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Introdução
Há muitas questões relativas ao Trabalho Experimental (TE), que têm a ver com a sua natureza,
porquê, como e para quê da sua inserção no processo de ensino-aprendizagem. Vejamos
algumas dessas questões, que expectativamente deverão ajudar ao estimado estudante a reflectir
sobre o TE.
Como é que se concebe o TE? De que forma é que pode ser integrado no currículo sem
que se tenha a sensação de perca de tempo? Como gerir as aulas específicas de TE?
Como relacionar estas aulas com as outras? Os guiões de experiências devem ser
abertos ou fechados? É sempre necessário um guião de experiência para fazer TE?
Pode-se fazer TE relevante com materiais simples e de uso corrente? Têm alguma
importância TE que apenas explorem relações qualitativas entre variáveis? Que
condições logísticas (humanas e materiais) são necessárias para que se possa realizar
TE nas escolas? Qual é o tempo de aula ideal para se efectuar o TE? De que forma se
pode melhorar a aprendizagem de Física através do TE? Consegue-se avaliar o que se
aprendeu em Física sem se avaliar competências de TE?
A partir das questões aqui colocadas você pode ver que TE tem um enquadramento muito mais
vasto do que são as convicções dos nossos professores de Física em geral.
Um dos aspectos é a reclamada cultura científica para todos os cidadãos, por parte de todas
esferas da sociedade, desde os políticos, sociedade civil até cientistas.
A experiência mostra, de uma forma geral, que o TE é muito pouco usado nas aulas de Física.
Porém, nos casos em que ela exista, a actividade experimental mais frequente, é a demonstração
experimental feita pelo professor. Nessa sua utilização o TE tem servido apenas como ilustração
ou confirmação de conceitos, leis e fenómenos apresentados e como se não bastasse, é
controlado pelo professor desde a sua preparação, realização e até a interpretação dos resultados
e sem a devida discussão. Como consequência, o trabalho experimental ilustrativo é
frequentemente dispensável.
Os factores principais que determinam o pouco peso da actividade experimental na sala de aulas
são:
Devem existir várias formas de definir o trabalho experimental (TE). Por exemplo, de acordo
com Neves, Caballero, Moreira, numa publicação online (2010, fazendo referência a Hegarty-
Hazel, Lazarowitz e Tamir (1994) definem o TE como sendo “a actividade desenvolvida num
ambiente criado para esse fim, envolvendo-se os alunos em experiências de aprendizagem
planeadas, interagindo com materiais para observar e compreender fenómenos”.
Por sua vez, para Hodson (1988) citado por Lopes (2004), o TE é qualquer actividade que
requeira controlo e manipulação de variáveis, usando ou não material de laboratório, em
contexto de laboratório ou não.
Porém, por volta desta definição é fundamental contemplar outros aspectos nela não explícitos,
nomeadamente, o problema a ser resolvido experimentalmente, a observação, a descrição, a
identificação de variáveis, previsões, concepção/uso do sistema experimental, a medição, o
tratamento de dados, a análise e apresentação dos resultados e a comunicação da actividade
realizada.
Não significa porém que se está apenas na presença de um TE quando todas estas vertentes são
encontradas. O TE pode existir por exemplo sem tratamento e apresentação de dados.
Actividades:
1.Que dificuldades você tem encontrado na realização de experiências nas sua aulas?
2.Quais têm sido as acções por si adoptadas para a solução dos problemas que tem enfrentado
na realização de experiências?
Características da experiência:
A experiência pode assumir na aula de Física as seguintes funções de acordo com o contexto:
2) No âmbito didáctico-metodológico:
- Meio de motivação,
- Meio de activação,
- Meio de visualização,
- Meio de descoberta/reconhecimento.
- Meio para despertar curiosidades pelo saber e confiança nos conhecimentos adquiridos.
3.7. O trabalho experimental no contexto educativo
Lopes (2004), defende que não é possível fazer uma transposição didáctica directa da análise
epistemológica do lugar e papel da experimentação, na construção do conhecimento físico, para
o ensino da Física, pois as estruturas das situações de conhecimento, os contextos de produção
de conhecimento, a natureza dos objectos e dos sujeitos epistémicos, assim como o
conhecimento disponível são diferentes. Por isso, torna-se importante explorar como o TE deve
ser concebido e organizado para os propósitos do ensino e aprendizagem da Física
“No contexto educativo, o TE não tem como função testar teorias científicas, mas sim de
estudá-las e aprofundá-las” Lopes (2004).
Os aspectos essenciais que estabelecem a ligação entre a abordagem teórica e a experiência são:
Como já vimos na última etapa do método experimental na unidade anterior, a confrontação dos
enunciados teóricos com os resultados experimentais pode conduzir a reformulação das
questões, a revisão do sistema experimental ou obrigar a realizar de novo a experiência.
- TE de demonstração
A experiência é frontal e é realizada pelo professor (ou por um ou grupo de alunos
previamente preparados para o efeito), geralmente com o objectivo de acumulação de
factos, verificação de conclusões teóricas, visualização de fenómenos, assim como
explicação do funcionamento de aparelhos técnicos.
- TE individual do aluno
- TE à mão livre
No TE à mão livre as experiências que podem ser realizadas tanto pelo professor como
pelo aluno, com a utilização de meios simples e essencialmente de uso diário. As
experiências são rápidas, geralmente qualitativas, não exigindo montagens complexas
nem realizações de medições. O TE à mão livre é adequado para situações de motivação
dos alunos através da provocação de conflito cognitivo.
- TE caseiro
- O professor deve realizar cada experiência programada antes da sua inserção na aula de
a certificar-se da sua funcionalidade;
- Cada experiência deve ser cuidadosamente preparada, se possível com os alunos, de
forma que estes possam entender o essencial da experiência, saibam o que é preciso
observar e conheça os objectivos da experiência;
- Cada experiência deve ser cuidadosamente avaliada e o seu resultado deve ser claro
para todos os alunos;
Significa que cada grupo realiza o mesmo TE, utilizando os mesmos meios e com os
mesmos objectivos.
Cada grupo realiza um TE referente a um dado tema utilizando meios diferentes e com
objectivos diferentes. Esta forma de organização é geralmente aplicada para práticas de
laboratório.
4. Organização em partes
Cada grupo realiza o TE para um objectivo parcial de um problema complexo. Os
resultados obtidos são reunidos em forma de uma solução conjunta.
Actividade: A constante elástica de uma mola em hélice pode ser determinada usando tanto o
método estático como o método dinâmico. Conceba um trabalho experimental para a
determinação da constante elástica de uma mola elástica em organização na mesma linha.
Vejamos agora algumas regras de realização das experiências no TE, que contribuem para o
sucesso das mesmas.
- Informar aos alunos antes do início da experiência sobre a sua tarefa de observação
inclusive sobre o registo dos resultados da experiência;
- Prestar atenção para que o tempo disponível seja suficiente para a avaliação e
formulação das conclusões a partir dos resultados da experiência.
o garantir que todos os alunos estão em altura de formular oralmente e por escrito os
resultados da experiência;
- Planificar tempo suficiente para a consolidação dos conhecimentos ganhos na
experiência.
Actividade: Identifique experiências na área da Estática dos Flúidos que se adequam i) para
trabalhos experimentais de demonstração, ii) para trabalhos experimentais individuais do aluno
e iii) práticas laboratorias. Tome em conta as características e exigências de cada tipo de
experiência.
Resumo da Unidade
Há um conjunto de questões sobre as quais o professor de Física deve reflectir para melhorar a
sua prática do trabalho experimental. Estas questões tanto têm a ver com a própria génese do
trabalho experimental como com aspectos de organização e objectivos do TE na sala de aulas.
Um trabalho experimental completo deve ser precedido pela pergunta a natureza, a qual deve
ser respondida através da experiência, definir claramente o objecto de observação, as variáveis a
medir, o procedimento experimental e de tratamento e incluir a análise e apresentação de dados.