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AULA 3 – PERSONALIDADE (LIVRO

BECK – TERAPIA COGNITIVA DOS Ma. Laura Adriano Mekdessi


TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE)
VISÃO GERAL DA TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL DOS
TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE
Personalidade humana --- composta por vários traços de personalidade
Aptidões – traços de personalidade relacionados ao desempenho. Ex: inteligência,
criatividade...
Traços caracterológicos – Traços de personalidade relacionados aos valores sociais.
Ex: generosidade, agressividade...
Traços temperamentais – Traços de personalidade relacionados ao dinamismo e
energia. Ex: temperamento explosivo/impulsividade; inibição...
Modelo de personalidade humana com maior sustentação empírica: “Cinco Grandes
Fatores”
1-abertura para experiência. 2- escrupulosidade. 3- extroversão. 4- amabilidade. 5-
neuroticismo (instabilidade emocional).
A ABORDAGEM COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL DE
TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE
No que se refere aos transtornos (p. ex., o sistema DSM, relacionados à psicopatologia), o
paradigma cognitivo-comportamental é compatível com modelos predominantes de doença
mental, embora não seja necessariamente dependente deles, quando se trata de transtornos da
personalidade.
A estrutura ou paradigma da terapia cognitivo-comportamental (TCC) possui um conjunto de
princípios teóricos inter-relacionados e um conjunto de técnicas que podem ser organizadas
em estratégias clínicas incluídas em protocolos clínicos mais ou menos estruturados
Tratamentos psicológicos embasados em: 1) modelos generalizados/específicos relacionados a
diversas condições clínicas, técnicas teoricamente dirigidas (tratamentos psicológicos
sistêmicos); e/ou 2) combinação de técnicas para uma condição específica derivada de
maneira pragmática a partir dos princípios teóricos gerais da abordagem (tratamentos
psicológicos de TCC multicomponentes - organizados mais como um tipo de pacote
terapêutico pragmático e menos dirigidos e/ou integrados teoricamente).
FUNDAMENTOS TEÓRICOS
DA TCC
A TC – terapia cognitiva de Beck (Beck, 1963, 1976) e a TREC – terapia relacional-
emotiva comportamental de Ellis (Ellis, 1957, 1962, 1994) estabeleceram a estrutura
fundamental do paradigma moderno da TCC.
Visão: sintomas dos transtornos de personalidade não são frutos de uma doença, são
respostas aprendidas a estímulos.
Foco no componente cognitivo - promovido como uma “causa” preliminar dos
outros componentes (ex. comportamento) (a causalidade não é unidirecional) – todos
os tipos de resposta estão inter-relacionados. Psicologia interativa multidirecional,]
MODELO ABC

C- consequências
A- evento ativador B- crenças • Emocionais
• Comportamentais
• psicofisiológicas
A- eventos ativadores (internos ou externos)

B- crença dos indivíduos, ao processamento de informações nas formas de crenças e


pensamentos

C- refere-se a várias consequências na forma de respostas subjetivas, comportamentais


e/ou psicofisiológicas do indivíduo.

cognições distorcidas estão associadas a consequências disfuncionais (p. ex.,


sentimentos disfuncionais/nocivos, comportamentos desadaptativos), enquanto
cognições não distorcidas estão associadas a consequências funcionais (p. ex.,
sentimentos funcionais/saudáveis, comportamentos adaptativos)
COGNIÇÕES FRIAS E QUENTES
Em relação ao tipo de cognições: Cognições frias referem-se a descrições da
realidade (p. ex., “Minha esposa não está em casa”) e interpretações ou inferências
do indivíduo (p. ex., “Ela está por aí me traindo”). Cognições quentes referem-se a
como avaliamos essas descrições e inferências sobre a realidade (p. ex., “Minha
esposa não deveria me trair, e, se isso acontecer, será horrível e a pior coisa
possível”).
as cognições frias não geram sentimentos, embora possam diretamente gerar
comportamentos.
ESTRATÉGIAS CLINICAS
Primeiro – Atuar no pensamento automático  descrições e inferências- como uma mistura de
cognições quentes e frias.
Posteriormente – Atuar nas crenças centrais  codificadas em nossa mente como esquemas.
o caráter interativo dos elementos centrais é diferente para cada indivíduo. Enquanto, para um
indivíduo, a sequência pode ser cognição-afeto-comportamento, para outro pode ser
comportamento-afeto-cognição e, para um terceiro, afeto-cognição-comportamento.
A TAC (Hayes et al., 2011), a TC baseada em mindfulness (Segal, Williams, & Teasdale, 2002)
e outras TCCs chamadas de terceira onda questionaram a necessidade de mudar o conteúdo de
cognições distorcidas para obter uma mudança mais adaptativa no nível emocional e
comportamental, argumentando que precisamos modificar (ou seja, reestruturar
cognitivamente) a função das cognições distorcidas – para neutralizá-las e desativá-las
cognitivamente – utilizando técnicas de terapia de aceitação e de mindfulness.
Ou seja, tem-se diversas formas de atuações (baseadas nos elementos centrais do modelo ABC)
TCC INTEGRATIVA E
MULTIMODAL (VISÃO)
existem dois tipos de crenças centrais. O primeiro refere-se às cognições frias.
Aqui podemos incluir as crenças centrais gerais de Beck, como “inamabilidade” e
“desamparo”, codificadas na mente humana como esquemas. O segundo tipo refere-
se às cognições quentes. Neste podemos incluir as crenças centrais irracionais gerais
de Ellis, expressadas como “exigências” (“As coisas têm de ser feitas do meu jeito”),
“catastrofização” (“Não podia ser pior”), “intolerância à frustração” (“Não aguento
essas cobranças sobre mim”) e “avaliação geral do valor humano” (porque agir ou
acreditar daquela maneira mostra que a pessoa é completamente inútil), as quais são
codificadas na mente humana como esquemas.
Diversas crenças centrais interagem para criar um viés no processamento de
informações dos eventos, gerando, assim, pensamentos automáticos específicos que
acarretam consequências disfuncionais
TCC INTEGRATIVA E
MULTIMODAL (VISÃO)
Pensamentos automáticos, tanto quentes como frios, podem vir a nossa mente
consciente de modo involuntário (automático) e costumam estar relacionados ao
evento ativador
A fonte de crenças centrais tem a ver com a predisposição tanto
ambiental/educacional como biológica
Mecanismos de enfrentamento são processos cognitivos e comportamentais normais
que possuem uma função de ajudar a enfrentar diversos sentimentos e experiências
Conceito de processamento inconsciente de informações no nível de crenças do
indivíduo. Trata-se de um inconsciente cognitivo estrutural, que contém informações
codificadas em formatos que normalmente não são acessíveis de forma consciente
TCC INTEGRATIVA E
MULTIMODAL
APLICAÇÃO DA TCC NOS
TRANSTORNOS DA
PERSONALIDADE
As causas da origem da patologia ---- (relacionados)---- crenças centrais de um
A intervenção da TCC para transtornos da
personalidade costuma incluir (1)
avaliação clínica; (2) conceituação cognitiva; (3) formam por meio de experiências
intervenções técnicas e (4) fundamentais durante o
construção e utilização da relação terapêutica desenvolvimento, e algumas das
quais podem estar baseadas em
predisposições biológicas
A relação terapêutica caracteriza-se pela colaboração,
congruência, empatia e genuinidade
conceituação cognitiva, ela muitas vezes é mais dinâmica no caso dos
transtornos da personalidade, incluindo uma ligação (1) a conceituação
cognitiva dos atuais problemas, (2) a conceituação cognitiva dos problemas
passados e (3) a conceituação dos problemas expressados na relação e no
ambiente terapêutico. Fazendo isso, os pacientes podem compreender como
historicamente desenvolveram seus atuais problemas e como enfrentá-los de
maneira direta e experiencial
Há uma distinção clara entre “psicoterapia” (ou seja, uma intervenção psicológica
geral em saúde mental) e “tratamento psicológico” (ou seja, uma intervenção
dirigida a condições clínicas específicas).
“arcabouço da TCC” (p. ex., TCC-IM) refira-se a uma teoria abrangente e a um
conjunto de técnicas multimodais derivadas e/ou enfatizadas por essa teoria
integrativa, os tratamentos psicológicos da TCC abordam protocolos clínicos (mais
ou menos estruturados) – muitas vezes teoricamente orientados – destinados a
condições clínicas específicas.
os tratamentos psicológicos configurem, neste momento, a primeira linha de
intervenções para os transtornos da personalidade.
TEORIA DOS TRANSTORNOS
DA PERSONALIDADE
De onde vem a personalidade?
herança filogenética - “estratégias” geneticamente determinadas que facilitaram a
sobrevivência.
Processamento de informações -avaliação das demandas de uma situação em
particular precede e desencadeia uma estratégia adaptativa. O modo pelo qual uma
situação é avaliada dependerá, ao menos em parte, das crenças subjacentes
relevantes. Tais crenças estão embutidas em estruturas mais ou menos estáveis,
denominadas “esquemas”
A sequência psicológica evolui, então, da avaliação para a excitação afetiva e
motivacional e, por fim, para a seleção e implementação de uma estratégia relevante
TEORIA DOS TRANSTORNOS
DA PERSONALIDADE
Consideramos as estruturas básicas (esquemas) das quais esses processos cognitivos,
afetivos e motivacionais dependem como as unidades fundamentais da
personalidade.
Traços  expressões das estruturas subjacentes.
interação entre disposições inatas e influências ambientais.
Ex:
Atributos como dependência e autonomia podem ser vistos como uma função de um
conglomerado de esquemas básicos. Em termos comportamentais ou funcionais, os
atributos podem ser chamados de “estratégias básicas”. Essas funções específicas
podem ser observadas de uma maneira exagerada em alguns dos padrões
comportamentais explícitos atribuídos, por exemplo, aos transtornos da
personalidade dependente ou esquizoide. O caráter desses padrões comportamentais
pode ser mais bem compreendido em termos de funções reguladoras que são
internalizadas (monitorando-se e inibindo-se) ou externadas (reagindo, competindo,
exigindo).
TEORIA DOS TRANSTORNOS
DA PERSONALIDADE
As típicas crenças disfuncionais e estratégias desadaptativas expressadas nos
transtornos da personalidade deixam os indivíduos suscetíveis a experiências de vida
que invadem sua vulnerabilidade cognitiva.
A vulnerabilidade cognitive baseia-se em crenças que têm um elemento adaptativo,
mas que se tornaram extremistas, rígidas e imperativas.
As crenças disfuncionais surgiram em decorrência da interação entre a predisposição
genética do indivíduo e sua exposição a influências indesejáveis de outras pessoas ou
a experiências culturais e eventos traumáticos específicos. Assim, no curso do
desenvolvimento, certas estratégias-chave tornam-se hipertrofiadas e se manifestam
como transtornos da personalidade específicos ou mistos.
Ex:
transtorno da personalidade dependente caracteriza-se por uma sensibilidade à
perda externa de amor e segurança; o da personalidade narcisista caracterizase
por um trauma à autoestima por parte de fontes externas; e o da
personalidade histriônica, pelo fracasso em envolver externamente as pessoas
em busca de atenção e segurança emocional.
EVOLUÇÃO
Os antigos programas cognitivo-afetivo-motivacionais influenciam nossos processos
automáticos: o modo como interpretamos, o que sentimos e como nos dispomos a agir
em relação aos eventos. Os programas envolvidos no processamento cognitivo, no
afeto, na excitação e na motivação podem ter evoluído por sua própria capacidade de
manter a vida e promover a reprodução.
A seleção natural presumivelmente ocasionou algum tipo de ajuste entre
comportamento programado e as demandas do ambiente ou da cultura.
Independentemente de seu valor para a sobrevivência em ambientes mais primitivos,
alguns desses padrões derivados da evolução tornam-se problemáticos em nossa
cultura atual, pois interferem nos objetivos pessoais do indivíduo ou conflitam com as
normas de grupo. Tais padrões têm maior probabilidade de causar problemas se forem
inflexíveis e estiverem relativamente descontrolados.
RECURSOS
A principal via para a satisfação das necessidades da vida é pelo vínculo com outras
pessoas.
Ocupar uma alta posição no sistema hierárquico significa não apenas ser uma
“pessoa superior”, mas também implica o direito de acesso a outro lado da vida e da
sociedade, no qual o prazer é mais garantido, a dor é minimizada e a reprodução é
mais provável.
Direito e privilégio estão relacionados à força de um vínculo com outras pessoas e
grupos. Quando um indivíduo está fundamentalmente vinculado a um grupo, ele tem
direito ao apoio do grupo. Quando está fortemente vinculado a outro indivíduo, ele
também tem o direito.
ESTRATÉGIAS
Estratégias, nesse sentido, podem ser consideradas como
formas de comportamento programado destinadas para atender objetivos
biológicos. Embora implique um plano consciente e racional, a palavra aqui
não é usada com esse sentido. Em vez disso, nós a utilizamos da mesma forma
que os etologistas a empregam: para denotar comportamentos estereotipados
altamente padronizados que promovem a sobrevivência e a reprodução
individual (Gilbert, 1989). Esses padrões de comportamento podem ser vistos
como a meta fundamental de sobrevivência e reprodução: “eficácia
reprodutiva” ou “adequação inclusiva”.
ESTRATÉGIAS
Estratégias evolutivas como expressões de fome, desejo sexual e segurança. Embora
não tenham consciência do objetivo final dessas estratégias biológicas, os animais
têm consciência dos estados subjetivos que reflete seu modo de funcionamento:
fome, medo ou excitação sexual e as recompensas e punições por satisfazê-los ou
não.
As estratégias que de fato fazem a transição para transtornos da personalidade são
inflexíveis, excessivamente generalizadas e muito intrusivas. Essas estratégias
excessivas interferem no ajuste aos outros e reduzem o bem-estar. Além disso, o
transtorno pode se manifestar quando ocorrem certas estratégias inflexíveis na
ausência de outras estratégias de moderação.
Para detalhar melhor esse modelo, os transtornos da personalidade podem ser
agrupados de acordo com seus recursos principais: interpessoal (“sociotrófico” –
com foco para fora) ou individualista (autônomo – com foco para dentro). Os
impulsos predominantes incluem competir, apegar-se, atrair, proteger, controlar,
defender e criticar. Todos esses impulsos servem a uma das duas funções básicas:
expandir ou proteger recursos ou domínios pessoais; além disso, estão ligados a
estratégias inatas. As estratégias são exclusivas e usadas como diagnósticos para
observar e compreender a função evolutiva de cada transtorno.

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