Você está na página 1de 20

Dicas para usar

Tecnologias em Sala de Aula


com POUCOS RECURSOS

ALEXSANDRO SUNAGA
Conteúdo

Introdução .......................................................................................... 3
Os Desafios ......................................................................................... 4
A Capacitação de professores e alunos ............................................ 8
Infra-estrutura .................................................................................. 9
Falta de material didático............................................................... 10
Dicas para vencer os desafios ........................................................... 11
Baixe os vídeos para utilizá-los em sala de aula ............................. 11
Instale aplicativos didáticos nos celulares ...................................... 12
Utilize os métodos de ensino híbrido ............................................. 13
Sala de Aula Invertida .................................................................. 14
Rotações por Estações ................................................................. 15
Laboratório Rotacional ................................................................ 16
Capacite-se através de cursos e recurso online .............................. 17
Para aprender mais ........................................................................... 18
Sobre o autor .................................................................................... 19
Introdução

O uso da tecnologia em sala de aula muitas vezes é desanimador


quando nos deparamos com a falta de internet. Todo o nosso
planejamento de aula vai por água abaixo quando dependemos
deste valioso recurso. Mas existem maneiras de contornar isso,
vamos aprender com alguns exemplos de professores inovadores
que sempre têm à mão alguma dica importante.

Freqüentemente estou aprendendo com professores de diversos


cantos do Brasil e de diversas realidades. Há alguns anos trabalhei
em um programa da Fundação Lemann chamado Internet na Escola.
Minha função era motivar os professores de algumas regiões do
Brasil a acessar um site para testar sua conexão com a internet.
Assim, tive a oportunidade de conversar com professores e
representantes de secretarias de educação de diversos estados e
assim saber como eles trabalhavam com a tecnologia.

Os problemas de conexão com a internet, a falta de computadores e


projetores multimídia eram freqüentes, inclusive nas secretarias de
educação de alguns estados, o que levou alguns professores a
buscarem alternativas para incluírem a tecnologia em suas aulas.

Para buscar conhecer ainda mais amplamente os problemas


encontrados pelos professores, durante 30 dias impulsionei no
Facebook um formulário online perguntando aos professores quais
eram seus dois principais desafios ao utilizar a tecnologia em sala de
aula. Vou aproveitar este espaço para compartilhar com vocês os
resultados.
Os Desafios

Participaram da pesquisa até o momento (09/10/18 – 9h36 AM) 169


professores distribuídos entre todos os estados brasileiros, com
destaque para São Paulo (29,9%), Minas Gerais (10,2%), Paraná
(8,8%) e Rio Grande do Sul (8,8%).
Gráfico 1 - Estados Brasileiros com professores participantes da pesquisa
online

Quanto ao tipo de escola, houve um bom equilíbrio entre os


participantes, sendo Estadual (35,2%), municipal (29,7%) e particular
(28,3%).
Gráfico 2 - Tipo de escola dos participantes da pesquisa online

A pergunta principal de nossa pesquisa era “Quais são seus dois


principais desafios no uso da tecnologia em sala de aula”. Criamos
uma nuvem de palavras com todas as respostas e apresentamos na
figura 1.

Podemos perceber que a palavra mais comum foi FALTA, que


expressa a ausência de infra-estrutura, tais como internet,
computadores, wi-fi e salas de aula adequadas e também de
capacitação docente e discente quanto ao uso adequado da
tecnologia.
Figura 1 - Nuvem de palavras criada através do site www.wordclouds.com
comm as respostas dos professores participantes da pesquisa.

Para facilitar nosso trabalho de análise, classificamos as respostas de


acordo com a natureza do problema e encontramos quatro desafios
principais: A capacitação do professor, dos alunos, a infra
infra-eestrutura e
o material didático.

Desafios no uso da tecnologia em sala de aula


45
40
Percentual de respostas

35
30
25
20
15
10
5
0
Capacitação do Infra-estrutura Capacitação do aluno Falta de material
professor didático
Gráfico 1 – Principais desafios dos professores no uso da tecnologia em sala
de aula

A Capacitação de professores e alunos

Para que a tecnologia seja devidamente utilizada em sala de aula, os


professores sentem a necessidade de conhecer recursos e
metodologias que possam melhorar sua prática.

A falta de letramento digital é percebida também entre os alunos,


visto que muitos professores relatam que a internet é muitas vezes
utilizada somente para diversão e redes sociais, sendo, portanto
muito difícil motivá-los a engajar-se na aprendizagem através da
tecnologia.
A formação do docente para o uso dessa tecnologia e a
falta dessas tecnologias no espaço escolar.

Professor João, Matemática, Paraíba

Adequar os recursos tecnológicos aos conteúdos


trabalhados e Envolver os alunos nas atividades propostas,
sem perder o foco dos conteúdos.

Professor Benedito, Matemática, Rio Grande do Norte

Letramento dos alunos em uso de tecnologias. Muitos não


sabem usar email e não tem e nem nunca mexeram em um
computador.

Professora Alice, Filosofia, Goiás


Professores não estão abertos para aceitar desafios do uso
de TDIC's

Professora Mara, assessora pedagógica

É importante lembrar que esta geração de educadores está


vivenciando uma transição importante de gerações, a de imigrantes
digitais, que nasceram quando a internet ainda não era difundida e a
de nativos digitais, que nasceram já com a internet popularizada.
Assim, alguma resistência à mudança é esperada, mas não se pode
deixar que ela cause sofrimento aos professores e alunos. Devemos
buscar alternativas que motivem o crescimento de todos os
envolvidos de modo saudável e feliz.

Infra-estrutura

Problemas com acesso à internet, computadores ultrapassados e a


falta de suporte técnico que ajude a mantê-los funcionando parece
ser um desafio comum na maioria das escolas dos professores
participantes. Podemos perceber que este problema não é
característico só de escola pública, mas conseguir internet com fluxo
de dados suficiente para atender as necessidades de conexões é um
problema geral.

Apesar de sabermos que a internet faz parte do cotidiano da maioria


dos alunos brasileiros, as escolas não estão conseguindo alcançar a
qualidade de acesso nem capacitar seus professores e alunos para
utilizá-la para fins didáticos.
Suporte técnico (equipamento / conectividade ) , apoio
pedagógico quanto projeto de inclusão digital ao currículo.

Professor Nazareno, Matemática, Ceará

Meios de todos os alunos estarem conectados durante a


aula e a dificuldade em velocidade de internet, ao passar
arquivos importantes para o momento da aula.

Professora Victoria, Comportamento Relacional, São Paulo

Falta de tecnologia nas escolas e a dificuldade dos


professores desenvolverem boas metodologias com o uso
de tecnologias

Professora Carmem, Gestão, Espírito Santo

Para que a qualidade do sinal de wi-fi e o fluxo de dados sejam


suficientes para uma turma de aluno, não basta montar um roteador
dentro da sala, é preciso também que a velocidade de conexão
contratada seja boa, de preferência dedicada, ou seja, capaz de
manter a velocidade real. O roteador não pode ser comum, precisa
ser capaz de múltiplas conexões de alta velocidade, o que só ocorre
com roteadores profissionais. Esse tipo de equipamento em geral é
mais caro e nem todas as escolas entendem a necessidade deste
investimento e não estão dispostas a arcar com este custo.

Falta de material didático

Neste caso, foram classificados como falta de materiais didáticos a


inadequação dos materiais existentes ao uso da tecnologia e
também ausência de materiais específicos que ensinem a relacionar
o conteúdo tradicional da sala de aula com a tecnologia.
Material ultrapassado e falta de interesse do governo.

Ivan, Informática, São Paulo

Conseguir dominar o avanço tecnológico, bem como


conhecer as diversas ferramentas disponíveis e encaixar os
diversos conteúdos.

Eniandra, Polivante, São Paulo

Muitas editoras neste ano (2018) lançaram materiais didáticos


interativos, ou seja, com links para vídeos, animações 3D e sites com
outros recursos multimídia. Também estão disponíveis nestes
pacotes oferecidos às escolas plataformas onde os professores
podem formar turmas e acompanhar o aprendizado online.

Porém, apesar do material ser interessante, a falta de recursos que


viabilizem seu uso ainda é um limitador na maioria das situações.

Dicas para vencer os desafios

Baixe os vídeos para utilizá-los em sala de aula

Como a internet muitas vezes é lenta ou inexistente, o uso de vídeos


em sala de aula ainda pode ser uma ótima opção. Muitas escolas
possuem disponíveis pelo menos uma smart tv ou um computador,
assim alguns professores optam por baixar o vídeo em casa e levá-lo
em um pendrive para passar para os alunos.

Há muitos tutoriais no próprio Youtube que ensinam a baixar vídeos,


utilizando por exemplo o site Online Video Converter. Porém deve-se
levar em conta que esse procedimento é proibido pelo próprio
Youtube e pelas leis de direitos autorais. Entretanto, há uma
alternativa oferecida pelo próprio Google que é o aplicativo para
celulares e tablets chamado Youtube Go. Através dele é possível
utilizar o wi-fi de casa para baixar os vídeos e assim visualizá-los a
qualquer momento sem precisar da internet.

Dica: Peça para seus alunos instalarem o aplicativo e sempre que


você for utilizar um vídeo em sala de aula, peça para seus alunos
baixarem antes em casa onde eles podem utilizar o wi-fi e trazer para
no dia da sua aula.

Instale aplicativos didáticos nos celulares

Há muitos aplicativos didáticos que, uma vez instalados em tablets,


computadores e smartphones, não precisam de internet para realizar
suas funções básicas.

Vá na loja de aplicativo do seu aparelho celular e digite o nome da


sua disciplina. Você descobrirá diversos aplicativos, alguns deles não
precisam de internet para funcionar. Teste alguns deles e quando
descobrir um que seja adequado aos seus objetivos, peça para seus
alunos também instalarem em seus celulares quando estiverem em
casa e elabore uma atividade em grupo para a próxima aula.
Dica: Os grupos de alunos devem ser organizados de tal modo que a
cada dois ou três alunos pelo menos um tenha o aplicativo instalado,
promovendo assim a participação de todos.

Aplicativos de matemática disponíveis no Google Play

Utilize os métodos de ensino híbrido

Como mencionei acima, há alguns anos participei do Grupo de


Experimentação em Ensino Híbrido organizado pela Fundação
Lemann e o Instituto Península. Para adaptarmos o método do
Blended Learning no Brasil, além dos estudos em grupos, buscamos
realmente aplicar em nossas salas de aula para vivenciarmos as
experiências e a partir dela buscar alternativas viáveis ao Brasil.

Para divulgar nossos resultados, publicamos um livro chamado


Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia na Educação – Editora
Penso e também um curso online gratuito no Coursera com o mesmo
nome.
Dos métodos que descrevemos no livro, gostaria de destacar os que
são mais interessantes para iniciar a transição do ensino tradicional
para o ensino online.

Sala de Aula Invertida

A grande maioria dos alunos possui internet em casa, assim podemos


pensar em aproveitar este recurso para que ele a utilize para sua
aprendizagem. O método da Sala de Aula Invertida, por exemplo,
consiste em indicar atividades online para que os alunos as realizem
em casa para que aprendam um conteúdo novo e depois realizem
atividades presenciais em sala de aula relacionadas ao conteúdo
aprendido.

Estas atividades podem consistir em vídeo aulas, jogos, aplicativos,


pesquisa online, elaboração de mapas mentais, discussões em fóruns
etc. O importante é que se possa promover a autonomia, a auto-
aprendizagem e a personalização do ensino através da tecnologia. O
segundo momento acontece em sala de aula onde os conhecimentos
construídos em casa serão necessários em uma atividade individual
ou em grupo, tal como a resolução de exercícios, elaboração de
projetos, discussões, etc.

Para que o professor saiba de antemão o rendimento dos alunos que


realizaram as atividades em casa é importante que ele também
elabore uma avaliação do que foi visto, por exemplo, através de um
formulário online.

O Google oferece gratuitamente em suas interfaces o Google Forms,


no qual pode-se inserir por exemplo vídeos, perguntas e testes com
correção automática.
Rotações por Estações

Quando a escola possui pouco ou nenhum recurso tecnológico,


podemos contar com alguns recursos que os próprios alunos em sua
maioria possuem, por exemplo os celulares.

Neste método os alunos de uma classe são divididos em grupos que


rotacionam a intervalos regulares por estações de aprendizagem que
possuem objetivos e estratégias diferentes, mas todas são
complementos de um tema principal.

Certa vez organizei meus alunos em cinco grupos de seis alunos.


Tomei o cuidado de indicar em cada grupo um aluno tutor que
possui facilidade em aprender e a ensinar seus colegas.

O tema principal da aula era soma de frações, assim, elaborei seis


estações diferentes:

Estação 1 – Assistir uma vídeo aula que estava salva em um tablet


sobre a soma de frações.

Estação 2 – Lista de exercícios para revisar o cálculo de Mínimo


Múltiplo Comum.

Estação 3 – Apostila ou livro ensinando o que são frações


equivalentes.

Estação 4 – Os alunos deveriam elaborar uma vídeo-aula explicando


o que são frações

Estação 5 – Análise de um texto jornalístico no qual a soma de


frações é utilizada.
Os grupos de alunos tinham somente 15 minutos para realizarem as
atividades propostas em cada uma das estações. Ao término do
tempo, os grupos passavam de uma estação para a outra e o tempo
era reiniciado.

Vejam que a minha presença não é essencial em nenhuma das


estações, o que me proporcionou maior liberdade de circular pela
sala de ajudar os alunos com maiores dificuldades. Meu tempo
também é poupado se considerarmos que em cada grupo há um
aluno responsável também por ajudar os outros.

Laboratório Rotacional

No caso de escolas que possuem um laboratório de informática, mas


que não é suficiente para atender a turma toda, pode-se utilizar este
artifício para que ele atenda uma metade de cada vez.

No laboratório rotacional a turma é dividida em somente dois


grupos, sendo em eles rotacionam somente entre duas estações de
aprendizagem, a sala de informática e a sala de aula.

Assim como no método anterior, temos estações que possuem


estratégias e objetivos diferentes, mas que complementam um tema
principal.

Um colega professor de inglês, por exemplo, organizou sua aula com


o objetivo de expandir o vocabulário dos alunos sobre vegetais que
serviam de alimentos.

Assim, no laboratório de informática um grupo de alunos jogava um


jogo em inglês que simulava um restaurante e os jogadores deveriam
montar as saladas que os clientes estavam pedindo. Já o grupo que
estava na sala de aula estava tendo uma aula com o professor
analisando um texto sobre alimentação saudável.

Dica: Veja que neste caso é preciso que alguém acompanhe os


alunos na sala de informática enquanto o professor ministra a aula
tradicional, pode ser o técnico do laboratório ou um professor
assistente.

Capacite-se através de cursos e recurso online

Assim como ensinamos aos nossos alunos que sempre é tempo de


aprender, precisamos também levar isso à sério em nossas vidas. Os
cursos online são excelentes alternativas para a vida corrida do
professor. Além de poder ser acessados a qualquer momento através
de computadores ou dispositivos móveis, o professor não precisa
deslocar-se até um centro de treinamento assistir as aulas,
economizando assim tempo e dinheiro.

As secretarias de educação dos diversos estados promovem


capacitação online aos seus professores, além de conhecimento, os
professores ganham também pontuações que podem ajudar em sua
promoção de carreira.

O site do Porvir.org possui muitos recursos e exemplos de inovação


em sala de aula, temos por exemplo matérias especias de tecnologia
na educação, educação mão na massa e o Diário de Inovações, onde
qualquer professor pode acessar e compartilhar sua experiência para
que outros aprendam com ele.

Outro portal muito interessante é o Plano de aula da Nova Escola


onde podemos encontrar diversos exemplos criativos de aulas em
diversas áreas de ensino e também compartilhar nosso próprio plano
de aula.

Para aprender mais

BACICH, Lilian; MORAN, José Manuel. Aprender e ensinar com foco


na educação híbrida. Revista Pátio, v. 17, n. 25, p. 45-47, 2015.

BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi; DE MELLO TREVISANI, Fernando.


Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Penso
Editora, 2015.

CANNATÁ, VERÔNICA. Ensino híbrido na educação básica: narrativas


docentes sobre a abordagem metodológica na perspectiva da
personalização do ensino. 2017.

HORN, Michael B.; STAKER, Heather; CHRISTENSEN, Clayton.


Blended: usando a inovação disruptiva para aprimorar a educação.
Penso Editora, 2015.

RODRIGUES, Eric Freitas. Tecnologia, Inovação e Ensino de História: o


Ensino Híbrido e suas possibilidades. 2017.
Sobre o autor

Desde criança eu sou fascinado por tecnologia. Meu sonho era ser
astronauta e viajar pelas estrelas conhecendo novas civilizações,
como isso ainda não é possível. Decidi pela carreira científica e passei
um ano trabalhando como pesquisado na Universidade de Konstanz
onde consegui fazer testes em um laser que seria utilizado em um
satélite. Espero que pelo menos minhas digitais tenham chegado ao
espaço 

De volta ao Brasil participei de uma seleção de professores para


formar o Grupo de Experimentações organizado pela Fundação
Lemann e o Instituto Península. Dentre 1500 candidatos foram 16
professores selecionados para estudar e adaptar à realidade
brasileira o método do Blended Learning que aprendemos
diretamente com Michael Horn do Instituto Christensen, deste
trabalho surgiu um livro e um curso online gratuito para os
professores.
Desde então tenho realizado palestras, workshops, consultoria e
elaborado cursos online voltados à formação de professores no uso
adequado da tecnologia na educação.

Claro que ainda não deixei meu sonho de conhecer as estrelas e


neste ano (2018) terminei meu mestrado em ensino de astronomia
na USP.

Conheça mais do meu trabalho nestes links:

Site: https://www.alexsandrosunaga.com/

Blog: https://alexsandrosunaga.wordpress.com/

Youtube: https://www.youtube.com/user/alesunaga

Cursos online: https://www.udemy.com/user/alexsandrosunaga/

Você também pode gostar