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SEMINÁRIO ADVENTISTA LATINO AMERICANO DE TEOLOGIA

INSTITUTO ADVENTISTA DE ENSINO DO NORDESTE

FILOSOFIA

PROF. J. A. RODRIGUES ALVES

Definição:

A palavra "filosofia" deriva-se de duas palavras gregas,


philein, "amar", e sophia, "sabedoria". Pelo que se sabe, o
primeiro homem a usar essa palavra foi Pitágoras, em cerca de 600
a.C. Ele referiu-se a pessoas chamadas "sábias" (gr. sófoi),
embora negando que qualquer ser humano fosse realmente sábio e
afirmando que somente Deus é sábio. Dizia que as pessoas
interessadas nas coisas divinas são buscadoras da sabedoria, isto
é, filósofas. Similarmente, Platão também declarou que o nome
"sábio" é adequado somente para a divindade.

Outras definições:

a. "Ciência dos princípios e causas" (Lisa - Grande


Dicionário Enciclopédico da Língua Portuguesa).

b. "Sistema de princípios destinados a agrupar uma dada


ordem de fatos, procurando explicá-los; doutrina ou sistema
particular de um filósofo, escola, país, época..." Enciclopédia
Brasileira Mérito).

c. "Estudo das leis que orientam o desenvolvimento das


sociedades humanas" (Idem).

Conceitos selecionados sobre filosofia:

1. "A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo."

2. "A filosofia guia-se pelo princípio de que nada se sabe;


e desta perplexidade primeira, inicia a interrogação e
questionamento do que é familiar."

3. "A filosofia é marcada não pela posse da verdade, mas


pela sua busca."

4. "Não há filosofia que se possa aprender, só se pode


aprender a filosofar."

5. "A filosofia é a procura amorosa da verdade."

6. "A filosofia não faz juízos da realidade, como a ciência,


mas juízos de valor."

7. "A filosofia não só vê como é, mas como deveria ser."


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Na antiguidade, o vocábulo filosofia referia-se tanto à


atividade do filósofo como também aos sistemas segundo os quais
essa atividade tinha lugar. Há uma filosofia específica para cada
ramo do conhecimento, embora a filosofia tradicional encerre seis
sistemas, os quais entraram na filosofia por meio de Sócrates,
Platão e Aristóteles. Os sistemas tradicionais são: 1) lógica; 2)
estética; 3) ética; 4) política; 5) gnosiologia (ou
epistemologia); 6) metafísica.

Qual é a origem da filosofia? Platão dizia que é o assombro.


Enquanto o salmista, ao ver as estrelas e a magnificência da
realidade que o rodeava, sentia-se impulsionado a pensar na
companhia de Deus, Platão sentia-se movido pelo desejo de
investigar o universo, impulso e estudo que ele chamou
"filosofia". Aristóteles identificou a origem da filosofia com a
admiração que experimentava frente ao que é estranho, porque essa
admiração exigia consciência do que não sabia e era impulsionado a
buscar o conhecimento. Para Descartes, a origem da filosofia
estava na dúvida que, em seu sistema filosófico, se transforma em
dúvida metódica e chega a ser a fonte do exame crítico de todo
conhecimento. Para Karl Jaspers, a origem da filosofia está nas
situações extremas. Estas são situações das quais o homem não pode
sair e que não pode alterar, como morrer, padecer, lutar,
submeter-se ao acaso, afogar-se no sentimento de culpa. "A
consciência destas situações extremas é, depois do assombro e da
dúvida, a origem mais profunda ainda da filosofia." Com esta
origem, a filosofia não pode ser outra coisa senão uma permanente
"jornada". Por esta razão suas perguntas são mais essenciais que
suas respostas e toda resposta converte-se numa nova pergunta.

A filosofia, no seu sentido técnico, deve ser considerada em


três aspectos:

A. Atividade - refere-se ao que os filósofos fazem:

1. Sintetizar - descansa no desejo e necessidade do


homem de possuir uma visão compreensiva e
consistente da vida que providencie uma
base sobre a qual unificar seus
pensamentos, basear suas aspirações e
interpretar suas experiências. O filósofo
busca unir e integrar todo o conhecimento
especializado da humanidade numa visão
global e unificada.

2. Especular - dada a limitação do


conhecimento humano, permite um pulo do
conhecido ao desconhecido. É necessário
para nos movermos para além do que pode
ser demonstrado empiricamente.
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3. Prescrever - busca estabelecer normas


para avaliar os valores quanto ao
comportamento e às artes. As prescrições
geralmente são expressas em termos de
como as pessoas "devem" atuar ou reagir
em determinada situação que envolva
julgamentos estéticos ou morais. Envolve
a tarefa de definir o que significa
"bom", "mau", "certo", "errado", "belo",
"feio", etc.

4. Analisar - concentra-se num exame da


linguagem e no seu uso a fim de
esclarecer o nosso entendimento dos
problemas e como podem ser solucionados.
Esquadrinha o uso da lógica num
argumento. Opera com a premissa de que
desentendimentos básicos quanto aos
significados podem ser a causa dos
problemas humanos.

B. Atitude - refere-se a como os filósofos pensam (mente


filosófica).

1. Integridade - envolve uma disposição para ser tão


honesto quanto possível em relação com
os próprios preconceitos. Ninguém é
neutro: é difícil reconhecer os nossos
preconceitos. Uma vez feito o
reconhecimento, deve-se considerar esta
informação na interpretação e
comunicação.

2. Compreensividade - busca coletar dados relevantes


sobre determinado assunto de uma
variedade de fontes, ampliando
assim a visão sobre o tema.
Procura ver a totalidade do
fenômeno antes que apenas as
partes.

3. Penetração - disposição de ir tão profundamente


em um problema quanto o permitirem a
habilidade, tempo e energia. Fugir do
superficial em favor de uma pesquisa
pelos princípios básicos, questões e
soluções.

4. Flexibilidade - sensibilidade que permite perceber


antigos problemas numa forma nova.
Disposição de reestruturar as próprias
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idéias em face de suficiente evidência


e habilidade de vislumbrar
alternativas viáveis a um ponto de
vista. A flexibilidade, entretanto,
não deve ser confundida com indecisão
ou incapacidade de assumir uma
posição.

C. Conteúdo - há três categorias


fundamentais ao redor das quais o conteúdo
filosófico tem sido organizado:

1. Metafísica.

"Metafísica" é a transliteração do Grego que significa


literalmente "além da física". Esta palavra teve
origem nas obras de Aristóteles, referindo-se
simplesmente à seção de seus escritos que vinham após
o seu tratamento sobre a física.

Ramo da filosofia que lida com a natureza da


realidade. "Qual é a realidade última?" é a questão
básica no estudo da metafísica.

A primeira vista parece uma questão simples, pois,


afinal, as pessoas parecem estar certas sobre a
"realidade" de seu mundo. Os objetos numa casa, os
sons dos pássaros, o solo sob os pés, estas coisas são
reais.

Examine-se, entretanto, tais conceitos iniciais da


realidade. Por exemplo, qual é a realidade do piso
onde você se encontra? É sólido, tem uma cor
particular, seu material pode ser identificado
(madeira, concreto, etc.) e suporta o seu peso.
Aparentemente esta é a realidade do piso.

E para o físico, qual é a realidade do piso? Ele dirá


que o piso é feito de moléculas; que as moléculas
consistem de átomos; átomos de elétrons, prótons e
nêutrons; e estes, afinal, de energia elétrica. No
piso real há mais espaço que matéria.

E o que dirá o químico? O piso é um corpo de


hidrocarbonos associados de maneira específica e
sujeito a certas espécies de influências ambientais
(calor, frio, oxidação, etc.).
É evidente que a questão da realidade não é tão
simples como parece. Se a realidade de um simples piso
é tão confusa, o que dizer da realidade última do
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universo?

Aspectos da metafísica

Um visão rápida na metafísica pode ser obtida pelo


exame das principais questões concernente à natureza
da realidade. Verifica-se que as questões metafísicas
estão entre as mais gerais que se podem apresentar. A
verificação completa de qualquer resposta particular a
estas questões está além do âmbito da demonstração
humana. Entretanto, isto não torna irrelevante a
discussão destes assuntos, desde que as pessoas,
estejam ou não conscientes disto, baseiam suas
atividades diárias e seus objetivos de longo prazo em
um conjunto de crenças metafísicas. A metafísica
reside no fundamento da ciência moderna.
Essencialmente representa as atividades especulativa e
sintetizadora da filosofia, e provê a estrutura
teórica que permite aos cientistas criar cosmo-visões
e desenvolver hipóteses que podem ser testadas segundo
suas suposições básicas. Assim, as teorias da ciência
estão ultimamente relacionadas às teorias da
realidade, e a filosofia da ciência forma a base da
experimentação científica. Deve-se reconhecer que os
cientistas são às vezes tentados a fazer
interpretações que vão além dos "fatos", e assim
tentam apresentar respostas metafísicas. Esta é a
posição dos cientistas que fazem declarações sobre
criacionismo ou evolucionismo. Eles vão além dos fatos
experimentais e assumem o papel de metafísicos. Isto
pode ser correto, desde que conscientemente reconheçam
que saíram do âmbito da ciência e entraram no mundo da
metafísica.

As questões metafísicas podem ser divididas em quatro


sub-itens:

a. Aspecto cosmológico. Cosmologia consiste no


estudo das teorias sobre a origem, natureza e
desenvolvimento do universo como um sistema
ordenado. "Como o universo se originou e
desenvolveu?" é uma questão cosmológica. As pessoas
respondem variadamente a esta questão, com desígnio
e acidente (acaso) em seus pontos extremos. Outra
questão cosmológica diz respeito ao propósito do
universo. Há um propósito para o qual o universo se
move? As respostas afirmativas a esta questão são
consideradas teleológicas. A fé cristã é
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teleológica porque vê um fim para a história


terrestre com o segundo advento de Cristo.

b. Um segundo aspecto metafísico é teológico.


Teologia é a parte da teoria religiosa que trata
das concepções de e acerca de Deus. Existe Deus? Se
existe, há um ou mais de um? Quais são os atributos
de Deus? Se Deus é tanto bondoso quanto todo-
poderoso, como é que o mal existe? Existem seres
como anjos, Satanás, Espírito Santo? Se sim, qual é
seu relacionamento com Deus? Estas e questões
similares têm sido debatidas através de toda a
história da humanidade. As pessoas respondem a
estas questões de variadas maneiras. O ateu alega
que não há Deus, enquanto o panteísta afirma que
Deus e o universo são idênticos - tudo é Deus e
Deus é tudo. O deísta vê a Deus como o criador da
natureza e leis morais, mas diz que Deus existe
apartado, e não está interessado na humanidade e no
universo físico. Por outro lado, o teísta crê em um
Deus criador pessoal. O politeísmo (deidade plural)
é oposto ao monoteísmo (há um Deus) em relação à
questão do número de deuses.

c. Um terceiro aspecto da metafísica é o


antropológico. A antropologia lida com o estudo da
humanidade. O aspecto antropológico da filosofia é
uma categoria única porque o homem é tanto o
sujeito como o objeto da inquirição. Quando as
pessoas filosofam sobre a humanidade, falam acerca
de si mesmas. As perguntas são as seguintes: Qual é
a relação entre a mente e o corpo? Existe interação
entre a mente e o corpo? A mente é mais fundamental
que o corpo, com o corpo dependendo da mente, ou
vice-versa? Qual é o status moral da humanidade? As
pessoas nascem boas, más, ou moralmente neutras?
Até que ponto os indivíduos são livres? Desfrutam
de uma vontade livre, ou seus pensamentos e ações
são determinados pelo ambiente e herança? Os
indivíduos possuem uma alma? Se sim, o que é a
alma? As pessoas adotam diferentes posições sobre
estas questõees, e tais posições se refletem em
suas práticas e desígnios políticos, sociais,
religiosos e educacionais.

d. O quarto aspecto da metafísica é o ontológico.


Ontologia é o estudo da natureza da existência. Há
várias questões que são centrais para a ontologia:
É a realidade básica encontrada na matéria ou
energia física (o mundo que podemos sentir), ou é
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encontrada no espírito ou energia espiritual? É


composta de um elemento (p. ex., matéria ou
espírito), ou dois (p. ex., matéria e espírito), ou
muitos? É fixa e imutável, ou a mudança é sua
característica fundamental? É esta realidade
amigável, não amigável, ou neutra, em relação à
humanidade?
Metafísica e teologia

Mesmo uma olhada superficial nas sociedades históricas


ou contemporâneas indicarão o impacto exercido pelos
aspectos cosmológico, teleológico, antropológico e
ontológico da metafísica sobre as crenças e práticas
sociais, religiosas, políticas, econômicas e
científicas. O aspecto metafísico influencia todas as
atividades humanas. É impossível fugir às decisões
metafísicas. As pessoas assumem respostas às questões
metafísicas e agem de acordo com tais respostas.

As crenças metafísicas concernentes à natureza da


realidade última, a existência de Deus, o papel de
Deus nos negócios humanos, e a natureza e papel dos
seres humanos como filhos de Deus motiva os homens.
Eles estão dispostos a viver e morrer por suas
convicções e desejam que a seus filhos sejam ensinadas
suas crenças básicas.

2. Epistemologia.

Ramo da filosofia que estuda a natureza, fontes e


validade do conhecimento. Procura responder a questões
como "O que é verdade?" e "Como saber se é verdade?"
Dimensões do conhecimento

Pode-se conhecer a realidade?

O ceticismo alega que é impossível adquirir


conhecimento e que a busca pela verdade é vã. Este
pensamento foi expresso por Górgias, o sofista grego
(ca. 483-376 aC), que assegurava que nada existe e, se
existisse, não poderíamos conhecê-lo. Ceticismo, em
seu sentido mais amplo, denota a atitude questionadora
de qualquer suposição ou conclusão até que seja
submetida a rigoroso exame. O agnosticismo é uma
profissão de ignorância, especialmente em referência à
existência ou não existência de Deus, antes que uma
positiva negação de qualquer conhecimento válido.

A maioria das pessoas alega que a realidade pode ser


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conhecida. No entanto, se a realidade pode ser


conhecida, quais as fontes para tal conhecimento? E
ainda, como julga a validade de seu conhecimento?
É a verdade relativa ou absoluta?

Toda a verdade está sujeita a mudanças? É possível que


o que é verdadeiro hoje possa ser falso amanhã? A
Verdade Absoluta refere-se à Verdade que é eterna e
universalmente verdadeira a despeito de tempo e lugar.
Se há esta espécie de Verdade no universo, é útil
descobri-la.
O conhecimento é subjetivo ou objetivo?

Há três posições básicas sobre a objetividade do


conhecimento. 1) O conhecimento nos vem "de fora". 2)
Aquele que conhece é parcialmente responsável pela
estrutura de seu conhecimento. 3) Afirma que o homem
existe como "sujeito puro" e que é um manufaturador
(fabricante) da verdade, antes que um simples
recipiente ou participante.
Existe verdade independente da experiência humana?

Esta questão é básica à epistemologia e pode ser vista


em termos de conhecimento a priori e a posteriori.

A priori - refere-se ao conhecimento que é


independente do ser humano; é verdadeiro, saiba-o o
homem ou não, aceite-o ou não. Diz-se que este tipo de
conhecimento existe antes da experiência humana e é
independente dela.

A posteriori - é todo conhecimento adquirido através


da experiência humana e cuja verificação depende dela.

As filosofias tradicionais sustentam a superioridade


do conhecimento "a priori"; as filosofias modernas
afirmam a superioridade do conhecimento "a
posteriori", chegando mesmo a negar a existência do
conhecimento "a priori".
Fontes de conhecimento

1. Conhecimento sensorial (apelo à percepção) -


conhecimento obtido pelo método científico, que
enfatiza a percepção sensorial. Problema: limitações
dos sentidos humanos, distorções, etc. Auxílio de
equipamentos (microscópio, telescópio, etc.).
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2. Conhecimento por testemunho (apelo à autoridade) -


desta forma de conhecimento a História se vale em
grande parte. Trata-se de conhecimento vicário, de
segunda mão (um professor, um livro, etc).

3. Conhecimento por raciocínio (apelo à razão) -


derivado do uso da razão e a ênfase no seu uso leva ao
racionalismo. As sensações e experiências sensorias
são a matéria prima do conhecimento, mas estas devem
ser organizadas pela mente em sistemas significativos.
Enfatiza o uso da lógica formal. Os sistemas lógicos
têm a vantagem de consistência interna, mas são
válidos só na medida em que suas premissas o sejam.

4. Conhecimento por discernimento ou introspecção


(apelo à intuição) - apreensão direta de conhecimento
que não é resultado do raciocínio consciente ou da
percepção sensorial imediata, por processos
aparentemente criativos. Pretendem alguns que a
intuição seja uma fonte para o conhecimento tanto
secular como religioso.

5. Conhecimento por revelação - pressupõe uma


realidade supernatural transcendente que se faz
presente na ordem natural. Trata-se, na verdade, de
conhecimento o mais elevado, revelado de modo
sobrentural por Deus, a fonte de todo o conhecimento.
Crêem os cristãos, e admitem certos filósofosos e
pensadores que somente conhecimento revelado, como o
que encontramos na Bíblia, seja de fato válido para o
conhecimento da realidade última, especialmente no que
diz respeito aos problemas relativos à origem do
universo e do homem, do destino do homem, o problema
do mal, etc. Esta forma de conhecimento tem a vantagem
de ser uma fonte onisciente de informação que não pode
ser obtida por outros métodos epistemológicos. Cremos
que a verdade obtida por esta fonte é absoluta e
incontaminada (embora possa ser distorcida pelo
processo de interpretação humana).
A natureza complementar das fontes de conhecimento

Não há uma fonte única de conhecimento que supra a


humanidade com todo o conhecimento. Todas as fontes
devem ser vistas como complementares e não como
antagônicas. Entretanto, a maioria dos pensadores
escolhe uma fonte como sendo mais básica que as
outras. Esta fonte mais básica é então usada como
instrumento de avaliação dos outros meios de se obter
conhecimento. Por exemplo, no mundo moderno o
conhecimento empírico é geralmente visto como a fonte
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mais básica. Suspeita-se do conhecimento que não está


de acordo com o conhecimento científico. Por
contraste, o cristianismo bíblico vê a revelação como
provendo uma estrutura básica dentro da qual as outras
fontes de conhecimento devem ser testadas.
Validade do conhecimento

Reconhecem-se três maneiras básicas para se testar a


verdade:

1. Teoria da correspondência - a afirmação do fato


corresponde com o fato. Se um julgamento corresponde
com os fatos, é verdadeiro; se não, é falso. Isso
significa que qualquer afirmação deveria ser
confirmada através da verificação empírica.

2. Teoria da coerência - baseada na consistência ou


harmonia com julgamentos previamente aceitos como
verdadeiros (na religião, uma verdade deve ser
coerente com outras e todas coerentes com o decálogo).
Esta teoria é criticada por não fazer diferença entre
verdade consistente e erro consistente.

3. Teoria pragmática (teste da utilidade) - no


pensamento de John Dewey e William James, verdade é
aquilo que funciona.

Conclusão: As crenças religiosas são testadas por


coerência com pressuposições básicas, aceitas como
verdadeiras, por ato de fé, visto terem sido reveladas
nas Escrituras Sagradas (não passíveis de demonstração
empírica, mas com evidências suficientes para serem
aceitas). Eventualmente a Religião também não se furta
nem ao teste da correspondência, quando este é
possível, e nem ao teste da utilidade na vida prática,
desde que seja conveniente o critério de julgamento de
utilidade.
O Dilema metafísico-epistemológico

O problema da humanidade é que não se pode fazer


declarações sobre a realidade sem primeiro possuir uma
teoria para se chegar à verdade; e, por outro lado,
uma teoria da verdade não pode ser desenvolvida sem
primeiro ter um conceito de realidade. Assim entra-se
num círculo vicioso.

Através do estudo das questões básicas, as pessoas são


forçadas a compreender sua pequenez no universo.
Compreendem que nada pode ser conhecido com absoluta
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certeza no sentido de que há uma prova final e última


disponível a todas as pessoas. Cada pessoa - o cético
e o agnóstico, o cientista e o homem de negócios, o
hindu e o cristão - vive pela fé. A aceitação de uma
posição particular em metafísica e epistemologia é uma
questão de "escolha de fé" feita pelos indivíduos, e
requer um comprometimento a um estilo de vida.

A natureza circular do dilema realidade-verdade não é


certamente o aspecto mais confortável do pensamento
filosófico, mas desde que ele existe, somos obrigados
a nos conscientizar de sua existência. Naturalmente,
todo este problema não surpreende a cientistas maduros
que têm de lutar com as limitações de sua arte e a
filosofia sobre a qual ela está construída. Também não
ameaça aos crentes de certas persuasões religiosas,
que têm tradicionalmente visto suas crenças básicas em
termos de escolha pessoal, fé e comprometimento. Todo
o problema, entretanto, é perturbador e provoca um
grande choque na média dos indivíduos.

A conclusão do dilema metafísico-epistemológico é que


todas as pessoas vivem pela fé nas crenças básicas que
escolheram. Diferentes indivíduos fazem diferentes
"escolhas de fé" sobre o continuum metafísico-
epistemológico e, portanto, têm variadas posições
filosóficas.

3. Axiologia

Axiologia é o ramo da filosofia que procura responder


à questão: "O que é de valor?" O interesse das pessoas
em valores deriva do fato de que elas são seres que
avaliam. Os homens desejam algumas coisas mais que
outras - eles têm preferências. A vida racional
individual e social está baseada sobre um sitema de
valores. Não há uma concordância universal acerca dos
sistemas de valores, e diferentes posições sobre as
questões da metafísica e epistemologia determinam
diferentes sistemas de valor, porque os sistemas
axiológicos são construídos sobre as concepções da
realidade e verdade.

A questão de valores lida com noções de que uma pessoa


ou sociedade concebe como sendo bom ou preferível. Um
problema surge quando duas diferentes concepções de
valor são mantidas pela mesma sociedade ou pessoa. Por
exemplo, uma sociedade pode definir ar e água pura
como um valor. Contudo, aquela mesma sociedade pode
poluir a terra em sua aquisição de outro valor:
dinheiro e coisas materias. Em tal caso há uma clara
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tensão entre os valores - um tensão entre o que o povo


diz que valoriza e aquilo que faz em sua vida diária.
É importante entender o valor "verbal" (aquele que se
diz escolhido) e o valor que leva a pessoa a agir (o
que ela realmente prefere).

Um aspecto do trabalho pastoral é o desenvolvimento de


preferências. A igreja, com todos os seus
departamentos, é um teatro axiológico, onde se instrui
e desenvolve valores.

A axiologia tem dois ramos principais - ética e


estética.

3.1. Ética

Ética é o estudo dos valores morais e da conduta.


Procura responder a questões como "O que eu devo
fazer?" "Qual é a boa conduta?" A teoria ética
procura prover valores corretos como o fundamento
para as ações corretas.

Existimos em um mundo em que decisões éticas


significativas não podem ser evitadas. Devido a
este fato, é impossível escapar ao ensino de
conceitos éticos. Naturalmente, pode-se escolher
permanecer silente sobre tais assuntos. Tal
silêncio, entretanto, não é neutralidade - é
meramente apoiar o status quo ético.

As seguintes questões apresentam os problemas


éticos que dividem as pessoas:

a. Existem padrões éticos e valores morais


absolutos ou relativos?
b. Existem valores morais universais?
c. O fim justifica os meios?
d. Pode-se separar a moralidade da religião?
e. Quem ou o que forma a base da autoridade
moral?

3.2. Estética

Estética é o aspecto do valor que pesquisa os


princípios que governam a criação e apreciação da
beleza e da arte. Estética lida com os aspectos
teóricos da arte em seu sentido amplo. Está
intimamente relacionada com a imaginação e
criatividade, portanto, é altamente pessoal e
subjetiva.
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Os seres humanos são seres estéticos e é


impossível evitar ensinar estética na escola, no
lar, na mídia ou na igreja (arte, música,
literatura, etc.). A crença estética está
diretamente relacionada a outros aspectos da
filosofia da pessoa. A estética não é algo
divorciado do resto da vida. Os valores estéticos
são um reflexo da filosofia total de uma pessoa.
Axiologia e Teologia

O estudo da axiologia sempre foi importante, mas tem uma


especial relevância no tempo atual. O último século
testemunhou um reavivamente sem precedentes nas
estruturas de valor e hoje vivemos em um tempo quando a
posição axiólogica pode ser mais bem descrita em termos
de "deterioração" e "fluxo". Cristãos e "secularistas"
estão preocupados com a crise de valores e a maneira em
que tais valores são ensinados, ou não, pelas agências
educacionais (inclusive igrejas).

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