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É, no

Utamaroho é muitas coisas ao mesmo tempo. É um conceito que


indica o caminho no qual a asili atua para forjar uma resposta coletiva
entre os membros de uma cultura para a vida e para o mundo como
eles o enfrentam. Mas esta resposta, no sentido do utamaroho, não é
pensada ou planejada. Ela é mais uma reação instintiva causada por
seu “espírito”. Usado desta forma, “espírito” referese à natureza
essencial de um ser. É a idéia que uma pessoa (ou como é neste caso),
uma cultura, ou grupo de pessoas possuem uma substância imaterial
(não física) que determina o seu caráter único ou “natureza”. Mas a
essência física e não-física estão ligadas aqui, assim como no conceito
de um “gene” que carrega “memória” [p 33]

Mas o utamaroho deve ser continuamente regenerado por suas


instituições, criações, e padrões de comportamento nos quais é
refletido. O utamaroho (personalidade coletiva) do povo irá ser
guerreiro, se a asili demanda guerra para o seu cumprimento, a sua
auto-realização. O utamaroho irá ser espiritualista ou materialista,
criativo ou controlado, dependendo da natureza da asili da cultura. O
utamaroho será uma indicação dos tipos de atividades que são
agradáveis e desejáveis para os membros da cultura. Ele vai
determinar o que eles consideram ser belo e, em certa medida, como
eles se movem e falam. Os aspectos axiológicos da cultura serão
relacionados ao seu utamaroho, que responde de forma significativa
para a motivação em um sentido coletivo. A asili é a semente que
produz uma força. A força é o utamaroho de um povo. É a
personalização coletiva da asili e representa a possibilidade de sua
existência. O utamawazo é a modalidade de pensamento em que a
vida mental do povo deve funcionar para que eles possam criar e
aceitar uma cultura que seja consistente com a asili originária. [p 34]
Mas é muito importante compreender que isso não significa que
nacionalismo seja um fenômeno negativo universalmente. É, na
verdade, “natural”, ser centrado na própria cultura e buscar preservá-
la. Isso faz parte da essência da cultura. Mas o conteúdo do
nacionalismo Europeu torna-se problemático: (1) porque implica
agressão imperialista; e (2) porque este geralmente não é reconhecido
como a manifestação de interesse de grupo, tornando assim difícil
para outros grupos se defenderem contra os seus efeitos. Um objetivo
importante deste trabalho, portanto, é tornar o nacionalismo Europeu
reconhecível como tal [p 39]

Em sua opinião Platão foi o visionário, o principal responsável pela


transição do modo oral, Homérico, para o modo crítico, literato. A
“velha” poética representava o “hábito de auto-identificação com as
tradições orais.” Ela representa inter-relacionamento emocional. Em
outras palavras, o sucesso da modalidade poética repousa com a
capacidade para forjar o mundo em um universo fenomenal, uma
realidade vivida [experienced reality]. Dentro deste contexto, o ‘si-
mesmo’ [self] é dependente de suas experiências. O cerne da questão
para Havelock e Platão é que esta dependência alojanos
irremediavelmente no concreto, incapazes de libertar-se de cada
instância indo além para uma afirmação abstrata. Havelock diz que
Platão estava defendendo “a invenção de uma linguagem abstrata de
ciência descritiva para substituir uma linguagem concreta de memória
oral
Esta idéia de controle é facilitada por primeiro separar o ser humano
em compartimentos distintos (“princípios”). Platão distingue os
compartimentos de “razão” e “apetite” ou “emoção”. A Razão é um
princípio ou função superior do homem/mulher, ao passo que o
Apetite é “mais de base” [“more base”]. Eles estão em oposição um ao
outro e ajudam a constituir, o que se tornou uma das dicotomias mais
problemáticos no pensamento e comportamento Europeus. Esta
oposição resulta na divisão do ser humano. Não mais inteiros [whole],
nós, mais tarde nos tornamos a “mente vs. corpo” de Descartes. A
superioridade do intelecto sobre o ser-emocional [emotional self] é
estabelecida como espírito é separado da matéria. Até mesmo o
termo “espírito” tem uma interpretação intelectualista cerebral na
tradição ocidental (Hegel).
[P 44]

A citação acima é a descrição de Eric Havelock do processo de


objetivação. Na sua opinião esta separação do ser [self] da palavra
relembrada introduziu um novo modo cognitivo e permitiu aos Gregos
“ganhar controle” sobre o objeto e, assim, assim nos dizem,
eventualmente, “escapar da caverna.” Ou, pelo menos, seus líderes
(os filósofos) escaparam, e os descendentes dos reis filósofos
(Europeus). É muito importante que nós coloquemos esse processo no
contexto histórico adequado. O “Europeu” ainda não tinha se
“desenvolvido”, mas Platão tinha ajudado a construir um critério pelo
qual o “verdadeiro Europeu” seria medido. A viciosa e violenta guerra
mortífera contra as tendências “bárbaras” na Europa arcaica iriam
continuar pelo século XI (e, claro, além deste, em menor escala, mas
nada menos vigilante). Esta foi uma guerra para assegurar uma visão-
de-mundo particular, que, como veremos, foi complementada pela
manifestação da religião institucionalizada identificada com a cultura
Européia [p 50]

Em certo sentido, a história do pensamento Europeu foi baseada no


uso da metáfora como descrição literal. É como se pensava com
Platão, as limitações da “palavra” escrita foram esquecidas; a
complexidade do modo simbólico foi abandonada para a simplicidade
da unidimensionalidade. O símbolo tornou-se o objeto. E essa
manipulação recompensou. Ela tinha reforçado a capacidade de ter
poder sobre os outros [p 51]

Por que é que o discurso nas sociedades derivadas Européias é a


marca de status na cultura? E por que é que as pessoas Africanas na
América Latina e no Caribe têm mantido tais distintos estilos de
linguagem? Aqui temos a resistência intuitiva a uma mudança na
consciência. A criação de idiomas Africano-influenciados em
circunstâncias de opressão pode ser entendida como uma força que
insiste na manutenção de uma visão-de-mundo ancestral. [p 55]

Lembre-se que de acordo com a epistemologia Platônica, temos de


alcançar a objetividade a fim de conhecer, e que, em seus termos, isto
é conseguido fazendo com que a nossa razão domine nossas emoções,
que por sua vez nos dá o controle. Nós ganhamos o controle sobre o
que queremos saber, portanto, criando um “objeto” de conhecimento
[p 63]

P 56

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