de ‘maus’,
‘malvados’, ‘macacos da terra’ ou de ‘ovos de piolho’.
01. (ENEM) O filósofo reconhece-se pela posse inseparável do LÉVI-STRAUSS, C. Raça e História. Antropologia Estrutural Dois.
gosto da evidência e do sentido da ambiguidade. Quando se São Paulo: Tempo Brasileiro, 1989: 334.
limita a suportar a ambiguidade, esta se chama equívoco. Sempre
aconteceu que, mesmo aqueles que pretenderam construir uma Nesse trecho, o antropólogo Claude Lévi-Strauss descreve a reação
filosofia absolutamente positiva, só conseguiram ser filósofos de estranhamento que é comum às das sociedades humanas
na medida em que, simultaneamente, se recusaram o direito quando defrontadas com a diversidade cultural.
de se instalar no saber absoluto. O que caracteriza o filósofo é o Tal reação pode ser definida como uma tendência:
movimento que leva incessantemente do saber à ignorância, da
ignorância ao saber, e um certo repouso neste movimento. a) Etnocêntrica c) Relativista
MERLEAU-PONTY. M. Elogio da filosofia. Lisboa: Guimarães, 1998 (adaptado). b) Iluminista d) Ideológica

O texto apresenta um entendimento acerca dos elementos 04. (UNICENTRO) Qual o postulado básico da fenomenologia?
constitutivos da atividade do filósofo, que se caracteriza por a) A fenomenologia afirma que o conhecimento não passa de
a) reunir os antagonismos das opiniões ao método dialético. uma interpretação da realidade, isto é, de uma atribuição de
b) ajustar a clareza do conhecimento ao inatismo das ideias. sentidos determinada por uma escala ontológica de valores,
constituindo-se, portanto, numa metafísica dos costumes.
c) associar a certeza do intelecto à imutabilidade da verdade.
b) Em nome da verdade subjetiva, a fenomenologia recusa
d) conciliar o rigor da investigação à inquietude do questionamento.
o projeto da filosofia moderna, recusando o pensamento
e) compatibilizar as estruturas do pensamento aos princípios analítico. Seu postulado básico afirma que o real deixa de ser
fundamentais. racional.
c) A fenomenologia procede por decomposição, enumeração e
02. (UNIOESTE) Martin Heidegger (1889-1976) afirmou: “ser categorização dos objetos, fragmentando-os. Seu postulado
homem já significa filosofar”. Sua tese é a seguinte: o homem se básico é estabelecer a dicotomia entre razão e experiência.
caracteriza pela distinção entre o “é” e as características de qualquer d) A fenomenologia pretende realizar a superação da dicotomia
coisa, ou seja, de qualquer ente; com isso, no encontro cotidiano razão-experiência no processo do conhecimento, afirmando
com os entes, antecipadamente (antes de encontrá-los e conhecê- que toda consciência é intencional, ou seja, o objeto só existe
los) sabemos (a) que eles são e (b) que eles não são o “ser”, que para um sujeito que lhe dá significado.
são diferentes de sua “existência”. Eis por que todos podemos, a e) O postulado básico da fenomenologia é a metafísica
qualquer instante, nos lançar às perguntas pelo ser dos entes fenomenológica, isto é, voltada para o reconhecimento do ser
e pelo sentido do ser em geral, ou seja, às perguntas filosóficas. em si dos fenômenos, portanto, vinculada a uma noção de ser
Independente de filosofarmos expressamente, as questões e a abstrata e a uma consciência transcendental.
força para a investigação, portanto, estariam na raiz mesma de
nosso ser, e precedem todo conhecimento e pensamento aplicado. 05. (UFPA) Em geral, para filósofos modernos a verdade é entendida
De modo análogo, a primeira frase da Metafísica de Aristóteles como a correspondência entre a ideia e o ideado. De acordo com
afirma: “Todos os seres humanos tendem essencialmente ao essa concepção, a verdade se conceitua como o(a)
Saber”. Essa tendência essencial significa que uma propensão para a) reflexo invertido das coisas sobre o intelecto.
o Saber está presente, ainda que inexplorada, em todos os seres
humanos. Como Aristóteles escolheu, para o Saber, uma palavra b) reprodução fiel do próprio objeto em questão.
grega que se assemelha ao “Ver” imediato (eidénai), pode-se c) analogia entre a ideia e a coisa conhecida.
compreender que se trata tanto do conhecimento em geral quanto d) adequação entre a ideia e estrutura do objeto conhecido
(e principalmente) do Saber metafísico, sobre o princípio essencial (estudado).
ou estrutura metafísica da realidade. Em suma, Aristóteles já
e) consenso permanentemente revisto, obtido por meio de um
estaria dizendo que ser homem significa filosofar.
diálogo qualificado entre os sujeitos cognoscentes.
Com base no que foi dito, marque a alternativa correta
a) Uma contradição total reina entre as teses contemporâneas e 06. (UFSJ) Após ler o trecho abaixo, responda o que se pede.
gregas, em filosofia. “O que é importante é que a relação a outrem seja o despertar e
b) Não tem importância central a atenção nem a interpretação o desembriagamento; que o despertar seja obrigação. (...) É evidente
das formulações e termos filosóficos. que há no homem a possibilidade de não despertar para o outro; há
a possibilidade do mal. O mal é a ordem do ser simplesmente – e,
c) Segundo Heidegger, a distinção entre o ente e o ser torna
ao contrário, ir na direção do outro é a abertura do humano no ser,
possível o pensamento.
um “outramente que ser” (op.cit. p.1 56).
d) Aristóteles afirma a tendência essencial do ser humano a ficar
A ideia do trecho acima é a de que
preso ao sentido da visão, nas sombras.
a) “outra mente que ser” é afastar-se do humano.
e) Heidegger e Aristóteles têm como tese que filosofar
expressamente é um destino humano comum. b) é mais importante pensarem si mesmo do que no outro.
c) a possibilidade do mal consiste em não se despertar para o outro.
d) ir na direção do outro é mera questão de opção.

34 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
29 FENOMENOLOGIA E ESTRUTURALISMO FILOSOFIA

07. (UFSJ) No enunciado “O rosto de outrem seria o próprio 10. (UEM-PAS - ADAPTADA) A Fenomenologia é uma tradição
começo da filosofia”, filosófica, nascida no século XX, que se caracterizou por sua
(Emmanuel Lévinas, Entre Nós, Filosofia, Justiça e Amor, p. 143, Petrópolis: Vozes, 2005), abordagem crítica dos problemas clássicos do conhecimento.
O filósofo francês Maurice Merleau-Ponty, expoente da
Lévinas quer afirmar que o rosto: Fenomenologia, afirma que “[...] desde o fim do século XIX, os
cientistas se habituaram a considerar suas leis e teorias não mais
a) evoca a presença do eu e exclui toda a humanidade. como a imagem exata do que se passa na Natureza, mas como
b) é a expressão máxima da manifestação do outro e o começo esquemas sempre mais simples que o evento natural, destinados
da inteligibilidade. a ser corrigidos por uma pesquisa mais precisa, em uma palavra,
c) pode ser apreendido em meu conhecimento e objetivado pelo como conhecimentos aproximados. [...] O concreto, o sensível
indicam para a ciência a tarefa de uma elucidação interminável,
eu.
e resulta disso que não se pode considerá-lo, à maneira clássica,
d) é absolutamente uma forma plástica como um retrato. como uma simples aparência destinada a ser superada pela
inteligência científica.”
08. (UEM - ADAPTADA) A fenomenologia é uma tendência filosófica (MERLEAU-PONTY, M. Primeira conversa: o mundo percebido e o mundo da ciência. In:
desenvolvida no início do século XX pelo alemão Edmund Husserl. MARÇAL, J. (org.). Antologia de textos filosóficos. Curitiba: SEED, 2009, p. 501).
Parte da ideia de que a consciência não é vazia ou sem conteúdo,
mas é sempre consciência de algo, ou seja, a consciência é sempre Sobre a fenomenologia e sua crítica à filosofia moderna, assinale a
intencional. Para compreendermos como podemos conhecer as alternativa correta.
coisas é preciso, portanto, investigar como ocorre essa atividade a) Segundo a abordagem fenomenológica, a inteligência científica
em que a consciência só existe em relação com as coisas, e as não é capaz de apreender a realidade.
coisas só podem ser pensadas de acordo com o modo como b) A Fenomenologia pretende superar a distinção clássica entre
aparecem para a consciência, isto é, como fenômenos. Acerca da um mundo real, sensível, e um mundo ideal, inteligível.
fenomenologia, assinale a alternativa correta.
c) Edmund Husserl (1859-1938), fundador da fenomenologia,
a) A fenomenologia é um tipo de filosofia empirista, pois seu afirmava a prioridade das experiências práticas e afetivas sobre
objeto são as experiências vividas da consciência. as experiências cognitivas para a constituição da consciência,
b) Para Husserl, a fenomenologia é uma filosofia transcendental, mantendo-se fiel à filosofia racionalista moderna.
pois investiga as estruturas a priori que constituem a realidade. d) A Fenomenologia não se distingue fundamentalmente da
c) A fenomenologia considera, ao contrário do que afirmava Kant, Psicologia, pois ambas investigam temas como o comportamento
que as “coisas em si” são acessíveis para a consciência. humano, as percepções sensíveis e a memória, por exemplo.
d) O objetivo da fenomenologia de Husserl é estabelecer critérios
de distinção entre a verdade e a falsidade das proposições das 11. (UNIMONTES) A fenomenologia surgiu no final do século XIX,
ciências naturais. com Franz Brentano, cujas principais ideias foram desenvolvidas
por Edmund Husserl (1859-1958). No que se refere à fenomenologia,
09. (UEM - ADAPTADA) “Na percepção, sempre há algo percebido: marque a alternativa incorreta.
na fabricação de imagens, há algo representado em imagens; na a) Na fenomenologia, o postulado básico é a noção de
enunciação, há algo enunciado; no amor, algo amado; no ódio, algo intencionalidade.
odiado; no desejo, algo desejado; e assim por diante. É isso que se b) A fenomenologia pretende superar a dicotomia razão-
deve reter de todos esses exemplos usados por Brentano quando experiência.
declarava: ‘Todo fenômeno [...] é caracterizado por aquilo que os
c) Para a fenomenologia, toda consciência é intencional.
escolásticos, na Idade Média, chamavam inexistência intencional
(ou mesmo mental) de um objeto; é o que nós chamaremos – d) Na fenomenologia, o conceito de fenômeno refere-se ao que
embora tenhamos que usar expressões equívocas – de relação a se esconde.
um conteúdo, orientação para um objeto’. Há variedades essenciais
e específicas na relação intencional. Em suma: há variedades na 12. (UEM - ADAPTADA) A filosofia de método fenomenológico foi
intenção (que, para fazer apenas uma descrição, consiste sempre criada na Alemanha pelo matemático e filósofo Edmund Husserl.
em um ‘ato’). São diferentes o modo como uma ‘simples imagem’ A fenomenologia como teoria do conhecimento contesta tanto o
de um estado de coisas visa ao seu objeto e o modo do juízo que empirismo quanto o idealismo. Para a fenomenologia, o empirismo
considera verdadeiro ou falso o mesmo estado de coisas.” conduz ao ceticismo, e o idealismo reduz o conhecimento a uma
(HUSSERL, Investigações lógicas. In: SAVIAN FILHO, J. Filosofia e filosofias: atividade puramente psicológica. Sobre a fenomenologia, assinale
existência e sentidos. Belo Horizonte: Autêntica, 2016, p. 352). a alternativa correta.

De acordo com o texto acima, assinale a alternativa correta. a) Para a fenomenologia, só podemos alcançar a verdade
reproduzindo, pelas experiências realizadas nos laboratórios,
a) A essência ou ideia das coisas é o modo de ser das coisas em os fenômenos que observamos na natureza.
sua autodoação à consciência.
b) Edmund Husserl buscou nos Cursos de filosofia positiva, de
b) Pode-se afirmar que Husserl é um filósofo da representação. August Comte, os princípios que irão fundamentar um método
c) O termo ‘inexistência’, indicado acima, significa existir fora da seguro para alcançar a verdade científica.
consciência. c) Da mesma maneira que Platão, a fenomenologia considera que
d) O intelecto humano é como uma tábula rasa ou folha em o mundo sensível apresenta-se sob o engano da aparência. A
branco, na qual as impressões inscrevem dados. verdade deve ser procurada no mundo inteligível das ideias.
d) A fenomenologia considera que a consciência é
intencionalidade, ou seja, a consciência é sempre consciência
de alguma coisa. Por isso, a fenomenologia não busca explicar
a consciência, mas descrevê-la no ato do conhecimento.
É a partir da intencionalidade da consciência que devemos
entender como se produz o conhecimento.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 35
FILOSOFIA 29 FENOMENOLOGIA E ESTRUTURALISMO

13. (UEM - ADAPTADA) A fenomenologia é um dos fundamentos Sobre o pragmatismo, assinale a alternativa correta.
da Filosofia de Maurice Merleau-Ponty. No âmbito da escola da a) O fundamento filosófico do pragmatismo é a crença racional
fenomenologia, ele contesta princípios basilares da Psicologia justificada pelo alcance teórico dos conceitos.
clássica, de cunho mecanicista-racionalista.
b) O pragmatismo está associado à fenomenologia, pois visa os
Com base na afirmação acima, assinale a alternativa correta. conteúdos intencionais da consciência.
a) A sensação é concebida, por Merleau-Ponty, pelos efeitos que c) A função da experiência é a possibilidade de formar
os estímulos externos dos objetos exercem sobre os sentidos. instrumentos capazes de orientar a ação.
O campo visual, por exemplo, é concebido como um mosaico
de sensações despertadas pelos estímulos do objeto sobre a d) Ao recusar um fundamento filosófico fundacionalista, o
retina. pragmatismo é relativista.

b) Para Merleau-Ponty, a percepção é o conhecimento sensorial


17. (UEM - ADAPTADA) O postulado básico da fenomenologia é a
de formas ou de totalidades organizadas e dotadas de sentido.
noção de intencionalidade, pela qual toda consciência é intencional,
c) Conforme um dos princípios da fenomenologia de Edmund isto é, visa a algo fora de si; a consciência é sempre consciência de
Husserl, a consciência, para Merleau-Ponty, não exerce alguma coisa. Assinale a alternativa correta.
nenhuma atividade na produção de conhecimentos científicos.
a) Um dos princípios da teoria do conhecimento da fenomenologia
d) Para Merleau-Ponty, a consciência de si é o resultado de é que a verdade do mundo objetivo pode ser conhecida com
um esforço intelectual de conhecimento e não depende da segurança, pois os fenômenos naturais apresentam-se à
facticidade de nosso engajamento. consciência do sujeito como dados empíricos.
b) A fenomenologia constrói seus princípios tendo como
14. (UEPG-PSS 2 - ADAPTADA) Sobre os conceitos de liberdade e fundamento a filosofia positiva, acredita, como Auguste Comte,
determinismo, assinale a alternativa correta. que a observação objetiva é a condição necessária para a
a) Conforme a visão fenomenológica, a transcendência é a formação do conhecimento.
dimensão das determinações que são propostas ao homem
c) A fenomenologia é inatista e idealista, pois acredita que o
que alcança a liberdade.
homem, ao nascer, já possui, na sua mente, todas as ideias
b) Na visão fenomenológica, a transcendência é a dimensão da necessárias para o conhecimento da realidade objetiva e
liberdade, já que o ser humano está no mundo como as coisas subjetiva.
estão.
d) A realidade, para a fenomenologia, é um conjunto de
c) Na fenomenologia, a transcendência é elemento que aprisiona
significações ou de sentidos que são produzidos pela
o homem e sua liberdade.
consciência ou pela razão, portanto, para a fenomenologia, não
d) Na linguagem fenomenológica, os conceitos determinismo há objeto em si, já que o objeto é sempre para um sujeito que
e liberdade podem ser traduzidos respectivamente como lhe confere significados.
facticidade e transcendência.
18. (UFSJ) Leia o trecho abaixo.
15. (UEM - ADAPTADA) “Todo o universo da ciência é construído
sobre o mundo vivido, e se queremos pensar a própria ciência com “O encontro com outrem é imediatamente minha
rigor, apreciar exatamente seu sentido e seu alcance, precisamos responsabilidade por ele. A responsabilidade pelo próximo é, sem
primeiramente despertar essa experiência do mundo da qual ela dúvida, o nome grave do que se chama amor do próximo, amor sem
é a expressão segunda. [...] As representações científicas segundo Eros, caridade, amor em que o momento ético domina o momento
as quais eu sou um momento do mundo são sempre ingênuas e passional, amor sem concupiscência”.
hipócritas, porque elas subentendem, sem mencioná-la, essa outra (Emmanuel Lévinas, Entre Nós, p. 143, Petrópolis: Vozes, 2005).
visão, aquela da consciência, pela qual antes de tudo um mundo se
dispõe em torno de mim e começa a existir para mim.” Para o autor, o amor ao próximo refere-se
(MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. In: MELANI, R. a) à minha responsabilidade pelo meu próximo, independente-
Diálogo: primeiros estudos em Filosofia. São Paulo: Moderna, 2013, p. 280).
mente de uma escolha de minha vontade.
A partir do texto citado assinale a alternativa correta. b) tão somente ao mandamento religioso.
a) Não é a ciência que determina o ser no mundo, mas a c) à ideia de que a consciência ética é consciência apenas de si.
experiência do ser no mundo que deve determinar as d) à ideia de que o amor ético é um momento passional.
explicações científicas.
b) As representações científicas, ao levarem em conta a 19. (UFSJ) Segundo Lévinas (op.cit. p. 247s.), a justiça está
consciência que temos do mundo, afirmam a verdade dos seus relacionada com
resultados.
a) a função do Estado como responsável pelo bem-estar do
c) As representações científicas captam apenas um momento do cidadão.
ser no mundo.
b) o amor ao próximo e o direito original de que o outro é único.
d) As representações científicas devem se ater somente às coisas
c) o esquecimento da origem do direito e da unicidade de outrem.
experimentadas no mundo, e não levar em consideração os
dados da consciência. d) a preservação da propriedade privada.

16. (UEM - ADAPTADA) “Para o pragmatismo, a experiência é 20. (UENP) Na madrugada de 1º de novembro de 2009, morre
substancialmente abertura para o futuro (...). Desse ponto de na França o etnólogo e antropólogo Claude Lévi-Strauss aos
vista, uma ‘verdade’ não existe porque pode ser confrontada 101 anos de idade. Sua morte teve grande repercussão no Brasil,
com os dados acumulados da experiência passada, mas por ser sobretudo porque foi um dos primeiros professores de sociologia
suscetível de qualquer uso na experiência futura. Nesse sentido, a da Universidade de São Paulo, logo na sua fundação, tendo feito
tese fundamental do pragmatismo é a de que toda a verdade é uma várias expedições ao Brasil Central. Seu pensamento influenciou
regra de ação, uma norma para a conduta futura.” gerações de filósofos, antropólogos e sociólogos. É correto afirmar:
ABBAGNANO, N. História de filosofia. In: ARANHA, M. L. de A.
Filosofar com textos: temas e história da filosofia. São Paulo: Moderna, 2012, p. 487.

36 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
29 FENOMENOLOGIA E ESTRUTURALISMO FILOSOFIA

a) A corrente estruturalista, da qual Lévi-Strauss é o principal “Tudo muda quando, com as geometrias ditas não euclidianas,
teórico, surgiu na década de 40 com uma proposta diferente chega-se a conceber como que uma curvatura própria do espaço,
do funcionalismo, predominante até então. O funcionalismo uma alteração das coisas devida apenas ao seu deslocamento (...)
se preocupava com o funcionamento de cada sociedade e Temos um mundo em que os objetos não conseguiriam estar em
em saber como as coisas existiam na sua função social. O identidade absoluta com eles mesmos, onde forma e conteúdo
estruturalismo queria saber do trabalho intelectual. Olhar para estão como que baralhados e mesclados (...) Torna-se impossível
os povos indígenas e buscar uma racionalidade e uma reflexão distinguir rigorosamente o espaço das coisas no espaço.”
propriamente nativa. (Merleau-Ponty, Conversas - 1948. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 11.)
b) Lévi-Strauss não encontrou evidências de que os povos
nativos desenvolvessem um pensamento selvagem, nem Explique a conclusão de Merleau-Ponty de que a nova ideia de
que ocorresse a passagem de homem natural para o homem identidade da coisa impõe à ciência uma “tarefa interminável”
cultural entre os povos indígenas. (Merleau-Ponty, Conversas, p. 7).
c) Lévi-Strauss acreditava que o homem não é uma espécie
transitória, e sugeriu uma visão essencialista do ser humano, 04. (UNESP) Nas Grandes Antilhas, alguns anos após a Descoberta
já que o mundo existe quando o homem o interpreta, chegando da América, enquanto os espanhóis enviavam comissões de
a afirmar, em várias passagens, que o mundo começou com o investigação para indagar se os indígenas possuíam ou não alma,
homem e vai terminar com ele. estes últimos dedicavam-se a afogar os brancos feitos prisioneiros
d) Lévi-Strauss concorda com Sartre que não existe oposição para verificarem através de uma investigação prolongada se o
entre sociedades com história e sociedades sem história, sendo cadáver daqueles estava ou não sujeito à putrefação. Esta anedota
que isso é demonstrando pela sociologia e pela etnografia simultaneamente barroca e trágica ilustra bem o paradoxo do
contemporâneas ao constatarem que toda sociedade se relativismo cultural: é na própria medida em que pretendemos
desenvolve no curso de uma história específica. estabelecer uma discriminação entre as culturas e os costumes,
que nos identificamos mais completamente com aqueles que
e) Não pode ser atribuído ao legado de Lévi-Strauss o respeito pretendemos negar.
ao pensamento dos chamados povos primitivos, em especial
dos povos indígenas da América, pelas diferenças culturais e Recusando a humanidade àqueles que surgem como os
pela diversidade, sem as quais a criatividade humana cessa e, mais ‘selvagens’ ou ‘bárbaros’ dos seus representantes, mais não
por tudo que há no mundo, antes e depois da passagem do fazemos que copiar-lhes suas atitudes típicas. O bárbaro é em
humano pela Terra. primeiro lugar o homem que crê na barbárie.
(Claude Lévi-Strauss. Raça e História, 1987.)

Considerando o texto do antropólogo Lévi-Strauss, responda


EXERCÍCIOS DE se os critérios que definem o grau de progresso de determinada
APROFUNDAMENTO civilização ou cultura são absolutos ou relativos.
Explique o conceito de “bárbaro” para o autor e indique as
01 (UFPR) Em “Einstein e a crise da razão”, Merleau-Ponty cita implicações de seu pensamento para a análise da justificação
Einstein: ideológica da dominação da civilização ocidental sobre outras
civilizações na história.
“Acredito num mundo em si, mundo regido por leis que busco
apreender de uma maneira selvagemente especulativa.”
05. (UNESP) Texto 1
Merleau-Ponty complementa:
O positivismo representa amplo movimento de pensamento
“Mas justamente esse encontro entre especulação e real, que dominou grande parte da cultura europeia, no período de
entre nossa imagem do mundo e o mundo, que ele denomina 1840 até às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Nesse contexto,
algumas vezes ‘harmonia preestabelecida’, ele não ousa fundá- a Europa consumou sua transformação industrial, e os efeitos
la [...] [Ele] descreve a racionalidade como um mistério [...] A coisa dessa revolução sobre a vida social foram maciços: o emprego das
menos compreensível do mundo, ele dizia, é que o mundo seja descobertas científicas transformou todo o modo de produção.
compreensível.” Em poucas palavras, a Revolução Industrial mudou radicalmente
(Merleau-Ponty, “Einstein e a crise da razão”, In: Signos. São Paulo: Martins Fontes, 1991.) o modo de vida na Europa. E os entusiasmos se cristalizaram em
torno da ideia de progresso humano e social irrefreável, já que, de
Com base nas citações acima e em outras informações presentes agora em diante, possuíam-se os instrumentos para a solução de
na mesma obra, responda e justifique: todos os problemas. A ciência pelos positivistas apresentava-se
O que distingue as posições de Merleau-Ponty e de Einstein? como a garantia absoluta do destino progressista da humanidade.
(Giovanni Reale e Dario Antiseri. História da filosofia, 1991. Adaptado.)
02. (UFPR) “As coisas não são, portanto, simples objetos neutros
que contemplaríamos diante de nós [...] Nossa relação com as Texto 2
coisas não é uma relação distante, cada uma fala ao nosso corpo O “progresso” não é nem necessário nem contínuo. A
e à nossa vida, elas estão revestidas de características humanas humanidade em progresso nunca se assemelha a uma pessoa
(dóceis, doces, hostis, resistentes) e, inversamente, vivem em nós que sobe uma escada, acrescentando para cada um dos seus
como tantos emblemas das condutas que amamos ou detestamos.” movimentos um novo degrau a todos aqueles já anteriormente
(Merleau-Ponty, Conversas - 1948. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 23–24.) conquistados. Nenhuma fração da humanidade dispõe de fórmulas
aplicáveis ao conjunto. Uma humanidade confundida num gênero
Com base na citação acima e em outras informações presentes de vida único é inconcebível, pois seria uma humanidade petrificada.
nessa obra, explique a oposição feita por Merleau- Ponty entre (Claude Lévi-Strauss. A noção de estrutura em etnologia, 1985. Adaptado.)
“coisa” e “objeto”.
a) Considerando o texto 1, explique o que significa “eurocentrismo”
03. (UFPR) “A ciência clássica baseia-se numa distinção clara entre e por que o conceito de progresso pressuposto pelo positivismo
espaço e mundo físico. O espaço é o meio homogêneo onde as coisas é eurocêntrico.
estão distribuídas segundo três dimensões e onde elas conservam b) Por que o método empregado pelo autor do texto 2 é
sua identidade, a despeito de todas as mudanças de lugar.” considerado relativista? Como sua concepção de progresso se
(Merleau-Ponty, Conversas - 1948. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 10.) opõe ao conceito de progresso positivista?

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 37
FILOSOFIA 29 FENOMENOLOGIA E ESTRUTURALISMO

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. D 05. D 09. A 13. B 17. D
02. C 06. C 10. B 14. D 18. A
03. A 07. B 11. D 15. A 19. B
04. D 08. B 12. D 16. C 20. A

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. Einstein, físico, se fecha e confia na razão física, por isto condenado estava ao mistério
que como físico nunca buscou efetivamente. Merleau-Ponty, filósofo, se distingue de
Einstein quando percebe o mundo e os mistérios pela razão.
02. A passagem apresenta as coisas como entidades cuja caracterização envolve menção
às percepções que temos delas e aos sentimentos que nos despertam. As qualidades das
coisas são apresentadas como pelo menos parcialmente dependentes das percepções
e sentimentos humanos. As coisas são apresentadas como entidades que têm uma
relação com a percepção humana. Por outro lado, os objetos são caracterizados como
entidades neutras, independentes das percepções e afetos, concepção que Merleau-
Ponty identifica na mesma obra com a noção clássica ou cartesiana de entidade material.
03. O cientista não tem mais a ilusão clássica de alcançar o âmago da coisa, dado que a
coisa não é mais concebida como possuindo identidade absoluta. A coisa, compreendida
agora como “coisa no espaço”, como relativa a um contexto, é sempre apreendida
parcialmente, sempre a partir de certa posição do observador, sempre situado. Assim, já
não há mais limites para a observação, que pode ser sempre mais complexa e exata, e a
tarefa da ciência é interminável.
04. Os critérios são relativos porque respondem a uma visão unilateral quanto aos
valores culturais ocidentais. Para o autor a verdadeira “barbárie” consiste em não aceitar
uma determinada cultura em prol de uma visão ocidental e supostamente civilizatória.
O conceito de “bárbaro”, relaciona-se, na concepção de Lévi-Strauss na não aceitação
da contradição. A noção de civilização implica a superação das diferenças em prol de
um entendimento e interpretação de diversas culturas, propiciando, desta maneira, a
supremacia da ideologia ocidental.
05. a) Eurocentrismo corresponde a um etnocentrismo europeu, ou seja, à forma de
considerar o mundo tendo como princípio a ideia de que a Europa corresponde ao ápice
do desenvolvimento humano. O positivismo é eurocêntrico na medida em que desenvolve
uma teoria de desenvolvimento humano baseada nas transformações que a própria
Europa estava sofrendo.
b) O relativismo corresponde à atitude de considerar a sua cultura como sendo uma entre
outras, e não como superior às demais, exatamente como Lévi-Strauss propõe. Isso
se opõe ao positivismo porque se abstém de criar uma escala evolutiva das culturas,
na medida que qualquer critério de julgamento cultural será sempre, de alguma forma,
etnocêntrico.

ANOTAÇÕES

38 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
30
FILOSOFIA
FOUCAULT E O PODER

A MICROFÍSICA DO PODER fazer uma analogia com as câmeras, filmadoras e redes sociais
que aumentam a sensação de controle e vigilância.
Filho de uma família de alto poder aquisitivo de Paris, Michel
O modelo prisional do Panóptico desenvolvido por Jeremy
Foucault (1926 – 1984) teve dentro de sua família muitos problemas
Bentham em 1785 é utilizado por Foucault, buscando exemplificar
de relacionamento, muito por conta do seu entendimento político
o ideal de vigilância, disciplina e controle dos corpos. O controle
e de sua sexualidade. Seu contexto familiar influenciou sua obra,
não precisa ser ideológico ou econômico, pode ser desenvolvido de
gerando um autor combativo e que tratou de muitas temáticas
formas e maneiras mais sutis. O panóptico seria funcional por gerar
sociais.
observação constante, de todos os locais e ambientes, reforçando
Um dos seus principais temas é o “Poder”, entendimento de a sensação constante de controle, poder e vigilância.
como as esferas de relacionamento comportam-se na sociedade.
O poder para Foucault não é algo que se possui, mas é algo que
se exerce, não estando controlado e contido permanentemente
nas mãos de alguém, precisando ser reposto, retomado e mantido
constantemente. O poder não está localizado em uma instituição, no
Estado ou em qualquer esfera social, o poder não pode ser “tomado”.
Discorda de uma visão clássica que o poder pode ser cedido ao
governo, governante ou soberano. No entendimento de Foucault, o
poder constitui-se com uma constante relação de forças: está em
todos os lugares, em todas as relações, é estabelecido por relações
de verdade e saber constantes.

PODER E CONTROLE
Foucault vai alocar em sua obra que esses poderes são
estabelecidos desde o nascimento, em busca da formação de uma
sociedade disciplinar na qual o controle é exercido constantemente
sobre e para os indivíduos. Busca-se o controle de gestos, saberes
e todo formato de comportamento. Uma sociedade disciplinada
é dócil e atende aos mais variados interesses de controle e
domínio. Vale ressaltar que, por mais que ocorram essas relações
constantes, nunca está estabelecido, sempre é um processo. EXERCÍCIOS
PROTREINO
01. Defina brevemente o que é “poder”, segundo Foucault.

02. Aponte uma característica da chamada sociedade disciplinar


para Foucault.

03. Defina brevemente “micropoder”, dentro do pensamento de


Foucault.

04. Aponte uma característica do corpo dócil, na teoria de Foucault.

05. Defina brevemente o panóptico, na visão de Foucault.

EXERCÍCIOS

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/5/52/Foucault5.jpg PROPOSTOS
No livro Vigiar e Punir, Foucault estabelece as formas de poder 01. (ENEM) A lei não nasce da natureza, junto das fontes
e punição estabelecidas ao longo da história humana, com foco frequentadas pelos primeiros pastores: a lei nasce das batalhas
no sistema prisional estabelecido e instituído. Foucault aborda que reais, das vitórias, dos massacres, das conquistas que têm sua
os micropoderes são estabelecidos nas mais variadas instituições data e seus heróis de horror: a lei nasce das cidades incendiadas,
sociais: escolas, prisões, manicômios. das terras devastadas; ela nasce com os famosos inocentes que
Os micropoderes geram uma experiência social de agonizam no dia que está amanhecendo.
docialização dos corpos humanos, formando e estabelecendo FOUCAULT. M. Aula de 14 de janeiro de 1976. In. Em defesa da sociedade.
uma sociedade disciplinar e de controle. Nos dias atuais podemos São Paulo: Martins Fontes. 1999

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 39
FILOSOFIA 30 FOUCAULT E O PODER

O filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao pensar a política e a lei a) critica a noção de Estado e sua ausência de controle, aspectos
em relação ao poder e à organização social. comuns ao liberalismo e ao marxismo.
Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis na b) constata que o corpo físico e o corpo político se relacionam em
organização das sociedades modernas é sociedades de controle.
a) combater ações violentas na guerra entre as nações. c) critica o autoritarismo policial e o modelo de regulação
b) coagir e servir para refrear a agressividade humana. proposto pelo anarquismo.
c) criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre os indivíduos d) constata que o Estado autoritário, mesmo com boas leis, é
de uma mesma nação. sabotado pela figura do policial.
d) estabelecer princípios éticos que regulamentam as ações
bélicas entre países inimigos. 05. (ENEM PPL) Mediante o Código de Posturas de 1932, o poder
público enumera e prevê, para os habitantes de Fortaleza, uma
e) organizar as relações de poder na sociedade e entre os Estados. série de proibições condicionadas pela hora: após as 22 horas era
vetada a emissão de sons em volume acentuado. O uso de buzinas,
02. (ENEM) Essa atmosfera de loucura e irrealidade, criada pela sirenes, vitrolas, motores ou qualquer objeto que produzisse
aparente ausência de propósitos, é a verdadeira cortina de ferro barulho seria punido com multa. No início dos anos 1940 o último
que esconde dos olhos do mundo todas as formas de campos de bonde partia da Praça do Ferreira às 23 horas.
concentração. Vistos de fora, os campos e o que neles acontece só SILVA FILHO, A. L. M. Fortaleza: imagens da cidade. Fortaleza:
podem ser descritos com imagens extraterrenas, como se a vida Museu do Ceará; Secult, 2001 (adaptado).
fosse neles separada das finalidades deste mundo.
Como Fortaleza, muitas capitais brasileiras experimentaram,
Mais que o arame farpado, é a irrealidade dos detentos que ele
na primeira metade do século XX, um novo tipo de vida urbana,
confina que provoca uma crueldade tão incrível que termina
marcado por condutas que evidenciam uma
levando à aceitação do extermínio como solução perfeitamente
normal. a) experiência temporal regida pelo tempo orgânico e pessoal.
ARENDT, H. Origens do totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989 (adaptado). b) experiência que flexibilizava a obediência ao tempo do relógio.
c) relação de códigos que estimulavam o trânsito de pessoas na
A partir da análise da autora, no encontro das temporalidades
cidade.
históricas, evidencia-se uma crítica à naturalização do(a)
d) normatização do tempo com vistas à disciplina dos corpos na
a) ideário nacional, que legitima as desigualdades sociais.
cidade.
b) alienação ideológica, que justifica as ações individuais.
e) cultura urbana capaz de conviver com diferentes experiências
c) cosmologia religiosa, que sustenta as tradições hierárquicas. temporais.
d) segregação humana, que fundamenta os projetos biopolíticos.
e) enquadramento cultural, que favorece os comportamentos 06. (UNESP) Regulamentação publicada nesta segunda-feira,
punitivos. no Diário Oficial do Município do Rio, determina que as crianças
e adolescentes apreendidos nas chamadas cracolândias fiquem
internados para tratamento médico, mesmo contra a vontade
03. (ENEM PPL) As crianças devem saudar as pessoas distintas, os
deles ou dos familiares. Os jovens, segundo a Secretaria Municipal
professores e senhoras conhecidas que encontrarem, que elas não
de Assistência Social (Smas), só receberão alta quando estiverem
se negarão a corresponder. Não devem empurrar ninguém nem
livres do vício. A “internação compulsória” vale somente para
cortar o passo dos transeuntes. Não escrever nas paredes e portas
aqueles que, na avaliação de um especialista, estiverem com
coisa alguma. Nunca atirar pedras. Não atirar cascas de frutas no
dependência química. Ainda de acordo com a resolução, todas as
chão, o que pode ser motivo de desastres gravíssimos. Nunca fitar
crianças e adolescentes que forem acolhidos à noite, “independente
de propósito os olhos sobre pessoas aleijadas ou rir-se de algum
de estarem ou não sob a influência do uso de drogas”, não poderão
defeito físico do próximo.
sair do abrigo até o dia seguinte.
A Imprensa, n. 67, 27 abr. 1914.
(www.estadao.com.br, 30.05.2012. Adaptado.)

O discurso sobre a infância, veiculado pelo jornal no início do século


As justificativas apresentadas neste texto para legitimar a
XX, visava a promoção de
“internação compulsória” de usuários de drogas são norteadas por:
a) formas litúrgicas de interação.
a) princípios filosóficos baseados no livre-arbítrio e na autonomia
b) valores abstratos de cidadania. individual.
c) normas sociomorais de civilidade. b) valores de natureza religiosa fundamentados na preservação
d) concepções arcaicas de disciplina. da vida.
e) conceitos importados de pedagogia. c) valores éticos associados ao direito absoluto à liberdade da
pessoa humana.
04. (UNICAMP) Sinto no meu corpo d) realização prévia de consultas públicas sobre a internação
A dor que angustia obrigatória.
A lei ao meu redor e) critérios médicos relacionados à distinção entre saúde e
A lei que eu não queria patologia.

Estado violência 07. (UNESP) TEXTO 1


Estado hipocrisia
No ano de 1990, o filósofo francês Gilles Deleuze criou o
A lei que não é minha
conceito de “sociedade do controle” para explicar a configuração
A lei que eu não queria
totalitária das sociedades atuais. Na sociedade de controle as
“Estado Violência”, Charles Gavin, em Titãs, Cabeça Dinossauro, WEA, 1989.
pessoas têm a ilusão de desfrutarem de maior autonomia, pois
A letra dessa música, gravada pelos Titãs, podem, por exemplo, acessar contas correntes e fazer compras
pela Internet. Mas, por outro lado, seus comportamentos e hábitos

40 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
30 FOUCAULT E O PODER FILOSOFIA

de consumo podem ser conhecidos pelo governo, pelos bancos e 09. (UNIOESTE) Os estudos realizados por Michel Foucault (1926-
grandes empresas. Sem suspeitarem disso, os indivíduos podem 1984) apresentam interfaces que corroboram para estudos
ser controlados à distância, como se cada um fosse dotado de uma em diversas áreas de conhecimento, entre as quais a Filosofia,
“coleira eletrônica”. Ciências Sociais, Pedagogia, Psiquiatria, Medicina e Direito. Em
TEXTO 2 1975, Foucault publicou a obra “Vigiar e Punir: história da violência
das prisões”, na qual propunha uma nova concepção de poder, a
Um quarto dos alemães aceitam implantar chip no corpo qual abandonava alguns postulados que marcaram a posição
Pesquisa feita pela Associação Alemã das Empresas de tradicional da esquerda do período. Sobre a concepção de poder
Informação, Telecomunicação e Novas Mídias (Bitkom) revela que foucaultiana, é CORRETO afirmar.
23% dos moradores do país topam ter um microchip inserido no
próprio corpo, contanto que isso traga benefícios concretos a eles. a) Só exerce poder quem o possui, por se tratar de um privilégio
O levantamento, realizado com cerca de mil pessoas de várias adquirido pela classe dominante que detém o poder econômico.
cidades, foi divulgado na feira de tecnologia Cebit, que vai até o b) O poder está centralizado na figura do Estado e está localizado
próximo sábado (7), em Hannover. no próprio aparelho de Estado, que é o instrumento privilegiado
(Folha Online, 03.03.2010.) do poder.
c) Todo poder está subordinado a um modo de produção e a
Com base no conceito de sociedade do controle e na notícia uma infraestrutura, pois o modo como a vida econômica é
reproduzida, assinale a alternativa correta. organizada determina a política.
a) Não há correspondência entre os resultados da pesquisa d) O poder tem como essência dividir os que possuem poder
relatada na notícia e o conceito de sociedade do controle, uma (classe dominante) daqueles que não têm poder (classe dos
vez que a implantação do chip contaria com a permissão das dominados).
próprias pessoas.
e) O poder não remete diretamente a uma estrutura política, ao
b) Os resultados da pesquisa atestam a inadequação do conceito uso da força ou a uma classe dominante: as relações de poder
proposto pelo filósofo francês para reflexões sobre as são móveis e só podem existir quando os sujeitos são livres e
sociedades atuais, pois o conceito está defasado vinte anos há possibilidade de resistência.
em relação à notícia sobre a pesquisa.
c) Os resultados da pesquisa atestam o grau em que os 10. (UNIOESTE) A rebelião ocorrida na penitenciária de Cascavel/
parâmetros da sociedade de controle foram internalizados PR em agosto de 2014 remete ao passado e à história da repressão,
pelos indivíduos. especificamente na passagem do período das punições à vigilância.
d) De acordo com o filósofo francês, os acessos informatizados O estudo mais representativo sobre a história das prisões é Vigiar
garantem o aumento da autonomia dos indivíduos. e Punir de Michel Foucault. Sobre as prisões atuais, tendo como
e) O conceito de sociedade de controle tem sua aplicação restrita referência essa obra, é CORRETO afirmar.
a sociedades governadas por ditaduras, não podendo ser a) Na prisão, os delinquentes não são úteis nem econômica nem
aplicado a reflexões sobre sociedades democráticas. politicamente para o sistema.
b) O objetivo das prisões é reeducar os delinquentes, ensinando-
08. (UNIOESTE) O filósofo francês, Michel Foucault, ao iniciar os lhes uma profissão que possa ser exercida ao saírem da prisão.
estudos sobre arquitetura hospitalar na segunda metade do século c) A prisão impede a reincidência e permite a correção do
XVIII, percebeu que grande parte dos projetos arquitetônicos delinquente.
tinham como característica uma centralização do olhar voltada
para indivíduos, corpos e coisas. Segundo Foucault, os modelos d) A prisão, para Foucault, longe de transformar os criminosos em
arquitetônicos seguiam os princípios formulados por Jeremy gente honesta, serve apenas para fabricar novos delinquentes.
Bentham em sua obra “O Panopticon”, publicada no final do século e) A função da prisão é retirar os criminosos de circulação e do
XVIII. Foucault encontrou o mesmo princípio do panopticon na convívio social, e nada mais.
arquitetura das escolas, nos hospitais e, sobretudo, nos grandes
projetos prisionais do início do século XIX. Em 1975, ele retoma o 11. (UNIOESTE) Em seu texto, O Enfraquecimento da Sociedade
tema em sua obra “Vigiar e Punir”, quando se refere ao tema da Civil, Michael Hardt salienta que na obra de Michel Foucault, a
tecnologia de poder e o da vigilância no sistema prisional. intermediação institucional que define a relação entre sociedade
Sobre o panopticon, é CORRETO afirmar. civil e Estado aparece em uma funcionalidade totalmente projetada
para fins autoritários e antidemocráticos. Foucault se refere às
a) O princípio arquitetônico prisional do panopticon segue a lógica
múltiplas formas de organização e produção de forças sociais
da masmorra, cuja função é trancar e privar o preso da luz solar.
pelo Estado que impedem que forças pluralistas e interesses da
b) No princípio arquitetônico prisional do panopticon, as celas não sociedade civil se sobressaiam sobre o Estado.
são trancadas e permitem ao preso a liberdade de contato com
Tendo em vista essa intermediação entre Estado e sociedade civil,
outros presos sem que seja vigiado.
assinale a alternativa que corresponda à concepção foucaultiana
c) O princípio do panopticon é baseado na privacidade do preso e de Estado.
na invisibilidade de suas ações. O detento nunca é vigiado em
a) Na concepção de Foucault, o Estado é considerado a fonte
sua cela.
central das relações de poder na sociedade, cujo controle
d) O modelo arquitetônico prisional do panopticon necessita de exerce através da máquina burocrática.
muitos vigilantes e o custo do sistema é muito alto para ser
b) Segundo Michel Foucault, o poder está limitado apenas ao
mantido pelo Estado.
âmbito do Estado, portanto, ele reconhece um distanciamento
e) O modelo arquitetônico prisional do panopticon foi pensado teórico entre Estado e sociedade civil.
como um espaço fechado em forma de círculo, com uma torre
c) Para Michel Foucault, o Estado não detém o monopólio legítimo
no centro. Todos os movimentos das celas são controlados e
da força. Nesse sentido, podemos dizer que o monopólio da
registrados por um sistema de vigilância ininterrupto.
força não é a condição necessária para a existência do Estado.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 41
FILOSOFIA 30 FOUCAULT E O PODER

d) Michel Foucault prefere usar o termo Governo em lugar de O texto aponta que a subjetivação se efetiva numa dimensão
Estado para indicar a multiplicidade e a imanência pluralista a) legal, pautada em preceitos jurídicos.
das forças de estatização no interior do campo social. Para
Foucault, a sociedade civil está fundada na disciplina e na b) racional, baseada em pressupostos lógicos.
normatização. c) contingencial, processada em interações sociais.
e) Segundo Foucault, na sociedade disciplinar, há apenas Estado, d) transcendental, efetivada em princípios religiosos.
pois ele pode ser concretamente isolado e contrastado num e) essencial, fundamentada em parâmetros substancialistas.
plano separado da sociedade civil. O exercício do poder dá-
se por intermédio de dispositivos de poder organizados na 15. (UECE) Observe a seguinte notícia: “O total de pessoas
sociedade civil. encarceradas no Brasil chegou a 726.712 em junho de 2016. Em
dezembro de 2014, era de 622.202. Houve um crescimento de
12. (ENEM) O edifício é circular. Os apartamentos dos prisioneiros mais de 104 mil pessoas. Cerca de 40% são presos provisórios,
ocupam a circunferência. Você pode chamá-los, se quiser, de celas. ou seja, ainda não possuem condenação judicial. Mais da metade
O apartamento do inspetor ocupa o centro; você pode chamá-lo, dessa população é de jovens de 18 a 29 anos e 64% são negros.
se quiser, de alojamento do inspetor. A moral reformada; a saúde [...] Os crimes relacionados ao tráfico de drogas são os que mais
preservada; a indústria revigorada; a instrução difundida; os levam as pessoas às prisões, com 28% da população carcerária
encargos públicos aliviados; a economia assentada, como deve ser, total. Somados, roubos e furtos chegam a 37%. [...] Quanto à
sobre uma rocha; o nó górdio da Lei sobre os Pobres não cortado, escolaridade, 75% da população prisional brasileira não chegaram
mas desfeito — tudo por uma simples ideia de arquitetura! ao Ensino Médio. Menos de 1% dos presos tem graduação”.
BENTHAM, J. O panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. Fonte: AGÊNCIA BRASIL, 08/12-2017. Em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/
noticia/2017-12/populacao-carceraria-do-brasil-sobe-de-622202-para-726712-pessoas
Essa é a proposta de um sistema conhecido como panóptico,
um modelo que mostra o poder da disciplina nas sociedades As informações apresentadas na notícia acima podem ser
contemporâneas, exercido preferencialmente por mecanismos pensadas filosoficamente tomando-se por base
a) religiosos, que se constituem como um olho divino controlador I. Foucault e sua teoria dos dispositivos disciplinares do poder.
que tudo vê. II. Marx e sua teoria do Estado como instrumento da classe
b) ideológicos, que estabelecem limites pela alienação, impedindo dominante.
a visão da dominação sofrida. III. Maquiavel e sua teoria do poder do príncipe.
c) repressivos, que perpetuam as relações de dominação entre os IV. Aristóteles e seu conceito de justiça distributiva.
homens por meio da tortura física.
Estão corretas somente as complementações contidas em
d) sutis, que adestram os corpos no espaço-tempo por meio do
a) I e II. c) III e IV.
olhar como instrumento de controle.
b) II e III. d) I e IV.
e) consensuais, que pactuam acordos com base na compreensão
dos benefícios gerais de se ter as próprias ações controladas.
16. (ENEM (LIBRAS)) O momento histórico das disciplinas é o
momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa
13. (UECE) “Generalizando posteriormente a já amplíssima
não unicamente o aumento das suas habilidades, nem tampouco
classe dos dispositivos foucaultianos, chamarei literalmente de
aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no
dispositivo qualquer coisa que tenha de algum modo a capacidade
mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais
de capturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e
útil, e inversamente. Forma-se então uma política das coerções,
assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos
que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada de
seres viventes.”
seus elementos, de seus gestos, de seus comportamentos.
AGAMBEN, G. O que é um dispositivo? outra travessia, Florianópolis, n. 5, p. 9-16, jan. 2005.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 1987.

Considerando o excerto acima, analise as seguintes proposições:


Na perspectiva de Michel Foucault, o processo mencionado resulta
I. As prisões e os manicômios se enquadram nesse conceito na em
medida em que se voltam para a correção e normalização de
a) declínio cultural.
condutas consideradas desviantes.
b) segregação racial.
II. As escolas, as igrejas e as fábricas podem ser pensadas como
dispositivos na medida em que se voltam para os corpos e os c) redução da hierarquia.
comportamentos no sentido do disciplinamento. d) totalitarismo dos governos.
III. Os computadores, os telefones celulares, as câmeras de e) modelagem dos indivíduos.
segurança se destacam como dispositivos, pois controlam
tecnicamente os gestos e as condutas humanas. 17. (UEMA) Gilberto Cotrim (2006. p. 212), ao tratar da pós-
É correto o que se afirma em modernidade, comenta as ideias de Michel Foucault, nas quais
“[...] as sociedades modernas apresentam uma nova organização
a) I, II e III. c) II e III apenas.
do poder que se desenvolveu a partir do século XVIII. Nessa nova
b) I e II apenas. d) I e III apenas. organização, o poder não se concentra apenas no setor político
e nas suas formas de repressão, pois está disseminado pelos
14. (ENEM) Penso que não há um sujeito soberano, fundador, uma vários âmbitos da vida social [...] [e] o poder fragmentou-se em
forma universal de sujeito que poderíamos encontrar em todos os micropoderes e tornou-se muito mais eficaz. Assim, em vez de
lugares. Penso, pelo contrário, que o sujeito se constitui através se deter apenas no macropoder concentrado no Estado, [os]
das práticas de sujeição ou, de maneira mais autônoma, através micropoderes se espalham pelas mais diversas instituições da
de práticas de liberação, de liberdade, como na Antiguidade – a vida social. Isto é, os poderes exercidos por uma rede imensa de
partir, obviamente, de um certo número de regras, de estilos, que pessoas, por exemplo: os pais, os porteiros, os enfermeiros, os
podemos encontrar no meio cultural. professores, as secretarias, os guardas, os fiscais etc.”
FOUCAULT, M. Ditos e escritos V: ética, sexualidade, política. Fonte: COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: história e grandes temas.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. São Paulo: Saraiva, 2006. (adaptado)

42 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
30 FOUCAULT E O PODER FILOSOFIA

Pelo exposto por Gilberto Cotrim sobre as ideias de Foucault, a 20. (UNESP) Crianças que passam o dia sob controle de pais,
principal função dos micropoderes no corpo social é interiorizar e babás e professores, com a agenda lotada de atividades, agora têm
fazer cumprir também suas brincadeiras da hora de recreio dirigidas por adultos.
a) o ideal de igualdade entre os homens. Cada vez mais colégios particulares adotam o chamado “recreio
b) o total direito político de acordo com as etnias. dirigido”, na tentativa de resgatar formas saudáveis de brincar em
grupos. Alguns educadores, porém, temem que a prática se torne
c) as normas estabelecidas pela disciplina social. mais uma maneira de controlar uma geração que já desfruta de
d) a repressão exercida pelos menos instruídos. pouca autonomia. Em uma das escolas, “o objetivo é melhorar a
e) o ideal de liberdade individual. integração, desenvolver a autonomia”, diz a orientadora do colégio.
Para uma antropologa, esse tipo de proposta acaba podando a
18. (UNESP) Governos que se metem na vida dos outros são iniciativa das crianças. “Elas estão sempre sendo direcionadas,
governos autoritários. Na história temos dois grandes exemplos: ficam esperando que alguém diga o que é melhor fazer, perdem
o fascismo e o comunismo. Em nossa época existe uma outra autonomia”.
(Luciana Alvarez. O Estado de S.Paulo, 13.02.2011. Adaptado.)
tentação totalitária, aparentemente mais invisível e, por isso mesmo,
talvez, mais perigosa: o “totalitarismo do bem”. A saúde sempre
Sobre o texto, é correto afirmar:
foi um dos substantivos preferidos das almas e dos governos
autoritários. Quem estudar os governos autoritários verá que a “vida a) Os profissionais da área pedagógica possuem critérios
cientificamente saudável” sempre foi uma das suas maiores paixões. consensuais para definir os meios mais adequados para
E, aqui, o advérbio “cientificamente é quase vago porque o que vem desenvolver a autonomia das crianças.
primeiro é mesmo o desejo de higienização de toda forma de vício, b) Os críticos do recreio dirigido apontam riscos de heteronímia,
sujeira, enfim, de humanidade não correta. Nosso maior pecado implícitos nessa prática pedagógica.
contemporâneo é não reconhecer que a humanidade do humano
c) A prática adotada pelos colégios particulares pressupõe
está além do modo «correto» de viver. E vamos pagar caro por isso
uma rígida demarcação entre atividades de aprendizagem e
porque um mundo só de gente «saudável» é um mundo sem Eros.
atividades lúdicas.
(Luiz Felipe Pondé. “Gosto que cada um sente na boca não é da conta do governo”.
Folha de S.Paulo, 14.03.2012. Adaptado.) d) As escolas abordadas na reportagem evidenciam uma
dedicação especializada nas dimensões intelectuais do
Na concepção do autor, o totalitarismo processo de aprendizagem, em detrimento dos aspectos
a) é um sistema político exclusivamente relacionado com o emocionais.
fascismo e o comunismo. e) O recreio dirigido é criticado por alguns profissionais por
b) inexiste sob a égide de regimes políticos institucionalmente seu teor de enfraquecimento da escola como instituição de
democráticos e liberais. controle.
c) depende necessariamente de controles de natureza policial e
repressiva dos comportamentos.
EXERCÍCIOS DE
d) mobiliza a ciência para estabelecer critérios de natureza
biopolítica sobre a vida. APROFUNDAMENTO
e) estabelece regras de comportamento subordinadas à
autonomia dos indivíduos. 01. (UFPR) [...] A disciplina fabrica assim corpos submissos e
exercitados, corpos ‘dóceis’. A disciplina aumenta as forças do
19. (UNESP) Leia. corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas
mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma
Desde o início da semana, alunos da rede municipal de Vitória
palavra: ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma
da Conquista, na Bahia, não vão mais poder cabular aulas. Um
‘aptidão’, uma ‘capacidade’ que ela procura aumentar; e inverte por
“uniforme inteligente” vai contar aos pais se os alunos chegaram à
outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz
escola – ou “dedurar” se eles não passaram do portão. O sistema,
dela uma relação de sujeição estrita.
baseado em rádio-frequência, funciona por meio de um minichip
(FOUCAULT, M. Os corpos dóceis. In: FOUCAULT, M. Vigiar e Punir.
instalado na camiseta do novo uniforme, que começou a ser Trad. Ligia M. P. Vassalo. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 127.)
distribuído para 20 mil estudantes na segunda-feira. Funciona
assim: no momento em que os alunos entram na escola, um Com base na passagem acima e tendo em vista a totalidade do
sensor instalado na portaria detecta o chip e envia um SMS aos texto do qual ela foi extraída, como podemos definir o conceito
pais avisando sobre a entrada na instituição. de Foucault de “corpos dóceis” e qual o papel da “disciplina” na
(Natália Cancian. Uniforme inteligente entrega aluno que cabula aula na Bahia. produção desses corpos?
Folha de S.Paulo, 22.03.2012.)

A leitura do fato relatado na reportagem permite repercussões 02. (UFPR) Não se trata de fazer aqui a história das diversas
filosóficas relacionadas à esfera da ética, pois o “uniforme instituições disciplinares, no que podem ter cada uma de singular.
inteligente” Mas de localizar apenas numa série de exemplos algumas das
técnicas essenciais que, de uma a outra, se generalizaram mais
a) está inserido em um processo de resistência ao poder
facilmente. Técnicas sempre minuciosas, muitas vezes íntimas,
disciplinar na escola.
mas que têm sua importância: porque definem um certo modo de
b) é fruto de uma ação do Estado para incrementar o grau de investimento político e detalhado do corpo, uma nova ‘microfísica’
liberdade nas escolas. do poder.
c) indica a consolidação de mecanismos de consulta democrática (FOUCAULT, Michel. Os corpos dóceis. In: FOUCAULT, M. Vigiar e Punir.
Trad. Ligia M. P. Vassalo. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 128.)
na escola pública.
d) introduz novas formas institucionais de controle sobre a Com base no excerto acima e também no conjunto do texto
liberdade individual. estudado, como podemos definir a ideia de “microfísica do poder”?
e) proporciona uma indiscutível contribuição científica para a Cite três exemplos de instituições disciplinares nas quais é possível
autonomia individual. identificar esse modo de exercício de poder.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 43
FILOSOFIA 30 FOUCAULT E O PODER

03. (UEMA) Leia os fragmentos abaixo para embasar sua resposta. processos econômicos. Para o biopoder, que tem a tarefa de se
I. “A desigualdade social não é a causadora do crime em si, encarregar da vida, sua necessidade de mecanismos contínuos,
mas o fato é que pessoas mais carentes, ou com pouco reguladores e corretivos exige distribuir os vivos em um domínio
estudo, tendem a cometer crimes menos complexos como o de valor e utilidade. Um poder dessa natureza tem de qualificar,
roubo e furto, além de pequenos tráficos. Enquanto pessoas medir, avaliar, hierarquizar. Uma sociedade normalizadora é o efeito
mais estudadas e com maiores recursos tendem a cometer histórico de uma tecnologia de poder centrada na vida.
delitos mais elaborados como o estelionato (golpes), crimes (Michel Foucault. História da sexualidade, vol. 1, 1988. Adaptado.)
tributários, desvios de recursos e crimes de colarinho branco,
os quais são mais difíceis de provar” TEXTO 2
Fonte: Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2011-abr-21/crime-questao- Uma pesquisa anunciada recentemente na Suíça revelou
oportunidade-carater-risco-consequencia> Acesso em: 20 set. 2014. que, com um simples exame de sangue, será possível detectar a
Síndrome de Down (ou trissomia do 21) no feto. O aval ao novo
II. “(...) Sabe-se, no entanto, que em todos os lugares a prisão não teste pré-natal foi dado recentemente pela Agência Nacional de
reeduca ninguém e se converte, na realidade, em uma escola Produtos Terapêuticos da Suíça, em meio à controvérsia de que
de criminosos. O que explica então que uma instituição tão o exame poderia levar a um aumento no número de abortos. Os
obviamente ‘fracassada’ na sua justificativa e finalidade possa testes estarão disponíveis no mercado ainda neste mês. Apesar de
ter tido tanto ‘sucesso’ como fórmula universal nos seus quase a legislação de países europeus como Espanha, Itália e Alemanha
200 anos de aplicação geral em todo mundo? garantir autonomia à mulher na escolha sobre o aborto, o tema
III. (...) Para Foucault, a função real da prisão, nunca assumida, é não passou isento de discussão. A Federação Internacional das
a de criar o ‘delinquente’ de forma arbitrária de tal modo que Organizações de Síndrome de Down, que reúne 30 associações
apenas as classes inferiores sejam percebidas como ‘classes de 16 países, entrou com uma representação na Corte Europeia de
potencialmente criminosas ou perigosas’”. Direitos Humanos pedindo a proibição do teste.
Fonte: SOUZA, Jessé. A ralé brasileira: quem é e como vive. (http://zerohora.clicrbs.com.br, 22.08.2012. Adaptado.)
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.
Com base no texto de Foucault, comente o papel da ciência como
Considerando os fragmentos, explique a relação entre desigualdade possível instrumento de eugenia e normalização, relacionando-o
social e crime no Brasil. com as implicações biopolíticas do lançamento do teste pré-natal.

04. (FUVEST) O suplício tem então uma função jurídico-política. É


GABARITO
um cerimonial para reconstituir a soberania lesada por um instante .
[...]. A execução pública, por rápida e cotidiana que seja, se insere EXERCÍCIOS PROPOSTOS
em toda a série dos grandes rituais do poder eclipsado e restaurado 01. E 05. D 09. E 13. A 17. C
(coroação, entrada do rei numa cidade conquistada, submissão 02. D 06. E 10. D 14. C 18. D
dos súditos revoltados). [...] 03. C 07. C 11. D 15. A 19. D

O suplício não restabelecia a justiça; reativava o poder. No 04. B 08. E 12. D 16. E 20. B
século XVII, e ainda no começo do XVIII, ele não era, com todo o seu
EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
teatro de terror, o resíduo ainda não extinto de uma outra época.
01. O corpo dócil, tal como concebido por Michel Foucault, é o resultado do poder
Suas crueldades, sua ostentação, a violência corporal, o jogo disciplinar. Assim, esse corpo seria o corpo após ser moldado, treinado e submetido ao
desmesurado de forcas, o cerimonial cuidadoso, enfim, todo o seu poder através de uma série de técnicas de dominação, sendo o papel do poder disciplinar
aparato se engrenava no funcionamento político da penalidade. [...] produzir e efetivar, de maneira sutil, essa docililização.

Mas nessa cena de terror o papel do povo é ambíguo. Ele 02. Ao elaborar o conceito de microfísica do poder, Foucault rejeita a concepção de
poder como algo que está “acima” dos indivíduos, controlando-os de um local afastado
é chamado como espectador: é convocado para assistir às das suas relações. Em sua análise do poder, Foucault concebe o poder como algo que
exposições, às confissões públicas; os pelourinhos, as forcas permeia todas as relações e interações humanas, se manifestando em todas as esferas
e os cadafalsos são erguidos nas praças públicas ou à beira da vida social e na vida cotidiana, ou seja, como algo que se manifesta na escala micro.
Nesse sentido, três instituições em que a disciplina é imposta também na escala micro
dos caminhos; os cadáveres dos supliciados muitas vezes são são as prisões, as escolas e os hospícios, haja vista que elas dispõem de uma série de
colocados bem em evidência perto do local de seus crimes. As técnicas disciplinadoras que impõem aos indivíduos uma disciplina, como por exemplo
pessoas não só têm que saber, mas também ver com seus próprios a disposição dos lugares e os horários estabelecidos para determinadas atividades,
exercendo, de forma implícita, poder.
olhos. Porque é necessário que tenham medo; mas também porque
devem ser testemunhas e garantias da punição, e porque até certo 03. Os textos da questão nos permitem dizer que é falsa a relação entre pobreza e
ponto devem tomar parte nela. criminalidade. Não são os pobres os que mais cometem crimes. No entanto, são
eles os que mais são punidos por eles, reforçando um estereótipo e uma prática de
Michel Foucault, Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1983. exclusão social. Na realidade, há crimes em todas as classes sociais, mas o fato de as
classes baixas serem mais punidas por eles somente reforça essa mesma situação de
a) Identifique uma das práticas punitivas descritas no texto desigualdade social que existia antes do crime.
empregadas na sociedade colonial brasileira. 04. a) O texto cita o pelourinho – a aplicação de castigos públicos corporais aos escravos
– e a forca e o cadafalso – a execução pública de infratores mediante enforcamento.
b) Explique as relações entre a exibição do poder monárquico e
b) As punições judiciais físicas tinham caráter exemplar e serviam para reafirmar o poder
as punições judiciais na sociedade do Antigo Regime europeu. monárquico.
c) A participação do povo nas execuções conferia a elas um c) Não, porque a participação popular se dava através da execução de função inferior ou
caráter democrático? Justifique. através da formação de um público para assistir as punições.

05. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia em campos como a Biologia e a


05. (UNESP) TEXTO 1 Medicina está, em parte, a serviço do modo de produção dominante. Assim, partes dos
avanços no combate às doenças e no controle populacional estão em consonância com
O biopoder, sem a menor dúvida, foi elemento indispensável os interesses das empresas capitalistas, a exemplo do papel exercido pelas companhias
ao desenvolvimento do capitalismo, que só pode ser garantido à farmacêuticas e hospitais privados em várias partes do mundo. O avanço da pesquisa no
campo da genética pode ser utilizado na prevenção de doenças, mas também de forma
custa da inserção controlada dos corpos no aparelho de produção pouco ética e preconceituosa, a exemplo do teste que detecta a Síndrome de Down de
e por meio de um ajustamento dos fenômenos de população aos modo precoce.

44 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
31
FILOSOFIA
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

ARTUR SCHOPENHAUER COMUNICAÇÃO, CONSUMO E ALIENAÇÃO


Em seu livro O mundo como vontade e representação, A sociedade de consumo está dentro da lógica capitalista e
Schopenhauer (1788 – 1860) apresenta o conceito de vontade é mantida através de uma indústria cultural homogeneizante
como algo mordaz e presente nos indivíduos. A vontade seria um que impõe padrões, inclusive de valores morais e éticos, por sua
desejo nunca saciável e completado, uma ambição permanente, vez, agindo diretamente no inconsciente coletivo. Ela atua na
que torna a realização dos desejos uma mera ilusão. As vontades padronização e no ato de consumo, movidos pela sensibilidade,
humanas nunca são satisfeitas, gerando simplesmente novas imaginação, inteligência e liberdade. Quando adquirimos uma
demandas ao homem. roupa, diversos fatores são considerados: precisamos proteger
nosso corpo ou revelá-lo; usamos a imaginação na combinação
A vontade seria uma espécie de poder dentro de todos os
das peças; mesmo quando seguimos a tendência da moda,
seres humanos, já que nunca são saciadas e quando completas
desenvolvemos o estilo próprio de vestir ao comprarmos uma ou
geram novas vontades, tornando a vida um sofrimento, uma eterna
mais peças de determinada cor ou modelo.
tentativa de adequação e envolvimento.
A finitude da vontade só ocorre em um estado de ascetismo, em
que alcance plenitude espiritual, um estágio de “Nirvana” segundo
o Budismo, ou de verdadeiro engajamento cristão. Schopenhauer
vai estabelecer que a vontade é a coisa em si do homem, sendo
infinita, tendo que passar por grandioso controle social.

Max Horkheimer (em primeiro plano, à esquerda)


e Theodor Adorno em 1964.

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c3/
AdornoHorkheimerHabermasbyJeremyJShapiro2.png

A alienação é fruto do não envolvimento pessoal com as


questões político-sociais que tangem as relações. A pergunta
que se faz é: os meios de comunicação são os formadores dessa
alienação ou funcionam de forma positiva como instrumentos de
informação? A alienação passa a ser percebida na vida social do
indivíduo com a formação da “sociedade de consumo”, expressão
que carrega uma conotação negativa, pois esse consumo não
depende mais da decisão consciente de cada indivíduo, baseada
em suas necessidades e seus gostos, mas de necessidades
artificialmente estimuladas - fica claro que o papel dos meios de
comunicação nesse aspecto é fundamental.
O consumo não alienado supõe, mesmo diante de influências
externas, que o indivíduo mantenha a possibilidade de escolha
Fonte; https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/83/ autônoma, não só para estabelecer suas preferências como
Arthur_Schopenhauer_colorized.png
para optar por consumir ou não. No entanto, no mundo em que
predomina a produção alienada também o consumo tende
a ser alienado. O problema da sociedade de consumo é que
A ESCOLA DE FRANKFURT as necessidades são artificialmente estimuladas, sobretudo
O Instituto Para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, pelos meios de comunicação de massa, levando os indivíduos a
na Alemanha, foi espaço de intensa produção acadêmica no século conviverem de maneira mais alienada.
XX, tendo entre seus membros nomes como Walter Benjamin, A civilização tecnicista não é uma civilização do trabalho, mas
Herbert Marcuse, Jürgen Habermas e Erich Fromm. Grandes do consumo e do bem-estar. O trabalho deixa, para um número
figuras da Escola de Frankfurt, Theodor W. Adorno (1903 – 1969) crescente de indivíduos, de incluir fins que lhe são próprios e
e Max Horkheimer (1895 – 1973) são personagens essenciais tornar-se um meio de consumir, de satisfazer as necessidades
da Filosofia Contemporânea, ao trazer o diálogo filosófico para a cada vez mais amplas. Mas há um contraponto importante no
esfera da comunicação e da mídia, tentando entender o poder dos processo de estimulação artificial do consumo supérfluo notado
meios de comunicação na capacidade de pensamento e reflexão não só na propaganda, mas na televisão, nas novelas: a existência
dos indivíduos. Ao escreverem na década de 1940 o livro Dialética de grande parcela da população com baixo poder aquisitivo,
do Esclarecimento os autores vão buscar entender como a mídia reduzida apenas ao desejo de consumir. O que faz com que essa
influencia na alienação e no consumo dos indivíduos. massa desprotegida não se revolte?

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 45
FILOSOFIA 31 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

Há mecanismos na própria sociedade que impedem a tomada A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acordo com a
de consciência: as pessoas têm a ilusão de que vivem numa análise do texto, é um(a)
sociedade de mobilidade social e que, pelo empenho no trabalho, a) legado social.
pelo estudo, há possibilidades de mudança, ou seja, um dia
chegaremos lá... E se não chegamos, é porque não tivemos sorte b) patrimônio político.
ou competência. c) produto da moralidade.
O processo produção-consumo em que está mergulhado o d) conquista da humanidade.
homem contemporâneo impede-o de ver com clareza a própria e) ilusão da contemporaneidade.
exploração e a perda da liberdade. Ao deixar de ser o centro de
si mesmo, o homem perde a dimensão de contestação e crítica, 03. (UNESP) A sociedade do espetáculo corresponde a uma
sendo destituída a possibilidade de reação no campo da política, fase específica da sociedade capitalista, quando há uma
religião, escola, arte e ética. interdependência entre o processo de acúmulo de capital e o
processo de acúmulo de imagens. O papel desempenhado pelo
marketing, sua onipresença, ilustra perfeitamente bem o que Guy
EXERCÍCIOS Debord quis dizer: das relações interpessoais à política, passando
PROTREINO pelas manifestações religiosas, tudo está mercantilizado e
envolvido por imagens. Assim como o conceito de “indústria
cultural”, o conceito de “sociedade do espetáculo” faz parte de uma
01. Defina brevemente a noção de “alienação” na visão de Adorno postura crítica com relação à sociedade capitalista. São conceitos
e Horkheimer. que procuram apontar aquilo que se constitui em entraves para a
emancipação humana.
02. Defina brevemente a noção de “sociedade do consumo” na (Cláudio N. P. Coelho. “Mídia e poder na sociedade do espetáculo”.
visão de Adorno e Horkheimer. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br. Adaptado.)

03. Defina brevemente a noção de “homogeneização da cultura” na Segundo o texto,


visão de Adorno e Horkheimer. a) a transformação da cultura em mercadoria é uma característica
fundamental desse fenômeno social.
04. Aponte as principais características da chamada “civilização b) a padronização da estética pela sociedade do espetáculo
tecnicista” segundo Adorno e Horkheimer. restringe-se ao campo da publicidade.
c) a hegemonia do espetáculo desempenha papel fundamental
05. Defina brevemente a noção de “vontade” segundo na formação da autonomia do sujeito.
Schopenhauer.
d) o universo estético de produção das imagens não é determinado
pela base material da sociedade.
e) o conceito de sociedade do espetáculo realiza uma reflexão
contestadora sobre a indústria cultural.
EXERCÍCIOS
PROPOSTOS 04. (UNESP) Não somente os tipos das canções de sucesso, os
astros, as novelas ressurgem ciclicamente como invariantes fixos,
01. (ENEM PPL) A maioria das necessidades comuns de descansar, mas o conteúdo específico do espetáculo só varia na aparência.
distrair-se, comportar-se, amar e odiar o que os outros amam e O fracasso temporário do herói, que ele sabe suportar como bom
odeiam pertence a essa categoria de falsas necessidades. Tais esportista que é; a boa palmada que a namorada recebe da mão
necessidades têm um conteúdo e uma função determinada por forte do astro, são, como todos os detalhes, clichês prontos para
forças externas, sobre as quais o indivíduo não tem controle algum. serem empregados arbitrariamente aqui e ali e completamente
MARCUSE, H. A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional. definidos pela finalidade que lhes cabe no esquema. Desde
Rio de Janeiro: Zahar, 1979. o começo do filme já se sabe como ele termina, quem é
recompensado, e, ao escutar a música ligeira, o ouvido treinado é
Segundo Marcuse, um dos pesquisadores da chamada Escola de perfeitamente capaz, desde os primeiros compassos, de adivinhar
Frankfurt, tais forças externas são resultantes de o desenvolvimento do tema e sente-se feliz quando ele tem lugar
a) aspirações de cunho espiritual. como previsto. O número médio de palavras é algo em que não se
pode mexer. Sua produção é administrada por especialistas, e sua
b) propósitos solidários de classes.
pequena diversidade permite reparti-las facilmente no escritório.
c) exposição cibernética crescente. (Theodor W. Adorno e Max Horkheimer. “A indústria cultural como
mistificação das massas”. In: Dialética do esclarecimento, 1947. Adaptado.)
d) interesses de ordem socioeconômica.
e) hegemonia do discurso médico-científico. O tema abordado pelo texto refere-se
a) ao conteúdo intelectualmente complexo das produções
02. (ENEM) Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civilizatória culturais de massa.
da democracia de pioneiros e empresários, que tampouco
desenvolvera uma fineza de sentido para os desvios espirituais. b) à hegemonia da cultura americana nos meios de comunicação
Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo de massa.
que, desde a neutralização histórica da religião, são livres para c) ao monopólio da informação e da cultura por ministérios
entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas a liberdade de estatais.
escolha da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, d) ao aspecto positivo da democratização da cultura na sociedade
revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o que de consumo.
é sempre a mesma coisa.
e) aos procedimentos de transformação da cultura em meio de
ADORNO, T HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos.
Rio de Janeiro: Zahar, 1985. entretenimento.

46 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
31 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA FILOSOFIA

05. (UNESP) Nossa felicidade depende daquilo que somos, 08. (UECE) Rodrigo Duarte, um destacado intérprete da Escola de
de nossa individualidade; enquanto, na maior parte das vezes, Frankfurt no Brasil, afirma que, na indústria cultural, “encontram-se
levamos em conta apenas a nossa sorte, apenas aquilo que embutidos atos de violência, oriundos do comprometimento tanto
temos ou representamos. Pois, o que alguém é para si mesmo, o econômico quanto ideológico da indústria cultural com o status
que o acompanha na solidão e ninguém lhe pode dar ou retirar, é quo: ela precisa, por um lado, lucrar, justificando sua posição de
manifestamente mais essencial para ele do que tudo quanto puder próspero ramo de negócios; por outro, ela tem de ajudar a garantir
possuir ou ser aos olhos dos outros. Um homem espiritualmente a adesão das massas diante da situação precária em que elas se
rico, na mais absoluta solidão, consegue se divertir primorosamente encontram no capitalismo tardio”.
com seus próprios pensamentos e fantasias, enquanto um obtuso, DUARTE, Rodrigo. Indústria Cultural: uma introdução. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010, p. 49.
por mais que mude continuamente de sociedades, espetáculos,
passeios e festas, não consegue afugentar o tédio que o martiriza. Com base no texto acima, é correto afirmar que
(Schopenhauer. Aforismos sobre a sabedoria de vida, 2015. Adaptado.) a) a indústria cultural é descrita como a violência contra os
trabalhadores da cultura, que têm suas obras exploradas
Com base no texto, é correto afirmar que a ética de Schopenhauer pelos donos das grandes produtoras e distribuidoras dos bens
a) corrobora os padrões hegemônicos de comportamento da culturais, sem receber o devido pagamento por isso.
sociedade de consumo atual. b) a indústria cultural é a promoção de um discurso
b) valoriza o aprimoramento formativo do espírito como campo ideologicamente engajado em prol do capitalismo tardio, onde
mais relevante da vida humana. as massas são induzidas à passividade frente à exploração do
c) valoriza preferencialmente a simplicidade e a humildade, em seu trabalho.
vez do cultivo de qualidades intelectuais. c) a violência promovida pela indústria cultural é a da exploração
d) prioriza a condição social e a riqueza material como as do trabalhador da cultura e, ao mesmo tempo, a da imposição,
determinações mais relevantes da vida humana. às massas, da ideologia da passividade frente à exploração
capitalista.
e) realiza um elogio à fé religiosa e à espiritualidade em detrimento
da atração pelos bens materiais. d) o comprometimento econômico e ideológico da indústria
cultural se deve ao caráter espiritual das obras artísticas, sem
qualquer vinculação com a base econômica capitalista em que
06. (ENEM) Sentimos que toda satisfação de nossos desejos
os autores se situavam.
advinda do mundo assemelha-se à esmola que mantém hoje o
mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua fome. A resignação,
ao contrário, assemelha-se à fortuna herdada: livra o herdeiro para 09. (UECE) “A crescente proletarização dos homens de hoje
sempre de todas as preocupações. e a crescente formação das massas são dois lados de um
SCHOPENHAUER, A. Aforismo para a sabedoria da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
mesmo acontecimento. O fascismo procura organizar as
massas proletarizadas recém-surgidas sem tocar nas relações
O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradição de propriedade, por cuja abolição elas pressionam. Ele vê sua
filosófica ocidental, segundo a qual a felicidade se mostra salvação em deixar as massas alcançarem a sua expressão
indissociavelmente ligada à (de modo algum seu direito). As massas possuem um direito à
mudança das relações de propriedade; o fascismo busca dar-lhe
a) a consagração de relacionamentos afetivos.
uma expressão conservando essas relações. O fascismo resulta,
b) administração da independência interior. consequentemente, em uma estetização da vida política.”
c) fugacidade do conhecimento empírico. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica.
Porto Alegre: Zouk, 2012, p. 117.
d) liberdade de expressão religiosa.
e) busca de prazeres efêmeros. Considerando o que diz Benjamin sobre os efeitos sociais da
reprodutibilidade técnica dos objetos de fruição estética, é correto
07. (ENEM) A hospitalidade pura consiste em acolher aquele que afirmar que
chega antes de lhe impor condições, antes de saber e indagar o a) o fascismo elimina a luta de classes, pois unifica a todos sob
que quer que seja, ainda que seja um nome ou um “documento” de uma mesma bandeira e com a mesma camisa, unindo a nação
identidade. Mas ela também supõe que se dirija a ele, de maneira no amor pela pátria e seus símbolos, tornando a política mais
singular, chamando-o portanto e reconhecendo-lhe um nome bela.
próprio: “Como você se chama?” A hospitalidade consiste em fazer b) a luta de classes é um elemento constitutivo do fascismo, que
tudo para se dirigir ao outro, em lhe conceder, até mesmo perguntar cria a propriedade privada e, portanto, estabelece antagonismos
seu nome, evitando que essa pergunta se torne uma “condição”, sociais insuperáveis pela política.
um inquérito policial, um fichamento ou um simples controle das
fronteiras. Uma arte e uma poética, mas também toda uma política c) a obra de arte tecnicamente reproduzida apresenta uma
dependem disso, toda uma ética se decide aí. necessária superação do fascismo, pois a contemplação
DERRIDA, J. Papel-máquina. São Paulo: Estação Liberdade, 2004 (adaptado).
estética popularizada conduz as massas para um estado de
gozo apolítico.
Associado ao contexto migratório contemporâneo, o conceito de d) o fascismo organiza o proletariado como massa, mas não
hospitalidade proposto pelo autor impõe a necessidade de põe em questão sua condição de classe, tornando a relação
a) anulação da diferença. social mera aparência de unidade, sob símbolos, cores e gritos
estandardizados — estetização.
b) cristalização da biografia.
c) incorporação da alteridade.
d) supressão da comunicação.
e) verificação da proveniência.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 47
FILOSOFIA 31 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

10. (UNESP) Concentração e controle, em nossa cultura, escondem- TEXTO II


se em sua própria manifestação. Se não fossem camuflados,
provocariam resistências. Por isso, precisa ser mantida a ilusão O fetichismo na música e a regressão da audição
e, em certa medida, até a realidade de uma realização individual. Aldous Huxley levantou em um de seus ensaios a seguinte
Por pseudoindividuação entendemos o envolvimento da cultura pergunta: quem ainda se diverte realmente hoje num lugar de
de massas com uma aparência de livre-escolha. A padronização diversão? Com o mesmo direito poder-se-ia perguntar: para quem
musical mantém os indivíduos enquadrados, por assim dizer, a música de entretenimento serve ainda como entretenimento? Ao
escutando por eles. A pseudoindividuação, por sua vez, os mantém invés de entreter, parece que tal música contribui ainda mais para
enquadrados, fazendo-os esquecer que o que eles escutam já é o emudecimento dos homens, para a morte da linguagem como
sempre escutado por eles, “pré-digerido”. expressão, para a incapacidade de comunicação.
Theodor Adorno. “Sobre música popular”. In: Gabriel Cohn (org.). ADORNO, T. Textos escolhidos. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
Theodor Adorno, 1986. Adaptado.

A aproximação entre a letra da canção e a crítica de Adorno


Em termos filosóficos, a pseudoindividuação é um conceito
indica o(a)
a) identificado com a autonomia do sujeito na relação com a
a) lado efêmero e restritivo da indústria cultural.
indústria cultural.
b) baixa renovação da indústria de entretenimento.
b) que identifica o caráter aristocrático da cultura musical na
sociedade de massas. c) influência da música americana na cultura brasileira.
c) que expressa o controle disfarçado dos consumidores no d) fusão entre elementos da indústria cultural e da cultura popular.
campo da cultura. e) declínio da forma musical em prol de outros meios de
d) aplicável somente a indivíduos governados por regimes entretenimento.
políticos totalitários.
e) relacionado à autonomia estética dos produtores musicais na 13. (UNESP) Uma obra de arte pode denominar-se revolucionária
relação com o mercado. se, em virtude da transformação estética, representar, no destino
exemplar dos indivíduos, a predominante ausência de liberdade,
rompendo assim com a realidade social mistificada e petrificada e
11. (ENEM PPL) A crítica é uma questão de distância certa. O olhar hoje
abrindo os horizontes da libertação. Esta tese implica que a literatura
mais essencial, o olho mercantil que penetra no coração das coisas,
não é revolucionária por ser escrita para a classe trabalhadora ou
chama-se propaganda. Esta arrasa o espaço livre da contemplação
para a “revolução”. O potencial político da arte baseia-se apenas
e aproxima tanto as coisas, coloca-as tão debaixo do nariz quanto
na sua própria dimensão estética. A sua relação com a práxis
o automóvel que sai da tela de cinema e cresce, gigantesco,
(ação política) é inexoravelmente indireta e frustrante. Quanto mais
tremeluzindo em direção a nós. E, do mesmo modo que o cinema não
imediatamente política for a obra de arte, mais reduzidos são seus
oferece móveis e fachadas a uma observação crítica completa, mas
objetivos de transcendência e mudança. Nesse sentido, pode haver
dá apenas a sua espetacular, rígida e repentina proximidade, também
mais potencial subversivo na poesia de Baudelaire e Rimbaud que
a propaganda autêntica transporta as coisas para primeiro plano e
nas peças didáticas de Brecht.
tem um ritmo que corresponde ao de um bom filme.
(Herbert Marcuse. A dimensão estética, s/d.)
BENJAMIN, W. Rua de mão única: infância berlinense – 1900.
Belo Horizonte: Autêntica, 2013 (adaptado).
Segundo o filósofo, a dimensão estética da obra de arte caracteriza-
O texto apresenta um entendimento do filósofo Walter Benjamin, se por
segundo o qual a propaganda dificulta o procedimento de análise a) apresentar conteúdos ideológicos de caráter conservador da
crítica em virtude do(a) ordem burguesa.
a) caráter ilusório das imagens. b) comprometer-se com as necessidades de entretenimento dos
b) evolução constante da tecnologia. consumidores culturais.
c) aspecto efêmero dos acontecimentos. c) estabelecer uma relação de independência frente à conjuntura
política imediata.
d) conteúdo objetivo das informações.
d) subordinar-se aos imperativos políticos e materiais de
e) natureza emancipadora das opiniões. transformação da sociedade.
e) contemplar as aspirações políticas das populações
12. (ENEM PPL)
economicamente excluídas.
TEXTO I
A melhor banda de todos os tempos da última semana 14. (UEL) Leia o texto a seguir.
O melhor disco brasileiro de música americana O programa do esclarecimento era o desencantamento do
O melhor disco dos últimos anos de sucessos do passado mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação
O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores pelo saber. [..] O mito converte-se em esclarecimento, e a natureza
fracassos em mera objetividade. O preço que os homens pagam pelo aumento
Não importa contradição de poder é a alienação daquilo sobre o que exercem o poder. [...]
O que importa é televisão Quanto mais a maquinaria do pensamento subjuga o que
Dizem que não há nada que você não se acostume existe, tanto mais cegamente ela se contenta com essa reprodução.
Cala a boca e aumenta o volume então. Desse modo, o esclarecimento regride à mitologia da qual jamais
MELLO, B.; BRITTO, S. A melhor banda de todos os tempos da última semana.
São Paulo: Abril Music, 2001 (fragmento).
soube escapar.
ADORNO & HORKHEIMER. Dialética do esclarecimento. Fragmentos filosóficos.
Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. p.17; 21; 34.

48 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
31 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA FILOSOFIA

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a crítica à b) A despeito da Segunda Guerra, a finalidade do iluminismo de
racionalidade instrumental e a relação entre mito e esclarecimento libertar os homens do medo, da magia e do mito e torná-los
em Adorno e Horkheimer, assinale a alternativa correta. senhores autônomos e livres mediante o uso da ciência e da
a) O mito revela uma constituição irracional, na medida em que técnica, foi atingido.
lhe é impossível apresentar uma explicação convincente sobre c) Os autores propõem como alternativa às catástrofes da
o seu modo próprio de ser. primeira metade do século XX um novo entendimento da
b) A regressão do esclarecimento à mitologia revela um processo noção de progresso tendo como referência o conceito de
estratégico da razão, com o objetivo de ampliar e intensificar racionalidade comunicativa.
seus poderes explicativos. d) Como demonstra a análise feita pelos autores no texto “O autor
c) A explicação da natureza, instaurada pela racionalidade como produtor”, o ideal de progresso consolidado ao longo da
instrumental, pressupõe uma compreensão holística, em que modernidade foi rompido com as guerras do século XX.
as partes são incorporadas, na sua especificidade, ao todo. e) Em obras como a Dialética do esclarecimento, os autores
d) O esclarecimento implica a libertação humana da submissão à questionam a compreensão da noção de progresso consolidada
natureza, atestada pelo poder racional de diagnosticar, prever e ao longo da trajetória da razão por ela estar vinculada a um
corrigir as limitações naturais. modelo de racionalidade de cunho instrumental.
e) O esclarecimento se caracteriza por uma explicação baseada
no cálculo, do que resulta uma compreensão da natureza como 17. (UEL) Analise a figura a seguir.
algo a ser conhecido e dominado.

15. (UFPA) “Adorno e Horkheimer (os primeiros, na década de


1940, a utilizar a expressão “indústria cultural” tal como hoje a
entendemos) acreditam que esta indústria desempenha as mesmas
funções de um estado fascista (...) na medida em que o individuo
é levado a não meditar sobre si mesmo e sobre a totalidade do
meio social circundante, transformando-se em mero joguete e em
simples produto alimentador do sistema que o envolve.”
(COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural,
São Paulo, Editora Brasiliense, 1987, p. 33. Texto adaptado)

Adorno e Horkeimer consideram que a indústria cultural e o Estado


fascista têm funções similares, pois em ambos ocorre
a) um processo de democratização da cultura ao colocá-la ao Chaplin. Tempos Modernos. (Disponível em: <http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/
alcance das massas o que possibilita sua conscientização. filmes/temposmodernos/temposmodernos01.jpg> Acesso em: 8 de ago. 2004)
b) o desenvolvimento da capacidade do sujeito de julgar o valor
das obras artísticas e bens culturais, assim como de conviver “Parece que enquanto o conhecimento técnico expande o
em harmonia com seus semelhantes. horizonte da atividade e do pensamento humanos, a autonomia do
homem enquanto indivíduo, a sua capacidade de opor resistência
c) o aprimoramento do gosto estético por meio da indústria do ao crescente mecanismo de manipulação das massas, o seu poder
entretenimento, em detrimento da capacidade de reflexão. de imaginação e o seu juízo independente sofreram aparentemente
d) um processo de alienação do homem, que leva o indivíduo a uma redução. O avanço dos recursos técnicos de informação
perder ou a não formar uma imagem de si e da sociedade em se acompanha de um processo de desumanização. Assim, o
que vive. progresso ameaça anular o que se supõe ser o seu próprio objetivo:
e) o aprimoramento da formação cultural do individuo e a a ideia de homem”.
melhoria do seu convívio social pela inculcação de valores, de (HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão. Trad. de Sebastião Uchôa Leite.
Rio de Janeiro: Editorial Labor do Brasil, 1976. p. 6.)
atitudes conformistas e pela eliminação do debate, na medida
em que este produz divergências no âmbito da sociedade.
Com base no texto, na imagem e nos conhecimentos sobre
racionalidade instrumental, é correto afirmar:
16. (UEL) Leia o texto a seguir:
a) A imagem de Chaplin está de acordo com a crítica de
“A ideia de progresso manifesta-se inicialmente, à época do Horkheimer: ao invés de o progresso e da técnica servirem ao
Renascimento, como consciência de ruptura. [...] No século XVIII tal homem, este se torna cada vez mais escravo dos mecanismos
ideia associa-se à consciência do caráter progressivo da civilização, criados para tornar a sua vida melhor e mais livre.
e é assim que a encontramos em Voltaire. Tal como para Bacon,
b) A imagem e o texto remetem à ideia de que o desenvolvimento
no início do século XVII, o progresso também é uma espécie de
tecnológico e o extraordinário progresso permitiram ao homem
objeto de fé para os iluministas. [...] A certeza do progresso permite
atingir a autonomia plena.
encarar o futuro com otimismo”.
(Adaptado de: FALCON, F. J. C. Iluminismo. 2. ed. São Paulo: Ática, 1989, p. 61-62.) c) Imagem e texto apresentam o conceito de racionalidade que
está na estrutura da sociedade industrial como viabilizador
Na primeira metade do século XX, a ideia de progresso também se da emancipação do homem em relação a todas as formas de
transformou em objeto de análise do grupo de pesquisadores do opressão.
Instituto de Pesquisa Social vinculado à Universidade de Frankfurt. d) Enquanto a imagem de Chaplin apresenta a autonomia dos
Tendo como referência a obra de Adorno e Horkheimer, é correto trabalhadores nas sociedades contemporâneas, o texto de
afirmar: Horkheimer mostra que, quanto maior o desenvolvimento
a) Por serem herdeiros do pensamento hegeliano, os autores tecnológico, maior o grau de humanização.
entendem que a superação do modelo de racionalidade e) Tanto a imagem quanto o texto enaltecem a inevitável
inerente aos conflitos do século XX depende do justo equilíbrio instrumentalização das relações humanas nas sociedades
entre uso público e uso privado da razão. contemporâneas.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 49
FILOSOFIA 31 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

18. (UEL) “A indústria cultural não cessa de lograr seus d) Tanto o trabalho quanto o lazer preservam a autonomia
consumidores quanto àquilo que está continuamente a lhes do indivíduo, mesmo nos processos de mecanização que
prometer. A promissória sobre o prazer, emitida pelo enredo e caracterizam a fabricação de mercadorias no capitalismo
pela encenação, é prorrogada indefinidamente: maldosamente, a tardio.
promessa a que afinal se reduz o espetáculo significa que jamais e) As atividades de lazer no capitalismo tardio, como o cinema
chegaremos à coisa mesma, que o convidado deve se contentar e a televisão, são caminhos para a politização e aquisição de
com a leitura do cardápio. [...] Cada espetáculo da indústria cultural cultura pelas massas, aproximando-as das verdadeiras obras
vem mais uma vez aplicar e demonstrar de maneira inequívoca a de arte.
renúncia permanente que a civilização impõe às pessoas. Oferecer-
lhes algo e ao mesmo tempo privá-las disso é a mesma coisa”.
20. (UEL) Leia o seguinte texto de Adorno e Horkheimer:
(ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento.
Trad. de Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. p. 130-132.) O esclarecimento, porém, reconheceu as antigas potências
no legado platônico e aristotélico da metafísica e instaurou
Com base no texto e nos conhecimentos sobre indústria cultural um processo contra a pretensão de verdade dos universais,
em Adorno e Horkheimer, é correto afirmar: acusando-a de superstição. Na autoridade dos conceitos universais
a) A indústria cultural limita-se a atender aos desejos que surgem ele crê enxergar ainda o medo pelos demônios, cujas imagens
espontaneamente da massa de consumidores, satisfazendo eram o meio, de que se serviam os homens, no ritual mágico,
as aspirações conscientes de indivíduos autônomos e livres para tentar influenciar a natureza. Doravante, a matéria deve ser
que escolhem o que querem. dominada sem o recurso ilusório a forças soberanas ou imanentes,
sem a ilusão de qualidades ocultas. O que não se submete ao
b) A indústria cultural tem um desempenho pouco expressivo na
critério da calculabilidade e da utilidade torna-se suspeito para o
produção dos desejos e necessidades dos indivíduos, mas ela
esclarecimento.
é eficiente no sentido de que traz a satisfação destes desejos
(ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento. Fragmentos filosóficos.
e necessidades. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985, p. 21.)
c) A indústria cultural planeja seus produtos determinando
o que os consumidores desejam de acordo com critérios Com base no texto e no conceito de esclarecimento de Adorno e
mercadológicos. Para atingir seus objetivos comerciais, ela Horkheimer, é correto afirmar:
cria o desejo, mas, ao mesmo tempo, o indivíduo é privado do a) O esclarecimento representa, em oposição ao modelo
acesso ao prazer e à satisfação prometidos. matemático, a base do conhecimento técnico-científico que
d) O entretenimento que veículos como o rádio, o cinema e as sustenta o modo de produção capitalista na viabilização da
revistas proporcionam ao público não pode ser entendido emancipação social.
como forma de exploração dos bens culturais, já que a cultura b) O esclarecimento demonstra o domínio substancial da
está situada fora desses canais. razão sobre a natureza interna e externa e a realização da
e) A produção em série de bens culturais padronizados permite emancipação social levada adiante pelo capitalismo.
que a obra de arte preserve a sua capacidade de ser o suporte c) O esclarecimento compreende a realização romântica da
de manifestação e realização do desejo: a cada nova cópia, a racionalidade que acentuou, de forma intensa, a interação
crítica se renova. harmônica entre homem e natureza.
d) O esclarecimento abrange a racionalização das diversas
19. (UEL) “A diversão é o prolongamento do trabalho sob o formas e condições da vida humana com o objetivo de tornar o
capitalismo tardio. Ela é procurada por quem quer escapar ser humano mais feliz, quando da realização de práticas rituais
ao processo de trabalho mecanizado, para se pôr de novo em e religiosas.
condições de enfrentá-lo. Mas, ao mesmo tempo, a mecanização
atingiu um tal poderio sobre a pessoa em seu lazer e sobre a sua e) O esclarecimento concebe o abandono gradual dos
felicidade, ela determina tão profundamente a fabricação das pressupostos metafísicos e a operacionalização do
mercadorias destinadas à diversão, que esta pessoa não pode conhecimento por meio da calculabilidade e da utilidade,
mais perceber outra coisa senão as cópias que reproduzem o redundando num modelo próprio de razão instrumental.
próprio processo de trabalho”.
(ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento.
Trad. de Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. p.128.) EXERCÍCIOS DE

Com base no texto e nos conhecimentos sobre trabalho e lazer no APROFUNDAMENTO


capitalismo tardio, em Adorno e Horkheimer, é correto afirmar:
a) Há um círculo vicioso que envolve o processo de trabalho e 01. (UNESP) Quase sem exceção, os filósofos colocaram a essência
os momentos de lazer. Com o objetivo de fugir do trabalho da mente no pensamento e na consciência; o homem era o animal
mecanizado e repor as forças, o indivíduo busca refúgio no consciente, o “animal racional”. Porém, segundo Schopenhauer,
lazer, porém o lazer se estrutura com base na mesma lógica filósofo alemão do século XIX, sob o intelecto consciente está a
mecanizada do trabalho. “vontade inconsciente”, uma força vital persistente, uma vontade
de desejo imperioso. Às vezes, pode parecer que o intelecto dirija
b) Apesar de se apresentarem como duas dimensões de
a vontade, mas só como um guia conduz o seu mestre. Nós não
um mesmo processo, lazer e trabalho se diferenciam no
queremos uma coisa porque encontramos motivos para ela,
capitalismo tardio, na medida em que o primeiro é o espaço do
encontramos motivos para ela porque a queremos; chegamos até
desenvolvimento das potencialidades individuais, a exemplo da
a elaborar filosofias e teologias para disfarçar nossos desejos.
reflexão.
Will Durant. A história da filosofia, 1996. Adaptado.
c) Mesmo sendo produzidas de acordo com um esquema
mercadológico que fabrica cópias em ritmo industrial, as Explique a importância da concepção do homem como “animal racional”
mercadorias acessadas nos momentos de lazer proporcionam para a filosofia. Como o conceito de “vontade inconsciente”, proposto
ao indivíduo plena diversão e cultura. por Schopenhauer, compromete a confiança filosófica na razão?

50 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
31 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA FILOSOFIA

02. (UNB) TEXTO 2


Você pode ser imortal A fabricação de livros tornou-se um fato industrial, submetido
a todas as regras da produção e do consumo; daí, uma série de
Morte morrida é coisa que a Turritopsis dohrnii não conhece. fenômenos negativos, como o consumo provocado artificialmente.
A vida dessa espécie de água-viva só acaba se ela for ferida Mas a indústria editorial distingue-se das demais porque nela se
gravemente. Do contrário, a T. dohrnii vai vivendo, 1sem prazo acham inseridos homens de cultura, para os quais a finalidade
de validade. Suas células mantêm-se em um ciclo de renovação primeira não é a produção de um livro para vender, mas sim
indefinidamente, como se voltassem à infância. Podem aprender a produção de valores culturais. Isso significa que, ao lado de
qualquer função de que o corpo precise. É uma verdadeira (e útil) “produtores de objetos de consumo cultural”, agem “produtores
mágica evolutiva, parecida com a do Seabates aleutianus, um peixe de cultura”, que aceitam a indústria cultural para fins que a
do Pacífico conhecido como rockfish, e com a de duas espécies de ultrapassam.
tartaruga, a Emydoidea blandingii e a Chrysemys picta (ambas da
(Umberto Eco. Apocalípticos e integrados, 1990. Adaptado.)
América do Norte). Esse segundo grupo tem o que a ciência chama
de envelhecimento desprezível. Suas células ficam sempre jovens, a) Em qual dos dois textos é apontado o caráter antidemocrático
por motivo que a ciência ainda quer descobrir. da indústria cultural? Explique o significado da expressão
A imortalidade existe na natureza. Não tem nada de utopia. “homens não tutelados”.
Pena que nós não desfrutemos dessa vantagem. Ao longo do b) Por que a expansão artificial do consumo pode ser considerada
tempo, nosso corpo se deteriora. Perdemos os melanócitos que “fenômeno negativo”? Explique a relação entre indústria cultural
dão cor aos cabelos, o colágeno da pele, a cartilagem dos ossos e sociedade segundo o texto 2.
— ficamos frisados, enrugados, com dores nas juntas. Velhos. Em
uma sucessão de baixas, células e órgãos vão deixando de cumprir
05. (UEL) Nas sociedades capitalistas liberal-democráticas,
funções cruciais para o corpo. Até que tudo isso culmina em uma
exaltam-se os direitos dos indivíduos de se expressarem de
pane geral. E nós morremos.
maneira livre e tomarem decisões políticas por meio de processos
João Vito Cinquepalmi. Você pode ser imortal. In: SuperInteressante,
fev./2010 (com adaptações). eleitorais conhecidos por soberania popular. Porém, em seu
exercício, esses direitos foram afetados pela constituição dos meios
Tendo como referência o texto acima e os múltiplos aspectos que de comunicação de massas como “indústria cultural”, conforme
ele suscita, julgue o item a seguir. definiram Theodor Adorno e Max Horkheimer. Isso ocorre porque,
de um lado, ideias e valores são (re)produzidos como mercadorias
Considere as seguintes ideias do filósofo Schopenhauer: a e, portanto, em conformidade com as demandas do mercado e
existência de qualquer ser humano oscila entre momentos de dor, daqueles que detêm poderes econômicos e políticos; de outro,
quando há necessidade ou desejo não satisfeito, e tédio, quando o enorme poder publicitário das grandes empresas e a elevada
necessidade ou desejo previamente existente é satisfeito. A concentração da propriedade no setor potencializam algumas
vontade de viver é uma vontade cósmica, impressa na natureza e vozes e silenciam muitas outras.
independente de vontades individuais, estando presente em todos
Com base na noção de “indústria cultural”, identifique possíveis
os objetos do universo, animados ou não.
consequências sobre três aspectos fundamentais para o exercício
Com fundamento nas ideias desse filósofo, seria correto afirmar da cidadania e, portanto, da democracia: a liberdade de expressão,
que a vida “sem prazo de validade” seria insuportável para o ser a formação política e a autonomia dos indivíduos.
humano.

03. (UEL) Walter Benjamin, autor vinculado à Escola de Frankfurt,


no texto A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, GABARITO
cunhou o conceito de reprodutibilidade técnica. Para Benjamin .
(1996), a obra de arte sempre foi reprodutível. [...] Em contraste, a EXERCÍCIOS PROPOSTOS
reprodução técnica da obra de arte representa um processo novo, 01. D 05. B 09. D 13. C 17. A
que se vem desenvolvendo na história, intermitentemente, através 02. E 06. B 10. C 14. E 18. C
de saltos separados por longos intervalos, mas com intensidade 03. A 07. C 11. A 15. D 19. A
crescente. 04. E 08. C 12. A 16. E 20. E
BENJAMIN, W. Obras Escolhidas. Magia e Técnica, Arte e Política.
São Paulo: Brasiliense, 1996. p. 166. EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. O pensamento filosófico iluminista aponta a racionalidade como uma característica
que atribui a essência humana aos indivíduos. Essa concepção parte do princípio de
Com base na citação de Benjamin, disserte sobre as consequências que os instintos e os desejos aproximariam os indivíduos dos outros animais, uma
da reprodutibilidade técnica para a arte. vez que seriam fruto da irracionalidade, afastando o homem de sua natureza humana,
inferiorizando-o. A racionalidade seria, partindo da perspectiva iluminista, aquilo que
possibilita ao homem existir e ter consciência de que existe, não limitando sua existência
04. (UNESP) TEXTO 1 aos seus aspectos biológicos. Assim, a razão seria o que permite ao homem a elevação
espiritual e o domínio sobre a natureza. No entanto, o conceito de “vontade inconsciente”
As mercadorias da indústria cultural se orientam segundo formulado por Schopenhaurer levanta um questionamento acerca do otimismo iluminista
o princípio de sua comercialização e não segundo seu próprio em relação à razão, na medida em que concebe a natureza humana como sendo marcada
conteúdo. Toda a prática da indústria cultural transfere, sem mais, pelos conflitos entre as pulsões inconscientes e o uso da razão. Isso se daria porque a
“vontade inconsciente” não seria conduzida pela razão, mas por desejos incontroláveis,
a motivação do lucro às criações espirituais. A partir do momento ideia que rompe com o pensamento tradicional de que todas as ações humanas são
em que essas mercadorias asseguram a vida de seus produtores fundamentadas no uso da razão.
no mercado, elas já estão contaminadas por essa motivação. A
02. A filosofia de Schopenhauer se caracteriza por uma visão pessimista do homem e da
indústria cultural impede a formação de indivíduos autônomos, vida. Para ele, o ser humano é essencialmente vontade, o que levaria a desejar sempre
independentes, capazes de julgar e decidir conscientemente. Mas mais, produzindo uma insatisfação constante. Essa vontade, que se expressa nas ações
estes constituem, contudo, a condição prévia de uma sociedade humanas, seria parte de uma vontade que anima todas as coisas da natureza. E, se a
essência do homem e do mundo é essa vontade insaciável, o filósofo identifica aí a origem
democrática, que não se poderia salvaguardar e desabrochar das lutas entre os homens, da dor e do sofrimento. Schopenhauer crê que apenas a arte
senão através de homens não tutelados. e a ascese – vontade cósmica - , ou seja, o abandono de si, pode fazer com o homem
se liberte da dor.
(Theodor W. Adorno. A indústria cultural, 1986. Adaptado.)

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 51
FILOSOFIA 31 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

03. No texto A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica, Walter Benjamim afirma
que a obra de arte sempre foi objeto de reprodução, uma vez que a imitação era a forma
de fazer com que os discípulos pudessem desenvolver o aprendizado. Da mesma forma,
a imitação era utilizada pelos próprios artistas para a divulgação de suas obras. Por fim, a
prática da imitação também era utilizada por terceiros para obter lucro. Já a reprodução
técnica é algo que vai acontecendo gradativamente ao longo da história, primeiro com
poucas técnicas, mas, aos poucos, ganha intensidade com a fotografia e o cinema. O
problema da reprodutibilidade, por mais perfeita que seja, é que falta algo a ela, isto é,
está ausente o “aqui e agora”, a “sua existência única”, falta história, fator que lhe confere
autenticidade. Como decorrência, é o “aqui e agora” que a reprodução técnica acaba por
“desvalorizar”. Para Benjamin, a reprodução técnica “atrofia” a aura, isto é, aquilo que é
dado apenas uma vez, e a tira do “domínio da tradição”. Com as cópias, a obra deixa de
ser única e se torna mais próxima do espectador. O melhor exemplo é o cinema. Benjamin,
ao contrário de Adorno, interpreta positivamente, mesmo que sob certas condições, as
mudanças na percepção decorrentes das novas técnicas.

04. a) No primeiro texto. Homens não tutelados são aqueles indivíduos esclarecidos,
autônomos, capazes de pensar por si mesmos e que não se submetem à ideologia e à
indústria cultural.
b) A expansão artificial do consumo pode ser considerada negativa porque faz com que
os humanos estejam submetidos à uma lógica capitalista, em que não se percebe o valor
das coisas, tudo passa a ser objeto de consumo e, posteriormente, de descarte. No texto
2, a indústria cultural aparece como o mercado de bens culturais, que submete a arte
à lógica mercadológica. No entanto, essa indústria também apresenta a contradição
de permitir a existência de produtores de cultura, que somente aceitam essa indústria
como forma estratégica de divulgação de seu trabalho, sem alimentar qualquer desejo de
produzir materiais massificados e de pouco valor.

05. Como poucas pessoas detêm a propriedade dos meios de comunicação e o acesso à
divulgação de ideias por esses meios é muito caro e, portanto, inacessível para a imensa
maioria da população, o direito à livre expressão fica comprometido pela impossibilidade
efetiva de que certas vozes possam ser disseminadas e ouvidas.
Igualmente, isso faz com que a formação política dos indivíduos fique comprometida,
pois as informações e opiniões disseminadas tornam-se muito unilaterais, dificultando
ou mesmo impedindo o acesso à pluralidade de opiniões sobre os assuntos econômicos,
políticos etc.
Por fim, não tendo acesso às múltiplas ideias, os indivíduos tornam-se mais facilmente
manipuláveis pelos detentores e/ou financiadores daqueles meios e, assim, a sua
autonomia para o exercício da cidadania fica prejudicada.

ANOTAÇÕES

52 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
32
FILOSOFIA
EXISTENCIALISMO

SARTE: A EXISTÊNCIA E A ESSÊNCIA


Jean-Paul Sartre (1905 – 1980) vai estabelecer uma das
principais correntes de pensamento do século XX, o Existencialismo.
Postulando que no caso dos seres humanos, não possuímos uma
essência definida e pré-determinada, que nossa existência em vida
formula e estrutura quem somos, fica conhecido pela famosa frase
“a existência precede a essência”.
O autor francês acreditava na necessidade do engajamento
intelectual em pautas sociais, tendo ao longo de sua vida estado
presente em diversas demandas de grupos da sociedade. Teve um
longo relacionamento com a também pensadora Existencialista e
ativista feminista, Simone de Beauvoir.

Simone de Beauvoir e Sartre. Pequim, 1955.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/ce/Simone_de_
Beauvoir_%26_Jean-Paul_Sartre_in_Beijing_1955.jpg/512px-Simone_de_Beauvoir_%26_
Jean-Paul_Sartre_in_Beijing_1955.jpg

TEXTO COMPLEMENTAR
“O existencialista declara com frequência que o homem é
angústia e essa afirmação representa o seguinte: ele se engaja e dá
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/ef/Sartre_1967_crop.
jpg/600px-Sartre_1967_crop.jpg conta não apenas do que escolheu ser, mas também legisla sobre si
mesmo e sobre toda a humanidade. Esse tipo de angústia descrita
Na visão de Sartre, o indivíduo é formulado pelos seus atos, pelo existencialismo se explica também por uma responsabilidade
por aquilo que realiza, por suas práticas. A existência define direta para com os outros homens engajados na escolha. (...)
o que o homem faz de si, suas atitudes formulam seu ser, não Ao afirmarmos que o homem escolhe a si mesmo, dizemos
tendo uma essência condicionada, que pudesse gerar uma que cada um de nós, escolhe a todos os homens. (...) Escolher ser
instrumentalização prévia. isto ou aquilo é afirmar, simultaneamente, o valor do que estamos
O homem seria um projeto, sendo pautado por aquilo que escolhendo, porque não podemos nunca escolher o mal, o que
realiza e acomete a si mesmo, uma desvinculação de outros escolhemos é sempre o bem e nada pode ser bom para nós sem
saberes filosóficos, que denotavam ao indivíduo uma essência ser para todos.”
definida e realizada. A Filosofia clássica e moderna em muitos ( Sartre, Jean-Paul – O Existencialismo é humanismo)
momentos estabelece ao homem um papel a ser apresentado
dentro da sua existência.

EXERCÍCIOS
EXISTÊNCIA E ANGÚSTIA
“Somos condenados a ser livres”. A afirmação de Sartre
PROTREINO
estabelece uma visão acerca da existência, em que somos culpados
por aquilo que realizamos, gerando uma culpa por nossos atos. A 01. Defina brevemente a noção de “angústia” para Sartre.
liberdade é uma condenação, seria um estágio de “má-fé” culpabilizar 02. Defina brevemente a noção de “má-fé” para Sartre.
os outros por acontecimentos que acometem minha vida.
03. Explique brevemente a noção de liberdade para Sartre.
Viver é um constante equilíbrio entre aquilo que escolho e as
consequências estabelecidas para tal, aceitando minha culpa em 04. Aponte os principais motivos para Sartre ser entendido como um
relação a elas. A liberdade de escolha é dominada por uma angústia, filósofo existencialista.
que remonta sua percepção acerca de si. Aqueles que não aceitam
a angústia, optam pela má-fé, tirando de si a culpa por suas próprias 05. Aponte as principais características da existência para Sartre.
realizações, recorrendo a instrumentos exteriores.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 53
FILOSOFIA 32 EXISTENCIALISMO

03. (UPE-SSA 3) Sobre a Liberdade Humana, analise os textos a


seguir:

EXERCÍCIOS
PROPOSTOS
01. (UPE-SSA 2) Sobre a dimensão do homem na perspectiva
existencialista, considere o texto a seguir:

O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é


definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será
alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza
humana, visto que não há Deus para a conceber.
(SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo.
São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 12).

O enfoque existencialista questiona o modo de ser do homem. Entende


esse modo de ser como o modo de ser-no-mundo. Na perspectiva
existencialista, sobre o homem, assinale a alternativa correta
Disponível em: http://www.google.com.br/search?q=a+liberdade+humana
a) É um projeto de ser.
b) É um seguidor das escolhas dos outros. É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser
c) Na sua própria essencialidade e no trajeto de sua liberdade, não livre. Condenado porque não se criou a si próprio; e, no entanto,
tem escolha. livre porque, uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo
quanto fizer.
d) Tem uma natureza concebida por Deus em sua essência.
(SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um Humanismo. São Paulo: 1973, p. 15.)
e) É irresponsável por si próprio ao conceber seus atos.
Com base no pensamento filosófico de Sartre sobre a liberdade,
02. (UFU) Considere o seguinte trecho, extraído da obra A náusea, assinale a alternativa correta
do escritor e filósofo francês Jean Paul Sartre (1889-1980). a) O homem não é, senão o seu projeto, escolha e compromisso.
“O essencial é a contingência. O que quero dizer é que, por b) O homem não está condenado à liberdade; ele tem escolha.
definição, a existência não é a necessidade. Existir é simplesmente
c) O homem é livre sem escolha e sem compromisso.
estar presente; os entes aparecem, deixam que os encontremos,
mas nunca podemos deduzi-los. Creio que há pessoas que d) O homem é seu projeto responsável sem escolha.
compreenderam isso. Só que tentaram superar essa contingência e) O homem é responsável e livre sem escolha.
inventando um ser necessário e causa de si próprio. Ora, nenhum
ser necessário pode explicar a existência: a contingência não é 04. (UPE-SSA 2) Sobre o pensamento filosófico, leia o texto a seguir:
uma ilusão, uma aparência que se pode dissipar; é o absoluto, por
conseguinte, a gratuidade perfeita.”
SARTRE, Jean Paul. A Náusea. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986. Tradução de
Rita Braga, citado por: MARCONDES, Danilo Marcondes. Textos Básicos de Filosofia.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000.

Nesse trecho, vemos uma exemplificação ou uma referência ao


existencialismo sartriano que se apresenta como
a) recusa da noção de que tudo é contingente.
b) fundamentado no conceito de angústia, que deriva da
consciência de que tudo é contingente.
c) denúncia da noção de má fé, que nos leva a admitir a existência
de um ser necessário para aplacar o sentimento de angústia.
d) crítica à metafísica essencialista.

54 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
32 EXISTENCIALISMO FILOSOFIA

O homem apresenta-se como uma escolha a fazer. Muito bem. 07. (UFSJ) Sobre a interferência de Jean-Paul Sartre na filosofia do
Antes do mais, ele é a sua existência no momento presente e está século XX, é correto afirmar que ele
fora do determinismo natural; o homem não se define previamente a) reconhece a importância de Diderot, Voltaire e Kant e repercute
a si próprio, mas em função do seu presente individual. Não há a interferência positiva destes na noção de que cada homem é
uma natureza humana que se lhe anteponha, mas é-lhe dada uma um exemplo particular no universo.
existência específica num dado momento.
b) faz a inversão da noção essencialista ao apregoar que o
SARTRE, Jean Paul. O Existencialismo é um Humanismo. 1973, p. 31.
Homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo
Com base no pensamento filosófico de Sartre, considera-se que e só após isso se define. Assim, não há natureza humana, pois
não há Deus para concebê-la.
a) a essência da natureza humana precede a existência.
c) inaugura uma nova ordem político-social, segundo a qual o
b) a natureza humana é um substituto da condição humana. Homem nada mais é do que um projeto que se lança numa
c) no homem em sua inteireza, a existência precede a essência. natureza essencialmente humana.
d) o existencialismo dá primazia ao determinismo natural em d) diz que ser ateu é mais coerente apesar de reconhecer
função do seu presente individual. no Homem uma virtu que o filia, definitivamente, a uma
e) o homem está fechado em si, sem ter escolha. consciência a priori infinita.

05. (UFSJ) Na obra “O existencialismo é um humanismo”, Jean- 08. (UFSJ) A angústia, para Jean-Paul Sartre, é
Paul Sartre intenta a) tudo o que a influência de Shopenhauer determina em Sartre:
a) desenvolver a ideia de que o existencialismo é definido pela a certeza da morte. O Homem pode ser livre para fazer suas
livre escolha e valores inventados pelo sujeito a partir dos quais escolhas, mas não tem como se livrar da decrepitude e do fim.
ele exerce a sua natureza humana essencial. b) a nadificação de nossos projetos e a certeza de que a relação
b) mostrar o significado ético do existencialismo. Homem X natureza humana é circunstancial, objetiva, e pode
ser superada pelo simples ato de se fazer uma escolha.
c) criticar toda a discriminação imposta pelo cristianismo, através
do discurso, à condição de ser inexorável, característica natural c) a certificação de que toda a experiência humana é idealmente
dos homens. sensorial, objetivamente existencial e determinante para a vida
e para a morte do Homem em si mesmo e em sua humanidade.
d) delinear os aspectos da sensação e da imaginação humanas
que só se fortalecem a partir do exercício da liberdade. d) consequência da responsabilidade que o Homem tem sobre
aquilo que ele é, sobre a sua liberdade, sobre as escolhas que
06. (UNIOESTE) “O que significa aqui o dizer-se que a existência faz, tanto de si como do outro e da humanidade, por extensão.
precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe,
se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, 09. (UFU) Leia o excerto abaixo e assinale a alternativa que relaciona
tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque corretamente duas das principais máximas do existencialismo de
primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a Jean-Paul Sartre, a saber:
si próprio se fizer. (...) O homem é, não apenas como ele se concebe, I. “a existência precede a essência”
mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da II. “estamos condenados a ser livres”
existência, como ele se deseja após este impulso para a existência;
o homem não é mais que o que ele faz. (...) Assim, o primeiro esforço Com efeito, se a existência precede a essência, nada poderá
do existencialismo é o de por todo o homem no domínio do que ele jamais ser explicado por referência a uma natureza humana dada
é e de lhe atribuir a total responsabilidade de sua existência. (...) e definitiva; ou seja, não existe determinismo, o homem é livre,
Quando dizemos que o homem se escolhe a si, queremos dizer que o homem é liberdade. Por outro lado, se Deus não existe, não
cada um de nós se escolhe a si próprio; mas com isso queremos encontramos já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a
também dizer que, ao escolher-se a si próprio, ele escolhe todos nossa conduta. [...] Estamos condenados a ser livres. Estamos sós,
os homens. Com efeito, não há de nossos atos um sequer que, ao sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem
criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si
imagem do homem como julgamos que deve ser”. mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no
Sartre.
mundo, é responsável por tudo o que faz.
SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. 3ª. ed.
S. Paulo: Nova Cultural, 1987.
Considerando a concepção existencialista de Sartre e o texto
acima, é incorreto afirmar que a) Se a essência do homem, para Sartre, é a liberdade, então
a) o homem é um projeto que se vive subjetivamente. jamais o homem pode ser, em sua existência, condenado a ser
b) o homem é um ser totalmente responsável por sua existência. livre, o que seria, na verdade, uma contradição.
c) por haver uma natureza humana determinada, no homem a b) A liberdade, em Sartre, determina a essência da natureza
essência precede a existência. humana que, concebida por Deus, precede necessariamente a
sua existência.
d) o homem é o que se lança para o futuro e que é consciente
deste projetar-se no futuro. c) Para Sartre, a liberdade é a escolha incondicional, à qual o
homem, como existência já lançada no mundo, está condenado,
e) em suas escolhas, o homem é responsável por si próprio e por
e pela qual projeta o seu ser ou a sua essência.
todos os homens, porque, em seus atos, cria uma imagem do
homem como julgamos que deve ser. d) O Existencialismo é, para Sartre, um Humanismo, porque a
existência do homem depende da essência de sua natureza
humana, que a precede e que é a liberdade.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 55
FILOSOFIA 32 EXISTENCIALISMO

10. (UEMA) O tema da liberdade é discutido por muitos filósofos. Isto significa que não se poderia encontrar para a minha liberdade
No existencialismo francês, Jean-Paul Sartre, particularmente, outros limites senão ela mesma, ou, se se prefere, não somos livres
compreende a liberdade enquanto escolha incondicional. de cessar de ser livres. (...) O sentido profundo do determinismo é o
de estabelecer em nós uma continuidade sem falha da existência em
Entre as afirmações abaixo, a única que está de acordo com essa
si. (...) Mas em vez de ver transcendências postas e mantidas no seu
concepção de liberdade humana é: ser por minha própria transcendência, supor-se-á que as encontro
a) O homem primeiramente tem uma essência divinizada e depois surgindo no mundo: elas vêm de Deus, da natureza, da ‘minha’
uma existência manifestada na história de sua vida. natureza, da sociedade. (...) Essas tentativas abortadas para sufocar
b) O homem não é mais do que aquilo que a sociedade faz com a liberdade – elas desmoronam quando surge, de repente, a angústia
diante da liberdade – mostram bastante que a liberdade coincide no
ele.
fundo com o nada que está no coração do homem”.
c) O homem primeiramente existe porque sendo consciente é um Sartre.
ser em si e para o outro.
d) O homem é determinado por uma essência superior, que é o Com base no texto, seguem as seguintes afirmativas:
Deus da existência, pois, primeiramente não é nada. I. No homem, a existência precede a essência.
e) O homem primeiramente não é nada. Só depois será alguma II. Em sua essência, o homem é um ser determinado quer seja, ou
coisa e tal como a si próprio se fizer. por Deus, ou pela natureza, ou pela sociedade.
III. Os limites da minha liberdade são estabelecidos pelos valores
11. (UEPA) “A existência precede a essência.” O que melhor define religiosos, estéticos, políticos e sociais.
esta frase do filósofo francês Sartre?
IV. “O homem não está livre de ser livre”, pois não é possível
a) Primeiro o homem existe, depois se define. “cessar de ser livre”.
b) O homem é o que ele concebe e não o que ele faz. V. A liberdade humana, em suas escolhas, se orienta por valores
c) O homem é “em si” e não “para si”. objetivos e pré-determinados.
d) A vida de um homem está ligada a sua essência. Assinale a alternativa correta.
e) A vida humana é totalmente determinada por Deus. a) Apenas II está correta.
b) Apenas I e IV estão corretas.
12. (UFU) Jean-Paul Sartre (1905 – 1980) encontrou um motivo c) Apenas II e IV estão corretas.
de reflexão sobre a liberdade na obra de Dostoiévski Os irmãos d) Apenas III e V estão corretas.
Karamazov: “se Deus não existe, tudo é permitido”. A partir daí
teceu considerações sobre esse tema e algumas consequências e) Todas as afirmativas estão corretas.
que dele podem ser derivadas.
14. (UFSJ) Sartre define o entendimento de que a existência
[...] tudo é permitido se Deus não existe e, por conseguinte,
precede a essência como:
o homem está desamparado porque não encontra nele próprio
nem fora dele nada a que se agarrar. Para começar, não encontra a) “a compreensão de que o inferno são os outros e de que, assim,
desculpas. [...] Estamos sós, sem desculpas. É o que posso o Homem que se alcança diretamente pelo cogito descobre
expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. também todos os outros homens”.
Condenado, porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, b) “a compreensão dos conceitos de angústia, descompasso, má
é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo fé e desespero”.
o que faz.
c) “que na verdade, para o existencialista, não existe amor
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo.
São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 9 (coleção “Os Pensadores”).
essencial, senão aquele que se constrói na perspectiva da
escolástica”.
Com base em seus conhecimentos sobre a filosofia existencialista d) “o significado de que o Homem existe, encontra a si mesmo,
de Sartre e nas informações acima, assinale a alternativa correta. surge no mundo e só posteriormente se define”.
a) Porque entende que somos livres, Sartre defendeu uma filosofia
não engajada, isto é, uma filosofia que não deve se importar 15. (UNICENTRO) Qual dos argumentos abaixo caracteriza
com os acontecimentos sociais e políticos de seu tempo. corretamente a relação conceitual entre existencialismo e liberdade,
b) Para Sartre, a angústia decorre da falta de fé em Deus e não no pensamento de Jean-Paul Sartre (1905-1980)?
do fato de sermos absolutamente livres ou como ele afirma “o a) O existencialismo de Sartre defende o individualismo, isto é,
homem está condenado a ser livre”. cada um deve preocupar-se exclusivamente com a própria
c) As ações humanas são o reflexo do equilíbrio entre o livre- liberdade e ação.
arbítrio e os planos que Deus estabelece para cada pessoa, b) O existencialismo de Sartre afirma que se o homem é livre,
consistindo nisto a verdadeira liberdade. consequentemente não é responsável por aquilo que faz.
d) Para Sartre, as ações das pessoas dependem somente das c) O existencialismo de Sartre afirma que “disciplina é liberdade”.
escolhas e dos projetos que cada um faz livremente durante a O homem livre é aquele que recusa o individualismo para viver
vida e não da suposição da existência e, portanto, das ordens o conformismo e a respeitabilidade da tradição.
de Deus. d) Sartre afirma que o homem nada mais é do que “seu projeto”,
não havendo essência ou modelo para lhe orientar o caminho;
13. (UNIOESTE) “Só pelo fato de que tenho consciência dos está, portanto, irremediavelmente condenado a ser livre.
motivos que solicitam minha ação, esses motivos já são objetos
e) Sartre afirma que a liberdade só possui significado no
transcendentes para minha consciência, estão fora; em vão buscaria
pensamento, na capacidade que o homem tem de refletir
agarrar-me a eles, escapo disto por minha existência mesma. Estou
condenado a existir para sempre além de minha essência, além acerca de sua existência, buscando definir a natureza e a
dos móveis e dos motivos de meu ato: estou condenado a ser livre. essência humana.

56 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
32 EXISTENCIALISMO FILOSOFIA

16. (UENP) Segundo Raymond Plant, em seu livro Política, Teologia c) conformação às situações que encontramos no mundo e que
e História, o argumento de que a essência precede a existência nos determinam.
implica na necessidade de um criador; assim, quando um objeto d) escolha incondicional que o próprio homem faz de seu ser e de
vai ser produzido (um martelo, uma caneta, uma máquina), ele seu mundo. “Estamos condenados à liberdade”, segundo o autor.
obedece a um plano pré-concebido, que estabelece sua forma,
suas principais características e sua função, ou seja, ele possui um
19. (UEM -ADAPTADA) O existencialismo de Sartre declara que,
propósito definido, uma essência que define sua forma e utilidade,
se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência
e precede a sua existência. Segundo Sartre há um ser onde essa
precede a essência, e que este ser é o homem; em outros termos,
situação se inverte, e a existência precede a essência: o ser humano.
a realidade humana. Acerca do existencialismo de Sartre, assinale
Assim, seria o próprio homem o definidor de sua essência.
o que for correto.
De acordo com Sartre, a expressão “a existência precede a a) O pensamento de Sartre privilegiou a existência em lugar de se
essência” pode ser interpretada como: ater à importância da essência.
a) O homem se constrói de acordo com sua própria história e não b) “A existência precede a essência” significa que o homem
de acordo com uma essência abstrata e pré-determinada. primeiramente existe, descobre isso e surge no mundo.
b) A existência humana depende do plano que Deus determina a c) O existencialismo sartreano aproxima-se do existencialismo
cada um. católico ao propor a valorização do homem.
c) A essência é mais importante que a existência. d) O homem, para Sartre, possui um destino que deve ser
d) O homem não tem existência livre, pois ela sempre é precedida cumprido.
da essência.
e) A liberdade não participa do contexto da existência do homem, 20. (UEM -ADAPTADA) “‘Se Deus não existisse, tudo seria permitido’.
porque ele segue as determinações da essência. Eis o ponto de partida do existencialismo. De fato, tudo é permitido
se Deus não existe, e, por conseguinte, o homem está desamparado
17. (UFU) O nada, impensado para Parmênides, encontrou em porque não encontra nele próprio nem fora dele nada a que se
Sartre valor ontológico, pois o nada é o ponto de partida da agarrar. (...) Com efeito, se a existência precede a essência, nada
existência humana, uma vez que não há nenhuma anterioridade à poderá jamais ser explicado por referência a uma natureza humana
existência, nem mesmo uma essência. Esta tese apareceu no livro dada ou definitiva; ou seja, não existe determinismo, o homem é
O Ser e o Nada. Tal afirmação encontra-se também em outro livro, livre, o homem é liberdade. Por outro lado, se Deus não existe, não
O existencialismo é um humanismo, no qual está escrito: encontramos, já prontos, valores ou ordens que possam legitimar
a nossa conduta. Assim, não teremos nem atrás de nós, nem na
“Porém, se realmente a existência precede a essência, o nossa frente, no reino luminoso dos valores, nenhuma justificativa
homem é responsável pelo que é. Desse modo, o primeiro passo do e nenhuma desculpa. Estamos sós, sem desculpas. É o que posso
existencialismo é o de pôr todo homem na posse do que ele é, de expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre.”
submetê-lo à responsabilidade total de sua existência.” (SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. Tradução de Rita Correia Guedes.
SARTRE, J.P. O existencialismo é um humanismo. Trad. de Rita Correia Guedes. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 9)
São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 6. Coleção “Os Pensadores”.
Com base no excerto citado, assinale o que for correto.
A responsabilidade para Sartre diz respeito
a) O existencialismo é uma filosofia teológica que procura a razão
a) ao indivíduo para consigo mesmo, já que o existencialismo de ser no mundo a partir da moral estabelecida.
é dominado pelo conceito de subjetividade que restringe o
b) A afirmação “o homem está condenado a ser livre” é uma
sujeito da ação à sua esfera interior, circunscrita pelas suas
contradição, pois não há liberdade onde há a obrigação de ser livre.
representações arbitrárias, que exclui o outro; toda escolha
humana é a escolha por si próprio. c) Ser livre significa, rigorosamente, ser, pois não há nada que
determine o ser humano, a não ser ele mesmo.
b) ao vínculo entre o indivíduo e a humanidade, já que para o
existencialista, cada um é responsável por todos os homens, d) A existência de Deus é necessária, pois, sem ele, o homem
pois, criando o homem que cada um quer ser, estaremos deixaria de ser livre.
sempre escolhendo o bem e nada pode ser bom para um, que
não possa ser para todos.
c) à imagem de homem que pré-existe e é anterior ao sujeito da EXERCÍCIOS DE
ação. É uma imagem tal qual se julga que todos devam ser,
de modo que o existencialismo, em virtude da sua origem
APROFUNDAMENTO
protestante com Kierkegaard, renova a moral asceta do
01. (UFU) Mas se verdadeiramente a existência precede a essência,
cristianismo, que exige a anulação do eu.
o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço
d) ao partido político que tem a primazia na condução do processo do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e
de edificação da nova imagem de homem comprometido com de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando
a revolução e que faz de cada um aquilo que deverá ser, tal dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos
como ficou célebre no mote existencialista: o que importa é o dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade,
resultado daquilo que nos fizeram. mas que é responsável por todos os homens.
SARTRE, Jean-Paul. “O existencialismo é um humanismo”. Trad. Vergílio Ferreira.
18. (UFU) Liberdade, para Jean-Paul Sartre (1905-1980), seria Lisboa: Presença, 1970. Apud ARANHA, M. L. de Arruda e MARTINS, M. H. Pires.
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2016, p. 193. (Fragmento)
assim definida:
a) o estar sob o jugo do todo para agir em conformidade consigo Considerando-se o excerto acima e seus conhecimentos sobre a
mesmo, instaurando leis e normas necessárias para os teoria de Sartre, disserte sobre
indivíduos.
a) o conceito de existência.
b) circunstâncias que nos determinam e nos impedem de fazer b) o conceito de responsabilidade.
escolhas de outro modo.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 57
FILOSOFIA 32 EXISTENCIALISMO

02. (UFPR) Leia com atenção o seguinte trecho:


GABARITO
O homem apresenta-se como uma escolha a fazer. Muito bem. .
Antes do mais ele é sua existência no momento presente, e está EXERCÍCIOS PROPOSTOS
fora do determinismo natural; o homem não se define previamente 01. A 05. B 09. C 13. B 17. B
a si próprio, mas em função de seu presente individual. Não há 02. D 06. C 10. E 14. D 18. D
uma natureza humana que se lhe anteponha, mas é-lhe dada uma 03. A 07. B 11. A 15. D 19. A
existência específica num dado momento. 04. C 08. D 12. D 16. A 20. C
(SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. In: “Os Pensadores”,
São Paulo, 1973, pág. 21.) EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. a) Segundo a filosofia existencialista sartreana, o conceito de existência está muito
próximo de uma ideia de “atitude existencial”, haja vista que a existência seria precedente
Segundo o texto, por que é possível ao homem escolher?
a qualquer essência humana. Assim, recusando a existência de uma “natureza” ou
essência humana, a concepção de existência em Sartre se fundamenta no princípio de
que o indivíduo constrói, a partir do uso da sua liberdade, as condições da sua própria
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: existência.
O existencialista não tem pejo em declarar que o homem é b) A partir dos pressupostos expostos o item anterior, Sartre entende que o indivíduo,
na sua liberdade de escolha, afeta a si e a outros indivíduos, o que implica uma
angústia. Significa isso: o homem ligado por um compromisso responsabilidade. Para ele, não há nada que possa eximir o homem da sua condição de
e que se dá conta de que não é apenas aquele que escolhe ser, liberdade e, como consequência, da sua condição de responsabilidade diante das suas
mas de que é também um legislador pronto a escolher, ao mesmo escolhas e dos seus atos. Diante da falta de uma essência, a liberdade de escolha e a
responsabilidade sobre ela gera, nos indivíduos, angústia, pois a escolha é a afirmação
tempo que a si próprio, a humanidade inteira, não poderia escapar daquilo que se escolhe, o que implica responsabilidade. Com efeito, ao escolher algo e,
à sua total e profunda responsabilidade. Decerto há muita gente consequentemente, afirmar o seu valor, o indivíduo torna-se responsável não só por si,
que não vive em ansiedade, mas é nossa convicção que esses tais mas por todos os indivíduos.
disfarçam sua angústia, que a evitam; certamente muitas pessoas 02. Jean-Paul Sartre rejeita a ideia de existência de uma natureza humana. Para ele, o
acreditam que ao agirem só se implicam nisso a si próprias, e homem encontra-se fora do determinismo natural, sendo definido em função do seu
presente individual. É essa característica de indeterminação que concede ao homem a
quando se lhes diz: `e se toda gente fizesse assim?`, eles dão de
sua liberdade de escolha. É fazendo escolhas, no tempo presente, que o homem se faz.
ombro e respondem: nem toda gente faz assim.
(SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. In: “Os Pensadores”, 03. O homem é um legislador na medida em que determina a si mesmo quais as leis
São Paulo, 1973, pág. 15.) morais que deve seguir, carregando a responsabilidade sobre essas escolhas.

04. O homem possui o compromisso de escolha, uma vez que é indeterminado e


condenado à liberdade. Essa situação de indeterminação causa nele a angústia, uma vez
03. (UFPR) O que é ser um legislador na concepção apresentada que sua escolha implica certa responsabilidade, tanto diante de si quanto da humanidade
inteira.
no texto acima?
05. Sartre faz uma separação entre essência e existência. No caso dos objetos
fabricados pelos homens, Sartre considera que a essência desses objetos precede
04. (UFPR) Qual a relação, segundo o texto, entre angústia e a sua existência, uma vez que são produzidos para uma finalidade definida. No caso
compromisso? dos homens, o que acontece é o inverso. Não se pode dizer que os homens tenham
sido criados para um fim específico: eles são aquilo que fazem de si mesmos. É desta
maneira que a existência precede a sua essência: os homens têm a liberdade e a
05. (UFPR) Os trechos abaixo foram retirados de O existencialismo responsabilidade de se tornarem o que for.
é um humanismo, de Sartre.
“Consideremos um objeto fabricado, como, por exemplo, um ANOTAÇÕES
livro ou um corta-papel; esse objeto foi fabricado por um artífice
que se inspirou num conceito; tinha, como referenciais, o conceito
de corta-papel assim como determinada técnica de produção (...)
Desse modo, o corta-papel é, simultaneamente, um objeto que é
produzido de certa maneira e que, por outro lado, tem uma utilidade
definida (...) Podemos assim afirmar que, no caso do corta-papel, a
essência – ou seja, o conjunto das técnicas e das qualidades que
permitem a sua produção e definição – precede a existência.”
(Sartre, O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Ed. Nova Cultural,
Col. “Os Pensadores”, volume “Sartre”, 1987, p. 5.)

“O homem, tal como o existencialista o concebe, só não


é passível de uma definição porque, de início, não é nada: só
posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de
si mesmo. (...) O homem nada mais é do que aquilo que ele faz
de si mesmo (...) Se realmente a existência precede a essência, o
homem é responsável pelo que é. Desse modo, o primeiro passo do
existencialismo é o de pôr todo homem na posse do que ele é, de
submetê-lo à responsabilidade total de sua existência.”
(Sartre, O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Ed. Nova Cultural,
Col. “Os Pensadores”, volume “Sartre”, 1987, p. 6.)

Compare os dois trechos acima, considerando a relação


estabelecida pelo autor entre essência e existência.

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