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Problema 3 – Fechamento 1 ♥ Pode haver assimetria entre os lobos,

geralmente o direito sendo um pouco maior


 Descrever a anatomia da tireoide
que o esquerdo. cada lobo medindo
- O nome “tireoide” é em razão do seu formato aproximadamente 4 cm de comprimento, 2
semelhante a um escudo (do grego: thyreos = cm de largura e 1,5-2,0 cm de profundidade.
escudo, eidos = forma). • Isso é importante, pois em doenças
que ocorre aumento da glândula, suas
- A tireoide é a maior glândula endócrina do corpo características ajudam na descrição.
humano, sem ductos, que pesa aproximadamente (ex.: doença de Graves glândula
20g, sendo responsável pela produção dos aumentada, com aproximadamente
hormônios tireoidianos (T3 - triiodotironina e T4 - 60 g) em vez de glândula aumentada
tiroxina, além da calcitonina), envolvidos com 3x.
diversos componentes da homeostase (função
♥ A porção posterior dos lobos piriformes
cerebral, cardiovascular, intestinal, metabolismo
contém as pequenas glândulas paratireoides
celular, produção de calor, etc.).
(duas de cada lado), produtoras do
♥ Aumenta a velocidade metabólica dos paratormônio (PTH). As paratireoides são
tecidos. localizadas na parte posterior da tireoide e
♥ Aumenta o consumo de oxigênio. são, quando comparadas à tireoide, muito
pequenas, tornando quase impossível
♥ Aumenta a frequência cardíaca, a
realizar a tireoidectomia com preservação da
ventilação e a função renal.
paratireoide.
♥ É necessária para a produção do hormônio
de crescimento e é importante no - Um terceiro lobo – o lobo piramidal – pode ser
crescimento do SNC. eventualmente encontrado fixado ao istmo,
♥ Aumenta a deposição de cálcio e fosfato apresentando uma forma alongada, como um
nos ossos (calcitonina). remanescente da extremidade caudal do ducto
tireoglosso.
♥ Em raros pacientes, um cisto pode ser
encontrado entre a base da língua e a
cartilagem tireoide (cisto tireoglosso),
representando um remanescente
embriológico do ducto tireoglosso.
- A glândula tireoide é circundada por uma cápsula
fibrosa fina, que envia septos profundos para o
- Posição anatômica: A tireoide situa-se a meio interior da glândula. Tecido conjuntivo denso fixa a
caminho entre o ápice da cartilagem tireoide cápsula à cartilagem cricóidea e aos anéis traqueais
(“pomo de adão”) e a fúrcula esternal, a nível superiores. Externamente à cápsula há uma bainha
vertebral C5-T1. frouxa formada pela parte visceral da lâmina pré-
♥ Apresenta uma relação anatômica anterior traqueal da fáscia cervical.
com a traqueia, que é praticamente - A tireoide tem um suprimento sanguíneo rico,
“abraçada” pela glândula. proveniente da artéria tireóidea superior (ramo da
♥ Por trás da traqueia, correm os nervos carótida externa) e da artéria tireóidea inferior
laríngeos recorrentes e encontra-se o (ramo do tronco tireocervical da artéria subclávia).
esôfago – estas estruturas têm relação Ainda há uma pequena artéria tireóidea caudal,
anatômica posterior com a tireoide. ramo da artéria inominada.

- A glândula tireoide tem dois lobos laterais - A drenagem venosa se faz pelas veias tireóideas
piriformes (direito e esquerdo) unidos por um istmo superior, lateral e inferior, conduzindo o sangue
situado anteriormente do segundo ao quarto anel para as veias jugulares internas ou troncos
(cartilagem) traqueal. braquiocefálicos.
- Histologicamente, a glândula é formada por uma frequente em mulheres nas regiões Sudeste e
infinidade de folículos esféricos, com presença de Nordeste (sem considerar o câncer de pele
epitélio de células cuboides especializadas em nãomelanoma).
produzir os hormônios tireoidianos (células - O câncer de tireoide representa < 1-3% das
foliculares tireóideas). malignidades, acometendo cerca de 40 pessoas para
♥ No interior de cada folículo há um cada um milhão de indivíduos.
material denominado “coloide”. ♥ Entre 90-95% dos casos são classificados
♥ Os folículos estão embebidos no estroma como tumores bem diferenciados (sua
glandular, que contém a microvasculatura e citoarquiquetura é parecida com o tecido
as células intersticiais, entre elas as células normal):
parafoliculares (células medulares C), • carcinoma papilífero (principal):
secretoras de um outro hormônio – a entre 50 e 80% dos casos
calcitonina, que, tal como o PTH, está • carcinoma folicular: entre 15 a 20%
envolvida no metabolismo do cálcio e do dos casos
fósforo. • carcinoma de células de Hürthle,
Resuminho da parte funcional: A unidade este último uma variante do folicular.
funcional da tireoide é o folículo, que é uma ▪ Todos têm origem na célula
estrutura formada pelas células foliculares e, folicular.
adjacentes a elas, as células parafoliculares. A ♥ A maior parte do restante (10 a 15%) é
célula folicular é quem produz o T3 e o T4, que representada pelos tumores pouco
ficam armazenados no coloide, a parte gelatinosa do diferenciados. Estes são: o carcinoma
folículo. A célula parafolicular, por sua vez, produz medular de tireoide, cuja origem é a célula C
a calcitonina, que diminui a concentração de cálcio parafolicular (secretora de calcitonina); o
sérica, aumentando a deposição de cálcio nos ossos; carcinoma anaplásico, originário do epitélio
inibe a absorção de cálcio pelo fígado e a folicular, muitas vezes a partir de um tumor
reabsorção de cálcio no rim. Toda essa união de bem diferenciado previamente existente.
eventos promove a redução de cálcio na corrente ♥ Indiferenciados: linfoma de tireoide.
sanguínea. - Estimativas de novos casos: 13.780, 1.830 sendo
homens e 11.950 mulheres (2020 - INCA).
 Analisar a epidemiologia, os fatores de
- Número de mortes: 869, sendo 298 homens e 571
risco, tipos histológicos, apresentações
mulheres (2019 - Atlas de Mortalidade por Câncer -
clínicas, avaliação diagnóstica do câncer de
SIM).
tireoide
 Fatores de risco
 Epidemiologia
História prévia de radioterapia na região anterior da
O câncer de tireoide, embora seja um acometimento
cabeça e pescoço durante a infância ou adolescência
raro, cerca de 3% dos tumores malignos, é a
aumenta a ocorrência de carcinoma de tiroide.
malignidade endócrina mais comum, cerca de 95%.
Ocorria muito no passado para tratamento de
É mais frequente em mulheres, em uma proporção
hiperplasia ou tumoração de amígdalas e adenoides,
de 3 casos em mulheres para um caso em homens.
de hipertrofia tímica ou de afecções cutâneas como
A estimativa para o triênio 2020-2022 é de acne. O achado de nódulo palpável num paciente
aproximadamente 1800 homens diagnosticados com com história de irradiação aumenta em quatro vezes
CA de tiroide, para quase 12 mil diagnósticos em a probabilidade de câncer. Outra evidência está na
mulheres, superando a proporção 3:1 atual. Nas frequência muito mais elevada desses tumores em
mulheres, o CA de tireoide já entra em 2020 nos 10 pessoas expostas a acidentes nucleares, como
cânceres mais frequentes. aconteceu em Chernobil, em 1986.

- O câncer da tireoide é o mais comum da região da O excesso de TSH como indutor de tumores
cabeça e pescoço e afeta três vezes mais as tireoidianos parece dever-se a estimulação
mulheres do que os homens. Pela mais recente prolongada da atividade mitogênica das células
estimativa brasileira (2018), é o quinto tumor mais foliculares. Quando em baixas doses, radiações
ionizantes causam disfunção tireoidiana, elevando a
taxa de TSH no soro. Níveis altos de TSH Ao exame físico, os sinais semiológicos que
associados a alterações celulares promovidas por sugerem malignidade são: fixação do nódulo às
radioisótopos aumentam a incidência de neoplasias estruturas subjacentes (traqueia e músculos),
da tireoide. ausência de mobilidade à deglutição, paralisia das
cordas vocais e presença de linfonodomegalia
Presença de carcinoma papilífero em membros da
(extensão da doença para os linfonodos cervicais).
mesma família pode sugerir carcinoma papilífero
A consistência endurecida ou até pétrea do nódulo
familiar (3 a 5% dos carcinomas papilíferos podem
pode ser um sinal de malignidade, porém, muitas
apresentar componente familiar). Por outro lado, a
vezes essa consistência refere-se à calcificação de
presença de doenças benignas na família diminui a
cistos benignos.
suspeita de um carcinoma de tiroide.
Na doença localizada, a maioria das alterações são
A taxa de lesões malignas sobre benignas é maior
nódulos aumentados. Quando a doença avança,
nos indivíduos jovens (< 20 anos) e após os 60 anos
começa a ter sintomas como disfagia, rouquidão,
de idade. Presença de nódulo em crianças com
dispneia.
menos de 14 anos apresentam chance de 50% de
malignidade, a qual diminui no adulto para 5 a
10%. Quanto ao sexo, existe número maior de
mulheres do que homens com câncer de tiroide,
uma vez que há incidência mais elevada de nódulos
no sexo feminino, porém homens portadores de
nódulos apresentam porcentagem mais elevada de
lesões malignas do que as mulheres.
Radioterapia cervical e radiação ionizante na
infância, principalmente o do tipo papilífero, que é
o câncer de tireide mais comum.
A causa mais comum do PTC é uma única mutação
no gene BRAF, presente em 50% dos casos na
dependência da idade e do subtipo histológico.
Além disso, evidenciaram a presença da mutação
T1799A em 40 a 60% dos casos de PTC e em O câncer de tireoide apresenta quadro clínico
nenhum caso de neoplasias benignas da tiroide. A extremamente variável, desde aqueles com
mutação T1799A mostra prevalência variável na crescimento muito lento e compatível com
dependência do subtipo de PTC, sendo maior na expectativa de vida normal, até aqueles com
forma mais agressiva, intermediária na forma péssima evolução e que causam o óbito em semanas
clássica e menor na forma variante folicular. ou meses.
Interessantemente, as formas clássica e de células
altas são as que apresentam maior incidência de Carcinoma papilífero:
metástases para os linfonodos cervicais, o que - É o tumor maligno mais comum da tireoide,
reforça o papel da mutação do BRAF como uma especialmente em crianças (onde constitui até 80%
força motriz na evolução do PTC. dos casos). Predomina no sexo feminino (2:1), com
 Manifestação clínica idade média de apresentação entre 20-40 anos (ou
30-50 anos).
Nódulos da tiroide: Os nódulos de tiroide são
extremamente comuns. A maioria dos nódulos ♥ O prognóstico é excelente, e a maioria dos
tiroidianos é causada por doenças benignas como pacientes não morre da doença.
nódulos coloides, cistos e tiroidites (em 80% dos - A apresentação varia na dependência do estágio
casos), além de neoplasias foliculares benignas tumoral.
(10% dos casos), enquanto que 5% dos pacientes
são portadores de câncer de tiroide. Esse número, ♥ Geralmente o indivíduo se encontra
entretanto, tem aumentado, de acordo com eutireoidiano, com uma massa de
estatísticas recentes, principalmente em mulheres.
crescimento lento, não dolorosa, em uma maior secreção jejunal de água e
topografia de tireoide. eletrólitos induzida pela calcitonina.

♥ A presença de linfonodo palpável nesse - A hipertensão é encontrada em casos associados à


contexto é bastante sugestiva de carcinoma NEM-neoplasia endócrina múltipladevido à
papilífero. presença do feocromocitoma (bilaterais, ocorrendo
na segunda e terceira décadas);
♥ Em casos avançados surgem sintomas
compressivos locais como disfagia e ♥ A hipercalcemia e cálculos renais são
rouquidão (esta última pelo decorrentes do hiperparatireoidismo que
comprometimento do nervo laríngeo pode estar presente (NEM 2A).
recorrente) Carcinoma anaplásico
Carcinoma folicular: - O crescimento tumoral é extremamente rápido,
- Em geral, temos um nódulo tireoidiano solitário e independente do tratamento, com invasão de
indolor (a multicentricidade é infrequente no Ca linfonodos e estruturas contíguas. A disseminação
folicular). Como nesse carcinoma a metástase é pela ocorre por via linfática e hematogênica, acometendo
corrente sanguínea, a presença de linfonodos linfonodos cervicais, cérebro, pulmões e ossos.
regionais palpáveis é rara. Sendo assim, a metástase
♥ O prognostico é ruim, sendo que a maioria
atinge pulmões, ossos e fígados, fazendo com que a
dos pacientes vão a óbito em menos de 1
manifestação clinica possa está associada a função
ano, como resultado do crescimento
desses órgãos. (em casos avançados).
agressivo local e do comprometimento das
Carcinoma de células de Hurthle estruturas vitais do pescoço.
- O carcinoma de células de Hürthle é considerado LINFOMA DA TIREOIDE
uma variedade menos diferenciada e mais agressiva
- Sintomas associados da tireoide de Hashimoto, ou
do carcinoma de células foliculares, que afeta uma
seja, lembra o hipotireoidismo, como:
população mais idosa (o tumor é incomum em
crianças). ♥ Aumento fácil de peso;
- Este tumor não capta, é algumas vezes bilateral e ♥ Cansaço excessivo;
múltiplo, e envia metástases com frequência para ♥ Pele fria e pálida;
linfonodos regionais. (linfonodos palpáveis) ♥ Prisão de ventre;
TUMORES POUCO DIFERENCIADOS ♥ Baixa tolerância ao frio;
♥ Dores musculares ou articulares
Carcinoma medular
♥ Dispneia, estridor, disfagia e rouquidão
- O CMT representa de 5 a 10% dos tumores são sintomas comuns em pacientes com
malignos da tireoide, tendo origem a partir de linfoma de tireoide; entretanto, o principal
células parafoliculares ou células C, produtoras de sintoma pode ser apenas um tumor cervical
calcitonina, um hormônio envolvido no em crescimento
metabolismo do cálcio (a calcitonina diminui a
reabsorção tubular de cálcio e inibe a reabsorção  Tipos Histológicos
óssea pelos osteoclastos.
Tumores bem diferenciados
- Os pacientes com CMT- carcinoma medular de
tireoide- esporádico podem se apresentar com uma  Histopatologia do carcinoma papilífero
massa palpável. A doença localmente avançada O carcinoma papilífero é a neoplasia maligna mais
pode levar à rouquidão, disfagia e sinais de comum da tireoide, correspondendo a mais de 60%
comprometimento respiratório. dos carcinomas tireoidianos; entre os cânceres
relacionados com radiação, chega a 90% dos casos.
♥ A diarreia se encontra presente em cerca
O tumor manifesta-se em qualquer idade, com
de 30% dos casos, sendo ocasionada por
predominância entre a terceira e a quarta décadas,
quando é três vezes mais frequente em mulheres do
que em homens. Em crianças, não há preferência considerada o critério decisivo para o diagnóstico
por gênero. deste tipo de tumor
Incide em indivíduos mais jovens (entre a terceira e O carcinoma papilífero pode ser oculto ou
quarta décadas), podendo acometer inclusive manifesto. Carcinoma oculto é o que mede até 1,0
crianças. Seu crescimento é lento e apresenta baixo cm na maior dimensão. Pode ser único ou múltiplo,
grau de malignidade, de modo que períodos longos com ou sem cápsula; muitas vezes, é encontrado por
são necessários para seu aparecimento. acaso em tireoides removidas cirurgicamente por
outras doenças ou à necrópsia. Macroscopicamente,
De maneira geral, o prognóstico é bom, e pelo
o tumor aparece como lesão brancacenta, compacta,
menos 80% dos pacientes estão vivos cerca de 10
às vezes com aspecto estrelar e de limites
anos após o diagnóstico, raramente levando ao óbito
imprecisos. Histologicamente, pode ser papilífero
em pacientes abaixo dos 40 anos.
ou folicular. A variante folicular é mais rara e mais
Obs: Na maioria dos pacientes, o carcinoma agressivo, capaz de originar metástases a distância,
papilífero é biologicamente indolente, com como no esqueleto, sobretudo em costelas e no
prognóstico muito bom. Sua disseminação se dá por crânio.
meio dos linfáticos intraglandulares, evoluindo do
O carcinoma manifesto apresenta-se como: (1)
foco inicial para as outras partes da tiroide e para os
lesão encapsulada (neoplasia de baixo grau de
linfonodos pericapsulares e cervicais. Invasão de
malignidade); (2) forma invasiva, situada em um
vasos linfáticos é a regra, daí o caráter multifocal
lobo; (3) forma difusa, que se estende
das lesões, às vezes seguida de metástases em
habitualmente aos dois lobos e ao istmo, em geral
linfonodos cervicais, fenômeno que não modifica o
com metástases linfonodais, bilateralmente. A lesão
prognóstico. Metástases em linfonodos são
tem forma irregular, aspecto fosco, coloração
comuns: encontram-se em 50% dos casos no
acinzentada ou brancacenta, às vezes com
momento da cirurgia, sobretudo nos cervicais
hemorragia ou necrose. O tumor pode ser sólido ou
profundos, ao longo das veias jugulares. Às vezes,
cístico.
as metástases são o primeiro sinal de um carcinoma
papilífero oculto e, em casos raros, permanecem
durante anos como a única manifestação desse
câncer. Metástases viscerais, hematogênicas, são
infrequentes.
Em muitos casos, o único aspecto clínico é a
presença de nódulo tireoidiano, em geral
circunscrito. Outras manifestações decorrem da
pressão do tumor sobre estruturas adjacentes
(disfagia, tosse, rouquidão e dor). Carcinoma oculto, não esclerosante.
Em geral, o carcinoma papilífero tem evolução
lenta e prognóstico favorável; este piora com a
idade e a extensão local da neoplasia.
- Morfologia: podem se manifestar como lesões
solitárias ou multifocais no interior da tireoide. Em
alguns casos, podem ser bem circunscritas e mesmo
encapsuladas. Em outros casos, podem infiltrar o
parênquima adjacente com margens mal definidas.
Carcinoma papilífero de caráter multicêntrico e
As lesões podem conter áreas de fibrose e
metástases em linfonodos cervicais.
calcificação, e frequentemente são císticas.
Tanto no carcinoma oculto como no manifesto, a
- As células tendem a dispor-se ao longo de eixos
lesão é formada por papilas revestidas por camada
conjuntivo-vasculares ramificados, formando
única de células cúbicas, em paliçada, sustentadas
papilas. As células costumam ser cubóides ou
por eixo conjuntivo vascularizado, as quais
colunares baixas, uniformes e bem diferenciadas.
projetam-se em espaços císticos.
Atualmente, a arquitetura papilífera não é mais
As células tendem a dispor-se ao longo de eixos
conjuntivo-vasculares ramificados, formando
papilas. As células costumam ser cubóides ou
colunares baixas, uniformes e bem diferenciadas.
Atualmente, a arquitetura papilífera não é mais
considerada o critério decisivo para o diagnóstico
deste tipo de tumor. O diagnóstico de carcinoma
papilífero baseia-se apenas nas características
nucleares. Os núcleos das células do carcinoma
papilífero contêm cromatina muito fina e dispersa,
que confere aspecto opticamente claro, dando
origem à designação de núcleos em vidro fosco.
Mitoses são raras.
- Existe mais de uma dúzia de variantes do
carcinoma papilífero de tireoide, mas a mais
comum é composta predominante ou
exclusivamente por folículos (variante folicular do
carcinoma da tireoide). A variante folicular mais
frequentemente é encapsulada e está associada a
incidência mais baixa de metástases para os
linfonodos e de extensão extratireoidiana do que é
típico para os carcinomas papilíferos convencionais.

♥ Os carcinomas papilíferos têm pelo menos


alguns folículos em meio às papilas. Em alguns,
o componente folicular pode predominar muito
sobre o papilífero, ou o tumor pode ser
exclusivamente folicular. Neste caso, o
diagnóstico de carcinoma papilífero baseia-se
nas características nucleares. Esses carcinomas
papilíferos são chamados de variante folicular e
se comportam biologicamente como os
carcinomas papilíferos habituais, ou seja, são
infiltrativos localmente e, geralmente, não são
encapsulados. Seu prognóstico é melhor que o
- As invaginações da membrana nuclear, contendo
do carcinoma folicular verdadeiro.
citoplasma é designação de pseudoinclusões
intranucleares nas secções transversais. - Caráter infiltrativo: Carcinomas papilíferos
podem ocorrer como lesões solitárias ou
Achado frequente e importante são os corpos
multicêntricas na tiróide. Alguns tumores são bem
psamomatosos, que são basófilos, não refringentes
delimitados e até encapsulados. Outros, contudo,
e medem entre 5 e 100 μm de diâmetro. É
infiltram o parênquima adjacente com margens mal
frequente o achado de psamomas nas metástases
definidas.
linfonodais.
- As metástases para linfonodos cervicais têm a sua
ocorrência estimada em cerca da metade dos casos.

♥ Metástases à distância ocorrem somente


em 2 a 10% dos casos, sendo o pulmão o
órgão mais afetado (70%), seguido pelo osso
(20%) e SNC (10%). As metástases
pulmonares podem aparecer como um
infiltrado nodular bilateral difuso,
assintomático, que pode perdurar por anos
(fazendo diagnóstico diferencial com - As células de Hürthle são derivadas do epitélio
sarcoidose). folicular e têm como característica seu grande
tamanho e citoplasma eosinofílico e granular.
- O carcinoma papilífero geralmente não é
encapsulado, apresenta crescimento lento e na ♥ O que o define, na prática, é uma abundância
maioria dos casos invade linfonodos regionais. de células oxifílicas, também chamadas de
oncócitos.
♥ Essa invasão não indica pior prognóstico, e
pode ser observada até mesmo em tumores com Tumores pouco diferenciados
< 1 cm de diâmetro (os chamados
microcarcinomas). A frequência de  Carcinoma Anaplásico
envolvimento nodal tende a ser maior em - Os carcinomas anaplásicos se manifestam como
crianças. massas volumosas que tipicamente crescem
 Histopatologia do carcinoma folicular: rapidamente além da cápsula tireoidiana para as
estruturas adjacentes do pescoço.
- As alterações citológicas do carcinoma folicular
(maligno) são virtualmente idênticas às do adenoma - Ao exame microscópico, essas neoplasias são
folicular (benigno). Por tal motivo, o laudo da compostas por células altamente anaplásicas –
PAAF se refere apenas a um “tumor folicular” possui desenvolvimento anormal da célula, podendo
(inconclusivo)! assumir diversos padrões histológicos, incluindo
aqueles preenchidos por:
♥ Apenas uma análise cuidadosa da peça
cirúrgica (histopatologia) é capaz de definir ♥ Grandes células pleomórficas gigantes
se existem ou não indícios de malignidade, ♥ Células fusiformes com aspecto
como invasão vascular e/ou da cápsula sarcomatoso
tumoral. ♥ Lesões mistas de células fusiformes e
- Ao exame microscópico, a maior parte dos gigantes
carcinomas foliculares é composta por células bem - Os focos de diferenciação papilar ou folicular
uniformes formando pequenos folículos, que podem estar presentes em alguns tumores,
lembram a tireoide normal; em outros casos, a sugerindo a origem a partir de um carcinoma bem
diferenciação folicular pode ser menos aparente. diferenciado.

- O carcinoma folicular ainda pode ser classificado - É comum o achado de células gigantes com
em dois subtipos, de acordo com o comportamento invaginações citoplasmáticas; e mutações do gene
biológico verificado na histopatologia: p53 são encontradas em 15% dos casos.
 Carcinoma medular
♥ minimamente invasivo – invasão
microscópica da cápsula; - Os carcinomas medulares podem surgir como
nódulo solitário ou se manifestar como lesões
♥ altamenteinvasivo ou angioinvasivo – múltiplas envolvendo os dois lobos da tireoide. A
atravessa a cápsula e penetra nos vasos multicentricidade é particularmente comum nos
sanguíneos. casos familiais.
- O folicular se dissemina preferencialmente pela
♥ As lesões maiores frequentemente contêm
via hematogênica, enviando metástases ósseas,
áreas de necrose e hemorragia, podendo se
pulmonares e hepáticas de maneira precoce (cerca
estender através da cápsula tireoidiana.
de 33%).
- Ao exame microscópico, os carcinomas medulares
♥ A via linfática é mais rara, sendo o são compostos por células poligonais a fusiformes,
acometimento nodal observado numa minoria que podem formar ninhos, trabéculas ou mesmo
dos casos (< 10%). folículos. Os depósitos amiloides, derivados de
 Histologia do carcinoma de células de Hurthle moléculas alteradas de calcitonina, estão presentes
no estroma adjacente em muitos casos e constituem
uma característica distintiva.
♥ Uma das características peculiares dos ♥ A presença de TSH normal ou elevado,
carcinomas medulares familiais é a presença de indica ultrassonografia para avaliação do
hiperplasia multicêntrica das células C no nódulo.
parênquima tireoidiano circundante,
característica que representa lesões precursoras ♥ a níveis elevados de calcitonina
a partir das quais o carcinoma medular se praticamente sela o diagnóstico de
origine. carcinoma medular

 Diagnóstico • A dosagem das catecolaminas na


urina de 24h faz parte da avaliação
O câncer da tireoide apresenta-se comumente como inicial desses pacientes para afastar
nódulo detectado pela palpação ou detectado pela feocromocitoma. Caso
ultrassonografia cervical. Embora os nódulos diagnosticado, a remoção do
tireoidianos sejam comuns, com prevalência entre feocromocitoma deve ser realizada
4% a 50%, dependendo dos procedimentos antes da tireoidectomia.
diagnósticos utilizados e da idade das pessoas, o
câncer da tireoide é raro (10). Os nódulos • O cálcio sérico também deve ser
impalpáveis ao exame físico e diagnosticados por medido de rotina a fim de
meio da ultrassonografia ou outro método de pesquisarmos hiperparatireoidismo.
imagem são denominados de “incidentalomas”. Os • A pesquisa de mutações do RET
nódulos impalpáveis têm a mesma chance de deve ser oferecida a todos pacientes e
malignidade do que nódulos palpáveis do mesmo familiares com história de CMT,
tamanho (11). Em geral, somente nódulos com 1 cm hiperplasia de células C e NEM.
ou mais de diâmetro devem ser investigados, pois Atualmente, alguns centros de
têm maior potencial de albergar uma neoplasia diagnóstico já disponibilizam
maligna. No entanto, indivíduos com nódulos de métodos de investigação para
dimensões inferiores com características suspeitas à mutações no RET.
ultrassonografia, tais como, a presença de
linfonodomegalia cervical, história de irradiação da Exame físico: É fundamental um exame físico
cabeça e pescoço ou história de câncer em parentes cuidadoso com palpação da região cervical,
de primeiro grau devem ser submetidos à caracterização do nódulo quanto à consistência,
propedêutica. fixação a outras estruturas cervicais e avaliação da
presença de disfonia secundária à paralisia de corda
- Exames laboratoriais da função tireoidiana: A vocal (13,14). O objetivo da avaliação do nódulo
grande maioria dos pacientes com câncer encontra- tireoidiano é estabelecer o risco de câncer por meio
se no estado eutireóideo. Entretanto, não podemos de métodos que sejam acurados, precisos, além de
esquecer a associação de tireoidite de Hashimoto e seguros e custo-efetivos
linfomas. Devemos solicitar sempre o TSH,
podendo também solicitar o T4 livre e anticorpo Ultrassom: A ultrassonografia é uma técnica
antitireoperoxidase (anti-TPO). disseminada e, na atualidade, o exame de primeira
linha para detectar e caracterizar a doença nodular
♥ A presença de hipertireoidismo, mesmo tireoidiana, devendo ser realizada em todos
que subclínico (TSH baixo) indica uma pacientes com diagnóstico ou suspeita de doença
cintilografia tireoidiana, para avaliar a nodular. Algumas características ultrassonográficas
presença de um adenoma hiperfuncionante. são associadas com malignidade:
hipoecogenicidade, microcalcificações, ausência de
• As áreas anormais da tireoide, que
halo periférico, bordas irregulares, aspecto sólido,
captam menos radioatividade do que
fluxo intranodular e a forma (altura maior que a
o tecido normal, são denominados
profundidade nos eixos longitudinal e transversal,
nódulos frios – geralmente malignos,
respectivamente). Com exceção da
e as áreas que captam mais radiação
linfonodomegalia cervical suspeita, nenhum achado
são chamadas nódulos quentes -
à ultrassonografia isolado ou em combinação é
causam hipertireoidismo (TSH
suficientemente sensível ou específico na
baixo), normalmente são benignos.
identificação de nódulos malignos. Cada uma destas
características isoladamente tem baixo valor
preditivo positivo.
A ultrassonografia é o método de escolha para a
avaliação dos nódulos tireoideanos. Possui
sensibilidade de quase 100%, sendo superior aos
outros métodos de imagem. Apresenta custo
relativamente baixo, é de fácil execução, não
necessita preparo para o exame e não apresenta
riscos para o indivíduo. Permite diferenciar nódulos
sólidos, nos quais a incidência de malignidade é
maior do que nos nódulos císticos e mistos, nos - Quais são as indicações de PAAF?
quais prevalece a benignidade. Quando associado ♥ Nódulos de qualquer tamanho associados
ao uso do doppler, observa-se que determinados à linfadenopatia cervical suspeita;
padrões de vascularização.
♥ Nódulos > 0,5 cm com características
sugestivas de malignidade na USG;

♥ Nódulos ≥ 1 cm, sólidos ou não sólidos


com microcalcificações;

♥ Nódulos mistos (cístico-sólidos) com ≥


1,5 cm e características sugestivas de
malignidade na USG ou ≥ 2 cm,
independentemente das características na
USG;

♥ Nódulos espongiformes ≥ 2 cm.


- Nódulos sem indicação de PAAF, ou que foram
submetidos à PAAF e tiveram resultado benigno,
devem ser acompanhados com USG a cada 6- 18
meses. Se houver crescimento acelerado (> 50% do
volume ou > 20% em pelo menos duas dimensões,
com um aumento mínimo de 2 mm do nódulo
PAAF: A biópsia por agulha fina (PAAF) guiada
sólido ou componente sólido de um nódulo misto),
pela ultrassonografia é um importante meio
uma nova PAAF deve ser realizada imediatamente.
diagnóstico dos nódulos tireoidianos, sendo um
método sensível no diagnóstico diferencial entre TC e RM: Indicados para complementar a
lesões malignas e benignas. É o procedimento de avaliação de pacientes com doença extensa (ex.:
escolha na avaliação dos nódulos tireoidianos. visualização de linfonodos mais profundos; bócio
Trata-se de um método efetivo na identificação de subesternal).
pacientes candidatos à cirurgia com suspeita de
Laringoscopia: Suspeita de invasão de estruturas
presença de malignidade.
contíguas
Com o objetivo de padronizar a terminologia dos
Imuno-histoquímica (biopsia): Utilizado no
laudos citológicos das punções da tireoide, tem sido
carcinoma folicular e no anaplasico
adotado nos EUA desde 2007, e também no Brasil,
o denominado Sistema de Bethesda para os laudos ♥ Anaplasico: reconhecimento de tumores
de citopatologia da tireoide. muito indiferenciados e, sobretudo, para
distingui-los do CMT e do linfoma.
 Estadiamento e classificação de risco
A classificação da extensão neoplásica pelo sistema
TNM tem como objetivo o prognóstico do CDT.
Nesta classificação, os pacientes são divididos de A modalidade terapêutica dos tumores malignos da
acordo com faixa etária: acima ou abaixo de 45 glândula tireoide varia com o tipo histológico e o
anos. Os quadros 2 e 3 descrevem os critérios desse estadiamento. No caso do CDT, deve-se também
estadiamento. levar em consideração a análise dos fatores de risco.
- O estadiamento estará completo somente após o  CIRURGIA:
ato operatório. A cirurgia fornece dados que
A opção cirúrgica deve levar em conta não somente
permitem refinar a estimativa do prognóstico,
a remoção do tumor primário e de suas metástases
orientando quanto à necessidade de terapias
locoregionais, como também reduzir a morbidade
adjuvantes (ablação com radioiodoterapia, terapia
do procedimento. A base teórica que apoia as
supressiva com levotiroxina). A partir deste
intervenções cirúrgicas mais extensas fundamenta-
momento, podemos definir o TNM do câncer de
se no fato de que os tumores papilares são
tireoide
comumente multifocais e bilaterais, além de
permitirem a ablação com iodo radioativo e o
monitoramento por meio da dosagem de
tireoglobulina.
A tireoidectomia total está indicada, devido ao
aumento de risco de malignidade, em pacientes com
citologia indeterminada em tumores maiores que
4cm, quando existe alto grau de atipia celular ou
quando a biopsia é suspeita de carcinoma papilífero
da tireoide (em qualquer tamanho de nódulo). Uma
cirurgia mais ampla também estaria indicada em
pacientes com historia familiar de câncer da tireoide
e naqueles expostos previamente a radiação
ionizante. (7)
Nos pacientes com diagnóstico de carcinoma
maiores que 1 cm, o tratamento inicial é a
tireoidectomia total, a não ser que haja alguma
contraindicação para o procedimento. A lobectomia
poderia ser realizada em pacientes com tumores
menores que 1 cm (T1a),
A orientação da ATA é de que a dissecção de
linfonodos c deverá ser realizado nos pacientes
previamente diagnosticados com metástases
linfonodais, naqueles com tumores classificados
como T3 ou T4. Para pacientes com tumores
menores, não invasivos e aparentemente sem
linfonodos acometidos, o risco benefício deverá ser
considerado individualmente.
 RADIOIODOTERAPIA
A radioiodoterapia tem duas finalidades:
- radioablação: utilizada após a tireoidectomia total,
 Explicar as formas de tratamento do câncer
com o objetivo de destruir tecido tireoidiano
da tireoide bem diferenciado (papilífero) e o
remanescente, em geral tecido normal, e facilitar o
impacto de tratamento cirúrgico da
acompanhamento com a dosagem de tireoglobulina
tireoidectomia e o consequente uso de
sérica. Em geral são utilizadas atividades de 1.100 a
medicação contínua
3.700 MBq (30 a 100 mCi);
 Tratamento
- Terapêutica: além de buscar destruir tecido  QUIMIOTERAPIA
remanescente, elimina micrometástases
A quimioterapia antineoplásica pode ser empregada
locoregionais e metástases à distância. Em geral são
como uma medida paliativa para 25% dos casos
utilizadas atividades acima de 3.700 MBq (100
sintomáticos de carcinoma diferenciado da tireoide
mCi).
recorrente inoperável ou metastático, padrão
Avaliação inicial e indicações folicular ou misto, que não concentram Iodo.
O paciente candidato à RIT deverá ser avaliado pelo  Conduta pós tireoidectomia total
médico assistente sob o ponto de vista de sua
Radioablação com 131 I:
condição clínica atual e indicação do tratamento. É
fundamental que sejam apresentadas informações - Tem como finalidade destruir o parênquima
referentes ao tratamento cirúrgico: extensão da remanescente.
cirurgia, complicações, presença de doença residual
ou metastática conhecida e a dose iodo radioativo - Suas indicações abrangem praticamente TODOS
indicada. Os pacientes considerados como de muito os casos encontrados na prática:
baixo risco pela ETA (ou de baixo risco pela ATA) ♥ Metástases à distância, envolvimento
possivelmente não serão benefíciados com o linfonodal,
tratamento com iodo radioativo, devendo manter-se
♥ tumores > 4 cm,
apenas sob controle clínico e seguimento (descrito
♥ doença extratireoidiana
adiante).
♥ pacientes com outros critérios de “alto
Pacientes considerados de alto risco são risco”, mesmo que o tumor tenha entre 1-4
sabidamente favorecidos com a RIT. Dessa forma, cm.
devem ser encaminhados para dose terapêutica Terapia supressiva com levotiroxina:
aqueles com doença residual local ou com
metástase(s) à distância iodocaptante(s). O - O uso da levotiroxina faz parte do arsenal
benefício da RIT sobre as recidiva e mortalidade em terapêutico, não só para repor hormônio tireoidiano
pacientes considerados como de baixo risco pela no pós-operatório, mas, principalmente, para
ETA (risco intermediário pela ATA) é questionável, suprimir o TSH, uma vez que as células tumorais
não havendo consenso sobre a indicação de são responsivas a este hormônio!
tratamento nesta população Portanto, na falta de
♥ Os níveis devem ficar abaixo de 0,1 mU/L
dados na literatura que subsidiem a indicação
(n= 0,5-5 mU/L).
precisa de RIT, em pacientes com tumores restritos
à glândula tireoidiana ou com mínima invasão - Pacientes de baixo risco pode ser mantidos com
capsular, de tamanho inferior a 4 cm e com TSH entre 0,1 e 0,5 mU/L e, após 5-10 anos sem
presença ou sem metástase(s) linfática(s) apenas em indícios de recidiva, pode-se permitir o retorno do
compartimento central (nível VI), a indicação de TSH à faixa normal.
radioiodoterapia deve ser avaliada segundo critérios
 Protocolo pós-tireoidectomia total
particulares de cada paciente.
- Para o sucesso da radioablação é necessário que o
 RADIOTERAPIA EXTERNA
TSH esteja elevado (> 30 mU/L), a fim de estimular
O tratamento clássico do carcinoma diferenciado da as células tumorais a captar o iodo radioativo. Isto
tireoide é a tireoidectomia seguida do uso de iodo pode ser obtido de três formas diferentes:
radioativo, nos casos selecionados, como descrito
anteriormente. Segundo o consenso da ATA e da ♥ deixando o paciente sem reposição de
Associação Britânica de Tireoide, a radioterapia levotiroxina por 3-4 semanas;
externa estaria indicada nos pacientes com idade ♥ iniciando tratamento com T3 isolado
superior a 45 anos, que apresentem extensão (liotironina), na dose de 50-100 mcg/dia por
extratireoidiana volumosa à cirurgia, pacientes com quatro semanas, suspendendo a medicação
tumor residual e pouca resposta ao iodo radioativo e duas semanas antes (o uso de T3 isolado faz
em pacientes acima de 60 anos, com doença extensa o T4 desaparecer da circulação).
(pT4) e grande disseminação linfonodal, mesmo
sem evidência de doença macroscópica.
o Devido à meia-vida extremamente tireoglobulina que acaba negativando-a, por isso é
curta do T3 (cerca de 24h – a importante para um resultado mais correto)
meiavida do T4 é de uma semana),
 Classificação do risco
logo após sua suspensão, os níveis
hormonais se depletam e ocorre um Os pacientes são considerados de baixo risco
rápido aumento do TSH); quando não apresentam doença metastática, tiveram
toda doença macroscópica removida, não
♥ utilizando TSH recombinante (rhTSH), apresentavam evidência de invasão tumoral local de
que parece ser a melhor estratégia para tecidos ou estruturas adjacentes, não possuem
indivíduos com comorbidades que têm tumores de variantes histológicas sabidamente
grande potencial de piora no estado de agressivas e não apresentaram captação de
hipotireoidismo (ex.: doenças radioiodo em local que não o leito cirúrgico em
cardiovasculares, IRC, depressão, etc.). cintilografia de corpo inteiro (PCI) realizada após a
o Se utilizarmos o TSH radioiodoterapia inicial.
recombinante, não haverá São classificados como de risco intermediário
necessidade de suspender a reposição aqueles pacientes que tenham quaisquer das
de levotiroxina! Tal estratégia seguintes características: invasão microscópica de
também deve ser aventada nos casos estruturas adjacentes, presença de variantes
em que o TSH endógeno não se histológicas agressivas ou com invasão vascular,
eleva de forma satisfatória presença de metástase(s) linfática(s) ou que
- Em certas situações (ex.: incerteza quanto à cursaram com captação extraleito tireoidiano de
magnitude do tecido tireoidiano remanescente), radioiodo na PCI após dose ablativa.
antes da radioablação pode ser necessário realizar Por fim aqueles indivíduos nos quais há presença de
uma cintilografia diagnóstica. Caso haja muita doença residual local macroscópica após o
captação (isto é, sobrou “muita tireoide”) é tratamento cirúrgico, tumor com invasão local
preferível reoperar antes da radioablação. grosseira evidente ou doença metastática à distância
♥ Ressalte-se que quando tal exame for são descritos como de alto risco (7).
indicado, este deverá ser feito com 123 I,  Impactos na vida do paciente
uma vez que tal isótopo possui meia-vida
inferior. O humor mudou muito, hora nos apresentamos
animada, hora sem ânimo para nada. Este quadro
♥ Se o exame for realizado com 131 I existe está associado, principalmente, a forma como é
risco das células tumorais se realizado o tratamento de reposição hormonal. Uma
sobrecarregarem, mesmo com a dose de dose maior pode desencadear um estado de agitação
iodo relativamente baixa do exame, o que as e uma dose menor pode levar a um estado de
impedirá de absorver a dose ablativa tristeza.
subsequente..
A mudança de humor faz-se presentes na maioria
- Imediatamente antes da ablação, enquanto o das pacientes tireoidectomizadas em tratamento de
doente apresenta TSH elevado, a tireoglobulina reposição hormonal, surgindo como consequência à
deve ser dosada (tireoglobulina estimulada). Além ansiedade que pode está relacionada com o
de se correlacionar com a presença de metástases e aparecimento de distúrbios psiquiátricos.
com o resultado da PCI pós-dose, tal exame é
considerado um fator prognóstico independente.  Identificar a epidemiologia e os fatores de
risco do câncer bucal (lábios, palato, língua
OBS: Para o seguimento após a tireoidectomia total e orofaringe)
um exame importante para acompanhamento seria a  Relacionar a infecção pelo HPV e seu
tireoglobulina (em caso de positividade evidencia mecanismo de ação na carcinogênese do
que ainda restou tecido tireoidiano ou que está câncer bucal
tendo recidiva) e também a anti- tireoglobulina  Descrever as manifestações clínicas,
(importante pois caso a tireoglobulina dê negativo diagnóstico e os princípios terapêuticos do
pode ser por conta da presença de anti- câncer bucal
 Explicar as medidas preventivas do câncer (2,90/100 mil), ocupa a décima terceira
bucal e a importância do diagnóstico posição. Na Região Sul (4,08/100 mil),
precoce ocupa a décima quarta posição
Aproximadamente 94% de todas as malignidades - A doença é mais frequente em homens, a partir
orais são carcinomas de células escamosas. dos 40 anos, e apresenta melhor prognóstico quando
diagnosticada e tratada em estágios iniciais.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que
para cada ano do triênio 2020/2022 sejam ♥ Estima-se 11.180 casos novos da doença em
diagnosticados no Brasil 15.190 novos casos de homens e 4.010 em mulheres para cada ano do
câncer de boca e orofaringe (11.180 em homens e triênio 2020-2022
4.010 em mulheres). Esses valores correspondem a
um risco estimado de 10,69 casos novos a cada 100 ♥ Esses valores correspondem a um risco estimado
mil homens, ocupando a quinta posição; e, de 3,71 de 10,70 casos novos a cada 100 mil homens,
para cada 100 mil mulheres, sendo o 13º mais ocupando a quinta posição. Para as mulheres,
frequente entre todos os tipos de cânceres. corresponde a 3,71 para cada 100 mil mulheres,
sendo a décima terceira mais frequente entre todos
Esses cânceres são duas vezes mais comuns em os cânceres
homens do em mulheres. E são quase igualmente
frequentes em negros e em brancos. - Estimativa de novos casos: 15.190, sendo 11.180
homens e 4.010 mulheres (2020 - INCA)
- O câncer da boca (também conhecido como
câncer de lábio e cavidade oral) é um tumor - Número de mortes: 6.605 sendo 5.120 homens e
maligno que afeta lábios, estruturas da boca, como 1.485 mulheres (2019 - Atlas de Mortalidade por
gengivas, bochechas, palato, língua (principalmente Câncer - SIM)
as bordas) e a região embaixo da língua. - Aproximadamente 94% de todas as malignidades
- A maioria dos casos é diagnosticada em estágios orais são carcinomas de células escamosas.
avançados. A parte posterior da língua, as - Do mesmo modo que em vários outros
amígdalas e o palato fibroso fazem parte da região carcinomas, o risco de câncer intraoral aumenta
chamada orofaringe e seus tumores têm com o aumento da idade, especialmente para os
comportamento diferente do câncer de cavidade homens. Sendo mais prevalente como causa de Ca
oral. da orofaringe
- É uma doença de importante magnitude no Brasil,
 Fatores de risco
com variações regionais significativas, tanto na
incidência quanto na mortalidade. A causa do carcinoma de células escamosas oral é
multifatorial. Nenhum agente ou fator
♥ As regiões Sudeste e Sul apresentam as (carcinógeno) etiológico único tem sido claramente
maiores taxas de incidência e de mortalidade definido ou aceito, porém tanto fatores extrínsecos
da doença. quanto intrínsecos podem estar atuando. É provável
que mais do que um único fator seja necessário para
♥ Sem considerar os tumores de pele não
produzir tal malignidade (cocarcinogênese).
melanoma, o câncer da cavidade oral em
homens é o quinto mais frequente nas Os fatores extrínsecos incluem agentes externos tais
Regiões Sudeste (13,58/100 mil), como tabaco com fumaça, álcool, sífilis e (somente
CentroOeste (8,94/100 mil) e Nordeste para cânceres do vermelhão do lábio) luz solar. Os
(7,65/100 mil). Nas Regiões Sul (13,32/100 fatores intrínsecos incluem estados sistêmicos ou
mil) e Norte (3,98/100 mil), ocupa a sexta generalizados, tais como desnutrição geral ou
posição. anemia por deficiência de ferro. A hereditariedade
parece não desempenhar um papel principal na
♥ Para as mulheres, é o décimo primeiro
causalidade do carcinoma oral.
mais frequente na Região Nordeste
(3,75/100 mil) e o décimo segundo na Vários carcinomas de células escamosas orais têm
Região Norte (1,69/100 mil). Já nas Regiões sido documentados em associação ou têm sido
Sudeste (4,12/100 mil) e Centro-Oeste
precedidos por uma lesão pré-cancerosa, para o risco aumentado do desenvolvimento do
especialmente a leucoplasia. câncer oral.
Tabaco Agentes fenolíticos
Muitas evidências clínicas indiretas implicam o Há um risco aumentado do câncer para
hábito de fumar tabaco no desenvolvimento do trabalhadores da indústria de produtos derivados
carcinoma de células escamosas oral. A proporção da madeira, cronicamente expostos a certos
de tabagistas entre os pacientes com carcinoma oral agentes químicos, tais como os ácidos
(80%) é duas a três vezes maior do que na fenoxiacéticos. Esses trabalhadores também
população em geral. O risco para um segundo apresentam um maior risco para os carcinomas
carcinoma primário do trato aerodigestivo superior nasal e nasofaríngeo.
é duas a seis vezes maior para pacientes tratados do
Radiografia
câncer oral que continuam a fumar do que para os
que abandonaram o hábito após o diagnóstico. Os raios X diminuem a reatividade imune e produz
anormalidades no material cromossômico. A
O fumo de cachimbo ou charuto agrega um risco
radioterapia direcionada para a área de cabeça e
maior para o câncer oral do que o fumo de cigarros;
pescoço aumente o risco do posterior
e que o risco relativo (risco do tabagista para câncer
desenvolvimento de uma nova malignidade
oral comparado ao de um não-tabagista) é dose-
primária oral, um carcinoma ou um sarcoma. Esse
dependente para os tabagistas de cigarro. O risco é
efeito é dose-dependente, porém até a radioterapia
de pelo menos cinco para pessoas que fumam 40
em baixas doses para lesões benignas pode
cigarros/dia, porém aumenta para 17 para pessoas
aumentar o risco local em algum grau. Contudo, a
que fumam 80 ou mais cigarros diariamente. O
pequena quantidade de radiação proveniente das
risco, além disso, aumenta de acordo com o tempo
radiografias odontológicas da rotina diagnóstica não
(anos) de duração do vício.
tem sido associada a carcinomas da mucosa oral.
Sachê de betel (PAAN)
Deficiência de ferro
O sachê de betel ou paan é um composto de
A deficiência de ferro, especialmente a grave e
substâncias naturais (ou seja, nozes da palmeira
crônica forma conhecida como síndrome de
areca, folha de betel, cal hidratada e às vezes folha
Plummer-Vinson ou Paterson-Kelly, está associada
de tabaco) mastigado devido a seus efeitos
a um elevado risco para o carcinoma de células
psicoestimulantes. O risco para toda a vida para
escamosas do esôfago, orofaringe e da região
toda a vida relacionado ao desenvolvimento de
posterior da boca. As malignidades se desenvolvem
câncer oral entre os usuários do sachê de betel na
em uma idade mais baixa do que nos pacientes sem
Ásia é marcante, de 8%. Esse hábito também está
anemia por deficiência de ferro.
associado a um desenvolvimento significativo de
lesões pré-cancerosas, tais como a leucoplasia. Os indivíduos que apresentam deficiência de ferro
tendem a ter imunidade mediada por células
Álcool
prejudicada e o ferro é essencial para o
O consumo excessivo de álcool tem sido associado funcionamento normal das células epiteliais do trato
ao desenvolvimento do câncer oral. É incerto se o digestivo superior. Nos estados de deficiência, as
álcool isoladamente pode iniciar a carcinogênese, células epiteliais sofrem uma renovação mais rápida
porém o álcool em combinação com o tabaco é um e produzem uma mucosa atrófica ou imatura. Os
fator de risco significativo para o desenvolvimento feixes fibrosos entrelaçados de tecido cicatricial
do câncer oral. também podem se desenvolver no esôfago dos
pacientes gravemente afetados. Pacientes com tais
O risco é dose-dependente e tempo-dependente e a
redes esofágicas parecem ser especialmente
combinação do uso excessivo do álcool e do tabaco
suscetíveis à transformação maligna.
por período prolongado pode aumentar o risco para
o câncer oral para um fator de 15 ou mais (o risco Deficiência de vitamina A
relativo é de 15). As deficiências nutricionais
Os níveis sanguíneos de retinol e a quantidade de
associadas ao alcoolismo também podem contribuir
betacaroteno ingerido na dieta sejam inversamente
proporcionais ao risco do desenvolvimento de um ♥ O número de parceiros sexuais e a
carcinoma de células escamosas oral e da frequência do sexo oral são fatores
leucoplasia. importantes de risco.
A terapia prolongada com ácidos retinoicos e ♥ O risco de desenvolver câncer orofaríngeo
betacaroteno também têm sido associada à é 16x maior em pacientes positivos para
regressão de pelo menos algumas lesões HPV. Na Europa e na América do Norte, a
leucoplásicas. infecção por HPV é responsável por cerca
Sífilis de 70 a 80% dos cânceres orofaríngeos.

A sífilis (estágio terciário) tem uma forte associação Os vírus oncogênicos (produtores de tumor) podem
com o desenvolvimento do carcinoma do dorso da desempenhar um papel principal em uma grande
língua. A taxa do risco relativo aproxima-se de variedade de cânceres, embora, até o presente
quatro. Por outro lado, um indivíduo com momento, nenhum vírus tenha sido
carcinoma de língua é cinco vezes mais propenso a comprovadamente envolvido como causa do câncer
ter um teste sorológico positivo para sífilis do que oral. Os agentes virais capazes de integrar-se ao
alguém que não esteja acometido por tal câncer. material genético do hospedeiro podem tomar o
Independentemente do mecanismo fisiopatológico controle da habilidade do hospedeiro de regular o
atuante, as malignidades orais associadas à sífilis crescimento e proliferação normais da célula
são atualmente raras pelo fato de essa infecção ser infectada. Os vírus oncogênicos podem imortalizar
tipicamente diagnosticada e tratada antes do início a célula hospedeira, dessa forma facilitando a
do estágio terciário. transformação maligna.

Candidíase hiperplásica O HPV é implicado, não somente no câncer oral,


mas também no carcinoma da amígdala faríngea,
A candidíase hiperplásica é uma condição pré- laringe, esôfago, colo de útero, vulva e pênis. Os
cancerosa oral. Certas cepas têm mostrado produção subtipos 16, 18, 31 e 33 do HPV são as cepas mais
de nitrosaminas, substâncias químicas que têm intimamente relacionadas à displasia e ao
sido implicadas na carcinogênese. Algumas cepas carcinoma de células escamosas.
de cândida podem ter potencial para promover o
desenvolvimento do câncer oral; até o presente Os mecanismos básicos pelos quais acredita-se que
momento, contudo, a evidência sugere que esse o HPV contribua para a carcinogênese oral
papel é amplamente circunstancial. envolvem principalmente duas proteínas
codificadas pelo vírus: (1) E6 (que promove a
Vírus oncogênicos – HPV degradação do produto do gene supressor tumoral
Ocorre que, hoje, a doença também atinge jovens p53) e (2) E7 (que promove a degradação do
(entre 30 e 45 anos) de ambos os sexos que não produto do gene supressor tumoral pRb [proteína do
fumam nem bebem em excesso, mas praticam sexo retinoblastoma]).
oral desprotegido. Isso porque o HPV - Assim, as regiões E são expressas logo após a
papilomavírus humano-, que é transmitido infecção e codificam as proteínas envolvidas na
sexualmente, está diretamente ligado a cada vez indução e na regulação da síntese de DNA.
mais casos de câncer de cabeça e pescoço.
Os primeiros genes dos HPV a se expressarem são
♥ Comum de ocorrer nas criptas tonsilares e E1 e E2, cujos produtos estão envolvidos na
na base da língua, mas não descarta outros replicação do genoma viral. O produto do gene E1,
locais da cavidade bucal. uma fosfoproteína nuclear com atividade ATPase e
DNA helicase, liga-se na origem de replicação do
- O HPV do tipo 16 causa 60% dos cânceres
DNA viral, sendo essencial para a replicação do
orofaríngeos, e a faixa etária dos pacientes caiu
vírus. A proteína codificada pelo gene E2 é um
(média de idade 57 anos e picos bimodais aos 30 fator que regula a transcrição dos oncogenes E6 e
E7.
e 55 anos) à medida que a infecção por HPV surgiu
como uma etiologia. A proteína E6 tem sua atividade transformadora
dependente da ligação com a proteína supressora
de tumor p53, que regula a passagem pelas fases No câncer relacionado com o ambiente:
G1/S e G2/M. Uma vez estabelecida essa ligação, a
- O ciclo celular é desregulado pela perda precoce
proteína E6 estimula a degradação da p53, levando-
de p16, um inibidor da ciclina D1, ou por meio do
a a níveis muito baixos em muitos tumores
aumento da taxa de regulação da ciclina D1; p53
humanos, o que faz com que as células desses
(supressor tumoral, reparador de DNA e indutor de
tumores falhem na parada do ciclo celular em G1,
apoptose) é bloqueado por diversos mecanismos
seguindo então o dano no DNA celular. Logo, se
que evitam a morte celular programada; a
outra proteína supressora de tumor (como a pRb,
sinalização mitogênica é reforçada pelo aumento da
por exemplo) não compensar a reduzida atividade
regulação da função do receptor do fator de
da p53, a transformação celular pode, de fato,
crescimento epidérmico (EGF); ocorre uma
ocorrer. A proteína E6, além de reprimir a ação de
superexpressão da ciclooxigenase-2 (COX-2),
p53, também tem como função a atividade de
inibindo a apoptose e promovendo a angiogênese; e
telomerase, podendo associar-se com proteínas
se desenvolve a instabilidade cromossômica com
ligantes do cálcio, ERC55, fatores de resposta do
aneuploidia (adição o perda de um ou mais
interferon, IRF3, ou, até mesmo, associar-se a
cromossomos).
proteínas de integração viral.
- Muitas dessas alterações moleculares iniciais e
Imunosupressão
funcionais ocorrem sem uma mudança óbvia no
Sem vigilância e ataque imunológicos efetivos, aspecto físico da mucosa oral, apesar de ser possível
acredita-se que as células malignas recentemente encontrar leucoplasia.
geradas não possam ser reconhecidas e destruídas
 Manifestações clínicas
em um estágio inicia l. Os indivíduos com AIDS e
aqueles que estão sendo submetidos à terapia Os indivíduos portadores do carcinoma de células
imunossupressora para malignidades ou transplante escamosas oral são, na maioria das vezes, homens
de órgãos apresentam risco aumentado para o idosos que perceberam uma alteração em um sítio
carcinoma de células escamosas. de câncer oral por 4 a 8 meses antes de buscar a
ajuda profissional. Existe dor mínima durante a
Oncogenes e genes supressores de tumor
fase inicial do crescimento e isso pode explicar a
Os genes normais, ou proto oncogenes, são demora na procura dos cuidados profissionais.
transformados em oncogenes ativos em certas
O carcinoma de células escamosas oral tem uma
malignidades através da ação de vírus, radiação ou
apresentação clínica variada, incluindo as seguintes:
carcinógenos químicos. Uma vez que os oncogenes
estejam ativados, eles podem estimular a produção  Exofitica (formação de aumento de volume;
de uma excessiva quantidade de material genético vegetante, papilar, verruciforme);
novo por meio de amplificação ou superexpressão
do gene envolvido. Os oncogenes podem estar  Endofítica (invasiva, escavada, ulcerada)
envolvidos na iniciação e progressão de uma ampla  Leucoplásica (mancha branca)
variedade de neoplasias, incluindo o carcinoma de
células escamosas oral.  Eritroplásica (mancha vermelha)

Os genes supressores tumorais, por outro lado,  Eritroleucoplásica (combinação de áreas


permitem indiretamente a produção de um tumor vermelha e branca)
quando se tornam inativados ou mutados. As
Os exemplos leucoplásicos e eritroplásicos são
aberrações genéticas comumente identificadas nos
provavelmente casos em fases iniciais, que ainda
carcinomas de células escamosas orais incluem
não produziram um aumento de volume ou
anormalidades dos oncogenes ras, myc e EGFR
ulceração
(receptor do fator de crescimento epidérmico,
também conhecido como c-erbB1) e dos genes
supressores de tumor p53, pRb, p16 e E-caderina. A
maioria dos especialistas acredita que o acúmulo de
muitas dessas variadas aberrações genéticas é
necessário antes que a célula afetada expresse um
fenótipo maligno.
Uma lesão exofítica apresenta superfície irregular,
vegetante, papilar ou verruciforme e sua cor poderá
variar da coloração normal ao vermelho ou branco,
dependendo da quantidade de ceratina e
vascularização. A superfície é frequentemente
ulcerada e o tumor mostra-se duro à palpação
(endurado).

A destruição do osso subjacente, quando presente,


pode ser dolorosa ou completamente indolor e
aparecerá nas radiografias como uma radiolucidez
“em roído de traça” com margens mal definidas ou
bordas irregulares, como se uma traça tivesse roído.

O padrão de crescimento endofítico tem uma área


central deprimida, de formato irregular, ulcerada, O carcinoma também pode se estender por vários
com uma borda “em rolete” de mucosa normal, centímetros ao longo de um nervo (invasão
vermelha ou branca. A borda em rolete resulta da perineural) sem rompê-lo para formar uma
invasão do tumor para o interior do tecido e para metástase verdadeira.
as laterais abaixo do epitélio adjacente. Essa
aparência não é única do carcinoma oral, uma vez Carcinoma do vermelhão do lábio
que lesões granulomatosas, tais como infecções O carcinoma do vermelhão do lábio é tipicamente
fúngicas profundas, tuberculose, sífilis terciária, ou encontrado em pessoas de pele clara ou com uma
da doença de Crohn e úlceras traumáticas crônicas exposição prolongada à radiação UV proveniente da
podem ter aparência similar. luz solar ou com uma história queimadura solar em
uma fase precoce da vida. Setenta por cento dos
indivíduos afetados possuem ocupações que mais cedo em mulheres do que em homens, porém
envolvem atividades ao ar livre. Essa lesão está ainda e geralmente uma doença de adultos idosos.
geralmente associada à queilose actínica e pode Dentre todos os carcinomas intraorais, as lesoes de
surgir no local em que o paciente segura um soalho de boca sao as mais propensas a originarem-
cigarro, charuto ou cachimbo. Quase 90% das se de uma leucoplasia ou eritroplasia preexistente.
lesões estão localizadas no lábio inferior.
O carcinoma do vermelhão do lábio típico é uma
ulceração endurecida, indolor, crostosa e
exsudativa que apresenta geralmente menos de 1
cm. Possui taxa de crescimento lenta e a maioria
dos pacientes tem estado ciente da existência de um
“problema” na área por 12 a 16 meses antes que um
diagnóstico formal tenha sido feito, causando
destruição do tecido.
A metástase é um evento tardio; ao diagnóstico, Carcinoma orofaríngeo e de palato mole
menos de 2% dos pacientes apresentam linfonodos
metastáticos envolvidos, geralmente na região O carcinoma da mucosa do palato mole e orofaringe
submentoniana. A invasão perineural pode ser o possui a mesma aparência clínica básica dos
resultado da extensão do tumor para o interior da carcinomas intraoral e de lábios, exceto que, nessa
mandíbula através do forame mentoniano. localização posterior, o paciente frequentemente
não se encontra ciente da sua presença e o
diagnóstico provavelmente será tardio. O tamanho
do tumor é tipicamente maior do que o dos
carcinomas localizados mais anteriormente e a
proporção de casos com metástases a distância e
cervicais quando do momento do diagnóstico é
maior.
Os sintomas iniciais são geralmente dor e
dificuldade à deglutição (disfagia). A dor poderá ser
difusa ou em um local definido e frequentemente
relatada pelo paciente como sendo proveniente
do ouvido.
Carcinoma intraoral
Como regra geral, quanto mais posterior ou inferior
O sitio mais comumente acometido pelo carcinoma
for a localização do tumor orofaríngeo, maiores são
intraoral é a lingua, geralmente as superficies
a lesão e a chance de disseminação linfática no
lateral posterior e ventral. O soalho de boca e
momento do diagnóstico. Uma lesão de palato mole
acometido mais frequentemente nos homens, porem
pode se apresentar como um tumor localizado,
e bem menos envolvido nas mulheres. Outros sitios porém 80% das lesões da parede orofaríngea
de envolvimento (em ordem decrescente de posterior apresentam metástases ou envolvem
frequencia) sao o palato mole, gengiva, mucosa extensivamente as estruturas circunvizinhas no
jugal, mucosa labial e palato duro.
momento do diagnóstico.
Dois terços dos carcinomas de lingua surgem como
aumento de volume ou ulceras endurecidas,
indolores, da margem lateral posterior. A língua
é, especialmente, o sitio de acometimento em
pacientes jovens.
Nas investigações epidemiológicas, o carcinoma de
soalho de boca representa 35% de todos os canceres
intraorais e parece que sua frequência está
aumentando entre as mulheres. Ocorre uma década
caracterizado histopatologicamente por ilhas e
cordões invasivos de células escamosas epiteliais
malignas. Quando um tumor é biopsiado e
encontra-se em momento de invasão mais precoce,
os adjetivos superficialmente invasivo ou
microinvasivo geralmente são utilizados.
A invasão é representada pela extensão irregular
do epitélio lesional através da membrana basal
para o interior do tecido conjuntivo subepitelial.
As células escamosas individuais e as ilhas ou os
cordões de células são observados como se
tornando entidades independentes no interior do
Metástase
tecido conjuntivo, sem adesão ao epitélio da
A disseminação metastática do carcinoma de superfície.
células escamosas oral ocorre principalmente
As células e os aumentos de volume celulares em
através dos vasos linfáticos para os linfonodos
invasão podem estender-se profundamente no
cervicais ipsilaterais. Um linfonodo cervical que
interior do tecido adiposo, músculo e osso
contenha um depósito metastático de carcinoma
subjacentes, destruindo o tecido original à medida
geralmente tem uma consistência de firme a pétrea,
que progridem. As células lesionais podem
é indolor e mostra-se aumentado. Se as células
circundar e destruir vasos sanguíneos e podem
malignas tiverem perfurado a cápsula do linfonodo
invadir o interior da luz de veias e vasos linfáticos.
e invadido os tecidos circundantes, então o
Frequentemente, existe uma forte resposta
linfonodo será sentido como “fixo” ou não
inflamatória ou imune celular ao epitélio em
facilmente com mobilidade durante a palpação.
invasão e áreas focais de necrose podem estar
presentes.
O epitélio lesional é capaz de induzir a formação
de novos e pequenos vasos sanguíneos
(angiogênese) e, ocasionalmente, a formação de
fibrose densa (desmoplasia ou alteração cirrótica).
As células lesionais geralmente possuem um
citoplasma bem eosinofílico com núcleos grandes
e geralmente de coloração intensa
(hipercromáticos) e uma relação núcleo-
citoplasma aumentada. Graus variados de
pleomorfismo celular e nuclear são observados. O
produto normal do epitélio escamoso é a ceratina, e
pérolas de ceratina (focos arredondados de
A metástase não é um evento precoce para os camadas concêntricas de células ceratinizadas)
carcinomas da cavidade oral propriamente dito. podem ser produzidas no interior do epitélio
Contudo, devido ao atraso no diagnóstico, lesional.
aproximadamente 21% dos pacientes apresentam
metástases cervicais ao diagnóstico (60% em relatos
provenientes de centros médicos terciários). Por
outro lado, os tumores que surgem mais
posteriormente, dentro da orofaringe, são propensos
a metástases precoces.
 Histopatologia
O carcinoma de células escamosas surge a partir de
um epitélio de superfície displásico e é
♥ A biópsia em saca-bocado é suficiente
para o diagnóstico, principalmente na região
oral da língua, de onde os tumores se
disseminam por via linfática

♥ A aspiração por agulha fina, para teste de


HPV e EBER, deve ser realizada para
tumores de células escamosas.
o Atualmente, o HPV e EBV são os
únicos marcadores moleculares
conhecidos para separar os tumores
de cabeça e pescoço dos tumores
epidermoides da pele e glândula
salivar.
o A positividade sérica para o EBV
sugere tumor de nasofaringe,
enquanto a positividade para HPV
sugere tumor de orofaringe.
O diagnóstico do carcinoma de células escamosas
quase sempre é feito pela microscopia óptica de o Vale pontuar que, ainda a
rotina. Estudos especiais que usam anticorpos imunohistoquímica p16 seja
monoclonais direcionados contra citoceratinas comumente utilizada como substituto
podem, contudo, ser necessários para distinguir para o ensaio de HPV, esta não é
carcinomas de células escamosas de alto grau ou adequada para decisão terapêutica,
pobremente diferenciados de outras malignidades. estando positiva em 20% dos
cânceres não HPV.
 Diagnóstico
- Pacientes com neoplasia maligna confirmada
Exame físico devem ser submetidos à avaliação da extensão da
- Os pacientes que apresentam sintomas localizados doença por meio de tomografia computadorizada
ou um sinal como uma úlcera ou pequena massa (TC) ou ressonância magnética (RM) de pescoço,
precisam ser submetidos a um exame completo, com uso de contraste, e radiografia de tórax, antes
com inspeção e palpação das estruturas visíveis da da intervenção cirúrgica.
base da língua, tonsilas e pescoço. PET TC: tomografia computadorizada por
Exames clínico emissão de pósitrons e TC:

- O diagnóstico do CECP se faz pelo exame clínico - É indicada a realização de PET-TC do corpo e
com nasoscopia e laringoscopia e biópsia tumoral. uma TC de alta resolução, a partir da base do crânio
até a clavícula, de preferência com a técnica em
- Na ausência de tumor primário visível, indica-se espiral para avaliação da propagação nodal no
punção aspirativa por agulha fina ou biópsia de pescoço e identificação de extensão nodal
quaisquer massas cervicais, seguido de novo exame extracapsular e invasão óssea, que são informações
locorregional sob anestesia e biópsias adicionais, se importantes para o prognóstico.
necessário.
♥ A PET ajuda na identificação de lesões
♥ Na suspeita ou não de câncer, biópsias ocultas, principalmente quando o paciente
excisionais não são indicadas porque as tem um tumor primário desconhecido, antes
margens do tumor frequentemente são da biópsia, para guiar a avaliação e reduzir o
violadas, provocando “espalhamento” do risco de procedimentos diagnósticos e
material e consequentemente aumentando os terapêuticos desnecessários e/ou
riscos de metástase. inadequados.
RM
- A RM auxilia na avaliação do acometimento de possibilitar o diagnóstico e tratamento em tempo
tecido mole, principalmente da base da língua e dos oportuno.
espaços parafaríngeos
 Estadiamento
 Rastreamento
- O tamanho do tumor e a extensão da
- Não há recomendação para o rastreamento do
disseminação metastática do carcinoma de
câncer de boca, pois as evidências científicas atuais
não são suficientes para avaliar os riscos e os células escamosas oral são os melhores
benefícios do rastreamento em pessoas
assintomáticas. indicadores do prognóstico do paciente.
- Esse protocolo de estadiamento depende de três
- As revisões sistemáticas publicadas pela Cochrane
(2013) (BROCKLEHURST, 2013) e pela Força características clínicas básicas:
Tarefa Americana (USTaskForce, 2014)
encontraram apenas um ensaio clínico, realizado na ♥ T – Tamanho do tumor primário, em
Índia, com alto risco de viés, no qual o rastreamento centímetros
não foi capaz de reduzir significativamente a
mortalidade por câncer de boca na população em ♥ N – Envolvimento de linfonodos locais
geral.
♥ M – Metástases a distância
- No entanto, a análise de um subgrupo de pacientes
de alto risco que utilizavam tabaco, álcool ou os
dois combinados mostrou redução relativa de 43%
da mortalidade nesse grupo.
- Em 2021, uma nova análise evidenciou que a
utilização de critérios de risco aumenta
substancialmente a eficiência de programas de
rastreamento (CHEUNG et al, 2021). Portanto, é
necessário acompanhar novas evidências e ensaios
clínicos, já que a estratégia de rastreamento em
populações de alto risco mostrou-se efetiva.
 Diagnóstico Precoce
- O diagnóstico precoce do câncer de boca
possibilita melhores resultados no tratamento com a
investigação oportuna de sinais e sintomas suspeitos
 Tratamento
no lábio e cavidade oral, como:
CIRURGIA
♥ Lesões cujo diagnóstico clínico não exclui
o câncer - A cirurgia normalmente consiste na retirada de
uma ou mais área da cavidade oral associada à
♥ Lesões que não cicatrizam em até 15 dias retirada dos linfonodos do pescoço (esvaziamento
- Essas alterações suspeitas na cavidade oral devem cervical) e com algum tipo de reconstrução, quando
ser investigadas por meio de biópsia. necessário. Nas cirurgias maiores, pode ser
necessária a ressecção de segmentos ósseos.
♥ Quando o câncer é confirmado, deve-se
♥ Essas ressecções devem ser programadas
encaminhar o paciente para tratamento
oncológico. procurando a melhor reconstrução no
primeiro momento, para obter o melhor
- Profissionais de saúde devem conhecer e estar resultado funcional. Em alguns casos,
atentos aos principais fatores de risco e aos sinais e porém, podem ser necessários outros
sintomas do câncer de lábio e cavidade oral, de procedimentos em um segundo tempo para
forma a identificar precocemente alterações e restabelecer a função da área ressecada.
Carcinoma da região do vermelhão do lábio estratégias de tratamento no futuro. Embora os
agentes quimioterapêuticos possam
- O carcinoma da região do vermelhão do lábio é
temporariamente reduzir o tamanho de um aumento
geralmente tratado pela excisão cirúrgica,
de volume tumoral, nenhum deles têm melhorado as
tipicamente uma ressecção em cunha, com
taxas de sobrevida significativamente.
excelentes resultados.
Tratamento:
♥ Somente 8% dos tumores apresentam
recidiva e as taxas de sobrevida de 5 de anos - Para carcinomas intraorais pequenos, uma única
são de 95% a 100% carcinomas de células modalidade de tratamento é geralmente escolhida.
escamosas intraorais. - Pacientes com lesões maiores ou com lesões que
- A localização do tumor pode influenciar o plano apresentem linfonodos clinicamente palpáveis
de tratamento. tipicamente requerem terapia combinada.

- Consiste na excisão cirúrgica ampla (radical), - Além disso, pacientes com carcinomas de língua
radioterapia ou na combinação de cirurgia e em estágio inicial (clinicamente T1/T2 e
radioterapia. fundamente invasivos (espessura do tumor > 3 ou 4
mm), são de risco aumentado para metástase
♥ As lesões orofaríngeas geralmente subclínica para linfonodo e, dessa forma, devem
recebem radioterapia. receber irradiação pós-operatória em pescoço ou
dissecção de pescoço eletiva.
♥ Outras indicações para a radioterapia
incluem a presença de margens cirúrgicas - Na suspeita de metástase local para linfonodos,
exíguas ou comprometidas, metástase uma dissecção radical ou uma dissecção radical
regional, características histopatológicas de modificada no pescoço deve ser realizada.
alto grau e invasão perineural ou
angiolinfática. É utilizada uma variedade de ♥ A dissecção radical é essencialmente uma
agentes quimioterápicos como terapia remoção em bloco de todos os tecidos fibroadiposos
adjuvante. do trígono lateral do pescoço, incluindo os
linfonodos jugulares superiores, médios e
OBS: A radioterapia e a quimioterapia são inferiores, o grupo de linfonodos supraclaviculares
indicadas quando a cirurgia não é possível ou e as porções variadas da musculatura circunvizinha.
quando o tratamento cirúrgico deixaria sequelas
funcionais tão importantes que seriam muito - O uso da biópsia de linfonodo-sentinela (biópsia
complicadas para a reabilitação funcional e a do primeiro linfonodo da rede linfática a receber a
qualidade de vida do paciente. drenagem do tumor) com o objetivo de identificar
pacientes com metástases ocultas de pescoço têm se
Quimioterapia mostrado promissor, porém permanece sob
- A quimioterapia tipicamente é administrada em avaliação para uma utilização confiável nos
conjunto com a radiação, como quimioterapia de pacientes com câncer oral
indução seguida por quimiorradioterapia  Prognóstico
concomitante ou como terapia paliativa.
- O prognóstico para a sobrevida no câncer oral
♥ As substâncias comumente utilizadas depende do estadiamento do tumor.
incluem os agentes que contêm platina (p.
ex., cisplatina, carboplatina), 5-fluorouracil ♥ A taxa de sobrevida relativa de 5 anos
e taxanos (p. ex., paclitaxel, docetaxel). para o carcinoma intraoral varia de 53% a
68% se o tumor for relativamente pequeno (
Anticorpos monoclonais 3 cm e ≤ 6 cm ou um linfonodo > 6 cm
- Ensaios clínicos avaliando anticorpos (estágio IV).
monoclonais ou pequenas moléculas inibidoras ♥ Embora alguns pacientes morram de sua
direcionadas contra o EGFR têm-se mostrado doença em um período mais prolongado,
promissores e espera-se que terapias direcionadas como 10 anos após o tratamento inicial, a
contra moléculas-alvo tornem-se importantes
grande maioria das mortes ocorre dentro dos • Tratar lesões pré-cancerígenas. Áreas de
primeiros 5 anos. leucoplasia ou eritroplasia na boca, às vezes podem
evoluir para um câncer.
- Os vários marcadores moleculares associados ao
carcinoma, como a mutação do gene supressor de *A prevenção primária visa ações ou iniciativas que
tumor p53, têm apresentado resultados equívocos possam reduzir a incidência e a prevalência da
como indicadores prognósticos. O relacionamento doença, modificando os hábitos da comunidade,
entre HPV, estágio do tumor e prognóstico é buscando interromper ou diminuir os fatores de
incerto. Alguns estudos têm sugerido que tumores risco como o tabaco, o álcool e a exposição solar
positivos para o HPV estão associados a uma dos lábios, antes mesmo que a doença se instale.
melhor resposta ao tratamento e sobrevida
*A prevenção secundária visa ao diagnóstico
prolongada; contudo, outros estudos não têm
precoce da doença em uma fase anterior ao paciente
relatado nenhuma diferença significativa na
apresentar alguma queixa clínica. É sabido que o
sobrevida entre pacientes com tumores positivos e
câncer bucal pode levar meses antes de apresentar
negativos para o HPV.
algum sinal ou sintoma percebido pelo paciente. O
 Prevenção CA de boca diagnóstico precoce dessa doença faz com que os
níveis de cura alcancem mais de 90% dos casos.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece
prevenção e tratamento do câncer de boca em todo *A prevenção terciária visa a limitar o dano,
o País. A OMS estima que a prevenção pode ajudar controlar a dor, prevenir complicações secundárias,
a reduzir a incidência de câncer em até 25% até melhorar a qualidade de vida durante o tratamento,
2025. Por isso mesmo, durante a Semana Nacional e sempre que possível reintegrar o indivíduo à
de Prevenção ao Câncer Bucal de (de 5 a 9 de sociedade, tornando-o apto a realizar as atividades
novembro), o Ministério da Saúde incentiva a diárias exercidas anteriormente.
prevenção em torno da pergunta: Você sabe o que é
DIAGNÓSTICO PRECOCE
o câncer de boca? O objetivo é incentivar ações
preventivas, campanhas educativas, debater INCA atualizou as diretrizes para a detecção
políticas públicas, apoiar atividades organizadas e precoce do câncer de boca. O Instituto deixou de
desenvolvidas pela sociedade civil, entre outros. preconizar o autoexame e o rastreamento
populacional após a avaliação de diversos estudos e
• Limitar o fumo e o álcool. O fumo e o álcool estão
pesquisas recentes, que demonstram não haver
entre os fatores de risco mais importantes para esse
evidências científicas de que as medidas tenham
tipo de câncer.
conseguido reduzir o número de novos casos ou
• Evitar a infecção pelo HPV. O risco de infecção baixar a taxa de mortalidade pela doença.
por HPV de boca e da garganta é aumentado em
Para a detecção precoce da doença, o Instituto
pessoas que praticam sexo oral e têm múltiplos
recomenda procurar de imediato um dentista ou
parceiros. Essas infecções são mais comuns em
médico caso surja lesão na boca que não cicatrize
fumantes e podem ser provocadas por danos do
em até 15 dias. “O profissional fará um exame
fumo no sistema imunológico ou nas células que
completo e, se a lesão for suspeita para câncer,
revestem a cavidade oral.
encaminhará o paciente para um especialista, que
• Limitar a exposição à luz ultravioleta. A radiação pode ser um estomatologista”, diz Adriana. A
ultravioleta é um fator de risco importante e estomatologia é uma especialidade da odontologia
evitável para o câncer de lábio e para o câncer de cuja finalidade é prevenir, diagnosticar e tratar
pele. Se possível, limitar o tempo de exposição aos doenças que se manifestam na cavidade bucal e no
raios ultravioleta, principalmente em torno do meio complexo maxilo-mandibular, como afta recorrente,
dia, quando é mais intensa. Procurar usar um herpes e câncer, entre outras.
chapéu de abas largas, protetor solar e protetor
Não existem exames de rastreamento disponíveis
labial com fator de proteção, de pelo menos, 30.
para o câncer de boca e orofaringe em pessoas
• Usar dentaduras mal adaptadas. Evite fontes de assintomáticas. Alguns dentistas ao realizarem o
irritação oral, como dentaduras que não se exame físico da boca e da garganta utilizam
encaixam corretamente, para diminuir o risco de corantes especiais e/ou luzes para procurar por áreas
desenvolver câncer de boca. anormais, especialmente em pacientes com maior
risco desses tipos de câncer. Se uma área anormal
for marcada pelo corante, outras técnicas podem ser
realizados para determinar se pode ser câncer (ou
não), inclusive com a coleta de amostras para uma
biópsia:
• Teste com o corante azul de toluidina. A área
anormal (se existir) ficará azul.
• Teste com laser. A luz refletida de um tecido
anormal, é diferente da luz refletida pelo tecido
normal.
• Outra técnica utiliza uma luz polarizada para
visualizar a área da boca após ser lavada com uma
solução de ácido acético que se degrada com a ação
da luz.
• Se uma área anormal é encontrada, pode ser
realizada citologia esfoliativa para avaliação. Nessa
técnica, a lesão é raspada com uma escova e as
células da amostra retiradas são enviadas para
análise histopatológica.
Referências
- Patologia Básica, Robbins; 9ª ed
- Bogliolo
- Anatomia Orientada para Clínica, Moore.
- Site do INCA
- Patologia Oral e Maxilofacial, Neville, 3 ed.
- Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do
Carcinoma Diferenciado da Tireoide. MS 2014
- Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Câncer
de Cabeça e Pescoço. MS 2015
- Artigo: Tireoidectomia e o impacto na qualidade
de vida das mulheres; Rev enferm UFPE; 2013;
Ana Lúcia Medeiros

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