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Frederico Augusto Starling Carvalho

OABMG – 118217.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª VARA DE


FAMÍLIA DA CIDADE
 
 
 
 
 
 
 
 
Ação de Exoneração de Alimentos
 Proc. nº.  032.1111.2222.222.333-4 
Autor: João dos Santos
Réu: Maria das Quantas dos Santos 
 
 
                        JOANA DAS QUANTAS DOS SANTOS, universitária, solteira, residente
e domiciliada na Rua Y, nº. 0000, em Cidade (PP) – CEP 11222-44, inscrita no
CPF(MF) sob o nº. 111.333.222, com endereço eletrônico ficto@ficticio.com.br, ora
intermediado por seu mandatário ao final firmado – instrumento procuratório
acostado –, esse com endereço eletrônico e profissional inserto na referida
procuração, o qual, em obediência à diretriz fixada no art. 287, caput, do CPC, indica-
o para as intimações que se fizerem necessárias, vem, com o devido respeito à
presença de Vossa Excelência, com suporte no art. 336 e segs. c/c art. da Legislação
Adjetiva Civil c/c art. 13 da Lei n. 5.478/58, ofertar 
 
CONTESTAÇÃO
 
em face de Ação de Exoneração de Alimentos aforada por JOÃO DO SANTOS, em
razão das justificativas de ordem fática e de direito abaixo estipuladas.
 
INTROITO
 
 ( a ) Benefícios da justiça gratuita (CPC, art. 98, caput)
                                                                                              
                                               A Ré não tem condições de arcar com as despesas do
processo, uma vez que são insuficientes seus recursos financeiros para pagar todas as
despesas processuais.
 

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                                               Dessarte, formula pleito de gratuidade da justiça, o que faz


por declaração de seu patrono, sob a égide do art. 99, § 4º c/c 105, in fine, ambos do
CPC, quando tal prerrogativa se encontra inserta no instrumento procuratório
acostado.
        
1 - Sinopse da ação
 
                                               A presente querela traz à tona com a peça vestibular
argumentos que:
 
( i ) O Autor é pai da Ré e, nessas circunstâncias, presta alimentos àquela em face do
poder familiar na ordem de 30%(trinta por cento) de seus rendimentos, tendo em
vista acordo celebrado em anterior Ação de Divórcio Litigioso;
 
( ii ) destacou, mais, que a Ré atingira a maioridade em 00/11/2222, ocasião em que,
segundo os fundamentos contidos na exordial, cessa o poder familiar;
 

( iii ) outrossim, não o compete mais pagar os alimentos, maiormente quando a Ré é


jovem, sadia e  apta ao trabalho e, segundo o mesmo, tal provimento alimentar não
passa, hoje, de um “prêmio à ociosidade”;
 
 ( iv ) pediu, portanto, em arremate, a procedência dos pedidos, com a exoneração
daquele ao pagamento dos alimentos em prol da Promovida.
 
2 - Rebate aos fatos
CPC, art. 341
 
                                               Longe de serem verdadeiros os fatos narrados na peça
vestibular. Esses fatos serão mais ainda destacados e pontuados frontalmente quando
da elucidação jurídica quanto mérito de eventual exoneração de alimentos.
 
                                               Inverídicas as assertivas lançadas na peça vestibular,
máxime quando, na verdade, destinam-se a impressionar este Juízo com palavras
vazias de conteúdo. E isso tem maior importância quando, desavisadamente, estipula
considerações grosseiras de que a Ré tem vida ociosa e pode prover seu próprio
sustento.
 
                                               Em verdade, a Constante é estudante universitária,
cursando o 1º ano da Faculdade de Farmácia na Universidade Fictícia. Encontra-se
regularmente matriculada e cursando efetivamente a universidade no período diurno,
sobretudo por meio dos comprovantes de pagamento das mensalidades. (docs. 01/07)
 

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                                               Não se trata, portanto, de ociosidade, como grosseira e


absurdamente relata a peça vestibular. Ao invés disso, vê-se que se trata de uma aluna
com dedicação exclusiva ao curso universitário em vertente. Inescusável que isso lhe
consome todo o seu tempo para efetivamente concluir outros propósitos.
 A Promovida, não obstante ser, de fato, maior de idade, efetivamente ainda necessita
de manutenção material por parte de seu genitor, ora Promovente. Justifica-se,
máxime, uma vez que se encontra atualmente desempregada e em fase de estudos na
universidade supracitada.
 
                                               Portanto, a Promovida necessita ainda da ajuda financeira
paterna, para assim dar continuidade aos estudos. E, frise-se, maiormente quando
precisa de recursos para custear seu deslocamento até a universidade, para adquirir
livros acadêmicos, materiais de trabalho correspondentes ao curso em
desenvolvimento, alimentação, vestuário, etc.
        
3 - Mérito
  
3.1. Dever de prestação de alimentos - Vínculo parental  
 
                                               É consabido que a obrigação dos pais em ofertar alimentos
aos filhos é contemporânea ao exercício do “poder familiar”. É dizer, a obrigação de
sustento tão somente persiste pelo ângulo do “parentesco”, conquanto não mais
presente a menoridade do alimentando. (CC, art. 5º c/c art. 1.635, inc. III)
 
                                               Entrementes, o fim do poder familiar pelo implemento da
capacidade civil não leva, por si só, à extinção automática do encargo alimentar.
Assim, passa a ser devido por força da relação de parentesco.  
                                                          
CÓDIGO CIVIL
Art. 1.694 – Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição
social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.  
 
                                               Dessa forma, já é entendimento consagrado, na doutrina e
na jurisprudência que, ainda que considerado maior e capaz civilmente, o filho não
perderá automaticamente o direito a alimentos ao atingir a maioridade. Nesse passo,
a obrigação permanece até que se comprove, concretamente, a desnecessidade e a sua
possibilidade do alimentando sustentar-se. Ausente essa comprovação, como ocorre
na hipótese em vertente, não há como deferir-se a pretensão judicial lançada em juízo.
 
                                               Com efeito, acerca do tema em vertente lecionam Cristiano
Chaves de Farias e Nelson Rosenvald que:
 

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Não raro, entrementes, os alimentos podem continuar sendo devidos, quando o filho precise da
participação material dos pais para a sua mantença. É o caso do filho maior que não trabalha,
estando em período de formação intelectual, freqüentando curso de ensino superior. Em casos assim
não uma transmudação da natureza dos alimentos: deixam de ser devidos como expressão do poder
familiar, passando a se submeter às regras do parentesco.
(...)
Dessa maneira, a maioridade civil não constitui, por si só, motivo suficiente para que o genitor deixe
de prestar alimentos, o que somente ocorrerá quando provada a desnecessidade do alimentando ou a
impossibilidade do devedor. Em face da mera maioridade civil é intuitivo que não pode ser cessado o
dever de alimentar imposto aos pais, até mesmo porque não findou a solidariedade familiar. Aliás, se
alguém pode ser compelido a prestar alimentos ao ascendente ou ao irmão que deles necessita, com
idêntica motivação pode ser obrigado a prestá-los aos seus filhos, ainda que maiores, quando
estiverem em tais situações [ ... ]

 
 
                                               Na mesma linha de entendimento é magistério de Yussef
Said Cahali:
 
Tal entendimento é geralmente adotado naqueles casos em que o filho encontra-se cursando escola
superior: ‘ A maioridade do filho, que é estudante e não trabalha, a exemplo do que acontece com as
famílias abastadas, não justifica a exclusão da responsabilidade do pai quanto a seu amparo
financeiro para o sustento dos estudos’. Aliás, o antigo Regimento do Imposto de Renda, em seu art.
82, § 3 º (Dec. n. 58.400, de 10.05.1966), que reflete dispositivo da Lei 1.474, de 26.11.1951, reforça a
interposição jurídica de que os filhos maiores, até 24 anos, quando ‘ainda estejam cursando
estabelecimento de ensino superior’, salvo na hipótese de possuírem rendimentos próprios.
Aliás, esta faixa etária excepcionalmente subsiste, ainda que o CC/2002 tenha reduzido a
incapacidade civil para até 18 anos, uma vez que aquele benefício inspirava-se em provimento legal
tributário não alterado, que levava em consideração o fato de que, antes daquela idade(24 anos),
normalmente não seria viável a colação de grau em escola de ensino superior, sob dependência
econômica paterna [ ... ] 
 
                                               Com esse enfoque, é altamente ilustrativo transcrever os
seguintes arestos:
 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO DE ALIMENTOS. ALEGAÇÃO DE
INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL REJEITADA. SITUAÇÃO DO ALIMENTANTE.
ALTERAÇÃO POSITIVA. EVOLUÇÃO PATRIMONIAL. ALIMENTANDA.
COMPROVAÇÃO DA NECESSIDADE. MAIORIDADE. FREQUÊNCIA A CURSO
DE ENSINO SUPERIOR. MAJORAÇÃO DOS ALIMENTOS. TERMO INICIAL.
CITAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. VALOR DA
CONDENAÇÃO. DOZE PRESTAÇÕES MENSAIS.
1 - Eventual não comprovação do direito reivindicado é matéria afeta ao mérito da
demanda e não causa para reconhecimento de inépcia da peça de ingresso em juízo.
Ademais, não se verifica no caso nenhuma das hipóteses previstas no artigo 295,
parágrafo único, do Código de Processo Civil, uma vez que foi deduzida causa de pedir
e formulado pedido, com decorrência lógica um da outra. Alegação de inépcia da
petição inicial afastada. 2. - A decisão que fixa alimentos contempla implicitamente a
cláusula rebus SIC stantibus, de modo que, havendo modificação na situação fática
que ensejou o arbitramento do quantum alimentar, é possível ao interessado valer-se
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da ação revisional. Inteligência do artigo 1.699 do Código Civil. 3. - No caso vertente,


houve alteração na situação do alimentante que, a partir do ano de 2007, quando
fixados os alimentos por acordo homologado judicialmente, obteve significativa
evolução patrimonial, de acordo com as declarações de imposto de renda acostadas
aos autos. Lado outro, comprovou a alimentanda a ampliação de suas necessidades,
em especial em relação à educação, em razão da frequência a curso pré-vestibular e de
tentativa de ingresso em instituição de ensino superior e, posteriormente, da
mudança de domicílio para cursar ensino superior, fazendo-se imprescindível o
pensionamento para o custeio de seus estudos. 4. - Acerca da maioridade da
alimentanda, a orientação do colendo Superior Tribunal de Justiça é no sentido de
que "em se tratando de filho maior, a pensão alimentícia é devida pelo seu genitor em
caso de comprovada necessidade ou quando houver frequência em curso universitário
ou técnico, por força do entendimento de que a obrigação parental de cuidar dos
filhos inclui a outorga de adequada formação profissional" (AGRG no AREsp
13.460/RJ, Relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 19-02-2013, DJe
14-03-2013).5. - Da literalidade da redação do artigo 13, §2º, da Lei n. 5.478/1986
extrai-se que "Os efeitos da sentença proferida em ação de revisão de alimentos - Seja
em caso de redução, majoração ou exoneração - Retroagem à data da citação (Lei nº
5.478/68, art. 13, § 2º), ressalvada a irrepetibilidade dos valores adimplidos e a
impossibilidade de compensação do excesso pago com prestações vincendas. " (STJ,
ERESP 1181119/RJ, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Rel. P/ Acórdão Ministra
Maria Isabel Gallotti, Segunda Seção, julgado em 27-11-2013, DJe 20-06-2014).6.- O
valor da condenação em ação de alimentos, que contempla parcelas de trato
sucessivo, para fins de fixação das verbas sucumbenciais deve pautar-se pelo mesmo
critério utilizado para o cálculo das despesas processuais iniciais, recaindo o
percentual arbitrado a título de honorários advocatícios sucumbenciais sobre a soma
de 12 (doze) prestações mensais a que condenado o alimentante, a teor do que dispõe
o artigo 260 combinado com o artigo 20, §3º, ambos do Código de Processo Civil. 7. -
Recurso da autora parcialmente provido. Recurso do réu desprovido [ ... ]
 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS.
Mantença da verba alimentar no equivalente a 34% do salário mínimo mensal.
Maioridade civil. Prova da persistência da necessidade do apelado, estudante em
curso superior. Recurso desprovido. Recurso adesivo. Sentença que concluiu pela
exoneração automática da verba quando o alimentante atingir 24 anos de idade.
Obrigação que, todavia, deve ser estendida até a data prevista para a conclusão do
curso superior. Recurso parcialmente provido [ ... ]
 
APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE
ALIMENTOS. FILHO MAIOR E ESTUDANTE.
O implemento da maioridade por si só não é capaz de afastar a obrigação alimentar
prestada aos filhos. Obrigação parental. Artigo 1.694 do Código Civil. Comprovado
que o alimentando está estudando e não trabalha é inviável a exoneração pretendida
pelo alimentante. Manutenção do termo final para prestação da obrigação. Ônus
sucumbenciais mantidos, porquanto fixados adequadamente, considerando o

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percentual de ganho e perda do julgamento de parcial procedência. Apelação e


recurso adesivo desprovidos [ ... ]
 
CIVIL.
Apelação cível. Ação de alimentos. Maioridade da filha. Necessidade da alimentada
estudante. Subsistência da obrigação alimentar. Recurso desprovido. A exoneração de
prestar alimentos não se opera automaticamente com a mera ocorrência da
maioridade do alimentado. É que embora, nessa hipótese, tenha, de fato, cessado o
dever de sustento, os pais continuam obrigados a alimentar seus filhos devido à
relação de parentesco [ ... ]

Termos em que, pede deferimento.


Belo Horizonte, 12 de May de 2023.

Frederico Augusto Starling Carvalho


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