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CONSIDERAÇÕES GERAIS
A parede anterolateral do abdome é musculoaponeurótica (diferente da parede
posterior do abdome que contem a região lombar da coluna vertebral). Não existe um limite
definido entre a parede anterior e lateral do abdome, por isso usa-se o termo parede
anterolateral do abdome para descrever essa região da parede abdominal. A parede
anterolateral tem como limite superior as cartilagens das VII a X costelas e o processo xifoide;
limite inferior o ligamento inguinal (de Poupart) e as margens superiores das faces anterolaterais
do cíngulo do membro inferior (cristas ilíacas, cristas púbicas e sínfise púbica).
REGIÃO INGUINAL
A região inguinal se estende da EIAS ao tubérculo púbico. Tradicionalmente o testículo
e o escroto são estudados na seção da parede anterolateral do abdome devido sua correlação
com o canal inguinal.
O ligamento inguinal (ligamento de Poupart) é uma faixa densa que constitui a parte
extrema inferior da aponeurose do músculo oblíquo externo. As fibras desse ligamento se
estendem da EIAS até o tubérculo púbico. Entretanto, nem todas as fibras seguem o mesmo
trajeto. As fibras que seguem posteriormente para se fixarem no ramo superior do púbis
(lateralmente ao tubérculo púbico) formam o ligamento lacunar (ligamento de Gimbernat),
curvo, delimitando medialmente o espaço subinguinal. As fibras que continuam mais laterais na
linha pectínea formam o ligamento pectíneo (ligamento de Cooper).
Algumas fibras seguem superior, que fogem do tubérculo púbico, ultrapassando a linha
mediana e se fundindo com as fibras inferiores da aponeurose do músculo oblíquo externo
contralateral, formam o ligamento inguinal reflexo. Paralela e posteriormente ao ligamento
inguinal tem-se o trato iliopúbico (ligamento de Thompson), a margem inferior espessa e
fibrosa da fáscia transversal, que reforça a parede posterior e o assoalho do canal inguinal. O
ligamento inguinal e o trato iliopúbico cobrem uma área de fraqueza inata da parede abdominal,
o óstio miopectíneo, região suscetíveis à formação de hérnias inguinais diretas e indiretas, bem
como hérnias femorais.
CANAL INGUINAL
O canal inguinal é uma passagem oblíqua com cerca de 4 cm de comprimento que segue
no sentido inferomedial através da parte inferior da parede anterolateral do abdome. É formado
em relação à descida do testículo durante o desenvolvimento fetal. Situa-se superior à metade
medial do ligamento medial. Nos homens o conteúdo é o funículo espermático, nas mulheres o
ligamento redondo do útero. Além dessas estruturas, em ambos os sexos, o canal dá passagem
a vasos sanguíneos e linfáticos e ao nervo ilioinguinal (passa externamente ao funículo em
homens).
O anel inguinal interno é formado por uma evaginação da fáscia transversal, sendo que
esta fáscia faz o revestimento interno (fáscia interna) das estruturas que passam pelo canal
(ducto deferente e vasos testiculares nos homens e ligamento redondo do útero nas mulheres).
O anel inguinal interno está localizado lateralmente aos vasos epigástricos inferiores, dessa
forma, nesta região ocorrem hérnias inguinais indiretas.
O anel inguinal externo é formado por fibras da aponeurose do músculo oblíquo
externo que seguem direções distintas, formando dois pilares: o pilar lateral, que se fixa no
tubérculo púbico, e o pilar medial à crista púbica. Entre os pilares, existem as fibras intercrurais
que passam de um pilar para o outro, evitando que se afastem. Normalmente o canal inguinal
está colapsado no sentido anteroposterior. Entre os dois anéis, o canal inguinal possui duas
paredes (anterior e posterior), um teto e um assoalho.
FUNÍCULO ESPERMÁTICO
O funículo espermático contém estruturas que entram e saem do testículo e suspende
o testículo no escroto. O funículo inicia no anel inguinal interno, passa pelo canal inguinal, sai
pelo anel inguinal externo e entra no testículo. O revestimento do funículo é feito por três
fáscias. A fáscia espermática interna é derivada da fáscia transversal. A fáscia cremastérica é
derivada do músculo oblíquo interno. A fáscia espermática externa é derivada do músculo
oblíquo externo. A fáscia cremastérica contém alças do músculo cremaster, formado por
fascículos inferiores do músculo oblíquo interno originados do ligamento inguinal. Tem como
função tracionar o testículo para cima (ajudando a regular a temperatura ideal para
espermatogênese juntamente com o músculo dardos, um músculo liso da tela subcutânea –
fáscia de Colles -, sem gordura do escroto – a túnica dardos). O músculo cremaster é inervado
pelo ramo genital do nervo genitofemoral (L1, L2) enquanto o músculo dardos possui inervação
autonômica.
ESCROTO
O escroto é formado por duas camadas: uma pele intensamente pigmentada e a
túnica dardos, uma lâmina fascial sem gordura (continuação da fáscia de Scarpa, da parede
abdominal, e de Colles, da região perineal) que inclui fibras musculares lisas (músculo dardos)
responsáveis pela aparência rugosa do escroto. O septo do escroto, uma continuação da
túnica dardos divide os compartimentos direito e esquerdo. Externamente o septo é
demarcado pela rafe escrotal.
A irrigação do escroto é feita por três conjuntos de artérias: ramos escrotais
posteriores da artéria perineal (ramo da a. pudenda interna); ramos escrotais anteriores da
artéria pudenda externa (ramo da a. femoral); artéria cremastérica (ramo da a. epigástrica
inferior). As veias acompanham as artérias e os vasos linfáticos drenam para os linfonodos
inguinais superficiais.
A inervação do escroto é feita por quatro grupos de nervos: ramo genital do nervo
genitofemoral (L1,L2) (face anterolateral); nervos escrotais anteriores, ramos do nervo
ilioinguinal (L1) (face anterior); nervos escrotais posteriores, ramos do ramo perineal do nervo
pudendo (S2-S4) (face posterior); ramos perineais do nervo cutâneo femoral posterior (S2-S3)
(face posteroinferior).
TESTÍCULO
Os testículos são as gônadas masculinas responsáveis pela gametogênese no homem e
a produção de hormônios, principalmente a testosterona. Os testículos são suspensos no
escroto pelo funículo espermático e geralmente o esquerdo é mais baixo que o direito. O
testículo é coberto pela lâmina visceral da túnica vaginal, exceto no local de fixação ao
epidídimo e ao funículo espermático. A túnica vaginal é uma serosa que reveste o testículo
(lâmina visceral) e a fáscia espermática interna (lâmina parietal). Entre o epidídimo e o testículo
há um recesso da túnica vaginal, o seio do epidídimo. Entre as lâminas da túnica vaginal existe
uma pequena quantidade de líquido para permitir a livre movimentação do testículo no escroto.
A face externa do testículo é formada pela túnica albugínea, um tecido fibroso. A partir
da túnica albugínea, partem os septos fibrosos que delimitam os lóbulos de túbulos seminíferos
contorcidos onde são produzidos os espermatozoides. Os túbulos seminíferos contorcidos se
unem à rede do testículo, por meio dos túbulos seminíferos retos.
As artérias testiculares são ramos diretos da aorta abdominal que adentram no canal
inguinal compondo o funículo espermático. As artérias testiculares se anastomosam com as
artérias do ducto deferente (ramo da artéria vesical inferior). As veias que emergem do testículo
e do epidídimo formam o plexo venoso pampiniforme, uma rede de 8 a 12 veias que circundam
a artéria testicular no funículo espermático. O plexo pampiniforme faz parte do aparelho
termorregulador do testículo, juntamente com o músculo cremáster e a túnica dardos. Esse
plexo, do lado direito, forma uma única veia testicular direita que entra na veia cava inferior, e,
do lado esquerdo, uma única veia testicular esquerda que entra diretamente na veia renal
esquerda. A drenagem linfática é feita para os linfonodos lombares direito e esquerdo
(caval/aótico) e pré-aorticos. A inervação parassimpática vagal, aferente visceral e simpática
(T10-T11) seguem o trajeto da artéria testicular.
EPIDÍDIMO
O epidídimo é uma estrutura alongada localizada na face posterior do testículo. Os
espermatozoides saem da rede do testículo pelos ductos eferentes do testículo, tendo como
destino o epidídimo. O epidídimo é formado por minúsculas alças do ducto do epidídimo, tão
compactas que parecem sólidas. O epidídimo é formado por: cabeça do epidídimo; corpo do
epidídimo; cauda do epidídimo. A cauda do epidídimo é contínua com o ducto deferente, o qual
se une com o ducto da vesícula seminal para formar o ducto ejaculatório que depositará os
espermatozoides na porção prostática da uretra.
HÉRNIAS INGUINAIS
As hérnias inguinais correspondem a 75% das hérnias abdominais. Cerca de 86% ocorrem em
homens. Dois terços das hérnias inguinais são indiretas.