Você está na página 1de 63

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS SOCIAIS – DTCS


CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PRODUÇÃO DE CAPRINOS E
OVINOS

MÓDULO 4 – FISIOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO


DE CAPRINOS E OVINOS

TUTOR: Prof. Pedro Humberto Félix de Sousa


Médico Veterinário – Dr. Produção de caprinos e ovinos

E_MAIL: phsouza@uneb.br
DISCIPLINA: FISIOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE
CAPRINOS E OVINOS

CARGA HORÁRIA: 30 HORAS


CRÉDITOS: 2T
INÍCIO: 31/03/2006 TÉRMINO: 13/05/2006
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
DIGESTÃO E METABOLISMO DO
RUMINANTE
SEQUÊNCIA HISTÓRICA DOS AVANÇOS CIENTÍFICOS
RELACIONADOS A FISIOLOGIA DO RÚMEN

DESCOBERTA / DESENVOLVIMENTO DATA AUTOR


Digestão péptica 1752 REAMUR
Oxidação e metabolismo aeróbico 1777 LAVOISIER
Análise da fibra do alimento 1806 EINHOF
Ácidos acético e butírico no rúmen 1831 TIEDEMANN/GMELIN
Celulose 1834 PAYEN
Necessidade dietética de proteínas 1842 BOUSSINGAULT
Composição corporal e dieta 1847 LAWES E GILBERT
Digestibilidade da fibra 1855 HAUBNER
Lignina 1855 SCHULTZ
Metano no rúmen 1863 RETSET
Digestão de celulose no rúmen 1874 WILDT
Conceito de fermentação anaeróbica 1876 PASTEUR
Produção de AGV no rúmen 1884 TAPPEINER
Hemicelulose 1891 SCHULTZ
Conceito de vitaminas 1912 FUNK
Ciclo do ácido cítrico 1937 KREBS
Glicolisis anaeróbica 1939 EMBDEN/MEYER HOF
Uso de NNP por ruminantes 1944 BOHSTEDT et al.
Cromatografia de AGV 1946 HUNGATE
Técnica de cultura anaeróbica 1947
Adaptado de Van Soest, 1982
Considerações gerais sobre o aparelho digestório dos ruminantes
Função do aparelho digestório
-Digerir, absorver e excretar

Constituição
-Boca
-Faringe
-Esôfago
-Estômago a) Rúmen
b) Retículo
c) Omaso
d) Abomaso
-Intestino Delgado: Duodeno, Jejuno e Íleo
-Intestino Grosso: Ceco, Colo e Reto
-Glândulas acessórias: salivares, pâncreas e fígado
Trocas no estômago dos ruminantes segundo a idade (Church, D.C. 1974
Fisiologia Digestiva)
Animal Idade Porcentagem dos compartimentos do estômago
Retículo Rúmen Omaso Abomaso
0 dia 8 24 8 60
7 dias 7-8 22-23 5-6 64-65
14 dias 6-8 28-29 4-5 58-60
20-21 dias 9-10 45-46 5-6 39-40
Ovelhas 28-30 dias 11-12 44-51 5-6 32-39
40-42 dias 10-11 57-60 4-5 26-29
56-57 dias 10-11 64-66 5-6 18-20
62-63 dias 11 60-62 5-6 22-23
Adultas 11 62 5 22

0 dia 6 23 6 65
14 dias 8 31 6 55
1 mês 8 53 4 35
Cervos 2 meses 9 62 6 23
3 meses 8 71 4 17
4 meses 7 77 5 11
Adultos 6 74 8 12

Retículo-rúmen Omaso-abomaso
1-2 dias 15-27 73-85
7-10 dias 21-45 55-79
13-16 dias 19-68 32-81
Cabras 25 dias 37-56 44-63
32-38 dias 36-56 44-64
37-40 dias (pasto) 81-95 5-19
50-68 dias (pasto) 71-95 5-29
53-73 dias (leite) 33-68 32-67
Características peculiares do rúmen – que o torna ecossistema anaeróbico

1) É essencialmente isotérmico (38-41 oC) – metabolismo homeotérmico


2) O pH (6,0 - 7,0) – Remoção contínua de ácidos
(produzidos pela fermentação)
(Absorção através das paredes do rúmen)
(Neutralização pelas substâncias tamponentes da saliva)
3) A pressão osmótica é regulada pela absorção e passagem do alimento
4) Baixa concentração de O2, favorece desenvolvimento de seres anaeróbicos

Van Soest – Compara a silagem ensilagem com fermentação anaeróbica do rúmen


SILAGEM DE BOA FERMENTAÇÃO
ITEM QUALIDADE RUMINAL
pH 3,8 6-7
Espécies de microorganismos poucas muitas
Síntese celular 5% 20-40%
Celulose digerível 0 90%
Produto final Ácido Láctico Ácidos acético, butírico,
CO2 propiônico, pouco ácido
láctico, CO2
CARACTERÍSTICAS DO
ECOSSISTEMA RUMINAL
-AMBIENTE ANAERÓBICO: TENSÃO DE O
MENOR QUE 0,5%
-TEMPERATURA: 39 A 42
- pH: 5,5 a 7,0
-SUBSTRATO: ALIMENTO
-TEOR DE MATERIA SECA: 13%
ESTAS CARACTERÍSTICAS RUMINAIS PERMITEM O
DESENVOLVIMENTO DE UMA AMPLA FLORA
MICROBIANA QUE O TRANSFORMA EM UMA CÂMARA
DE FERMENTAÇÃO ALTAMENTE ÚTIL PARA O
RUMINANTE PROPORCIONANDO ALGUMAS
VANTAGENS SOBRE OS ANIMAIS MONOGÁSTRICOS
COMO:

• SUPERIORIDADE NO APROVEITAMENTO DE
ALIMENTOS FIBROSOS
• SÍNTESE DE VITAMINAS DO COMPLEXO “B” E “K”
• SÍNTESE DE AMINOÁCIDOS
ESTE PROCESSO DE FERMENTAÇÃO
DEGRADA CERCA DE 65% DA FRAÇÃO
DIGESTÍVEL DO ALIMENTO NO RÚMEN E EM
DECORRÊNCIA PRODUZ ÁCIDOS GRAXOS
VOLÁTEIS QUE CONSTITUEM A PRINCIPAL
FONTE DE ENERGIA PARA O RUMINANTE,
PRODUZ UMA BIOMASSA RICA EM PROTEINA
DE ALTO VALOR BIOLÓGICO QUE SERÁ
DIGERIDA NO ABOMASO E INTESTINO ALÉM
DE VITAMINAS E OUTROS PRODUTOS
(FIGURA 1)
• FIGURA 1
EM CONTRAPARTIDA CERTAS DESVANTAGENS
PODEM OCORRER COMO:

• PERDA DE ENERGIA NA FORMA DE METANO E


CALOR DE FERMENTAÇÃO
• BAIXA ABSORÇÃO DE GLICOSE
• DEGRADAÇÃO DE PROTEINAS DE ALTA QUALIDADE
CONDIÇÕES INDISPENSÁVEIS PARA UM BOM
FUNCIONAMENTO DO RÚMEN:

-ENTRADA E REMOÇÃO DE MATERIAL NO SISTEMA


DE FERMENTAÇÃO
-SUPRIMENTO ADEQUADO DE UMA FONTE DE
NITROGÊNIO
-PRESENÇA DE UMA FONTE DE ENERGIA
-SUPRIMENTO ADEQUADO DE FONTE DE ENXOFRE E
DE FÓSFORO
FLORA MICROBIANA DO RÚMEN

É COMPOSTA DE TRÊS TIPOS DE


MICROORGANISMOS:

-BACTÉRIAS
-PROTOZOÁRIOS
-FUNGOS
CARACTERÍSTICAS DA
POPULAÇÃO BACTERIANA
• CERCA DE 20 ESPÉCIES BACTERIANAS
PREDOMINAM NO RÚMEN (60 A 90% DA
BIOMASSA MICROBIANA) EM NÚMERO DE
CERCA DE 109 A 1010 CÉLULAS/ml
• ALÉM DE APRESENTAR UMA MAIOR
POPULAÇÃO AS BACTERIAS SÃO AS MAIS
ATIVAS FERMENTADORAS, MAIS
ESTUDADAS E MAIS IMPORTANTES
NUTRICIONALMENTE
• AS ESPÉCIES BACTERIANAS
RUMINAIS PODEM SER AGRUPADAS
EM FUNÇÃO DE SUA ESTRATÉGIA
NUTRICIONAL OU CARACTERÍSTICA
FERMENTATIVA COMUM:
• FERMENTADORAS DE CARBOHIDRATOS
ESTRUTURAIS (Ruminococcus albus,
Ruminococcus flavefaciens, Fibrobacter
succinogenes.
• FERMENTADORAS DE CARBOHIDRATOS
NÃO-ESTRUTURAIS (Streptococcus bovis,
Ruminobacter amylophilus, Lactobacilus sp.)
• PROTEOLÍTICAS (Peptostreptococci sp.)
A MAIOR PARTE DAS ESPÉCIES BACTERIANAS
RUMINAIS DEGRADAM PROTEÍNAS
• METANÓGENAS: Methanobacterium sp.,
Methanobrevibacter sp.)
• LÁCTICAS (Megasphaera elsdenii, Selenomonas
ruminantium)
• PECTINOLÍTICAS (Succinivibrio dextrinosolvens)
• LIPOLÍTICAS (Anaerovibrio lipolytica)
• UREOLÍTICAS (Enterococcus faecium)
PROTOZOÁRIOS

OCORREM EM NÚMERO DE CERCA DE 106


CÉLULAS/ml E CORRESPONDEM A 10%
PODENDO ALCANÇAR ATÉ 50%
FUNGOS
• FUNGOS: CONSTITUINDO ATÉ 8% DA
BIOMASSA MICROBIANA TOTAL, OS
FUNGOS APRESENTAM UMA
POPULAÇÃO DE CERCA 104
CÉLULAS/ml
COMPARADO ÁS BACTERIAS, POUCO É
CONHECIDO A RESPEITO DO METABOLISMO
E FISIOLOGIA DOS PROTOZOÁRIOS E
FUNGOS RUMINAIS
DEGRADAÇÃO MICROBIANA
• DIGESTÃO EXTRACELULAR:
-ADERÊNCIA (COLONIZAÇÃO)
-HIDROLÍSE
• FERMENTAÇÃO INTRACELULAR
ESQUEMA GERAL DA DEGRADAÇÃO EXTRA E
INTRACELULAR DE PROTEÍNAS E CARBOHIDRATOS
PELAS BACTERIAS DO RÚMEN
ARRANJO ESTRUTURAL DA PAREDE
VEGETAL
DEGRADAÇÃO DOS CARBOHIDRATOS
DESTINO DOS ÁCIDOS GRAXOS
VOLÁTEIS
FATORES QUE AFETAM A DEGRADAÇÃO DA
PAREDE CELULAR DO VEGETAL E A
PRODUÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS VOLÁTEIS
• FORMA FÍSICA DA DIETA: GRAU DE
LIGNIFICAÇÃO DA FORRAGEM, PRESENÇA DE
AMIDO E OU CARBOHIDRATOS SOLÚVEIS E
TAMANHO DA PARTÍCULA DO ALIMENTO
• ESTADO FENOLÓGICO DA FORRAGEM
• QUANTIDADE DE ÁGUA INGERIDA
• PRESENÇA DE MINERAIS, VITAMINAS
E NITROGÊNIO
DEGRADAÇÃO DOS LIPÍDIOS
Diferença entre ruminante e monogástrico

a) O estômago é dividido em 4 compartimentos;


b) Utilização da celulose e outros polissacarídeos;
Quebram ligações beta-1-4 glicosídica (bactérias e fungos)
Enzimas são capazes d e hidrolisar: celulose → celobiose → glicose
c) Presença de nitrogênio na saliva;
d) Ausência quase total de enzimas glicolíticas como sacarase e glicosidase
no intestino;
e) A absorção de açúcar no intestino é baixa;
f) Presença de enzimas nucleases: de composição de DNA e RNA dos
microorganismos;
g) A passagem do conteúdo digestivo é lenta – devido a ruminação
Desenvolvimento e Capacidade Digestiva

Porcentagem de tecido do estômago bovino que constitui cada um de seus


compartimentos (Church, D.C. 1974)
Idade em semanas

0 4 8 12 16 20-26 34-38

Retículo-rúmen 38 52 60 64 67 64 64

Omaso 13 12 13 14 18 22 25

Abomaso 49 16 27 22 15 14 11
DESENVOLVIMENTO DO RÚMEN
Church (1975) o desenvolvimento do estômago
8 semanas no carneiro e 5- 6 semanas no bovino

Paiva & Lucci (1972) o desenvolvimento do estômago depende da dieta


Dietas líquida x Dietas sólida

Antal (1972) desmame de bezerros aos 25, 35, 50 e 90 dias – fornecido


alimento seco – aos 270 dias não houve diferença no desenvolvimento do
estômago

Quanto mais tempo é o uso de alimentação líquida, maior é a fase


transição do trato digestório

Desenvolvimento das papilas no rúmen


VELOCIDADE DE DEGRADAÇÃO NO RÚMEN

GRÁFICO PÁGINA 40,


ALIMENTAÇÃO DE
BOVINOS
MICROBIOLOGIA DO RÚMEN E INTESTINO
Composto pela presença de intensa microorganismos, responsáveis pela digestão; vivem em simbiose.
Volume relativo e número de microorganismos encontrados no rúmen
(Teixeira, J.C. Nutrição de Ruminantes – 1991.
Microorganismo Número Volume Peso
(/ml x 10) (u3) (mg/100ml)

BACTÉRIAS

Pequenas bactéiras 16.000 1 1.600


Selenomas 100 30 300
Flagelados 1 50 25

CILIADOS

Entodinium 0,3 10.000 300


Dasytricha 0,03 100.000 300
Diplodinium 0,03 100.000 300
Isotricha 0,011 1.000.000 1.100
Epidinium 0,011 1.000.000 1.100
Características peculiares do rúmen – que o torna ecossistema anaeróbico

1) É essencialmente isotérmico (38-41 oC) – metabolismo homeotérmico


2) O pH (6,0 - 7,0) – Remoção contínua de ácidos
(produzidos pela fermentação)
(Absorção através das paredes do rúmen)
(Neutralização pelas substâncias tamponentes da saliva)
3) A pressão osmótica é regulada pela absorção e passagem do alimento
4) Baixa concentração de O2, favorece desenvolvimento de seres anaeróbicos

Van Soest – Compara a silagem ensilagem com fermentação anaeróbica do rúmen


SILAGEM DE BOA FERMENTAÇÃO
ITEM QUALIDADE RUMINAL
pH 3,8 6-7
Espécies de microorganismos poucas muitas
Síntese celular 5% 20-40%
Celulose digerível 0 90%
Produto final Ácido Láctico Ácidos acético, butírico,
CO2 propiônico, pouco ácido
láctico, CO2
BACTÉRIAS DO RÚMEN
População – 1.000.000.000 – 10.000.000.000 células /grama de conteúdo
ruminal
Gêneros – 22
Espécies – 63
População importante no metabolismo – 16 gêneros e 28 espécies
CLASSIFICAÇÃO DAS BACTÉRIAS
-Por aspectos morfológicos (ex. cocus, bastonetes)
-Por tamanho (0,3 a 50 um)
-Por substrato (celulose, hemicelulose, amido, açucares, ácidos, proteínas,
lipídeos, metano, amônia e outros)
A ) Bactérias celulolíticas
Estas bactérias apresentam habilidades bioquímica de produzir a enzima extracelular
(Celulase)
Bacterioides succinogenes / Ruminococus flaverfaciens / Ruminococus albus
Butyrivibrio fibrisolvens
Eubacterium cellulosolvens (em certas condições)
Clostridium lochheadii (em menor importância)
B) Bactérias hemicelulolíticas
-Grande parte das bactérias celulolíticas também degradam da hemicelulose
-Estas bactérias além da hemicelulose, também degradam as pectinas (pectinolíticas)

Você também pode gostar