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Direito digital

Camilla de Oliveira Vieira


Lorena Malta Bisinotto
© 2020 by Universidade de Uberaba

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Pró-Reitor de Educação a Distância


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Coordenação de Graduação a Distância


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Produção de Materiais Didáticos-Uniube

Editoração
Stela Maria Queiroz Dias

Revisão textual
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Diagramação
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Ilustrações
Rodrigo de Melo Rodovalho

Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio

Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário

Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube

Vieira, Camilla de Oliveira.


V676d Direito digital / Camilla de Oliveira Vieira, Lorena Malta Bisinotto. – Uberaba:
Universidade de Uberaba, 2020.
166 p. : il.
Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba.
Inclui bibliografia.
ISBN

1. Direito civil. 2. Direitos autorais. 3. Contratos eletrônicos. 4. Inteligência artificial. I.


Bisinotto, Lorena Malta. II. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância.
III. Título.
Sobre as autoras
Camilla de Oliveira Vieira

Doutora e mestre em Educação pela Universidade de Uberaba (Uniube).


Especialista em Direito Processual pela Universidade de Uberaba
(Uniube). Graduada em Direito pela Universidade de Uberaba (Uniube).
Licenciada em Letras Português-Espanhol pela Universidade de Uberaba
(Uniube). Gestora dos cursos de Administração, Gestão Financeira,
Gestão da Qualidade, Comércio Exterior, Gestão Pública, Processos
Gerenciais, Gestão em Logística, Serviços Jurídicos e Notariais e
Ciências Contábeis na modalidade EaD, da Universidade de Uberaba
(Uniube). Docente responsável por produção de materiais didáticos e
professora-tutora em diversas disciplinas na EaD Uniube. Desenvolve
pesquisa nos campos da Educação, Ensino Jurídico, Direito, EaD,
Cidadania e Democracia com ênfase na área de Direito Econômico e
Empresarial.

Lorena Malta Bisinotto

Especialista em Direito Penal e Processual Penal pela Faculdade


Damásio Educacional. Graduada em Direito pela Universidade de
Uberaba (Uniube). Professora dos cursos de Administração, Gestão
Financeira, Gestão Pública, Processos Gerenciais e Ciências Contábeis
na modalidade EaD na Universidade de Uberaba (Uniube). Advogada
atuante nas áreas de Direito Civil, Trabalhista, Previdenciária e
Criminalista.
Sumário
Apresentação.............................................................................................................. VII

Capítulo 1 A sociedade digital................................................................. 1


1.1 Aspectos históricos das revoluções “não apenas” industriais.................................. 4
1.1.1 Primeira Revolução......................................................................................... 6
1.1.2 Segunda Revolução........................................................................................ 7
1.1.3 Terceira Revolução......................................................................................... 8
1.1.4 Quarta Revolução........................................................................................... 9
1.2 A era da informação e o poder da internet............................................................. 11
1.3 Conclusão............................................................................................................... 18

Capítulo 2 O Direito aplicado à sociedade digital................................ 21


2.1 Alguns conceitos importantes para compreender o Direito Digital........................ 22
2.2 Quais os principais desafios do Direito Digital?..................................................... 27
2.3 Marco Civil da Internet............................................................................................ 31
2.3.1 Princípios fundamentais do Marco Civil da Internet ....................................32
2.3.2 Direitos e garantias dos usuários.................................................................. 34
2.4 Conclusão............................................................................................................... 35

Capítulo 3 Crimes digitais..................................................................... 39


3.1 O que é crime digital ou cibercrime e qual seu impacto na sociedade?................ 42
3.2 Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012........................................................... 49
3.2.1 Invasão de Dispositivo Informático............................................................... 50
3.3 Conclusão............................................................................................................... 53

Capítulo 4 O direito autoral na perspectiva digital................................ 57


4.1 O que são direitos autorais e quais são os direitos relacionados?........................ 59
4.1.1 Direito moral e Direito patrimonial................................................................. 61
4.2 Legislação própria dos direitos autorais................................................................. 66
4.2.1 Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998...................................................... 68
4.3 Violação ao direito autoral no ambiente digital....................................................... 71
4.4 Conclusão............................................................................................................... 73
Capítulo 5 Negócios digitais................................................................. 77
5.1 E-business: diversas oportunidades para um mundo de possibilidades .............. 78
5.2 Transformação, otimização, integração e humanização dos negócios ................ 81
5.3 Desafios e vantagens dos negócios eletrônicos .................................................. 85
5.3.1 Vantagens dos negócios eletrônicos............................................................ 86
5.3.2 Desafios dos negócios eletrônicos............................................................... 89
5.4 Conclusão............................................................................................................... 90

Capítulo 6 Contrato digital.................................................................... 93


6.1 Conceito, formação e formas de contratação e-commerce................................... 94
6.1.1 Conceitos e vantagens ...........................................................................95
6.1.2 Pressupostos e requisitos de validade ........................................................98
6.1.3 Formas de contratação ..............................................................................100
6.2 Ferramentas de segurança eletrônica ................................................................ 101
6.3 Pagamentos eletrônicos....................................................................................... 106
6.4 Conclusão............................................................................................................. 108

Capítulo 7 Dúvidas frequentes sobre os contratos eletrônicos.......... 113


7.1 Legislação, órgãos reguladores e jurisdição........................................................ 115
7.1.1 Invasão de Dispositivo Informático............................................................. 115
7.1.2 Quais órgãos reguladores são responsáveis pela regulamentação
de tarifas e encargos de comércio eletrônico, proteção de dados e
acesso à Internet?......................................................................................116
7.1.3 Quais critérios são aplicados pelos tribunais para determinar a jurisdição
quando há divergência de localidade entre os contratantes pela
Internet?.......................................................................................................117
7.1.4 Existem leis diferentes para contratos celebrados entre fornecedor x
consumidor e fornecedor x fornecedor ?...................................................118
7.1.5 Quais os principais direitos remetidos ao consumidor que opta por
compras on-line? .......................................................................................120
7.2 Publicidade on-line................................................................................................ 122
7.2.1 Como a publicidade on-line é definida? .................................................... 122
7.2.2 Há regras específicas para publicidade na internet?................................ 123
7.2.3 Existem regras contra a publicidade ilegal on-line?.................................. 124
7.2.4 Existem produtos ou serviços que não podem ser anunciados
na Internet?................................................................................................ 125
7.2.5 Há regras específicas para a publicidade ou venda de produtos e serviços
financeiros a consumidores ou empresas via Internet? ........................... 125
7.2.6 O que são SPAMs e como evitá-los?........................................................ 126
7.3 Conclusão............................................................................................................. 129
Capítulo 8 Contrato digital.................................................................. 133
8.1 Aspectos históricos e conceitos fundamentais....................................................135
8.2 Por que a Inteligência Artificial é importante?.......................................................139
8.2.1 Amplamente utilizado em sistemas bancários e financeiros......................139
8.2.2 Uma forte aliada da ciência médica............................................................139
8.2.3 Gerenciamento de negócios........................................................................140
8.2.4 Uso eficiente no transporte aéreo................................................................141
8.2.5 Outra forma de entretenimento....................................................................141
8.2.6 Os benefícios para o agronegócio...............................................................141
8.3 Regulamentação...................................................................................................143
8.3.1 Perspectiva internacional............................................................................143
8.3.2 O que diz a OCDE - Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico sobre a Inteligência Artificial?.....................146
8.3.3 A realidade brasileira até 2020....................................................................149
8.4 Conclusão..............................................................................................................151
Apresentação
Prezado(a) aluno(a), é um prazer tê-lo(a) conosco.

O Direito Digital pode ser entendido como a ciência que estuda nossos
direitos civis comuns expressos e traduzidos no domínio da esfera digital.
Uma vez que os direitos civis são universais, devem ser garantidos
também no ambiente virtual.

O direito de compartilhar informações, o direito de proteger a privacidade,


a liberdade de expressão, o direito de aprender, o direito de acessar
o conhecimento, o direito de reunião ou direitos do consumidor estão
entre os direitos comuns que se aplicam no mundo digital, por isso serão
abordados neste livro.

Vários desses direitos ganham nova importância devido ao ambiente


digital em que são colocados. O direito de acessar o conhecimento
é fortalecido à medida que as possibilidades de acesso a ele são
ampliadas devido aos avanços tecnológicos. Esse fato confere uma nova
importância a esses direitos.

Embora estes sejam direitos que podemos ter como garantidos, o fato
é que o mundo digital é um novo ambiente, e esses direitos precisam
ser discutidos, aprendidos e reconfigurados para se adequarem às
necessidades contemporâneas.

Este livro foi dividido em 8 capítulos, que estão apresentados da seguinte


forma.
No capítulo 1, abordamos A SOCIEDADE DIGITAL com foco nos
aspectos históricos das revoluções “não apenas” industriais: Primeira
Revolução, Segunda Revolução, Terceira Revolução e Quarta Revolução.
Por meio desses conteúdos, é possível perceber a relação existente entre
a era da informação e o poder da internet no contexto atual.

Após compreender como a sociedade digital foi se construindo ao


longo do tempo, no capítulo 2, abordamos O DIREITO APLICADO À
SOCIEDADE DIGITAL. Nesse capítulo, tratamos sobre alguns conceitos
importantes para compreender o Direito Digital, mencionando os
principais desafios dessa área frente ao Marco Civil da internet. Refletir
sobre os princípios fundamentais do Marco Civil da internet é fundamental
para compreender os direitos e as garantias dos usuários.

No capítulo 3, tratamos sobre os CRIMES DIGITAIS. Esses crimes se


tornaram uma questão internacional significativa como resultado dos
enormes danos que causam aos negócios e até aos usuários comuns
de tecnologia. O principal objetivo do capítulo é esclarecer os crimes
digitais e fornecem uma visão geral sobre o que uma pessoa relacionada
à gestão organizacional deve saber sobre o assunto. Iniciamos com os
conceitos relacionados ao crime digital e qual seu impacto na sociedade;
analisamos a Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012, e abordamos
a possibilidade de invasão de dispositivo informático.

Em sequência, no capítulo 4, abordamos o DIREITO AUTORAL NA


PESPECTIVA DIGITAL, uma vez que os direitos autorais evoluíram em
resposta a invenções tecnológicas posteriores. O desafio mais recente
até o momento são as tecnologias digitais, que permitem a reprodução
em massa e a distribuição de informações digitalizadas. As possibilidades
de digitalização de músicas, filmes, textos e desenhos em 3D e sua
subsequente distribuição pela internet com hardware disponível para
milhões de pessoas em todo o mundo criam questões fundamentais e
muito interessantes sobre direitos autorais.
No capítulo 5, tratamos sobre os NEGÓCIOS DIGITAIS. Além dos
conceitos e características, abordamos seu histórico, suas variantes,
elementos e aplicações. Por meio desse capítulo, além de você
compreender como funcionam os negócios eletrônicos, seus benefícios,
riscos e componentes, vai ter a oportunidade de correlacionar as
situações de negócio com os cenários comerciais das organizações e
poder interpretar os resultados e cenários das operações de negócios
eletrônicos visando a melhoria da gestão organizacional.

Posteriormente, no capítulo 6, você vai encontrar uma abordagem sobre


o CONTRATO ELETRÔNICO. Iniciamos listando e explicando as formas
de contratação, especificaremos os pressupostos, requisitos e validade,
bem como trataremos das modalidades de adimplemento. Ainda nesse
capítulo, você estudará sobre a eficácia probatória do documento
eletrônico com os respectivos mecanismos de segurança incluindo
assinatura eletrônica, assinatura digital, criptografia e autenticação e
certificação digital.

No capítulo 7, abordamos a temática sobre o Direito Digital relacionado


à proteção do Direito do Consumidor. Assim, trataremos da proteção
de dados pessoais na internet; da exigência do consentimento e
suas exceções; da boa-fé objetiva, das expectativas legítimas do
consumidor e os riscos do tratamento de dados pessoais; bem como,
dos procedimentos para a garantia do direito básico do consumidor à
fiscalização, aplicação de sanções e reparação de danos.

Por fim, no capítulo 8, finalizamos os estudos sobre Direito Digital


tratando sobre a INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, quanto à sua definição,
ao histórico e às responsabilidades geradas por sua criação. Esse tema
se justifica uma vez que a inteligência artificial (IA) é um ramo abrangente
da ciência da computação, preocupado com a construção de máquinas
inteligentes capazes de executar tarefas que normalmente exigem
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inteligência humana. Neste sentido, a IA é uma ciência interdisciplinar


com múltiplas abordagens, que provocou uma mudança de paradigma
em praticamente todos os setores da vida em sociedade.

Bons estudos!
Capítulo A sociedade digital
1

Introdução
Com a notoriedade da internet e o consequente aumento do uso
de redes sociais, aplicativos, e demais recursos que envolvem
o comércio digital, cresce a importância de estudos na área que
possibilitam maior preparo profissional para lidar com demandas
que envolvem direitos autorais, privacidade, uso de voz e imagem
e demais desafios possibilitados pela globalização digital.

O Direito Digital é um assunto novo, que vem crescendo no ramo


jurídico e se estruturando frente à grande necessidade de se
encontrar soluções para os problemas complexos que envolvem
a revolução tecnológica.

Diante da interdisciplinaridade do Direito Digital, você irá perceber


que se trata de um ramo do Direito que dialoga frequentemente
com outras áreas da ciência, por isso profissionais que pretendem
se especializar e construir uma carreira na área devem considerar
a aquisição de uma visão holística das ciências sociais e
possibilitar o intercâmbio de ideias frente às especificidades do
ordenamento jurídico.

O profissional almejado pelo mercado atual deve demonstrar


um perfil dinâmico, com grande capacidade de interpretação e
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raciocínio jurídico, agindo com criatividade, conhecimento e inovação


para oferecer boas soluções às organizações como um todo.

Para tanto, este primeiro capítulo tem como princípio disponibilizar


informações para que o tema seja considerado em seu contexto
histórico e compreendido nos limites de suas especificidades sociais,
considerando principalmente as controvérsias existentes.

Por que falaríamos em controvérsias ao estudar o Direito


Digital?
Podemos afirmar que as controvérsias são inerentes à condição
humana e existem em praticamente todos os níveis de conhecimento
capazes de promover o progresso, fornecendo desafios e
questionamentos ao status quo dominante. Entendemos controvérsias
como discussões de questões em que opiniões conflitam, podendo
criar atmosferas em que conflitos florescerão num contexto
aparentemente pacífico e estático.

Em foco, todo esforço é feito para garantir que os conhecimentos


aqui construídos não se tornem rapidamente desatualizados e
que, portanto, sirvam para a formação de um profissional seguro,
consistente e preparado para o mercado de trabalho. Esperamos que
você perceba a existência de muitas respostas viáveis para problemas
complexos aqui trabalhados.

• Você quer entender como as tecnologias digitais estão mudando


o mundo?
• Você está preparado para desenvolver conhecimentos e
habilidades para garantir que as tecnologias digitais tragam bons
resultados para diferentes grupos sociais?
• Você está aberto a várias perspectivas disciplinares e está
disposto a aprender como combiná-las?

Então, esta disciplina é para você.


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Objetivos
O presente capítulo tem como objetivo principal conhecer o que
se tem denominado Sociedade Digital. Por isso, seus objetivos
específicos são:

• conhecer historicamente no que consistem as revoluções


industriais e seus impactos nos meios de produção;
• bem como investigar de que forma a revolução da informação
impactou a contemporaneidade.

Esquema
1.1 Aspectos históricos das revoluções “não apenas” industriais
1.1.1 Primeira Revolução
1.1.2 Segunda Revolução
1.1.3 Terceira Revolução
1.1.4 Quarta Revolução
1.2 A era da informação e o poder da internet
1.3 Conclusão

O que a revolução tecnológica introduz em nossas


sociedades não é tanto uma quantidade inusitada de
novas máquinas, mas, sim, um novo modo de relação
entre os processos simbólicos – que constituem o cultural
– e as formas de produção e distribuição dos bens e
serviços: um novo modo de produzir, confusamente
associado a um novo modo de comunicar, transforma
o conhecimento numa força produtiva direta
(MARTIN BARBERO, 2006, p. 54).
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1.1 Aspectos históricos das revoluções “não apenas”


industriais

Tente imaginar como seria sua vida sem que nenhuma máquina
trabalhasse para você. Faça uma lista dos equipamentos eletrônicos
que existem em sua casa...

Você vai se surpreender!

Agora imagine a infância das gerações anteriores. Do que eles


brincavam? Como eles se transportavam de um lugar para outro? Como
se comunicavam?

Você já ouviu de parentes mais velhos sobre os tempos antigos e


como as coisas eram diferentes? Com certeza você pode perceber o
quanto o mundo mudou nos últimos 50 anos. O próprio fato de cursar o
Ensino Superior na modalidade a distância com acesso a vídeos, chats,
ambientes virtuais e outras coisas mais seria impensável quando seus
pais, e muito menos seus avós, eram crianças.

Mas imagine se você fosse parte de uma geração que viu o mundo
mudar de formas que não eram vistas há centenas de anos? Foi o que
aconteceu com as pessoas que viveram o início das revoluções de que
trataremos neste capítulo.

Ainda que 99% dos manuais de História e Sociologia tratem os


períodos que estudaremos a seguir como revoluções industriais, ao
final deste capítulo esperamos que você compreenda nossa intenção
de ter denominado o item 1.1 como Aspectos históricos das revoluções
“não apenas” industriais. Esperamos que você perceba que, embora
o pontapé inicial para transformações tão importantes tenha sido o
modo de produção, as transformações sobre as quais falaremos aqui
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extrapolam o universo econômico e permeiam os aspectos culturais,


sociais e humanos dos grupos sociais em geral.

Outra reflexão relevante para a compreensão deste capítulo é provocada


pelo fato de apesar de o termo revolução remeter à sensação de
rompimento em que uma dada situação deixa de existir para inaugurar
um novo cenário, as revoluções chamadas industriais (I, II, III e IV) devem
ser entendidas como processos históricos dialéticos. Logo, não podem
ser datadas a partir de um fato pontual, e, sim, como uma sequência
de acontecimentos que engendraram transformações constantes como
resumido na Figura 1 a seguir:
Figura 1: As revoluções industriais.

Fonte: Nascimento; Bertolotto; Ramalhoso (2017).

IMPORTANTE!

Vamos entender historicamente no que consistem as revoluções industriais


e seus impactos nos meios de produção?
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1.1.1 Primeira Revolução

Até 1774, o comércio era movimentado por produtos manufaturados em


casa de modo artesanal. O mercado têxtil era o mais representativo e,
para ganho de escala, a energia a vapor foi incorporada mecanizando o
processo e proporcionando o surgimento da indústria que deu origem à
Primeira Revolução Industrial.

Neste sentido, o final do século XVIII ficou conhecido como um marco


na história, devido ao predomínio da força mecânica sobre as pessoas
e animais, por conta da introdução de energia a vapor na dinâmica de
trabalho.

Landes (apud MOTOYAMA, 1995) determina três principais transformações


no processo de produção ocorridas durante o período supracitado,
conforme se vê na Figura 2.

Figura 2: Transformações básicas da Primeira Revolução Industrial.

a) substituição da c) utilização de novas


habilidade e esforço matérias-primas e mais
humanos pelas abundantes.
máquinas

b) introdução das máquinas


que convertem calor em
trabalho, proporcionando
um novo suprimento de
energia.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Para Conceição (2012, p.91), “esses aperfeiçoamentos, que constituíram


a Revolução Industrial, geraram o aumento sem precedente da
produtividade e, consequentemente, um aumento da renda per capita”.
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Andrade (2017, p.19), em seu artigo, esclarece que


Para Drucker (2000), a estrada de ferro, originada
em 1829, foi o elemento mais revolucionário que esta
Revolução Industrial proporcionou, transformando
efetivamente a economia, sociedade e política.
Tal fato justifica-se, pois as ferrovias não apenas
produziram uma nova dimensão econômica, mas
também transformaram rapidamente a noção de
espaço geográfico. Drucker (2000, p. 2) afirma que:
“Pela primeira vez na história, as pessoas tinham
mobilidade real. O horizonte das pessoas comuns se
ampliou, também pela primeira vez. Elas se deram
conta imediatamente de que estava ocorrendo uma
transformação fundamental na mentalidade”.

1.1.2 Segunda Revolução

Em 1870, teve início a Segunda Revolução Industrial, destacando-se


a utilização da energia elétrica para acionar linhas de produção. Essa
revolução foi marcada pela expansão da produção em série, conceito
utilizado na linha de montagem de Henry Ford (1863-1947).
Segundo Andrade (2017, p.20),

Almeida (2005) afirma que durante a Segunda


Revolução Industrial o foco das transformações
observadas na economia mundial recai sobre a
eletricidade e a química. Segundo o autor, tais
elementos proporcionaram o surgimento de novos tipos
de motores (elétricos e à explosão), de novos materiais
e processos de fabricação, de grandes empresas, e
do telégrafo sem fio e rádio, responsáveis por difundir
instantaneamente a informação [...]
Moraes e Fadel (2008, p.2) destacam o surgimento de
“[...] uma radical modificação na divisão do trabalho, o
que coincidiu justamente com a descoberta de novos
materiais, como o aço e o petróleo, a energia elétrica,
o motor à combustão, o telégrafo, o telefone, entre
outros”.
Dessa maneira, o período passa por um aprofundamento
das descobertas técnicas e científicas, sendo que as
inovações nos campos da telemática, biotecnologia,
informática e novos materiais impulsionaram a
8 UNIUBE

transformação do padrão organizacional produtivo e


trabalhista (MORAES; FADEL, 2008).

No âmbito das relações de trabalho, Ribeiro e Cunha (2005, apud


ANDRADE, 2017, p. 21, 22) afirmam que os princípios do taylorismo
estão baseados nas seguintes premissas conforme Figura 3:

Figura 3: Premissas do taylorismo.

Separação entre
Produção em Repartição de os trabalhos de O trabalho
massa tarefas concepção e individualizado
execução

Fonte: Elaborado pelas autoras.

No final da década de 1960, o controlador lógico programável e a


eletrônica foram integrados ao controle das máquinas, tornando-as mais
flexíveis, avançando com a utilização de robôs, o que caracterizou a
Terceira Revolução.

1.1.3 Terceira Revolução

Ainda que muitos acreditem que a Terceira Revolução Industrial teve


sua origem nos anos de 1990 quando as pessoas tiveram acesso aos
primeiros computadores domésticos e a internet se popularizou no
cenário mundial, seu surgimento, na verdade, passou a ser observado
por volta de 1950 quando expandiu o acesso à informatização e à
robótica, que passaram a ser integradas aos meios de produção.

A Terceira Revolução Industrial ficou conhecida também como Revolução


Informacional devido à intensa presença digital. Milhares de produtos com
tecnologia avançada foram criados a partir da década de 1950 e estão
sendo melhorados até os dias atuais, como: computadores, celulares,
satélites, internet, programas de computador, foguetes etc.
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Andrade (2017, p.23) traz-nos a visão de outros estudiosos sobre essa fase:

Neste sentido, Almeida (2005) ressalta que a Terceira


Revolução Industrial impulsionou o desenvolvimento
de circuitos eletrônicos e, em seguida, os circuitos
integrados, também conhecidos como microchips. Tais
elementos transformaram abruptamente os meios de
informação e comunicação, com a explosão da internet
e do e-commerce.
Moraes e Fadel (2008) destacam o surgimento do
computador como principal ferramenta de alteração
profunda nos meios de comunicação, capaz de alterar
drasticamente os modelos de produção e de trabalho.
Segundo as autoras, O aparecimento e desenvolvimento
do computador e a sua mais recente associação
junto aos meios de comunicação já existentes, como
a televisão e o telefone, confirmam a passagem para
um estágio superior na produção de informações e
comunicações (MORAES; FADEL, 2008, p.2).
Para Conceição (2012), a combinação de componentes
específicos em um único circuito integrado possibilitou
uma redução drástica nos custos (produção,
armazenamento, processamento e transmissão de
informações), além de uma melhora no desempenho
de objetos e processos produtivos. De acordo Silva,
Silva e Gomes (2002), a Terceira Revolução Industrial
incorpora os avanços referentes à microeletrônica e
à informática aos processos produtivos objetivando
desenvolver produtos com qualidades melhores e mais
competitividade no mercado.

1.1.4 A Quarta Revolução

A Quarta Revolução Industrial, conhecida como Indústria 4.0, começou


a ser observada a partir de 2010 devido à demanda de produtos
personalizados e o fácil acesso às tecnologias. Este momento representa
uma mudança fundamental na maneira como os sujeitos trabalham,
vivem e relacionam-se uns com os outros. Trata-se de um novo capítulo
na história do desenvolvimento humano, possibilitado por extraordinários
avanços tecnológicos proporcionais aos da primeira, segunda e terceira
revoluções industriais.
10 UNIUBE

Ocorre que referidos avanços possibilitam a congruência dos mundos


físico, digital e biológico de maneiras que criam grandes possibilidades
tanto de avanços quanto retrocessos. A velocidade, a amplitude e a
profundidade dessa revolução nos provocam um novo olhar para o
desenvolvimento dos países, para o valor gerado pelas organizações
bem como para o papel do ser humano nesse engendramento.

Neste sentido, a Quarta Revolução Industrial é mais do que apenas


uma mudança impulsionada pela tecnologia; é uma oportunidade para
repaginar a vida em coletividade, formular novas políticas, ir em busca
da conquista de novos direitos e sobretudo (re)significar as tecnologias
convergentes para criar um contexto inclusivo e democrático.

Como podemos perceber a Quarta Revolução Industrial representa


as mudanças exponenciais na maneira como lidamos com o mundo
devido à adoção de sistemas ciberfísicos. À medida que implementamos
tecnologias inteligentes em nossas vidas, as máquinas conectadas
interagem, visualizam toda a cadeia de produção e tomam decisões de
forma autônoma por nós.

Em seu livro “A Quarta Revolução Industrial”, o professor Klaus Schwab,


fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, descreve
o enorme potencial para as tecnologias da Quarta Revolução Industrial,
bem como os possíveis riscos. Segundo ele:

As mudanças são tão profundas que, do ponto de vista


da história humana, nunca houve uma época de maiores
promessas ou riscos potenciais. Minha preocupação,
no entanto, é que os tomadores de decisão são muito
frequentemente capturados em tradições tradicionais
e não disruptivos ao pensar ou ser muito absorvido por
preocupações imediatas para pensar estrategicamente
sobre as forças de ruptura e inovação que moldam
nosso futuro. (SCHWAB, 2016, p. 32)
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Por isso, a disciplina Direito Digital busca oportunizar um olhar para além
da tecnologia na expectativa de encontrar maneiras de possibilitar ao
maior número de pessoas a capacidade de impactar positivamente suas
organizações e comunidades.

1.2 A era da informação e o poder da internet


A Internet é um conjunto de padrões tecnológicos
que permite a interconexão de uma série de redes de
hardwares distintos que, em conjunto com softwares
variados, habilita a interconexão de um sem-número
de outros tipos de redes – sociais, econômicas,
políticas – espalhadas pelos quatro cantos do planeta.
Por isso, a Internet é muito capilarizada, robusta e
resiliente, e parece tarefa hercúlea inviabilizar toda esta
infraestrutura de uma vez só, bem como bloquear todos
os caminhos alternativos pelos quais os fluxos de dados
e informações circulam de maneira geograficamente
distribuída através de distintas linhas de comunicação.
(CEPIK; CANABARRO; BORNE, 2014, p.179)

O surgimento do computador pessoal na década de 1970, a interface


gráfica do usuário na década de 1980, a World Wide Web na década
de 1990 e hoje a ‘Internet das Coisas’ lançaram nossa sociedade global
na chamada ‘era da informação’. Para um pequeno grupo de pessoas,
faz parte do seu trabalho diário pensar conscientemente sobre o que
isso realmente significa: estudiosos, hackers, artistas, blogueiros ativos
e alguns políticos examinaram, por exemplo, como a democracia, o
capitalismo, a solidariedade, a intimidade ou o senso de presença física
podem ser conquistados no ambiente digital.

No entanto, para a grande maioria das pessoas, as mudanças digitais


acontecem fora de sua percepção consciente. Eles são apenas
confrontados com demandas e exigências em constante mudança
para sua vida social: precisam de digitais para se comunicarem com
instituições governamentais; sentem a necessidade de possuir um
smartphone e criar uma página no Facebook para manter contato com
12 UNIUBE

a família ou sentem a pressão constante para atualizar o software e o


hardware do computador para não deixar de usar.

Ao mesmo tempo, as tecnologias e os processos que estão por trás


dessas mudanças se tornaram cada vez menores, mais complexos
e mais ocultos em nosso ambiente físico diário. É difícil, em suma,
encontrar uma linguagem única sobre como nossas vidas pessoais
e relações de poder social estão realmente mudando em relação às
tecnologias digitais.

A internet é a tecnologia decisiva da Era da Informação e, com a explosão


de comunicação sem fio no início do século XXI, podemos dizer que
a humanidade é agora quase inteiramente conectada, embora com
grandes níveis de desigualdade de acesso às redes móveis.

Computadores, internet e outras tecnologias da informação são


extraordinariamente ferramentas poderosas. Como tal, têm um grande
potencial para beneficiar e prejudicar as sociedades que as transformam
em hábito e produto de consumo.

Por exemplo, a mesma Internet que tem sido usada para tornar as
empresas mais eficientes, democratizar a educação e conectar pessoas
separadas por grandes distâncias também produziu um novo caminho
para a fraude, o roubo, a invasão de privacidade e a disseminação de
discursos de ódio. Esta defesa é observada nas palavras de Cepik et.
al. (2014, p. 161):
O crescimento do ciberespaço e o aumento do número
de usuários da Internet, a partir da comercialização
do acesso à rede em 1995, fizeram com que ela
alcançasse o status de serviço público global
(BLUMENTHAL e CLARK, 2009, p. 207) e passasse
a ser considerada a “espinha dorsal” do mundo
globalizado (KURBALIJA e GELBSTEIN, 2005,
p. 7; ZUKANG, 2007, p. 6). Contudo, à medida que
cresce a dependência da sociedade em relação a
UNIUBE 13

sistemas informáticos e computacionais, bem como


se diversificam as possibilidades de aplicação destas
tecnologias para fins lícitos e ilícitos, intensifica-
se o debate em torno dos desafios que a era digital
apresenta à segurança nacional e internacional.

Como observado, um dos objetivos desta disciplina é explorar algumas


controvérsias sociais, políticas e econômicas que dominam o cenário
globalizado da informação a fim de compreendermos a relevância do
Direito Digital ainda que não seja um ponto pacífico no campo jurídico e
tecnológico.

EXPLICANDO MELHOR

Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 no World Trade Center


e no Pentágono são exemplos do poder da Internet como uma ferramenta
para o bem e para o mal e a necessidade de aprofundar neste assunto por
impactar inclusive a segurança nacional.
Antes mesmo dos ataques ao Pentágono e ao World
Trade Center, em 2001, o governo norte-americano
considerava a possibilidade de que organizações
terroristas fizessem uso da Internet para infligir
algum tipo de dano às instituições e à infraestrutura
do país (WEIMANN, 2004b, apud CEPIK, et al,
2014, p. 170).
Segundo Cepik et. al, (2014, p. 161), “o 11 de Setembro revelou que, antes
de ser um alvo preferencial da ação de grupos terroristas, a rede pode ser
considerada uma ferramenta polivalente de suporte a suas atividades”...
“Após os atentados, a ameaça terrorista ganhou proporções descomunais na
agenda de segurança dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, o crescimento
da importância do ciberespaço para as atividades humanas implicou sua
inclusão nos debates sobre segurança nacional” (idem, p.170).
14 UNIUBE

A partir destas considerações, podemos concluir que o anonimato


da internet faz com que ela seja uma rede de comunicação atraente
para criminosos e, por outro lado, a tecnologia da informação também
desempenhou um papel no 11 de Setembro, ajudando a nação a se unir
em um momento de crise.

A internet é a tecnologia decisiva da Era da Informação, da mesma


forma que o motor elétrico foi o vetor de transformação tecnológica da
Era Industrial. Essa rede global de computadores, hoje amplamente
baseada em plataformas de comunicação sem fio, fornece capacidade
onipresente de comunicação interativa multimodal no tempo escolhido,
transcendendo o espaço.

A internet não é realmente uma nova tecnologia: seu ancestral, o


Arpanet, foi implantado pela primeira vez em 1969. Mas foi na década
de 90, quando foi privatizada e liberada do controle do Departamento
de Comércio dos EUA, que difundiu pelo mundo com uma velocidade
extraordinária: em 1996, a primeira pesquisa com usuários da internet
contava com cerca de 40 milhões; em 2013, são mais de 2,5 bilhões,
com a China, respondendo pelo maior número de usuários da internet.

Thiago Lavado, no G1 de 28.08.2019, em seu artigo - Uso da internet no


Brasil cresce e 70% da população está conectada -, afirma que
No Brasil, o número de brasileiros que usam a internet
continua crescendo: subiu de 67% para 70% da
população, o que equivale a 126,9 milhões de pessoas.
Esse dado é parte da nova edição da pesquisa
TIC Domicílios, divulgada no segundo semestre de
2019, que afere dados sobre conexão à internet nas
residências do país. A pesquisa, feita anualmente pelo
Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da
Sociedade da Informação (Cetic), é uma das principais
no país.
UNIUBE 15

Veja outros destaques da pesquisa na Figura 4.

Figura 4: O Brasil na internet.

Fonte: Adaptado de Lavado (2019).


16 UNIUBE

Lavado (2019) ainda informa que


Segundo Winston Oyadomari, coordenador de
pesquisas no Cetic, o Brasil tem um crescimento
importante nesses indicadores. “Países desenvolvidos
na América do Norte e Europa têm uso da internet de
80% para mais. Países em desenvolvimento, do leste
europeu e árabes, ficam em torno de 50% a 60%. Isso
coloca o Brasil numa posição intermediária”.

Esses dados nos mostram que, embora, por algum tempo, a


disseminação da internet tenha sido limitada pela dificuldade de
estabelecer uma infraestrutura de telecomunicações terrestres nos
países emergentes, isso mudou com a explosão da comunicação sem fio
no início do século XXI. De fato, em 1991, havia cerca de 16 milhões de
assinantes de dispositivos sem fio no mundo, em 2013 eles são próximos
a 7 bilhões (em um planeta de 7,7 bilhões de seres humanos), contando
com os usos familiares e aldeias de telefones celulares e levando em
consideração o uso limitado desses dispositivos entre as crianças com
menos de cinco anos de idade. (JEGUES, 2019)
No coração dessas redes de comunicação, a
Internet garante a produção, distribuição e uso de
informações digitalizadas em todos os formatos. De
acordo com o estudo publicado por Martin Hilbert na
Science (HILBERT e LÓPEZ 2011), 95% de todas as
informações existentes no planeta são digitalizadas e a
maioria delas é acessível na Internet e em outras redes
de computadores.(JEGUES, 2019).

Para entender melhor os efeitos da internet na sociedade, devemos


lembrar que a tecnologia é uma cultura material. É produzida por meio de
um processo social em um determinado ambiente institucional com base
nas ideias, nos valores, interesses e conhecimentos de seus produtores,
tanto os primeiros como os subsequentes.

Nesse processo, devemos incluir os usuários da tecnologia, que se


apropriam da tecnologia e adaptam-na em vez de adotá-la, e, ao fazê-lo,
eles modificam-na e produzem um processo interminável de interação
entre produção tecnológica e uso social.
UNIUBE 17

Portanto, para avaliar a relevância da internet na sociedade, devemos


lembrar as características específicas da internet como tecnologia. Então
devemos colocá-lo no contexto da transformação da estrutura social
geral, bem como em relação à cultura característica dessa estrutura
social. De fato, vivemos em uma nova estrutura social, a sociedade em
rede global, caracterizada pelo surgimento de uma nova cultura, a cultura
da autonomia.

Nossa sociedade é uma sociedade em rede, isto é, uma sociedade


construída em torno de redes pessoais e organizacionais alimentadas por
redes digitais e comunicadas pela Internet. E como as redes são globais
e não conhecem fronteiras, a sociedade em rede é uma sociedade em
rede global. Essa estrutura social historicamente específica resultou
da interação entre o paradigma tecnológico emergente baseado na
revolução digital e algumas das principais mudanças socioculturais.

A internet, como todas as tecnologias, não produz efeitos por si só. No


entanto, há efeitos específicos na alteração da capacidade do sistema de
comunicação de se organizar em torno de fluxos interativos, multimodais,
assíncronos ou síncronos, globais ou locais.

No entanto, a sociedade em rede global é a nossa sociedade, e o


entendimento de sua lógica com base na interação entre cultura,
organização e tecnologia na formação e desenvolvimento de redes
sociais e tecnológicas é um campo-chave de pesquisa no vigésimo
primeiro século.

Como essas características afetam sistemas específicos de relações


sociais, estudaremos no próximo capítulo o Direito Digital, que representa
um espaço para normatizações e reflexões acerca dos limites entre o eu
e o outro neste complexo mundo digital.
18 UNIUBE

1.3 Conclusão

A vida mudou consideravelmente nas últimas décadas. A Inteligência


Artificial (IA) substituiu campos de trabalho. Sistemas técnicos podem
reunir bibliotecas inteiras de informações em um único dispositivo portátil.
Existem espaços virtuais em que pessoas de todo o mundo podem
compartilhar, conectar e conversar instantaneamente. Pela primeira vez,
na história, as tecnologias digitais podem rastrear, documentar e analisar
de maneira abrangente a vida humana.

Nesse sentido, as inovações digitais estão remodelando nossa sociedade,


economia, cultura e estilo de vida. Sua capacidade de impactar - e
potencialmente avançar - todos os aspectos de nossa sociedade não
pode ser negligenciada, resultando em uma necessidade de pesquisa
interdisciplinar vigorosa, desde a aplicação de inovações digitais para
beneficiar nosso cotidiano até uma compreensão aperfeiçoada da relação
entre avanço digital e sociedade.

Na era digital, privacidade, confiança e segurança são algumas das


principais preocupações dos consumidores de plataformas on-line.
Por isso, destacamos a importância de compreender o Direito Digital
como o resultado da relação entre a ciência do Direito e a Ciência da
Computação.

Logo, precisamos de líderes com as habilidades necessárias para


gerenciar organizações por meio dessas transformações drásticas.
Como profissionais, precisamos abraçar a mudança e perceber que
nossa realidade pode ser bem diferente em um futuro não muito distante.
Nossos sistemas precisam se adaptar para preparar melhor as pessoas
para a flexibilidade e as habilidades de pensamento crítico necessárias
no futuro mercado de trabalho.
UNIUBE 19

Resumo

Embora a Primeira Revolução Industrial tenha ocorrido aproximadamente


200 anos atrás, ela foi um período que deixou um profundo impacto
na maneira como as pessoas viviam e na maneira como as empresas
operavam. Indiscutivelmente, os sistemas fabris desenvolvidos durante
a Revolução Industrial são responsáveis pela criação do capitalismo e
das cidades modernas de hoje.

A Revolução Industrial transformou economias fundamentadas na


agricultura e artesanato em economias baseadas na indústria em larga
escala, na fabricação mecanizada e no sistema fabril. Novas máquinas,
novas fontes de energia e novas formas de organizar o trabalho tornaram
as indústrias existentes mais produtivas e eficientes.

Neste século, estamos inseridos na Quarta Revolução Industrial, ou


Indústria 4.0. Trata-se de um contexto bem diferente das três revoluções
industriais que a precederam - energia a vapor e água, linhas de
eletricidade e montagem e informatização - porque desafia nossas ideias
sobre o que significa ser humano.

Por fim, a Quarta Revolução Industrial descreve as mudanças


exponenciais na maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos
devido à adoção de sistemas ciberfísicos, da Internet das Coisas e
da internet de sistemas. À medida que implementamos tecnologias
inteligentes em nossas fábricas e locais de trabalho, as máquinas
conectadas irão interagir, visualizar toda a cadeia de produção e tomar
decisões autonomamente. Espera-se que esta revolução tenha impacto
em todas as esferas e economias.
20 UNIUBE

Referências

ANDRADE, Pedro Simões Antunes de Moura. A quarta revolução industrial


e sua relação com a produtividade atual: uma revisão da literatura.
Universidade de Brasília. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade.
Departamento de Administração. Brasília, DF, 2017. Disponível em: http://bdm.unb.
br/bitstream/10483/17633/1/2017_PedroSimoesAntunesde MouraAndrade_tcc.pdf.
Acesso em: nov.2019.

CEPIK, Marco; CANABARRO, Diego Rafael; BORNE, Thiago. A securitização do


ciberespaço e o terrorismo: uma abordagem crítica. In: SOUZA, André de Mello;
NASSER, Reginaldo Mattar; MORAES, Rodrigo Fracalossi de (orgs). Do 11 de
Setembro de 2001 à guerra ao terror: reflexões sobre o terrorismo no século XXI.
Brasília: Ipea, 2014, p. 161-186.

CONCEIÇÃO, C. S. Da revolução industrial à revolução da informação: uma


análise evolucionária da industrialização da América Latina. 2012.

LAVADO, Thiago. Uso da internet no Brasil cresce e 70% da população está


conectada. G1 Economia. 28 ago. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/
economia/tecnologia/noticia/ 2019/08/ 28/uso-da-internet-no-brasil-cresce-e-
70percent-da-populacao-esta-conectada.ghtml. Acesso em: dez.2019.

JEGUES. A internet é a tecnologia. 12 jul. 2019. Disponível em: https://


jeguesblog.com.br/ 2019/ 12/07/a-internet-e-a-tecnologia/. Acesso em: dez.2019.

MARTÍN-BARBERO, Jesus. Tecnicidades, identidades, alteridades: mudanças e


opacidades da comunicação no novo século. In: MORAES, D. (org.). Sociedade
midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.

MOTOYAMA, Shozo (org). História Vivida. São Paulo: Editora da Universidade


Estadual Paulista: CEETEPS, 1995.

NASCIMENTO, Mirella; BERTOLOTTO, Rodrigo; RAMALHOSO, Wellington. Match


na nova indústria. Como a cultura das startups pode apresentar o Brasil à quarta
revolução industrial. Reportagem publicada em 09 out. 2017. Disponível em: https://
tab.uol.com.br/edicao/nova-industria/#imagem-6. Acesso em: nov.2019.

SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. São Paulo: Edipro, 2016.


Capítulo O Direito aplicado à
2 sociedade digital

Introdução
As regras referentes à comunicação digital formam um campo cuja
prática incorpora muitas áreas diferentes e requer uma variedade
de conhecimentos e experiências interdisciplinares. O amplo
entendimento sobre as legislações é fundamental para assessorar
as organizações nesta área desafiadora e extremamente importante
do mercado.

Frente aos progressos tecnológicos e ao aumento do acesso à


internet, percebemos que muitas atividades, antes exercidas na
presencialidade, migraram para o meio eletrônico. Nesse sentido, a
necessidade de fomentar a ciência jurídica para a construção de um
Direito Digital se torna cada vez mais evidente.

Objetivos
O presente capítulo tem como objetivo principal oferecer ao leitor o
conhecimento básico para enfrentar os desafios heterogêneos que o
advento das novas tecnologias produz na vida cotidiana e, portanto,
na lei, na sociedade e no mercado como um todo.

Visa, portanto, aumentar a conscientização sobre os princípios que


regem o Direito Digital e sobre como isso tem repercussões nas
22 UNIUBE

atividades jurídicas da contemporaneidade. Os tópicos abordados


apresentam as principais inovações legislativas e uma visão geral
das aplicações na prática organizacional.

Esquema
2.1 Alguns conceitos importantes para compreender o Direito Digital
2.2 Quais os principais desafios do Direito Digital?
2.3 Marco Civil da internet
2.3.1 Princípios fundamentais do Marco Civil da internet
2.3.2 Dos direitos e garantias dos usuários
2.4 Conclusão

2.1 Alguns conceitos importantes para compreender o


Direito Digital

O Direito Digital consiste na evolução do próprio


Direito, abrangendo todos os princípios fundamentais e
institutos que estão vigentes e são aplicados até hoje,
assim como introduzindo novos institutos e elementos
para o pensamento jurídico, em todas as suas áreas
(Direito Civil, Direito Autoral, Direito Comercial, Direito
Contratual, Direito Econômico, Direito Financeiro,
Direito Tributário, Direito Penal, Direito Internacional,
etc. (GARRIDO, 2007)

A sociedade está evoluindo tão rápido que é quase difícil acompanhá-


la. Entre as inovações mais importantes das últimas décadas, a internet
deve certamente ser mencionada, sem a qual hoje seria difícil imaginar
nossas vidas. A tecnologia teve um enorme impacto não apenas nos
equipamentos que hoje representam seu produto mais imediato
(telefones celulares, televisores, computadores etc.), mas também nas
antigas instituições jurídicas.
UNIUBE 23

Pense no contrato: era um tempo em que esse documento tinha que


ser assinado e levado ao cartório para a certificação. Hoje, um clique do
mouse é suficiente. Ou imagine como a maneira de trocar comunicações
formais mudou graças ao e-mail, que substituiu a carta registrada
tradicional. As mudanças não pouparam o setor comercial e, para o que
interessa aqui, os sinais distintivos são todos esses elementos (símbolos,
siglas, nomes etc.) que tornam um assunto ou produto reconhecível e o
distinguem de outro.

O Direito Digital é uma ramificação do Direito que analisa conjecturas


jurídicas relacionadas ao uso da tecnologia da informação e
relacionamentos entre usuários, agentes e provedores. Com a chegada
do Marco Civil da Internet, a Lei nº 12.965 de 2014, com o Regulamento
Geral de Proteção de Dados (GDPR) da União Europeia, nº 679 de 2016,
e com o advento de uma nova legislação nº 13.709 de 2018, também
em proteção de dados, cabe a nós gestores conhecer as diretrizes que
circundam o tema para nos orientar na tomada de decisões.

O desenvolvimento de Tecnologia da Informação


Comunicação
e Comunicação Digital, telecomunicações e digital
seus recursos associados, estabelecendo Refere-se à troca
e garantindo a completa neutralidade das de informações por
meios eletrônicos,
redes, é de interesse público. Logo, todos os podendo ocorrer de
forma assíncrona
cidadãos têm o direito e a liberdade de usar ou síncrona. A
comunicação
qualquer tipo de tecnologia digital de maneira assíncrona
é aquela que
adequada e razoável. Para tanto, devemos não ocorre
tomar precauções para garantir a segurança que simultaneamente,
como e-mail,
pode afetar o usuário principalmente frente ao comentários
em um blog ou
aumento do comércio digital. publicação no
Facebook, enquanto
a comunicação
Nesse contexto digital, a preservação e a síncrona é oferecida
proteção de nossos dados são cada vez mais em tempo real,
como bate-papo,
relevantes. Embora, antes desta era digital, as videoconferência ou
videochamada.
informações pessoais tivessem mais proteção
24 UNIUBE

local, hoje enfrentamos um trânsito de dados que vai além das fronteiras
territoriais.

A proteção de dados nasce como uma iniciativa que busca conscientizar


sobre seu uso e gerenciamento; sobre a importância e o escopo da
coleta, armazenamento, circulação e, de alguma forma, comercialização
de informações.

Além de garantir o cumprimento dos postulados constitucionais do direito


à privacidade, é necessário definir parâmetros e conhecer conceitos para
o gerenciamento, a conservação e o uso das informações digitais.

A Lei 12.965/2014 (BRASIL, 2014), conhecida como Marco Civil da


Internet, previu importantes conceitos que ajudam o profissional dessa
área do conhecimento a delimitar seu espaço. São eles:

Sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos,


estruturado em escala mundial para uso público e irrestrito,
Internet com a finalidade de possibilitar a comunicação de dados
entre terminais por meio de diferentes redes.

Computador ou qualquer dispositivo que se conecte à


Terminal internet.

Endereço de
protocolo de Código atribuído a um terminal de uma rede para permitir
internet sua identificação, definido segundo parâmetros
internacionais.
(endereço IP)

Pessoa física ou jurídica que administra blocos de endereço IP


Administrador específicos e o respectivo sistema autônomo de roteamento,
de sistema devidamente cadastrada no ente nacional responsável pelo
autônomo registro e distribuição de endereços IP geograficamente referentes
ao País.

Conexão Habilitação de um terminal para envio e recebimento de


pacotes de dados pela internet, mediante a atribuição ou
à internet autenticação de um endereço IP.

Conjunto de informações referentes à data e hora de início


Pessoa física ou jurídica que administra blocos de endereço IP
Administrador específicos e o respectivo sistema autônomo de roteamento,
de sistema devidamente cadastrada no ente nacional responsável pelo
autônomo registro e distribuição de endereços IP geograficamente referentes
ao País.
UNIUBE 25

Conexão Habilitação de um terminal para envio e recebimento de


pacotes de dados pela internet, mediante a atribuição ou
à internet autenticação de um endereço IP.

Conjunto de informações referentes à data e hora de início


Registro de e término de uma conexão à internet, sua duração e o
conexão endereço IP utilizado pelo terminal para o envio e
recebimento de pacotes de dados.

Aplicações Conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por


de internet meio de um terminal conectado à internet.

Registros de Conjunto de informações referentes à data e hora de uso


acesso a de uma determinada aplicação de internet a partir de um
aplicações de determinado endereço IP.
internet

Outra legislação que trouxe definições úteis para esse tema é a Lei nº
12.527, de 18 de novembro de 2011 (BRASIL, 2011).

Essa lei dispõe sobre os procedimentos a serem observados pela União,


Estados, Distrito Federal e Municípios, com o fim de garantir o acesso
a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º , no inciso II do § 3º
do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal (BRASIL, 1988)

Para os efeitos dessa lei, considera-se:

Dados, processados ou não, que podem ser utilizados para


Informação produção e transmissão de conhecimento, contidos em
qualquer meio, suporte ou formato.

Unidade de registro de informações, qualquer que seja o


Documento suporte ou formato.

Informação Aquela submetida temporariamente à restrição de acesso


público em razão de sua imprescindibilidade para a
sigilosa
segurança da sociedade e do Estado.
Unidade de registro de informações, qualquer que seja o
Documento suporte ou formato.
26 UNIUBE

Informação Aquela submetida temporariamente à restrição de acesso


público em razão de sua imprescindibilidade para a
sigilosa
segurança da sociedade e do Estado.

Informação Aquela relacionada à pessoa natural identificada ou


pessoal identificável.

Conjunto de ações referentes à produção, recepção, classifi-


Tratamento
cação, utilização, acesso, reprodução, transporte, transmissão,
da
distribuição, arquivamento, armazenamento, eliminação,
informação avaliação, destinação ou controle da informação.

Qualidade da informação que pode ser conhecida e


Disponibilidade utilizada por indivíduos, equipamentos ou sistemas
autorizados.

Qualidade da informação que tenha sido produzida, expe-


Autenticidade dida, recebida ou modificada por determinado indivíduo,
equipamento ou sistema.

Integridade Qualidade da informação não modificada, inclusive quanto


à origem, ao trânsito e ao destino.

Primariedade Qualidade da informação coletada na fonte, com o máximo


de detalhamento possível, sem modificações.
UNIUBE 27

2.2 Quais os principais desafios do Direito Digital?

Iniciamos este tópico com uma pergunta justamente para incentivar


uma reflexão sobre esse ramo extremamente necessário ao momento
histórico em que vivemos.

De fato, o Direito Digital não é amplamente conhecido pela comunidade.


Principalmente quando se trata de organizações, é comum visualizar a
atenção voltada para outras questões jurídicas, dando pouca atenção à
regulamentação dos comportamentos no ambiente virtual.

Os direitos e as obrigações legais estabelecidos para nortear o uso da


tecnologia digital mudam regularmente e podem causar confusões. No
mundo de hoje, a maioria das pessoas simplesmente não conseguem
acompanhar as leis e os regulamentos em constante mudança.

Muita gente infringe as normas voltadas para a tecnologia porque não


entende qual é o uso apropriado da tecnologia, enquanto outros, com
más intenções, sabem exatamente o que estão fazendo e se aproveitam
para causar danos.

Embora o Estado brasileiro tenha trabalhado diligentemente para elaborar


regras e regulamentos a fim de controlar como a tecnologia é usada e
impedir atividades criminosas, os avanços tecnológicos e seus possíveis
impactos ainda estão sendo construídos pelo Direito Digital.

Isso faz com que os profissionais atuantes na área de gestão jurídica


estejam diante de um desafio a ser enfrentado. Em contrapartida, este
ramo surge como uma área promissora para aqueles que pretendem
trabalhar a tecnologia na perspectiva do Direito.

A tecnologia está avançando tão rápido que a formação de padrões pode


ficar muito atrás dos próprios avanços. Para combater essa preocupação,
28 UNIUBE

é típico que as organizações atualizem seus padrões continuamente em


resposta aos riscos e às tecnologias em evolução. Do mesmo modo, a lei
deve estar à frente quando se trata de responder aos problemas atuais
e emergentes que podem precisar de regulamentação.

Ao falar sobre legislação, precisamos considerar a aplicação dos padrões


exigidos em larga escala, enquanto visualizamos o controle de segurança
cibernética em nível internacional.

A ausência de acordos ou legislação sobre detalhes específicos


de algumas questões podem prejudicar diretamente as parcerias
internacionais, mesmo dentro da mesma região. Os setores público e
privado enfrentam problemas quando se trata de acessar informações
com implicações para segurança, interesses comerciais e direito à
privacidade.

EXEMPLIFICANDO!

Uma situação real significativa desse conflito é o famoso caso entre a Apple
e o FBI em que um juiz dos EUA solicitou que a Apple cooperasse com
o FBI desbloqueando o iPhone pertencente a um terrorista que estava
envolvido em um ataque. Diante da negativa da empresa de telefonia, a
polícia americana quebrou, sem a referida ajuda, a criptografia do celular
do terrorista Syed Farook, um dos responsáveis pelo massacre de San
Bernardino, no dia 2 de dezembro de 2015, que deixou 14 mortos. O embate
foi longo e ganhou atenção da mídia com a divulgação da carta aberta do
presidente da Apple, Tim Cook, e de opiniões favoráveis ao FBI, como a de
Bill Gates.

Situações como essa nos mostram a necessidade de consentimento


local e internacional para colaborar e evitar um conflito de interesses
potencialmente perigoso.
UNIUBE 29

Diferentes países empregam métodos variados ao aderir a


convenções regionais ou internacionais. Esses métodos diferentes
levam a iniciativas diversas, mas muito específicas, definidas para
a formulação de suas leis.

PARADA PARA REFLEXÃO

Parece razoável, certo?


Aqui está o problema. As disparidades técnicas e legais tornam difícil
investigar, responder e tomar decisões sobre incidentes internacionais de
cibersegurança.

Outra situação que merece destaque ocorre com


Cookies
a disponibilidade de nossos dados na internet.
Você já observou que, ao entrar num site por mais São pequenos
arquivos de texto
de uma vez, alguns dos seus dados permanecem que um site solicita
ao seu navegador
gravados? Você possivelmente já recebeu para armazenar no
seu computador
pelo menos um comunicado sobre os cookies ou dispositivo
móvel. Eles são
enquanto navegava num site da internet. amplamente usados
para tornar os sites
mais eficientes,
Qualquer site que use cookies deve obter seu salvando suas
preferências.
consentimento antes de instalá-los no seu Eles também são
usados para seguir
computador ou dispositivo móvel. Um site pode seus movimentos
na internet e
não apenas informar que usa cookies, deve definir seu perfil
também explicar como desativá-los. de usuário, para
que você possa
receber anúncios
direcionados com
Os sites devem explicar como as informações base em suas
preferências.
coletadas com cookies são usadas. Você
também deve ter a possibilidade de retirar seu
consentimento. Se você deseja revogá-lo, o site deve garantir um serviço
mínimo, por exemplo, fornecendo acesso a uma parte do site.
30 UNIUBE

EXEMPLIFICANDO!

Gigantes da internet, como Google, Facebook ou Twitter, coletam milhões


de dados que podem ser usados para fins comerciais, enquanto nós, os
usuários, não temos consciência dessa velocidade.

As informações são vendidas para empresas interessadas em usá-las


para oferecer produtos voltados para os usuários. O Facebook coleta
sistematicamente informações por meio de um serviço que permite aos
membros sincronizar suas agendas e cadernos, citando o local de trabalho,
como exemplo. O Twitter possui uma ferramenta de localização que permite
aos usuários seguir passo a passo. Uma pessoa que está na frente de uma
loja de roupas pode receber automaticamente um SMS de publicidade.

Grandes possibilidades de transmissão de publicidade direcionada


também são oferecidas pelos smartphones por meio de seu programa
de navegação. O uso dos dados de milhões de usuários é um benefício
real para os gigantes da rede eletrônica.

Eles conhecem as preferências e os interesses de seus clientes, sabem


onde estão e com quem estão em contato. Graças a programas de
análise extremamente eficazes, eles são capazes de produzir algoritmos,
que permitem estabelecer perfis quase perfeitos das personalidades dos
usuários e seus hábitos de consumo.

Estamos diante de uma rede global extensa e não transparente que


oferece um enorme potencial para algumas grandes empresas rastrearem
milhões de perfis pessoais. Em vez disso, muitas vezes os usuários não
têm chance de controlar como seus dados são usados. Os riscos para
os usuários também incluem manipulação ou uso inadequado de seus
dados. Se as informações forem usadas fora do contexto em que foram
UNIUBE 31

coletadas, elas podem ser mal interpretadas e levar a consequências


desagradáveis.

2.3 Marco Civil da Internet

Com o advento da Internet, os dados pessoais são coletados mais


rapidamente e com custos cada vez menores, gerando um potencial
quase infinito de informações.

Todos os dias, milhões de usuários acessam a rede e fornecem seus


dados para receber serviços (pense no uso de mecanismos de pesquisa,
redes sociais, comércio eletrônico, aplicativos para smartphones) sem
refletir no fato de que eles consentem em ser monitorados em todas as
atividades, a ponto de se tornarem “previsíveis” e facilmente influenciados
pelos operadores de rede.

Portanto, é evidente ser necessário estabelecer limites para proteger as


informações tanto da empresa, cujas estruturas burocráticas gerenciam
uma infinidade de dados todos os dias, quanto de indivíduos, bancos,
operadoras de telefonia e empresas multinacionais que oferecem
serviços.

O Marco Civil da Internet (MCI), decretado em abril de 2014 por meio


da Lei nº 12.965 (BRASIL, 2014), também chamado de Constituição
da Internet Brasileira, contém normas, garantias, princípios, direitos e
deveres para a utilização da internet no país por usuários, empresas e
provedores de internet.

Entre os vários assuntos tratados nessa lei, vamos nos dedicar ao estudo
de alguns artigos específicos que auxiliarão a compreensão dos próximos
capítulos.
32 UNIUBE

2.3.1 Princípios fundamentais do Marco Civil da Internet

Art. 2º A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o


respeito à liberdade de expressão, bem como (BRASIL, 2014):

II - os direitos humanos,
o desenvolvimento III - a pluralidade
I - o reconhecimento da
da personalidade e o e a diversidade;
escala mundial da rede; exercício da cidadania
em meios digitais;

V - a livre iniciativa,
IV - a abertura e a livre concorrência VI - a finalidade
a colaboração; e a defesa do social da rede.
consumidor;

O reconhecimento da escala mundial da rede consiste em considerar a


magnitude global da internet como um conjunto de meios de transmissão,
transferência, roteamento e comunicação, estruturados em escala
mundial, cujos serviços podem ser utilizados por meio de ferramentas
(tablets, smartphones, computadores e eletrônicos em geral) de qualquer
lugar do mundo.

Toda veiculação por meio da internet deve fazer valer a legislação


constitucional, que garante a legitimidade dos direitos humanos, bem
como o exercício da cidadania, respeitando os direitos fundamentais
resguardados pelo Estado Democrático de Direito.

No mesmo sentido, em prol da defesa da pluralidade e da diversidade, o


acesso à internet deve ser oportunizado a todos que dele careçam, sem
qualquer discriminação quanto às diferenças culturais, sociais, e, ainda,
quanto às capacidades físicas ou perceptivas dos usuários.

As garantias e os princípios estipulados no Marco Civil da Internet estão


descritos no Art. 3º da Lei (BRASIL, 2014) e não excluem outros previstos
UNIUBE 33

no ordenamento jurídico pátrio relacionados à matéria ou nos tratados


internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. São eles:

I - garantia da liberdade de
expressão, comunicação e
II - proteção da privacidade;
manifestação de pensamento, nos
termos da Constituição Federal;

III - proteção dos dados IV - preservação e garantia


pessoais, na forma da lei; da neutralidade de rede;

V - preservação da estabilidade,
segurança e funcionalidade da
VI - responsabilização dos
rede, por meio de medidas técnicas
agentes de acordo com suas
compatíveis com os padrões
atividades, nos termos da lei;
internacionais e pelo estímulo
ao uso de boas práticas;

VIII - liberdade dos modelos


de negócios promovidos na
VII - preservação da natureza
internet, desde que não conflitem
participativa da rede;
com os demais princípios
estabelecidos nesta lei.
34 UNIUBE

Como pode ser observado, a proteção à privacidade, estabelecida no


inciso II do Artigo 3.º da Lei n.º 12.965/14, tem como norte a garantia
constitucional prevista no Artigo 5.º, inciso X da Constituição Federal,
segundo o qual: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação”.

2.3.2 Dos direitos e garantias dos usuários

O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania e ao usuário


são assegurados os seguintes direitos (BRASIL, 2014):

I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua


proteção e indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas
comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na
forma da lei;
III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações
privadas armazenadas, salvo por ordem judicial;
IV - não suspensão da conexão à internet, salvo por
débito diretamente decorrente de sua utilização;
V - manutenção da qualidade contratada da conexão à
internet;
VI - informações claras e completas constantes dos
contratos de prestação de serviços, com detalhamento
sobre o regime de proteção aos registros de conexão e
aos registros de acesso a aplicações de internet, bem
como sobre práticas de gerenciamento da rede que
possam afetar sua qualidade;
VII - não fornecimento a terceiros de seus dados
pessoais, inclusive registros de conexão, e de acesso
a aplicações de internet, salvo mediante consentimento
livre, expresso e informado ou nas hipóteses previstas
em lei;
VIII - informações claras e completas sobre coleta, uso,
armazenamento, tratamento e proteção de seus dados
pessoais, que somente poderão ser utilizados para
finalidades que:
UNIUBE 35

a) justifiquem sua coleta;


b) não sejam vedadas pela legislação; e
c) estejam especificadas nos contratos de prestação de
serviços ou em termos de uso de aplicações de internet;
IX - consentimento expresso sobre coleta, uso,
armazenamento e tratamento de dados pessoais,
que deverá ocorrer de forma destacada das demais
cláusulas contratuais;
X - exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver
fornecido a determinada aplicação de internet, a seu
requerimento, ao término da relação entre as partes,
ressalvadas as hipóteses de guarda obrigatória de
registros previstas nesta Lei;
XI - publicidade e clareza de eventuais políticas de uso
dos provedores de conexão à internet e de aplicações
de internet;
XII - acessibilidade, consideradas as características
físico-motoras, perceptivas, sensoriais, intelectuais e
mentais do usuário, nos termos da lei; e
XIII - aplicação das normas de proteção e defesa do
consumidor nas relações de consumo realizadas na
internet.

2.4 Conclusão
Conforme previsto na Lei n.º 12.965/14, que acabamos de analisar, o
direito à proteção de dados pessoais surge como um corolário do direito à
privacidade. Na sociedade digital, com o desenvolvimento da Tecnologia
da Comunicação da Informação, dominada pelas comunicações
eletrônicas, de fato, o direito à proteção de dados, entendido como a
proteção de informações pessoais, representa uma garantia fundamental
de liberdade.

Resumo
Fornecer um sistema adequado para a proteção de dados pessoais não é
fácil, pois se, por um lado, limitar a circulação reduziria o risco de hackers
e, portanto, alterações, difusões ilícitas etc., por outro, implicaria uma
compressão da liberdade de manifestação de seu próprio pensamento,
36 UNIUBE

pesquisa, atividade científica e estatística, que necessariamente


envolvem o processamento de informações pessoais.

À luz dessas premissas, portanto, torna-se oportuno discutir a legislação


de proteção de dados, que deve ser capaz de equilibrar corretamente
os interesses em jogo, concedendo às partes interessadas uma série de
instrumentos jurídicos a fim de garantir a eles um papel ativo nos casos
de processamento de seus dados.

A rede tem sido e é, sem dúvida, uma ferramenta extraordinária para


promover a cultura, a informação, o pluralismo, a liberdade de expressão,
até mesmo os laços sociais que hoje parecem cada vez mais frágeis e
evanescentes na vida off-line. E, no entanto, diante desses méritos, a
web também desenvolveu um “lado sombrio”.

A capacidade de proteger dados pessoais deve representar não apenas


uma obrigação legal para as empresas, mas um requisito preferencial,
um ativo competitivo. Essa perspectiva, hoje já favorecida pela crescente
demanda social de cidadãos cada vez mais conscientes do valor de seus
dados, será ainda mais decisiva pela capacidade de desempenho Marco
Civil Regulatório.

O regulamento nasceu com o objetivo declarado de desenvolver um


espaço de liberdade, segurança e justiça, mas também de criar um
“clima de confiança para o desenvolvimento da economia digital em
todo o mercado interno”, promovendo “segurança jurídica e operacional”
para pessoas singulares, bem como para operadores econômicos e
autoridades públicas “. Essa estreita relação é, além disso, um reflexo da
centralidade da proteção de dados na economia digital e na sociedade,
na qual novos desafios à segurança de dados se abriram, tanto para
empresas quanto para administrações públicas.
UNIUBE 37

Todo o quadro regulatório brasileiro baseia-se no objetivo de adaptação


à evolução tecnológica. Pense nos recursos do big data, na Internet
das coisas e na inteligência artificial, que enfraquecem a eficácia das
ferramentas tradicionais - como o consentimento informado - sobre
as quais a legislação até agora girou. Portanto, é essencial, conforme
exigido pelo regulamento, que o limiar de proteção seja avançado para a
fase de projeto do sistema (de acordo com os critérios de privacidade por
design e a privacidade por padrão), em conformidade com os princípios
de precaução e prevenção.

O novo quadro jurídico sobre proteção de dados é, portanto, um grande


passo em direção a um Estado equilibrado de inovações tecnológicas
que mudaram profundamente nossa sociedade. Mas o que, mais do que
qualquer outra medida, garantirá a eficácia dos direitos sancionados será
a difusão dessa “cultura de privacidade” necessária para promover, ao
mesmo tempo, o desenvolvimento econômico e a liberdade, a eficiência
administrativa e a dignidade da pessoa.

Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: nov. 2019.

BRASIL. Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regulamento. Regula o acesso


a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no
§ 2º do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro
de 1990; revoga a Lei nº 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei nº
8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/ l12527.htm. Acesso em: nov. 2019.

BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Regulamento. Estabelece princípios,


garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm.
Acesso em: nov. 2019.

GARRIDO, Patrícia Peck. Direito digital. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
Capítulo Crimes digitais
3

Introdução

O progresso contínuo de novas tecnologias, a vasta difusão


de equipamentos digitais e a rede de mídia social cada vez
mais ampla e popular possibilitaram que o número de usuários
acessando a internet crescesse exponencialmente nos últimos
anos. Frente à grande existência de empresas introduzidas no
mundo digital que gerenciam a maior parte de nossas vidas e
de nossos relacionamentos, informalmente, surge com urgência
a necessidade de profissionais qualificados, especializados e
próximos à segurança digital.

Paralelamente a fenômenos históricos, como Comércio digital


ou comércio
a pornografia infantil on-line , que tende eletrônico

a se esconder cada vez mais no mundo É definido como a


ação de compra,
submerso da web, mesmo por meio de venda de bens ou
serviços por meio
sistemas complexos de anonimização da da internet ou por
navegação, novas atividades predatórias meios eletrônicos.
O uso de cartões
são manifestadas por organizações criminosas de crédito, sites
de vendas e
transnacionais agressivas que visam ao leilões, transações
eletrônicas de
comércio eletrônico e serviços domésticos, compra e venda tem
muitas vantagens,
ataques planejados a bancos de dados ou mas também
ataques sofisticados contra infraestruturas apresenta riscos.

institucionais.
40 UNIUBE

Nesse sentido, percebemos que o rol de crimes evoluiu com os


avanços da internet e das mídias sociais de modo que o paralelo
entre a tecnologia e os tipos de crimes cometidos no ambiente
digital é surpreendente. À medida que a tecnologia se tornou mais
facilmente disponível para as massas, os tipos de crimes cometidos
mudaram ao longo do tempo.

Computadores e smartphones nos oferecem possibilidades há


anos impensáveis: conversar com pessoas do outro lado do mundo,
ver vídeos diretos do espaço ou calcular dados. A revolução foi tão
radical que criou um espaço bastante incerto quando se trata de
contrariar a lei: o que são crimes cibernéticos e como eles podem
ser combatidos?

Com esses questionamentos, iniciamos a abordagem sobre os


crimes digitais.

Objetivos
O presente capítulo, longe de esgotar as discussões sobre os
crimes cibernéticos (também conhecidos como crimes virtuais),
objetiva analisar, de forma concisa, os principais aspectos
envolvidos na prática de tais crimes, muito comuns na sociedade
atual, em que o dinamismo e as relações virtuais estão, de forma
acentuada, dominando as relações interpessoais e comerciais.

Esquema
3.1 O que é crime digital ou cibercrime e qual seu impacto na
sociedade?
3.2 Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012
3.2.1 Invasão de Dispositivo Informático
3.3 Conclusão
UNIUBE 41

“O crime informático e on-line é diferente do crime


do ´mundo real´. Ele não é tangível ou visível para a
maioria das pessoas e é de difícil solução”.
Anne Collier, Editora da NetFamilyNews.org e
co-presidente do Grupo de Trabalho de Segurança e
Tecnologia On-line.

Leia as reportagens a seguir:

Fonte: https://veja.abril.com.br/economia.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/tec/2019/02.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/tec/2019/02.
42 UNIUBE

O que revelam essas manchetes?

3.1 O que é crime digital ou cibercrime e qual seu impacto


na sociedade?

Como pode ser observado, o crime digital ou


Crime informático,
crime cibernético, cibercrime é definido como um delito em que
e-crime, um computador é o objeto do crime ou é usado
cibercrime (em
inglês, cybercrime), como uma ferramenta para cometer um crime.
crime eletrônico ou
crime digital. Um ‘cibercriminoso’ pode usar um dispositivo para
São termos acessar informações pessoais de um usuário,
aplicáveis a toda
atividade criminosa informações comerciais confidenciais, informações
em que se utiliza governamentais ou desativar um dispositivo.
um computador
ou uma rede de
computadores como
instrumento ou baseNesse sentido, na maioria das vezes, a internet é
de realização de um
crime. apenas um instrumento de ação dos cibercriminosos
e a doutrina jurídica preocupou-se em melhor
caracterizá-los. Por isso, Reginaldo César Pinheiro
(2001, p. 18-9, apud VANCIN; GONÇALVES, 2011, p.38) classifica os
crimes informáticos ou cibernéticos em três categorias: virtuais puros,
mistos ou comuns, como se observa na Figura 1:
UNIUBE 43

Figura 1: Categorias dos crimes informáticos.

Crimes puros Crimes mistos


Crimes comuns

Toda e qualquer Aqueles em que o Aqueles que utilizam


conduta ilícita que uso da internet é a internet apenas
tenha por objetivo condição sine qua como instrumento
exclusivo o sistema non para a efetivação para a realização de
de computador, da conduta, embora um delito já tipificado
seja pelo atentado o bem jurídico pela lei penal pátria.
físico ou técnico do visado seja diverso A Rede Mundial
equipamento e seus ao informático. de Computadores
componentes, inclusive Ocorre, por exemplo, acaba por ser apenas
dados e sistemas. nas transferências mais um meio para
Neste ponto é que ilícitas de valores em a realização de uma
verifica-se a ação uma home banking em conduta delituosa. Se
dos crackers, que que o cracker retira antes, por exemplo,
são pessoas de diversas contas a pornografia infantil
com profundos correntes, diariamente, era instrumentalizada
conhecimentos pequenas quantias por meio de vídeos
informáticos e que correspondem a e fotografias, hoje se
que se utilizam centavos e transferem dá por meio de home
desse know-how para para uma única conta. pages. Mudou-se
obtenção de algum a forma, mas a
benefício ilícito essência do crime
ou simplesmente permanece a mesma.
por vandalismo.

Fonte: Adaptado de Vancin; Gonçalves (2011, p. 38).

O desenvolvimento de tecnologias telemáticas e de TI cada vez mais


sofisticadas e eficientes favoreceu o surgimento de novas formas de
disseminação ilícita em nossa sociedade por meio do uso de ferramentas
comumente usadas, como computadores, PCs, tablets e telefones
celulares. Comportamentos ilegais, dos quais os principais aspectos e
críticas serão examinados aqui, são geralmente referidos como crimes
digitais.

Podemos dividir os crimes digitais regulamentados pelo nosso sistema


em quatro macrocategorias, como se vê na Figura 2:
44 UNIUBE

Figura 2: Macrocategorias dos crimes digitais.

Acesso não
Fraude autorizado a um
informática computador ou
sistema eletrônico

Disseminação de
Posse e distribuição equipamentos,
não autorizadas dispositivos ou
de códigos de programas de
acesso a sistemas computador
destinados a danificar
de computadores
ou interromper um
e eletrônicos sistema eletrônico
ou de TI

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Dessas categorias, segue, no Quadro 1, uma lista de alguns exemplos de


diversas situações criminosas que podem ser verificadas no meio digital.

Quadro 1: Situações criminosas no meio digital

Denominação Descrição da conduta


• Pornografia infantil Fazer ou distribuir pornografia infantil.
Roubar ou usar o material protegido
• Violação de direitos autorais por direitos autorais de outra pessoa
sem permissão.
Decifrar códigos que estão sendo
• Crackeamento
usados para proteger os dados.
Ameaças e chantagens contra uma
• Ciberterrorismo
empresa ou pessoa.
Assediar ou perseguir outras
• Cyberbullying ou Cyberstalking
pessoas on-line.
UNIUBE 45

Denominação Descrição da conduta


Manipular dados, alterar registros
bancários para transferir dinheiro
• Fraude financeira
para uma conta ou participar de
fraudes com cartão de crédito.
• Roubo de identidade Fingir ser alguém que não se é.
Compra ou venda de produtos
• Vendas ilegais ilícitos on-line, incluindo drogas,
armas e substâncias psicotrópicas.
Copiar, distribuir ou usar software
• Pirataria de software com direitos autorais que não se
comprou.
Obter acesso a sistemas aos quais
• Acesso não autorizado
não se tem permissão para acessar.
Conectando um dispositivo a uma
• Escutas telefônicas linha telefônica sem permissão legal
para ouvir conversas.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Diariamente, são registrados pelo menos Misoginia

366 crimes cibernéticos em todo o País. O (do grego μισέω,


transl. miseó,
levantamento mais recente, feito em 2018 pela “ódio”; e γυνὴ,
Associação SaferNet Brasil, em parceria com o gyné, “mulher”) é
o ódio, desprezo
Ministério Público Federal (MPF), contabilizou ou preconceito
contra mulheres
133.732 queixas de delitos virtuais, como ou meninas. A
pornografia infantil, conteúdos de apologia e misoginia pode se
manifestar de várias
incitação à violência, a crimes contra a vida, à maneiras, incluindo
a exclusão social,
violência contra mulheres ou misoginia e outros. a discriminação
sexual, a hostilidade,
o androcentrismo,
Em comparação ao ano anterior, a quantidade de o patriarcado, as
ideias de privilégio
ocorrências deu um salto de quase 110% – em masculino, a
depreciação das
2017, a Associação registrou 63.698 denúncias. mulheres, a violência
Um fator que contribui para a ação criminosa, na contra as mulheres
e a objetificação
visão de especialistas, é o descuido da população sexual. (WIKIPEDIA,
2019)
46 UNIUBE

quanto ao uso de ferramentas que protejam os aparelhos celulares das


invasões de hackers.

Dito isso, parece útil ressaltar que chamamos de cibercriminosa a pessoa


que implementa uma conduta que é expressa por meio da violação
de redes telemáticas e sistemas de computador e é frequentemente
acompanhada de objetivos meramente lúdicos que podem mudar com
o tempo, transformando-se em comportamentos postos em prática pela
exploração dos dados obtidos ou a entrada de programas maliciosos no
sistema.

O cibercrime criou uma grande ameaça para quem usa a internet, com
milhões de informações de usuários roubadas nos últimos anos. Também
causou um grande estrago nas economias de muitas nações.

Parece que, na era moderna da tecnologia, criminosos estão dominando


nossos sistemas e ninguém está seguro. O tempo médio de permanência
ou o tempo que uma empresa leva para detectar uma violação cibernética
é de mais de 200 dias. A maioria dos usuários da internet não pensa no
fato de que eles podem ser invadidos e muitos raramente alteram suas
credenciais ou atualizam senhas. Isso deixa muitas pessoas suscetíveis
ao cibercrime e é importante se informar. Eduque-se e eduque outras
pessoas sobre as medidas preventivas que você e elas podem tomar
para se proteger como indivíduo ou empresa.

A evolução contínua da tecnologia da informação combinada com a


disseminação de crimes relacionados a ela exige uma reflexão sobre o
assunto.

Com o passar do tempo, as descobertas tecnológicas, resultado de


estudos aprofundados e pesquisas de ponta, estão aumentando dia a
dia, proporcionando a cada indivíduo melhorias de todos os tipos, que
se tornam parte do cotidiano e da vida social, cultural, econômica e
administrativa de países.
UNIUBE 47

PARADA PARA REFLEXÃO

A centralidade do papel adquirido pela informatização trouxe


indiscutivelmente benefícios à nossa sociedade, mas ao mesmo tempo nos
tornou mais vulneráveis. A privacidade de cada um de nós é constantemente
posta à prova. Empresas e administrações públicas em todo o mundo
investem fundos enormes para tentar em vão conter um dos maiores e
mais difundidos problemas dos últimos tempos.

Apesar de tudo, estamos testemunhando a proliferação de crimes


perpetrados por meio de dispositivos de tecnologia da informação e na
web por sujeitos sem inibições e que às vezes são culpados de alguns
dos piores crimes existentes, como no caso de pornografia infantil, roubo
de identidade ou fraude computador. Sem mencionar dados confidenciais
roubados de suas fontes de origem.

Às vezes, eles se manifestam como novos crimes, intimamente ligados


ao uso de sistemas ou como crimes tradicionais que encontram mais
perspectivas de ação em tecnologias inovadoras.

E é precisamente em relação a essas críticas que a atualização


tecnológica exige uma produção regulatória imensa que acompanha
a mutabilidade deste vasto mundo para poder conter os crimes de
computador cada vez mais numerosos e imprevisíveis.

Do ponto de vista puramente técnico, isso certamente não parece fácil.


No entanto, nos últimos anos, tem sido dada atenção à política de
informação para segurança - com consequente uso e gasto de energia,
também de considerável natureza econômica - para tentar preencher as
lacunas produzidas pelo longo e complicado processo de emanação dos
regulamentos legais em vigor no sistema jurídico.

O progresso e os resultados obtidos são relevantes, mas ainda há muito


a ser feito, tanto pelas lacunas na ordem quanto pela constante incerteza
48 UNIUBE

interpretativa que caracteriza a parte da jurisprudência que governa os


crimes cibernéticos. Além disso, está o desconhecimento dos usuários
do sistema de TI.

Bem, as sofisticadas formas criminosas diante das quais certamente nos


colocamos não facilitam a tarefa amarga a que o Estado é chamado a
desempenhar: respeitar a linha tênue entre a proteção da informação e
a liberdade pessoal.

De fato, estamos na presença de áreas particularmente delicadas


que exigem a adoção de medidas que não impliquem uma violação
dos direitos fundamentais e que sejam simultaneamente eficazes em
termos de proteção do sistema. Saldos que não são fáceis de criar e
quase impossíveis de manter em uma sociedade que se move em alta
velocidade.

A respeito da classificação de crimes digitais, surgem diversas


abordagens de diferentes autores. De acordo com Sieber (1998, apud
FAORO; JESUS; ABREU, 2015), um dos maiores estudiosos do tema,
os ilícitos são classificados da forma esquematizada na Figura 3:
Figura 3: Classificação dos ilícitos.

b) Crimes econômicos
(hacking, espionagem,
piratarias em geral
a) Violações à privacidade (cópias não autorizadas),
sabotagem e
extorsão, fraude).

d) Outros ilícitos (contra


c) Conteúdos ilegais a vida, crime organizado
e nocivos. e guerra eletrônica).

Fonte: Adaptado de Faoro; Jesus; Abreu (2015, p.8).


UNIUBE 49

3.2 Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012


A adequação da legislação pátria à linguagem que diferencia os crimes
virtuais dos crimes presenciais configura-se um dos grandes desafios
vividos pelos profissionais da área, tendo em vista as peculiaridades
referentes à autoria, à materialidade e à tipificação de seus institutos.

Até o ano de 2012, a ausência de uma lei própria para tratar os crimes
virtuais contribuía para dificultar a apuração desses delitos, uma vez que
a legislação, até então vigente, tratava apenas dos crimes de forma geral,
independentemente do meio utilizado para a sua prática. Nesse sentido,
podemos citar, entre outros, os expostos na Figura 4:
Figura 4: Agentes da legislação vigentes até 2012.

Código Penal (CP)

Lei de Segurança Estatuto da Criança


Nacional (Lei e do Adolescente
nº 7.170/83) (Lei n. 8.069/90)

Lei dos crimes de


software (ou Lei
antipirataria, Lei
n. 9.609/98)

Fonte: Esquema criado pelas autoras.

Frente ao caráter generalista da legislação, era muito difícil a identificação


dos sujeitos e a obtenção de provas para a condenação criminal quanto
aos crimes virtuais.
50 UNIUBE

Dessa forma, objetivando adequar o Direito às transformações que


envolvem o mundo tecnológico e modificam continuamente a vida em
sociedade, foi editada a Lei nº 12.737/2012, nomeada de Lei Carolina
Dieckmann, que dispõe sobre a tipificação criminal de delitos informáticos;
altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;
introduzindo os arts. 154-A, 154-B e alterando os arts. 266 e 298, todos
do Código Penal, com o objetivo de preencher a lacuna legislativa que
até então existia.

Vamos analisar essa lei e conhecer cada tipo penal por ela
abordado?

3.2.1 Invasão de Dispositivo Informático

O Art. 154-A tipifica como crime:


Invadir dispositivo informático alheio, conectado
ou não à rede de computadores, mediante violação
indevida de mecanismo de segurança e com o fim de
obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo
ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita.
(BRASIL, 2012)

A pena prevista para o crime verificado na forma simples é de detenção


de 3 meses a um ano e multa, havendo, entretanto, a previsão das formas
Detenção
qualificadas e causas de aumento de pena.

Consiste em uma
pena imposta No que se refere à consumação e tentativa, esse
em sentença
condenatória. Trata-se crime é formal, pois sua consumação se dá com a
de uma condenação
em que o condenado simples invasão ou instalação de vulnerabilidade,
poderá iniciar o seu
cumprimento apenas
não sendo necessário para se consumar a
em regime semiaberto obtenção ou não da vantagem ilícita pelo agente.
ou aberto, ao
contrário da reclusão,
que prevê também
o regime fechado.
As regras para os
regimes semiaberto e
aberto estão previstas
no Artigo 33, do
Código Penal.
UNIUBE 51

Podemos sintetizar esse crime por meio da Figura 5 abaixo:

Figura 5: Crime de invasão.

Invasão de Dispositivo Informático

Tipo objetivo
Bem jurídico
Crime comum misto Culpabilidade
tutelado
alternativo

Sendo um
crime de ação
A conduta
múltipla ou
O sujeito criminosa
conteúdo variado,
ativo do crime do crime
A liberdade apresenta os
cibernético pode cibernético
individual, a núcleos “invadir”
ser qualquer caracteriza-
privacidade e e “instalar”,
pessoa (física se somente
a intimidade podendo o agente
ou jurídica, de pelo dolo, não
das pessoas praticar ambas
direito público havendo a
como um todo. as condutas e
ou de direito previsão legal
responder por
privado), da conduta na
crime único,
forma culposa.
desde que num
mesmo contexto.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

IMPORTANTE!

Conforme o § 1º do artigo analisado, na mesma pena incorre quem produz,


oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador
com o intuito de permitir a prática da conduta definida no artigo 154-A.

Outra majorante da pena aplicada a essa conduta ocorre quando da


invasão resultar prejuízo econômico. Nesse caso, aumenta-se a pena de
um sexto a um terço conforme disposto no § 2º do Artigo 154-A.
52 UNIUBE

Se dessa invasão resultar a obtenção de conteúdo


A pena de reclusão
de comunicações eletrônicas privadas, segredos
É aplicada a comerciais ou industriais, informações sigilosas,
condenações mais
severas, o regime assim definidas em lei, ou o controle remoto não
de cumprimento
pode ser fechado, autorizado do dispositivo invadido, a pena será
semiaberto
ou aberto e, de reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
normalmente,
é cumprida em e multa, se a conduta não constituir crime mais
estabelecimentos grave.
de segurança
máxima ou média.

Caso, dessa invasão, resultar a obtenção de


conteúdo de comunicações eletrônicas privadas,
segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas
em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido e,
ainda, houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a
qualquer título, dos dados ou informações obtidas, aumenta-se a pena
de um a dois terços.

Por fim, ainda há uma possibilidade de aumento da pena de um terço à


metade se o crime for praticado contra os seguintes agentes:

• Presidente da República, governadores e prefeitos.


• Presidente do Supremo Tribunal Federal.
• Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de
Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito
Federal ou de Câmara Municipal ou
• dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual,
municipal ou do Distrito Federal.

Para os crimes definidos no Art. 154-A, somente se procede investigação


mediante representação, salvo se o crime é cometido contra a
administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da
União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas
concessionárias de serviços públicos.
UNIUBE 53

Isso quer dizer que a representação é a manifestação de vontade do


ofendido ou de seu representante legal, no sentido de ser instaurada uma
ação penal. Trata-se de uma autorização para que o órgão ministerial
possa propor referida ação penal. Nos casos em que a vítima for a
Administração Pública, não é necessário representação, pois o próprio
poder público instaura a ação penal.

3.3 Conclusão

As sociedades contemporâneas dependem cada vez mais de redes


eletrônicas e sistemas de informação. A evolução da tecnologia da
comunicação da informação também desencadeou o desenvolvimento
de atividades criminosas que ameaçam cidadãos, empresas, governos
e infraestruturas críticas: o crime cibernético.

São atos criminosos cometidos on-line usando redes de comunicações


eletrônicas e sistemas de informação gerando um problema sem
fronteiras, que pode ser evitado mediante a implementação de uma
legislação séria e legítima.

Resumo
O cibercrime geralmente pode ser definido como uma atividade criminosa
que envolve a estrutura da tecnologia da informação, incluindo acesso
ilegal (acesso não autorizado), interceptação (por meios técnicos
de transmissão de dados), interferência de dados (dano, exclusão,
deterioração, alteração ou supressão de dados de computador), sistemas
de interferência (interferência no funcionamento de um sistema de TI
por meio da entrada, transmissão, dano, cancelamento, deterioração,
alteração ou supressão de dados do computador), uso indevido de
dispositivos, falsificação , roubo de identidade, fraude no computador e
eletrônicos. As pessoas que cometem esses crimes, se capturadas, são
condenadas por diferentes tipos de penas.
54 UNIUBE

Os tipos de crimes na internet podem ser de vários tipos: desde a


mensagem ofensiva enviada por e-mail, até a difusão de imagens
difamatórias ou de pornografia infantil, ou o download de recursos
protegidos por direitos autorais. A identificação do autor de um crime
on-line é problemática por vários fatores: em um sistema, como a internet
- não controlado por nenhuma autoridade supranacional, que permite o
anonimato absoluto dos usuários, em que os dados se espalham muito
rapidamente além das fronteiras nacionais e em que a exclusão dos traços
é relativamente simples,- identificar a pessoa responsável por um crime é
uma operação realmente complexa e difícil de executar com êxito.

Por isso a necessidade de aprofundarmos nesse assunto e criar


estratégias para evitar os crimes digitais e suas consequências no mundo
econômico, social e político.

Referências
BRASIL. Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012. Dispõe sobre a tipificação
criminal de delitos informáticos; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 - Código Penal; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/ 2012/lei/l12737.htm. Acesso em: dez. 2019.

FAORO, Roberta Rodrigues; JESUS, Betina Ribeiro de; ABREU, Marcelo Faoro de.
Um estudo sobre crimes digitais: detecção e prevenção. Anais do IV SINGEP –
São Paulo – SP – Brasil – 08, 09 e 10/11/2015. Disponível em:
https://singep.org.br›resultado. Acesso em: dez. 2019.

MARTINS, Aline. Propriedade de informações e dados postados em ambiente


virtual, limites e extensões. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina,
ano 21, n. 4582, 17 jan. 2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/33385.
Acesso em: 15 jan. 2020.

VANCIM, Adriano Roberto; GONÇALVES, José Eduardo Junqueira. Os cybercrimes


e o cyberbullying - apontamentos jurídicos ao direito da intimidade e da privacidade.
Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 62, n° 199, p. 21-55, out./dez. 2011.
Disponível em: https://bd.tjmg. jus.br/jspui/bitstream/tjmg/395/1/D4v1992011.pdf.
Acesso em: nov. 2019.
UNIUBE 55

WIKIPEDIA. Misoginia. Página editada pela última vez às 12h51min de 9 de


novembro de 2019. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Misoginia.
Acesso em: dez. 2019.
Capítulo O direito autoral na
4 perspectiva digital

Introdução
Os direitos autorais que visam à proteção dos direitos morais e
econômicos dos criadores de obras literárias, científicas e artísticas
são reconhecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos
(Artigo 27.2), assim como os direitos à informação e à cultura.

Esses direitos intelectuais equivalem à detenção de um monopólio


de direitos que os autores possuem frente às suas obras, objeto da
legislação nacional e de convenções internacionais projetadas para
garantir sua harmonização mundial.

Desde a invenção da impressão, os direitos autorais foram adaptados


às várias tecnologias para disseminar e comunicar trabalhos da
mente que foram desenvolvidos posteriormente.
[...] a associação e o hábito com a palavra impressa
modificaram nosso modo de pensar sobre a arte
literária e respectivos estilos, fez nascer ideias a
respeito da originalidade e propriedade literária,
praticamente inexistentes na era do manuscrito,
e modificou o processo psicológico [...]. Na época
do manuscrito, podia ser considerado como ação
meritória copiar o livro de um homem e fazê-lo
circular; na era da palavra impressa, tal ação
resulta em processos e prejuízos. (McLUHAN,
1969, p.129)
Como o respeito aos direitos autorais é um requisito fundamental para
o pleno desenvolvimento do trabalho criativo pelo qual ele fornece
58 UNIUBE

remuneração, hoje, os direitos autorais enfrentam a dificuldade


de manter o delicado equilíbrio entre os interesses legítimos dos
autores, sucessores no título e o público em geral no ambiente
digital.

Segundo Pierre Lévy (1999), no livro “Cibercultura”, esta


infraestrutura engloba um modelo que proporciona um maior grau
de interatividade e compartilhamento, em que os usuários adquirem
um papel significativo no envio e no recebimento de informações.
Assim, os indivíduos ganham mais liberdade para interagir com o
conteúdo, aumentando as possibilidades de compartilhamento e de
colaboração.

Nos últimos anos, a internet se tornou uma infraestrutura poderosa


para o movimento global de dados de todos os tipos. Com o
crescimento contínuo a um ritmo exponencial, a internet passou de
um meio silencioso de comunicação entre os círculos de pesquisa
acadêmica e científica para a onipresença, tanto na arena comercial
quanto nas relações particulares. A internet agora é um importante
canal de dados global por meio do qual grandes quantidades de
propriedade intelectual são movidas.

Objetivos
Este capítulo tem como objetivo geral abordar o direito autoral na
perspectiva digital. Para tanto, pretende-se:
• definir o direito digital e suas classificações: moral e
patrimonial;
• levantar as principais legislações internacionais e a brasileira
sobre a temática estudada,
• analisar a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, e suas
aplicações no cenário brasileiro,
• compreender o reflexo da violação ao direito autoral no
ambiente digital.
UNIUBE 59

Esquema
4.1 O que são direitos autorais e quais são os direitos relacionados?
4.1.1 Direito moral e Direito patrimonial
4.2 Legislação própria dos direitos autorais
4.2.1 Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998
4.3 Violação ao direito autoral no ambiente digital
4.4 Conclusão

4.1 O que são direitos autorais e quais são os direitos


relacionados?

Os direitos autorais são uma forma de proteção à propriedade intelectual


fornecida pela legislação brasileira. Essa proteção está disponível
para obras de autoria originais que são produzidas de forma tangível,
publicadas ou não publicadas. As categorias de obras que podem
ser protegidas pelas leis de direitos autorais incluem textos, pinturas,
obras literárias, performances ao vivo, fotografias, filmes e softwares. A
importância dessa proteção se justifica, uma vez que:
[...] a informação é um bem cultural e social, um valor
de progresso e cultura e, bem como o conhecimento,
enriquece-se mediante intercâmbio. O direito que a
regulamenta não deve refletir somente os interesses
comerciais e de curto prazo, nem a assimilar de maneira
simplista, como bem de consumo, a que reduz a simples
objeto comercializável. O direito à informação busca o
sutil equilíbrio entre os titulares dos direitos (o benefício
da criação e/ou do investimento econômico) e os
possíveis usuários da informação. (GAMA, 2008, p.34)

Nessa perspectiva, você encontrará neste espaço uma breve visão geral
do que são os direitos autorais, os direitos do proprietário dos direitos
autorais, bem como a repercussão desse direito nos ambientes digitais.
Podemos definir direitos autorais como o direito exclusivo de uma pessoa
de reproduzir, publicar ou vender sua obra original de autoria (como uma
obra literária, musical, dramática, artística ou arquitetônica).
60 UNIUBE

É importante entender que a lei de direitos autorais cobre a forma de


expressão material, não os conceitos, as ideias, as técnicas ou os fatos
reais de um trabalho específico. Essa é a razão por que uma obra
deve ser produzida de forma tangível para receber proteção de direitos
autorais. O objetivo principal da Lei de Direitos Autorais é proteger o
tempo, o esforço e a criatividade do criador da obra. Como tal, a Lei
de Direitos Autorais concede ao proprietário de direitos autorais certos
direitos exclusivos, incluindo o direito de:

reprodução do trabalho,

preparação de trabalhos derivados (outros trabalhos baseados no


trabalho original),

distribuição de cópias da obra por venda, arrendamento ou outra


transferência de propriedade,

realização do trabalho publicamente,

exibição do trabalho publicamente,

O proprietário dos direitos autorais também tem o direito de autorizar


outras pessoas a fazerem qualquer um dos direitos mencionados acima.
Ou seja, ele tem a opção e a capacidade de transferir seus direitos
exclusivos - ou qualquer subdivisão desses direitos - para outros também.

Se um autor ou artista cria uma obra para uma empresa ou durante


o emprego, o criador geralmente não é o proprietário dos direitos
autorais. Essa situação é conhecida como “trabalho feito para locação"
e confere propriedade de direitos autorais ao empregador ou à pessoa
UNIUBE 61

que encomendou o trabalho. Um trabalho feito para uma situação de


contratação pode ocorrer quando a pessoa, de forma independente, é
contratada para criar um trabalho específico ou se o trabalho é criado
por um funcionário enquanto ele está trabalhando. Por exemplo, se um
funcionário escreve artigos para uma empresa, esta é a proprietária dos
direitos autorais, e não o autor real.

Devido ao crescimento acelerado e à popularidade da internet,


especialmente as plataformas de mídia social on-line que tornam o
compartilhamento de conteúdos simples e fácil, a tarefa de proteger
propriedades intelectuais se tornou muito difícil de implementar. As leis
e os regulamentos criados por vários órgãos legislativos do governo não
conseguem acompanhar o rápido aumento de novas tecnologias para
proteger obras e materiais protegidos por direitos autorais.

A proteção de direitos autorais é importante porque, sem ela, aqueles


que passam inúmeras horas criando suas obras intelectuais podem ser
explorados por qualquer pessoa e suas obras podem ser usadas por
essas pessoas para seu próprio ganho comercial, o que é injusto para
quem a criou. Proteger essas obras é vital para incentivar o fluxo de
novas ideias e criar uma economia movimentada para os pensadores e
artistas da nova geração.

4.1.1 Direito moral e Direito patrimonial

Os Direitos Autorais atribuem direitos de uso econômico, direitos morais


e direitos de compensação a autores de obras criativas (como obras
literárias, dramáticas, educacionais e religiosas), bem como musicais,
teatrais, coreografados, filmes, fotografias, obras de arquitetura,
programas de computador e bancos de dados.

Além dos Direitos Autorais, existem direitos “conectados” (ou “intimamente


relacionados”), destinados a recompensar e/ou incentivar o esforço
62 UNIUBE

criativo e o investimento daqueles que tornam essas obras acessíveis


e utilizáveis pelo público: artistas de obras musicais ou audiovisuais,
produtores de discos, emissoras de rádio e televisão, etc.

Os Direitos Autorais recompensam o trabalho dos criadores com a


atribuição de direitos exclusivos (ou seja, o direito de autorizar ou
não o uso de obras protegidas) e os direitos à compensação. Estes
garantem certo ganho para quem participou do processo criativo,
independentemente da transferência dos direitos exclusivos originalmente
atribuídos a outros sujeitos.

EXEMPLIFICANDO!

Por exemplo, além do direito exclusivo de autorizar a reprodução, distribuição


e comunicação ao público de suas interpretações e gravações musicais, os
artistas e produtores de discos têm o direito de receber uma taxa separada
pelo uso de suas obras reproduzidas por emissões de rádio e televisão,
filmes e para qualquer tipo de uso.

Os Direitos Autorais também concedem prerrogativas morais, autônomas


dos direitos de propriedade, que permitem ao autor ser reconhecido como
o autor de suas próprias obras criativas (ou o direito à autoria da obra)
e autorizar (ou se opor a) qualquer modificação, alteração, tradução ou
transposição do trabalho que possa prejudicar a honra e a reputação de
alguém (direito à integridade do trabalho).

Os Direitos Morais, típicos dos sistemas jurídicos europeu e brasileiro,


mostram como os direitos autorais são justificados antes de tudo pelo
fato de proteger a personalidade dos autores e, de maneira mais geral,
daqueles que contribuem para a criação de trabalhos criativos.

Por fim, deve-se lembrar que a lei de Direitos Autorais é regida pelo
princípio da territorialidade, segundo o qual cada país possui
UNIUBE 63

um sistema distinto de regras sobre esse direito; regras que foram


progressivamente harmonizadas por convenções internacionais desde
o final do século XIX e por um grande número de diretivas desde o início
dos anos 90.

Nesse sentido, o Direito Autoral pode ser entendido em duas dimensões


(Figura 1):

Figura 1: Dimensões do Direito Autoral.

Direito
autoral = Direito
patrimonial
+ Direito
moral

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Trata-se de dimensões que, embora sejam independentes,


complementam o conceito. O Direito Moral refere-se às características
relacionadas à personalidade do autor e tem natureza inalienável,
irrenunciável e imprescritível.

Como no Direito Autoral brasileiro há uma centralização sobre a figura


do autor da obra, a dimensão do Direito Moral se destaca, razão pela
qual merece ser analisada em todos os seus aspectos. O Art. 24 da
Lei 9610/98 elenca os Direitos Morais (Fig. 2) e indica suas principais
características (BRASIL, 1998):

Figura 2: Direitos morais.

• Direito à paternidade:
• Direito à integridade
direito de ser atribuído
da obra: a obra será
como autor da obra e,
preservada e não poderá
por conseguinte, de ser
ser alterada, sem a
citado sempre como
autorização do autor.
fonte de criação.
64 UNIUBE

• Direito de inédito: abarca a


Direito de retirar a obra
decisão de publicação ou não
de circulação: o autor
da obra, pelo autor, ou seja,
tem o direito de retirar
ao autor cabe a prerrogativa
a obra de circulação
de conferir publicidade a
(mediante ressarcimento
sua obra, ou de mantê-la
dos prejuízos).
sob o manto do ineditismo.

• Direito de modificar a • Direito de ter acesso


obra: antes ou depois a exemplar único
de finalizada. e raro da obra.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

No que se refere aos direitos patrimoniais, estes se referem à


contraprestação econômica decorrente dos diversos usos e das diversas
modalidades econômicas de explorações das obras intelectuais que o
autor tem como consequência do direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor
da obra literária, artística ou científica.

O Art. 28 da Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, e seguintes


(BRASIL,1998) discriminam quais seriam os direitos patrimoniais e suas
principais características além de esclarecer que, ao autor, cabe o direito
exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica.
Importante se faz esclarecer que, para cada modalidade de exploração
econômica, será necessária uma autorização específica, conforme
pode-se depreender por meio do Art. 29 da lei específica e seus diversos
usos de obras intelectuais (BRASIL,1998):
I - a reprodução parcial ou integral;
II - a edição;
III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras
transformações;
UNIUBE 65

IV - a tradução para qualquer idioma;


V - a inclusão em fonograma ou produção audiovisual;
VI - a distribuição, quando não intrínseca ao contrato
firmado pelo autor com terceiros para uso ou
exploração da obra;
VII - a distribuição para oferta de obras ou produções
mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou
qualquer outro sistema que permita ao usuário
realizar a seleção da obra ou produção para
percebê-la em um tempo e lugar previamente
determinados por quem formula a demanda, e nos
casos em que o acesso às obras ou produções
se faça por qualquer sistema que importe em
pagamento pelo usuário;

VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária,


artística ou científica, mediante:
a) representação, recitação ou declamação;
b) execução musical;
c) emprego de alto-falante ou de sistemas
análogos;
d) radiodifusão sonora ou televisiva;
e) captação de transmissão de radiodifusão em
locais de frequência coletiva;
f) sonorização ambiental;
g) a exibição audiovisual, cinematográfica ou por
processo assemelhado;
h) emprego de satélites artificiais;
i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos
ou não, cabos de qualquer tipo e meios de
comunicação similares que venham a ser
adotados;
j) exposição de obras de artes plásticas e
figurativas;
IX - a inclusão em base de dados, o armazenamento em
computador, a microfilmagem e as demais formas
de arquivamento do gênero;
X - quaisquer outras modalidades de utilização
existentes ou que venham a ser inventadas.
66 UNIUBE

Resumindo: os direitos patrimoniais são os direitos exclusivos do autor


de usar sua obra economicamente de qualquer forma e maneira, original
ou derivada e de receber uma taxa por cada tipo de uso deles.

Logo, os direitos patrimoniais são independentes entre si: o exercício de


um deles não exclui o exercício exclusivo de cada um dos outros direitos.
São, portanto, exercíveis separadamente ou em conjunto e podem ter
como objetivo o trabalho em sua totalidade ou em cada uma de suas
partes.

Por fim, diferentemente dos direitos morais, os direitos patrimoniais


podem ser renunciados e transferidos para terceiros. Faremos, a seguir,
uma análise da legislação que respalda os direitos autorais.

4.2 Legislação própria dos direitos autorais

No Brasil, a Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 5º, inciso


XXVII, dispõe que, aos autores, pertence o direito exclusivo de utilização,
publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo
tempo que a lei fixar. Desse modo, é valido citar a seguinte interpretação
do inciso:
O artigo 5º, XXVII, que assegura o direito autoral,
contém duas normas bem distintas. A primeira e
principal confere aos autores o direito exclusivo
de utilizar, publicar e reproduzir suas obras, sem
especificar, como faziam as constituições anteriores,
mas, compreendido em conexão com o inciso IX do
mesmo artigo, conclui-se que são obras literárias,
artísticas, científicas e de comunicação. Enfim, aí se
asseguram os direitos do autor de obra intelectual e
cultural, reconhecendo-lhe, vitaliciamente, o chamado
direito de propriedade intelectual, que compreende
direitos morais e patrimoniais. A segunda norma declara
que esse direito é transmissível aos herdeiros pelo
tempo que a lei fixar. (SILVA, 2014, p. 278).

Portanto, além da Constituição Brasileira proteger os direitos do autor,


também garante aos herdeiros que lhes sejam transmitidos esses
UNIUBE 67

direitos, evidenciando a intenção do legislador de resguardar o domínio


sobre as criações artísticas, científicas e literárias que sejam produzidas.
No âmbito penal, colaboram Pamplona Filho e Gagliano (2012, p. 307):
O Código Penal Brasileiro, por exemplo, traz tipos
próprios para os ilícitos praticados contra a propriedade
imaterial (bens incorpóreos), como a violação de direito
autoral (artigo 184), além de haver expressa disciplina
de outros crimes contra a propriedade (patentes,
desenhos industriais, marcas, etc.), na Lei nº 9.279/96,
que regula direitos e obrigações relativos à propriedade
industrial.

Como pode ser observado, a propagação cada vez maior das obras
intelectuais por intermédio dos meios de comunicação implicou a
necessidade de proteger o direito autoral não só no âmbito nacional como
também mundo afora. Dessa forma, tornou-se necessária a existência de
contratos internacionais nos quais se procura dar, aos autores e editores
dos países assinantes, a mesma proteção legal que têm em seu próprio
país. O Brasil assinou os seguintes tratados (Figura 3):

Figura 3: Tratados internacionais em que o Brasil é signatário.

1. Convenção de Berna (09.09.1886)

2. Convenção Universal (24.07.1971)

3. Convenção de Roma (26.10.1961)

4. Convenção de Genebra (29.10.1971) (fonogramas)

5. Acordo sobre aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual


Relacionados ao Comércio

Fonte: Elaborado pelas autoras.


68 UNIUBE

Atrelada a essa realidade internacional, situa-se também a atual


legislação brasileira de direitos autorais, sintetizada na Lei 9.610/98,
como uma das mais restritivas em relação às demais legislações ao redor
do mundo. No que diz respeito à formulação de medidas protecionistas
em favor dos direitos autorais no Brasil, esta ocorreu, num primeiro
momento, com a vigência da Lei 5.988, de 14 de dezembro de 1993,
que regulamentava o direito autoral em território pátrio. Porém, a partir
de 19 de junho de 1998, entra em vigor a atual Lei Brasileira de Direitos
Autorais (LDA), realizando alterações na legislação sobre os direitos de
autor, as quais veremos a seguir.

4.2.1 Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998

PESQUISANDO NA WEB

Acesse a legislação na íntegra pelo link:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm

Essa lei regula os direitos autorais, entendendo-se em relação a esta


denominação os direitos de autor e os que lhes são conexos. Conforme
dispõe o Art. 2º, “Os estrangeiros domiciliados no exterior gozarão da
proteção assegurada nos acordos, convenções e tratados em vigor no
Brasil. ” (BRASIL, 1998)
O direito autoral é a propriedade do autor sobre sua obra, e o autor é a
pessoa física criadora da obra literária, artística ou científica. Quanto à
titularidade, Abrão (2002, p.18 ) ensina que:
Autor é o criador da obra protegida e titular de direitos.
A criação cria um vínculo indissolúvel entre autor e
obra, mas a titularidade pode ser adquirida por terceiros
em virtude de contrato (inter-vivos) ou em função de
sucessão (mortis-causa). Titular originário é apenas a
pessoa física, ou, na hipótese singular da obra coletiva,
o organizador, seja ele pessoa física ou jurídica. Titular
derivado é autor por transmissão, é aquele ou aqueles
que adquiriram o exercício de alguns direitos sem
participação no processo criativo originário.
UNIUBE 69

Segundo o Art. 7º dessa lei, são obras intelectuais protegidas as criações


do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte,
tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:

I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;


II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras
da mesma natureza;
III - as obras dramáticas e dramático-musicais;
IV- as obras coreográficas e pantomímicas, cuja
execução cênica se fixe por escrito ou por outra
qualquer forma;
V - as composições musicais, tenham ou não letra;
VI- as obras audiovisuais, sonorizadas ou não,
inclusive as cinematográficas;
VII - as obras fotográficas e as produzidas por qualquer
processo análogo ao da fotografia;
VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura,
litografia e arte cinética;
IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da
mesma natureza;
X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes
à geografia, engenharia, topografia, arquitetura,
paisagismo, cenografia e ciência;
XI - as adaptações, traduções e outras transformações
de obras originais, apresentadas como criação
intelectual nova;
XII - os programas de computador;
XIII - as coletâneas ou compilações, antologias,
enciclopédias, dicionários, bases de dados e
outras obras, que, por sua seleção, organização
ou disposição de seu conteúdo, constituam uma
criação intelectual.
§ 1º Os programas de computador são objeto de
legislação específica, observadas as disposições
desta Lei que lhes sejam aplicáveis.
§ 2º A proteção concedida no inciso XIII não abarca os
dados ou materiais em si mesmos e se entende
sem prejuízo de quaisquer direitos autorais que
subsistam a respeito dos dados ou materiais
contidos nas obras.
70 UNIUBE

§ 3º No domínio das ciências, a proteção recairá sobre


a forma literária ou artística, não abrangendo o
seu conteúdo científico ou técnico, sem prejuízo
dos direitos que protegem os demais campos da
propriedade imaterial. (BRASIL, 1998)

Em sequência, não são objeto de proteção da Lei de Direitos Autorais


(Figura 4).

Figura 4: Objetos não alcançados pela Lei de Direitos Autorais.

ideias,
esquemas, planos formulários em branco
procedimentos
ou regras para para serem preenchidos
normativos,
realizar atos mentais, por qualquer tipo de
sistemas, métodos,
jogos ou negócios; informação, científica ou
projetos ou conceitos
não, e suas instruções;
matemáticos;

textos de tratados informações de


ou convenções, uso comum,
leis, decretos, como calendários, nomes e títulos
regulamentos, decisões agendas, cadastros isolados;
judiciais e atos oficiais; ou legendas;

aproveitamento
industrial ou
comercial das ideias
contidas nas obras.

Fonte: Brasil (1998).

IMPORTANTE!

A proteção dos direitos patrimoniais do autor prevista em lei para as obras


artísticas é de 70 anos, e a proteção para o programa de computador é de
50 anos, contados de 1º (primeiro) de janeiro do ano subsequente ao de
sua divulgação.
UNIUBE 71

Com relação ao tema, Abrão (2002, p.20) diz que:


O prazo de duração dos direitos conexos é harmônico
em relação ao dos autores: setenta anos contados a
partir de 1o. de janeiro (dies a quo), variando, de titular
para titular, o termo final (dies ad quem); no caso dos
artistas, o termo inicial conta-se a partir da execução ou
da representação públicas, no caso das empresas de
radiodifusão no dia da primeira emissão do programa,
e no dos fonogramas a partir da data de sua fixação
(artigo 96). As obras audiovisuais transmitidas pelas
TVs podem ter data de divulgação anterior quando se
tratarem de obras autorais independentes. Neste caso,
o prazo se conta da data da primeira publicação, isto é,
da primeira exibição pública, e não da transmissão.

4.3 Violação ao direito autoral no ambiente digital

Os direitos autorais são violados quando um trabalho protegido é usado


sem a devida autorização do proprietário dos direitos e a atividade em
questão não se enquadra em uma exceção ou limitação ao direito autoral.

Com as exceções ao direito autoral, a legislação atual identifica


casos e situações em que o uso gratuito pode equilibrar a proteção
do direito autoral com a proteção de objetivos e valores que, muitas
vezes, contrastam com ele (por exemplo, liberdade de expressão e
comunicação, proteção da privacidade do usuário, progresso artístico e
científico etc.).

Os problemas que podem ser enfrentados pela violação de direitos


autorais dependem, acima de tudo, da gravidade da infração e da
aplicação de medidas e sanções que podem ser solicitadas e obtidas
pelos detentores dos direitos (também on-line, em caso de violação)
imposto diretamente pela autoridade administrativa ou judicial.

Na era digital, os direitos autorais tornaram-se mais vulneráveis, quando


estão sujeitos a violações, mesmo em grandes proporções; basta pensar
no compartilhamento não autorizado de grandes quantidades de dados e
72 UNIUBE

materiais protegidos por direitos autorais por meio de programas e sites


semelhantes e de compartilhamento de arquivos, como redes sociais.

É bom lembrar que a falta de consciência da natureza ilícita de um certo


uso de obras protegidas por direitos autorais pode tornar esse uso do
ponto de vista criminal menos sério ou punível, no entanto pode ser
completamente irrelevante nos casos em que a autoridade administrativa
é obrigada a impor sanções monetárias ou a autoridade judicial deve
decidir sobre pedidos de indenização pelos detentores de direitos contra
o usuário.

O uso de plataformas digitais, que permitem publicar conteúdo, ou


redes sociais, que permitem o compartilhamento, vincula-se ao respeito
aos termos e às condições de uso da própria plataforma. O uso de
plataformas implica um compromisso de publicar e disponibilizar obras
e outros materiais dos quais se detêm os direitos ou para os quais se
possui uma autorização apropriada dos respectivos proprietários.

REGISTRANDO

Se você publicar materiais protegidos sem autorização, criando um link de


hipertexto (link) para esses materiais e/ou incorporando-os em uma página
pessoal da web ou disponibilizando-os para seus contatos (também podem
ser milhares de pessoas), você é diretamente responsável pela publicação
e é muito provável que essa atividade viole os direitos autorais.

A responsabilidade legal pode ser evitada se as inserções e publicações


de obras protegidas por direitos autorais já estiverem disponíveis em
outras partes da internet (por exemplo, no YouTube) com o consentimento
do titular do direito.
UNIUBE 73

Essa conclusão decorre de uma interpretação das regras de direitos


autorais do Tribunal de Justiça, cuja implementação em nível nacional
exige uma análise mais aprofundada.

Sempre que se usa uma plataforma digital que permita publicar conteúdo,
aceitam-se os termos e as condições de seu uso. Como regra, as
condições contratuais que regem a aquisição e o uso de conteúdo criado
pelo usuário em plataformas ou redes sociais não proporcionam uma
transferência real da propriedade intelectual das obras.

EXEMPLIFICANDO!

O proprietário da plataforma (por exemplo, Facebook ou Instagram) indica


nas «condições de uso» as atividades e os métodos permitidos. É uma boa
prática ler atentamente os termos e as condições de cada plataforma ou
rede social antes de decidir a usá-los, como usá-los e para que tipos de
trabalhos. Enfim, para proteger o usuário como autor, existem disposições
regulamentares que podem ser úteis se o proprietário da plataforma
reivindicar a propriedade intelectual das obras nela carregadas.

4.4 Conclusão

Diante do exposto, conclui-se que é, de fato, esperado que o exercício de


direitos exclusivos deva ser exercido independentemente o que significa
que cada tipo de exploração do trabalho (dependendo dos meios técnicos
e das plataformas ou canais escolhidos) requer acordos separados e
específicos.

Resumo

Uma obra protegida por direitos autorais pode ser disponibilizada na web
na medida em que o proprietário dos direitos autorais tenha dado sua
autorização para um determinado uso digital de sua obra. A existência
74 UNIUBE

de uma autorização pode ser verificada observando se o modelo de


distribuição digital escolhido pelo proprietário dos direitos é sem fins
lucrativos ou, pelo contrário, comercial.

Por exemplo, hoje em dia, existem muitos trabalhos protegidos por


direitos autorais oferecidos na rede gratuitamente como resultado de
licenças, cuja divulgação também facilita a pesquisa nos mecanismos
de pesquisa. Essas licenças acompanham os trabalhos e, também, por
meio do uso de metadados incorporados no site ou documento que
os contém, informar o usuário do desejo do proprietário de autorizar
com antecedência o acesso, a cópia, a distribuição e, se necessário,
modificação ou desenvolvimento do trabalho.

Normalmente, licenças desse tipo contêm uma referência precisa ao


detentor dos direitos, o que permite ao usuário entrar em contato com
ele e verificar diretamente a autenticidade da licença.

No entanto, com relação à distribuição comercial de conteúdo na rede,


a cópia legítima é normalmente aquela pela qual a compensação foi
paga e/ou o usuário teve acesso ao aceitar os termos e as condições
de um serviço on-line, no qual detentores de direitos autorais de
contexto são identificados corretamente. É improvável que uma cópia
encontrada em um determinado site ou plataforma ou em uma rede de
“compartilhamento de arquivos” seja permitida sem que esse contrato
comercial ou o escolhido seja devidamente divulgado.

De fato, cabe aos próprios autores notificar o desejo de disponibilizar


o trabalho gratuitamente. Os fornecedores comerciais de conteúdo
autorizado adquirem regularmente os direitos necessários e, portanto,
oferecem cópias autorizadas das obras protegidas para promoverem
adequadamente seus serviços e torná-los atraentes sem incorrer em
violações maciças de direitos autorais.
UNIUBE 75

Referências
ABRÃO, Eliane Yachouh. Direitos de autor e direitos conexos. São Paulo:
Ed. do Brasil, 2002.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituição/constituicaocompilado.htm.
Acesso em: 25 out. 2019.

BRASIL. Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida


a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível
em: www.planalto.gov.br›ccivil_ 03›leis. Acesso em: 25 maio 2017.

GAMA, Janete Gonçalves de Oliveira. Direito à informação e direitos autorais:


desafios e soluções para os serviços de informação em bibliotecas universitárias.
Campinas, PUC, 2008.

LÉVI, PIERRE. Cibercultura. 1.ed. (1. Reimpressão). Tradução de Carlos Irineu


da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999.

McLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensões do homem.


São Paulo: Cultrix, 1969.

PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito


civil. São Paulo: Saraiva, 2012. V. 1.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo:
Malheiros, 2014.
Capítulo Negócios digitais
5

Introdução
Os negócios on-line existem praticamente desde o advento
da Internet. Afinal, onde mais você teria um espaço para os
empreendedores se estabelecerem de uma maneira conveniente
e acessível?

Embora os negócios on-line ainda estejam florescendo, o cenário


mudou. À medida que a Internet ganha mais recursos e se torna
mais complexa, aumentam as oportunidades para a criação de uma
organização on-line.

Objetivos

No capítulo 5, falamos sobre os negócios digitais. Além dos


conceitos e das características, abordamos seu histórico, suas
variantes, seus elementos e suas aplicações. Por meio deste
capítulo, além de você compreender como funcionam os negócios
eletrônicos, seus benefícios e riscos, terá a oportunidade de
correlacionar as situações de negócios com os cenários comerciais
das organizações e poder interpretar os resultados de negócios
eletrônicos visando à melhoria da gestão organizacional.
78 UNIUBE

Esquema
5.1 E-business: diversas oportunidades para um mundo de
possibilidades
5.2 Transformação, otimização, integração e humanização dos
negócios
5.3 Desafios e vantagens dos negócios eletrônicos
5.3.1 Vantagens dos negócios eletrônicos
5.3.2 Desafios dos negócios eletrônicos
5.4 Conclusão

5.1 E-business: diversas oportunidades para um mundo de


possibilidades

Economia digital Os negócios digitais, como o termo sugere, é


Foi um termo um tipo de negócio que envolve a negociação
cunhado por Nicholas
Negroponte em pela Internet. Conhecido mundialmente como
1995 e que depois
apareceu na sua obra e-business, pode ser caracterizado como
Being Digital, usando
uma metáfora da transações comerciais conduzidas por meio
passagem do modelo de redes públicas ou privadas, incluindo:
dos átomos (matéria,
massa, transporte) transferências financeiras, bolsas de ofertas
para o modelo de bits
de processamento on-line, leilões, distribuição de produtos e
(imponderabilidade,
virtualidade, serviços, atividades de cadeias de suprimento e
instantâneo e
global). Nesta nova redes integradas de empresas (CUNNINGHAM,
economia, as redes 2001).
e infraestruturas de
comunicação digital
devem fornecer uma
plataforma global na Esta modalidade permite que os clientes
qual as pessoas e
organizações definem troquem eletronicamente bens e serviços
estratégias, interagem,
comunicam, praticamente sem barreiras,fortalendo o que
colaboram e procuram denominamos economia digital.
informações para
atuações coletivas ou
conjuntas.
UNIUBE 79

Como pode ser observado ao nosso redor, o comércio eletrônico


expandiu muitas vertentes nos últimos anos e, com o ritmo acelerado,
espera-se expandir ainda mais, fortalecendo o empreendedorismo virtual.

Para Gomes (2003, p. 15), o empreendedor virtual deve ser um indivíduo que
possua todos os requisitos necessários para ser
um empreendedor, com algumas qualidades mais
evidentes, como gerenciamento de inovação,
identificador de tendências, descobridor de nichos e
principalmente deve conhecer muito bem o ramo em
que atua.

O empreendedor virtual está envolvido no e-business, que,


segundoTurban e King (2004), pode ser caracterizado como uma
definição mais ampla do comércio eletrônico, já que não inclui somente
a compra e venda de produtos e serviços, mas também a prestação de
serviços, cooperação de parceiros comerciais e realização de negócios
eletrônicos dentro de uma organização.

No entanto existem várias questões legais relacionadas à formação e


validade de transações eletrônicas, como contratos on-line e questões
de aplicação, que serão tratadas nos próximos dois capítulos.

O crescimento da indústria do comércio eletrônico não é apenas


indicativo da crescente abertura do público, mas também trouxe à frente
os problemas que o sistema jurídico tem enfrentado em nível mundial.

No Brasil, por exemplo, além de atender às premissas do Código de


Defesa do Consumidor, os lojistas virtuais também precisam responder à
Lei 7.962, de 2013, específica para o comércio eletrônico. Portanto uma
compreensão abrangente do regime jurídico e os possíveis problemas que
uma empresa de comércio eletrônico enfrentaria juntamente com planos
eficazes de gerenciamento de riscos têm sido a necessidade atual para
que as empresas de negócio eletrônico tenham sucesso nesse setor.
80 UNIUBE

O negócio eletrônico consiste essencialmente no fornecimento de


produtos e serviços em sistemas eletrônicos, como Internet, redes de
computadores, e-mail ou telefones móveis, e pode ser aplicado a várias
funções comerciais como exemplificamos na Figura 1 abaixo:

Figura 1: Funções comerciais.

A Internet oferece a muitas empresas o ato de promover seus


produtos. As empresas podem desenvolver um site para criar
sua marca, exibir um inventário completo de produtos, fornecer
Marketing literatura de produtos ou até enviar comunicados de imprensa
on-line. As empresas também podem anunciar on-line e
direcionar compradores interessados a um revendedor
autorizado ou vender o produto.

Como as lojas on-line não são limitadas pelo espaço físico,


elas podem oferecer uma variedade maior de produtos do
Vendas que uma loja física. Isso também beneficia os compradores,
já que agora eles têm um estoque maior de produtos para
escolher.

Os editores de livros, software, músicas, filmes e fotos podem


distribuir seus produtos eletronicamente, em vez de fabricar,
armazenar e enviar um produto físico. Mesmo para produtos
Distribuição que precisam ser enviados, o comércio eletrônico oferece
soluções de gerenciamento da cadeia de suprimentos, sistemas
automatizados de gerenciamento de inventário e rastreamento
on-line dos produtos enviados.

Os caixas eletrônicos são um excelente exemplo de aplicativo


de comércio eletrônico antecipado, no qual os clientes podem
Transações depositar, sacar ou transferir seus fundos. Outros aplicativos
financeiras de comércio eletrônico que afetam a maioria das empresas
incluem transferência eletrônica de fundos e processamento de
pagamento com cartão de crédito.

As empresas também podem fornecer serviço e suporte ao


produto on-line. Em nível básico, as empresas podem
publicar edições eletrônicas dos manuais de seus produtos
no site da empresa. Elas também podem arquivar problemas
Serviços e soluções comuns de suporte em seu site, além de fornecer
e suporte um fórum para seus usuários resolverem problemas.
Algumas empresas ainda fornecem um aplicativo de
bate-papo on-line gratuito para os clientes entrarem em
contato com o pessoal de vendas ou suporte.

Fonte: Elaborado pelas próprias autoras.


UNIUBE 81

5.2 Transformação, otimização, integração e humanização


dos negócios
As tecnologias digitais mudaram profundamente a maneira como fazemos
negócios, compramos, trabalhamos e vivemos. Eles até alteraram a
sociedade e continuam impactando praticamente todas as funções e
indústrias de negócios. Em parte, trata-se de negócios digitais.

Hoje, os negócios digitais são usados principalmente em um contexto


de transformação digital, otimização holística dos negócios, interrupção
e integração/convergência. No entanto, é muito mais do que isso. É
também sobre transformação do marketing digital, negócios sociais
e - como nunca podemos esquecer o elemento humano que corre o
risco de ser ignorado em meio à avalanche de novas tecnologias e ao
fascínio digital - humanização. Uma parte essencial de tudo isso é a
informação colocada em prática, que requer uma abordagem ampla de
gerenciamento e a conexão de valor para criar mais valor em todo o
ecossistema produtivo.

Fornecer o conteúdo certo no momento certo pelos canais certos e


possibilitar experiências relevantes desempenha um papel fundamental
em todas as evoluções voltadas para o cliente. Por isso tantas outras
especialidades e ramificações surgiram com estas inovações:

Figura 2: Negócios digitais.

negócios marketing de marketing de


sociais mídia social conteúdo

marketing automação marketing de


integrado de marketing circuito fechado

Fonte: Esquema montado pelas autoras.


82 UNIUBE

Como as tecnologias digitais oferecem novas maneiras de conectar,


colaborar, conduzir negócios e criar conexões entre as pessoas, elas
refletem em todas as funções de negócios e até na maneira como as
organizações são gerenciadas.

CURIOSIDADE

O termo ‘negócios digitais’ ganhou mais atenção quando Nigel Fenwick,


da Forrester, publicou na internet o artigo “2013: O Ano dos Negócios
Digitais”. Ele analisou as evoluções dos negócios sociais - afirmando que
eles certamente continuariam a evoluir - mas afirmou, com razão, que as
ferramentas sociais não removeram a complexidade ou diminuíram o volume
de informações que devemos processar.

Enquanto Nigel queria enfatizar a necessidade de repensar os processos de


negócios, levando em consideração esse novo paradigma de comunicação,
outros, como o Gartner se, dedicaram-se a analisar o elemento disruptivo
na definição dos negócios digitais.

Nigel também mencionou o que, segundo nós, é o mais importante: a


experiência do cliente (no sentido mais amplo possível) e também a
dimensão da convergência. Dito de forma simples: todas as coisas se juntam
e ficam intimamente conectadas e integradas por essa razão.

As tecnologias digitais também desafiaram os modelos de negócios


existentes e continuam a fazê-lo. Uma das principais forças motrizes é
a capacidade de inovação e a consumerização de TI, que, do ponto de
vista tecnológico, vai além da famosa terceira plataforma e das evoluções
que estamos testemunhando hoje: computação em nuvem, Internet das
coisas, dispositivos móveis, big data etc.
UNIUBE 83

Figura 3: Plataformas digitais.

Computação em nuvem

Do inglês cloud computing é um conceito que faz referência a


uma tecnologia que permite o acesso a programas, arquivos
e serviços por meio da Internet, sem a necessidade de
instalação de programas ou armazenamento de dados - daí
vem a alusão à “nuvem”.

Internet das coisas

Refere-se a uma revolução tecnológica que tem como objetivo


conectar os itens usados do dia a dia à rede mundial de
computadores. Cada vez mais surgem eletrodomésticos, meios
de transporte e até mesmo tênis, roupas e maçanetas
conectadas à internet e a outros dispositivos, como
computadores e smartphones

Big Data

Esse termo se refere aos dados estruturados e não


estruturados que são gerados diariamente - na verdade, a cada
segundo - pelas empresas. É uma ferramenta inserida no
contexto da Era da Informação, que permite aos negócios
maior capacidade de tomar decisões acertadas e definir o
melhor caminho a seguir.

Fonte: Gettyimages. Acervo-Uniube.

Tendo em vista esses conceitos, a razão de ser de uma organização,


como a de qualquer organismo, é ajudar as partes que se relacionam
a serem capazes de lidar com as mudanças no ambiente. Isso significa
que eles estão tentando antecipar o futuro de uma maneira ou de outra.
Cada sistema está tentando antecipar mudanças no ambiente.

É realmente um ecossistema muito amplo de processos, tecnologias,


funções de negócios, infraestrutura etc., movendo-se para estágios mais
altos nos modelos de maturidade.

À medida que dispositivos móveis, sociais, nuvem e big data se reúnem,


vemos o surgimento da estratégia de negócios digitais: a capacidade
84 UNIUBE

de aproveitar as tecnologias digitais para transformar a equação do


valor do cliente e gerar vantagem competitiva. E é aí que estamos
nos aproximando da definição de negócios digitais da Gartner e vemos
essa convergência entre negócios e TI.

Os negócios digitais prometem inaugurar uma convergência sem


precedentes de pessoas, negócios e coisas que perturbam os modelos
de negócios existentes. Mas a perspectiva das pessoas precisa ser mais
do que isso: conectar tecnologias, pessoas, informações e processos
com o objetivo de permitir melhores experiências ao cliente.

Figura 4: Negócios digitais.

Fonte: Gettyimages. Acervo-Uniube.


UNIUBE 85

“A realidade é que negócios digitais


“Algumas empresas demandam habilidades, práticas de
trabalho, modelos organizacionais e até
vão navegar pelas culturas diferentes”, diz Marcus Blosch,
mudanças e outras que Vice-Presidente de Pesquisa do Gartner.
Para ele, é difícil mudar uma organização
não conseguirem vão ficar que é designada para um tipo de estrutura,
desatualizadas e serão orientada em processos mundiais
para uma companhia voltada para
substituídas”, diz Marcus ecossistemas, colaboração, aprendizado e
Blosch, Vice-Presidente experimentação. “Algumas empresas vão
navegar pelas mudanças e outras que não
de Pesquisa do Gartner. conseguirem vão ficar desatualizadas e
serão substituídas”. TIinside (2018)

PARADA PARA REFLEXÃO

Embora a maioria das evoluções digitais seja vista de uma perspectiva


centrada na tecnologia e na empresa, muitas vezes levando a estratégias
de negócios desconectadas, é importante cortar os chavões do dia a dia,
colocá-las em contexto e focar as questões reais: como melhorar sua
eficiência, negócios e a vida das pessoas no ecossistema em que você
opera?

Para responder a essa pergunta vamos elencar alguns riscos e


vantagens dos negócios eletrônicos. Nossa intenção não é colocá-los
em um tribunal do júri para absolvê-los ou condená-los, afinal, eles já são
uma realidade no mundo atual. Buscaremos elementos para uma análise
crítica sobre as competências e habilidades que devemos desenvolver
enquanto gestores de ambientes em que a tecnologia impera e determina
comportamentos organizacionais.

5.3 Desafios e vantagens dos negócios eletrônicos

Você não precisa ser um especialista em negócios para saber que o


negócio eletrônico reformulou o mercado moderno nos últimos anos.
Embora seja um modelo dominante, a venda de bens ou serviços on-line,
por exemplo, traz seu próprio conjunto de vantagens e desvantagens
86 UNIUBE

em comparação com os negócios tradicionais realizados em ambientes


construídos com tijolo e argamassa.

Cada vez mais pessoas confiam na internet para negociar on-line.


Muitos comerciantes decidem operar um site de comércio eletrônico
ao lado de sua loja física, enquanto outros preferem confiar apenas no
canal da web para oferecer seus produtos e serviços ao mundo inteiro.
Esse fenômeno agora envolve clientes de todas as nacionalidades, que
encomendam seus itens remotamente, independentemente do horário
de funcionamento e de fechamento.

Portanto as organizações precisam olhar além do convencional e


desenvolver suas próprias perspectivas sobre o valor do negócio
eletrônico. Como isso agrega valor ao negócio e por que os consumidores
optam por fazer compras on-line?

Nesse sentido, é importante explorar as duas perspectivas, porque


as vantagens para os consumidores podem acabar se tornando uma
desvantagem para as empresas que realizam negócios eletrônicos e
vice-versa.

Se uma organização deseja negociar on-line, certamente é uma


oportunidade a ser aproveitada e pode ter várias vantagens, mas,
ao mesmo tempo, oculta alguns aspectos negativos que devem ser
considerados. Vamos ver quais são os prós e os contras de um negócio
realizado no ambiente on-line.

5.3.1 Vantagens dos negócios eletrônicos

A internet pode ser definida como uma das facetas mais importantes da
sociedade moderna. Ela desempenha um papel fundamental em tudo,
desde a repercussão de um discurso político, como no Ensino Superior,
até na maneira como conduzimos nossos negócios e nós mesmos. Não
UNIUBE 87

é de admirar, portanto, que a mudança para um modelo de negócios


eletrônicos tenha vantagens significativas.

Uma primeira vantagem se dá pelo fato de o negócio eletrônico eliminar


a necessidade de lojas físicas e permitir que as empresas expandam
sua base de clientes. Além de eliminar a possibilidade de longas filas,
o ambiente on-line oferece uma enorme vantagem para compradores e
lojas que não estão localizadas nas principais áreas urbanas. Mesmo se
uma organização estiver localizada em uma cidade grande, o comércio
eletrônico abre novos mercados, permitindo que ela desenvolva um novo
modelo de negócios voltado para uma base crescente de consumidores.

Neste mesmo sentido, a empresa também pode economizar dinheiro


com aluguel, serviços públicos, manutenção e outros custos associados
a lojas físicas. Uma loja de comércio eletrônico pode permanecer
essencialmente aberta 24 horas por dia, sete dias por semana, sem
a contratação de funcionários para garantir a segurança do negócio.
Como este negócio não está confinado a uma quantidade definida de
espaço na prateleira, não há limite para o número de itens que podem
ser vendidos on-line, e o estoque pode expandir-se exponencialmente.
Os produtos físicos ainda precisarão ser armazenados em algum lugar,
mas os espaços de armazenamento geralmente são mais baratos que os
de varejo, e a gestão não precisa se preocupar com fatores como tráfego
de pedestres e estacionamento.

Os produtos digitais podem ser vendidos on-line com pouco ou nenhum


custo adicional. Graças ao comércio eletrônico, os consumidores podem
comprar músicas, vídeos ou livros instantaneamente. Agora as lojas
podem vender cópias ilimitadas desses itens digitais, sem ter que se
preocupar com o local onde armazenarão o inventário.

O comércio eletrônico também permite que uma organização seja


expandida mais facilmente do que os varejistas físicos. Quando uma
88 UNIUBE

organização física cresce, é preciso considerar como atenderá mais


clientes no mesmo espaço. Obviamente, a logística sempre fica mais
difícil à medida que a complexidade aumenta, não importando como
a empresa opere. Com a escolha certa de um fornecedor que realize
a logística, no entanto, as empresas de comércio eletrônico podem
gerenciar esse crescimento sem se preocupar com os aspectos da loja
física.

Manter contato com os clientes costuma ser mais fácil para as empresas
que adotam os negócios digitais. Como essas organizações capturam
as informações de contato na forma de e-mail, o envio de e-mails
personalizados e automatizados é simples. Informar os clientes sobre
uma venda, promover um novo produto ou apenas entrar em contato
com eles para um contato pessoal são tarefas realizadas com o mínimo
de esforço. Além disso, ferramentas da web, como cookies, permitem
uma personalização superior da loja e uma análise do comportamento
do consumidor.

Os benefícios que os consumidores desfrutam são compartilhados


pelas empresas de comércio eletrônico quando se trata da cadeia de
suprimentos. Outro motivo que fundamenta os consumidores optarem
por negócios on-line se dá devido ao fato de não se precisar lidar com
dinheiro, se preocupar com agendas ou esperar longas filas. Esses
benefícios também se aplicam a cadeias de suprimentos inteiras
interligadas a sistemas de comércio eletrônico entre empresas. As
compras ficam mais rápidas, transparentes e não há necessidade de
lidar com notas ou dinheiro. Os resultados são transações mais baratas
e fáceis, com menos oportunidades de erros contábeis.

Por fim, o comércio eletrônico permite que sua empresa rastreie a


logística, essencial para uma organização bem-sucedida. A estratégia
de varejo convencional concentra-se no estoque de mercadorias em
UNIUBE 89

movimento rápido, mas a economia do comércio eletrônico permite a


inclusão de produtos em movimento lento e até obsoletos no catálogo. O
armazenamento é mais barato e a exibição do produto é tão fácil quanto
adicionar outra página de item ao seu site.

5.3.2 Desafios dos negócios eletrônicos

Embora inicialmente pareça que o negócio eletrônico resolva todos os


seus problemas de negócios, há desafios ao se optar por ambientes
on-line.

Muitos consumidores ainda preferem o toque pessoal e os


relacionamentos formados em um ambiente físico. Isso pode ser
especialmente valioso para os clientes que compram produtos
especializados, pois podem querer consultar um especialista sobre o
melhor produto para suas necessidades. Uma linha direta de atendimento
ao cliente mesmo que sólida costuma não substituir a interação cara a
cara com um representante de vendas especializado. Além disso, muitos
clientes desejam experimentar o produto antes da compra.

A fraude no pagamento também é um enorme desafio ao se lidar


com negócios on-line. Os consumidores correm o risco de engano de
identidade e riscos semelhantes toda vez que inserem suas informações
em um site. Se um determinado site não convencer os compradores de
que o processo de check-out é seguro, eles podem ficar com medo de
negociar.
No mesmo sentido, as organizações correm o risco de ataques
cibernéticos. Se um funcionário, por exemplo, abrir um link malicioso, isso
poderá comprometer a funcionalidade do site, as informações financeiras
ou, o pior de tudo, as informações dos próprios clientes.

Se fazer compras é visto por alguns clientes como gratificação


instantânea, os consumidores tradicionais se sentem de mãos vazias.
90 UNIUBE

Geralmente, eles precisam pagar mais pelo envio acelerado ou esperar


vários dias até que o produto chegue. A espera pode afastar os clientes.
Para as empresas, o envio se torna mais complicado quando um cliente
deseja um reembolso. Os crescentes negócios de comércio eletrônico
devem buscar expandir suas funções de logística reversa, significando
o envio de mercadorias e o reembolso de custos.

Por falar em custos, há uma multiplicidade de regulamentações e


impostos que acompanham a abertura e os oferecimentos de negócios
on-line sobre os quais estudaremos no próximo capítulo.

A comparação de preços é uma grande vantagem para os compradores


on-line, que podem restringir as empresas. Os consumidores podem
comparar preços com um simples clique em vez de atravessar a cidade
para verificar outra loja. Muitos compradores procurarão o preço mais
baixo e aquela que não puder oferecê-lo, provavelmente, perderá a
venda.

Mesmo que uma organização possa oferecer preços mais baixos, as


empresas que competem nestas guerras de preços verão seus lucros
declinarem. Embora não haja nada intrínseco no comércio eletrônico
vinculado a descontos, a maneira como os negócios on-line evoluíram
levou a preços mais baixos. Trata-se de uma peculiaridade excelente
para os consumidores, mas nem tanto para os fornecedores.

5.4 Conclusão

Estamos vivendo o momento certo para as corporações estabelecidas se


transformarem. As regras dos negócios mudaram e para permanecerem
competitivas e prosperarem na era digital as organizações precisam se
reajustar.

Mas tornar-se um negócio digital não é apenas adotar as mais recentes


tecnologias. Tornar-se digital requer a implementação de tecnologias
UNIUBE 91

e mudanças estruturais, bem como uma mudança na cultura de uma


empresa.

Com a atual concorrência no mercado, existem dois cenários possíveis:

• as empresas reconhecem a nova realidade e lideram a corrida pela


transformação digital em seu setor
ou
• admitem que novas empresas iniciantes tornam-se líderes em
inovação e que seus dias de glória estão no passado.

Além de oferecer novas maneiras de interagir com clientes, parceiros ou


colegas de trabalho, a transformação digital traz novas possibilidades
para um serviço existente, a fim de projetar e proporcionar uma melhor
experiência para seus clientes. Também reinventa a maneira como
trabalhamos, constrói nosso relacionamento entre colegas de trabalho
e clientes, gerencia organizações, seja um negócio, uma startup ou até
um país.

Por fim, a transformação digital é igualmente aplicável a todos os setores.


Não importa se uma organização é grande ou pequena, há algumas
lições importantes a aprender.

Resumo

Com o lançamento de tecnologias de ponta emergentes, praticamente


todos os aspectos da nossa sociedade estão sofrendo transformações.
As novas tecnologias terão um enorme impacto na maneira como os
negócios on-line serão realizados nos próximos anos.

Sistemas tecnológicos modernos são altamente capazes de aumentar a


produtividade e reduzir custos ao automatizar funções. Da mesma forma,
92 UNIUBE

os investimentos e as pesquisas atuais em computação quântica têm um


profundo potencial de impacto disruptivo no mundo dos negócios.

A segurança cibernética também está sendo um ponto focal na


contemporaneidade, pois as empresas precisam intensificar seus
esforços para garantir investimentos em software e outros aparelhos.
As organizações, portanto, estão investindo menos em soluções de
terminais e mais em serviços gerenciados para proteger sua infraestrutura
existente.

O modelo atual de negócios on-line não é totalmente livre de atritos e


aborrecimentos. E muitas vezes cria inconvenientes para os clientes.
Basta dizer que, no presente, a impressão digital de um indivíduo já ajuda
as empresas a saber quem são e quais são suas necessidades, seus
gostos ou suas aversões. Certamente vamos construindo experiências de
compra aprimoradas e mais transparentes. Esse é apenas um exemplo
que reflete o imenso potencial da tecnologia para os negócios eletrônicos.

Referências
CUNNINGHAM, M. B2B – business-to-business: como implementar estratégias
de e-commerce entre empresas. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

GOMES, R. C. O. Empreendedor X E-Empreendedor. Revista Eletrônica de


Ciência Administrativa (RECADM), Faculdade Cenecista de Campo Largo,
v. 2, n. 1, p.1-17, maio 2003.

TIinside. Seis barreiras para os negócios digitais, segundo o Gartner. Por


Redação -11 de setembro de 2018. Disponível em: https://tiinside.com.br/11/09/2018/
seis-barreiras-para-os-negocios-digitais-segundo-o-gartner/. Acesso em: mar.2020.

TURBAN, E.; KING, D. Comércio eletrônico: estratégia e gestão. São Paulo:


Prentice Hall, 2004.
Capítulo Contrato digital
6

Introdução

No capítulo anterior estudamos sobre os negócios eletrônicos e suas


peculiaridades. A partir de agora você será capaz de notar a diferença
entre os conceitos de e-commerce e e-business, pois o primeiro
inclui os processos que envolvem consumidores, fornecedores
e parceiros de negócios, como vendas, marketing, recepção de
pedidos, entregas e programas de fidelidade, enquanto o segundo
engloba o e-commerce e outros processos organizacionais, como
produção, administração de estoques, recursos humanos, finanças,
estratégias, entre outros. Percebe-se então que o e-business
abrange toda a cadeia de valor dos processos de negócio no meio
virtual, enquanto o e-commerce limita-se às transações comerciais
de compra e venda (LIMEIRA, 2007).

Objetivos
Neste capítulo vamos nos dedicar a uma abordagem sobre o
contrato eletrônico. Iniciamos listando e explicando as formas
de contratação, especificaremos os pressupostos, requisitos e
validade, bem como trataremos das modalidades de adimplemento.
Ainda neste capítulo você estudará sobre a eficácia probatória
do documento eletrônico com os respectivos mecanismos de
94 UNIUBE

segurança incluindo assinatura eletrônica, assinatura digital,


criptografia e autenticação e certificação digital.

Esquema

6.1 Conceito, formação e formas de contratação e-commerce


6.1.1 Conceitos e vantagens
6.1.2 Pressupostos e requisitos de validade
6.1.3 Formas de contratação
6.2 Ferramentas de segurança eletrônica
6.3 Pagamentos eletrônicos
6.4 Conclusão

6.1 Conceito, formação e formas de contratação e-commerce

PARADA PARA REFLEXÃO

Você já assinou um contrato eletrônico?


Caso tenha respondido que não, pense um pouco se já experimentou
alguma destas ações:

Baixou um Adquiriu um Clicou no item:


Criou um aplicativo de produto em Li e aceito os
e-mail? música pelo um site de termos de uso?
celular? compras?

Com certeza você já celebrou milhares desses contratos e talvez não tenha
consciência do que sejam e quais seus efeitos.

Vamos entender melhor no que consistem.


UNIUBE 95

6.1.1 Conceitos e vantagens

À medida que as organizações se dispõem a vivenciar experiências


referentes ao comércio eletrônico, observamos a necessidade de
um conjunto de transformações digitais começando por adoção de
processos sem papel. Comparando os negócios digitais aos tradicionais,
percebemos que a criação, a impressão e o envio de documentos em
papel para clientes ou parceiros de negócios têm diminuído enquanto
o e-commerce se fortalece. Nesse sentido, as organizações estão
recorrendo a contratos digitais e assinaturas eletrônicas como uma
alternativa mais inteligente.

Os contratos eletrônicos possuem características que lhes são


próprias e que, portanto, diferenciam-nos dos demais contratos. Antes
de explorarmos alguns benefícios dos contratos eletrônicos e como
eles podem aumentar o fluxo de negócios nas organizações, vamos
compreender o que se entende por contrato eletrônico.

Há diversas divergências entre doutrinadores em relação à nomenclatura


a se atribuir ao contrato eletrônico. Alguns defendem o uso do contrato
virtual já que ele se concretiza no ambiente virtual, outros preferem a
denominação contrato eletrônico já que este é firmado no âmbito do
comércio eletrônico.

Um conceito amplamente adotado no meio jurídico foi o trazido por


Glanz (1998, p.72), pelo qual “contrato eletrônico é aquele celebrado
por meio de programas de computador ou aparelhos com tais programas.
Dispensam assinatura ou exigem assinatura codificada ou senhas”.

Rodrigues (2001, p. 87) o define como sendo “aquele que se realiza


tendo como meio de aproximação das partes a internet e estando as
partes on-line no momento da contratação”.
96 UNIUBE

Neste capítulo adotamos a nomenclatura contrato eletrônico, seguindo


o entendimento da autora Leal (2009, p.79), para a qual “eletrônico é o
meio utilizado pelas partes para formalizar o contrato. Assim, pode-se
entender por contrato eletrônico aquele em que o computador é utilizado
como meio de manifestação e de instrumentalização da vontade das
partes. ”

Há muitas vantagens neste tipo de contrato. Uma delas é que as partes


podem fornecer informações mais rapidamente. Os contratantes podem
assinar documentos de qualquer local em qualquer dispositivo sem
esperar que cópias impressas cheguem pelo correio. Como o software
eletrônico oferece um recurso de preenchimento automático, as partes
podem assinar ou inicializar um documento uma vez, e ele preenche
automaticamente o restante do documento com as mesmas assinaturas
a partir de um telefone, computador, tablet ou outro dispositivo por meio
eletrônico.

Além disso, por meio do contrato eletrônico é mais fácil monitorar,


rastrear e encontrar dados. Você já se viu folheando páginas e páginas
de um contrato em papel apenas para encontrar uma palavra, frase, data
ou mesmo erro de digitação? Se você tiver várias versões do mesmo
contrato, poderá passar horas analisando várias páginas de vários
arquivos apenas para encontrar o menor erro ou parte do conteúdo que
precisa alterar.

Anunciação (2015) enumera 5 vantagens desse tipo de contrato,


organizadas na Figura 1 a seguir:
UNIUBE 97

Figura 1: Vantagens do contrato eletrônico.

1- a contratação eletrônica não tem hora nem momento nem


lugar certo para ser celebrada, podendo ser feita de casa, ou
Conforto na no metrô, enfim, em qualquer lugar, desde que conectado à
contratação: internet.

as operações feitas via internet sempre deixam rastros,


portanto a confiabilidade é ainda maior, já que por meio de
2- senhas e conferências de dados codificados fica a cada dia
Confiabilidade: mais exigente, além da existência cada dia mais presente
dos certificados digitais, as assinaturas eletrônicas que
garantem a integridade dos documentos assinados.

a praticidade e a velocidade com que uma contratação


3- eletrônica é efetivada superam e muito a forma convencional,
Praticidade: dando agilidade e eficiência, o que culmina em um resultado
muito mais rápido.

4- fator essencial nos contratos eletrônicos é a sua facilidade de


armazenamento, sem a necessidade de arquivos físicos,
Facilidade de sendo possível até mesmo o armazenamento por meio de
armazenamento: servidores remotos (Arquivamento na Nuvem), otimizando o
espaço e reduzindo drasticamente o uso do papel.

as novas formas de contratação rompem com as barreiras


físicas e, assim, o mercado se vê em constante necessidade
de modernização e implantação de estruturas competitivas,
5- o que ao mesmo tempo é altamente positivo, pois cria
Aumento da versatilidade e amplia concorrência, mas também pode
competitividade: implicar riscos para o mercado interno, que se vê forçado a
competir com grandes empresas de outros países, não
apenas em grandes projetos, mas até nas relações de
consumo diretas com o consumidor final.

Fonte: Anunciação (2015).

Apesar das inúmeras vantagens existentes na contratação eletrônica,


algumas precauções devem ser tomadas a fim de se evitar consequências
judiciais no momento de sua celebração.
98 UNIUBE

Por isso vamos conhecer como se dá a formação de um contrato


eletrônico, seus pressupostos e requisitos de validade, tempo e espaço
da conclusão do feito.

6.1.2 Pressupostos e requisitos de validade

Para analisar a validade de todo negócio jurídico, seja eletrônico ou não,


é necessário atentar ao objeto, à forma e às suas partes. Neste sentido
temos a Figura 2:

Figura 2: Validade do negócio jurídico.

1- Partes
capazes e
legitimadas

2- Objeto lícito,
possível e
determinado

3- Forma
prescrita ou
não defesa
em lei

Fonte: Esquema elaborado pelas autoras.

1- Partes capazes, você já sabe o que são: são pessoas maiores de 18 anos
ou emancipadas com discernimento suficiente para os atos da vida civil.
UNIUBE 99

2- O objeto não pode ser proibido por lei, além do que deve ser possível e
determinado. Por objeto possível, entende-se aquele que possibilita uma
negociação aceitável. Por fim determinado ou determinável, entendemos
a exigência de que se deve especificar devidamente o produto no que
corresponda à quantidade, a tipo, à cor, a características etc.

3- Quanto à forma, esta é a maneira pela qual a vontade se exterioriza.


Existem certos contratos que devem obedecer à forma que a lei exige
ou não proíba.

Depois de verificar se os requisitos do contrato foram cumpridos, há


também que se observar a presença dos princípios que norteiam as
relações jurídicas contratuais conforme apresentado na Figura 3.

Aqui estão:

Figura 3: Princípios das relações jurídicas.

Função
Boa-fé Obrigatoriedade
Relatividade social dos
objetiva dos contratos
contratos

Intangibilidade Autonomia
privada

Fonte: Esquema elaborado pelas autoras.

Em se tratando dos contratos eletrônicos a situação não é diferente;


assim como em qualquer outro negócio jurídico, também deve-se
respeitar estes requisitos para que gozem de validade e eficácia. Todavia
algumas particularidades do contrato eletrônico deverão ser consideradas
principalmente quando tratamos de assinatura eletrônica.
100 UNIUBE

6.1.3 Formas de contratação

Observa-se que as aplicações do e-commerce podem acontecer de nove


maneiras:

Quadro 1: Aplicações do e-commerce

TIPO ESPECIFICAÇÃO CONCEITO EXEMPLOS

GOVERNMENT Coordenação entre


TRANSAÇÕES
políticas e programas
G2G TO ENTRE GOVERNO
e entre os diversos
GOVERNMENT E GOVERNO
níveis de governo.
GOVERNMENT
TO TRANSAÇÕES Pagamento de
CONSUMER ENVOLVENDO impostos, serviços
GOVERNO E de comunicação,
G2C/C2G --------------------
CONSUMIDORES como solicitação de
CONSUMER
FINAIS E VICE- serviços públicos ou
TO VERSA reclamações.
GOVERNMENT
CONSUMER TRANSAÇÕES
ENTRE Sites de leilões,
C2C TO
CONSUMIDORES classificados on-line.
CONSUMER FINAIS
BUSINESS
TO TRANSAÇÕES
GOVERNMENT Venda de produtos e
ENVOLVENDO
serviços para órgãos
B2G/G2B -------------------- EMPRESAS E
do governo em
GOVERNMENT GOVERNO E VICE-
licitações públicas.
TO VERSA
BUSINESS
BUSINESS
TO
TRANSAÇÕES
CONSUMER Lojas e shoppings
ENTRE
--------------------
virtuais, ou
B2C/C2B EMPRESAS E
atendimento ao
CONSUMER CONSUMIDORES
cliente on-line.
E VICE-VERSA
TO
BUSINESS
Venda de produtos
BUSINESS TRANSAÇÕES agrícolas ou
B2B TO ENTRE fornecimento de
BUSINESS EMPRESAS matérias-primas para
indústrias.
Fonte: Elaborado pelas autoras.
UNIUBE 101

6.2 Ferramentas de segurança eletrônica

Embora não exista uma lei que regule especificamente os contratos


eletrônicos, não há risco de impedir a execução desses contratos, sejam
eles interpessoais ou interativos. Como regra, e se os requisitos para
a execução de um contrato forem atendidos (como agente habilitado,
finalidade legal e formulário), os contratos eletrônicos são tão executórios
como se tivessem uma assinatura manuscrita.

Se a validade de um contrato eletrônico for questionada, o ônus de


demonstrar falta de consentimento geralmente recairá sobre a parte
questionadora. Há várias opções que podem ser usadas para ajudar a
proteger as evidências necessárias, como assinatura eletrônica.

As assinaturas eletrônicas utilizadas com o ICP-Brasil têm autenticidade,


integridade, confiabilidade e não podem ser repudiadas: o autor de uma
assinatura eletrônica não pode, por meios tecnológicos e legais, negar
sua responsabilidade. A assinatura eletrônica permanece vinculada
ao documento eletrônico assinado. Se o documento for alterado, a
assinatura eletrônica se tornará inválida.

PESQUISANDO NA WEB

Acesse o site https://www.iti.gov.br/icp-brasil do Instituto Nacional de


Tecnologia da Informação. Trata-se uma autarquia federal, vinculada à Casa
Civil da Presidência da República, que tem por missão manter e executar
as políticas da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil.
Ao ITI compete ainda ser a primeira autoridade da cadeia de certificação
digital – AC Raiz.

O Brasil possui um modelo legal em camadas, o que significa que quase


todas as assinaturas eletrônicas são consideradas legalmente válidas,
a menos que seja explicitamente indicado o contrário. De acordo com a
102 UNIUBE

legislação brasileira, as assinaturas eletrônicas são consideradas válidas


em contratos e documentos eletrônicos.

No entanto, para certas transações eletrônicas, uma ou ambas as partes


podem ser obrigadas a fornecer evidências adicionais para provar que um
contrato é válido. De acordo com o Código de Processo Civil brasileiro, os
registros eletrônicos podem ser usados para ajudar a apoiar a validade
de um contrato.
Quando as assinaturas eletrônicas são apropriadas no Brasil?

Existem três tipos diferentes de assinaturas eletrônicas aceitáveis como


podemos ver na Figura 4:
Figura 4: Tipos de assinaturas eletrônicas.

Assinaturas eletrônicas um SES é uma assinatura que você desenha ou


padrão (SES): digita em qualquer dispositivo.

Assinaturas eletrônicas um AES é uma assinatura que possui algum tipo


avançadas (AES): de qualidade exclusiva do assinante.

é uma assinatura criada em um dispositivo de


Assinaturas eletrônicas
criação apropriado e fornecida com um certificado
qualificadas (QES):
de assinatura qualificado.

Fonte: Esquema montado pelas autoras.

Um SES é o tipo mais básico de assinatura eletrônica e não vem com


nenhuma verificação. Um QES é considerado o equivalente a uma
assinatura manuscrita porque vem com um certificado de assinatura
qualificado. Para a maioria dos contratos comerciais em geral, um SES é
considerado apropriado. No entanto existem certos tipos de documentos
que exigirão um QES.
UNIUBE 103

Um SES é apropriado nas seguintes situações:

Acordos Contratos
Documentos de não Acordos Acordos
comerciais de licença
gerais de RH divulgação de vendas de software
(NDAs)

Quando é necessário um QES?

No Brasil, é necessário um QES em todos os Contratos de Moeda


Estrangeira. E uma assinatura manuscrita será necessária para qualquer
documento que precise ser autenticado.

O Código de Processo Civil brasileiro reconhece a validade dos


documentos eletrônicos como prova. Exceções podem ser aplicadas,
por exemplo, para a aquisição de imóveis, que depende da execução de
uma escritura pública de um imóvel.

É importante mencionar que os contratos físicos assinados entre as


partes e duas testemunhas podem estar sujeitos a um procedimento de
execução rápida, que em princípio não é aplicável a contratos eletrônicos
sem a assinatura das testemunhas.

As regras gerais da lei contratual de oferta e aceitação se aplicam


igualmente à formação eletrônica de contratos. Os termos oferecidos
eletronicamente em geral vinculam o proponente e o contrato é formado
quando a oferta é aceita.

Os contratos eletrônicos podem ser executados por vários meios:

• marcando uma caixa de seleção;


• clicando em um botão de aceitação;
104 UNIUBE

• respondendo a um e-mail;
• incluindo uma assinatura eletrônica, entre outros.

Os contratos clickwrap podem ser caracterizados como contratos de


adesão e, como tal, devem ser redigidos com clareza e com facilidade
na leitura. Quando celebrados com os consumidores, os contratos devem
ser escritos com um tamanho de fonte não inferior a 12 pontos e as
cláusulas que limitam os direitos do consumidor devem ser exibidas com
destaque.

SAIBA MAIS

Um contrato de clickwrap é um tipo de contrato amplamente usado com


licenças de software e transações on-line, nas quais o usuário deve
concordar com os termos e as condições antes de usar o produto ou serviço.
A maioria dos contratos de clickwrap exige o consentimento dos usuários
finais, clicando no botão “OK”, “Aceito” ou “Concordo” em uma janela pop-up
ou em uma caixa de diálogo. O usuário pode rejeitar o contrato clicando no
botão cancelar ou fechando a janela. Uma vez rejeitado, o usuário não pode
usar o serviço ou produto.

Atualmente, a criptografia é um dos métodos mais populares e eficazes


de segurança de dados usados pelas organizações. Mas do que se trata?
A criptografia de dados converte os dados em outro formato ou
código para que somente pessoas com acesso a uma chave secreta
(formalmente chamada de chave de descriptografia) ou senha possam
acessá-los. Dados criptografados são comumente referidos como textos
cifrados, enquanto dados não criptografados são chamados de textos
sem formatação. Existem dois tipos principais de criptografia de dados -
criptografia assimétrica, também conhecida como criptografia de chave
pública, e criptografia simétrica.
UNIUBE 105

Criptografia simétrica

A criptografia simétrica usa a mesma chave para criptografar e


descriptografar dados. Os algoritmos simétricos mais utilizados são
o AES e o TDES. O primeiro foi criado para proteger as informações
classificadas do governo e o segundo é usado nos setores de
bancos e pagamentos financeiros. A criptografia simétrica é muito
mais rápida que a criptografia assimétrica, mas o remetente deve
trocar a chave usada para criptografar os dados com o destinatário
antes da descriptografia - (isto é, as partes que se comunicam
devem ter a mesma chave antes de conseguir uma comunicação
segura). Para distribuir e gerenciar com segurança um grande
número de chaves, a maioria dos processos criptográficos usa um
algoritmo simétrico para criptografar dados com eficiência, mas usa
um algoritmo assimétrico para trocar a chave secreta.

Criptografia assimétrica

A criptografia assimétrica, também conhecida como criptografia de


chave pública, usa duas chaves diferentes, mas matematicamente
vinculadas, uma pública e uma privada. A chave pública pode ser
publicada para qualquer pessoa usar e criptografar mensagens,
enquanto a chave privada deve ser mantida em segredo (ou
seja, apenas a parte receptora deve ter acesso à chave de
descriptografia que permite que as mensagens sejam lidas). O RSA
é o algoritmo assimétrico mais utilizado, em parte porque as chaves
pública e privada podem criptografar uma mensagem. A chave
oposta à usada para criptografar uma mensagem é usada para
descriptografá-la. Esse atributo fornece um método para garantir
não apenas a confidencialidade, mas também a integridade,
autenticidade e não reputação das comunicações e dados
eletrônicos em repouso por meio do uso de assinaturas digitais.
106 UNIUBE

Como pode ser observado, a criptografia desempenha um papel


importante na proteção de muitos tipos diferentes de ativos de tecnologia
da informação (TI). Ele fornece a confidencialidade, pois codifica o
conteúdo da mensagem; a autenticação, pois verifica a origem de uma
mensagem; a integridade, pois prova que o conteúdo de uma mensagem
não foi alterado desde que foi enviado, e a não rejeição, pois impede que
os remetentes neguem o envio da mensagem criptografada.

Além da segurança, a adoção da criptografia geralmente é motivada


pela necessidade de cumprir os regulamentos de conformidade. Várias
organizações e organismos de padrões recomendam ou exigem que
dados confidenciais sejam criptografados para impedir que terceiros não
autorizados ou agentes de ameaças acessem os dados.

6.3 Pagamentos eletrônicos


A seguir seguem alguns questionamentos importantes sobre os
pagamentos eletrônicos em nível brasileiro.

Existem regras, restrições ou outras considerações relevantes


sobre o uso de sistemas de pagamento eletrônico em sua
jurisdição?

Sim. No Brasil, é possível executar pagamentos por diversos métodos,


incluindo transferência eletrônica e uso de instrumentos de pagamento
eletrônico (débito, crédito e valor armazenado ou cartões pré-pagos).

O setor de pagamentos eletrônicos tem um papel importante na


economia brasileira, pois a aceitação de instrumentos de pagamento
eletrônico aumentou significativamente na última década. Dessa forma,
o governo federal promulgou a Lei nº 12.685 / 2013 para regulamentar
os atores e as transações operadas no setor de pagamentos local (Lei
de Pagamentos Eletrônicos).
UNIUBE 107

A Lei de Pagamentos Eletrônicos fornece a estrutura legal e regulamentar


para ‘acordos de pagamento’ (ou seja, o conjunto de regras que regem
um esquema de pagamento, como transações com cartão de crédito ou
débito) e ‘agentes de pagamento’ (ou seja, qualquer agente que emita
um instrumento de pagamento ou adquirente de um comerciante para
aceitação do pagamento).

Tanto os acordos de pagamento quanto os agentes de pagamento


tornaram-se parte do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB, que
inclui todas as entidades, os sistemas e os procedimentos para o
processamento e a liquidação de transações envolvendo transferência
de fundos, moedas estrangeiras, ativos ou valores mobiliários) e sujeitos
à supervisão da Central Banco, responsável por implementar as políticas
adotadas pelo Conselho Monetário (CMN) e emitir regulamentos de
acordo com essas políticas. O Banco Central é responsável por, entre
outras coisas, autorizar as operações e supervisionar as atividades das
instituições financeiras no Brasil. Como resultado, todo o mercado de
cartões de crédito, dívida e pré-pago ficou sujeito ao regulamento e
à supervisão do CMN e do Banco Central. Até então, esse mercado
não estava sujeito a nenhuma regulamentação específica. Agentes de
pagamento, no entanto, após a promulgação da Lei de Pagamentos
Eletrônicos, o CMN e o Banco Central, adotaram um conjunto de regras
sobre acordos e agentes de pagamento, que entrou em vigor em maio
de 2014 e que abrange, entre outras coisas:

• a definição de ‘contas de pagamento’ (que são divididas em contas


pré-pagas e pós-pagas), os tipos de agente de pagamento e a
definição de acordos excluídos do SPB;
• os procedimentos de incorporação, organização, autorização e
operação de agentes de pagamento, bem como de transferência
de controle, sujeitos à aprovação prévia do Banco Central; e
• regras de proteção ao consumidor, conformidade contra a lavagem
de dinheiro e prevenção de perdas que devem ser seguidas por
108 UNIUBE

agentes e organizadores de pagamentos sujeitos à supervisão do


Banco Central.

Após discussões com agentes do mercado e representantes do setor,


o Banco Central vem ajustando e melhorando os regulamentos ao
longo do tempo, principalmente para incluir ferramentas operacionais
e não discriminatórias para promover a concorrência no mercado de
pagamentos. O regulamento foi atualizado mais recentemente no início
de 2019.

Existem regras ou restrições no uso de moedas digitais?

Não. No Brasil, moedas virtuais ou criptomoedas, como Bitcoin, são


consideradas ativos, e não moedas, portanto não são regulamentadas
pelo Banco Central. As transações realizadas em criptomoedas estão
sujeitas às disposições gerais do Código Civil Brasileiro. Por exemplo:

• a aquisição de criptomoedas usando reais será considerada uma


aquisição de ativos e sujeita a todas as disposições aplicáveis à
compra e venda de ativos móveis; e
• o uso de criptomoedas para a ‘aquisição’ de outros ativos será
considerado uma troca de ativos e estará sujeito a todas as
disposições aplicáveis à troca de ativos móveis.

O mesmo não se aplica a nenhum desses ativos classificados como um


título de acordo com a Lei de Valores Mobiliários (que é semelhante à
definição dos EUA).

6.4 Conclusão

O comércio eletrônico é baseado em velocidade, conveniência e


eficiência. Esses elementos levam as comunidades de negócios e
tecnologia a atualizar e desenvolver constantemente a arte do comércio
com inovações de ponta.
UNIUBE 109

O problema com os modelos de negócios que evoluem em ritmo


acelerado é que eles geralmente superam os regimes regulatórios
aos quais estão vinculados. O resultado são custos de transação
desnecessários ou comércio sem certeza, enquanto os governos ficam
para trás. Isso é bastante esclarecido pelos debates em andamento sobre
a remoção de papel e caneta da equação do contrato.

Os requisitos contratuais de escrita e assinatura são encontrados na


maioria das jurisdições legais. Essas regras foram desenvolvidas antes
da contemplação do comércio eletrônico e, de muitas maneiras, não o
facilitam.

O Brasil é particularmente cauteloso em relação à harmonização das leis


relacionadas ao comércio eletrônico, porque muitos consideram a área
tão nova que ainda existem dúvidas ao normatizar.

Por fim, o crescimento econômico e o aumento da interdependência


dos estados criarão um núcleo comum de soluções jurídicas, mesmo
que por diferentes meios, para que as vantagens competitivas não se
tornem permanentes. Uma vez que exista um padrão mínimo comum em
documentos e assinaturas eletrônicas, haverá ainda mais espaço para
harmonização por meio da regulamentação liderada pela indústria dos
requisitos técnicos de confiabilidade em um determinado país. Até este
momento, no entanto, essas medidas de autorregulação permanecem
especulativas.

Resumo

Um contrato eletrônico é um documento legal criado e assinado on-line.


É essencialmente uma versão digital de um contrato em papel tradicional.
Assim como nos contratos em papel contratos eletrônicos são acordos
assinados por duas partes. Por isso, são documentos executórios e
110 UNIUBE

juridicamente vinculativos que geralmente são usados em relação a


emprego, a vendas, a serviços ou à locação.

Normalmente, esses contratos existem quando as duas partes não


se encontram cara a cara regularmente. Muitas pessoas e empresas
adotaram contratos e comunicações digitais simplesmente por causa
de seu baixo custo, tempo de resposta rápido, natureza ecológica e
segurança aprimorada.

No passado, muitas empresas contavam com advogados contratados


para redigir todos os contratos constituindo um processo caro. Hoje, com
modelos pré-aprovados e serviços de software de gerenciamento para
lidar com a criação de contratos, é simplesmente mais econômico.

Como um contrato eletrônico pode ser enviado por e-mail, leva apenas
alguns minutos para a outra parte recebê-lo. Eles podem assinar
rapidamente e começar o projeto sem esperar uma cópia em papel
chegar pelo correio.

Embora os contratos em papel ainda sejam o método mais popular, os


eletrônicos estão ganhando popularidade. Ao entender a criação do
contrato digital e a legalidade por trás dele, você está se preparando
para o presente e o futuro.

Referências

ANUNCIAÇÃO. Flavio Eduardo. Principais vantagens e cuidados na contratação


eletrônica. Jurisway. 2015. Disponível em: https://www.jurisway.org.
br/v2/dhall.asp?id_dh=14458. Acesso em: 2 de fev. 2020.

BRASIL. Instituto Nacional de Tecnologia da Informação. Casa Civil da Presidência da


República. Disponível em: https://www.iti.gov.br/icp-brasil. Acesso em: 23 mar. 2020.
UNIUBE 111

GLANS, Semy. Internet e Contrato Eletrônico. (Revista dos Tribunais, Nº 757,


pág. 72, Nov. 1998.)
LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos: Validade Jurídica
dos Contratos via Internet. 1ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009.

LIMEIRA, Tania M. Vidigal. E-Marketing: O Marketing na Internet com Casos


Brasileiros. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

RODRIGUES, Carlos Alexandre. Da desnecessidade de assinatura para a


validade do contrato efetivado via internet. Revista dos Tribunais, São Paulo:
Ed. RT, v. 784, p. 83-95, fev. 2001.
Capítulo
Dúvidas frequentes sobre os
contratos eletrônicos
7

Introdução
Nos últimos anos, o governo brasileiro emitiu inúmeras leis que
envolvem negócios realizados pela Internet. As regras atuais
tentam criar uma estrutura reguladora que estabeleça claramente
as diferentes responsabilidades de todos os atores, e existe uma
preocupação material em garantir os direitos constitucionais dos
usuários, como liberdade de expressão e privacidade.

A internet ficou praticamente desregulada no Brasil até 2014,


quando foi promulgada a Lei nº 12.965 (Lei da Internet, também
conhecida como Estrutura dos Direitos Civis da Internet). O
objetivo da lei era duplo:

• transformar em lei certas políticas públicas relacionadas à


Internet (denominada estrutura) possibilitando consistência
às decisões dos tribunais.
• tornar o acesso à Internet essencial para o exercício da
cidadania estabelecendo princípios básicos, garantias,
direitos e obrigações para o uso da Internet.

Desde 2014, o governo promulgou várias leis e decretos que


regulamentam assuntos específicos da Internet, como direito de
resposta ou correção nas mídias sociais, exceções de neutralidade
114 UNIUBE

da rede e padrões de segurança para processamento de dados


e, finalmente, em 2018, uma lei geral de proteção de dados e
um decreto que a regula. Alguns desses regulamentos já foram
estudados por você ao longo desta disciplina.

No capítulo anterior falamos acerca dos contratos eletrônicos


e algumas peculiaridades. A partir de agora você será capaz de
compreender melhor a normatização desses contratos por meio de
perguntas e respostas que envolvem conteúdos que você estudou
desde o início da disciplina.

Objetivos
Por meio do estudo deste capítulo, espera-se que o leitor seja capaz de:

• analisar a legislação que rege os negócios realizados por


meio da internet;
• conhecer os órgãos responsáveis pela regulamentação de
tarifas e encargos de comércio eletrônico, proteção de dados
e acesso à internet;
• compreender os critérios aplicados pelos tribunais para
determinar a jurisdição quando há divergência de localidade
entre os contratantes pela internet;
• identificar as diferenças dos contratos celebrados entre
fornecedor x consumidor e fornecedor x fornecedor;
• entender o conceito e os critérios da publicidade on-line, bem
como a incidência de SPAMs e sua repercussão.

Esquema
7.1 Legislação, órgãos reguladores e jurisdição
7.1.1 Quais legislações regem os negócios na Internet?
7.1.2 Quais órgãos reguladores são responsáveis pela
UNIUBE 115

regulamentação de tarifas e encargos de comércio


eletrônico, proteção de dados e acesso à Internet?
7.1.3 Quais critérios são aplicados pelos tribunais para
determinar a jurisdição quando há divergência de
localidade entre os contratantes pela internet?
7.1.4 Existem leis diferentes para contratos celebrados entre
fornecedor x consumidor e fornecedor x fornecedor?
7.1.5 Quais os principais direitos remetidos ao consumidor que
opta por compras on-line?
7.2 Publicidade on-line
7.2.1 Como a publicidade on-line é definida?
7.2.2 Há regras específicas para publicidade na internet?
7.2.3 Existem regras contra a publicidade ilegal on-line?
7.2.4 Existem produtos ou serviços que não podem ser
anunciados na internet?
7.2.5 Há regras específicas para a publicidade ou venda de
produtos e serviços financeiros a consumidores ou
empresas via Internet?
7.2.6 O que são SPAMs e como evitá-los?
7.3 Conclusão

7.1 Legislação, órgãos reguladores e jurisdição

7.1.1 Quais legislações regem os negócios na Internet?

Os negócios na Internet são regidos principalmente pelas Leis

Lei da Internet, Lei nº 8.078/1990 Lei nº 13.709/2018


Decreto nº 8.771/ (Código de Proteção (Lei Geral de Proteção
2016 (que regula a ao Consumidor) de Dados ) (GDPL)
Lei da Internet)
116 UNIUBE

Mas várias outras leis e decretos tratam de assuntos correlatos


relacionados à Internet, como:

• Lei Federal nº 12.737/2012


• Decreto nº 7.962/2013
• Lei Federal nº 9.279/1996
• Lei Federal nº 9.609/1998
• Medida Provisória nº 2200-2/2001
• Constituição Federal
• Código Civil
• Código Penal

7.1.2 Quais órgãos reguladores são responsáveis pela


regulamentação de tarifas e encargos de comércio eletrônico,
proteção de dados e acesso à Internet?

Não existe um órgão regulador responsável pela regulamentação


do comércio eletrônico, mas as relações com os consumidores são
supervisionadas pelos escritórios de proteção ao consumidor.

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) é responsável pela


supervisão de assuntos relacionados à proteção de dados, bem como
pela aplicação da LGPD, (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais),
podendo decidir sobre a interpretação da lei, investigar e solicitar
informações aos controladores e processadores e aplicar penalidades. A
ANPD também foi criada com um papel educacional, sendo responsável
por disseminar conhecimento sobre as leis e medidas de segurança,
estimulando padrões de serviços e produtos que facilitam o controle
dos titulares de dados e elaborando estudos sobre práticas nacionais e
internacionais de proteção de dados pessoais e privacidade, entre outros.
A provisão de acesso à Internet (conectividade de banda larga) é
considerada um serviço de telecomunicações e é regulamentada pela
UNIUBE 117

Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A Anatel também é


responsável pela supervisão de acordos comerciais entre operadoras
e provedores de aplicativos de Internet e violações de neutralidade da
rede. Embora não controle tarifas e encargos na Internet (gratuitos sob
o regulamento da Anatel), ela tem autoridade para lidar com abusos e
definir diretrizes. O regulamento da Anatel estabelece, por exemplo, a
proibição de ajustes de preços em períodos inferiores a 12 meses e a
obrigação de fornecer aos consumidores uma notificação prévia das
alterações de preços.

A coordenação e a integração dos serviços de internet no Brasil são


realizadas pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). O CGI
não é um órgão regulador, mas uma organização criada por decreto
presidencial, composta por membros do governo, do setor corporativo,
do terceiro setor e da comunidade acadêmica. Embora o CGI não tenha
autoridade para emitir regulamentos vinculativos, foi incumbido de propor
políticas e procedimentos, recomendar padrões técnicos, estabelecer
diretrizes estratégicas e promover estudos.

7.1.3 Quais critérios são aplicados pelos tribunais para determinar


a jurisdição quando há divergência de localidade entre os
contratantes pela internet?

Embora não exista uma disposição legal para transações internacionais


na Internet, a Lei da Internet fornece duas regras específicas para
situações específicas:

• quaisquer disposições contidas em contratos de adesão (aquelas


cujos termos foram determinados unilateralmente) que não prevejam
um tribunal brasileiro como uma opção para resolver disputas
decorrentes de serviços prestados no Brasil serão consideradas
nulas; e
• quando a coleta, o armazenamento ou o processamento de dados
ou comunicações pessoais ocorrer no Brasil, a lei brasileira será
118 UNIUBE

aplicada a empresas estrangeiras desde que os serviços sejam


oferecidos a brasileiros ou pelo menos uma entidade do mesmo
grupo econômico esteja no Brasil.

A LGPD alcança indivíduos ou entidades, independentemente do país em


que estão sediados ou onde os dados estão hospedados, e será aplicada
desde que os dados pessoais sejam:

• processados no Brasil;
• coletados de titulares de dados localizados no Brasil no momento
da coleta; ou
• processados com o objetivo de oferecer produtos ou serviços aos
clientes brasileiros.

Além das regras acima, as autoridades de consumidores tendem a


determinar que uma parte estrangeira está sujeita às leis e tribunais
brasileiros sempre que realiza esforços ativos de venda ou promoção
para consumidores brasileiros.

SINTETIZANDO...

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) já decidiu que, nos casos envolvendo


acordos internacionais com partes nos quais o consumidor esteja domiciliado
no Brasil (por exemplo, contratos firmados on-line), o Código de Defesa do
Consumidor poderá ser aplicado e os tribunais brasileiros terão jurisdição
para decidir sobre caso. Qualquer entidade local pertencente ao mesmo
grupo econômico pode ser considerada em conjunto responsável.

7.1.4 Existem leis diferentes para contratos celebrados entre


fornecedor x consumidor e fornecedor x fornecedor?

As regras gerais da relação contratual e diversas leis podem ser


aplicadas a contratos on-line como vimos anteriormente. Os contratos
entre empresas e consumidores são regidos principalmente por regras
UNIUBE 119

de proteção ao consumidor, que, em termos gerais, reconhecem os


consumidores como partes vulneráveis e evitam ações abusivas dos
fornecedores.

Esses contratos não vincularão os consumidores se eles não tiverem


a oportunidade de conhecer antecipadamente os termos ou se
forem redigidos de maneira a dificultar o entendimento. As cláusulas
contratuais devem ser interpretadas favoravelmente aos consumidores
e todos os fornecedores que participam da cadeia de suprimentos são
responsabilizados em conjunto.

Segundo o artigo 51 do Código de Defesa do consumidor ( BRASIL,


1990), nos contratos entre fornecedores e consumidores, as provisões
são mantidas nulas quando:

I. impossibilitem, exonerem ou atenuem a


responsabilidade do fornecedor por vícios de
qualquer natureza dos produtos e serviços ou
impliquem renúncia ou disposição de direitos.
Nas relações de consumo entre o fornecedor
e o consumidor pessoa jurídica, a indenização
poderá ser limitada, em situações justificáveis;
II. subtraiam ao consumidor a opção de reembolso
da quantia já paga, nos casos previstos neste
código;
III. transfiram responsabilidades a terceiros;
IV. estabeleçam obrigações consideradas iníquas,
abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou seja, incompatíveis
com a boa-fé ou a equidade;
VI. estabeleçam inversão do ônus da prova em
prejuízo do consumidor;
VII. determinem a utilização compulsória de
arbitragem;
VIII. imponham representante para concluir ou realizar
outro negócio jurídico pelo consumidor;
IX. deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não
o contrato, embora obrigando o consumidor;
120 UNIUBE

X. permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente,


variação do preço de maneira unilateral;
XI. autorizem o fornecedor a cancelar o contrato
unilateralmente, sem que igual direito seja
conferido ao consumidor;
XII. obriguem o consumidor a ressarcir os custos de
cobrança de sua obrigação, sem que igual direito
lhe seja conferido contra o fornecedor;
XIII. autorizem o fornecedor a modificar
unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do
contrato, após sua celebração;
XIV. infrinjam ou possibilitem a violação de normas
ambientais;
XV. estejam em desacordo com o sistema de
proteção ao consumidor;
XVI. possibilitem a renúncia do direito de indenização
por benfeitorias necessárias.

Já nos contratos entre dois ou mais fornecedores este desequilíbrio não


está presente, portanto não são regulamentados para proteger uma das
partes. Como regra geral, as limitações de responsabilidades são aceitas
nos contratos entre fornecedores regulamentadas pelo Código Civil.

Além das regras gerais de proteção ao consumidor acima, o comércio


eletrônico é ainda regulamentado pelo Decreto sobre Comércio
Eletrônico, que estabelece certas regras sobre como contratar contratos
on-line, principalmente em relação à divulgação de informações aos
consumidores.

7.1.5 Quais os principais direitos remetidos ao consumidor que opta


por compras on-line?

Os sites de comércio on-line e outros meios eletrônicos relacionados a


esta atividade devem se ajustar às novas leis e fornecer informações
claras sobre produtos, serviços e fornecedores; assistência mais fácil aos
clientes e respeito pelo direito de arrepender da compra.
UNIUBE 121

Para oferecer e concluir contratos de vendas ou serviços, os meios


eletrônicos, como sites, devem destacar e garantir uma visualização
mais fácil das seguintes informações em suas páginas da internet:

• nome da empresa e CNPJ, respectivamente do fornecedor e da


empresa;
• endereço eletrônico e outras informações necessárias relacionadas
à localização e ao contato;
• características essenciais dos produtos ou serviços oferecidos,
incluindo os riscos para a saúde ou a segurança dos consumidores;
• qualquer tipo de despesa adicional no preço, como taxas ou seguros
de entrega;
• termos completos e condições de pagamento;
• prazo do serviço, ou entrega e disponibilidade do produto;
• informações claras sobre qualquer tipo de restrição ao uso da oferta;
• quantidade mínima de consumidores para a realização do contrato,
no caso de sites de compras coletivas;
• data de vencimento da oferta;
• identidade do fornecedor responsável pela mídia eletrônica e do
fornecedor do produto ou serviço oferecido;
• acesso ao atendimento ao cliente no comércio eletrônico.

Para garantir uma assistência mais fácil ao consumidor no comércio


eletrônico, o fornecedor deve:

• apresentar um resumo do contrato antes da compra;


• fornecer ferramentas eficazes para o consumidor identificar e corrigir
imediatamente quaisquer erros ocorridos durante a compra;
• confirmar imediatamente o recebimento da compra;
• disponibilizar o contrato ao consumidor;
• fornecer um serviço adequado e eficaz ao cliente, permitindo ao
consumidor o acesso a informações, a perguntas, a reclamações, à
suspensão ou ao cancelamento do contrato;
122 UNIUBE

• confirmar imediatamente o recebimento da solicitação ou demandas


do consumidor;
• usar mecanismos de segurança para pagamento e tratamento de
dados do consumidor.
Além dessas informações, o comércio eletrônico deve respeitar o direito
de arrependimento segundo o artigo 49, “caput”, do CDC (BRASIL, 1990):

Art. 49 - O consumidor pode desistir do contrato,


no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do
ato de recebimento do produto ou serviço, sempre
que a contratação de fornecimento de produtos e
serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial,
especialmente por telefone ou a domicílio.

O fornecedor deve informar claramente os meios efetivos que permitem


ao consumidor reivindicar o direito de arrependimento. O exercício deste
direito implica o cancelamento do contrato sem qualquer tipo de perda
para o consumidor. Isso deve ser feito por meio de:

• a mesma ferramenta usada pelo consumidor para fazer a compra


também pode ser usada pelo consumidor para exercer seu direito
de arrependimento;
• o exercício do direito de arrependimento deve ser comunicado
imediatamente pelo fornecedor à instituição financeira ou ao
administrador do cartão de crédito, a fim de evitar a liberação da
transação na fatura do consumidor ou para fornecer o reembolso
da despesa, se já tiver sido liberada na fatura;
• o fornecedor deve enviar imediatamente uma confirmação ao
consumidor informando que a manifestação de arrependimento foi
recebida.
7.2 Publicidade on-line

7.2.1 Como a publicidade on-line é definida?

Não existe uma disposição legal que defina a publicidade on-line e


esta está sujeita aos mesmos regulamentos aplicáveis à publicidade
UNIUBE 123

tradicional. A publicidade em geral é definida como qualquer mensagem


destinada a promover a venda de um produto ou serviço ou a imagem
de uma empresa ou marca comercial.

Todos os anúncios devem ser facilmente identificáveis como tal, pois o


anúncio oculto é ilegal. Isso é especialmente importante quando se trata
de propaganda em blogs ou mídias sociais, por exemplo, que, se não
forem claramente identificadas, podem ser confundidas com opiniões
autênticas. Os editoriais pagos na forma de artigos, notas ou notícias
também devem ser claramente identificados como conteúdo patrocinado
para não enganar os consumidores.

7.2.2 Há regras específicas para publicidade na internet?

Geralmente, a publicidade na internet está sujeita às mesmas regras


aplicáveis àquela fornecida por outros meios. O Conselho Nacional de
Publicidade Autorregulatória (CONAR) regula a publicidade. Trata-se de
uma organização não governamental de atores do setor de publicidade e
que tem autoridade para julgar reclamações sobre campanhas veiculadas
em todas as mídias.

O CONAR pode solicitar alterações na campanha denunciada ou sua


suspensão. Nenhuma indenização pode ser obtida do CONAR e, em
vez disso, deve ser reivindicada em tribunal. As regras de proteção ao
consumidor também se aplicam a qualquer veículo de comunicação.
De acordo com essas regras, a publicidade sempre permitirá que os
consumidores a identifiquem prontamente como tal e seu conteúdo vincula
o anunciante. Anúncios enganosos e abusivos são ilegais e representam
um crime. Veja na íntegra a Lei Delegada nº. 13 (BRASIL, 1992).
124 UNIUBE

7.2.3 Existem regras contra a publicidade ilegal on-line?

As mesmas regras aplicadas à publicidade em meio físico também são


alocadas para a publicidade on-line. Segundo o art. 37 do Código de
Defesa do Consumidor, é proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
O mesmo dispositivo esclarece que

§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação


ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou
parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo,
mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o
consumidor a respeito da natureza, características,
qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e
quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
§ 2° É abusiva, dentre outras, a publicidade
discriminatória de qualquer natureza, a que incite à
violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite
da deficiência de julgamento e experiência da criança,
desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz
de induzir o consumidor a se comportar de forma
prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é
enganosa por omissão quando deixar de informar sobre
dado essencial do produto ou serviço. (BRASIL, 1990).

De acordo com o Código de Proteção ao Consumidor, o fornecedor de


um produto deve reter dados factuais, técnicos e científicos nos quais
a publicidade se baseia. Várias práticas relacionadas à publicidade são
consideradas infrações criminais, como falha na coleta dos dados usados
como base da publicidade, omissão de informações sobre a natureza
prejudicial ou perigosa dos produtos, declarações falsas ou enganosas
ou omissão de certas informações relevantes e outras.

O CONAR também estabelece regras e princípios éticos para a


publicidade de produtos, como honestidade, veracidade, concorrência
leal, responsabilidade social do anunciante, dignidade humana,
privacidade e direitos autorais.
UNIUBE 125

7.2.4 Existem produtos ou serviços que não podem ser anunciados


na internet?

Produtos ou conteúdos ilegais não podem ser anunciados em nenhum


canal. A publicidade de determinados produtos é proibida ou limitada na
Internet (e às vezes por outros meios também). Como exemplo temos
que a publicidade de subprodutos do tabaco por qualquer meio eletrônico
é proibida e as limitações se aplicam a medicamentos, que só podem
ser anunciados na Internet se forem vendidos no balcão e se o anúncio
atender a determinados critérios.

Outro ponto importante é que não é permitido operar um negócio de jogos


on-line, nem pela Internet nem por outro meio, sujeito à responsabilidade
criminal. As sanções incluem prisão e multas.

7.2.5 Há regras específicas para a publicidade ou venda de produtos


e serviços financeiros a consumidores ou empresas via Internet?

Não há regulamentação específica relativa à publicidade ou venda de


produtos financeiros pela Internet. As mesmas regras aplicáveis aos
anúncios e às vendas tradicionais serão aplicadas nesses casos.

Os produtos financeiros são geralmente regulamentados pelo Banco


Central, que estabelece que estas informações devem ser precisas e
claras. Além dos regulamentos do Banco Central, os produtos financeiros
classificados como títulos também estão sujeitos a regras específicas
emitidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A CVM fornece critérios de divulgação, adequação e requisitos de


precisão e clareza dessas informações. As ofertas e o marketing de
valores mobiliários estão sujeitos a restrições regulatórias. A CVM deve
revisar e consentir qualquer material de marketing usado no contexto de
uma oferta pública.
126 UNIUBE

7.2.6 O que são SPAMs e como evitá-los?

De acordo com as regras da Anatel (2014) (artigo 3 XVIII da Resolução


632/2014), os clientes de telecomunicações precisam autorizar a
operadora a enviar mensagens publicitárias em seus telefones celulares.

Além das regras de aceitação, a Portaria Anatel nº 36/2010 determina


que as operadoras devem oferecer aos usuários a capacidade de parar
de receber mensagens de marketing a qualquer momento e a critério
exclusivo dos usuários, enviando uma mensagem de exclusão para um
link rápido.

As mensagens enviadas por e-mail para fins publicitários devem conter


informações claras e detalhadas sobre o produto ou serviço referido,
bem como sobre o fornecedor que patrocina o anúncio. As informações
do anunciante devem incluir seu nome corporativo, número de inscrição
fiscal, endereço físico e eletrônico.

Atualmente, não há restrições específicas sob a lei federal que regula


o marketing direto que não sejam os direitos gerais de privacidade dos
clientes (garantidos pela Constituição Federal).

Existe uma linha muito tênue entre SPAM e E-MAIL MARKETING.Isso


ocorre porque os dois tipos de mensagens têm uma finalidade comercial.
No entanto, a mesma mensagem pode ser considerada spam por uma
pessoa que não solicitou o recebimento e um e-mail comum por outra
pessoa que tenha solicitado. Spam é qualquer tipo de comunicação
digital indesejada e não solicitada enviada em massa.

Quando um usuário recebe um e-mail não solicitado de uma empresa,


ele pode marcar a mensagem como spam. Quando isso acontece, as
chances de o servidor da empresa estar na lista indesejada aumentam.
UNIUBE 127

Sempre que um e-mail deste servidor é enviado, ele é imediatamente


marcado como spam, pois as listas geralmente são compartilhadas entre
os provedores de e-mail. Portanto, é sempre importante enviar e-mail
marketing apenas para aqueles que realmente o solicitaram.

Além de inconveniente para o usuário receber mensagens indesejadas,


existem alguns problemas causados pelo spam que devem ser levados
em consideração para evitar esta prática (Figura 1) :
Figura 1: Inconvenientes do spam.

Sempre que um usuário recebe uma mensagem não


1. Perda de tempo
solicitada, passa parte do tempo excluindo spam.

As pessoas que usam o e-mail como uma ferramenta de


2. Diminuição da
trabalho gastam mais tempo para acessar mensagens
produtividade
importantes devido ao número de e-mails inadequados.

Se a caixa de correio estiver cheia de spam, é possível


3. Não receber e-mails
que o usuário não receba alguns e-mails, especialmente
importantes ou arquivos
aqueles que são maiores e precisam de espaço para
anexados
serem recebidos.

Algumas mensagens têm links que instalam programas


de computador que cometem fraudes ou induzem as
4. Fraudes financeiras
pessoas a preencher dados em sites clonados de
instituições financeiras.

Devido ao grande número de spam, você pode excluir as


5. Perda de mensagens mensagens importantes, esquecendo-se de ler alguns
e-mails, demorando mais para responder.

Existem várias mensagens inapropriadas ou ofensivas


6. Receba conteúdo enviadas para listas de e-mail aleatórias. Portanto é
inapropriado possível que você receba conteúdo que não corresponda
às suas crenças e aos seus valores.

Fonte: Esquema montado pelas autoras.


128 UNIUBE

Às vezes, pode parecer impossível evitar o recebimento de SPAMs.


Felizmente, existem algumas precauções que podem ajudá-lo a se
proteger desse tipo de conteúdo:

• Manter sempre o software antivírus atualizado


É importante ter um antivírus que possa bloquear possíveis
ataques aos dados pessoais. No entanto, as informações não são
protegidas apenas com a instalação dessa ferramenta. Portanto,
atualize o software de segurança sempre que necessário. Além
disso, use o antivírus periodicamente e crie um hábito não apenas
no seu computador corporativo, mas também no seu computador
particular. É importante instalar também o software antivírus no
seu celular. Afinal, é comum usar telefones celulares para acessar
a Internet.

• Não compartilhar dados pessoais


As informações de e-mail e conta bancária são altamente
confidenciais.  Portanto, você não deve compartilhá-las em
páginas suspeitas. Os códigos de malware enviados ao seu
e-mail podem transformar seu sistema em um servidor para enviar
spam. Geralmente, não é fácil ver que seu computador está
infectado. A maioria das pessoas só descobre quando o dispositivo
fica muito lento ou se houver problemas de conexão.

• Evitar compartilhar mensagens em cadeia


Não compartilhe mensagens questionáveis. Geralmente, elas são
usadas ​​para capturar endereços de e-mail e usá-los para enviar
spam sem o consentimento do usuário. Além disso, várias histórias
compartilhadas em cadeias são falsas. Por isso você precisa
verificar a veracidade das informações para não compartilhar
conteúdo ruim.

• Usar ferramentas anti-spam


A ferramenta anti-spam é essencial porque direciona
mensagens suspeitas para uma pasta spam fora da sua caixa
de entrada. Portanto, mesmo se você não tiver essa ferramenta
instalada no seu computador, tente usar os recursos oferecidos
pelos provedores de acesso.
UNIUBE 129

• Separar e-mails em categorias


Se possível, tente ter mais de um e-mail e separe-os por
categoria. Você pode, por exemplo, ter uma conta apenas para
assinar listas e receber promoções. Portanto você pode impedir
que determinados e-mails de SPAM cheguem aos seus e-mails
pessoais ou comerciais.

• Não acreditar em todas as ofertas especiais


Evite clicar em pop-ups e botões que levam a brindes
extraordinários.  É sempre importante verificar primeiro se
os presentes são mesmo reais e se o site que os ofereceu
é confiável. Várias instituições já possuem em suas páginas
informações que confirmam ou não o envio de brindes, promoções
e descontos. Portanto, lembre-se de analisar todas as mensagens
recebidas antes de clicar em tudo o que aparece na Internet.

7.3 Conclusão
O Brasil, como a sétima maior economia do mundo e a quinta maior
nação em termos de massa terrestre, continua apresentando grandes
oportunidades de mercado para investidores. Os fornecedores de
produtos ou serviços on-line podem obter grandes retornos sobre seus
investimentos, mas precisam entender as principais diferenças entre
realizar negócios físicos e em ambientes virtuais.

Quando se trata da divulgação de serviços e produtos, o CPC, Código


de Defesa do Consumidor, abrange proibições contra publicidade
falsa e omissão de informações relevantes do consumidor, além de
regular a maneira como os fornecedores transmitem informações aos
consumidores. Para tanto, impõe penalidades significativas por não
conformidade proibindo campanhas com publicidade abusivas.

Especificamente, um anúncio que explora o medo ou a superstição, que


desrespeita os valores ambientais ou que pode levar um consumidor a
130 UNIUBE

se machucar é considerado um anúncio abusivo. A penalidade por não


conformidade com restrições de publicidade nos termos do CPC inclui
sentença de prisão e multa.

Como pode ser percebido, o marketing no Brasil não é apenas entender


a população para a qual um produto específico é atraente, mas também
garantir que a estratégia de marketing de uma empresa cumpra as
restrições impostas pela legislação.

Resumo
No Brasil, o comércio eletrônico tornou-se uma maneira usual de comprar
produtos e serviços e, como em qualquer tipo de atividade econômica,
deve ser regulamentado.

Em 2013, o governo brasileiro aprovou o Decreto nº 7962, que


regulamenta a compra de bens e serviços por meio eletrônico. A partir
daí, além do Código de Defesa do Consumidor, conhecido como CDC, as
regras que garantem a proteção do consumidor no comércio eletrônico
também são delimitadas por este novo decreto.

Os consumidores que comprarem por meio eletrônico terão informações


seguras e claras sobre o produto, serviço e fornecedor do qual estão
comprando e também sobre o cumprimento do prazo de entrega, a
disponibilidade e a eficácia do serviço pós-venda.

Uma das vantagens observadas nessas legislações foi oferecer ao


consumidor um canal de informações (SAC) e respeitar o direito ao
arrependimento, que compreende o direito do consumidor de se
arrepender de ter efetuado a compra.
UNIUBE 131

Referências
ANATEL. Agência Nacional de Telecomunicações. Resolução nº 632, de 7 de março de
2014. Aprova o Regulamento Geral de Direitos do Consumidor de Serviços de
Telecomunicações – RGC. Disponível em: https://www.anatel.gov.br/legislacao/resolucoes/
2014/750-resolucao-632. Acesso em: mar.2020.

BRASIL. LEI. 8.078 de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor


e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm.
Acesso em: 20 dez. 2019.

BRASIL. Lei Delegada nº 13, de 27 de agosto de 1992. Institui gratificações de


atividade para os servidores civis do poder executivo, revê vantagens e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ldl/ ldl13.htm.
Acesso em: mar.2020.

BRASIL. DECRETO nº 7.962 de 15 de marco de 2013. Disponível em: http://www.planalto.


gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D7962.htm. Acesso em: 20 dez. 2019.
Capítulo Inteligência Artificial
8

Introdução
As influências cotidianas da Inteligência Artificial estão alterando
a aparência e a forma de nossas vidas. Se alguém da década
de 1950 viajasse no tempo e chegasse no século XXI, ficaria
espantado com a maneira como usamos nossos smartphones
para navegar pela cidade; como os assistentes digitais virtuais,
como Alexa e Cortana, respondem às nossas perguntas e perplexo
com a constante participação das pessoas em redes sociais
e canais de mídia como Facebook, Instagram e Twitter. O que
agora é normal para nós e alimentado pela IA, seria totalmente
estranho para nosso amigo do passado. Não há dúvida de que
a inteligência artificial é parte integrante de nossas vidas diárias.

O alcance da IA é amplo.Nossas instituições financeiras, jurídicas,


empresas de mídia e demais organizações estão descobrindo
maneiras de usar a Inteligência Artificial a seu favor desde a
detecção de fraudes até a redação de textos e processamento
de linguagens.

Somos uma geração privilegiada por viver nesta era cheia de


avanços tecnológicos. Longe vão os dias em que quase tudo
foi feito manualmente, e agora vivemos no tempo em que muito
trabalho é ocupado por máquinas, software e vários processos
134 UNIUBE

automáticos. Nesse sentido, a Inteligência Artificial tem um lugar


especial em todos os avanços feitos hoje. Inteligência Artificial
ou IA não é senão a ciência de computadores e máquinas que
desenvolvem inteligência como seres humanos. Nesta tecnologia,
as máquinas são capazes de fazer algumas das coisas simples e
complexas que os humanos precisam fazer regularmente. Como
os sistemas de IA são usados diariamente em nossa vida diária,
não podemos deixar de compreender no que consiste referida
tecnologia e quais suas implicações no mundo moderno.

Objetivos
Por meio do estudo deste capítulo, espera-se que o leitor seja
capaz de:

• conhecer os aspectos históricos e conceitos fundamentais


da Inteligência Artificial.
• compreender por que a Inteligência Artificial é importante e
seus desdobramentos no cotidiano da humanidade;
• analisar a regulamentação mundial com vistas a perceber a
ausência de uma legislação específica no Brasil

Esquema
8.1 Aspectos históricos e conceitos fundamentais
8.2 Por que a Inteligência Artificial é importante?
8.2.1 Amplamente utilizado em sistemas bancários e
financeiros
8.2.2 Uma forte aliada da ciência médica
8.2.3 Gerenciamento de negócios
8.2.4 Uso eficiente no transporte aéreo
8.2.5 Outra forma de entretenimento
8.2.6 Os benefícios para o agronegócio
UNIUBE 135

8.3 Regulamentação
8.3.1 Perspectiva internacional
8.3.2 O que diz a OCDE - Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico sobre a Inteligência
Artificial?
8.3.3 A realidade brasileira até 2020
8.4 Conclusão

8.1 Aspectos históricos e conceitos fundamentais

O termo Inteligência Artificial foi cunhado pela primeira vez em 1956, mas
se tornou mais popular nos dias de hoje, graças ao aumento dos volumes
de dados, algoritmos avançados e melhorias no poder e armazenamento
da computação.

As primeiras pesquisas da IA nos anos 50 exploraram tópicos como


solução de problemas e métodos simbólicos. Na década de 1960, o
Departamento de Defesa dos EUA se interessou por esse tipo de trabalho
e começou a treinar computadores para imitar o raciocínio humano
básico. Por exemplo, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de
Defesa (DARPA) concluiu projetos de mapeamento de ruas na década de
1970 e produziu assistentes pessoais inteligentes em 2003, muito antes
de Siri, Alexa ou Cortana serem nomes familiares.

Esse trabalho inicial pavimentou o caminho para a automação e o


raciocínio formal que vemos hoje em computadores, incluindo sistemas
de suporte a decisões e sistemas inteligentes de pesquisa que podem
ser projetados para complementar e aumentar as habilidades humanas.

Enquanto os filmes de Hollywood e os romances de ficção científica


descrevem a IA como robôs humanos que dominam o mundo, a atual
evolução das tecnologias de IA não é tão assustadora - ou tão inteligente.
Em vez disso, a IA evoluiu para fornecer muitos benefícios específicos
em todos os setores.
136 UNIUBE

Nesta perspectiva, a Inteligência Artificial é um ramo abrangente da


ciência da computação, preocupado com a construção de máquinas
inteligentes capazes de executar tarefas que normalmente exigem
inteligência humana. Neste sentido, a IA é uma ciência interdisciplinar
com múltiplas abordagens e os avanços no desenvolvimento de
máquinas estão criando uma mudança de paradigma em praticamente
todos os setores da indústria de tecnologia.

Segundo McCarthy (1955), trata-se da teoria e do desenvolvimento de


sistemas de computador capazes de realizar tarefas que normalmente
requereriam inteligência humana, como percepção visual, reconhecimento
de fala, tomada de decisões e tradução entre línguas. Outra definição, de
Russell e Norvig (2016), traz Inteligência Artificial como sendo “o estudo
e concepção de agentes inteligentes, onde um agente inteligente é um
sistema que percebe seu ambiente e realiza ações que maximizam
suas chances de sucesso”. Na mesma linha, Kurzweil (1990) trata IA
como sendo “A arte de criar máquinas que desempenhem funções que
requeiram inteligência quando realizadas por pessoas”.

SAIBA MAIS

Talvez, contudo, a definição mais conhecida Figura 1: Alan Turing.


sobre Inteligência Artificial venha de Alan
Turing, matemático e criptoanalista britânico
muito influente no desenvolvimento da ciência
da computação na primeira metade do século
XX. Turing trabalhou na quebra das cifras
alemãs durante a Segunda Guerra Mundial
e, graças a essa experiência projetando e
construindo máquinas de quebra de código,
além de sua experiência em matemática, lançou
as bases para os primeiros computadores
serem construídos. Ainda mais surpreendente, Fonte: Wikipedia, 1927.
ele construiu uma estrutura para questionar a capacidade de uma máquina
ser “inteligente”, mesmo quando essa tecnologia ainda era rudimentar.
UNIUBE 137
138 UNIUBE

Fonte: CLINKS (s/d).


UNIUBE 139

8.2 Por que a Inteligência Artificial é importante?

Os sistemas de IA são eficientes o suficiente para reduzir os esforços


humanos em várias áreas. Os aplicativos ajudam a realizar o trabalho
mais rapidamente e com resultados precisos.

CURIOSIDADE

Que papel importante a Inteligência Artificial desempenha nos dias de hoje?

8.2.1 Amplamente utilizado em sistemas bancários e


financeiros

É fato que os bancos realizam inúmeras atividades diárias que precisam


ser realizadas com precisão. A maioria das atividades exige muito tempo
e esforço dos funcionários e, às vezes, também há uma chance de
encontrarmos um erro humano nessas atividades.

Com o uso do sistema de IA nesse processo, as instituições são


capazes de obter resultados eficientes em um tempo de resposta
rápido. A implementação estratégica da inteligência artificial em agências
financeiras os ajuda a se concentrar em cada cliente e a fornecer
uma solução rápida pela quantidade de informações que o sistema
proporciona.

Inclusive o número de agências bancárias tem diminuído em razão da


quantidade de aplicativos existentes que possibilitam transações por
smartphones e computadores.

8.2.2 Uma forte aliada da ciência médica

A Inteligência Artificial mudou completamente a forma como a ciência


médica era percebida há alguns anos. Existem inúmeras áreas na
medicina em que a IA é usada para alcançar um resultado incrível.
140 UNIUBE

Com a ajuda da IA, a ciência médica conseguiu criar um sistema virtual


de assistência médica pessoal utilizada para fins de pesquisa e análise.
Também existem muitos aplicativos de saúde eficientes introduzidos no
campo médico para fornecer suporte constante à saúde dos pacientes,
pois são eficazes para responder às perguntas frequentes e também para
agendar consultas em rápida sucessão.

As 5 principais formas de aplicar esse recurso na área da saúde são:

• Tratamento de doenças
• Precisão no resultado de exames
• Associação de sintomas
• Recuperação de dados
• Alerta sobre o quadro do paciente

8.2.3 Gerenciamento de negócios

Outra maneira pela qual a Inteligência Artificial está desempenhando um


papel nos negócios, além de atuar diretamente nas relações de consumo,
está nos bastidores. Isso significa que a IA pode ser implementada para
controlar e gerenciar funções regulares dos negócios.

Usar Inteligência Artificial em informações comerciais pode ser um


grande benefício. Os algoritmos de IA já estão ajudando mais empresas
a gerenciar seus dados por meio de análises aprofundadas e muitos
setores específicos já estão se beneficiando da IA em suas operações.
Quanto à logística, por exemplo, o uso de processos de IA ajuda a
determinar padrões de viagem eficientes com base na capacidade de
obter informações de vários lugares, incluindo clima, consumo médio de
combustível, tráfego e outros elementos. Os departamentos de recursos
humanos estão usando tecnologias de IA para ajudá-los a encontrar o
melhor talento nos envios de currículos. A IA pode combinar os melhores
candidatos com os cargos com base na funcionalidade das palavras-
UNIUBE 141

chave e na capacidade da IA de coletar e analisar informações de várias


fontes simultaneamente.

8.2.4 Uso eficiente no transporte aéreo

O transporte aéreo é um dos sistemas de transporte mais complexos e


não é exagero afirmar que este ramo não pode sobreviver sem o uso
de Inteligência Artificial. Existem inúmeras funções nas máquinas e nos
processos de gerenciamento que são controlados pela IA. Existem muitos
recursos, desde reservar os bilhetes até a decolagem e operação dos
voos que a AI gerencia e controla. Os aplicativos de IA tornam o transporte
aéreo eficiente, rápido e seguro e proporcionam uma comodidade aos
sujeitos envolvidos no processo.

8.2.5 Outra forma de entretenimento

Atualmente, podemos usufruir de jogos e programas digitais em um nível


totalmente novo; tudo graças à aplicação de Inteligência Artificial. Muitos
de nós lembramos da época em que o “Super Mario” era considerado
o melhor e mais moderno jogo dos poucos videogames disponíveis no
mercado. Agora, existem várias possibilidades em que a máquina joga
com você desafiando-lhe ao melhor resultado. A realidade virtual é um
exemplo de inteligência artificial que melhor exemplifica o valor agregado
pela tecnologia ao mercado de entretenimentos.

8.2.6 Os benefícios para o agronegócio

As ferramentas de IA podem aumentar as capacidades humanas para


melhorar a produtividade agrícola, incluindo monitoramento de safras,
robótica e análise de previsão. No futuro, podemos comer alimentos
que foram plantados, regados, monitorados, colhidos, classificados e
entregues sem intervenção humana.
142 UNIUBE

A tecnologia pode reconhecer doenças de culturas e danos causados


por pragas. Torna cada vez mais importante ter ferramentas que possam
detectar rapidamente doenças para conter o problema.

Veículos autônomos não se limitam às ruas. Já existem tratores


autônomos que podem navegar automaticamente em uma fazenda em
terrenos particulares, sem a necessidade de fabricantes de equipamentos
considerarem regras complexas de trânsito e regulamentares. Um
motorista humano pode ensinar o layout da fazenda ao sistema do trator
e depois tirar as mãos do volante. Os veículos autônomos possuem
dispositivos de coleta de dados para capturar rotas de navegação junto
com os dados do sensor relacionados aos componentes internos e ao
ambiente externo.

Os drones agrícolas coletam imagens e outras estatísticas que uma


ferramenta de IA combina com dados de imagens, clima, solo e patologia
de plantas especializada para fornecer um painel visual da fazenda com
sobreposições analíticas. Os dados de diferentes sistemas podem ser
carregados nos servidores para gerenciamento de frota e serviços de
agricultura de precisão.

As ferramentas de IA podem gerar previsões de agricultura e impulsionar


a tomada de decisões operacionais. Por exemplo, um produto de
IA previu com precisão os rendimentos de milho e soja processando
imagens de satélite e plantas usando uma combinação de aprendizado
de máquina, dados meteorológicos e agrícolas relatados. O teste inicial
do sistema foi realizado com base em anos de dados históricos. Os
dados de previsão do “mundo real” mostram as estimativas mudando ao
longo do tempo, o que destaca a importância de coletar constantemente
novos dados e refinar os algoritmos.
UNIUBE 143

PARADA PARA REFLEXÃO

Embora existam inúmeros benefícios, como toda grande inovação, há


também um certo risco que corremos. Um dos maiores perigos poderia ser
o uso dessa tecnologia para destruição ou outras atividades irracionais. Se
isso acontecer, a própria tecnologia que criamos pode nos matar em um
futuro próximo. Para cuidar desse aspecto crucial, muitas organizações e
cientistas estão pressionando pela supervisão regulatória dos aplicativos e
sistemas de IA. A supervisão precisa estar em nível nacional e internacional,
para que todos os países possam estar em equilíbrio para vivenciar
crescimento em seus respectivos locais. No entanto, existem várias leis,
diretrizes regulatórias e procedimentos que monitoram o uso da inteligência
artificial no tempo de hoje, portanto a segurança de nós humanos é sempre
a principal preocupação aqui.

Nestas perspectivas vamos analisar algumas legislações existentes e


outras em construção sobre a Inteligência Artificial.

8.3 Regulamentação

8.3.1 Perspectiva internacional

Tecnologias avançadas, como Inteligência Artificial (IA), e suas


implicações sociais e políticas estão na vanguarda dos debates públicos
atuais.

Esse assunto também está na agenda de organizações internacionais


e, em setembro de 2018, o Secretário-Geral das Nações Unidas lançou
uma ‘Estratégia sobre Novas Tecnologias’, descrevendo como o sistema
das Nações Unidas apoiará o uso dessas tecnologias para acelerar a
conquista da Agenda de Desenvolvimento Sustentável para 2030 e
para facilitar seu alinhamento com os valores consagrados na Carta das
Nações Unidas, na Declaração Universal dos Direitos Humanos e nas
normas e padrões do direito internacional.
144 UNIUBE

PESQUISANDO NA WEB

Para saber mais acesse o site da ONU:


https://nacoesunidas.org/onu-lanca-nova-estrategia-para-jovens-liderarem-
conquista-da-agenda-2030/

Novas tecnologias oferecem oportunidades sem precedentes para


promover mudanças positivas globais, mas também trazem desafios
críticos para a governança.

Neste espaço vamos explorar aspectos da perspectiva do direito


discutindo o papel que as normas e instituições jurídicas internacionais
podem desempenhar para enfrentar os desafios regulatórios colocados
pela IA e outras tecnologias.

Para alcançar os benefícios potenciais das novas tecnologias descritas


até o momento nesta disciplina, é importante enfrentar os desafios
críticos que elas apresentam em relação à transparência, privacidade,
igualdade e responsabilidade.

A transparência é uma das questões cruciais da IA. Devido ao seu


trabalho interno complexo e aos recursos autônomos, os algoritmos de
aprendizado de máquina podem alcançar resultados que os humanos
não conseguem explicar. Os especialistas concordam que é essencial
enfrentar a questão da inteligibilidade do processo de raciocínio dos
algoritmos. A obscuridade das novas tecnologias também se relaciona
ao fato de que muitas delas são desenvolvidas por empresas comerciais
com base em dados de propriedade privada.

Outro desafio das novas tecnologias diz respeito à privacidade, a


não discriminação e respeito aos valores fundamentais e aos direitos
humanos. As importantes implicações de privacidade das tecnologias
orientadas a dados são bem conhecidas e iniciativas como o
UNIUBE 145

Regulamento Geral de Proteção de Dados da UE (GDPR) tentam resolvê-


las. A questão do viés na tomada de decisão algorítmica (que decorre
do viés em humanos e em conjuntos de dados) foi mais recentemente
identificada como um desafio premente a ser abordado para desenvolver
uma IA globalmente benéfica.

Outra questão central das novas tecnologias é a responsabilidade. As


tecnologias capazes de tomar decisões e agir autonomamente são
perturbadoras dos conceitos de responsabilidade e permanece incerto
como alocar a responsabilidade pelos danos causados pela tecnologia
que opera com envolvimento humano limitado.

O direito internacional e as instituições internacionais podem ajudar a


enfrentar esses desafios de várias maneiras (Figura 1):
Figura 1: Funções do direito internacional e das instituições internacionais.

fornecendo
estruturas e
responsabilidade.
adaptando normas
e conceitos
coordenando o existentes e
desenvolvimento preenchendo
de padrões lacunas
privados regulatórias, e

Fonte: Esquema montado pelas autoras.

O atual cenário regulatório da IA é caracterizado por uma proliferação


de padrões e diretrizes particulares desenvolvidas pelo setor (por
exemplo, Google e Microsoft). A regulamentação privada é um passo
útil, mas permanece de natureza voluntária e não vinculativa. Além
disso, os padrões privados não são harmonizados e são conduzidos
por vários interesses e valores. Nesse contexto, o papel do direito e das
instituições internacionais pode ser o de coordenar o desenvolvimento
da regulamentação privada, possivelmente trabalhando para o
desenvolvimento de diretrizes acordadas internacionalmente que também
assegurem que valores fundamentais sejam integrados no design e
desenvolvimento da IA.
146 UNIUBE

Novas tecnologias não exigem necessariamente novas regras, e


normas e conceitos existentes são certamente úteis e aplicáveis. As
noções legais são flexíveis e abstratas o suficiente para se adaptar a
novos cenários. No entanto, alguns desenvolvimentos tecnológicos
relacionados à autonomia são tão perturbadores que os operadores
jurídicos existentes têm dificuldade em compreendê-los. Onde for
identificada a necessidade de desenvolver novas regras, será importante
adotar abordagens multilaterais e com várias partes interessadas que
envolvam todos os atores públicos e privados relevantes.

Finalmente, o direito internacional poderia ajudar na formulação de


estruturas para alocar a responsabilidade entre uma multiplicidade de
atores, cada um envolvido em diferentes graus no design ou no uso de
tecnologias. A responsabilidade pode - alternativa ou cumulativamente
- ser atribuída a atores individuais ou coletivos, naturais ou ficcionais,
privados ou públicos (operadores, desenvolvedores, decisores,
corporações, estados etc.).

8.3.2 O que diz a OCDE - Organização para a Cooperação


e Desenvolvimento Econômico sobre a Inteligência
Artificial?

No ano de 2019, quarenta e dois países assinaram e adotaram os novos


princípios da OCDE, a Organização Internacional de Cooperação e
Desenvolvimento Econômico, sobre Inteligência Artificial. Dessa forma,
eles adotaram formalmente o primeiro conjunto de diretrizes de políticas
intergovernamentais sobre Inteligência Artificial, concordando em manter
padrões internacionais que visam garantir que os sistemas de IA sejam
projetados e construídos para serem robustos, seguros, justos e confiáveis.

Desenvolvidos sob a orientação de um grupo de especialistas composto


por mais de 50 membros de governos, universidades, empresas,
sociedade civil, organismos internacionais, comunidades tecnológicas e
sindicatos, os ‘Princípios’ incluem cinco regras baseadas em valor para
UNIUBE 147

o desenvolvimento responsável da IA confiável e cinco recomendações


para políticas públicas e cooperação internacional.

O maior objetivo da organização é promover uma


Inteligência Artificial inovadora e confiável que respeita
os direitos humanos e os valores democráticos.

Aqui em detalhes e em resumo, o que os 5 princípios definidos pela OCDE


indicam para o que é a Inteligência Artificial benéfica, segura e confiável
(Figura 2):
Figura 2: Princípios da OCDE para a IA

1. A Inteligência Artificial deve beneficiar as pessoas e o planeta,


estimulando o crescimento inclusivo, o desenvolvimento sustentável e
o bem-estar.

2. Os sistemas de IA devem ser projetados de maneira a respeitar o estado de


direito, os direitos humanos, os valores democráticos e a diversidade. E eles
devem incluir salvaguardas apropriadas para garantir uma sociedade justa e
equitativa, por exemplo, permitindo a intervenção humana, se necessário.

3. Deve haver transparência e divulgação responsável em torno dos sistemas de


Inteligência Artificial para garantir que as pessoas entendam tudo relacionado
ao seu uso e que possam aproveitar ao máximo seus resultados.

4. Os sistemas de IA devem funcionar de forma sólida e segura durante toda


a vida útil de seus aplicativos, e os riscos potenciais devem ser avaliados e
gerenciados continuamente.

5. As organizações e indivíduos que desenvolvem, usam ou gerenciam sistemas


de IA devem ser responsabilizados pelo seu bom funcionamento, de acordo
com esses princípios e diretrizes.

Fonte: OECD (s/d)


148 UNIUBE

Embora não sejam juridicamente vinculativos, os princípios da OCDE


já existentes em outras áreas provaram ser influentes na definição de
padrões internacionais e no auxílio aos governos no desenvolvimento
da legislação nacional.

EXEMPLIFICANDO!

As Diretrizes de Privacidade da OCDE, que estabelecem limites para a


coleta e o uso de dados pessoais, sustentam muitas leis de privacidade e
estruturas regulatórias nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia.

Os princípios de governança corporativa da OCDE, aprovados pelo G20,


tornaram-se um ponto de referência internacional para políticos, investidores,
empresas e outras realidades que trabalham em estruturas institucionais e
regulamentares sobre governança corporativa.

Consistente com esses princípios, com base em valores compartilhados,


a OCDE também oferece cinco recomendações aos governos dos vários
países (OECD, s.d):
Figura 3: Recomendações da OCDE

2. Promover
1. Facilitar o ecossistemas acessíveis 3. Criar um ambiente
investimento público e de inteligência artificial, político que abre
privado em pesquisa e com infraestruturas caminho para a
desenvolvimento para e tecnologias digitais implantação de
estimular a inovação e mecanismos para sistemas de IA
em IA confiável. compartilhamento de confiáveis.
dados e conhecimento.

5. Colaborar internacional
4. Equipar as pessoas e intersetorialmente
com habilidades para compartilhar
de IA e apoiar os informações, desenvolver
trabalhadores a padrões e trabalhar
garantir uma transição para o gerenciamento
justa de conhecimento. responsável da
inteligência artificial.

Fonte: Esquema montado pelas autoras.


UNIUBE 149

Até o momento, essas são as diretrizes e regras que todos, desde


governos nacionais a desenvolvedores de sistemas de alta tecnologia,
devem a partir de agora aderir quando se tratar de problemas e
ferramentas relacionados à IA. Os próximos passos da OCDE e de
seus representantes consistirão em atividades para monitorar e medir a
pesquisa, o desenvolvimento e a disseminação de inteligência artificial e
coletar informações básicas para avaliar o progresso alcançado em sua
implementação.

8.3.3 A realidade brasileira até 2020

Em 2020 o governo brasileiro deu mais um passo em direção à criação


de políticas públicas em torno da Inteligência Artificial (IA).

Uma estratégia nacional de IA foi prometida como uma resposta à corrida


mundial pela liderança no campo e a necessidade de discutir o futuro do
trabalho, educação, impostos, pesquisa e desenvolvimento, bem como
a ética, à medida que a aplicação de tecnologias relacionadas se tornar
mais difundida.

Uma consulta pública foi lançada para reunir informações sobre como
a IA pode resolver os principais problemas do país, identificar áreas
prioritárias de foco para o desenvolvimento e uso das tecnologias, bem
como limites para isso.

Neste contexto, o governo entende que a IA pode trazer melhorias para


a competitividade e a produtividade do país, bem como para a prestação
de serviços públicos, qualidade de vida e redução de riscos sociais e da
desigualdade na maior economia do hemisfério sul.

O Brasil adere aos Princípios de IA centrados no ser humano propostos pela


Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que
fornecem recomendações em áreas como transparência e explicabilidade.
150 UNIUBE

À luz dessas diretrizes, o debate em torno da estratégia brasileira de IA


se propõe a discutir inicialmente seis temas verticais (BRASIL. MCTIC,
s.d.) (Figura 4):
Figura 4: Estratégia brasileira.

pesquisa,
qualificações para desenvolvimento,
trabalhadores;
um futuro digital; inovação e
empreendedorismo;

aplicação
aplicação nos
governamental segurança pública.
setores produtivos e
de IA;

Fonte: Esquema elaborado pelas autoras.

Como pode se ver, o Brasil ainda não conta com uma legislação
própria para tratar sobre a Inteligência Artificial. O problema é que os
regulamentos projetados para dar vida formal à IA poderiam, de fato,
fazer o oposto se não forem abordados com cuidado e devida diligência.

A conformidade regulamentar é importante em todo o espectro dos


negócios, do varejo ao bancário, mas também é complexa, especialmente
com as novas tecnologias sendo implementadas nos modelos de
negócios constantemente.

Devido à constante necessidade de atualizações e revisões, a capacidade


dos órgãos reguladores de aplicar essas regras está se tornando cada
vez mais difícil. A tecnologia está em constante evolução, portanto esses
regulamentos estão rapidamente se tornando obsoletos. Isso significa que
a IA nunca será totalmente regulamentada, a menos que sejam tomadas
medidas para garantir que qualquer iteração passe primeiramente pela
regulamentação.
UNIUBE 151

8.4 Conclusão

A IA continuará proporcionando melhorias e avanços em muitos setores,


que exercem um profundo impacto na sociedade.

O uso da IA na área de saúde, por exemplo, fará com que as pesquisas


médicas e os experimentos sejam mais eficazes e eficientes. O transporte
deve mudar com veículos autônomos e estradas automatizadas que
contribuirão para a criação de cidades inteligentes. A IA pode ajudar
a prever desastres naturais, enquanto dados em tempo real ajudam a
agricultura a melhorar sua produtividade para fornecer alimentos em um
ritmo mais acelerado. Enfim, temos a perspectiva de nos beneficiarmos
economicamente à medida que o uso da IA nas empresas evolui, assim
como o campo do trabalho.

No extremo oposto desse cenário há um viés negativo quanto à


Inteligência Artificial. É por isso que grandes desafios aguardam
instituições governamentais e organizações jurídicas, à medida que lidam
com questões maiores que podem surgir do uso indevido da tecnologia.

Com a IA prevista para ser benéfica em um amplo espectro de aplicativos


diferentes, faria mais sentido que os aplicativos fossem regulamentados.
Os requisitos de aplicação da IA na área da saúde são diferentes
dos serviços bancários, por exemplo - as questões éticas, legais e
econômicas em torno da emissão de medicamentos para os pacientes
são muito diferentes da transação de dinheiro.

Nesse sentido, espera-se que a regulamentação da IA como um todo


significará que seu uso será mais limitado em determinados setores do
que em outros, possibilitando uma sinergia entre o desenvolvimento
econômico e social e a tecnologia.
152 UNIUBE

Resumo
A Inteligência Artificial (IA) tornou-se uma das palavras-chave da década,
como uma parte potencialmente importante da resposta aos maiores
desafios da humanidade, desde abordar as mudanças climáticas até
combater o câncer e interromper o processo de envelhecimento.

Trata-se do processo amplamente visto como o desenvolvimento


tecnológico mais importante desde o uso em massa de eletricidade.
Para que a Inteligência Artificial prospere de forma viável, é necessário
que o poder público trabalhe em estreita colaboração com os órgãos
profissionais de cada setor, que podem aconselhar os tomadores de
decisão sobre políticas e regulamentações acerca das melhores práticas
em relação ao que a tecnologia é capaz.

À medida que avançamos no século XXI, a única maneira de ver de


forma realista a IA e a automação tomarem o mundo dos negócios é se
ela for regulamentada de maneira inteligente.

Isso começa com o incentivo a novos avanços e inovações na tecnologia,


o que significa regular aplicativos em vez da própria tecnologia. Embora
exista muito preconceito em torno da IA e as possíveis consequências
que isso possa ter para a força de trabalho das empresas, devemos estar
otimistas sobre um futuro em que a IA é ética e útil, em um mundo em
que os trabalhadores deslocados pela automação foram realocados para
outras funções mais importantes na cultura organizacional.

Referências

BITTENCOURT, Guilherme: Inteligência Artificial – Ferramentas e Teorias. Editora


da UFSC. 2ª. Edição. Florianópolis, 2001. 362p
UNIUBE 153

CLINKS. A incrível história da inteligência artificial. Disponível em: https://clinks.


com.br/blog/inteligencia-artificial/a-incrivel-historia-da-inteligencia-artificial-2. Acesso
em: mar.2020.

KURZWEIL, Ray. A inteligência das máquinas. MIT Press, 1990.

MCCARTHY e P.J. HAYES. Some philosophical problems from the standpoint of


artificial intelligence. In D. Michie and B. Meltzer, editors, Machine Intelligence
4, pages 463-502. Edinburgh University Press, Edinburgh, GB, 1969.

NAÇÕES UNIDAS BRASIL. ONU lança nova estratégia para jovens liderarem
conquista da Agenda 2030. Disponível em: https://nacoesunidas.
-estrategia-para-jovens-liderarem-conquista-daagenda-2030/.
Acesso em: 27 mai. 2020.

RICH, Elaine; KNIGHT, Kevin: Inteligência Artificial. Makron Books. 2ª. Edição.
São Paulo, 1994. 722p.

RUSSEL, Stuart; NORVIG, Peter: Inteligência Artificial. Campus, São Paulo, 2004.
1040p 40

TURING, Alan Mathison. Wikipedia.org. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/


Alan_Turing#/media/Ficheiro:Alan_Turing_Aged_16 (cropped).jpg. Acesso em: 27
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BRASIL. MCTIC- Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.


Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial. Disponível em: http://www.
mctic.gov.br/mctic/opencms/inovacao/paginas/politicasDigitais/Inteligencia/
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