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SUMÁRIO

1. Definição........................................................................ 3
2. Anatomia da Tireoide................................................ 6
3. Histologia da Tireoide.............................................12
4. Fisiologia da Tireoide...............................................13
5. Exame Físico da Tireoide.......................................21
6. Ausculta Tireoidiana................................................28
7. Palpação de Linfonodos ........................................31
8. Descrição do Exame Tireoidiano........................32
Referências Bibliograficas..........................................34
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 3

1. DEFINIÇÃO primordialmente, do metabolismo e


alterações em sua composição fun-
A tireoide é uma glândula endócri-
cional natural se manifestam com
na localizada na região anterior do
síndromes clínicas bem conhecidas
pescoço com formato de borboleta
como o hipotireoidismo e hiper-
ou escudo, constituída de dois lobos
tireoidismo, tendo relação direta
e um istmo que os unem centralmen-
com a ação de outros hormônios, por
te. É facilmente encontrada por estar
exemplo, o TSH, este de liberação
abaixo da estrutura popularmente
central, a partir dos processos de
conhecida como “pomo de Adão” ou
feedback positivo ou negativo que
“gogó” que são regiões proeminen-
determinam a secreção hormonal. A
tes, principalmente em homens. Mas
calcitonina é essencial para a home-
como age essa glândula? A tireoide
ostase do cálcio, interferindo dire-
interage com diversos órgãos e sis-
tamente na absorção óssea. Dessa
temas do corpo humano como cére-
forma, seus níveis em quantidade in-
bro, coração, fígado, ossos, siste-
suficiente estão envolvidos na gêne-
ma genital, gastrointestinal, dentre
se de patologias como a osteopenia
outros, além de ser responsável pela
e/ou osteoporose.
produção e/ou secreção de hormô-
nios essenciais para o metabolis- O conhecimento sobre a anatomia e
mo, crescimento, desenvolvimento funcionamento da glândula permite
e homeostasia do indivíduo como a uma abordagem mais abrangente e
tiroxina (T4), a triiodotironina (T3) atenta em casos de anormalidades.
e a calcitonina. Falaremos detalha- Assim, entender a anatomia, histo-
damente nos próximos tópicos sobre logia, produção e secreção hormonal
a produção, ação e importância de da tireoide. Posteriormente, segui-
cada um desses hormônios. remos nos tópicos de exame físico,
características de normalidade alte-
Mas, de antemão, lembre-se que
rações características de patologias
os dois primeiros hormônios su-
tireoidianas.
pracitados são estimulantes,
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Figura 1. Representação da glândula tireoide. Aspecto folicular, com dois lobos e uma região central de união,
o istmo. Fonte: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Fonte https://www.endocrino.org.br/
entendendo-tireoide-hipotireoidismo/

Figura 2. Representação da glândula tireoide e o feedback com hormônios hipotalâmicos, em especial o TSH que
regula a liberação hormonal da tireoide. Fonte: Fiocruz. Fonte: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/4308/1/
Taise%20Lima%20de%20Oliveira%20Caracteriza%C3%A7%C3%A3o%20cl%C3%ADnica%20e%20molecu-
lar%20de%20pacientes%20com%20hipertireodismo....pdf
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SAIBA MAIS!
História e curiosidades
A palavra tireoide tem origem do Grego ‘thyreos’ e ‘oides’ que significam, respectivamente,
‘escudo’ e ‘forma de’. Ou seja, denomina o formado de escudo característico da glândula,
esta que também é visualizada como formato de borboleta por muitos. Ela foi descoberta
por Thomas Warton, em 1656.
Inicialmente acreditava-se que a tireoide possuía apenas função de modelar a região an-
terior do pescoço, ou seja, era um órgão basicamente estético e somente no século XIX as
funções endócrinas começaram a ser descobertas e correlacionadas com os efeitos clínicos.
Em 1835, o médico inglês Robert James Graves descreveu uma das doenças mais comuns
da tireoide conhecida como Doença de Graves, causa importante de hipertireoidismo. No
século seguinte, Emil Theodor Kocher, médico alemão, produziu um livro, Doenças da Glân-
dula Tireoide, onde descreveu desde a etiologia, sintomatologia ao tratamento do bócio e,
em 1909, conquistou o honrado prêmio Nobel de medicina por descrever funções glandula-
res junto a seu grupo de estudo.
Mas e a arte, será que essa glândula despertou algum interesse cultural?
Leonardo Da Vinci, um gênio da pintura e desenhos, foi o primeiro artista a desenhar a
glândula a partir de seu interesse peculiar pela anatomia humana e destaque mundial
como anatomista. Este é o autor de inúmeras pinturas anatômicas como do sistema
cardiovascular, sanguíneo, ósseo e, como nosso foco de estudo, a tireoide.

Figura 3. Representação da glândula tireoide por Leonardo da Vinci, este que foi o primeiro pintor a re-
presentar a glândula em forma de desenho. Fonte: https://www.giuliannomolina.com.br/post/2019/03/05/
da-vinci-e-a-tire%C3%B3ide
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 6

2. ANATOMIA DA para que o paciente degluta mais


TIREOIDE facilmente.
A glândula tireoide se localiza na re- Cerca de 40% dos indivíduos adul-
gião anterior do pescoço, posterior e tos tem um lobo denominado lobo
profundamente ao músculo esterno- piramidal que é situado na região
tireóideo e músculo esterno-hioideo. superior da glândula. Sua ausência
Tem peso em torno de 15 a 30g va- não representa anormalidade ou ma-
riando de acordo com a composição lignidade, é apenas uma variação
corporal e sexo e está situada ao ní- anatômica pela embriologia, sem
vel das vértebras C5 a T1. A glândula repercussões clínicas.
possui dois lobos (direito e esquerdo) Abaixo subdividimos as regiões da
situados em posição anterolateral em glândula de acordo com as super-
relação à laringe e à traqueia e tem fícies medial, ânterolateral, póste-
em média o tamanho de uma polpa ro-lateral e o istmo, e suas relações
digital, cada um. Esses lobos são uni- anatômicas.
dos na linha média pelo istmo.
• Superfície medial: cartilagem tire-
O revestimento externo da glân- óidea e traqueia, músculo constri-
dula é por uma cápsula fibrosa fina tor da faringe e músculo cricotireoi-
que emite septos para seu interior e deo, nervos laríngeos recorrentes
a partir de um tecido conjuntivo den- e esôfago.
so se liga aos anéis traqueais supe-
riores e a cartilagem cricoide. Assim, • Superfície ânterolateral: múscu-
a mesma encontra-se fixa na região lo esterno-tireoideo, músculo es-
anterior do pescoço e pode realizar terno-hioideo, músculo esterno-
movimentos leves com a deglutição, cleidomastoideo, fáscia superficial
para cima e para baixo, facilitando, com o músculo platisma e pele.
por exemplo, a avaliação ao exame • Superfície póstero-lateral: tron-
físico, quando o examinador solicita a co simpático e bainha carotídea*.
deglutição no momento da palpação
• Istmo: segundo ao quarto anéis
glandular ou oferta um copo de água
traqueais.
*A bainha carotídea é composta pela artéria carótida
comum, nervo vago e veia jugular interna.
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Figura 4. Representação das relações anatômicas da tireoide. Podem ser visualizados músculos, artérias, órgãos
como a traqueia, esôfago e glândulas paratireoides. Fonte: Moore, Livro de Anatomia Humana, 7ª edição.

Figura 5 e 6. Representação das relações anatômicas da tireoide por tomografia computadorizada em corte transver-
sal– imagem 5 e ressonância magnética em corte transversal – imagem 6. Fonte: Moore, Livro de Anatomia Humana,
7ª edição.
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Irrigação arterial A artéria tireóidea ima está pre-


sente apenas em cerca de 10% dos
A glândula tireoide tem uma vasta
indivíduos e tem origem, em geral,
irrigação arterial e seu suprimento é
do tronco braquicefálico. Mas essa
proveniente das artérias tireóideas
origem não é fixa! Atente-se, pois ela
superiores e inferiores. Esse su-
pode se originar do arco da aorta, das
primento intenso é essencial para o
artérias carótida comum direita, da
funcionamento da glândula e ações
artéria subclávia ou da torácica inter-
vasoconstrictoras, além disso, em si-
na. E qual principal local de irrigação?
tuações de anormalidades clínicas,
O istmo da glândula tireoide.
principalmente neoplasias, a irriga-
ção é um indicativo de malignidade
se relacionadas a tumores tireoidia- Drenagem venosa
nos avaliados à ultrassonografia.
A drenagem venosa ocorre por três
As artérias tireóideas superiores pares de veias que formam o plexo
tem origem das artérias carótidas venoso tireóideo: as veias tireóide-
externas e perpassam pelos polos as superiores, veias tireóideas mé-
superiores da glândula, chegando e dias e veias tireóideas inferiores. As
perfurando a lâmina pré-traqueal da primeiras drenam os polos superio-
fáscia cervical e posteriormente divi- res da glândula, seguindo juntamen-
dem-se em ramos anterior e poste- te as artérias tireóideas superiores;
rior. Essa irrigação é, principalmen- as veias tireóideas médias drenam a
te, responsável por suprir as regiões região intermediária aos lobos da ti-
anteriores e superiores da glândula reoide, seguem paralelamente as ar-
(irrigação anterossuperior). Enquanto térias tireóideas inferiores, mas neste
isso, as artérias tireóideas inferio- caso, não tem o mesmo trajeto; e as
res, que são os maiores ramos dos veias tireóideas inferiores, estas in-
ramos dos troncos tireocervicais e se dependentes, drenam a região infe-
originam das artérias subclávias es- rior da tireoide. Posteriormente, estas
tão situadas posteriormente à bainha seguem para as veias braquiocefáli-
carotídea e irrigam a face posterior cas e as veias tireóideas superiores e
e inferior da glândula. Vale salientar médias para a veia jugular interna.
que existem extensas anastomoses
arteriais.
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Figura 7. Irrigação arterial e drenagem venosa da tireoide. A imagem também representa os nervos e músculos em
contato direto com a tireoide Fonte: Moore, Livro de Anatomia Humana, 7ª edição.

Drenagem linfática
Sobre a drenagem linfática, os vasos pré-traqueais e paratraqueais. Os
da glândula seguem no tecido con- pré-laríngeos drenam para linfono-
juntivo interlobular e se comunicam dos cervicais superiores e os pré-tra-
com a rede capsular de vasos linfáti- queais e paratraqueais tem a dre-
cos, a sequência de drenagem ocor- nagem para os linfonodos cervicais
re para os linfonodos pré-laríngeos, profundos inferiores.
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Figura 8. Drenagem linfática da tireoide, laringe e traqueia. Imagem com representação da drenagem da região ante-
rior do pescoço para os respectivos plexos diferenciados pela coloração na legenda. Fonte: Moore, Livro de Anatomia
Humana, 7ª edição.

Inervação tireoidiana são vasomotoras, ou seja, causam


constrição dos vasos sanguíneos.
A inervação da tireoide é derivada
dos gânglios simpáticos cervicais
superiores, médios e inferiores. Es- ATENÇÃO À PEGADINHA!!! A se-
tes que atingem a glândula tireoide creção da glândula tireoide é con-
pelo plexo cardíaco e periarteriais ti- trolada pelo feedback dos hor-
reóideos superior e inferior e seguem mônios hipotalâmicos, logo, é
o trajeto das artérias tireóideas. Qual incorreto dizer que a irrigação ar-
papel dessas fibras nervosas? Elas terial é secretomotora.
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SE LIGA! As paratireoides são pequenas glândulas em formatos ovoides e achatadas que


ficam posicionadas na parte externa da cápsula tireóidea, na porção posterior da glândula
tireoide, em cada lobo. O número habitual de glândulas paratireoides são quatro, mas existem
variações para mais ou para menos, por exemplo, algumas pessoas tem apenas duas glându-
las paratireoides, enquanto cerca de 5% dos indivíduos tem mais que quatro.
Qual a localização dessas glândulas? Em geral, duas se situam na porção superior e duas na
porção inferior da tireoide. As superiores estão situadas ao nível da margem inferior da carti-
lagem cricoide e as inferiores estão perto dos lobos inferiores da glândula tireoide, mas pode
ser variável, por exemplo, estando contidas no mediastino superior.
Sobre a função: essas glândulas têm o papel essencial de regular o cálcio no sangue pela
produção do paratormônio. Os sistemas envolvidos diretamente na concentração sérica de
cálcio são o nervoso e o muscular, pois alterações drásticas podem gerar danos significativos.
É um hormônio de efeito antagônico a calcitonina, visto que aumenta o cálcio sanguíneo, além
de aumentar a absorção de vitamina D pelo intestino e reabsorção de cálcio pelos rins. Em
quantidades insuficientes pode gerar fadiga, cansaço e ansiedade.
Dentre as alterações características surgem o hiperparatireoidismo, hipoparatireoidismo,
pseudohipoparatireoidismo e tumores de paratireoide.
Hiperparatireoidismo - O hiperparatireoidismo pode ser primário, secundário ou terciário e
é resultante da secreção exacerbada do paratormônio. O primário tem como principal causa
o adenoma da paratireoide, seguido de hiperplasia primária e carcinoma. No caso do secun-
dário, ocorre quando há estímulos externos à glândula, como menor concentração de cálcio
gerando proliferação das células paratireoides. No caso no hiperparatireoidismo terciário, as
evidências são controversas na literatura, mas alguns autores consideram como a proliferação
de forma autônoma das células glandulares nos pacientes com hiperparatireoidismo secun-
dário, mas já com função renal reestabelecida. Hipoparatireoidismo - O hipoparatireoidismo
resulta da secreção ineficiente da glândula ocasionando hipercalcemia e hipofosfatemia.

Figura 9. Vista posterior da tireoide evidenciando as glândulas paratireoides. São evidenciadas duas do lado direito e
uma do lado esquerdo. Há ainda uma glândula paratireoide situada inferiormente à glândula tireoide não visualizada
na imagem. Fonte: Moore, Livro de Anatomia Humana, 7ª edição.
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3. HISTOLOGIA DA o lúmen? O coloide, elemento que


TIREOIDE contem precursores dos hormônios
tireoidianos, por secretar nucleopro-
Vamos relembrar a um pouco de his-
teínas, enzimas e tireoglobulinas.
tologia e para isto falaremos sobre a
composição, formato e função celu- Lembrem-se: essas células não são
lar da glândula tireoide, bem como as inertes! Sua altura varia, por exem-
principais alterações e repercussões plo, pela estimulação à produção hor-
locais e sistêmicas. monal. Vejamos, se a disposição de
hormônios tireotrópicos circulantes
Primeiramente, você lembra o que é
for aumentada, a altura das células
um coloide? Um epitélio cúbico ou
foliculares também é acentuada,
colunar? E as microvilosidades? Re-
bem como a atividade da glândula.
lembrar conceitos básicos histológicos
é essencial para prosseguir. Vamos A região basal das células epiteliais
lá... precisamos ter em mente três ele- é rica em retículo endoplasmático
mentos da histologia tireoidiana que granuloso e mitocôndrias, possui nú-
são: células foliculares, células parafo- cleo central e esférico e reticulo de
liculares ou células C e o coloide. Golgi supranuclear. A porção apical
da membrana basal é constituída de
A tireoide é uma glândula constituí-
microvilosidades.
da de esferas denominadas folícu-
los. Os folículos são pequenas esferas Há membrana basal na qual as célu-
medindo em torno de 0,2 a 0,9mm de las epiteliais se sustentam que tem o
diâmetro. Os folículos que possuem papel de sintetizar, secretar e absor-
um lúmen responsável pelo acúmulo ver diversas proteínas.
de secreções, essencialmente uma E as células C? Pois bem, essas são
substância gelatinosa denominada as células parafoliculares que po-
de coloide. O tecido é revertido por dem tanto fazer parte do epitélio foli-
uma cápsula de tecido conjuntivo cular quanto estar em posição isolada
frouxo com septos que invadem dos folículos. A principal característi-
a glândula. Esses septos dividem o ca histológica é seu conteúdo gra-
parênquima em lobos que são, por nular, estes que são responsáveis
sua vez, constituídos de folículos. pela secreção de calcitonina, em
Os folículos tem revestimento de resposta à elevação sérica de cálcio.
células epiteliais que variam de Entrando na fisiologia, a calcitonina
achatadas a colunares dispostas em estimula a captação de cálcio pelas
epitélio simples, pois possuem ape- células e aumento da deposição no
nas uma camada celular. E qual a tecido ósseo, sendo excelente para o
principal substância secretada para crescimento, desenvolvimento e ma-
turação óssea.
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 13

Figura 10 e 11. A imagem 10 representa os folículos tireoidianos como esferas, preenchidos por coloide. A imagem
11 representa os folículos e as células parafoliculares secretoras de calcitonina. Fonte: Imagens do livro Junqueira e
Carneiro. Histologia Básica, 10ª edição.

O principal elemento regulador da capaz de suprir as necessidades do


estruturação e função da glândula organismo por cerca de três meses.
tireoide é o hormônio tireotrópico Esse acúmulo ocorre no coloide que
(TSH), secretado pela hipófise. A contém, dentre outros elementos, a
partir de então surgem feedbacks e tireoglobulina.
retroalimentações positivas e nega- Para a tireoide liberar seu conteúdo
tivas da glândula tireoide e hipófise hormonal ou contê-lo, é necessário
que serão detalhados no próximo tó- o estímulo hipofisário, com a secre-
pico, fisiologia tireoidiana. ção de TSH, que estimula todas as
etapas de produção dos hormônios
4. FISIOLOGIA DA tireoidianos. A partir da produção
TIREOIDE desses hormônios e liberação em
quantidades necessárias ao funcio-
Aspecto geral namento adequado do organismo,
A tireoide é uma glândula com capa- há um feedback negativo, ou seja,
cidade de acumular grande quanti- um recado enviado à hipófise para
dade dos hormônios a seres secre- controlar a liberação de TSH, vis-
tados em seu interior, uma reserva to que não é necessário a produção
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 14

de mais hormônios. Posteriormente, • Oxidação do iodeto: é realizada a


com a diminuição da reserva funcio- partir de uma peroxidase da glân-
nal e quantidade hormonal sanguí- dula tireoide e carreada para o folí-
nea, a hipófise volta a liberar o TSH culo até chegar ao coloide.
e estimular a produção pela glândula
• Iodação dos radicais de tirosila:
tireoide.
esta é a última etapa e ocorre no
interior do coloide produzindo T3 e
Síntese e acúmulo de hormônios T4.
tireoidianos Liberação do T3 e T4
Existem quatro etapas para síntese e Como mencionado, a regulação e
acúmulo dos hormônios tireoidianos, liberação dos hormônios T3 e T4
são elas: síntese de tireoglobulina, ocorre após estímulo do TSH, este
captação de iodo no sangue, ativa- de liberação central. Se o organismo
ção de iodeto e iodação dos resíduos possuir quantidade suficiente desses
de tirosina da tireoglobulina. hormônios, bem como a reserva ti-
• Síntese de tireoglobulina: ocorre reoidiana for suficiente, não há libe-
no retículo endoplasmático granu- ração de TSH em condições home-
loso com liberação da tireoglobu- ostáticas. Contudo, com o consumo
lina pelas vesículas existentes na hormonal e necessidade orgânica, o
porção apical da célula em direção hipotálamo volta a liberar TSH e es-
ao lúmen dos folículos. timular a glândula tireoide a produzir,
armazenar e secretar o TSH. Lembre-
• Captação de iodeto circulante: é -se de que a vascularização é essen-
realizada na membrana basolate- cial para o funcionamento da tireoide,
ral das células foliculares a partir de sendo esta rica e intensa, mas não é
uma proteína transportadora, é uma controladora da liberação hormonal.
co-transportadora de sódio e iodeto.
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 15

SE LIGA! Dosagem hormonal


Os exames laboratoriais são elementos essenciais para diagnóstico preciso e acompanha-
mento dos pacientes com alterações tireoidianas. O diagnóstico, em muitos casos, não é tão
simples, principalmente em fases iniciais da doença, pois a sintomatologia pode não ser tão
evidente e os testes laboratoriais surgem como elemento chave. Para isso, é indicada a dosa-
gem sérica de T3, T4 e TSH em alguns casos.

T3 e T4
A dosagem de T3 e T4 totais ocorre por radioimunoensaio e os valores considerados normais
são: T3 total – 70 a 190 ng/dl e T4 total – 5 a 12 ng/dl. Contudo, várias condições, bem como
uso de medicamentos, podem interferir nos valores basais desses hormônios e, assim, isola-
damente, não são confiáveis para determinar a função tireoidiana. Dentre os medicamentos,
têm destaque a fenitoína, diazepam, heparina e fenilbutazona, estes com efeito de reduzir os
níveis de T4 totais. Em decorrência dessas alterações, a medida realizada é de T4 livre e T3
livre no soro, sendo estes que penetram nos tecidos e exercem suas funções. Neste caso, a
dosagem é feita por quimioluminescência, radioimunoensaio e ensaio imunoenzimático.

Valores de referência:
• T3 livre = 0,2 a 0,52ng/dl
• T4 livre = 0,9 a 2 ng/dl

Você deve estar se perguntando, será que toda alteração tireoidiana vai cursar com valores
anormais desses hormônios facilitando assim o diagnóstico? A resposta é NÃO!
Você precisa ficar atento, pois cerca de 5% dos pacientes com hipertireoidismo podem ter
valores de T4 normais. Enquanto isso, apenas o T3 vai estar elevado, visto que a conversão
periférica de T4 em T3 é que está elevada, caracterizando o hipertireoidismo franco – tire-
otoxicose. Por isso, se faz necessário a dosagem dos dois hormônios na avaliação inicial do
paciente.
Mas e no hipotireoidismo? Aqui é diferente! Fique atento, pois pacientes com sintomas de
hipotireoidismo tem elevação de TSH e maior produção de T3 do que de T4, assim, apenas
o T4 pode ser solicitado, fazendo uso racional e lógico dos exames laboratoriais disponíveis.

TSH
Como já mencionado, o TSH é essencial na investigação de distúrbios tireoidianos, bem como
para definir se o distúrbio é primário (na própria glândula tireoide), secundário (hipófise) ou
terciário (hipotálamo). Qual sua diferença básica? A sensibilidade para diagnóstico de hiperti-
reoidismo primário e hipotireoidismo primário!
Os métodos de radioimunoensaio para avaliar o TSH apenas detectavam concentrações de
TSH maiores ou iguais a 1 mU/L, assim, era possível identificar o hipotireoidismo, mas não
o hipertireoidismo, quando o TSH pode apresentar valores inferiores aos supracitados. Por-
tanto, utilizava-se o teste de estimulação com TRH, quando inicialmente o TSH era dosado e

SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 16

posteriormente infundido o TRH, em caso de não elevação do TSH era confirmado o hiperti-
reoidismo primário. Porém, já existem testes ultrassensíveis disponíveis e o limiar de detecção
é de 1 mU/L, facilitando o diagnóstico. Os valores a serem considerados de TSH são os refe-
renciados abaixo, mas lembre-se de que existem variações a partir do laboratório que devem
vir indicadas no laudo.

Valores de TSH
Valor normal = 0,5 a 5 mU/L
Hipertireoidismo primário = TSH < 0,5 mU/L
Hipotireoidismo primário = TSH > 5 mU/L

Não esqueça que os exames são solicitados a partir das suspeitas diagnósticas sempre de
forma bem direcionada, evitando custos dispensáveis ao sistema de saúde e o desgaste do
próprio paciente. Logo, avalie o contexto clínico, sinais e sintomas e solicite de forma racional
e coerente.

SE LIGA! Exames solicitados e interpretação


Laboratoriais
Suspeita de hipertireoidismo – T3 total, T4 livre e TSH
Em fases iniciais da doença o T4 livre pode estar sem alteração e apenas o TSH estar supri-
mido, em associação a elevação de T3 indicando tireotoxicose por T3.
Suspeita de hipotireoidismo
Seguimos a mesma lógica, pois apenas o TSH pode estar elevado com T4 baixo. Contudo,
neste caso o exame para avaliar T3 não é indicado, pois pode estar sem alteração.

Imagem
Ultrassonografia de tireoide (USG)
A USG é o exame indicado por ser o mais sensível em identificar alterações benignas ou não.
No caso de nódulos tireoidianos, a sensibilidade chega a 95% e nódulos não palpáveis no
exame físico podem ser identificados mesmo em fases iniciais de desenvolvimento. Por mais
que a maioria dos nódulos tireoidianos seja de caráter benigno, a avaliação ultrassonográfica
é essencial para identificar e estadiar os mesmos, evitando progressão de doenças, princi-
palmente se fatores de risco associados. O exame é essencial para descrever o tamanho
dos nódulos, quantidade, contornos, ecogenicidade, composição, vascularização, presença
ou ausência de calcificações que podem ser indícios de malignidade. A partir de alterações
identificadas pode ser sugerida a avaliação com punção aspirativa por agulha fina (PAAF) que
permite caracterizar a constituição histológica do nódulo.

SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 17

Cintilografia
Esse exame permite tanto a avaliação da imagem retratada quanto a captação do iodo, tam-
bém sugerindo ou não malignidade pelo funcionamento da glândula. Vamos analisar um
exemplo clássico: paciente com nódulo tireoidiano e TSH suprimido. Este necessita de cintilo-
grafia que ira indicar se o nódulo capta ou não o iodo, ou seja, se é quente ou frio. Os nódulos
frios são suspeitos e precisam da avaliação ultrassonográfica.

Figura 12 e 13. 12 - Representa nódulo frio – não capta iodo radioativo. Observa-se que a tireoide está captando
o iodo, ou seja, há produção hormonal intensa. 13 - Representa nódulo quente – capta iodo radioativo. Fonte: aula
Sanarflix.

Outros exames
A tomografia computadorizada e ressonância magnética não são exames solicitados de ro-
tina por não apresentarem informações mais específicas sobre as alterações tireoidianas e
por não possuírem melhor custo benefício. Podemos dizer que a indicação prática ocorre se o
nódulo tireoidiano estiver em região subesternal, além dos limites considerados habituais, por
exemplo, um bócio mergulhante.

Figura 14. Bócio mergulhante intratorácico com desvio de traqueia avaliado na tomografia computadorizada,
seta laranja indicando desvio à direita da traqueia. Seta verde indicando bócio. Fonte: http://www.spenzieri.com.
br/2015/07/04/bocio-mergulhante/
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 18

SAIBA MAIS!
Teste do perclorato
O perclorato (KClO4) é uma substância que compete com o iodo não organificado pela capta-
ção nas células foliculares da tireoide, ou seja, inibe o transporte de iodo na tireoide por inibir
a bomba de iodeto nas células foliculares.
O teste de clareamento com perclorato consiste na avaliação da captação do iodo 2 a 4 horas
e, em seguida, administração de perclorato na dose de 500 a 1000 mg e novas medidas de
captação por 60 a 90 minutos. O valor levado em consideração é se existir uma queda de
captação superior a 10 a 15% quando comparado a valores iniciais por representar falha na
organificação do iodo. Se existir uma descarga de iodo maior que 50% representa completo
defeito de organificação.
De forma simples, esse teste indica disormoniogênese que é o efeito da expulsão do iodo da
glândula pelo perclorato. Valores normais são até 5% de liberação do iodo.
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 19

MAPA MENTAL: A TIREOIDE

Paratormônio

Posterior aos M. esternotireoideo


e esterno-hióideo
Glândula endócrina Paratireoides
Função situação na região
anterior do pescoço Nível de C5 a T1

Produção,
armazenamento e Definição Relações anatômicas 15 a 30g
secreção

40% tem lobo


2 lobos e 1 istmo
piramidal
T3, T4 e calcitonina
Histologia
Cápsula fibrosa Emite septos
Cérebro

Folículos
Coração Artérias tireóideas
superiores e inferiores
Gastrointestinal Coloide
Plexo venoso tireóideo
Gênito-urinário
Células C
Ossos Linfonodos pré-laringeos,
paratraqueais e pré-traqueais

Gânglios simpáticos cervicais


superiores, médios e inferiores
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 20

MAPA MENTAL: SEGUIMENTO DE ALTERAÇÕES TIREOIDIANAS

ALTERAÇÕES
NA HISTÓRIA E
EXAME FÍSICO
Teste do perclorato

Hipertireoidismo TSH, T3 e T4 livres Hipotireoidismo PositIvo Negativo

↑ T3 e T4 livres ↑ TSH ou normal

Avaliar alta ou
Benigno
seguimento
↓ TSH ↓ T3 e T4 livres

Maligno Cirurgia

Cintilografia
>1 cm ou
PAAF
<1 cm suspeito
Nódulo frio Nódulo? USG
<1 cm e não sugestivo
Considerar follow up
de malignidade
Nódulo quente

Avaliar alta ou
seguimento
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 21

5. EXAME FÍSICO DA centralizada, sem evidencia de ede-


TIREOIDE mas ou sinais flogísticos na pele e
ausência de enfisema subcutâneo.
Após a abordagem inicial ao pacien-
Na inspeção você avalia se há au-
te com a história clínica completa,
mento do volume tireoidiano ou assi-
exposição a fatores de risco e histó-
metrias, solicita que o paciente gire a
rico familiar, é essencial a avaliação
cabeça para um lado e depois para o
minuciosa também no exame físico,
outro e fica atento para possíveis al-
incluindo etapas básicas de inspeção
terações. Posteriormente, a palpação
do pescoço e glândula tireoide. No
é indicada, esta que pode ser realiza-
exame físico vários elementos são
da pela região anterior ou posterior a
indícios de alterações tireoidianas,
partir do seu posicionamento com o
desde avaliação estática à dinâmica
paciente.
e por referencias feitas pelo próprio
paciente. • Palpação anterior - O examina-
dor fica à frente do paciente e deve
palpar as estruturas anatômicas
Inspeção geral superiores e inferiores até chegar
O paciente deve ser abordado com à tireoide, palpá-la com dois a três
um todo, avaliando desde a entrada dedos de um lado e após o outro,
no consultório. Vejamos... Você está deixando as duas mãos no pesco-
de plantão no rodízio de clínica mé- ço. De forma suave para evitar es-
dica quando chega um paciente com timular a glândula.
aspecto geral emagrecido, olhos es- • Palpação posterior – O examina-
bugalhados, piscando com muita dor fica atrás do paciente e deve
frequência, irritado e com tremores palpar as estruturas anatômicas
constantes em membros. Imediata- superiores e inferiores até chegar
mente é perceptível que tem algo de à tireoide, palpá-la com dois a três
errado com este paciente. A aborda- dedos de um lado e após o outro,
gem da anamnese dará indícios for- deixando as duas mãos no pes-
tes a partir de outros sintomas descri- coço. Uma das mãos irá rebater
tos, mas esses sinais já são bastante a tireoide e a outra irá avaliar as
sugestivos para você, correto? estruturas.
Inicialmente, vamos relembrar qual
aspecto de normalidade do pes-
coço de um paciente. Traqueia
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 22

Figura 15. Representa a palpação anterior da tireoide. O examinador deve palpar as estruturas anatômicas superiores
e inferiores até chegar a tireoide, palpá-la com dois a três dedos de um lado e após o outro, deixando as duas mãos no
pescoço. Fonte: https://rc.site.med.br/index.asp?PageName=tireoide.

Figura 16. Representa a palpação posterior da tireoide. O examinador deve palpar as estruturas anatômicas supe-
riores e inferiores até chegar à tireoide, palpá-la com dois a três dedos de um lado e após o outro, deixando as duas
mãos no pescoço. Fonte: https://semiologiasobral.wordpress.com/2013/05/05/exame-da-tireoide/.
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 23

É esperado encontrar uma tireoi- xerodérmica. O paciente pode es-


de com tamanho entre 10 a 15 ml tar visivelmente acima do peso e
em homens e 12 a 18 ml em mu- referir que não teve alteração na
lheres (uma polpa digital em cada alimentação, fator que eleva a sus-
lobo), móvel, indolor, com consistên- peita de alterações endócrinas por
cia fibroelástica, contornos regulares, deficiência hormonal.
ausência de nódulos e linfonodos
• Hipertireoidismo – O hipertireoi-
associados. Todos esses elementos
dismo apresenta características
devem ser pesquisados e descritos
muitas vezes opostas ao hipoti-
no tópico do exame físico.
reoidismo como paciente ema-
Fique atento que ausência de alte- grecido, de pele úmida, olhos
rações identificáveis ao exame físi- esbugalhados (exoftalmia), maior
co nem sempre significa que não há frequência no piscar dos olhos,
patologias associadas, principalmen- além de ressecamento e queixas
te em fases iniciais de determinadas de diploplia.
doenças. E, por outro lado, mesmo na
presença de alterações significativas, • Bócio tireoidiano – O examinador
muitas podem ter caráter benigno e constata um aumento do volu-
orientar o paciente é um elemento me tireoidiano. Esse bócio pode
essencial na abordagem diagnóstica ser simétrico, assimétrico ou no-
e seguimento terapêutico. dular (uninodular ou multinodular).
O sinal de Pemberton é caracte-
rístico do bócio multinodular que
Alterações características pode causar obstrução da traqueia
e da veia cava superior. O sinal é
• Hipotireoidismo – O paciente evidente quando o paciente eleva
com hipotireoidismo tem aspecto os braços acima da cabeça e com
bastante característico na avalia- isso o mesmo começa a apresen-
ção inicial como fragilidade ca- tar dispneia, distensão das veias
pilar, queixando-se de cabelos do pescoço, pletora facial ou com
quebradiços, finos, secos e tais estridor.
alterações podem ser visualizadas
pelo examinador. Além de mada-
rose (queda de pelos das sobran-
celhas), edema periorbitário, in-
chaço em face e pele ressecada,
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 24

Figura 17. A esquerda da imagem é evidenciado o bócio tireoidiano do paciente, enquanto na imagem a direita o
mesmo, ao elevar os braços acima da cabeça, fica hiperemiado pela compressão da veia cava superior. Fonte: http://
ole.uff.br/wp-content/uploads/sites/414/2019/08/Sinal-de-Pemberton.pdf

• Hiperemia – tireoidite aguda in- pescoço, calor e edema. A tireoi-


fecciosa – Ao exame físico a ti- de encontra-se firme e o paciente
reoide se apresenta aumentada, refere dor à palpação da glându-
em geral de forma assimétrica, com la, bem como a movimentação do
hiperemia em região anterior do pescoço e deglutição.
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 25

SE LIGA! TIREOIDITE AGUDA INFECCIOSA


A inflamação aguda na tireoide é denominada tireoidite aguda e pode ter etiologias variadas como
infecções virais e bacterianas ou por doenças autoimunes. Falaremos nesse box sobre as tireoidites
agudas infecciosas.
As tireoidites podem ser subagudas de origem viral ou bacteriana. Quando a origem é viral, em ge-
ral, é uma doença bastante dolorosa, com áreas hipoecoicas evidenciada à USG, migratórias e mal
definidas, enquanto a origem bacteriana caracteriza uma doença rara e grave, também com hipo-
ecogenicidade. As vias de disseminação variam, por exemplo: nas crianças ocorrem em geral por
anomalias congênitas como persistência do ducto tireoglosso, dentre outras variações, e em adultos
por disseminação linfática e hematogênica após infecção das vias aéreas superiores.
Os agentes etiológicos mais comuns são Staplylococcus aureus, Streptococcus pyogenes e
Streptococcus pneumoniae. Em pacientes imunodeprimidos os principais agentes etiológicos são
Salmonella tiphy, Haemophilus influenza, Escherichia coli e Pneumocystis carini.
Os principais sintomas e sinais evidentes são dor, hiperemia local, calor e edema. Além disso, o pa-
ciente pode se queixar de disfonia, disfagia, dor de garganta unilateral e manter-se com a cabeça
flexionada na maior parte do tempo por sentir alívio dos sintomas (esta posição relaxa os músculos
paratraqueais).
Atente-se, pois essa patologia pode ser confundida com dor de dente, otites e faringites.
E as alterações hormonais? Em fases iniciais da doença é comum que surjam sintomas do hipertireo-
dismo pela liberação dos hormônios pelos folículos agredidos com o processo inflamatório, manifes-
tação que é transitória.
O diagnóstico é basicamente clínico. Em geral há correlação entre achados clínicos e exames labo-
ratoriais como TSH e T4 livre, velocidade de hemossedimentação (VHS), hemograma e captação de
iodo (I131). É possível que a função tireoidiana esteja inalterada, contudo, se a agressão for grave e
persistente as principais alterações são mencionadas abaixo.
Há aumento de T4 livre e diminuição de TSH como marca do hipertireoidismo pela liberação de T4
das células foliculares. Ocorre também diminuição da captação do iodo 131. O VHS, marcador de
inflamação, também estará alterado, este com elevação maior que 70% dos valores de referência.
Com a progressão da doença há esgotamento dos hormônios tireoidianos e instala-se hipotireoidis-
mo transitório com queda dos níveis de T3 e T4 e elevação de TSH, bem como retorno da captação
de I131. O hemograma também deve ser solicitado e pode evidenciar leucocitose desde o início dos
sintomas, com desvio à esquerda.
Os anticorpos antiperoxidase (anti-TPO) e antitiroglubulina (anti-TG) podem estar normais ou leve-
mente alterados. Em caso de incerteza diagnóstica deve ser solicitada USG de tireoide e biópsia para
avaliação citológica.
O tratamento indicado de acordo com o agente etiológico e sintomatologia evidente. Por exemplo, se
confirmada a etiologia bacteriana o tratamento com antibióticos deve ser instaurado. Para controle
sintomático é indicado uso de anti-inflamatórios não esteroidais acompanhados ou não de corticoi-
des. Ex. Prednisona, 15 a 30mg, uma vez ao dia, via oral, com redução gradual.
O tratamento cirúrgico também pode ser uma opção em casos de abcessos que precisem ser drena-
dos ou em pacientes que tenham doença tireoidiana de base e a tireoidectomia seja a melhor opção.
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 26

SE LIGA! QUANDO SUSPEITAR DE MALIGNIDADE?


Elementos suspeitos de malignidade
1) À palpação tireoidiana
É preciso relembrar os elementos chave na palpação tireoidiana, por exemplo, o que você
busca na palpação? Como é uma tireoide sem alterações? E, em caso de alteração, quais são
suspeitas de malignidade?
Ao exame físico é preciso descrever o tamanho; consistência; regularidade; mobilidade; sen-
sibilidade e se há linfadenomegalia associada. O tamanho é estimado pelas polpas digitais,
tanto da tireoide quanto dos nódulos nela contidos; a consistência varia de fibroelástica, en-
durecida ou granulosa; é preciso descrever se a glândula possui regularidade em toda sua
extensão e nas bordas ou se há irregularidade, por exemplo, pela presença de nódulos únicos
ou múltiplos; a glândula deve ser móvel em condições habituais e alterações da mobilidade
da mesma bem como dos nódulos nela contidos podem indicar malignidade, por exemplo, se
estiverem aderidos, firmes, com mobilidade reduzida. Por fim, existe a avaliação da sensibi-
lidade, pois o paciente pode referir dor a palpação e movimentação da glândula e dos nódu-
los. A presença de linfadenomegalia associada também pode ser indicativo de malignidade.
Após detecção e descrição de características suspeitas existe a indicação de ultrassonografia
tireoidiana, cintilografia a depender das correlações laboratoriais e até mesmo para PAAF.

2) À USG tireoidiana
A USG tireoidiana é um elemento importante na abordagem diagnóstica, pois evidencia ca-
racterísticas específicas de malignidade, quando presentes. Além disso, tem uma sensibilida-
de muito maior quando comparada à palpação glandular na detecção de nódulos tireoidianos.
Após realização da USG, para sistematizar a investigação e orientar condutas diagnósticas,
existe um sistema de avaliação importante na existência de nódulos tireoidianos, o TI-RADS.
Abaixo citamos as alterações suspeitas e pontuação no TI-RADS.
• Composição - nódulos com consistência cística e espongiforme em geral estão associa-
dos à benignidade, pois cisto significa composição líquida e espongiforme também tem
maior tendência a acumular líquido e não há grandes referências de tumores malignos
com essa composição. Dessa forma, a pontuação é zero. O risco se eleva com nódulos
mistos que é formado por componente líquido e sólido, pontuando, então 1 e, por fim, os
nódulos sólidos representam grande risco de malignidade, por isso maior pontuação: 2
pontos.
• Cor – a cor anecoide representa nódulo com consistência líquida pontuando zero, enquan-
to isoecogênico tem cor semelhante da tireoide, logo, ganha apenas um ponto. O fato de
ser hipoecogênico indica, em geral, malignidade, por isso ganha 2 pontos.
• Bordas – a análise do contorno também é essencial para desconfiar de malignidade, neste
caso, bordas suaves, com contornos bem definidos normalmente são os tumores benig-
nos e recebem 0 pontos, porém, invasão ou extensão extratireoidiana representa maligni-
dade na maioria dos casos. Sendo assim, a pontuação varia de 2 a 3 pontos.
• Formato – O formato pode ser mais largo que alto – benignidade – ou pode ser mais alto
do que largo que é mais significativo de profundidade e, por isso, malignidade. A pontua-
ção é zero para o primeiro caso e 3 para o segundo.

SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 27

• Focos ecogênicos – Focos ecogênicos são achados dos nódulos tireoidianos que podem
ou não ser suspeitos. No caso de coloides espessos e aspecto de “casca de ovo” indicam
benignidade recebendo 1 ponto; calcificações grandes são sugestivas de malignidade
recebendo 2 pontos e calcificações pequenas são bastante sugestivas de malignidade
recebendo então 3 pontos.

TI-RADS PONTUAÇÃO RECOMENDAÇÃO PAAF


1 0 (benigno) Não
2 2 (não suspeito) Não
≥1.5 cm follow up
3 3 (pouco suspeito)
≥2,5 cm PAAF
≥1.0 cm follow up
4 4-6 (suspeito)
≥1.5 cm PAAF
≥0.5 cm follow up
5 ≥7 (altamente suspeito)
≥1.0 cm PAAF
Tabela 1. TI-RADS

Após identificação de características suspeitas pode ser indicativo de PAAF ou não, como
descrito na tabela acima.
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 28

SAIBA MAIS!
Tireoidite de Riedel ou tireoidite fibrótica crônica
É uma doença autoimune da tireoide que foi descrita pela primeira vez em 1883 por Bernhard
Riedel. Caracteriza-se por inflamação glandular que tem disseminação para regiões próximas
ao pescoço formando um extenso bócio tireoidiano, duro, indolor e com fibrose sistêmica.
É uma doença rara, com predominância no sexo feminino, cerca de 80% quando comparado
a homens e com idade média entre 40 e 60 anos, mas pode ocorrer em outras faixas etárias,
em menor intensidade. Há teorias sobre as prováveis causas da autoimunidade, dentre elas
um distúrbio fibrótico primário que seria causa de 30% dos casos, enquanto os demais se-
riam autoimunes e por doenças sistêmicas causadas por IgG4.
Dentre os sinais e sintomas proeminentes destaca-se rouquidão, obstrução gradual das vias
respiratórias por compressão da traqueia pelo bócio extenso, disfagia, tosse seca e o hipoti-
reoidismo presente em 30% dos casos diagnosticados.
Para avaliação diagnóstica são solicitados hormônios tireoidianos como T3, T4 livres e TSH
confirmando o hipotireoidismo e anticorpos que estarão elevados no soro. Contudo, a con-
firmação ocorre pela avaliação histológica. É importante buscar outros focos de fibrose na
suspeita de fibroesclerose multifocal.
O tratamento consiste no uso de corticoide como sintomático, minimizando os processos
inflamatórios ou o tamoxifeno que é um bloqueador de estrogênio que retarda o desenvolvi-
mento da doença. Por fim, em caso de confirmação do hipotireoidismo a opção de levotiroxina.
Fique atento, pois, por ser uma doença autoimune, crônica e progressiva, se o tratamento
não ocorrer de forma satisfatória os sintomas podem progredir com alterações na qualidade
de vida dos pacientes pela disfagia, rouquidão e sintomas respiratórios, além de compro-
metimento sistêmico em caso de fibroesclerose multifocal. Logo, reconhecer a patologia e
estabelecer também a investigação sistêmica faz parte do diagnóstico e intervenção corretos.

6. AUSCULTA tireotoxicose. A grande diferença é: o


TIREOIDIANA aumento do fluxo sanguíneo eviden-
te em pacientes com tireotoxicose
Tireotoxicose - Todo paciente me-
pode ocasionar a presença de sopros
rece ausculta tireoidiana ao exame
tireoidianos, algumas vezes acompa-
físico e é obrigatório em suspeita de
nhados de frêmitos.
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 29

SE LIGA! TIREOTOXICOSE
A tireotoxicose é definida como uma síndrome clínica pelo excesso de hormônios tireoidianos
circulantes que ocorre pelo funcionamento excessivo da glândula tireoide e produção e/ou
liberação hormonal em excesso. Não necessariamente a glândula precisa estar hiperfuncio-
nante, visto que em situações de agressão aos folículos os hormônios são liberados em gran-
des quantidades inicialmente ocasionando o hipertireoidismo, até que os estoques hormo-
nais sejam esgotados. Os sinais e sintomas evidentes na tireotoxicose ocorrem pelo estímulo
adrenérgico como taquicardia, ansiedade, nervosismo. Além disso, sintomas como perda de
peso, aumento do ritmo intestinal e problemas cardiopulmonares podem estar presentes. A
avaliação do paciente com sintomas de tireotoxicose deve ser minuciosa como menciona-
do nos tópicos acima, incluindo anamnese, histórico familiar, hábitos de vida e exposição a
fatores de risco, bem como exame físico detalhado na tireoide. Em muitos casos o bócio é
evidente ao exame físico. Dentre os principais elementos ao exame destacam-se: tamanho
aumentado, presença de nódulos, alteração de consistência e sopro tireoidiano. Esses pacien-
tes devem ser avaliados com TSH ultrassensível, T4 livre e T3.

SINTOMAS % SINAIS %
Nervosismo 99 Taquicardia 100
Sudorese excessiva 91 Bócio 97
Intolerância ao calor 89 Tremor 97
Palpitação 89 Pele quente e úmida 90
Fadiga 88 Sopro na tireoide 77
Perda de peso 85 Alterações oculares 71
Dispneia 75 Fibrilação atrial 10
Fraqueza 70 Ginecomastia 10
Aumento de apetite 65 Eritema palmar 8
Sintomas oculares 54
Edema de membros 35
inferiores
Hiperdefecação 33
Diarreia 23
Distúrbios menstruais 20
Anorexia 9
Ganho ponderal 2
Tabela 2. Manifestações clínicas do hipertireoidismo. Adaptada do Consenso brasileiro para o diagnóstico e trata-
mento do hipertireoidismo: recomendações do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia.
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 30

SE LIGA! O BÓCIO
Falar sobre a tireoide automaticamente remete a ocorrência de bócio, apesar do mesmo não
ser condição essencial em diversas patologias. Mas então porque essa associação? O bócio
é a denominação de qualquer aumento da glândula tireoide seja de forma simétrica, assimé-
trica, unilateral, bilateral, em tamanhos pequenos só percebidos à palpação ou extensos, po-
dendo ser mergulhantes, por exemplo, invadindo o mediastino. Ele é classificado como difuso
ou nodular; atóxico (sem alteração funcional glandular) ou tóxico (hipertireoidismo); benigno
ou maligno; endêmico ou esporádico. É uma alteração predominante em mulheres de idade
média entre 20 e 40 anos como de costume nas doenças tireoidianas.

Figura 18. Bócio tireoidiano extenso com desvio de estruturas cervicais. Fonte: Aula Sanarflix.

As causas do bócio são diversas como a carência de iodo na dieta, principalmente em regiões
geográficas desprovidas desse elemento, caracterizando o surgimento de bócios endêmicos;
doenças autoimunes; tumores; infecções e proliferação folicular excessiva (bócio coloide).
Os sinais e sintomas característicos são percebidos inicialmente pelas alterações locais, ana-
tômicas, pelo abaulamento na região anterior do pescoço, em seguida, com o avanço do mes-
mo surgem sinais e sintomas funcionais pela compressão de outras estruturas como traqueia
e esôfago causando, respectivamente dificuldade respiratória e disfagia. Mas atente-se: es-
ses são casos extremos.
O diagnóstico ocorre pela avaliação clínica e laboratorial evidenciando ou afastando altera-
ções hormonais tireoidianas bem como presença ou ausência de malignidade e o tratamento
segue de acordo com as características do bócio. Por exemplo, se presença de nódulo ma-
ligno, compressão traqueal e presença de bócio mergulhante ocorre indicação cirúrgica, a
tireoidectomia; se acometimento ganglionar a abordagem é estendida para drenagem linfá-
tica com esvaziamento cervical. Contudo, sem evidencia de alterações funcionais ou risco de
malignidade o bócio pode ter seguimento clínico, com avaliações periódicas.


SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 31

EXAMES LABORATORIAIS DIAGNÓSTICO


Função tireoidiana (TSH, T3 e T4 livres) Hipertireoidismo/hipotireoidismo
Autoanticorpos Tireoidite autoimune
Velocidade de Hemossedimentação eritrocitária (VHS) Tireoidite granulomatosa
Calcitonina Câncer medular de tireoide
Iodo urinário Deficiência de Iodo
Tabela 3. Principais exames laboratoriais para diagnóstico do bócio

7. PALPAÇÃO DE VI. O nível I é anterior, localizada no


LINFONODOS trígono submandibular; nível II entre
o terço superior da veia jugular in-
A pesquisa por linfonodos é essen-
terna; nível III no terço médio da veia
cial em todo exame físico, principal-
jugular interna; nível IV no terço in-
mente na avaliação tireoidiana, isso,
ferior da veia jugular interna; nível V
porque pode determinar a suspeição
no trígono cervical posterior e o VI no
de malignidade.
trígono cervical anterior.
São seis cadeias linfonodais a serem
analisadas, sendo elas, I, II, III, IV, V e

NÍVEIS DE LINFONODOS ACOMETIDOS

NÍVEL I NÍVEL IV

1/3 Inferior da
Trígono Submandibular
V. Jugular Interna

NÍVEL II NÍVEL V

1/3 Superior da
Trígono Cervical Post.
V. Jugular Interna

NÍVEL III NÍVEL VI

1/3 Médio da
Trígono Cervical Ant.
V. Jugular Interna

Figura 19. Representa os níveis de cadeias ganglionares, variando de I a VI. Fonte: Aula Sanarflix
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 32

8. DESCRIÇÃO DO EXAME suspeitas sindrômicas e etiológicas,


TIREOIDIANO veja abaixo:
Neste módulo conhecemos a fundo a • Não visível à inspeção
anatomia tireoidiana, bem como seus • Tamanho de uma polpa digital em
componentes histológicos e função cada lobo
tireoidiana. Além disso, relembramos
aspectos que precisam ser detalha- • Superfície regular
dos no exame físico para determinar • Consistência fibroelástica
a situação tireoidiana normal e pos-
síveis alterações, sejam elas apenas • Indolor à palpação
anatômicas ou funcionais. • Mobilidade preservada
Um elemento essencial para todo • Ausência de linfadenopatia
profissional é a descrição correta associada
dos achados para sistematizar suas

• Não visível à inspeção


• Tamanho: 01 polpa digital cada lobo (3-
5cm vertical/istmo 0,5cm)
• Superfície regular
• Consistência fibroelástica (borracha)
• Indolor à palpação
• Mobilidade preservada
• Sem linfadenopatia associada

Figura 20. Modelo de descrição do exame tireoidiano.


SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 33

MAPA MENTAL: RESUMO

Perda de peso Cabelos fracos

Pele úmida Madarose


ASPECTO GERAL
Hipertireoidismo? Hipotireoidismo?
DO PACIENTE
Exoftalmia Edema periorbitário

↓ TSH Tremores Pele ressecada ↑ TSH ou normal

↑ T3 e T4 livres ↓ T3 e T4 livres

Confirmação Fibrose sistêmica Edema Tireoidite infecciosa?


histológica
Bócio duro Dor USG
Tireoidite de Riedel? EXAME FÍSICO VHS
Rouquidão Calor
Hemograma
Disfagia Hiperemia Captação de iodo

Fibroelástica
Endêmico ou esporádico
Sim PAAF Sem alterações
Regular
Difuso ou nodular
Móvel
SUSPEITO USG Bócio
Ausculta
Tóxico ou atóxico Indolor

Não Avalia alta Sem linfadenopatia


Benigno ou maligno
1 polpa digital por lobo
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 34

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFICAS
Assmann TS; Huf F; Mota GA et al. Tireoidite Aguda. Revista Conhecimento Online – Ano
3 – Vol. 1 – Março de 2011.
Endocrinologia clínica / editor responsável Lucio Vilar ; editores associados Claudio Elias
Kater...[et al.]. - [5.ed.]. - Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2013.
Tratado de endocrinologia clínica / Bernardo Léo Wajchenberg, Antonio Carlos Lerario, Ro-
berto Tadeu Barcellos Betti. - 2. ed. - São Paulo: AC Farnacêutica, 2014.
SEMIOLOGIA DA TIREOIDE 35

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