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f Iclcnc Shinohara
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A Terapia Cognitivo-Comportamental tem se destacado no* último» 30 anos por sua ftnfase na compreensAo da Influência do
funcionamento cognitivo nos transtorno* mentais, e por ter desenvolvido um conjunto de técnicas terapêuticas eficazes.
Especificamente quanto aoB transtornos ansiosos (fobia especifica, fobia social, ansiedade generalizada, ob*essivo-compul*lvo,
stress pôs-traumátlco, pânico e agorafobia), os modelos cognitivo-comportamentals atuais sAo capazes de explicar o quadro
apresentado pelo cliente, e oferecem diretrizes para a soluçAo do* problemas.
O modelo cognitivo da ansiedade ò baseado numa perspectiva de processamento de InformaçAo que procura explicar o viés
de interpretaçAo dos estímulos como perigosos ou ameaçadores, aspecto este fundamental nos transtornos de ansiedade.
Esta propenaAo a processar inaproprwdamente estímulos neutros ou ambiguos deve ser objetivo de IntervençAo terapêutica.
O cliente, om geral, superestima a probabilidade de dano pessoal e subestima sua capacidade para lidar com a altuaçAo. Este
modelo reconhece que a ansiedade consiste em um padrAo complicado de mudanças cognitivas, afetivas, fisiológicas e
comportamentais que ocorrem numa seqüência de níveis de processamento de InformaçAo. Desde o reconhecimento inicial
do estimulo, a ativaçAo de padrões automáticos preparados, até o processo de avaliaçAo dos próprios recurso* para lidar com
o perigo percebido, obaerva-se uma mistura de aspectos mais primário*, automáticos e outros mais estratégico*, elaboratlvo*.
Baseados nesto modelo, o tratamento da ansiedade deve envolver desatlvaçAo dos modos automáticos, primários, e
fortalecimento dos processos reflexivos, construtivos. Em termos gerais, é necessário que se Intervenha nas respostas
condicionadas de medo, na avaliaçAo de ameaça, no equilíbrio da balança perigo/segurança, e na disponibilidade e eficiência
das habilidades pesBoais
Palavra*-chave: modelo cognitivo, ansiedade, terapia cognitiva
The present artlcle presents the Beck and Clark'* cognitive model of pathological anxiety, and providos information about
diagnoses of anxiety disorders, their characterlstlcs and symptoms.
The cognitiva model of anxiety is based on an Information processing perspective that intends to explaln the bias of stimuli
interpretation as dangerous or threatening, that is central to anxiety disorders. This tendency to inappropriately labei Innocuous
stimuli must be taryeted in a therapeutlc Intervention. These patients gsnerally overestlmate tto probability o( pereonal Injury
and underestimate their abillty to deal with the situation This model recogntzes that anxiety consists of a complicated pattern
of cognitive, affective, physiological and behavioral changes that occur in a particular three-stage Information processing
sequence. From the inltial recognization of a stimulus. the activatlon of prepared automatic responses, until the process of
conaideration of one's ahilltles to cope with the perceived danger, a mlxture of prlmary, automatic, and elaborative, strateglc
aspecls are observed. Thus the treatment of anxiety must deactlvate the phmary and automatic rrtode, and strervgthen the
constructlve, reflexlve processes of thinklng. In general, It is necessary an intervention in the conditioned responses of fear,
In the appraísal of threat, In the balance danger/safety, and In the avallabillty and effectiveness of personal coplng resources.
The cognitive model of anxiety disorders offer an accurate conceptualization of the patlent'8 problems as well as dlrections for
treatment
Key words: cognitive model, cognitive-behavior therapy, anxiety disorders.
Os transtornos da ansiedade
A definição dos transtornos ansiosos prevê quadros de ansiedade constante e
persistente que impedem uma vida normal. O que é um mecanismo adaptativo frente a
perigos verdadeiros torna-se inadequado se disparado freqüentemente por alarmes falsos.
Parece que a substituição dos perigos que enfrentavam nossos ancestrais por outros da
atualidade indica simplesmente uma diferença, sendo que estes últimos podem ser
igualmente muito prejudiciais para a nossa espécie.
Os transtornos da ansiedade refletem o funcionamento do sistema do medo no
cérebro, numa tentativa de lidar com as situações difíceis. O problema central é a geração
excessiva e inapropriada de ameaças em resposta a situações, em geral, inócuas.
O desenvolvimento destes transtornos depende de vulnerabilidades especificas
que se baseiam em experiências neurobiológicas gerais e aprendizagens precoces. 0
desenvolvimento de muito comportamento fóbico é devido à interferência inadvertida nas
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poderosas tendências de fuga associadas com nossa reação de alarme (Barlow e Cerny,
1999).
Dado o caráter involuntário e inconsciente dos estágios iniciais do processamento
de informações da ansiedade, McNally (1995, citado por Beck e Clark, 1997) afirma que
as terapias verbais são ineficazes para o tratamento dela. No entanto, o modelo cognitivo
atual reconhece que as estratégias terapêuticas devem não somente desativar o modo
primário do medo como também fortalecer os processos estratégicos, elaborativos. Mesmo
que o significado da ameaça ocorra automaticamente, o ciclo repetitivo de pensamentos
ansiosos acaba por dominar o aparato de processamento das informações (Beck e Clark,
1997). Portanto, os processos de intervenção verbal podem não ser suficientes, mas são
certamente necessários.
As técnicas de exposição e os experimentos comportamentais, por exemplo, são
importantes para ativar completamente o modo primário da ansiedade, possibilitando assim
trabalhar ao vivo com o desenvolvimento do modo mais construtivo e estratégico de lidar
com ela. O terapeuta cognitivo lança mão de técnicas comportamentais, experienciais e
cognitivas com o objetivo de propiciar informações corretivas (Beck, J., 1997). Ensina
também estratégias que enfatizam a elaboração e reflexão sobre as cognições relacionadas
com a ansiedade, e possibilita teste de hipótese para fortalecer os modos construtivos de
pensamento.
É claro que cada tipo de transtorno da ansiedade possui características e crenças
específicas, mas, em termos gerais, é necessário que se intervenha nas respostas
condicionadas do medo, no processo de avaliação da ameaça, no equilíbrio da balança
perigo-segurança, e na disponibilidade e eficiência das habilidades pessoais. Não se
pretende eliminar todos os viéses cognitivos e conseguir uma representação racional e
perfeita da realidade, mas maximizar a adaptação funcional e qualidade de vida do indivíduo
(Beck e Clark, 1997), auxiliando-o na desativação dos modos automáticos, primários, e
no fortalecimento dos processos construtivos.
Conclusão
A revisão da literatura mostra que existe evidência clínica dos benefícios da correção
verbal sobre os processos automáticos relacionados com a ansiedade. Estudos
experimentais citados por Blackburn e Twaddle (1996) vêm dando suporte ao modelo de
processamento de informação da teoria cognitiva dos transtornos emocionais no que
concerne aos viéses de atenção, percepção, interpretação e memória.
Outros estudos sobre resultados terapêuticos indicam eficácia da Terapia Cognitiva
no tratamento dos transtornos da ansiedade como fobias específica e social, ansiedade
generalizada, obsessão-compulsão, stress pós-traumático, pânico e agorafobia. O modelo
cognitivo é capaz de explicar o quadro apresentado pelo cliente e oferecer diretrizes para
a solução dos problemas.
Num momento em que é crescente a tendência de se prestar menos atenção às
diferenças teóricas e mais ênfase à descoberta dos procedimentos realmente efetivos
(Barlow, 1999 em Bregman, 1999), é importante que a Terapia Cognitiva divulgue seus
dados e compartilhe com os esforços de outras terapias para a solução dos problemas
humanos.
Referências
Barlow, D. H. e Cerny, J. A. (1999). Tratamento Psicológico do Pânico. Porto Alegre: Artes Médicas.
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strategic processes. Behavior Research and Therapy, 35, 49-58.
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Beck, A. T., Emery, G. e Greenberg, R. (1985). Anxiety Disorders and Phobias: a Cognitive
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Beck, J. S. (1997). Terapia Cognitiva - Teoria e Técnica. Porto Alegre: Artes Médicas.
Blackburn, I. e Twaddle, V. (1996). Cognitive Therapy in Action. London: Souvenir Press.
Bregman, C. (1999). Entrevista a David Barlow. Revista Argentina de Clinica Psicológica, Vol. III,
3, 260-264.
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