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Metodologia de ensino da

ginástica

Regina Maria Rovigati Simões

Aline Dessupoio Chaves

Sandra Maria do Nascimento Moreira


© 2019 by Universidade de Uberaba

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reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico
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Editoração e Arte
Produção de Materiais Didáticos-Uniube

Editoração
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Revisão textual
Érika Fabiana Mendes Salvador

Diagramação
Andrezza de Cássia Santos

Ilustrações
Rodrigo de Melo Rodovalho
Getty Images. Acervo Uniube.
Depositphotos. Acervo Uniube.

Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio

Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário

Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube

Simões, Regina Maria Rovigati.


S51m Metodologia de ensino da ginástica / Regina Maria Rovigati
Simões, Aline Dessupoio Chaves, Sandra Maria do Nascimento
Moreira. – Uberaba: Universidade de Uberaba, 2019.
288 p. : il.

Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba.


Inclui bibliografia.
ISBN ​

1. Ginástica. 2. Ginástica – História. 3. Metodologia – Ensino –


Ginástica. I. Chaves, Aline Dessupoio. II. Moreira, Sandra Maria do
Nascimento. III. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a
Distância. IV. Título.
CDD 796.44
Sobre as autoras
Regina Maria Rovigati Simões

Pós-Doutorado em Ciências do Movimento Humano pela Universidade


Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Doutora em Educação Física –
Educação Motora pela Unicamp (UNICAMP). Mestre em Educação
– Filosofia da Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba
(UNIMEP). Especialista em Motricidade Humana e graduada em
Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas
(PUCCamp). Docente da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
(UFTM) no curso de graduação e mestrado em Educação Física
e mestrado em Educação. Coordena o Programa de Extensão de
Atividades Gimnicas nessa universidade (PAGU/UFTM) e é líder do
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Corporeidade e Pedagogia do
Movimento – NUCORPO/UFTM.

Aline Dessupoio Chaves

Doutora em Educação Física pela Universidade de São Paulo (USP).


Mestre em Ciência da Motricidade Humana pela Universidade Católica de
Brasília (UCB). Especialista em Atividades Aquáticas pela Universidade
Gama Filho (UGF). Graduada em Educação Física pela Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF). Docente da Universidade Federal do
Triângulo Mineiro (UFTM). Coordena o Programa de Extensão Aqua
e é líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Atividades Aquáticas –
GEPEATA/UFTM.

Sandra Maria do Nascimento Moreira

Mestre em Educação Física pela Universidade Federal do Triângulo


Mineiro (UFTM). Especialista em Fisiologia e Metodologia da Atividade
Física Personalizada pela Universidade Veiga de Almeida do Rio de
Janeiro (UVA). Graduada em Licenciatura Plena em Educação Física
pela Universidade de Uberaba (UNIUBE) e em Ciências Econômicas
pela Faculdade de Ciências Econômicas do Triângulo Mineiro (FCETM).
Gestora dos Cursos de Licenciatura em Educação Física e Bacharelado
em Educação Física na Universidade de Uberaba, na modalidade EAD.
Docente, nessa universidade, dos cursos de Bacharelado e Licenciatura
em Educação Física nas modalidades EAD e presencial. Coordenadora
do curso de Especialização em Personal Trainer e docente do curso
de Especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica. Membro
do Grupo de Estudos e Pesquisa em Instrução, Desenvolvimento e
Educação (GEPIDE). Membro da Red de Estudios sobre Educación
(REED), pertencente à Universidade de Sancti Spíritus “José Martí Pérez”
(UNISS), de Cuba, e da Red Educativa Mundial (REDEM), radicada em
Lima, Peru.
Sumário
Apresentação....................................................................................... XI

Capítulo 1 Do sedentarismo ao movimento...........................................1


1.1 O que é movimento humano?..................................................................................4
1.2 Importância do movimento humano.........................................................................6
1.3 Sedentarismo............................................................................................................9
1.3.1 Causas e consequências do sedentarismo..................................................12
1.4 A diferença entre atividade física e exercício físico................................................18
1.5 A ginástica enquanto conteúdo da Educação Física..............................................22
1.6 Considerações finais..............................................................................................25

Capítulo 2 A ginástica de ontem...........................................................31


2.1 O que é ginástica?..................................................................................................34
2.2 Ginástica no contexto histórico...............................................................................36
2.2.1 Onde tudo começou?....................................................................................37
2.2.2 A época da escuridão do corpo.....................................................................46
2.2.3 O renascer do movimento corporal..............................................................50
2.3 Considerações finais..............................................................................................55

Capítulo 3 As escolas ginásticas..........................................................59


3.1 Método alemão.......................................................................................................62
3.2 Método sueco.........................................................................................................72
3.3 Método francês.......................................................................................................79
3.4 Calistenia................................................................................................................89
3.5 Ginástica feminina moderna...................................................................................93
3.6 Considerações finais..............................................................................................96

Capítulo 4 A ginástica de hoje............................................................101


4.1 A ginástica a partir do século XX..........................................................................102
4.2 Os campos de atuação da ginástica e suas características................................ 110
4.2.1 Ginástica de competição.............................................................................112
4.2.2 Ginástica de condicionamento físico..........................................................131
4.2.3 Ginástica de demonstração........................................................................138
4.2.4 Ginástica de conscientização corporal.......................................................140
4.2.5 Ginástica fisioterápica.................................................................................143
4.3 Elementos constitutivos da ginástica....................................................................144
4.4 Considerações finais............................................................................................145

Capítulo 5 Descrição de exercícios....................................................151


5.1 Os planos e eixos do corpo humano....................................................................153
5.1.1 Planos..........................................................................................................153
5.1.2 Eixos............................................................................................................154
5.2 Movimentos do corpo humano.............................................................................154
5.2.1 Flexão e extensão ......................................................................................154
5.2.2 Movimentos de adução e abdução.............................................................155
5.2.3 Movimentos de rotação interna e externa..................................................156
5.2.4 Circundução................................................................................................156
5.3 Descrição de exercícios........................................................................................157
5.3.1 Posição Inicial (PI) ou Posição de Partida (PP) ........................................158
5.3.2 Execução.....................................................................................................177
5.3.3 Figuração....................................................................................................178

Capítulo 6 Capacidades físicas e habilidades motoras na ginástica.181


6.1 Capacidade condicionais......................................................................................183
6.1.1 Força...........................................................................................................183
6.1.2 Resistência..................................................................................................189
6.1.3 Velocidade...................................................................................................191
6.1.4 Flexibilidade................................................................................................194
6.1.5 Agilidade......................................................................................................197
6.2 Capacidades coordenativas.................................................................................197
6.2.1 Coordenação motora..................................................................................198
6.2.2 Equílibrio......................................................................................................200
6.3 Conclusão.............................................................................................................202

Capítulo 7 A ginástica para crianças e adolescentes.........................207


7.1 Prática da ginástica na infância............................................................................208
7.1.1 Contextualização da ginástica na infância..................................................209
7.1.2 Objetivos e conteúdos.................................................................................214
7.1.3 Procedimentos metodológicos e avaliação................................................223
7.2 Prática da ginástica na adolescência...................................................................228
7.2.1 Contextualização da ginástica na adolescência.........................................229
7.2.2 Objetivos e conteúdos.................................................................................235
7.2.3 Procedimentos metodológicos e avaliação................................................239
7.3 Considerações finais............................................................................................245
Capítulo 8 A ginástica para adultos e idosos......................................251
8.1 Prática da ginástica na vida adulta.......................................................................252
8.1.1 Contextualização da ginástica na vida adulta............................................252
8.1.2 Objetivos e conteúdos.................................................................................256
8.1.3 Procedimentos metodológicos e avaliação................................................259
8.2 Prática da ginástica na terceira idade..................................................................263
8.2.1 Contextualização da ginástica na terceira idade........................................263
8.2.2 Objetivos e conteúdos.................................................................................265
8.2.3 Procedimentos metodológicos e avaliação................................................268
8.3 Conclusão.............................................................................................................271
Apresentação
Prezado(a) aluno(a), é um prazer tê-lo(a) conosco.

Este é o livro de Metodologia de ensino da ginástica. Este livro foi


preparado para fornecer-lhes os principais ensinamentos da ciência
da ginástica para que, de posse de tal conhecimento, torne-se um
profissional qualificado para atuar no mercado de trabalho.

Aproveite este importante momento de formação para se apropriar, ao


máximo, de todo o conteúdo proposto neste livro. No decorrer da leitura,
você perceberá que existem muitas modalidades de ginástica e que cada
uma delas possui características diferentes e objetivos específicos.

Nossa expectativa é que você obtenha o conhecimento básico da


história da ginástica, que se faz presente na humanidade desde seus
primórdios, já que ela está diretamente ligada aos movimentos humanos.
A ginástica surge na pré-história e desde então vem evoluindo até a Idade
Contemporânea, alcançando os dias de hoje apresentando uma enorme
variedade de possibilidades, as quais podem ser observadas no meio
esportivo e também no meio escolar.

Além de estudar todo o trajeto histórico da ginástica, você também irá


aprender sobre os elementos corporais da ginástica, seus princípios e,
ainda, sobre sua classificação quanto aos tipos de ginástica no que se
relaciona a seus aspectos históricos e às suas características marcantes.

No primeiro capítulo, falaremos sobre a importância do movimento


enquanto elemento fundamental no combate ao sedentarismo. No
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segundo capítulo, sobre a ginástica de ontem, no sentido de esclarecer


como ela era realizada. No terceiro capítulo, você tomará conhecimento
dos tipos de escolas de ginástica. No quarto capítulo, você estudará
sobre a ginástica nos dias de atuais. No quinto capítulo, apresentamos
a descrição dos exercícios. No sexto capítulo, estudará sobre as
capacidades físicas e as habilidades motoras. No sétimo capítulo, sobre
a ginástica e sua aplicação nas diferentes faixas etárias, especificamente
para crianças e adolescentes, e, no oitavo e último capítulo, abordaremos
a ginástica e sua aplicação nas diferentes faixas etárias, especialmente
para adultos e idosos.

Esperamos que, ao término deste livro, você esteja apto(a) para aplicar
os fundamentos da ginástica com maestria e tranquilidade, sabedores
de suas ações e conscientes da responsabilidade frente a todos aqueles
que o(a) procurarem para atuar junto a eles como professor de ginástica.

Bons estudos!
Capítulo
Do sedentarismo
ao movimento
1

Sandra Maria do Nascimento Moreira

Introdução
Acreditamos que o movimento está presente em tudo o que existe
em nosso universo. Tudo que há, desde o micro até o macro, é
passível de alguma forma de movimento. Interessante notarmos
que uma árvore que não é flexível pode se quebrar com uma
tempestade; um corpo, quando morto, torna-se rígido, assim como
uma folha, que, quando cai no chão, fica seca e torna-se dura.
Porém, vale observar que a folha quando permanece na árvore
possui maior flexibilidade. Está no início de sua jornada. Flexível,
prepara-se para viver de acordo com seu tempo da melhor
maneira possível.

Da mesma forma, comporta-se também o nosso corpo. Quando


nascemos, estamos cheios de vida, de movimento e de flexibilidade.
Com o passar do tempo, vamos percebendo que nossa flexibilidade
vai se modificando e têm início os processos que podem “quebrar”
nosso equilíbrio corporal. Quando o movimento é impedido de
acontecer por qualquer motivo em nosso corpo, surgem as
doenças das mais diversas formas possíveis de acordo como a
história que cada um tem. Fazendo uma analogia e pensando
na visão micro, quando as paredes das artérias estão rígidas,
aumenta-se a pressão arterial; quando as articulações não
deslizam da maneira como devem por falta de movimento,
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surgem as artroses, tendinites, bursites; quando um músculo


está encurtado surgem os desvios posturais e outros malefícios
mais. Voltando para a visão macro, da mesma forma também
podemos perceber como a falta de movimento pode representar
vários tipos de doenças como artroses, bursites, hérnias de disco,
síndromes do pânico e depressões. Observamos, na maioria das
vezes, que tais doenças, estão sempre associadas à falta de
movimento, sendo algo comum entre elas, ou seja, algo que possa
ter contribuído direta ou indiretamente para o surgimento delas.

Para Tahara, Schwartz e Silva (2003), as pessoas estão se


tornando cada vez mais sedentárias, ou seja , insuficientemente
ativas. A prática do exercício físico de maneira regular, por parte
deste grupo de pessoas, realizada de maneira sistemática, vem a
ser uma das melhores formas para combater o aparecimento de
doenças diversas e ainda promover saúde e bem-estar de maneira
geral.

De acordo com o Colégio Americano de Medicina do Esporte


(ACSM, 2007), para que o ser humano não seja considerado
sedentário, ele deveria ter uma prática de atividades físicas
superior a 150 minutos por semana, o que, de acordo com o que
observamos, parece não ser uma realidade presente no cotidiano
das pessoas.

O sedentarismo mata 3,2 milhões de pessoas por ano no planeta,


sendo considerado a quarta causa de mortalidade no mundo pela
Organização Mundial da Saúde (OMS). Alguns dados revelam que
apenas 53% dos latino-americanos fazem exercícios ao menos
uma vez na semana (INTERNATIONAL, 2013).
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Diante de tais dizeres, defendemos a ideia de que se torna essencial


aos seres humanos a prática constante de exercícios físicos.

A expressão exercício físico, de acordo com Moraes (2007), é


uma prática física planejada sistematicamente, estruturada e
repetitiva, a qual tem por objetivo aumentar o ganho fisiológico e
a expansão da massa muscular para manter a saúde e também
ampliar e conservar a aptidão física dos indivíduos em alto grau
de desempenho. Observe que a expressão exercício físico é
diferente da expressão atividade física, pois esta, por sua vez, não
possui tal sistematização, caracterizando-se apenas por qualquer
movimento que o indivíduo realiza, fazendo-o sair de seu estado
de homeostase.

Diante do que expomos, entendemos que um estilo de vida sedentária,


de acordo com a Associação (2002), é considerado como um estado
desfavorável para o bem-estar geral do indivíduo, representando
um alto risco para sua saúde. Isso não acontece frequentemente
com aqueles indivíduos que possuem o hábito da prática regular
do exercício já que a ocorrência de doenças consideradas crônicas
nestas pessoas, por exemplo, é bem menor. Isto devido aos
diversos benefícos fisiológicos e psicológicos que o exercício físico
proporciona.

Objetivos
Ao término do estudo deste capítulo, esperamos que você seja
capaz de:

• explicar a origem do movimento corporal;


• demonstrar a importância do movimento corporal;
• explicar o que é o sedentarismo;
• explicar a diferença entre atividade física e exercício físico.
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Esquema
1.1 O que é movimento humano?
1.2 Importância do movimento humano
1.3 Sedentarismo
1.3.1 Causas e consequências do sedentarismo
1.4 A diferença entre atividade física e exercício físico
1.5 A ginástica enquanto conteúdo da Educação Física
1.6 Considerações finais

1.1 O que é movimento humano?

A maneira pela qual o ser humano se movimenta em seu meio ambiente


vem a ser um dos fenômenos mais complexos que podemos observar. Do
ponto de vista puramente mecânico, o movimento humano pode ser visto
como uma mudança de posição ou dos segmentos corporais no espaço
e no tempo por meio da aplicação de vários graus de força. Podemos
dizer que a linguagem do corpo expressa-se por meio do movimento. Tal
expressão se dá através de nossas vontades e sentimentos.

É importante salientar que, para o desenvolvimento da aprendizagem


humana como um todo, o movimento torna-se um requisito essencial e
fundamental. O movimento é o ingrediente básico de todo o ser vivo, ou
seja, um dos primeiros sinais de vida que é detectado logo no estágio
embrionário do desenvolvimento no útero materno.

Desde criança, o ser humano, necessariamente, precisa ser estimulado


de inúmeras formas com brincadeiras, jogos e diversos objetos das
mais variadas maneiras possíveis, texturas e tamanhos diferenciados.
Tais ações contribuem significativamente para o desenvolvimento
das habilidades motoras básicas,como correr saltar, equilibrar, rolar,
arremessar, receber, chutar, rebater e quicar.
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RELEMBRANDO

O homem, desde o período pré-histórico, era necessariamente nômade e


procurava alimento para sua sobrevivência. Uma vez não tendo mais este
alimento, neste determinado local, ele se via forçado a se mudar para outro
local, pois, do contrário, poderia morrer de fome. Observe a Figura 1:

Figura 1: Evolução biológica da espécie humana.


Fonte: Depositphotos. Acervo Uniube.

Nesse período, imaginamos que o homem apresentava um bom condicionamento


físico geral, uma vez que, devido às condições em que vivia, era obrigado a
fazer longas caminhadas e corridas. Possivelmente, também era bom velocista,
pois ser mais rápido do que um animal era de suma importância para manter
a sua vida. Com o passar do tempo, o homem deixou de ser nômade e,
consequentemente, essa prática corporal diminuiu.

O homem, devido a todos processos evolutivos de sua espécie, tornou-


se um ser capaz de se adaptar às mais diversas e inusitadas situações
de busca de sua sobrevivência.

Um dos fatores principais que possibilita ao homem se movimentar das


mais diversas formas possíveis é a característica de se movimentar no
seu meio ambiente sobre duas pernas e com as duas mãos livres poder
manipular objetos e materiais de seu mundo. Ele tornou-se um modelador
de instrumentos, um manipulador de seu meio ambiente, um explorador
e um criador!
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1.2 Importância do movimento humano

Sabemos bem que a Educação Física faz parte do processo educativo


de cada pessoa, voltada para o movimento corporal, a qual tem como um
de seus objetivos alcançar um fortalecimento nas capacidades físicas,
cognitivas e afetivas do indivíduo, durante suas diferentes fases da vida.

Desde a evolução dos seres humanos, o movimento sempre fez parte


do nosso estilo de vida.Tomemos por exemplo a idade da pedra em que
éramos uma presa ou um predador, o que significa que, para sobreviver,
tínhamos que caçar. Não havia açougues ou lojas de varejo, o homem
tinha que sair e procurar comida. Isso envolvia muito movimento. Casos
de obesidade, que são excessivos nos dias de hoje, eram desconhecidos
na época. Isso porque, com todo esse movimento e exercício, o homem
conseguiu manter certa aptidão física (Figura 2).

Figura 2: Crianças se movimentando.


Fonte: Depositphotos. Acervo Uniube.

Estudos sobre o corpo e o movimento mostraram que as pessoas que


passam a maior parte do dia sentadas, seja no trabalho ou em casa,
enfrentam o risco de:
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• ter um baixo metabolismo;


• aumento das chances de dor nas costas;
• uma queda nos níveis de colesterol saudável;
• doenças cardiovasculares associadas à obesidade;
• danos nos órgãos e cerebrais;
• problemas de postura (Figura 3);
• degeneração muscular;
• distúrbios nas pernas, como veias viscosas e ossos fracos.

Figura 3: Problemas de postura.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

Diante de tais afirmações, salientamos importantes aspectos, os quais


ilustram muito bem os benefícios do movimento para o corpo humano:

• Aumento da força do corpo – a força do corpo é medida pela


quantidade de carga que pode ser realizada. A única maneira de seu
corpo desenvolver força é por meio do movimento dos músculos.
A fim de aumentar a força muscular, temos que envolver nossos
músculos por meio de exercícios como correr (correr), levantar
pesos e yoga.
• Prevenção de insônia – se ficarmos em frente à TV diarimente por
muita horas sem intervalo para, ao menos, uma breve caminhada,
ou navegando na internet por longos períodos, isso fará com que,
consequentemente, fiquemos cada vez mais inativos. Inatividade
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e sono, ironicamente não caminham juntos e isto pode nos levar


a sentir algum tipo de dificuldade para encontrar o sono à noite.
Exercícios como o yoga, entre outros, podem reduzir os níveis
de ansiedade, o que significa que somos capazes, por meio da
realização de movimentos, de encontrar o sono mais rápido e por
períodos mais longos.
• Melhora do humor – quando nosso corpo está em movimento, as
endorfinas (os neurotransmissores do bem-estar) são liberadas. Isso
significa que o exercício pode ajudar muito a melhorar nosso humor.

Vale a pena destacar também outros benefícios do movimento para o


corpo humano:

• peso corporal saudável;


• metabolismo melhorado (digestão);
• prevenção de doença;
• imunidade forte do corpo;
• aumento na densidade óssea;
• saúde cardiovascular;
• redução de estresse;
• manejo da dor;
• reabilitação corporal.

EXPLICANDO MELHOR

O corpo precisa se mover, seja como parte de um estilo de vida ativo ou de


um programa de exercícios estruturado. O movimento está ligado a todas as
funções e processos do corpo (como carregar um pacote ou levantar pesos)
para aumentar a força muscular e a densidade óssea.

O movimento é essencial para todos os aspectos da saúde. Em um nível


muito básico, os seres humanos são simplesmente energia em movimento.
É difícil separar a diferença entre mover e viver. Quanto mais sedentária for
a sua vida, mais importante é mover-se intencionalmente.
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DICAS

Qualquer parte do corpo que não seja usada em bases frequentes perderá
parte de sua função. Se houver uma falta de movimento, uma pessoa
tipicamente experimentará movimentos que se tornam mais deliberados,
difíceis, mais rígidos, mais pesados, mais fracos, ou movimento que é
acompanhado pela dor e desconforto. Você precisa se mover continuamente
para manter a capacidade de se mover!!!

1.3 Sedentarismo

Hoje, muitas pessoas levam estilos de vida sedentários. Com as invenções e


o "progresso industrial", a maioria das pessoas podem viver sem "levantar
um dedo" ou "sair da cadeira". Fato preocupante, uma vez que muitas
pessoas parecem ainda não ter a percepção do quão tal comportamento
é prejudicial para suas vidas em vários âmbitos, principalmente no
combate às doenças.

Defende-se que o tempo mínimo de prática de atividade física (Figura 4)


que o indivíduo deve realizar gira em torno de, no mínimo, 150 minutos
semanais de atividades aeróbias, lembrando que estas atividades devem
ter uma intensidade de moderada a vigorosa, para que o indivíduo não
seja considerado sedentário, de acordo com OMS (2010).

Figura 4: Atividades físicas.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.
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Vale destacar que não é somente a ausência da prática do exercício


físico regular que está associada à presença do sedentarismo, este é
apenas um dos fatores, qualquer outra atividade que o indivíduo faça e
que não aumente significativamente o seu gasto de energia em relação
às suas outras atividades diária pode ser considerada.

Para Tahara, Schwartz e Silva (2003), cada vez mais pessoas no mundo
todo estão tendo uma vida sedentária; sendo esse grupo o que mais
ganha com a prática de exercícios físicos de maneira regular, seja como
forma de prevenção de doenças, promoção de saúde e sensação de
bem-estar geral.

O número de pessoas com peso excessivo (Figura 5) está se tornando


cada vez mais presente na sociedade, de acordo com estudos realizados
por Silveira (2000). Tal situação, segundo o autor, está atrelada a três
fatores: o consumo calórico elevado, a inatividade e, consequentemente,
a obesidade. Isto vale tanto para crianças como para adultos.

Figura 5: Gordura abdominal.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

O avanço da tecnologia, consequentemente, ocasiona um maior conforto


para o ser humano. Muitas vezes preferimos realizar nossas atividades
cotidianas de forma com que nosso corpo faça menos esforço. Em
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determinadas situações, por exemplo, quando sentimos fome, preferimos


consumir algum alimento já processado industrialmente a nós mesmos
o prepararmos para nosso consumo diário. Preferimos, ainda, em
outras situações, utilizar a internet para encomendar um fast-food em
vez de irmos até o local e assim consumir aquele alimento desejado no
momento. Isso, consequentemente, contribui para que nos tornemos
cada vez mais sedentários.

Existem alguns fatores que podem exercer influência direta na qualidade


de vida das pessoas, como exemplo temos moradia, transporte, segurança,
assistência médica, trabalho, remuneração, meio ambiente, saúde,
entre outros. Estes são considerados, por Nahas (2003), como fatores
socioambientais. Os fatores de hereditariedade e de estilo de vida, como
hábitos alimentares, controle do stress, atividade física, relacionamento e
comportamento, são considerados, pelo autor, como individuais.

Percebe-se que são vários os elementos que podem refletir direta ou


indiretamente na qualidade de vida das pessoas, para uns mais e para
outros menos. Isto irá depender das condições gerais de vida de cada um
no que se relaciona aos aspectos básicos sociais para se viver e também
aos aspectos individuais como já mencionado.

PARADA PARA REFLEXÃO

O sedentarismo mata 3,2 milhões de pessoas por ano no planeta, sendo


considerado a quarta causa de mortalidade no mundo pela Organização Mundial
da Saúde (OMS). Alguns dados revelam que apenas 53% dos latino-americanos
fazem exercícios ao menos uma vez na semana (INTERNATIONAL, 1990).

Quanto mais o estilo de vida dos seres humanos se aproxima de uma


condição sedentária, maiores são os riscos de aparecimento de doenças
que podem fazer com este indivíduo tenha sua saúde e qualidade de vida,
em aspectos gerais, comprometidas.
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1.3.1 Causas e consequências do sedentarismo

O estilo de vida sedentário tem proporcionado à sociedade, como um


todo, o aparecimento de inúmeras doenças, entre as quais, de acordo
com as investigações de Nahas (2003), destacam-se a hipertensão, a
obesidade, o diabetes, o câncer e as doenças cardiovasculares. Para o
autor, a alimentação inadequada, o stress elevado e a inatividade física
exercem papel crucial para o agravamento deste quadro (Figura 6).

Figura 6: Inatividade física.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

Nos dias atuais, infelizmente podemos observar que as pessoas nem


sempre possuem um hábito alimentar saudável. Talvez por não darem
atenção à importância de atentar ao fato de que os alimentos quanto
menos industrializados forem e quanto mais naturais, melhor será para
o sustento de sua saúde e melhoria de seus níveis de qualidade de vida
em termos gerais.
Doença cardíaca, acidente vascular cerebral, câncer,
doenças respiratórias, hipertensão e diabetes são a
principal causa de mortalidade no mundo, representando
60% das mortes (WHO, 2010 apud MOREIRA, 2014, p.15).

Além disto, o acúmulo de gordura no organismo do indivíduo também


pode fazer com que este seja acometido, posteriormente, em sua vida por
uma série de disfunções crônicas e degenerativas. Tais consequências
podem certamente diminuir, consideravelmente, sua expectativa de vida.
UNIUBE 13

Considerada como o acúmulo em excesso de gordura no tecido adiposo,


em todo corpo ou regionalizado, desencadeada por uma série de fatores
associados aos aspectos ambientais ou endócrino-metabólicos, a obesidade
(Figura 7) é classificada como uma desordem de alta ingestão energética, e
sua consequência tem sido apresentada mais pelo baixo gasto energético
(GUEDES e GUEDES, 2003; CIOLAC e GUIMARÃES, 2004).

Figura 7: Homem obeso.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

As doenças podem constituir um fator de risco primário para a coronariopatia


(Figura 8) como podem influenciar outros fatores de risco ou ser a
influência para outros fatores de risco, como a hipertensão, a diabetes,
menor concentração plasmática de colesterol de alta densidade (HDL) e
hipercolesterolemia (POLLOCK e WILMORE, 1993).

Coronariopatia

Doença das
artérias coronárias
caracterizada
pelo depósito de
gorduras nas artérias
coronárias e que
restringe o fluxo
sanguíneo.

Hipercolesterolemia

Aumento da
concentração de
colesterol no sangue.
Figura 8: Atenção ao cuidado do coração.
Fonte: Depositphotos – Acervo Uniube.
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Como já mencionamos, o acúmulo de gordura em excesso é muito


prejudicial para o corpo humano e isto também pode deixá-lo muito mais
lento para o desenvolvimento de tarefas do dia a dia, além de causar
diversas disfunções em seu funcionamento. Vale ressaltar que, para além
dos diversos danos físicos que o indivíduo pode sofrer, este também
poderá ter sua autoestima reduzida devido aos padrões de corpos que
a indústria da estética tenta fazer valer como ponto indispensável para
que o indivíduo seja aceito em seu meio social.

SAIBA MAIS

Para saber mais acerca dessa temática, leia o texto a seguir, extraído da
dissertação Chekout na Academia: razões e possibilidades, de Moreira (2014).
Um estilo de vida sedentário pode ser danoso para
o indivíduo e potencialmente dispendioso para a
sociedade (INTERNATIONAL, 1990).
Nos últimos 50 anos, foi realizada uma revisão de
literatura a qual conclui que o sedentarismo pode
resultar em inúmeros problemas que posteriormente
podem evoluir para uma morte prematura. Essa
condição pode levar a um estado chamado de
Síndrome da Morte Sedentária (SMSE). Tais estudos
revelaram que a Síndrome da Morte Sedentária
será responsável pela morte de 2,5 milhões de
norte-americanos na próxima década e ainda
custará 2,3 trilhões de dólares para eles na próxima
década.
Nos Estados Unidos, a inatividade física gerou
um aumento das doenças crônicas. Os casos de
diabetes tipo dois aumentam nove vezes desde
1958 e o de obesidade dobrou desde 1980, enquanto
as cardiopatias continuam sendo a primeira causa
de morte. (McARDLHE, 2003, p. 900).
São 23 (vinte e três) as condições que estão
relacionadas à SMSE, sendo que, destas,destacamos
as seguintes: níveis séricos altos de triglicerídeos,
colesterol e glicose, diabetes tipo dois, hipertensão,
isquemia miocárdica, arritmias, insuficiência cardíaca
UNIUBE 15

congestiva, obesidade, depressão respiratória, dor


crônica nas costas, lesão medular, acidente vascular
cerebral, enfermidades debilitantes e quedas que
resultam em fraturas.
Katzmarzyk e Janssen (2004), em estudos
epidemiológicos, nos mostram que a ausência
de exercício físico (sedentarismo) aumenta
consideravelmente a incidência de doença arterial
coronariana (45%), infarto agudo do miocárdio
(60%), hipertensão arterial (30%), câncer de cólon
(41%), câncer de mama (31%), diabetes do tipo II
(50%) e osteoporose (59%).
Além destes, Alssen (2001) mostra que o aumento
da resistência aeróbia contribui para o desempenho
de tarefas específicas assim como melhora
a capacidade funcional do sistema circulatório e
respiratório, da força e flexibilidade de músculos e
articulações.
Também há registros de redução de riscos de lesões
na região lombar, desenvolvimento da força do
sistema esquelético, controle de peso e redução
da gordura corporal, alívio do estresse e tensão e
desenvolvimento das capacidades físicas.
Torna-se perceptível o quanto é importante adotar
um estilo de vida ativo o qual ajude o indivíduo a
controlar e até mesmo diminuir os vários fatores de
risco de maneira geral, ao qual este possa vir a ser
acometido, impedindo-o de levar uma vida saudável.
Levando em consideração a função cognitiva dos
indivíduos, Van Boxtel (1997) aponta que a ação do
exercício físico sobre esta pode ser direta ou indireta.
Os mecanismos que agem diretamente aumentando
a velocidade do processamento cognitivo melhoram
a circulação cerebral e a alteração na síntese e
degradação de neurotransmissores. Além dos
mecanismos diretos, outros, tais como diminuição da
pressão arterial, decréscimo dos níveis de Low Density
Lipoproteins (LDL) e triglicérides no plasma sanguíneo
e inibição da agregação plaquetária, parecem agir
indiretamente, melhorando essas funções e também a
capacidade funcional geral, refletindo, desta maneira,
no aumento da qualidade de vida.
16 UNIUBE

Segundo dados epidemiológicos, pessoas


moderadamente ativas possuem um risco menor de
serem acometidas por desordens mentais quando
comparadas com pessoas sedentárias, evidenciando
que a inserção em programas de exercícios
promove muitos benefícios nos aspectos físicos e
psicológicos e ainda que, provavelmente, possuam um
processamento cognitivo mais rápido.
Scully (1998) aponta os efeitos positivos do exercício
sobre os níveis de ansiedade e depressão, diminuindo-
os e melhorando a autoestima, o autoconceito e
também a imagem corporal.
Há de se levar em consideração que existe a possibilidade
de os indivíduos, ao terem melhorados os aspectos
anteriormente citados, consequentemente consigam
se sentir mais encorajados a ter uma vida social mais
ativa e saudável. (MOREIRA, 2014, p. 22-24).

Outra consequência do sedentarismo vem a ser o aumento da pressão


arterial do indivíduo, ou seja, a hipertensão. A hipertensão é uma das
doenças com maior prevalência mundial, caracterizando-se pelo aumento
da pressão arterial, sendo suas causas atribuídas a questões hereditárias
e, principalmente, ao estilo de vida negativo, como o sedentarismo, o
alcoolismo, o estresse, o fumo, entre outros (NAHAS, 2003).

A pressão arterial pode ser aferida com esfigmomanômetro ou tensiômetro,


podendo ser identificada uma hipertensão, mediante a verificação da pressão
arterial. De qualquer forma, é importante realizar múltiplas determinações da
pressão sanguínea, devendo ser da máxima importância a seleção adequada
do manguito de pressão. Frequentemente são verificados casos de indivíduos
erroneamente diagnosticados como hipertensos, com base apenas numa
única tomada da pressão arterial, ou ainda que foram examinados com um
esfigmomanômetro cujo manguito, especificamente para esses indivíduos,
era muito curto ou muito estreito (POLLOCK e WILMORE, 1993).
UNIUBE 17

PONTO-CHAVE

As consequências de um estilo de vida sedentário, além de alimentação


inadequada, de tabagismo, de consumo excessivo de álcool e de stress,
têm contribuído para o aparecimento de doenças crônicas degenerativas,
além de a falta de atividade física ser considerada um fator primário, porém
modificável, para doença coronariana (ACSM, 2007).

Observe a Figura 9:

Figura 9: Estilo de vida ativo e positivo.


Fonte: Depositphotos. Acervo Uniube.

Vale ressaltar que é provável que mudanças no comportamento dos indivíduos,


alterando-o para um estilo de vida positivo e ativo (Figura 2), reduzam e até
evitem os riscos de doenças crônicas degenerativas e, consequentemente,
promovam cada vez mais benefícios para a saúde dos seres humanos.

PARADA OBRIGATÓRIA

A prática constante de exercícios físicos, bem como a adoção de um estilo


de vida ativo, proporciona ao organismo humano uma série de adaptações
desejáveis a nível metabólico, cardiorrespiratório e músculo-o ósteoarticular
que promovem benefícios ao bom funcionamento geral dos sistemas
orgânicos, proporcionando saúde e, por consequência, melhorando a
qualidade de vida (SILVEIRA NETTO, 2000; PRADO e DANTAS, 2002;
NAHAS, 2003; GUEDES e GONÇALVES, 2007; ACSM, 2007).
18 UNIUBE

1.4 A diferença entre a atividade física e exercício físico

Para darmos início a esse item, é importante que tenhamos bem definida
em nossas mentes a diferença que existe entre exercício físico e atividade
física uma vez que estes dois termos podem parecer a mesma coisa
quando, na verdade, não o são.

Exercício físico Atividade física

Atividade física é toda ação realizada pelo indivíduo que o leva a


produzir e gastar determinada energia para movimentar a musculatura.
Como exemplo, podemos citar o indivíduo que está simplesmente
assistindo a um programa de televisão assentado e, em determinado
momento, levanta-se para tomar um copo com água. O fato deste
indivíduo ter se levantado com o fim de ir pegar o copo com água já
caracteriza um tipo de atividade física. Quando o indivíduo realiza algum
tipo de afazer doméstico, como varrer o chão ou passar uma peça de
roupa, isso também se caracteriza como uma atividade física.

Já o exercício físico se dá quando o indivíduo realiza algum tipo de


atividade física (Figura 10) que seja programada, sistematizada e organizada
por um profissional de Educação Física, com o fim de se atingir um
objetivo previamente determinado.

Figura 10: Formas de exercícios físicos.


Fonte: Acervo Uniube.
UNIUBE 19

Quando tem-se, por exemplo, o objetivo de aumentar a porcentagem de


massa magra (músculo) no corpo, faz-se necessário o indivíduo procurar
um profissional de Educação Física, para que este elabore um plano de
ação para se atingir o objetivo almejado. Esta pessoa, então, terá os dias
e horários certos para se exercitar, a sequência correta de exercícios para
seguir, o ritmo correto para sua execução, o tempo limite para se trocar
o treino passado, bem como a orientação da postura correta para o feitio
dos exercícios, entre outros fatores a serem observados, o que irá variar
de acordo com a finalidade de cada tipo de treino.

O corpo humano é projetado para estar em movimento. Em palavras


simples, a atividade física refere-se ao desempenho de todas aquelas
tarefas em que o corpo usa energia, como caminhar, fazer jardinagem,
fazer o supermercado, subir escadas, praticar esportes ou dançar a noite
toda. O simples ato de se movimentar e fazer coisas simples, como
fazer compras ou caminhar casualmente, não é suficiente para efeitos
saudáveis, pois isso não aumenta a frequência cardíaca. Muitas vezes
este conceito é confundido com o do exercício físico, mas devemos
notar uma diferença no fato de que este último termo é baseado em uma
atividade física que segue um planejamento ou uma abordagem para
melhorar uma parte do nosso corpo e fortalecer nossas condições físicas.

De acordo com Moraes (2007), exercício físico é uma atividade física


planejada sistematicamente, estruturada e repetitiva, a qual tem por
objetivo aumentar o ganho fisiológico e a expansão da massa muscular
para manter a saúde e também ampliar e conservar a aptidão física dos
indivíduos em alto grau de desempenho.

Corroborando a ideia de Guedes (1998, p. 178), é “toda atividade física


planejada, estruturada e repetitiva que tem por objetivo a melhoria e a
manutenção de um ou mais componentes da aptidão física”.
20 UNIUBE

Para beneficiar a saúde, o exercício físico deve ser realizado com uma
intensidade que vai de moderada a vigorosa. Ao realizar exercícios
vigorosos, podemos obter melhores resultados na metade do tempo
que levaria para fazê-los com um desempenho moderado.

Diversas pessoas das mais variadas idades e classes sociais são


motivadas a iniciarem um programa de exercício físico devido aos vários
benefícios que estas podem vir a desfrutar. Entre eles, o controle do
peso, a redução de estresse e do risco de doenças cardiovasculares, a
elevação da autoestima, da satisfação e da oportunidade de socialização
(WEINBERG, 2001).

A redução de gordura corporal pode ser otimizada de acordo com a


intensidade da realização dos exercícios. Quanto maior é a intensidade,
maior é o gasto de energia obtido da oxidação de nutrientes e,
consequentemente, maior é o consumo de oxigênio. A intensidade de um
exercício é medida por meio do consumo de oxigênio (CARTER, 2002;
DUNCAN, 2003). Por exemplo, exercícios de baixa intensidade, como
uma caminhada, proporcionam um menor consumo de oxigênio que uma
corrida em alta velocidade. Hall (2004) diz que a corrida é mais eficaz do
que a caminhada em relação ao gasto energético, tanto em esteira como
em trilha, e que este gasto independe do gênero. César et al. (2007)
defendem que, em homens jovens e saudáveis, a corrida na velocidade
de 7 km/h proporciona valores de volume de oxigênio máximo (VO2) mais
elevados, produção de dióxido de carbono, frequência cardíaca, pulso de
oxigênio, ventilação pulmonar e maior gasto energético que a caminhada
na mesma velocidade.

O exercício físico quando bem orientado, entre vários outros benefícios,


contribui significativamente para redução da quantidade de indivíduos
considerados obesos. Torrient (2002) fala que a obesidade tem aumentado
de forma alarmante em países mais desenvolvidos e em desenvolvimento
e que constitui o maior problema de uma nutrição insuficiente de um
adulto, além de estar aumentando visivelmente também na população
infantil.
UNIUBE 21

Também, para indivíduos hipertensos, o exercício físico possui


importante papel. Uma metanálise de 54 (cinquenta e quatro) estudos
longitudinais randomizados, controlados, que examinaram o efeito do
exercício físico aeróbio sobre a pressão arterial, demonstrou que essa
modalidade de exercício pode reduzir, em média, 3,8mmHg e 2,6mmHg
a pressão sistólica e diastólica, respectivamente. Cook (1995) acrescenta
que reduções de apenas 2mmHg na pressão diastólica podem diminuir
substancialmente o risco de doenças e mortes associadas à hipertensão,
o que demonstra que a prática de exercício aeróbio representa importante
benefício para a saúde de indivíduos hipertensos (WHELTON, 2002).

Vale salientar ainda que, além do que já fora citado, o exercício físico
colabora para a boa qualidade do sono, fazendo com que as pessoas
tenham uma boa qualidade de vida, diminuindo as chances de acidentes
vasculares cerebrais e aumentando os níveis de produtividade no
trabalho, entre outras consequências (BUCKWORTH, 2002).

EXPLICANDO MELHOR

Os benefícios de realizar exercícios físicos de maneira regular são baseados


nas vantagens que listamos, entre outras:

• menor risco de doença cardiovascular.


• aumento do consumo de calorias até 30 minutos após a conclusão da
atividade;
• redução do apetite (ao contrário do que se pensa);
• uma atividade física, acompanhada por uma dieta com menos caloria,
ajuda a perder gordura corporal em até 98%.

No entanto, esses benefícios podem ser contraproducentes devido a um


excesso de exercício físico em um curto espaço de tempo, causando, de
repente, de repente, causando desgaste físico e celular, bem como uma
maior possibilidade de se contrair doenças, afetando o sistema imunológico.
22 UNIUBE

PARADA OBRIGATÓRIA

Não existe uma quantidade de vezes suficiente de exercício físico, mas,


sim, uma recomendação mínima para se manter a qualidade de vida. As
recomendações do Colégio Americano de Medicina do Esporte – ACSM
sugerem que, para um adulto de 18 a 65 anos de idade se manter saudável,
é necessário realizar, no mínimo, 30 minutos por dia, cinco vezes na semana,
de atividade aeróbica de intensidade moderada (ACSM, 2007).

1.5 A ginástica enquanto conteúdo da Educação Física

A ginástica, como um todo, possui cinco grandes campos de atuação,os


quais são amplamente reconhecidos e utilizados pela sociedade em
geral de acordo com suas realidades e objetivos no que se relaciona à
sua utilização.

Estes cinco campos de atuação dividem-se da seguinte forma:

Ginásticas de Ginásticas de
Ginásticas de
condicionamento conscientização
competição
físico corporal

Ginásticas Ginásticas de
fisioterápicas demonstração

Vejamos cada uma delas a seguir:

• Ginásticas de condicionamento físico – este tipo de ginástica visa


adquirir e manter uma determinada condição física do indivíduo
que esteja de acordo com seus objetivos, sejam eles com fins
competitivos ou não. Ex.: ginásticas de academia, em geral, como
aulas de aeróbica, musculação, aulas de ritmos diversos de danças,
step, bike in door, entre outras modalidades.
UNIUBE 23

• Ginásticas de competição – este tipo de ginástica visa preparar os


indivíduos para, de fato, participarem de competições esportivas,
sejam elas individuais ou em grupo. Ex.: ginástica rítmica, ginástica
artística, entre outras modalidades.
• Ginásticas de conscientização corporal – é um tipo de ginástica que
visa alcançar o equilíbrio físico e mental do indívíduo como um todo.
Ex: yoga, pilates, entre outras.
• Ginásticas fisioterápicas – usam exercícios que possuem o objetivo
de tratar doenças. Ex.: reeducação postural, entre outras.
• Ginástica de demonstração – esta ginástica possui como principal
característica a não competitividade. Possui como objetivo melhorar
o condicionamento físico bem como também promover a interação
entre os pares. Não é indicada para o indivíduo que visa participar
de competições. Ex.: ginástica geral, entre outras.

Observe a Figura 11:

Figura 11: Exercícios ginásticos.


Fonte: Acervo Uniube.
24 UNIUBE

Levamos em conta que a ginástica é considerada como um conteúdo


importante da Educação Física Escolar e que pode contribuir significativamente
para o aperfeiçoamento das habilidades físicas, motoras, cognitivas,
intelectuais, emocionais e sentimentais das pessoas. E, ainda,
entendemos ser essencial a inclusão desta modalidade, de forma
contínua, nas fases iniciais da educação, para que o aluno tenha um
desenvolvimento amplo e significativo que poderá refletir positivamente
em toda a sua vida, visto que a ginástica é uma forma particular de
se exercitar, utilizando ou não aparelhos, proporcionando estímulos ou
vivências corporais, enriquecendo de certa forma a organização corporal
ou cultura corporal do indivíduo (CASTELLANI FILHO et al., 1992).

A ginástica, considera a como uma prática que pode ser desenvolvida


pela maioria das pessoas, promove benefícios a partir das diversidades,
bastando ser desenvolvida (AYOUB,2004 apud RAMOS; BRANDÃO,
2008).

É importante ressaltar que, na infância, com a prática da ginástica no


contexto escolar, a criança desenvolverá novas habilidades motoras, fato
este que, se estiver alicerçado por uma prática sistematizada e propícia para
ela, promoverá ganhos importantíssimos para sua vida. Gallahue,Ozmun e
Goodway (2013) tratam as diversas fases do desenvolvimento humano, como
a fase do movimento reflexo, do movimento rudimentar, ao fundamental
e do especializado. Especificamente em relação à fase do movimento
fundamental, uma outra fase apontada por estes mesmos autores (2013)
mostra que:
[...]representa um tempo em que as crianças mais novas
estão ativamente envolvidas na exploração e experimentação
do potencial de movimento de seus corpos. É um tempo de
descoberta do modo de executar uma série de movimentos
de estabilidade, locomoção e manipulação, primeiramente
isolados e depois em combinação com outros. As crianças
que estão desenvolvendo padrões fundamentais de
movimento aprendem como responder com controle motor e
competência de movimento a uma variedade de estímulos.
(Gallahue,Ozmun e Goodway, 2013, p. 70-71).
UNIUBE 25

O processo de amadurecimento motor é considerado como algo natural


ao ser humano, além dos comportamentos adquiridos por meio de suas
experiências no meio em que vive, de incentivos, de instruções, e outros
fatores influenciadores que são importantes para o desenvolvimento
integral (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Observe a Figura 12:

Figura 12: Formas de exercícios físicos


Fonte: Acervo Uniube.

Importante destacar que a ginástica trabalha com o conceito de linguagem,


que é compreendido a partir dos comportamentos individuais e coletivos,
dos privados e públicos, possibilitando uma maior expressão conceitual das
informações provindas do meio. Há também linguagem corporal apreendida
com a prática da ginástica, possibilitando uma ampliação das expressões
corporais e o desenvolvimento das competências pessoais (LADEIRA;
DARIDO, 2003).

1.6 Considerações finais

Para que o indivíduo possa ter um estilo de vida saudável e ativo,


acreditamos ser fundamental a inclusão da prática do exercício
físico como prática diária em seu cotidiano, além de promover outros
hábitos, como uma boa alimentação, uma vez que também é fator
26 UNIUBE

essencial para o bem-estar geral dos seres humanos. Um estilo de vida


fisicamente mais ativo vem a ser uma mudança significativa para evitar
o aparecimento de muitas doenças. O comportamento contemporâneo
do ser humano tem levado a algumas consequências ruins, como as
doenças crônicas degenerativas associadas à inatividade física e à
alimentação inadequada. Várias outras questões sociais podem interferir
na realização de hábitos saudáveis e na promoção da saúde, por
exemplo, a jornada de trabalho, a falta de tempo, entre outros. Entretanto,
acreditamos que é possível adquirir hábitos saudáveis quando se tem um
planejamento adequado e, também, a implementação de programas por
parte das entidades governamentais e empresas, de incentivo à prática
do exercício físico diário.

As possibilidades de trabalhos e movimentos corporais que a ginástica


propõe são imensuráveis e significativas para a transformação do
indivíduo. Quando bem estruturada, a ginástica pode promover um
desenvolvimento dos domínios do indivíduo, assim como a melhoria da
linguagem corporal e expressiva. Assim, o andar, o correr, o saltar, o girar,
o rolar, o rastejar, o trepar, o arremessar, etc., quando propostos de forma
organizada e pedagógica dentro de uma educação física, promoverão
consequentemente uma diversificação das práticas, levando o aluno a
compreendê-los para além do esporte.

A ginástica vai para além daqueles movimentos mecanizados, rígidos e


perfeitos dos atletas; a ginástica é capaz de promover a transformação
das pessoas, fazendo com que elas se tornem cada vez mais sensíveis
e humanas.

Resumo
Neste capítulo vimos que o movimento é o ingrediente básico de todo o
ser vivo, ou seja , um dos primeiros sinais de vida que é detectado logo
no estágio embrionário do desenvolvimento no útero materno.
UNIUBE 27

Diante dos vários fatores responsáveis pelo aparecimento de diversas


doenças em nosso meio, o estilo de vida sedentário tem sido identificado
como condição indesejável, representando um risco para a saúde.
Concomitantemente, muitos estudos observacionais apontam que
os indivíduos fisicamente aptos e/ou treinados apresentam menor
incidência da maioria das doenças crônicas por causa da prática
regular de exercícios físicos, bem como devido à existência de diversos
benefícios fisiológicos, sociais e psicológicos advindos dessas atividades.
(ASSOCIAÇÃO, 2002).

Prováveis mudanças no comportamento dos indivíduos que os levem


a adotar um estilo de vida positivo e ativo podem reduzir e até evitar o
risco de doenças crônicas degenerativas e, consequentemente, promover
cada vez mais benefícios para a saúde dos seres humanos.

Neste capítulo, vimos que há diferença entre atividade física e exercício


físico. Atividade física é toda a movimentação produzida pela musculatura
esquelética com gasto expandido de energia, como as atividades
domésticas, laborais e de lazer, exercícios e esportes. Já o exercício
físico é uma atividade física sistematizada e previamente periodizada que
o indivíduo realiza a partir da orientação de um profissional qualificado
para tal, a qual, visa, entre outros benefícios, à melhoria das capacidades
físicas do indivíduo, por exemplo, a força, a resistência aeróbia e a
flexibilidade (MATTOS, 2000).

A ginástica é considerada como um conteúdo importante da Educação Física


Escolar e que pode contribuir significativamente para o aperfeiçoamento
das habilidades físicas, motoras, cognitivas, intelectuais, emocionais,
sentimentais do indivíduo (CASTELLANI FILHO et. al., 1992).

É importante ressaltarmos que, diante de tantos benefícios que a ginástica


é capaz de proporcionar para melhoria de nossa qualidade de vida, o
profissional de Educação Física precisa estar sempre atento às necessidades
28 UNIUBE

individuais de cada pessoa, uma vez que cada ser humano possui um
histórico de vida ímpar, o qual dever ser levado em consideração antes
de se iniciar qualquer tipo de trabalho, seja este, na escola, na academia,
nas praças, condomínios e lugares afins, e, mais importante que isto, é
necessário que o olhar do professor de Educação Física para o outro seja
sempre um olhar sensível, humano e atento aos princípios que regem o
código de ética desta nobre e encantadora profissão.

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Capítulo A ginástica de ontem
2

Regina Simões

Introdução
A área da Educação Física abrange diversas formas de manifestações
corporais criadas pelo ser humano ao longo dos anos. Essas
manifestações são definidas como esporte, dança, lutas, brincadeiras,
atividades rítmicas e expressivas, capoeira, ginástica, entre outras.
Este rol de ações corporais é identificado por diferentes autores como
cultura corporal de movimento, cultura corporal, cultura de movimento,
conhecimentos ou conteúdos históricos da área da Educação Física.

Coll et al. (2000) salientam que, quando se opta por utilizar o termo
conteúdo, é preciso compreender que esta percepção está além do
conhecer ou saber, pois está associada a explicações, raciocínios,
habilidades, linguagens, valores, crenças, sentimentos, atitudes,
modelos de conduta que, interligados, propiciam a assimilação e
a aplicação pelos alunos em sua prática de vida.

Assim, neste material, seguimos as orientações de Darido e Souza


Junior (2007) ao afirmarem ser necessário considerar vários aspectos,
como os conceitos, as ideias, os princípios, as habilidades, os valores,
as atitudes e as influências, quando se referir a conteúdo.
32 UNIUBE

Os mesmos autores ainda destacam que é preciso ampliar o


conceito de conteúdo, considerando outras capacidades para além
das cognitivas, e consequentemente almejar, na ação profissional,
atingir os objetivos educacionais a partir das seguintes dimensões:
conceitual (o que se deve saber); procedimental (o que deve fazer)
e atitudinal (como deve ser).

Estas dimensões não surgem na ação profissional de forma


isolada, mas interligadas, apesar de, em alguns momentos, ocorrer
maior ênfase em determinada dimensão.

Seja na escola, na academia, nos projetos sociais, nos hospitais,


nas unidades básicas de saúde ou em outros espaços de atuação
profissional, é a partir destes conteúdos que a Educação Física se
estrutura como área de conhecimento.

Vale destacar que, ao longo dos tempos, a Educação Física


quase que exclusivamente se preocupou em saber fazer, ou
seja, priorizou a dimensão procedimental, em que o domínio do
gesto técnico e o desenvolvimento das capacidades físicas eram
suficientes para se ter uma formação acadêmica. Hoje, isto não
basta, é preciso superar essa visão reducionista e incorporar as
outras dimensões, como as atitudinais e as conceituais.

Com este pano de fundo é que tratamos, neste e nos próximos


dois capítulos, da ginástica, considerando sua origem até os dias
atuais, destacando como ocorreu sua evolução ao longo dos tempos,
as principais influências até o aparecimento das escolas ginásticas,
o contexto contemporâneo e suas ramificações e especificações.
UNIUBE 33

A ginástica possui diversos significados e vem se ressignificando


ao longo dos tempos, pois, inicialmente, surge como forma de
sobrevivência, depois como força de trabalho e como substrato
para a defesa da pátria, em seguida como higienização da
população e mais recentemente como forma de aquisição e
manutenção da qualidade de vida.

Podemos afirmar, com base em Figueiredo e Hunger (2010), que


a(s) ginástica(s), mesmo que configurada(s) na contemporaneidade,
não é(são) invenção(ões) do presente. A estrutura tanto de conceitos
como de práticas está no passado, que foi sendo modificado de
acordo com as necessidades de cada cultura, de cada época e
dos interesses dos povos.

A compreensão deste contexto é importante, uma vez que é a


partir da ginástica que a área da Educação Física se estruturou,
pois somente após o aparecimento das escolas ginásticas é que
há registros da cisão entre ginástica e Educação Física.

Ratificamos que a ginástica apresenta um caráter histórico e


cultural dotado de valores e crenças que se transformaram ao
longo das épocas. Compreender sua consolidação permite uma
melhor compreensão de como ela é vista no presente (pois
resquícios de conceitos passados ainda podem estar presentes)
e permite-nos pensarmos melhor em sua transformação no futuro.
Além disso, Públio (2002, p. 21) acrescenta que:
Os termos “Ginástica”, “Esportes” e “Educação
Física” se confundem muito frequentemente
na linguagem de diversos filósofos, linguistas
e pedagogos. A natureza incita o homem ao
movimento, portanto, ao domínio de seu corpo,
o que leva e o conduz à ginástica natural. Por isso
ninguém se espanta com as origens longínquas
e universais mencionadas pelos historiadores.
34 UNIUBE

Como se vê, a nomenclatura acaba por confundir a compreensão


tanto da área da Educação Física como da própria ginástica.
No entanto, o que deve ser considerado é a essencialidade do
movimento, que é intrínseco ao ser humano.

Objetivos
Esperamos que, ao término dos estudos deste capítulo, você seja
capaz de:

• explicar a concepção de ginástica;


• demonstrar a evolução da ginástica ao longo dos tempos por
meio de um resgate às origens do exercício físico;
• explicar a evolução, da pré-história ao renascimento, desta
manifestação de acordo com as diferentes culturas e sociedades.

Esquema
2.1 Conceito da ginástica
2.2 Ginástica no contexto histórico, desde a pré-história até o
renascimento.
2.2.1 Onde tudo começou?
2.2.2 A época da escuridão do corpo
2.2.3 O renascer do movimento corporal
2.3 Considerações finais

2.1 O que é ginástica?

No Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA, 2010), a


palavra ginástica significa a arte ou o ato de exercitar o corpo para
fortificá-lo e dar-lhe agilidade. De origem grega, gymnikos, e francesa,
Gymnastique, a ginástica tem relações com o conjunto de exercícios
corporais sistematizados, realizados no solo ou com auxílio de aparelhos
e aplicados com objetivos educativos, competitivos, terapêuticos, com
o propósito de desenvolver a força, a flexibilidade, a resistência, a
velocidade, o equilíbrio e a coordenação.
UNIUBE 35

CURIOSIDADE

É considerado ginasta quem pratica a ginástica ou quem nela é hábil.


Para a prática da ginástica, principalmente no passado, o corpo deveria
ser belo, forte e veloz, tanto que os exercícios eram demonstrados a
corpo nu banhado de óleo (nu, do grego gymnos), ou seja, sem togas ou
trajes cotidianos, somente por homens, uma vez que as mulheres eram
proibidas de participar e/ou adentrar nos estádios onde ocorriam os jogos e
festividades (KONIG, 2003).

Ginástica é um dos conteúdos da Educação Física constituído de


exercícios físicos metodologicamente organizados com objetivos formativos,
preventivos, corretivos, compensatórios, estéticos e rítmicos, atendendo
o ser humano em sua totalidade com ou sem o uso de aparelhos
(LANGLADE; LANGLADE, 1970; SOARES et al., 1992; SOUZA, 1997).

formativos preventivos

estéticos e
corretivos
rítmicos

compensatórios

Para Nunomura e Tsukamoto (2009, p. 15), a ginástica tem por objetivo


"[...] promover a consciência corporal e a eficiência no controle e no
domínio do corpo, tanto para situações do cotidiano como para atividades
físicas e esportivas, danças, jogos, entre outras práticas corporais.”
36 UNIUBE

Saba (2001) diz que a ginástica é um conjunto de exercícios ritmados


e sistematizados por meio de movimentos repetidos para que sejam
atingidos os ideais propostos.

Porém, devido à grande abrangência da ginástica, é complicado estabelecer


um único conceito, como também não é possível desconsiderar que, no
decorrer dos tempos, ela tem sido direcionada conforme os objetivos
estabelecidos pelo momento histórico, ora servindo para a ordem militar e
cívica, ora com fins estéticos, ora para a formação da criança, entre outros.

No entanto, é consenso entre os estudiosos da área da ginástica que do


ponto de vista do praticante, independentemente do tipo, ela contribui
para formação do ser humano em todos os âmbitos.

2.2 Ginástica no contexto histórico

Nem todos os alunos gostam de estudar História, pois no mundo em que


os meios de comunicação acentuam a presentificação do tempo, em que
o “aqui” e “agora” parecem ocupar todas as atenções e esforços e onde
as respostas a diferentes questões podem ser acessadas na palma da
mão, o que é antigo é qualificado como velho, obsoleto e descartável,
portanto não tem necessidade de ser estudado ou é considerado chato.

Por outro lado, podemos afirmar que toda a atual cultura e visão de
mundo se alicerça firmemente no passado. É por homens, mulheres,
crianças, ricos e pobres, governantes, governados, intelectuais e pessoas
comuns que a história é construída desde os tempos mais remotos até
os dias atuais.

Ela não se resume a simplesmente transmitir conhecimentos acumulados,


mas é um instrumento de conscientização dos seres humanos, estando
presente em todas as ações, e tem a tarefa de construir um mundo
melhor e uma sociedade mais justa.
UNIUBE 37

Os estudos históricos contribuem para que o olhar seja mais criterioso


e diferenciado, uma vez que os objetivos do futuro só podem ser
perspectivados a partir do que se conhece do passado e das alterações
que são realizadas no presente (FIGUEIREDO; HUNGER, 2010).

Portanto, parafraseando um antigo programa televisivo, dizemos:


“Senta que lá vem história!!!”

2.2.1 Onde tudo começou?

Ao abordar o panorama de construção do conteúdo ginástica, pretendemos


apresentar e discutir como ela se estruturou nos diferentes momentos
históricos, tanto no mundo como no Brasil, destacando os pontos
relevantes deste contexto.

CURIOSIDADE

A ginástica é a manifestação corporal mais antiga da humanidade e é


entendida como sinônimo de atividades físicas em geral. Ao fazermos uma
análise ao longo do tempo, é possível perceber que ela vai se modificando
de acordo com as necessidades e interesses de cada povo, cultura e
momento histórico.

Ramos (1982) afirma que ela se confunde com a história do homem, uma
vez que se origina na Pré-História, é valorizada na Antiguidade, esquecida
na Idade Média, fundamenta-se na Idade Moderna e sistematiza-se nos
primórdios da Idade Contemporânea.

As atividades físicas são manifestações que acompanham o ser humano


desde o seu surgimento na terra, sendo desenvolvidas a partir de diversos
objetivos.
38 UNIUBE

Os primeiros registros mostram que o homem pré-histórico (3.500 a.C.) se


utilizava da atividade física para a sobrevivência, expressa principalmente
pela necessidade vital de atacar e defender-se (CARREIRO; VENÂNCIO,
2004). Essa prática de caráter utilitário (Figura 1) e sistematizada de
forma rudimentar para a busca de alimento, para fugir do perigo ou para
homenagear os deuses, valorizava o equilíbrio, a força, a flexibilidade e
a resistência e foi perpetuada de geração a geração por meio dos jogos,
rituais e festividades.

Figura 1: Caçada do homem primitivo para a sobrevivência.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.

É evidente que a expressão “ginástica”, como hoje é identificada, não se


ajusta ao período pré-histórico, pois o exercício físico, como era realizado
em contato direto com a natureza, não tinha regulamentação, nem
método nem sistematização. Apesar de vários objetivos e características
terem sido elucidados apenas em tempos mais atuais, podemos afirmar
que os exercícios já eram vivenciados pelo homem primitivo, tanto que
alguns autores associam esse período a uma contínua e completa aula
de Educação Física.

Os movimentos característicos deste período pré-histórico eram correr,


saltar, marchar, arremessar, nadar, mergulhar, lutar, levantar e transportar,
equilibrar, trepar, quadrupedar, dançar, jogar, entre outros (Figura 2).
UNIUBE 39

Figura 2: Homem primitivo e as possibilidades de movimento.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.

Na Antiguidade (em torno de 4.000 a 3.500 a.C. até 476 d.C.), a ginástica
surge em forma de manifestação corporal ainda muito semelhante
àquelas praticadas pelo homem pré-histórico com o objetivo de se
proteger das ameaças naturais e consequentemente garantir a vida.
Por volta do terceiro milênio a.C., principalmente nas civilizações orientais
como Egito (Figura 3), Índia e China, os exercícios da ginástica surgem
nas várias formas de criação e aperfeiçoamento das lutas, do remo,
da natação, do hipismo e na arte de atirar com o arco (LANGLADE,
LANGLADE, 1970; SOUZA, 1997).

Figura 3: Registros de exercícios físicos no Egito Antigo.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.
40 UNIUBE

Neste período, os assírios e babilônios desenvolviam práticas de caráter


utilitário com o objetivo de desenvolver força, agilidade e resistência. Já
os hititas, por priorizarem treinamento hípico, eram exíminios cavaleiros.
Na Pérsia, Índia, China e Japão, as atividades físicas eram utilizadas
para a garantia da vida e para rituais e cultos, ao mesmo tempo em que
jogos de recreação e de preparação guerreira eram as práticas vigentes
nos indígenas do novo mundo (RAMOS, 1982).

Contudo, é na Grécia, principalmente para o mundo ocidental, que a


ginástica ganha maior destaque, tornando-se um elemento fundamental
para a educação dos gregos e parte de festividades, jogos e rituais
religiosos. Tanto que o termo ginástica (gymnus: nu) é criação dos
estudiosos gregos, assim como as primeiras sistematizações de
atividades físicas com vistas a trazer benefícios tanto para o corpo como
para a mente (FIGUEIREDO; HUNGER, 2008).

CURIOSIDADE

A Grécia impôs um modelo estético em que a nudez masculina ocupava


lugar majoritário nas pinturas, nas cerâmicas e nas manifestações corporais
que hoje estão expostas em museus de todo o mundo.

A mulher, neste contexto, não tinha o privilégio de praticar as atividades


físicas como revelam as obras que tratam dos Jogos Olímpicos antigos.

A premissa de corpo são e mente sã, em busca do equilíbrio entre


aptidões físicas e intelectuais, além do ideal grego de beleza humana,
favoreceu ainda mais para que a ginástica evoluísse e sua prática fosse
vista como forma de cultuar o corpo (Figura 4).
UNIUBE 41

Figura 4: Escultura associada à beleza de um deus.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.

Neste contexto, o corpo deveria ser belo e capaz de resistir a todas


as formas de competição (Figura 5), seja na pista de corridas ou na
força física. A estética, o físico e o intelecto faziam parte da busca pela
perfeição, sendo que um belo corpo era tão importante quanto uma
mente brilhante.

Figura 5: Modalidades olímpicas.


Fonte: Acervo Uniube.
42 UNIUBE

Havia naquele período histórico grande influência da atividade esportiva


sobre a formação do homem grego e, associada a letras e músicas,
formava os três pilares essenciais para a educação da criança e do jovem
(RUBIO, 2002).

A relevância da ginástica para os gregos era vista como um meio de


ensinar à criança, tanto na família como fora dela, o que é justo e injusto,
belo e feio, e assim era defendido:
Como um tronco retorcido, buscam endireitá-la com
ameaças e castigos. Depois vai à escola e aprende a
ordem, bem como o conhecimento da leitura, da escrita,
e o manejo da lira. [...] mais tarde o jovem é levado à
escola de ginástica, onde os pedótribas lhe fortalecem
o corpo, para que seja servo fiel de um espírito vigoroso
e para que nunca fracasse na vida por culpa da
debilidade do corpo.” (JAERGER, 1995, p.161).

EXPLICANDO MELHOR

Pedótribas eram professores de ginástica para crianças na Grécia Antiga.

Outra questão interessante deste período, que foi extremamente rico para
a estruturação da ginástica e consequentemente da área da Educação
Física anos depois, foi a existência de diferentes formas de aplicação do
conteúdo ginástica. Para alguns, tinha por finalidade alcançar a beleza
e a força física de um atleta e, para outros, era um meio de desenvolver
a coragem de um guerreiro.

As diferenças se evidenciavam entre as cidades de Atenas e Esparta.


Em Atenas, a prática dos exercícios físicos visava cultuar a beleza e a
educação do corpo, para os atenienses, assim como para todos os gregos.

Somando-se a isso, o homem aristocrático grego deveria reunir as


qualidades de ser hospitaleiro, frequentar banquetes, assumir a prática
esportiva, o debate político e as guerras. “Viver pouco, morrer jovem e
ser cantado pela posteridade”. Ter honra (timê) e vergonha (aidós) como
valores primordiais (TSURUDA, 1994).
UNIUBE 43

Já em Esparta, o objetivo era a preparação dos soldados e a formação


de exércitos de guerra, a partir das corridas, lançamento do disco e
do dardo, para tornar o cidadão ágil e forte (BROWN, 1991). Tanto os
meninos como as meninas praticavam atividades físicas semelhantes,
mas o foco para as meninas era fortalecer o corpo feminino para serem
capazes de procriar filhos vigorosos e robustos.

Observe a Figura 6 a seguir:

Figura 6: Exercícios físicos na Grécia Antiga.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.

Por ser a Grécia o berço dos Jogos Olímpicos (Figura 6), disputados
por 12 séculos, foi evidente a importância da prática de exercícios
físicos nesta época para esta população. Além disso, ela deixou para
a humanidade, principalmente para o mundo ocidental, um expressivo
legado cultural com destaque para a filosofia, para a dramaturgia e para
as manifestações corporais.
44 UNIUBE

CURIOSIDADE

Platão, um dos principais filósofos gregos, defendia que a música era para
a alma e a ginástica para o corpo. Apesar de defender prioritariamente a
educação da alma para o bom desenvolvimento do educando, afirmava que
uma educação meramente musical torna o homem muito mole e delicado
e uma excessiva educação ginástica cultiva demais a dureza e a fereza.

Como a Grécia enaltecia mais as questões da beleza em comparação


com os aspectos guerreiros, acaba sendo tomada por Roma, que se
tornou um império, dominando boa parte do mundo, e, consequentemente,
houve a difusão da chamada cultura greco-romana por meio de suas
obras, construções, literatura, arte, fruto das heranças culturais gregas.

Desde o início, Roma envolveu-se em guerras internas e externas e,


para isso, o exercício físico era tanto um instrumento de preparação e
adestramento militar como meio de prática de atividades desportivas como
as corridas de carros e os combates de gladiadores, mas prioritariamente
relacionadas às questões bélicas.

A ginástica era praticada por todos, sendo que a corrida, a natação, os


saltos, o transporte de pesos, o arremesso da lança, as lutas, a esgrima
e os jogos (harpastum- espécie de futebol) e a equitação eram alguns
exemplos da inserção dos romanos de todas as idades em práticas
corporais, mas, como dissemos, sempre com o intuito de preparar o
corpo para a guerra, pois qualquer outra forma de movimento do corpo
era considerada baixa.

CURIOSIDADE

Em Roma, a ginástica se afastou bastante de sua faceta grega, uma vez


que o esporte dos gregos de caráter quase religioso não era evidenciado na
civilização romana, além disso a valorização do corpo era vista como algo
imoral pelos romanos.
UNIUBE 45

Os romanos apreciavam grandes espetáculos públicos com perigo


de vida e onde corresse sangue, tanto que os governantes romanos,
à medida que efetuavam novas conquistas, construíam colônias com
majestosos edifícios, banhos públicos, organizavam representações
teatrais, corridas de carros no circo ou combates de gladiadores (Figura
7) na arena do Coliseu, estabelecendo uma relação dialética entre as
exibições corporais praticadas no circo e o menosprezo à vida praticada
nas arenas ou estádios (SIMÕES, 1998; PUBLIO, 2002).

Figura 7: Gladiadores na área do Coliseu.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.

As instalações esportivas desta época, como o circo, as termas, o estádio,


até hoje podem ser visitadas e impressionam pela magnitude de suas
proporções (Figura 8), jogos, rituais e festividades.

Figura 8: Coliseu de Roma.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.
46 UNIUBE

Nesta época havia um paradoxo pois, ao mesmo


Circo Máximo
tempo que os governantes romanos realizavam
Também conhecido
por seu nome em latim
corridas de carros, puxados por dois (bigas)
Circus Maximus, era ou quatro (quádrigas) cavalos no Coliseu,
uma arena projetada
e construída para a os acrobatas, no Circo Máximo, realizavam
diversão e realização
de jogos, em Roma. prodígios de equilíbrio, coragem, destreza, força
e resistência.

Além disso organizavam jogos e festas em homenagem aos deuses e em


comemoração às datas significativas na vida da cidade. Os imperadores,
na ânsia de agradar o povo para se manter no poder, aumentavam cada
vez mais o número de jogos e feriados e distribuíam alimento para a
população. Houve um tempo em que o ano tinha mais dias feriados que
dias úteis, caracterizando o que ficou conhecido como “pão e circo.”

Assim, como em Roma, a rejeição do culto à beleza física do corpo


também foi registrada durante a Idade Média (476 d.C. a 1453 d.C.),
considerada o período de escuridão do corpo.

2.2.2 A época da escuridão do corpo

A Idade Média caracterizou-se pela quebra do poder romano e pela


influência do cristianismo como doutrina, reproduzindo a ideia de que
as atividades corporais eram satânicas e mundanas, enaltecendo o
aprisionamento corporal pela disciplina, pela moral e pela contemplação
de Deus na fé, contrapondo-se ao prazer e às exibições corporais artísticas
(SIMÕES, 1998).

Os exercícios físicos ocorriam para a preparação militar nas Cruzadas,


empreendidas pela Igreja, para fazer o homem forte e apto. Entre os
nobres, era valorizada a esgrima e a equitação, embora outras atividades,
como o manejo do arco e flecha, a luta, a escalada, a marcha, a corrida,
o salto, a caça e a pesca, jogos simples e de pelota (um tipo de futebol)
e jogos de raquete, fossem registradas (SOUZA, 1997).
UNIUBE 47

Como os adeptos do cristianismo condenavam as manifestações corporais


abusivas que ocorriam nos espetáculos romanos, a atividade física de
carácter lúdico influenciou de forma negativa a imagem do desporto. Assim,
o atletismo, por exemplo, que tinha sido a base da Educação Física na
Grécia antiga, praticamente desapareceu na Idade Média.

Apesar disto, neste período há registros de pessoas que faziam acrobacias


nos mercados medievais, chamados por alguns de saltimbancos, por outros
de acrobatas ou artistas de rua.

CURIOSIDADE

Acrobatas são aqueles que dançam e fazem jogos de equilíbrio com as


mãos e os pés.

A acrobacia foi uma das primeiras manifestações artísticas corporais,


utilizada inicialmente como forma de treinamento de guerreiros em função
da agilidade, flexibilidade e força e mais tarde associada à graça, beleza
e harmonia presente nas festividades e demonstrações (DUPRAT, 2007).

Os saltimbancos (Figura 9) são artistas itinerantes que exibem suas


habilidades em feiras e vias públicas ou seduzindo o público com discursos
e trejeitos espalhafatosos. Para alguns, são considerados farsantes,
charlatões, que não merecem confiança, por isso são marginalizados
(FERREIRA, 2010).

Figura 9: Acrobatas do século XVIII.


Fonte: Tiepolo (2019).
48 UNIUBE

As acrobacias, que representavam as práticas corporais da época,


eram realizadas por artistas de rua, equilibristas, bailarinas, palhaços,
Funâmbulos contorcionistas, anões ou funâmbulos do mundo do
Artista que
circo e eram desprezadas pela nobreza e condenadas
caminha ou pela Igreja, por ter um caráter de crítica social, uma
dança em cabo
suspenso, vez que desafiavam a ordem política e religiosa,
esticado à altura
considerável do pois expressavam os reais sentidos e significados
chão.
e descortinavam o modo de vida e valores vigentes.

Por serem em sua maioria um grupo sem credibilidade pelas autoridades,


viviam mudando de cidade para ganhar um pouco mais e obter respeito.
O seu lugar era o mundo inteiro conhecido e,
principalmente, imaginado. Era sempre o lugar onde
houvesse gente que se depusesse a rir, a aplaudir,
a se embevecer com as peripécias do corpo, de um
corpo ágil, alegre, cheio de vida porque expressão de
liberdade e sobretudo resistente às regras e normas.
[...] O seu mundo era desinteressado. Suas vidas se
faziam mais de trajetos do que lugares a se chegar e,
assim, desterritorializavam a ordem do espaço. Suas
apresentações aproveitavam dias de festas, feiras,
mantendo uma tradição de representar e de apresentar-
se nos lugares onde houvesse concentração de
pessoas do povo. (SOARES, 1998, p.24).

Eram negados e temidos pelas autoridades, mas encantavam a população


e, ao trazer o corpo como espetáculo, desafiavam as instituições e os
fenômenos da natureza, pois:
Invertiam a ordem das coisas. Andavam com as mãos,
lançavam-se ao espaço, contorciam-se e encaixavam-
se em potes, em cestos, imitavam bichos, vozes,
produziam sons com as mais diferentes partes do
corpo, cuspiam fogo, vertiam líquidos inesperados,
gargalhavam, viviam em grupos. Opunham-se assim
aos novos cânones do corpo acabado, perfeito,
fechado, limpo e isolado [...] que a nova ordem exigia.
(SOARES, 1998, p.25).
UNIUBE 49

Paradoxalmente, essas práticas corporais passaram a ocupar e animar


as festas dos castelos medievais a partir, não só da presença dos
acrobatas, mas dos cômicos bobos da corte (Figura 10) e dos trovadores.

Figura 10: Bobo da corte da Idade Média.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.

Diferentemente do que muita gente pensa, esses plebeus pagos para


divertir a nobreza e realeza não eram loucos e menos ainda corcundas
ou anões. Eram, na verdade, os comediantes da época e de bobo nada
tinham nada, pois eram pessoas com talento, sabedoria e sensibilidade
para levar divertimento aos outros.

CURIOSIDADE

O livro de acrobacias, escrito em 1535 por Arckangelo Tuccaro, acrobata da


corte do Imperador da Alemanha Maximiliano II, ao organizar saltos em uma
tábua presa nas extremidades, originou estudos para o que hoje chamamos
de trampolim acrobático.
50 UNIUBE

2.2.3 O renascer do movimento corporal

Conforme afirmam Langlade e Langlade (1970), o período do Renascimento


foi marcado por uma nova forma de pensar os exercícios físicos, fazendo
ascender uma nova filosofia com respeito ao corpo e seus cuidados. Os
mesmos autores relatam que as escolas renascentistas fizeram surgir
uma nova tendência para a Educação Física, considerando-a como parte
da educação, incluindo nos seus programas atividades como equitação,
corridas, saltos, esgrimas, jogos com bola, entre outros, as quais eram
praticadas todos os dias pelos alunos ao ar livre.

Este movimento que rejeitava ideias até então vigentes e incontestáveis


possibilita a abertura para o estabelecimento das ciências, da literatura
e das artes (Figura 11) e para a estruturação da ginástica enquanto um
conteúdo da área da Educaçao Física.

Figura 11: Monalisa.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.

Esta obra (Figura 11), do pintor italiano Leonardo da Vinci, além de marcar
o reaparecimento das artes, apresenta não só um olhar misterioso, mas,
principalmente, a figura do corpo mulher, que até então, inclusive para a
ginástica, era quase inexistente.
UNIUBE 51

Observe a Figura 12:

Figura 12: Conhecimento do corpo.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.

Uma das características deste período foi a exposição do corpo, tanto


que é nesta época que ocorrem os primeiros registros de dissecações
(Figura 12) em seres humanos. Até então, toda e qualquer análise não
era realizada a partir da abertura do corpo, sendo que esta atitude
contribuiu para subsidiar a área da anatomia, que é um dos conteúdos
estudados na área da Educação Física.

Apesar da abertura para o estabelecimento das ciências, da literatura


e das artes e para a estruturação da ginástica enquanto um conteúdo
da área da Educaçao Física, inicialmente o objetivo era o de controlar,
educar e alterar os gestos e comportamentos das classes populares para
que o corpo se adequasse à nova ordem social.

CURIOSIDADE

O Renascimento (1.400 a 1.800) rivalizou com inveteradas concepções


mitológicas, religiosas, filosóficas e metafísicas. O homem passou a bastar-
se a si mesmo, como o sujeito da história, dominador do universo e dono
da verdade e do seu próprio destino, valorizando, assim, seus próprios
empreendimentos.
52 UNIUBE

Foi um novo tempo, marcado por profundas transformações na visão de


mundo do homem ocidental. Um outro ponto de partida, com novo itinerário,
foi construído para as ciências e para as artes, caindo por terra a noção de
um universo orgânico, vivo e espiritual, provando-se, pela primeira vez, a
superioridade da razão.

Nesta época, ocorreu a mudança do sistema feudal, ou seja, o modo de


produção agrário e de manufatura para o burguês, surgindo a sociedade
capitalista e a produção industrial. Consequentemente, a representação de
mundo se modifica a partir dos representantes do poder. Se antes o mundo
era visto como cosmo e as coisas se justificavam pelos feudos religiosos,
neste momento o processo se inverte e o homem passa a ser o centro das
atenções (SIMÕES, 1998).

Neste panorama, nos séculos XVIII e XIX, estruturam-se, na Europa,


quatro grandes escolas: a alemã, a sueca, a francesa e a inglesa (sendo
que esta última tinha maior ênfase nos jogos, atividades atléticas e
esportes, portanto não é citada por alguns autores como parte da
ginástica) e, consequentemente, os principais métodos e aparelhos
ginásticos, inicialmente como forma de controlar as grandes populações
que migram para as cidades de grande e médio porte em função do início
da industrialização (LANGLADE; LANGLADE, 1970).

Pode-se afirmar que houve, por meio da ginástica, uma “redescoberta”


dos exercícios físicos, os quais foram despertados em uma sociedade
diferente da anteriormente proposta uma vez que os aspectos naturais
são substituídos pelos industrializados e as pessoas passam a viver
em conglomerados sem muitas condições de salubridade, além de
usarem roupas que não possibilitam o movimento expansivo por serem
excessivas e apertadas (QUITZAU, 2015).
UNIUBE 53

Este quadro mostra, principalmente para os médicos e pedagogos, a


necessidade de intervirem na sociedade, considerada fraca, decadente,
degenerada e imóvel em função da emergente migração urbana. A
maneira encontrada para sanar esta situação e proporcionar saúde à
população foi inserir práticas de exercícios, como uma forma de superar
os males causados pelo novo modo de vida em ascensão na sociedade
europeia.

PARADA OBRIGATÓRIA

Podemos dizer que foi a partir deste período que ficou mais enfatizado que
a área da Educação Física tem a responsabilidade de promover a saúde da
população, porém esta responsabilidade não pode ser exclusiva desta área,
pois só é possível garantir saúde a partir de uma proposta interdisciplinar,
considerando aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais.

Você concorda com esta afirmação? Faça uma reflexão sobre isso.

A denominação ginástica, inicialmente utilizada como referência a todo


tipo de atividade física sistematizada, cujos conteúdos variavam desde
as atividades necessárias à sobrevivência, jogos, atletismo, lutas, até a
preparação de soldados, adquiriu uma conotação mais ligada à prática do
exercício físico. De acordo com Soares (2004, p. 64), a partir desta época,
a ginástica passou a desempenhar importantes funções na sociedade
industrial, “[...] apresentando-se como capaz de corrigir vícios posturais
oriundos das atitudes adotadas no trabalho, demonstrando, assim, as suas
vinculações com a medicina e, desse modo, conquistando status.”

AGORA É A SUA VEZ

Como consequência dos movimentos ligados à ginástica, em 23 de julho


de 1921 foi criada na Europa a Federação Europeia de Ginástica, que deu
origem à atual Federação Internacional de Ginástica (FIG), cuja sede fica
em Lausanne, na Suíça.
54 UNIUBE

Independentemente do tratamento dado à ginástica ao longo dos tempos,


não podemos perder de vista que o seu núcleo primordial foi a arte, a
alegria e o entretenimento. Com os avanços científicos, sobretudo da
fisiologia e biomecânica, a ginástica incorporou modelos, formatos, e
atingiu sua esportivização no século passado (SOARES, 2001).

Neste panorama, na Idade Moderna, o exercício físico se afirma como


componente da educação. Tal cenário é evidenciado por Souza (1997,
p. 22), ao dizer que:
O exercício físico na Idade Moderna, considerada
simbolicamente a partir de 1453, quando da tomada de
Constantinopla pelos turcos, passou a ser altamente
valorizado como agente de educação. Vários estudiosos
da época, entre eles inúmeros pedagogos, contribuíram
para a evolução do conhecimento da Educação Física
com a publicação de obras relacionadas à pedagogia, à
fisiologia e à técnica.

A área da Educação Física e, consequentemente, da ginástica se firma


na Idade Moderna com pressupostos educativos. Prova disto foi o
surgimento de vários livros e também o início de sua organização no
interior da escola formal.

AGORA É A SUA VEZ

Vimos que ao longo da história a ginástica e os exercícios físicos foram


praticados com diferentes objetivos. E hoje? O que você pensa ser um fator
motivador dos praticantes?

Mas quando foi então que a ginástica passou a ter as características que
a tornaram tal qual a conhecemos hoje? Para entender esse processo,
remetemos-nos ao século XIX, o qual será abordado no próximo capítulo.
UNIUBE 55

2.3 Considerações finais

O movimento é intrínseco ao ser humano e, ao ser sistematizado, é parte


do que se convencionou chamar de ginástica, até o século XIX.

A história da ginástica é análoga à própria história da evolução humana e


foi se estruturando como uma forma de manifestação corporal, tanto para
a sobrevivência como para a inserção social. Estudar a ginástica significa
retomar as características do passado com vistas no futuro.

Resumo
Neste capítulo fizemos uma retrospectiva de como o exercício físico
se originou, analisando desde a pré-história, em que os movimentos
de correr, saltar, agachar, levantar, arremessar, pendurar, rolar, entre
outros, eram realizados para sobreviver, chegando até os dias atuais e
percebendo que, desde os primórdios da humanidade, a atividade física
acompanha o viver do ser humano. Perpassamos pelo período do domínio
romano em que as atividades corporais foram suprimidas em função do
aparecimento do cristianismo até chegar ao renascimento em que há a
cisão entre ginástica e Educação Física em função do aparecimento das
escolas ginásticas e, consequentemente, a sistematização deste conteúdo.

Referências

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Capítulo As escolas ginásticas
3

Regina Simões

Introdução
No capítulo anterior, você conheceu um pouco sobre o início da
ginástica e como ela se desenvolveu em diferentes períodos
históricos da humanidade. Neste capítulo, abordaremos a
ginástica a partir da Idade Moderna, especialmente no final
do século XVIII e início do século XIX, fase em que ocorre um
indiscutível e instigante impulso para se alcançar a sistematização
e a institucionalização do ensino da ginástica e também ajudar a
entender como ela se estrutura até os dias atuais.

Neste período, houve grandes mudanças em nível político,


econômico e social. Ocorreu a Revolução Industrial, na Inglaterra,
(e, mais tarde, em toda Europa), a Revolução Francesa, derrubando
o absolutismo e levando o povo ao poder político, e, também,
houve a formação dos estados nacionais e a crescente tensão por
questões territoriais.

As inquietações surgidas nesta época, como a justificação das


desigualdades sociais, o abalo da moralização, a profileração
dos vícios na sociedade e a necessidade de encontrar soluções e
respostas rápidas, contribuíram para que os discursos referentes
aos exercícios físicos fossem interligados com outras questões,
como a disciplina, a concepção biológica e, consequentemente, a
alusão aos mais fortes, mais rápidos e mais ágeis (SOARES, 2001).
60 UNIUBE

A ginástica acompanha estes movimentos e se sistematiza dentro


de um caráter disciplinar, metódico e ordenado. Com isto, nasce no
século XIX o que se convencionou chamar de ginástica científica
(CAGIGAL 1996; SOARES, 2001; AYOUB, 2003).

Já Langlade e Langlade (1970) relatam que o início do século XIX


é o período considerado como data da origem da atual ginástica.
De 1800 a 1900, surge o Movimento Ginástico Europeu, composto
por quatro escolas: inglesa, alemã, francesa e nórdica (ou sueca).

Além destes, também constituem a base para a estruturação da


ginástica nos dias atuais a Calistenia, que teve maior repercussão
fora da Europa, e a ginástica feminina moderna, temas que serão
tratados neste capítulo.

A passagem do século XVIII para o XIX apresenta-se como um


momento importante na constituição do que hoje conhecemos
como Educação Física, pois é, nesse período, que as primeiras
sistematizações dos exercícios físicos começam a ser formuladas
e publicadas em diferentes manuais de ginástica.

As particularidades da ginástica foram se diferenciando entre


os países, mas o discurso das classes no poder para ampliar e
solidificar esses métodos deu-se pela “necessidade de garantir
às classes mais pobres não somente a saúde, mas também uma
educação higiênica e, através dela, a formação de hábitos morais”
(SOARES, 2001, p. 11). Na euforia de ampliar os territórios e
fronteiras entre os países, os dirigentes ampliaram os objetivos
dos métodos também para o desenvolvimento da vontade, da
coragem, da força e da regeneração da raça.
UNIUBE 61

Embora tenha surgido simultaneamente em diferentes países, a


ginástica tinha em comum a premissa de desenvolver o civismo,
a disciplina, a saúde e os conteúdos principais, inclusos na prática
dos métodos ginásticos, eram força, agilidade, saltos, corridas,
exploração de e em aparelhos, equitação, esgrima, danças, jogos
populares, acrobacias, cada qual sofrendo influência do povo que
a desenvolvia e das revoluções tecnológicas que traziam novos
aparelhos para o desenvolvimento dela.

Importante salientar que embora a escola inglesa ou o movimento


esportivo inglês seja um dos métodos mais conhecidos e
difundidos mudialmente, ele não tem influência direta no campo
da ginástica, pelo seu caráter competitivo, apesar de apresentar
contribuições, sobretudo, quanto à universalização de conceitos
e promoção da ginástica como esporte olímpico.

Um dado importante deste período no Brasil é a chegada dos


métodos francês e sueco nas escolas no século XIX, sendo que a
identificação se dava pelo nome de ginástica.

Apesar deste movimento, é importante destacar que os modelos


implementados por estes métodos que perduraram até a primeira
metade do século XX tiveram poucas relações com as questões
pedagógicas necessárias no interior da escola, pois o maior
propósito deles era a promoção da saúde tanto individual como
coletiva, impulsionados, inclusive, pelo movimento higienista presente
neste momento histórico (GOIS JUNIOR; LOVISOLO, 2003).
62 UNIUBE

Objetivos
Esperamos que, ao término dos estudos deste capítulo, você seja
capaz de:

• explicar a sistematização da ginástica, a partir do estudo das


escolas alemã, sueca, francesa.
• analisar as contribuições da Calistenia e da ginástica feminina
moderna para a estruturação histórica da ginástica.

Esquema
3.1 Método alemão
3.2 Método sueco
3.3 Método francês
3.4 Calistenia
3.5 Ginástica feminina moderna
3.6 Considerações finais

3.1 Método alemão

O desenvolvimento do método alemão está creditado, inicialmente, pelas


propostas de Johann Bernhard Basedow (1723-1790), que a partir de
sua instituição escolar chamada de “Philantropinum” possibilitou que
a Educação Física entrasse na escola pela via dos exercícios físicos/
ginástica, em função da grande importância que dava à saúde.

Ele foi influenciado pelas ideias dos pedagogos Jean Jacques Rousseau
(1712-1778) e, posteriormente, Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827),
os quais contribuíram para que o aspecto humanista e mais pedagógico
fosse implantado ao primeiro programa moderno de Educação Física.
Apesar disso, a predominância neste método eram as questões
UNIUBE 63

biológicas, fisiológicas e anatômicas, com vista a defender a pátria, pois


intelectuais e médicos foram os principais líderes que o difundiram (VAN
DALEN; BENNET, 1971; MARINHO, 1980).

SINTETIZANDO...

No Philantropinum, as aulas ocorriam da seguinte forma: “5 horas por dia


para o estudo, 3 horas por dia para a recreação, que compreendia a prática
da esgrima, da equitação, da dança e da música, e outras 2 horas para os
trabalhos manuais [...], ainda prescrevia o treinamento militar e as excursões
a pé”. (MARINHO, 1980, p. 117).

Mas é com Johann Cristoph Guts Muths (1759-1839), conhecido


como pai da ginástica escolar alemã, que este método se estruturou,
pois, ao ministrar aulas na escola, propunha um sistema de trabalho
denominado “método natural” ou “ginástica natural” (Figura 1), com
base na educação grega.

Figura 1: Ginástica escolar alemã.


Fonte: Acervo Uniube.
64 UNIUBE

Guts Muths tinha como premissa conseguir uma “educação integral”,


associando aspectos culturais como a dança, a ginástica e a marcha,
com o propósito de reeducar as pessoas em relação a seus hábitos.
Defendia que o corpo tinha grande influência sobre a mente e o caráter e
acreditava que o objetivo básico da educação era a saúde (BETTI, 1991).

Como a Alemanha vivia em tensão quanto às posses de suas terras e ainda


sem definição quanto ao seu espaço geográfico e, consequentemente,
com predisposição às guerras, seu método na defesa e luta da e pela
pátria foi amplamente disseminado, pois pregava essencialmente a
formação de jovens sadios, fortes, ágeis e corajosos.

IMPORTANTE!

O caráter higienista e a ênfase na defesa da pátria era tão excessivos que


a ginástica era considerada um meio de tornar homens e mulheres mais
fortes, robustos e saudáveis com o objetivo de gerar filhos “melhores” para
a pátria e, para isso, ela deveria ser praticada todos os dias por homens e
mulheres de qualquer idade.

Betti (1991, p. 36) destaca que Guts Muths acreditava firmemente:


na influência do corpo sobre a mente e o caráter; e
que a saúde, mais do que o conhecimento, deveria
ser o objetivo básico da educação [...] Considerava
a ginástica de alta significação social e patriótica, e
meio educativo fundamental para a nação e pediu que
o Estado assumisse a organização e divulgação da
ginástica.

Era considerado sistemático, uma vez que foi o primeiro a propor uma
abordagem metódica para planejar a Educação Física e entendia que
os exercícios, a ginástica, os jogos e as competições serviriam para
desenvolver o vigor da alma e a força. Adepto de todas as variações
de exercícios corporais estabeleceu uma rotina que deveria ser ministrada
UNIUBE 65

diariamente tanto para homens, mulheres e crianças, os quais priorizavam


a agilidade a partir de lançamentos, escaladas e suspensão em escadas
oblíquas, natação e equilíbrio e a força, por meio de corridas, saltos de
cavalo, transporte de sacolas cheias de areia e lutas, além de jogos de
peteca, de pinos e pelota (RAMOS, 1982).

Por outro lado, sua teoria apesar de ser conhecida pelo viés pedagógico
primava pelo individualismo e pela competitividade, da mesma forma
que tinha obsessão por exceder ou criar marcas e não se isentou da
influência nacionalista e política vigente, considerando que a ginástica
era muito significativa para os aspectos sociais e patrióticos e um meio
fundamental para a educação da nação (MARINHO, 1980).

Entusiasmado com a ginástica, manteve, até pouco antes de morrer


(80 anos de idade), a participação ativa nas aulas com seus alunos e
também organizou espaços e elaborou materiais e equipamentos que
incentivassem a sua prática.

Por meio de Adolph Spiess, os sistemas ginásticos, voltados aos pressupostos


pedagógicos e integrados ao currículo escolar, foram introduzidos na
escola, sendo, em 1842, reconhecidos pelo Estado, inter-relacionando
a política autocrática e filosofia, destacando a disciplina, a submissão,
os treinos de memória, com respostas rápidas e precisas ao comando
(BETTI, 1991).

Spiess lutou pelo emprego de professores especialistas em número


suficiente para as turmas, criando cursos destinados à formação de
professores. Levou os aparelhos das praças para as escolas da época,
garantindo um lugar de destaque entre os educadores como um dos
líderes da pedagogia na Educação Física por meio do ensino da ginástica.
Exaltou a ginástica de exibição como importante recurso no despertar
pela prática pelos leigos e na atenção das autoridades (MARINHO, 1980).
66 UNIUBE

Para ele, a ginástica deveria ter o mesmo reconhecimento e ser tratada


como qualquer outra matéria escolar (MARINHO, 1980) e o professor
deveria seguir os seguintes princípios:

a) oferecer aos alunos graus de acordo com o seu trabalho em ginástica;


b) ser ministrada um período por dia;
c) propor um sistema especial para moças;
d) graduar o material de ginástica de acordo com as diferentes idades e sexo.

Além disso, havia o acompanhamento de música para que o ritmo da


marcha e dos exercícios pudessem desenvolver-se, inaugurando a
ginástica de exibição, para tornar interessante a prática aos governantes,
autoridades, e arraigar maior número de praticantes.

As ideias médicas e pedagógicas de Guts Muths foram ao longo do


tempo sendo desconsideradas na Alemanha a partir do surgimento
de Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852), considerado o maior nome do
método alemão, pois elucidou um caráter mais patriótico-social e político,
exaltando a cultura germânica e, portanto, o sentimento nacionalista.
Para ele, a população, por meio dos exercícios ginásticos, seria forte e
unida, inclusive para se libertar do domínio francês da época.

Como tinha forte tendência higienista, censurava os estudantes pela


“frouxidão e os exortava a se fortificarem, a se endurecerem e despertarem
seu espírito combativo pelos exercícios físicos” (MARINHO, 1980,
p.120). Jahn aplicava constantemente os jogos, as lutas, visto que a
possibilidade do surgimento de uma guerra era fatídica, também criou
diversos aparelhos para a prática de ginástica.

Com o forte enraizamento patriótico, seu método consistia em duras provas


e pesados exercícios em campo, o que denominou de turnen (praticar
ginástica) ou em alemão turnkunst, que significa “a arte da ginástica”.
UNIUBE 67

Líder nato, Jahn convenceu a juventude da prática de ginástica, criando,


inclusive, na floresta de Hasenheide, o primeiro local próprio e equipado
para sua prática. Era adepto dos exercícios ao ar livre (Figura 2), em local
arborizado e em praças, com o objetivo de proporcionar à população, por
meio dos exercícios e jogos, força, agilidade e coragem, como também
aprender a defender seu povo e sua pátria.

Figura 2: Exercícios ao ar livre.


Fonte: Acervo Uniube.

Friedrich Ludwig Jahn propôs um programa variado de atividades, tais


como correr, saltar, balançar em forma de pêndulo, balançar equilibrando-
se em barras horizontais, escaladas em apoio e em suspensão,
exercícios em barras fixas e paralelas, arremessar, puxar, empurrar e
exercícios em cordas longas e curtas. Observe a Figura 3:

Figura 3: Prática gímnica masculina, ao ar livre e em grupo,


no século XIX.
Fonte: Acervo Uniube.
68 UNIUBE

Em 1811, Jahn sistematizou a prática da ginástica e a transformou


em modalidade esportiva, principalmente por propor obstáculos, que,
posteriormente, foram incorporados à Ginástica Artística. Neste período,
criou as associações Turnwerein – clubes de ginástica – para jovens
praticantes e interessados. Para muitos autores, ele é considerado o "pai"
da ginástica. Por estar inserido em movimentos políticos, seus centros
foram considerados abrigos de discussões políticas com forte defesa
da pátria e da moral, pois lá se cultivavam a força moral e a exaltação
patriótica.

Para participar do Turnen e chegar à praça ginástica, era preciso atentar


a alguns procedimentos como seguir os caminhos indicados, dirigir-se
inicialmente à área de encontro, alimentar-se apenas nos momentos
definidos, além de usar a mesma roupa cinza feita de material maleável,
resistente e acessível a todos, pois, desta forma, seria rompida qualquer
possibilidade de diferença entre os praticantes.

PESQUISANDO NA WEB

Assista ao filme “A Onda”. Ele retrata situações análogas a esta padronização


e controle impostos pelo método alemão. Para assisti-lo, acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=MWT3vzAabOU

Vale a pena!

Atuante na política e com alta popularidade, Jahn foi visto pela elite
dominante como ameaça, sendo perseguido e preso. Consequentemente,
o movimento do Turnen, considerado revolucionário e demagógico, passa
a ser proibido na Alemanha, surgindo o que se convencionou chamar de
“Bloqueio Ginástico” (1820 a 1842).

Apesar desta interdição, sua prática ainda acontecia de forma clandestina,


em espaços fechados, permitindo que novos aparelhos e técnicas
surgissem, contribuindo para a constituição da atual Ginástica Artística.
UNIUBE 69

Além disso, houve a difusão pelos alemães desta proposta para outros
países do mundo, inclusive para o Brasil.

Com a proposta do método alemão, de caráter médico-higiênica, a


ginástica estava centrada em superar a imobilidade com o objetivo de
recuperar a sociedade por meio de práticas que desconsiderassem
sentimentos e priorizassem o fortalecimento e enrijecimento corporal,
aliados a atitudes de coragem, persistência, presença de espírito,
desenvoltura e resistência. Estas eram qualidades essenciais para
aqueles que queriam atender às exigências da nova sociedade em
ascensão (QUITZAU, 2015), a aula prática deveria estar organizada em
quatro grandes grupos, a saber:

Membros superiores
Exercícios livres
Membros inferiores

Barras
Exercícios de suspensão Paralelas
Cordas

Apoio propriamente dito


Exercícios de apoio Suspensões
Balanceamentos

Marchas
Ginástica coletiva
Exercícios de ordem unida

Quitzau (2015), ao fazer um levantamento do método alemão, afirmou


que houve duas propostas para o desenvolvimento de aulas práticas,
sendo a primeira elaborada por Guts Muths e a segunda por Friedrich
Jahn, como mostram, respectivamente, os Quadros 1 e 2 e as Figuras 1 e 2.
70 UNIUBE

Quadro 1: Elementos constituintes da ginástica de Guts Muths

Exercícios ginásticos Trabalhos manuais Jogos


Saltar Carpintaria De movimento
Correr Torneiro Sentados ou de descanso
Arremessar Jardinagem
Lutar Encadernação
Escalar
Equilibrar
Levantar e carregar
Exercícios para as costas
Pular corda e arco
Banhar-se e nadar
Exercícios de
enrijecimento
Leitura e declamação
Exercícios dos sentidos

Obs.: a divisão dos jogos exposta representa duas classes de exercícios apresentadas
por Guts Muths em seu manual de jogos. Dentro das duas classes, há ainda outras
subdivisões.

Fonte: Quitzau (2015, p.113).

Observe a Figura 4:

Figura 4: Aparelhos de
ginástica apresentados
em Ginástica para
a Juventude, no
livro de Muths.
Fonte: Acervo Uniube.
UNIUBE 71

Agora, observe o Quadro 2:

Quadro 2: Elementos constituintes do Turnen de Jahn


Exercícios Ginásticos Jogos Outros Exercícios
Andar Homem de preto Esgrima
Correr Corrida das barras Nado
Saltar Cavaleiro e burguês Equitação
Exercícios no cavalo Corrida de assalto Dança
Exercícios de equilíbrio Jogo de bola alemão Exercícios de guerra
Exercícios na barra fixa Ficar de cabeça para baixo
Exercícios nas barras paralelas Saltos mortais
Escalar Patinação
Arremessar
Puxar
Empurrar
Levantar
Transportar
Esticar
Lutar
Saltar arco
Saltar corda
Fonte: Quitzau (2015, pág.117).

Além de suas propostas serem altamente disseminadas na Alemanha,


Jahn foi considerado o pai da ginástica, em especial da Ginástica
Artística, em função da criação dos aparelhos barra fixa, barras paralelas
e cavalo (Figura 5).

Figura 5: Aparelhos e
plano de praça ginástica
apresentados em Ginástica
Alemã (livro de Jahn).
Fonte: Acervo Uniube.
72 UNIUBE

No Brasil, o método alemão de ginástica foi considerado oficial do exército


brasileiro de 1860 até 1912, quando foi substituído pelo método francês.

3.2 Método sueco

Originário dos países nórdicos, como Suécia, Dinamarca, Finlândia,


Noruega, Islândia e Estônia-Letônia, o método ou escola sueca tem como
principal precursor Pedro Enrique Ling (1776-1839), que, por ter nascido
em uma ambiente científico fértil, elaborou uma proposta que conseguiu
grande repercussão por ter sido inserida na escola.

No entanto, pelas más condições de vida que possuía na juventude, pois


era um jovem franzino e com predisposição para a tuberculose, doença
muito frequente na Suécia na época (MORENO, 2015), Ling fez a opção
de ir para Dinamarca em 1799 e lá conheceu o instituto de Nachtegall
(1777-1874), que acabara de ser inaugurado. Devido à sua frequência
neste instituto, fortaleceu sua saúde, apesar de não concordar com a
visão restrita de apenas utilizar a ginástica com um viés físico.

Em 1804, Ling retorna à Suécia com o propósito de ser professor de


esgrima na universidade, o que ocorre no ano seguinte, mas já convicto
da necessidade da criação de um sistema de ginástica pelo Estado e,
para tal, solicitou a compra de aparelhos pela instituição.

Neste período, tanto na Europa como na Suécia, havia um amplo debate


sobre os aspectos pedagógicos, sobre a Educação Física e sobre a
saúde do corpo, com o propósito de garantir a formação do cidadão ideal
(LJUNGGREN, 2011), principalmente no interior da escola.

Nela, era preciso ensinar ao aluno a ser um bom cidadão, considerando


o nacionalismo eminente, e, como tal, era preciso elucidar os deveres e
direitos, obedecer a regras, ter cuidado consigo mesmo, com a moral e com
o corpo, e, desta forma, garantir o desenvolvimento da nação (MORENO,
2015).
UNIUBE 73

SAIBA MAIS

Como forma de concretizar este objetivo, é criada uma disciplina na


universidade denominada Educação Física. As reformas educacionais
priorizaram a inclusão da ginástica nos currículos escolares, além da criação,
em 1813, do Instituto de Ginástica de Estocolomo (Gymnastiska Centralinstitut
– GCI), tendo Ling como seu primeiro diretor.

Neste ambiente fértil de inserção das práticas da ginástica, aliado à


criação do instituto, Ling identificou um espaço propício para implementar
sua proposta. Essa proposta era centrada na formação do corpo de forma
harmoniosa, mas alicerçada pela explicação do conhecimento médico.
Ling compreendia que era possível disciplinar o corpo pela ginástica e,
consequentemente, desenvolver o espírito humano, ou seja, “o corpo
poderia ser analisado cientificamente e daí construir movimentos precisos
e adequados, formas exatas e uniformes de executá‐los.” (MORENO,
2015, p. 130).

Aliado a isso, Ling defendia um sentimento nacionalista com a Suécia,


a qual vivia momentos turbulentos com a perda de território para a
Finlândia. Ele propôs utilizar a ginástica e a literatura como forma de
extirpar os vícios da sociedade, principalmente o álcool, e instigar força e
coragem no enfraquecido povo acometido por tuberculose e raquitismo.
Sua meta era regenerar a população, com um caráter pedagógico e
social, e não militar e, com isso, haveria a geração de indivíduos fortes
que serviriam tanto à pátria como à produção, sem distinção de sexo,
idade ou condições materiais e sociais (SOARES, 2007).
74 UNIUBE

SAIBA MAIS

Sobretudo com interesse de reconstituir o nacionalismo abalado pelas


perdas territoriais ao se envolver com as guerras napoleônicas, a Dinamarca
foi o primeiro país promotor de cursos e preparação de professores para o
ensino de ginástica, determinando, ainda, a obrigatoriedade das escolas
em possuir espaço, equipamentos e professores aptos ao ensino desta.
Seu representante principal era Franz Nachtegall, que defendia a prática
da ginástica com “cordas verticais, lisas ou com nós, varas, escadas fixas
ou oscilantes, mastros e outros aparelhos da marinha, coisa compreensível
para uma nação essencialmente marítima” (MARINHO, 1980, p. 125).

Para ele, a saúde poderia ser assegurada pelo seu método em função
das propostas respiratórias aliadas a exercícios corretivos e ortopédicos.
Todos deveriam participar, independentemente de sexo, idade, condições
materiais e sociais (FIORIN, 2002). Para tal, ele propunha 4 versões para
a ginástica com objetivos distintos: pedagógica, militar, médica e estética,
tornando evidente o caráter médico-higiênico e anatomofisiológico.

pedagógica militar

médica estética
UNIUBE 75

Vejamos essas quatro versões de ginástica:

• A ginástica pedagógica ou educativa era destinada a todas as


pessoas e visava garantir a saúde, a prevenção de doenças, vícios
e defeitos posturais e, consequentemente, contribuir para um
desenvolvimento normal do indivíduo.
• A ginástica militar era muito semelhante à ginástica pedagógica,
objetivando preparar o guerreiro, sendo que os exercícios eram
primordialmente militares, como a esgrima.
• A ginástica médica e ortopédica também tinha caráter pedagógico,
mas o maior propósito era eliminar os vícios e defeitos posturais
específicos.
• A ginástica estética, também com viés pedagógico, visava ao
desenvolvimento harmônico do organismo, incluindo dança e/ou
movimentos suaves que priorizassem a beleza e a graça ao corpo.

Os princípios fundamentais da proposta de Ling, de acordo com Ramos


(1982), estavam centrados nos seguintes pontos:

1) os movimentos ginásticos deveriam primar pela beleza e pela


eficiência, atendendo às necessidades e às leis do organismo humano;
2) era preciso atuar em diferentes partes do corpo e este deveria ser
respeitado e desenvolvido harmonicamente de acordo com os limites
de cada participante;
3) todo movimento deveria ter uma posição de partida, uma execução
e uma posição final;
4) para a ginástica pedagógica, seria necessário que os exercícios
fossem simples e atraentes, selecionados de acordo com o efeito
corretivo sobre as atitudes;
5) a ginástica deveria ter uma aplicação gradual, respeitando a intensidade
e as capacidades do corpo do praticante;
76 UNIUBE

6) os exercícios, ao serem praticados, deveriam gerar prazer tanto para


o corpo como para o espírito;
7) a ginástica precisava sempre combinar a teoria e prática;
8) tanto para homens, como para mulheres, a saúde era necessária,
mas, no caso do sexo feminino, a exigência seria maior pela função
de gerar outra vida.

Considerando estes princípios, a proposta de Ling se tornou obrigatória


nas escolas suecas a partir de 1808, centrada tanto em exercícios livres
sem aparelhos que seriam de fácil execução e que priorizariam o aspecto
estético como exercícios em aparelhos, como saltos no cavalo, além de
cambalhotas, jogos, patinação e esgrima, aliados a cantos e disciplina
militar, sob a direção de um monitor e durante as horas de liberdade
(DODÔ; REIS, 2014).

Para Ling, a ginástica era uma espécie de magia para atingir diferentes
propósitos. Nas escolas, era preciso ter um local específico para a prática
da ginástica e um professor para orientar o que seria específico de seu
conhecimento, ou seja, um mestre em um determinado assunto que não
deveria ensinar mais do que isso.

PARADA PARA REFLEXÃO

Em sua opinião, um professor deve ser especialista em um determinado


assunto e não dominar outros conhecimentos? No que acredita?

Os principais aparelhos utilizados pelo método sueco eram banco sueco,


espaldares e plinto (Figura 6), além de barra móvel, cavalo de pau e
carneiros.
UNIUBE 77

Figura 6: Banco sueco, espaldar e plinto.

A proposta de aula de Ling perpassava pelas seguintes partes, conforme


exposto por Marinho (1958):

1. Exercícios de ordem

2. Exercícios de pernas ou movimentos preparatórios de uma série


a) movimentos de pernas
b) movimentos de cabeça
c) movimentos de extensão dos braços
d) movimentos do tronco para frente e trás
e) movimentos laterais do tronco
f) movimentos outros de pernas
3. Extensão da coluna vertebral
4. Suspensões simples e fáceis
5. Equilíbrio
6. Passo ginástico ou marchas
7. Movimentos dos músculos dorsais
8. Movimentos dos músculos abdominais
9. Movimentos laterais do tronco
10. Movimentos das pernas
11. Suspensões mais intensas que as de número 4
12. Marchas ou movimentos de pernas mais intensos para os saltos
78 UNIUBE

13. Saltos
14. Movimentos de pernas
15. Movimentos respiratórios.

Observe a Figura 7 a seguir:

Figura 7: Aula de ginástica sueca.


Fonte: Acervo Uniube.

A ginástica feminina era idêntica à masculina, porém possuía as seguintes


restrições:

• evitar movimentos acentuados para trás;


• não realizar movimentos que possam congestionar a bacia e
• abster-se do trabalho físico durante a menstrução.

IMPORTANTE!

Este método desaprovava o uso de música, por entender que poucos


movimentos ginásticos eram rítmicos e não poderiam ser executados sem
que houvesse sacrifício do movimento. Por outro lado, cada movimento
ginástico tinha seu próprio ritmo, o que, de qualquer maneira, seria diferente
do ritmo da música.
UNIUBE 79

Em 1913, Ling funda o “Instituto Real e Central de Ginástica”, no qual


professores eram formados, e também introduz um programa de ginástica
como disciplina, ligada à religião e à arte, no qual os valores gímnicos
passaram a ser relacionados à estética, que “permitia ao corpo exprimir
certos estados da alma, de sentimentos e de pensamentos” (MARINHO,
1980, p. 98).

Neste método, há, igualmente, a preocupação com a alegria e a prática,


mostrando que a alegria deveria permear todas as aulas de ginástica.
O Major Thulin, um dos seguidores de Ling, introduziu nas escolas o
método de ginástica historiada ou contos animados - representados pelas
crianças por meio da expressão corporal, rompendo com uma concepção
de ginástica puramente anátomo-fisiológica para uma concepção
psicossocial (MARINHO, 1980, p. 100).

Também é com Thulin que é introduzido o ritmo musical à ginástica e


ocorre a criação de testes individuais e coletivos para verificação da
performance. Mais tarde, com os esforços de Hjalmar Ling (filho de
Henrik Ling), a ginástica passou ainda mais a ser disseminada fortemente
pelas escolas na Suécia.

De acordo com Langlade e Langlade (1970) e Soares (2007), no Brasil


este método foi divulgado por Rui Barbosa (1849-1923), por se relacionar
com a medicina e com a ciência.

3.3 Método francês

O método ginástico francês advém de estudos anatômicos, fisiológicos


e da análise do movimento. Seu lema básico referia-se à noção da
ginástica para melhoria da saúde e da moral dos cidadãos. Não havia,
necessariamente, a preocupação de preparação dos soldados para a
guerra já que a França a ganhava com frequência.
80 UNIUBE

A concepção do ser humano era dada pela biologia, com orientação


mecanicista, entendendo que o fortalecimento e o vigor físico eram
sinônimos de saúde, coragem e virilidade.

Os registros mostram que o ponto de partida da sistematização da


Educação Física na França foi realizado por Francisco Amoros y
Ondeano (1770-1848), o qual buscava a educação integral do indivíduo
a partir dos exercícios físicos com base nos conhecimentos da natureza
e na análise do movimento.

CURIOSIDADE

Amoros era um coronel espanhol, naturalizado francês, por isso recebia


grande influência das questões militares.

Pelo seu método ginástico, era possível valorizar, além dos aspectos
físicos, por meio do desenvolvimento das qualidades físicas básicas,
o caráter e a moral dos indivíduos, ou seja, para além de fortes, os
cidadãos também seriam corajosos, audazes e com valores do bem e
do dever enaltecidos.

É com Amoros, a partir da segunda metade do século XIX, que institui-se uma
nova forma de movimento corporal, que, por um lado, tem a preocupação
com a saúde, com ênfase na ginástica com viés terapêutico, e, por outro
lado, o propósito de atender à eficácia funcional, para superar o esforço, a
fadiga e a repetição dos gestos dos trabalhadores e, consequentemente,
fazendo com que estes sejam mais úteis à sociedade (SOARES, 1998).

IMPORTANTE!

Amoros afirmava que, na França, a prática da ginástica tornaria o homem


mais corajoso, mais intrépido, mais inteligente, mais sensível, mais forte,
mais habilidoso, mais adestrado, mais veloz, mais flexível e mais ágil e com
UNIUBE 81

isso seria possível superar todas as intempéries das estações, todas as


variações dos climas, suportar todas as privações e contrariedades da vida,
vencer todas as dificuldades, ter êxito em todos os perigos e obstáculos que
precisasse prestar ao Estado ou à humanidade.

Para Amoros, a ginástica não poderia ser realizada sem fundamento


científico, por isso deveria estar alicerçada em bases fisiológicas, as
quais orientariam as diferentes fases da vida. Para ele, na infância o
propósito da ginástica era o desenvolvimento harmônico do corpo e na
idade adulta era contribuir para melhorar o funcionamento dos órgãos,
principalmente coração, vasos sanguíneos e aparelho respiratório. Mas
também tinha preocupações com a questão pedagógica, ele acreditava
que, por meio dos exercícios, de forma racional e metódica, seria possível
atingir o mais alto grau de aperfeiçoamento físico, em sintonia com a
natureza.

Amoros idealizou 4 tipos de ginástica: civil e industrial, militar, médica,


cênica ou funambulesca. Acreditava no caráter utilitarista das ginásticas
e, portanto, não dava grande valor a esta última, já que a ginástica
científica tinha como princípio a economia de energia.

cênica ou
civil e industrial militar médica
funambulesca
82 UNIUBE

Em 1820, Amoros obteve apoio do governo e fundou o Ginásio Normal


Militar e Civil de Ginástica, que, em função de alguns desentendimentos,
foi fechado em 1837. Ele se dedicou, então, a seu próprio ginásio,
inaugurado 3 anos antes, no qual ensinou inclusive oficiais militares. Em
1830, publicou o “Manual de Educação Física, Ginástica e Moral” com
desenhos de aparelhos, máquinas, instrumentos e plantas de ginásio
para a prática de ginástica.

A preocupação em sistematizar a ginástica dentro de um viés científico se


justificou também pelas críticas que eram destinadas a ela pelos médicos
da sociedade francesa, sendo assim essencial ter bases fisiológicas e,
com isso, adequar o desenvolvimento da energia no treinamento e não
ter desgaste físico (GOIS JUNIOR, 2015). Observe a Figura 8:

Figura 8: Ginástica do método francês no início do século XX.


Fonte: Acervo Uniube.

Na proposta do método francês, a ginástica deveria ser realizada


para todos como se fosse um remédio para acabar com a fraqueza e
desenvolver a virilidade do povo.
UNIUBE 83

Mesmo com forte orientação militarista, Amoros começou a utilizar


aros, escadas de cordas, máquina para testar forças e trapézio. Além
disso, as escolas francesas ainda recebiam muita influência da igreja e,
portanto, seu ensino enfatizava a religião e a intelectualidade, sendo o
interesse pelos programas de ginástica advindo concomitantemente da
preocupação com a segurança nacional.

IMPORTANTE!

A ginástica proposta por Amoros tinha apoio da sociedade burguesa pois


os principais objetivos eram a produtividade, a precisão, a utilidade, a
segurança e a prudência, valores essências presentes na época.

Quando a França perdeu a guerra para a Prússia, a ginástica passou a ser


obrigatória nos currículos escolares e, para tanto, este estudioso elaborou
15 categorias de exercícios: exercícios ritmados; marchar e correr; saltar;
equilibrar; transpor obstáculos; lutar; trepar; nadar; suspender; exercícios
para segurança e salvamentos; lançar; tiro ao alvo; esgrima; equitação e
danças, todos eles com uma preocupação utilitária, afastando a ideia de
funâmbulo, cênico e, portanto, inútil (MARINHO, 1980).

Um dos principais ginásios próprios para a prática da ginástica também


foi idealizado por ele. Construído pelo rei da França, Luís XVIII, este teve
em Amoros seu diretor civil e militar. Com isso, este espaço passou a
ser considerado oficial “de divulgação de um modelo de treinamento do
corpo e da vontade: o lugar onde se aprende a fazer o correto uso das
forças físicas e morais” (SOARES, 1998, p. 36).

Com a necessidade de maior número de professores preparados para


dar aulas de ginástica, ocorre na França a inauguração da Escola
Joinville-le-Point (1852), que oferecia curso de ginástica para oficiais e
os preparavam para a prática nas escolas.
84 UNIUBE

O status científico dado à ginástica vem junto com à sua massificação e


prestígio por estar ligada ao ensino das ciências médicas. Com estudos
aprofundados em anatomia, fisiologia e análise do movimento humano,
a ginástica passa a receber olhares respeitosos e de interesses de novos
pesquisadores, como salienta Soares (1998, p.86):
o corpo torna-se cada vez mais objeto de estudos e
cuidados. Multiplicando-se as pesquisas sobre o
movimento e sua utilização na vida cotidiana e,
particularmente, no mundo do trabalho. Os estudos
no campo da Fisiologia avançam e permitem análises
mais precisas sobre o esforço, a fadiga e a repetição de
gestos do trabalhador.

As contribuições científicas vêm com o fisiologista e pedagogo


Georges Demeny (1850-1917), pois desde Amoros não era admissível
qualquer forma empírica de prática de exercícios. Era fotógrafo, mas
adepto da prática de exercícios físicos. Fundou em 1903, em Paris, o
CSEP (Tribunal Superior de Educação Física), que era um espaço de
treinamento e de medicina esportiva (DODO; REIS, 2014).

Como positivista, previa a Educação Física como “o conjunto de meios


destinados a ensinar ao homem executar um trabalho mecânico qualquer,
com a maior economia possível no gasto de força muscular” (SOARES,
2001, p. 65).

Após minuciosos estudos, Demeny destacou que os efeitos dos


exercícios produzidos no organismo dependiam da intensidade e duração
das contrações musculares, da quantidade de trabalho produzido dentro
de um tempo determinado, da localização das contrações musculares e
sua repercussão sobre a nossa moral (MARINHO, 1980).

Fazia severas críticas ao método sueco e propunha bases mais ecléticas


para a ginástica, como movimentos completos, arredondados e contínuos,
e com a máxima economia de forças.
UNIUBE 85

Defendia em seu trabalho movimentos elegantes, tanto que foi um dos


primeiros a propor uma ginástica para a mulher utilizando a música
(RAMOS, 1982).

Outro nome que dá sustentação à estruturação do método francês é


Georges Hébert (1875- 1957), esportista com experiência em exercícios
com os fuzileiros navais. Pregava que o avanço da tecnologia levava o
homem a se afastar da natureza e com isso este reduzia sua virilidade.
Propôs o método natural e para tal defendia 8 grupos de exercícios
distintos como: trepar, levantar, lançar, natação, marcha, defesa natural
(boxe ou luta), corrida, salto (AZEVEDO, 1960).

A aula de ginástica no método francês era dividida em 3 partes:

Parte preparatória

Parte
propriamente dita

Parte final ou
volta à calma

Vejamos cada uma delas:

1) Parte preparatória (2/10 do total) – envolvia evoluções e flexionamentos


dos braços, pernas e tronco, combinados e assimétricos, e exercícios
para a caixa toráxica.
2) Parte propriamente dita (7/10) – atendia aos movimentos da natureza,
chamada de 7 famílias, a saber: marchar, trepar, saltar, levantar e
transportar, correr, lançar, atacar e defender um ou dois jogos.
3) Parte final ou volta à Calma – (1/10) – eram propostos exercícios
respiratórios, marchas com cantos e exercícios de ordem.
86 UNIUBE

Uma das características específicas do método francês foi o tempo


das aulas de acordo com a faixa etária. Assim, era proposto o seguinte
(Quadro 3):

Quadro 3: Características do método francês em relação ao tempo das aulas e faixa etária
dos alunos

Tempo das aulas Faixa etária

1 12 a 20 minutos para dois primeiros graus do ciclo elementar (4 a 9 anos)

2 20 a 25 minutos para o 3o grau do ciclo elementar ( 9 a 11 anos)

3 25 a 30 minutos para o 4o grau do ciclo elementar (11 a 13 anos)

4 30 a 45 minutos para o ciclo secundário (13 a 16 anos)

5 45 minutos para o ciclo superior (mais de 18 anos)

6 30 minutos indivíduos poupados

7 30 a 45 minutos para os normais

Fonte: Marinho (1958).

Os indivíduos poupados são todos aqueles que apresentam algum tipo


de deficiência ou debilidade.

Este método teve grande repercussão no Brasil, tanto que em 1929


foi incluído nas escolas brasileiras, além de servir como base para as
propostas pedagógicas de aulas de Educação Física nas instituições
brasileiras no período republicano (RESENDE; SOARES; MOURA,
2009).
UNIUBE 87

Observe no Quadro 4, a seguir, uma síntese das escolas europeias.

Quadro 4: Síntese das escolas europeias

Síntese das escolas europeias

Contexto Paradigma Metodologia Inovações /Tendências

Ginástica Guerras Militar Jogos e Inserção do jogo como


alemã: Napoleônicas: (Jahn: exercícios de meio de educação (Guts
acender invasão 1778-1852) correr, saltar, Muts). Turnen (Jahn)
o espírito francesa na arremessar, era fortalecimento
público, a Prússia (1806). lutar. físico e mental para
serviço da Entre 1808-09, Aparatos libertação da terra natal.
nação. esteve sob como barras Jahn (com sua legião)
domínio e varas para torna-se herói nacional.
francês. Em suspensão e Elaboração dos ginásios
1813, Guerra arremesso. para atividades físicas:
da Libertação no começo, sem apoio
da terra natal. do governo: criação
de uma federação de
todas as sociedades
ginásticas alemãs.

Ginástica Perda de parte Militar e Exercícios Introduz ginástica e


sueca: do território médico- em partes natação ao currículo
Ginástica (Finlândia) na científico: corporais das escolas (!804).
da guerra contra rigorosos específicas: Em 1813, é fundado
“vontade”, a Rússia (entre estudos de Ginástica pelo rei o Real Instituto
da 1805-15) anatomia e Pedagógica Central de Ginástica
capacidade fisiologia. (controle de (Ling foi diretor durante
de suportar (Ling: si), Militar 25 anos). Manual de
esforços. 1776-1839) (controle ginástica e esgrima é
do outro), adotado oficialmente
Médica pelo exército sueco em
(corretiva) 1838. “Psicologização”
e Estética do corpo.
(corpo/alma)
88 UNIUBE

Ginástica Guerra franco- Militar Utiliza Sob o domínio da igreja no


Francesa: prussiana entre Amoros aros, séc. XIX, a educação não
vigor 1870-71: a (1770-1848) escada e via interesse pedagógico
físico dos França perde a e Demeny cordas, na ginástica, que ficou
soldados. guerra para a (1850-1917). máquina restrita aos militares.
Prússia. 15mil Este último, de testar Amoros cria, apoiado pelo
membros das depois da forças e governo, o Ginásio Normal
sociedades guerra, foi trapézio. Militar e Civil de Ginástica
ginásticas extremamente O sistema e torna-se seu primeiro
alemãs científico. foi diretor em 1820. Em
apresentam- adotado 1834, ele cria seu próprio
se ao exército. na escola ginásio, por desavenças
(apoio estatal) e no com o governo. Após 1848
exército (Revolução Liberal), declina
por alguns o interesse pela ginástica
anos. na França. Mais tarde,
com o apoio do Ministro
da Guerra, foi fundada a
Escola Joinville-le-Pont
em 1852 (só para oficiais).
Só em 1871 o interesse
pela ginástica renasce.

Movimento Revoluções Burguês Esporte Até o século XVII, o


Esportivo inglesas Pierre de como esporte era aristocrata:
Inglês no século Coubertin promoção futebol, caça e tiro. Em
XVII deram (1863-1937) da 1832, a classe média
à Inglaterra liderança, começa e reivindicar
um regime lealdade, privilégios educacionais.
parlamentarista jogar Em 1876 foi introduzida a
estável. com o obrigatoriedade escolar.
Durante este espírito de Coubertin ministra seu
período, houve iniciativa, método desde a década de
um grande prontos 80. O movimento esportivo
desenvolvimento para o inglês formou bons chefes
comercial, espírito de empreendimentos
culminando com capitalista. e oficiais nas Escolas
o liberalismo Públicas e, a partir de
econômico no 1904, o método sueco
século XVIII e passa a ser adotado na
formação de escola primária, educando
vasto império operários e soldados.
colonial.
UNIUBE 89

Os métodos até agora relatados tiveram grande repercussão em seus


países de origem e foram se expandindo para além da Europa, como é
o caso do Brasil.

Todos tiveram inserção na escola, porém a partir do início do século XX


surgem outras propostas que têm como foco a população adulta e a
feminina como é o caso da Calistenia e da ginástica feminina moderna.

3.4 Calistenia

Diferentemente dos métodos anteriormente apresentados, a Calistenia


surge como um método ginástico dentro da área da Educação Física,
uma vez que seu aparecimento é posterior.

Apesar de já, na Grécia Antiga, existir exercícios com o objetivo de ganho


de força com o propósito de ter um corpo esbelto atendendo aos valores
vigentes na sociedade e ideais de educação da época, é neste período
que a Calistenia se estrutura.

A gênese da palavra já suscita a intenção desta proposta, pois, de origem


grega, Kallstenés significa “cheio de vigor”, kallos belo e sthenos força.
Assim, a meta neste método é proporcionar saúde por meio de exercícios
de força e com a utilização do próprio corpo.

O método calistênico moderno se estruturou em 1785, com Christian


Carl André, na Alemanha, que integrou a prática desses exercícios à
Educação Física em dias em que as atividades não poderiam ser
realizadas ao ar livre.

Esta proposta estava alicerçada no oferecimento de uma série de


movimentos e posições com o objetivo de ensinar o que se denominou
na época boas atitudes e boa postura.
90 UNIUBE

Anos depois, em 1829 foi elaborado um livro por um professor de


ginástica suíço chamado Clias, o qual propunha exercícios ritmados
e sem aparatos manuais, dedicados quase que exclusivamente às
mulheres.

SAIBA MAIS

A partir da criação do livro Kallisthenie – Exercises for Beauty and Strength,


por Clias, ocorreu, no meio profissional, a distinção entre ginástica e
Calistenia. A ginástica se referia à prática de atividades oriundas das escolas
alemã, sueca e dinamarquesa e com uso ou não de aparelhos, enquanto
que a Calistenia estava relacionada exclusivamente a exercícios praticados
sem aparelhos, denominados exercícios livres.

A base do método calistênico era fisiológica, com o objetivo de proporcionar


saúde e bem-estar para a sociedade, mas também com fins pedagógicos
e corretivos. Como informado, apesar de ter sido aplicada inicialmente
nas escolas, foi nas associações e clubes no início do século XX que
a Calistenia se difundiu, em especial na ACM (Associação Cristã de
Moços), sendo principalmente praticada por adultos.

Portanto, a disseminação da Calistenia ocorreu nos Estados Unidos,


inicialmente por meio de um professor alemão de ginástica chamado
Adolph Spiess, um dos adeptos do método alemão, e, posteriormente,
com um norte-americano, de origem sueca, chamado Skarstrom. Este
último idealizou o método denominado calistenia, apresentando o Plano
Skarstrom, o qual propunha sempre exercícios com música tanto para
homens como para mulheres e sem distinção de idade, com a finalidade
de exercitar o corpo para desenvolver a graça feminina e a elegância
masculina, por meio da combinação de exercícios simples com arte,
música e beleza.
UNIUBE 91

Este fato é consequência da proposta vigente da época de propor para a


população adulta um bem-estar físico e mental para que o corpo pudesse
estar sadio e atender às exigências da força de trabalho nas indústrias,
que eram as grandes propulsoras da economia capitalista.

Com a proposta, o método calistênico deveria ser dedicado ao homem


gordo, fraco, enfermo, aos jovens e às mulheres de todas as idades,
ou seja, todas as classes que mais necessitavam de treinamento físico
(MARINHO, 1980)

SAIBA MAIS

Uma das principais características da Calistenia era a utilização da música


para acompanhar a execução dos exercícios, estimular o movimento,
entusiasmar os alunos, evitar a monotonia e definir o ritmo dos exercícios.
Inicialmente havia a figura de um pianista no local da prática tocando piano
ao vivo e posteriormente com a evolução tecnológica passaram a ser
utilizadas outras formas de mídia eletrônica.

Observe a Figura 9:

Figura 9: Aula de Calistenia.


Fonte: Acervo Uniube.
92 UNIUBE

As aulas de Calistenia eram constituídas por oito partes, cujas finalidades


variavam em função do segmento corporal a ser exercitado analiticamente:
braços e pernas; região póstero-superior do tronco; região póstero-inferior
do tronco; região lateral do tronco; exercícios de equilíbrio; região abdominal;
exercícios sufocantes (corridas e saltos) e exercícios gerais de ombro e
espáduas (sedantes). Esse esquema de aula foi proposto por Wood, que
se diferencia do esquema proposto por Skarstrom na troca de ordem entre
o sétimo e o oitavo grupo de exercícios (MARINHO, 1980).

No método calistênico, a figura do professor era essencial, pois era dele


a responsabilidade do êxito da aula. Ele não era só um instrutor, mas
um educador, uma vez que contribuía para a formação humana a partir
da ginástica, que passou a ser um ramo da área da Educação Física
(AZEVEDO, 1960). O professor deveria propor variações nas aulas,
evitando a rotina e estimulando aspectos psicológicos. Observe a Figura 10:

Figura 10: Uniformes escolares do início do século XX.


Fonte: Acervo Uniube.

Uma outra característica estava relacionada ao uniforme, que deveria ser


branco (Figura 14), pois transmitia a ideia de higiene, que era a premissa
da época. Se caso os uniformes fossem coloridos, eles poderiam esconder
a sujeira e, consequentemente, os alunos não teriam o cuidado com as
questões da limpeza (PEREIRA, s/d).
UNIUBE 93

3.5 Ginástica feminina moderna

Nos séculos XVII e XVIII, para a mulher não era permitido estar inserida em
atividades consideradas rudes, sendo direcionadas à prática da dança, do
canto e aprendizado de instrumentos musicais (VIGARELLO, 2008)

Esta realidade reforçava o esteriótipo de que a mulher era frágil e não


poderia participar de atividades esportivas, as quais eram essencialmente
masculinas, imperando a sociedade patriarcal em todas as instâncias.

Em razão destes princípios, a prática de esportes para o sexo feminino,


que já era uma característica deste período histórico, passou a ser
desenvolvida com extremo cuidado, pois tanto a delicadeza dos gestos
como a harmonia e graça dos movimentos deveriam ser preservados
(BEGOSSI; MAZO, 2015).

SAIBA MAIS

A harmonia e a graça dos movimentos femininos, assim como o fortalecimento


dos membros inferiores, eram uma premissa, pois as mulheres até então
tinham como função cuidar da família, garantir a procriação e, como tal,
deveriam estar preparadas para um bom parto.

Apesar destas restrições, a sociedade passava por diferentes mudanças,


desde a urbanização, aliada à industrialização e aos avanços tecnológicos,
exigindo uma nova configuração tanto feminina como masculina.

As transformações sociais imprimiram na sociedade do início do século


XX uma reorganização de suas relações sociais, bem como de seus
sistemas simbólicos, repercutindo no campo das práticas corporais, tanto
que os objetivos para ambos os sexos foram muito bem definidos, como
afirmam Begossi e Mazo (2015, p. 308):
94 UNIUBE

Para os homens, estimulava-se o desenvolvimento da


musculatura e a construção de uma escultura física
corporal. Já, para as mulheres, era direcionado um
trabalho de resistência que permitisse a esbeltez, que
embelezasse a cintura e trabalhasse a flexibilidade, pois
o objetivo era conservar as linhas corporais. Para isso,
recomendavam-se os exercícios de cultura física que
objetivavam, antes do emagrecimento, o não engordar,
diminuindo a camada adiposa.

Neste contexto surge a Ginástica feminina moderna, estruturada durante


a escola nova e progressiva. Científica, pedagógica e didaticamente
organizada, reunia competências essenciais para o momento histórico
de sua criação por oferecer inúmeras possibilidades e, entre outras,
socialização, expressão corporal e criatividade, garantindo a graça, a
beleza e a feminilidade, aliadas ao direito da mulher praticar esporte.

Este método gímnico era constituído de exercícios físicos utilitários,


expressivos, estéticos e nitidamente femininos que deveriam atender aos
aspectos biológicos (exercitação funcional), psicológicos (aperfeiçoamento
da figura ou estrutura que realiza o exercício), espirituais (valores morais),
estéticos (harmonia e beleza), rítmicos (ritmo natural ou educado) e sociais
(trabalho grupal criativo) (GUÉRIOS, 1974). Os objetivos presentes nesta
proposta eram:

1. Propiciar a
2. Favorecer meios
aquisição, o
para a expressividade
desenvolvimento ou 3. Ajudar na formação
corporal (desinibição),
a melhoria do sentido da personalidade.
criatividade e
rítmico, espacial
socialização.
e de equilíbrio.
UNIUBE 95

Ela recebeu influências de pensadores e dançarinos, como Rudolf Bode


(considerado o pai da ginástica rítmica), Isadora Duncan, Ernst Idla,
Jaques-Dalcroze – com sua rítmica, Rudolf Laban, Mary Wigman, Hilma
Jalkanen e Heinrich Medau, este último introduziu os aparelhos (hoje,
em competições são utilizadas bolas, arcos, cordas, fitas e maças) na
modalidade que até então era realizada somente com as mãos livres.

Esta ginástica tem regras predeterminadas que consideram a coreografia


e a técnica corporal e proporcionam às praticantes o desenvolvimento
da coordenação motora e do ritmo. Caracteriza-se por movimentos
harmônicos, dançantes e sutilmente acrobáticos, com os aparelhos,
tornando-se praticamente uma extensão do corpo da ginasta. Hoje, sua
execução pode ser acompanhada por música cantada e instrumental.
Anteriormente, só era permitido o acompanhamento de música
instrumental realizado a partir de um só instrumento: o piano.

Em 1951, o nome Ginástica moderna foi reconhecido oficialmente e


foi criada a primeira Federação de Ginástica moderna do mundo. Após
a II Guerra Mundial, os graus de dificuldade de um movimento foram
determinados a partir das tabelas de dificuldades de Ernst Idla.

SAIBA MAIS

Em 1962, a Ginástica moderna foi reconhecida como um esporte pela


Federação Internacional de Ginástica (FIG). O nome da modalidade foi
alterado três vezes: Ginástica Rítmica Moderna, em 1973; Ginástica Rítmica
Desportiva, em 1977; e Ginástica Rítmica, em 1998, quando entra nas
Olimpíadas.

A Ginástica Rítmica foi introduzida no Brasil, na década de 1950, na


cidade do Rio de Janeiro, pela professora húngara Ilona Peuker, que
ministrou cursos de especialização para profissionais de todo o país.
96 UNIUBE

Em 1969, o MEC já promovia os Jogos Escolares Brasileiros, tendo


como uma das modalidades competitivas a Ginástica Rítmica. Tais jogos
foram fundamentais para a consolidação deste esporte no Brasil, que
vem alcançando excelentes resultados em campeonatos internacionais,
como os Jogos Panamericanos e Olímpicos.

SAIBA MAIS

As atletas do Brasil conquistam medalha de ouro devido à atuação na


ginástica rítmica nas fitas nos Jogos Panamericanos de 2015, em Toronto,
Canadá. Para visualizar a atuação das meninas, acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=ob_5VYB5FH4

3.6 Considerações finais

Ao longo da história da humanidade, as formas de atividade física em


todas as dimensões foram surgindo em diferentes momentos, sendo
que nas últimas décadas do século XVIII e, principalmente durante o
século XIX, a Educação Física se sistematiza e se identifica como área
de conhecimento.

Ao mesmo tempo os sistemas ginásticos contribuem para que esta


solificação ocorra e seja disseminada pelo mundo. É importante salientar
que este processo foi acompanhado de mudanças políticas, econômicas
e sociais, além das influências pedagógicas dos pensadores da época.
UNIUBE 97

Resumo

Neste capítulo foi possível ratificar que a ginástica se desenvolveu e se


estruturou em diferentes momentos históricos da humanidade. A partir do
século XIX, houve a sistematização da ginástica por meio das Escolas
Ginásticas Europeias, as quais nos ajudaram a entender como a ginástica
que conhecemos hoje se constituiu. Há indícios de que o período de 1800
a 1900 é considerado como marco do surgimento das quatro escolas:
inglesa, alemã, francesa e nórdica (ou sueca).

Estes sistemas ginásticos tinham intenções similares, como regenerar


a raça, promover a saúde, desenvolver a coragem, a vontade, a força e
a energia de viver. Paralelo a isso, pretendia-se o desenvolvimento da
moral, por meio dos exercícios, bem como o incremento da disciplina
dos executantes.

Posteriormente, surge uma nova proposta – a Calistenia, destinada a


garantir a saúde de adultos, assim como houve também uma ginástica
exclusiva para as mulheres definida como Ginástica feminina moderna,
que mais tarde foi identificada como Ginástica rítmica.

Referências
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destinadas às mulheres. Cinergis, Florianópolis, v. 16, n. 4, p. 306-311, 2015.

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a década de 70. 2002. 173 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Faculdade
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e sem excessos (Brasil, França, 1900-1930). Revista Brasileira de Ciências
do Esporte, Porto Alegre, v. 37, n. 2, p. 144-150, 2015.

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higienista no Brasil do século XX. Revista Brasileira de Ciências do Esporte,
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do sistema infantil e feminino. São Paulo: Editora da USP. 1974.

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Capítulo A ginástica de hoje
4

Regina Simões

Introdução
Com a estruturação da área de conhecimento Educação Física
em meados do século XIX, a disseminação das escolas ginásticas
pelo mundo e o renascimento dos Jogos Olímpicos, em 1896,
intensifica-se a especialização, o treinamento atlético rigoroso e
a elaboração de leis e políticas esportivas e, consequentemente,
a ginástica acompanha este movimento e estruturando-se para
além da escola.

Ao mesmo tempo, o fenômeno da mídia, como jornais, revistas


e televisão, prolifera a função higiênica de manter a saúde da
população e, aliado a este propósito, surge mais um adjetivo: a
estética, uma vez que os valores estéticos sempre perpassaram
as sociedades e são culturalmente e individualmente construídos
e reconstruídos.

Especialmente influenciados pelo poder imagético dos meios


de comunicação, que, entre outras questões, podem acarretar a
constituição de padrões relativos ao belo, definiu-se para aqueles
que atuavam profissionalmente na área da ginástica inveredar
pelas questões estéticas do corpo.
102 UNIUBE

Objetivos
Esperamos que, ao término dos estudos deste capítulo, você seja
capaz de:
• explicar como a ginástica estruturou-se no final do século IXI
e início do XX;
• demonstrar o universo da ginástica e seus diferentes campos
de atuação na atualidade;
• descrever as características dos diferentes tipos de ginástica

Esquema
4.1 A ginástica a partir do século XX
4.2 Os campos de atuação da ginástica e suas características
4.2.1 Ginástica de competição
4.2.2 Ginástica de condicionamento físico
4.2.3 Ginástica de demonstração
4.2.4 Ginástica de conscientização corporal
4.2.5 Ginástica fisioterápica
4.3 Elementos constitutivos da ginástica
4.4 Considerações finais

4.1 A ginástica a partir do século XX

O século XX é considerado por muitos como o maior em número de


alterações em diferentes níveis, pois foram inúmeros avanços tecnológicos,
conquistas da civilização e reviravoltas em relação ao poder e outras esferas.

Dentro dessa perspectiva, a ginástica ganha um novo viés, a dos movimentos


e ambientes específicos do “culto ao corpo”, ou seja, as “academias”. No
Brasil, consideramos as décadas de 1930 a 1960 como o primeiro momento
de atenção de atividades a esse ambiente. Destaca-se que havia duas
vertentes quanto ao tipo de estética citada pelas pioneiras da ginástica: a das
décadas de 30 e 40 direcionada à formação corporal relativa aos aspectos
formativos e corretivos e a do final da década de 40 e 50, com o equilíbrio
total do corpo com fins sociais (NOVAES, 2001).
UNIUBE 103

Os primeiros registros deste movimento datam de 1932, quando o Diretor


do Departamento de Educação Física da ACM (Associação Cristã de
Moços) de São Paulo sugeriu introduzir um programa diário de exercícios
ginásticos com o objetivo de atingir diversas idades, camadas sociais e
tipos físicos pelo rádio, que era o maior meio de comunicação da época
(GOMES, 1989).

SINTETIZANDO...

O programa denominado Escola Radiofônica de Saúde, Moral e Civismo – A


hora da ginástica, proposto pela Rádio Educativa Paulista, oferecia uma aula
em torno de 20 minutos às 06:45 da manhã e outra às 07:45. No intervalo,
que durava em torno de 12 minutos, eram introduzidas informações sobre
higiene, pensamentos, educação moral e cívica, sugestões de vestuário,
entre outras, que alicerçavam os princípios morais e sociais da época.

Até meados da década de sessenta do século passado, a ginástica pelo


rádio era a única forma de divulgação e execução para além da escola.
Este formato foi perdendo espaço com o surgimento de programas
televisivos que apresentavam, ao vivo, aulas de ginástica para a
população.

Pela TV Educativa, a profª Yara Vaz possuía diariamente dois horários


de aulas de ginástica, as quais eram executadas por boa parcela
da população. Esta ginástica era denominada ginástica estética e,
posteriormente, o nome foi alterado para ginástica localizada.

SAIBA MAIS

Na televisão, a professora Yara Vaz foi a pioneira. Ela começou a estrelar


um programa de ginástica rítmica em 1952 na TV Tupi, passou pela TV Rio
e pela TV Educativa. O seu programa era repetido em todas as emissoras,
por força de um decreto que as obrigava a ter uma atração educativa
(ANDRADE, 2000).
104 UNIUBE

Introduzidas na década de 60, as academias de ginástica entram no


modismo e, na década de 70, alcançam seu ápice pelos discursos
publicitários, como o “Mexa-se”, explorado pela Rede Globo, dando fim
ao clichê de que a prática de exercícios e esportes era direito apenas de
atletas (CARBINATTO, 2012).

Com o aparecimento de Kenneth Cooper, crescem as corridas ao ar


livre, que, posteriormente, foram trazidas para dentro das academias
com o desenvolvimento de esteiras elétricas com inúmeros recursos que
simulam até treinamentos intervalados.

SAIBA MAIS

Kenneth H. Cooper (Figura 1), nascido em 4 de março de 1931, Oklahoma


City, é médico e ex-coronel da Força Aérea de Oklahoma. Foi pioneiro
nos benefícios de fazer exercícios aeróbicos para manter e melhorar a
saúde. Foi autor do livro de 1968 Aeróbica, que enfatizou um sistema de
pontos para melhorar o sistema cardiovascular. Durante sua carreira na
Força Aérea, criou um teste simples (o teste de Cooper, originalmente a
distância percorrida em 12 minutos), que se correlacionava bem com o
conceito existente de VO2max e, assim, poderia ser usado para estabelecer
rapidamente o nível de aptidão física de um grande número de pessoas. Ele
deixou a Força Aérea em 1970, quando ele e sua esposa, Millie, mudaram-
se para Dallas para fundar o Cooper Aerobics Center.

Figura 1: Kenneth Cooper.


UNIUBE 105

As corridas ao ar livre, que ficaram esquecidas até a primeira década dos


anos 2000, têm na atualidade vários adeptos, inclusive com consultorias
presenciais e/ou on-line para este fim.

A ligação do conceito de bem-estar por meio dos exercícios físicos


evoluiu tanto que a própria Organização das Nações Unidas (ONU)
declarou o Esporte como Direito de Todos, sendo esse lema incorporado
na Constituição Brasileira de 1988.

No final da década de 80 e início da década de 90 do século passado, a


ginástica aeróbica, divulgada por Jane Fonda, com princípios calistênicos
e características básicas de desenvolvimento da resistência orgânica e
corporal, ganha inúmeros adeptos (NOBRE, 1999).

PESQUISANDO NA WEB

Em um site de busca da internet, digite “Em forma com Jane Fonda”.


Certamente você encontrará a capa do livro com este título, em que esta
atriz divulgou a ginástica aeróbica.

Você poderá acessá-lo também em:

https://www.custojusto.pt/lisboa/livros/livro-em-forma-com-jane-
fonda--21892994

Vale a pena conhecer!

Em 1985, o livro "A dança aeróbica", da professora americana Barbie


Allen, prometia perda de 500 calorias por hora, introduzindo no mercado
de trabalho uma nova fonte de renda para quem trabalhava com
ginástica.
106 UNIUBE

SAIBA MAIS

Jane Fonda inova para a época lançando um livro acompanhado de um


vídeo denominado “Workout”, o qual apresentava exercícios acompanhados
de música com a seguinte estrutura de aula: exercícios aeróbios, exercícios
para braços, pernas, tronco, abdominais e glúteos e, finalizando, com uma
parte de alongamento.

Nesse contexto, o crescimento do mundo das academias era cada vez


maior, sendo que a ginástica aeróbica foi a responsável pela invasão das
mulheres neste espaço.

A partir de 1940, estabelece-se no Brasil a academia de ginástica,


entendida de maneira eclética como uma entidade de condicionamento
físico, iniciação e prática esportiva de cunho privado. Porém, historicamente,
a conotação brasileira para o termo “academia” tem sido usada para
se referir a empreendimentos de ensino de ginástica, balé, danças,
musculação e halterofilismo, lutas, ioga, natação e atividades físicas
de um modo geral, além do sentido principal e tradicional de sociedade
ou agremiação de caráter científico, literário ou artístico (CAPINUSSU,
2006).

Logo, as academias de ginástica passam a incentivar e a receber as


pessoas não atendidas por clubes e prefeituras voltados ao esporte
mais competitivo e de alto rendimento, oferecendo-lhes orientações e
programas de exercícios com profissionais mais qualificados em três
fortes vertentes: grupo das atividades localizadas; grupo das atividades
aeróbicas e grupo das atividades corporais alternativas (NOVAES, 2001).
UNIUBE 107

Grupos das Grupos das Grupos das


atividades atividades atividades corporais
localizadas aeróbicas alternativas

No Brasil, a professora Lígia Azevedo, no Rio de Janeiro, implantou


em sua academia a nova modalidade, acrescentando, ao método Jane
Fonda, saltitos. A ginástica virou mania nacional, havendo inclusive
competição com regras definidas que incluíam exercícios obrigatórios nas
apresentações, como as flexões de braços, os abdominais e os chutes
altos (MURER, 2007).

Ao mesmo tempo, mantinham-se nas academias as propostas de


ginástica estética, que, posteriormente, recebeu o nome de ginástica
localizada com o objetivo de elucidar a resistência de determinados
grupos musculares.

No entanto, o excesso dos giros, saltos e saltitos característicos da


ginástica aeróbica e a falta de tênis à semelhança do que existe hoje com
alta tecnologia para amenizar impactos fizeram com que as contusões
ligamentares e microtraumatismos começassem a aparecer. Para
amenizar esse problema, surgiu a aeróbica de baixo impacto, substituindo
os saltitos por passadas mais suaves e pela manutenção de, pelo menos,
um pé de apoio no solo.

Além disso, veio a lambaeróbica, o aerodum e o street-dance com


mais liberdade de movimentos corporais e, também, de forma mais
informal, arrebanhando as pessoas que não se sentiam à vontade com
a complexidade que a ginástica aeróbica havia proporcionado.
108 UNIUBE

Mais tarde, em 1986, surge nos Estados Unidos o step, com a profa. Gim
Muller, que começou a utilizar o aparelho com o intuito de recuperar uma
lesão no joelho. Como percebeu a eficácia do trabalho e o pouco impacto
em relação às articulações, ela o incluiu nas academias (MALTA, 1998).

Neste mesmo período, Bob Anderson lança o livro “Alongue-se”, que foi
um marco para a implantação dos exercícios de alongamento na maioria
das aulas de ginástica ou da área da Educação Física.

PESQUISANDO NA WEB

Em um site de busca da internet, digite “Alongue-se” e, também, o nome


Bob Anderson. Certamente você encontrará a capa do livro com este título.
Você poderá acessá-lo também em:

https://www.saraiva.com.br/alongue-se-24-ed-2013-4866464.html

Vale a pena conhecer!

Paralelamente, no final da década de 90, surge no Brasil o sistema


Body Systems, que se caracteriza por aulas pré-coreografadas ou aulas
prontas, provocando um impacto significativo no mercado.

Com esse sistema, surgem as diversificações, como: Body Combat,


Body Attack, Body Balance, Body Pump, Body Step, Body Jam, RPM,
caracterizando mais um espaço de atuação profissional (FURTADO, 2009).

Ao adentrar ao século XXI, além da manutenção de vários tipos de


ginástica nas academias, surgem outros tipos de trabalhos que primariam
pela integração entre força, equilíbrio e flexibilidade e que propiciariam
condicionamento físico, saúde e equilíbrio mental.
UNIUBE 109

Com o propósito de atender a estes pressupostos, surge o método


Pilates, que até então era desenvolvido em estúdios próprios para tal
prática (MURER, 2007). Pilates é um método de condicionamento físico
que integra o equilíbrio corporal, ampliando a capacidade de movimentos
e aumentando o controle, a força, o equilíbrio muscular e a consciência
corporal. Pode ser realizado no solo ou em aparelhos específicos que
caracterizam o método.

Além deste, surgiram o jump ou minitrampolim, o spinning, a zumba, o


fitdance e mais recentemente os exercícios funcionais.

Pode-se afirmar que, se nos anos 70, a academia era um estabelecimento


simples, hoje cresce o número de "megas academias", oferecendo as
mais variadas atividades corporais. Uma espécie de "tem tudo" e uma
ótima fonte de renda.

Moraes (2018a) afirma que, ao aderirem a uma academia, os usuários


não desejam apenas a prática do exercício físico bem orientado,
buscam respeito e atenção em todos os aspectos e, para isso, aqueles
que os atendem necessitam ser capazes de manter uma boa relação
interpessoal e demonstrar comprometimento com o trabalho.

PARADA PARA REFLEXÃO

Para você, a academia de ginástica é um espaço de “venda” de produtos?

O que a sociedade espera deste espaço?

Fato é que o termo ginástica foi utilizado como referência a todo tipo
de exercício físico e seus objetivos variaram desde o utilitarismo, a
sobrevivência, as lutas armadas, a saúde e o desenvolvimento da moral,
da estética e da educação. Neste sentido, no transcorrer histórico das
sociedades, a sua prática deixou de ser restrita a pequenos e específicos
grupos e ampliou-se para a toda população.
110 UNIUBE

De forma geral, os discursos de sua aplicação e necessidade perpassam


os momentos históricos e, até hoje, apresentam quatro perspectivas: a do
utilitarismo, a da saúde, a da educação e da ginástica enquanto estética,
como sintetizado a seguir.

Utilitarismo Saúde Educação Estética

Como exemplo dos aspectos, temos:

• utilitarismo – sobrevivência; militarismo;


• saúde – higienização, vida ativa;
• educação – submissão, cidadania;
• estética – bem-estar, aparência.

4.2 Os campos de atuação da ginástica e suas características

Frente à diversidade de caminhos, formatos e abordagens dados à


ginástica, em 1881 percebeu-se a necessidade de uma federação que
a organizasse, surgindo, assim, a Federação Europeia de Ginástica.
Em 1921, com a inclusão dos Estados Unidos da América, passou a
denominar-se Federação Internacional de Ginástica (FIG).

A FIG organizou a participação da ginástica nos primeiros Jogos


Olímpicos (1896) e, desde então, preocupa-se em realizar campeonatos
mundiais e festivais para massificar e ampliar número de praticantes
dessa manifestação da cultura corporal.
UNIUBE 111

Atualmente, esta federação delimita as ginásticas de caráter competitivo


nas referidas modalidades, a saber: ginástica artística feminina e
masculina, ginástica rítmica, ginástica acrobática, ginástica de trampolim,
ginástica geral e ginástica aeróbica.

PESQUISANDO NA WEB

Você consegue identificar e compreender quais são as características


principais de cada uma das modalidades gímnicas citadas?

Para auxiliá-lo(a) na tarefa, acesse os sites:

www.ginasticas.com

www.cbginastica.com.br

www.fig-gymnastics.com

Quando se trata do conteúdo ginástica, várias são as atividades a ela


relacionada, seja no âmbito da escola, das academias, dos hospitais, das
empresas, das políticas públicas, entre outras, sendo essencial conhecer
cada uma delas e suas finalidades.

A ginástica pode ser desenvolvida em diferentes espaços, para diferentes


públicos e com a utilização ou não de materiais, sendo que o propósito
deste subitem é caracterizar as manifestações gímnicas.

Gaio (2006) utiliza a classificação entre as ginásticas segundo o seu formato


competitivo ou não competitivo. Nas primeiras, entram principalmente
aquelas que são representadas em grandes campeonatos mundiais
e olimpíadas e regulamentadas pela Federação Internacional de
Ginástica – FIG. Na segunda, aquelas em que o intuito é a prática para
a apreciação, condicionamento físico, terapêuticas, ou seja, sem vistas
ao primeiro lugar no pódio.
112 UNIUBE

Moreira (2008), em seu artigo sobre as atividades gímnicas na escola,


apresenta uma taxinomia, no qual aponta que as ginásticas podem ser
classificadas entre aquelas com aparelhos portáteis (ginástica rítmica,
por exemplo) ou fixos (ginástica artística, de trampolim, entre outros) e as
ginástica sem aparelhos (ginástica acrobática e aeróbica, por exemplo).

Atualmente, encontramos as ginásticas sendo subdivididas com particulares


olhares. O trabalho de Souza (1997) apresenta uma divisão em 5 campos
de atuação, como mostra a Figura 2:

GINÁSTICA

Condicionamento Consciência
Competição Demonstração Fisioterápica
físico corporal

Ginástica Artística Localizada Ginástica para Eutonia Redução Postural

(Masculina e Aeróbica todos Pilates Global (RPG)

Feminina) Body Sistem Antiginástica Isostretching

Ginástica Rítmica Treinamento Yoga Cinesioterapia

Ginástica Funcional Bioenergética

Acrobática Step Tai Chi Chuan

Trampolim Zumba

Ginástica Aeróbica

Ginástica Geral

Parkour

Figura 2: Campos de atuação da ginástica.


Fonte: Adaptado de: Souza (1997).

4.2.1 Ginástica de competição

A ginástica de competição reúne todas as modalidades competitivas, as


quais, em geral, vemos em eventos pela televisão, em campeonatos, como
os jogos panamericanos e jogos olímpicos, como a ginástica artística, a
rítmica, a acrobática, a aeróbica, a de trampolim, entre outras.
UNIUBE 113

A maioria recebeu influências das Escolas Ginásticas, surgidas no continente


Europeu no século XIX, e sistematizou de formas diferentes, como
apresentado em capítulos anteriores.

Compõe este campo de atuação a ginástica artística feminina e masculina, a


ginástica rítmica, a ginástica acrobática, a ginástica de trampolim, a ginástica
para todos e a ginástica aeróbica.

4.2.1.1 Ginástica artística

Considerada uma das mais antigas, pois, desde Friedrich Ludwig


Jahn em 1811, já havia registros desta modalidade, sendo praticada
inicialmente somente por homens.

Primeiramente identificada com o nome de ginástica olímpica, no ano de


1985, passa a ser denominada ginástica artística, para acompanhar a
nomenclatura mundial, como também pela inclusão de outras ginásticas,
como a rítmica e o trampolim acrobático nos jogos olímpicos, portanto
não era mais a única ginástica de caráter olímpico (NUNOMURA;
NISTA-PICCOLO, 2004).

SAIBA MAIS

Para visualizar algumas imagens dos aparelhos de Jahn na Alemanha,


sugerimos que acesse o artigo “A História da Ginástica Artística no Mundo”,
disponibilizado no site Casal Travinha Esportes.

http://travinha.com.br/2010/02/12/ginastica-artistica-a-origem/

Ela se caracteriza por um conjunto de exercícios corporais sistematizados,


aplicados com fins competitivos em que se conjugam a força, a agilidade
e a elasticidade. O termo ginástica origina-se do grego gymnádzein, que
significa “treinar” e, em sentido literal, “exercitar-se nu”, a forma como os
gregos praticavam os exercícios.
114 UNIUBE

No ano de 1896 torna-se uma modalidade olímpica e em 1928 as mulheres


têm permissão para participar dos jogos. O uso de aparelhos, da forma
como atualmente conhecemos, data da década de 50 do século XX.

Nas competições masculinas, há a utilização de seis tipos de aparelhos,


a saber: solo, argolas, barra fixa, cavalo com alças, paralelas simétricas
e cavalo.

1. Solo: tablado de 12mx12m, com 1m a mais de cada lado para


segurança do atleta (Figura 2). É feito de material elástico que amortece
eventuais quedas e ajuda em relação ao impulso dos saltos.

Figura 2: Competição em solo.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.

A série deve ser coreografada, utilizando todos os espaços do tablado. É


necessário explorar todas as direções e combinar elementos acrobáticos
(parada de mãos, flicks) e ginásticos (avião, giros). A parada de mãos é
também conhecida popularmente como “plantar bananeira”, caracterizada
pelo equilíbrio invertido com o apoio das mãos no solo e elevação das
pernas.

2. Argolas – aparelho composto de duas argolas suspensas a 5,50m de


altura e a 2,55 m do colchão de aterrisagem. As argolas, com diâmetro
interno de 18 cm e de empunhadura de 28mm, ficam distantes 50 cm
uma da outra.
UNIUBE 115

O trabalho nas argolas (Figura 3) caracteriza-se pela suspensão e apoio


de braços de forma normal ou invertida, compreendendo movimentos de
balanço, força e movimentos a serem mantidos (exercícios estáticos de
força), distribuídos em igual proporção.

Figura 3: Execuções nas argolas.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.
116 UNIUBE

3. Barra fixa: composta por uma barra de aço polido de 28mm de diâmetro
para empunhadura, distante 2,55m dos colchões de aterrissagem, com dois
postes de sustentação que ficam 2,40m de distância um do outro. Observe
as Figuras 4 e 5:

Figura 4: Barra fixa.


Fonte: Acervo Uniube.

Figura 5: Execução em barras.


Fonte: Getty Images – Uniube.
UNIUBE 117

Neste aparelho, os exercícios são executados sem interrupção e são


essenciais os balanços em suspensão, giros gigantes em torno da barra
e elementos com fase de voo, ou seja, largar e retomar a barra e variar
as empunhaduras, visando explorar todas as possibilidades do aparelho
de forma dinâmica.

4. Cavalo com alças – aparelho coberto com couro e com duas alças
de madeira de 12 cm de altura e 34 cm de diâmetro, colocadas na
parte superior do cavalo a uma distância de 40 a 45 cm uma da outra
(Figura 6). A altura é de 1,05m do colchão de aterrissagem e as duas
outras extremidades do cavalo são chamadas pescoço e garupa e a sua
extensão é de 1,60m.

Figura 6: Cavalo com Alças.


Fonte: Getty Images – Uniube.

Na execução da série (Figura 7), todo o aparelho deve ser percorrido com
as mãos em várias posições, podendo explorar as invertidas, seja em
contato com as alças ou não. São essenciais os movimentos pendulares,
conhecidos como tesoura e circulares ou volteios com pernas unidas ou
alternadas de forma dinâmica e sem interrupção.
118 UNIUBE

Figura 7: Execução masculina no cavalo com alças.


Fonte: Getty Images – Uniube.

5. Paralelas simétricas: caracteriza-se por possuir duas barras ou


barrotes de 3,50m de comprimento, colocadas paralelamente a uma altura
de 1,75m dos colchões de aterrissagem. Em média, o afastamento entre
os barrotes é de 42cm a 52cm, tendo como diâmetro de empunhadura
41 x 51mm. Observe a Figura 8:

Figura 8: Paralelas simétricas.


Fonte: Getty Images – Uniube.
UNIUBE 119

Inicialmente, o intuito era desenvolver os braços, porém, ao longo dos


tempos, foi possível identificar vários elementos, entre eles, o balanço
e o voo executados com continuidade e intercalados com posições de
equilíbrio, força e agilidade, explorando exercícios de suspensão e de
apoio (Figura 9).

Figura 9: Execução nas paralelas simétricas.


Fonte: Getty Images – Uniube.

6. Salto sobre o cavalo: antes de tocar o aparelho, em geral há um


trampolim, com o objetivo de auxiliar a impulsão. O cavalo, que também
atualmente é conhecido como mesa de saltos, é usado no sentido
longitudinal, com altura de 1,25 a 1,35m, 95cm de largura por 1,20 m de
comprimento.

A superfície de contato deve ser tocada por ambas as mãos durante o


salto, sendo que o material da mesa é antiderrapante, oferecendo maior
segurança ao saltador.

PESQUISANDO NA WEB

Para saber mais acerca desses aparelhos, sugerimos que acesse o artigo
“Aparelhos e provas masculinas”, disponível no site Birafitness. Para isso,
acesse:

http://www.birafitness.com/ginastica_olimpica/aparelhos_masc.htm
120 UNIUBE

Já as competições femininas possuem quatro aparelhos, a saber:

1. Solo: como no masculino, é executado em um tablado de 12m x 12m,


com 1m a mais de cada lado para segurança do atleta. É feito de material
elástico que amortece eventuais quedas e ajuda em relação ao impulso
dos saltos (Figura 9).

Figura 9: Execuções solo feminino.


Fonte: Getty Images – Uniube.

A série deve ser coreografada, utilizando todos os espaços do tablado. É


necessário explorar todas as direções e combinar elementos acrobáticos
(parada de mãos, rolamentos, saltos) e ginásticos (avião, giros),
acompanhados de música, que deve ser instrumental.

2. Salto sobre a mesa: semelhante ao aparelho masculino, após a


Olimpíada de 2000 em Sidney, o cavalo sofreu uma transformação
anatômica em função do aumento da complexidade dos exercícios, sendo
que foi alterado para 1,20x090 e altura de 1,25 do solo, tendo como
característica a repulsão de ambas as mãos sobre a mesa. Observe a
Figura 10:
UNIUBE 121

Figura 10: Salto sobre a mesa.


Fonte: Getty Images – EAD-Uniube.

PESQUISANDO NA WEB

Convidamos você para assistir a apresentações de Salto sobre a Mesa,


da atleta brasileira Daniela Hypolyto, no Word Cup de São Paulo de 2016.
Acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=yYLqFPgWEeo

3. Paralelas assimétricas: caracteriza-se por ter duas barras dispostas


em alturas diferentes e paralelas, com distância de aproximadamente
1,60m, sendo que a mais baixa está a 1,65 m do solo e a mais alta, a
2,45m ( Figura 11).

Figura 11: Execuções em paralelas assimétricas.


Fonte: Getty Images – Uniube.
122 UNIUBE

Como as barras estão em alturas diferentes e ao mesmo tempo


paralelas, elas possibilitam uma série de variações de movimentos, como
a passagem de um varal a outro, a mudança de empunhaduras de modo
a explorar tanto os elementos com giro no eixo longitudinal (piruetas),
como os transversais (mortais). Além disso, a ginasta pode se apoiar no
varal (barras) apenas com as mãos, com os pés, sentar ou apoiar-se com
qualquer parte do corpo.

4. Trave de equilíbrio: é uma superfície de madeira forrada com espuma


e coberta com couro ou vinal com apenas 10 cm de largura, 5m de
comprimento e a uma altura de 1,25 cm do solo. A ginasta deve percorrer
toda a extensão e execultar elementos acrobáticos, como cambalhotas
e paradas de mãos, saltos, giros e equilíbrios (Figura 12).

Figura 12: Execuções em trave de equilíbrio.


Fonte: Getty Images – Uniube.

EXPERIMENTANDO

Você seria capaz de elaborar uma série de cinco movimentos diferentes,


misturando movimentos como saltos, giros e equilíbrios com rolamentos
para frente e para trás e estrela?
UNIUBE 123

PESQUISANDO NA WEB

A ginástica artística, por ser competitiva, tem um sistema de avaliação


definido como Código de Pontos ou Código de Pontuação proposto pela
Federação Internacional de Ginástica – FIG. É nele que se baseiam os
praticantes da modalidade, assim como os árbitros ou todos aqueles
envolvidos com o esporte.

Procure saber mais sobre isso em:

http://www.yashi.com.br/documentos/2017/codigo_traduzido_2017-2020-
atualizado-27.04.17.pdf

4.2.1.2 Ginástica rítmica

A ginástica rítmica utiliza aparelhos portáteis como arco, bola, corda, fita
e maças (Figura 12), apresentados em séries individuais e/ou de conjunto
composto por cinco ginastas. Entretanto, há competições masculinas,
mas estas ainda não são oficializadas pela FIG.

Figura 12: Aparelhos da ginástica rítmica.


124 UNIUBE

A ginástica rítmica recebeu influências da escola sueca e também de


nomes ligados a artes e à dança, como Noverre (movimentos naturais –
a arte de expressar-se), Delsarte (essência do movimento expressivo),
Rudolf Laban, Isadora Duncan (expressividade e composição coreográfica),
Dalcroze (características musicais e rítmicas), Rudolf Bode (ginástica
expressiva e moderna – elementos da dança, teatro, música e o uso
dos aparelhos bastões, bolas e tambores) e Heinrich Medau (uso dos
aparelhos como bola, corda, maças e arco) (OLIVEIRA; NUNOMURA,
2012).

Observe a Figura 13.

Figura 13: Alguns aparelhos da ginástica rítmica.


Fonte: Getty Images – EAD-Uniube.

Na ginástica rítmica, os movimentos do corpo combinam com a manipulação


dos aparelhos, além de serem permitidos elementos pré-acrobáticos, como
os rolamentos (DARIDO; OLIVEIRA, 2007). Observe na Figura 14:

Figura 14: Treino de ginástica rítmica.


Fonte: Getty Images – Uniube.
UNIUBE 125

EXPERIMENTANDO

Os aparelhos específicos da ginástica rítmica podem ser adaptados, como


é o caso das maças, em seu lugar, podem ser utilizados os pinos de boliche
ou garrafas plásticas de 600 ml com areia. Já a fita pode ser confeccionada
da seguinte forma: pode-se usar uma haste de madeira de 50 cm, com um
gancho de segurar chaves rosqueado em uma das extreminades. Este deve
prender, na haste, uma fita de cetim de 5 a 6 m de comprimento por 4 a 6
cm de largura. A extremidade que será presa ao gancho deve ser dobrada
e, nela, colocada um ilhose e um alfinete de gancho.

4.2.1.3 Ginástica aeróbica

A ginástica aeróbica, como forma competitiva, esteve em alta na década de


80 do século XX, a partir das propostas de condicionamento cardiovascular
idealizadas por Kenneth Cooper (MATTOS, 2009).

SAIBA MAIS

O médico do exército americano, Dr. Kenneth H. Cooper, propôs em 1968 para


as forças armadas uma avaliação para verificar o nível de condicionamento
físico. Esta proposta denominada “Teste de 12 minutos” consistia em percorrer
a distância de 3.200m nesse tempo para garantir boa forma.

A característica marcante é a execução de padrões de movimentos


aeróbios complexos, ou seja, combinação simultânea de passos básicos
com movimentos de braços, realizados de forma contínua e em alta
intensidade, acompanhando uma música.
126 UNIUBE

PESQUISANDO NA WEB

Sugerimos que procure, em sites de busca como YouTube, apresentações


da ginástica aeróbica. Veja, no endereço a seguir, a apresentação masculina
do Brasil, em 2000, na Olimpíada de Sidney.

https://www.youtube.com/watch?v=_UFzFWNQYgo

A coreografia, realizada tanto por homens como por mulheres, dura 1


minuto e 45 segundos e deve explorar a flexibilidade, a força, a agilidade
e o equilíbrio. Deve-se partir da execução de sete passos básicos
marcha, jogging (corrida), chutinho, chute, polichinelo, elevações de
joelho, lunge (afundo) e quatro elementos de dificuldade, que são força
dinâmica (flexões de braços, cortadas, círculos de pernas), força estática
(esquadros, pranchas), saltos (grupado, afastado, carpado, cortado e
tesoura) e flexibilidade e equilíbrio (espacatos, giros, pegadas), além de
elevações, transições e ligações entre um movimento e outro.

4.2.1.4 Ginástica acrobática

De origem asiática e grega e solidificada na Idade Média tanto nos


palácios como nos feudos, foi sendo incorporada nos espetáculos
circenses ao longo do tempo (GALLARDO; AZEVEDO, 2007).

A ginástica acrobástica constitui-se de exercícios de agilidade, força,


coordenação, flexibilidade e equilíbrio, como também de movimentos de
solo da ginástica artística. As coreografias são executados em duplas,
trios ou quartetos, separados por gêneros ou mistos, com a apresentação
em solo de exercícios de equilíbrios estáticos e acrobacias, como mortais.

A ginástica acrobática (GACRO) foi transformada em esporte competitivo


em 1973 e requer acompanhamento musical em sincronia com os
movimentos e expressões do corpo (MERIDA, 2009).
UNIUBE 127

Observe a Figura 15:

Figura 15: Execuções de ginástica acrobática.


Fonte: Getty Images – Uniube.

Uma das características da ginástica acrobática é a execução das


“pirâmides humanas”, que são formadas pelos atletas figuras a partir
da utilização de elementos estáticos, dinâmicos ou com os dois. É
preciso confiança e cooperação para que seja garantida a segurança na
execução dos movimentos.

Observe a Figura 16, a seguir:

Figura 16: Variações de pirâmides.


Fonte: Acervo Uniube.
128 UNIUBE

Que tal reunir-se com um grupo de amigos e tentar fazer as pirâmides


humanas apresentadas?

PESQUISANDO NA WEB

Para você visualizar uma execução da ginástica acrobática, sugerimos que


faça uma pesquisa na internet em sites de busca, como YouTube.

Acesse o link a seguir, para ver destaques de grupos de mulheres na final


do Acrobat Worlds, em Antuérpia, na Bélgica, em 2018:

https://www.youtube.com/watch?v=TRm6oAlJzhI

4.2.1.5 Ginástica de trampolim

A base dessa ginástica é o circo, que já existia desde a era medieval


quando os saltimbancos, que eram os artistas circenses da época,
realizavam acrobacias sobre uma superfície elástica (BORTOLETO,
2010).

O trampolim acrobático, também conhecido como cama elástica, foi


idealizado na década de 30 do século XX, nos Estados Unidos. Em 1936,
ela foi transformada em esporte de competição e, em 2000, integrou os
jogos olímpicos.

Sua prática deve ser arrojada e harmoniosa, executada tanto individualmente,


como em duplas, por ambos os sexos. Os movimentos característicos são
os saltos grupado, carpado, afastado, os mortais duplos e quádruplos,
além de piruetas no ar com variações de movimentos de pernas e braços.

Além disto serve de apoio para a aprendizagem de exercícios aéreos


complexos, como saltos ornamentais e esqui (BROCHADO; BROCHADO,
2009). Desde a década de 70 do século passado, outras modalidades,
UNIUBE 129

como o duplo minitrampolim, o tumbling, além da roda ginástica, a ginástica


estética, o team gym, o rock in roll gymnastics, cheerleader e o volteio, foram
incluídas dentro da ginástica de trampolim (OLIVEIRA; NUNOMURA, 2012).

PESQUISANDO NA WEB

Para você visualizar uma execução da ginástica de trampolim, sugerimos


que faça uma pesquisa na internet, em sites de busca como YouTube.

Acesse o link a seguir, para ver o ginasta Dong Dong, que ganhou ouro no
trampolim nas Olimpíadas de Londres 2012.

https://www.youtube.com/watch?v=doDA3zT_V-o

4.2.1.6 Ginástica para todos

A ginástica para todos, denominada antes de 2006 ginástica geral, é a


única vinculada à FIG, que não tem competição propriamente dita, mas
festivais, em que há apresentações coreográficas de ginástica (base
gímnica) com influências também de outras manifestações da cultura
corporal, tais quais as danças e lutas, e com a utilização de aparelhos
diversificados tanto oficiais como alternativos.

PESQUISANDO NA WEB

Para você visualizar uma execução da ginástica para todos ou ginástica


geral, sugerimos que faça uma pesquisa na internet, em sites de busca
como YouTube.

Acesse o link a seguir, para ver a apresentação do Brasil no Gymnaestrada,


em 2011.

O Gymnaestrada é um grande festival que acontece de 4 em 4 anos, desde


1953, sendo sediado, geralmente, por diferentes países europeus.
130 UNIUBE

https://www.youtube.com/watch?v=rgfTrutUROc

Acesse o link a seguir, para ver a apresentação do SESC de Piracicaba,


em 2015.

https://www.youtube.com/watch?v=30IplC72T24

A ginástica geral se apropria de elementos acrobáticos e corporais, além


de explorar o espaço em diferentes formações e utilizar materiais diversos,
como o caso do paraquedas visualizado neste vídeo. Além disso, pode ser
aplicada a diferentes faixas etárias, como mostra o próximo vídeo.

https://www.youtube.com/watch?v=IyaHaAcOlgo

A ginástica para todos compreende um variedade de movimentos e se


fundamenta nas ginásticas artística, rítmica, acrobática e de trampolim,
além de explorar atividades livres e criativas, objetivando o lazer saudável
e bem-estar geral. Como não há limite quanto à sua prática, pode ser
aplicada a todas as faixas etárias.

4.2.1.7 Parkour

Criado na década de 80 do século XX, na França, o parkour tem suas


origens no método francês, mas somente em 2018 foi incluído como
esporte na FIG. É uma forma de treinamento, com o propósito de permitir
ao indivíduo ultrapassar, com manobras e de forma rápida, eficiente
e segura, quaisquer obstáculos, utilizando somente as habilidades e
capacidades do corpo humano. O espaço ideal para esta prática é a
paisagem urbana.
UNIUBE 131

PARADA OBRIGATÓRIA

O Parcours, em francês, percurso (Figura 17) visa deslocar-se de um ponto


a outro de modo rápido e direto, sem desviar de obstáculos, como muros,
vãos ou carros.

Figura 17: Parkour.


Fonte: Acervo Uniube.

AGORA É A SUA VEZ

Voce se lembra de ter vivenciado alguma dessas práticas gímnicas durante


sua passagem pelo Ensino Fundamental e Médio?

Se sim, como foi esta experiência?

4.2.2 Ginástica de condicionamento físico

Em geral, são as mais conhecidas, pois estão na maioria das academias.


Englobam todas as modalidades que têm por objetivo a aquisição ou
a manutenção das diferentes capacidades físicas (força, flexibilidade,
resistência, coordenação, equilíbrio e velocidade).
132 UNIUBE

Estão relacionadas à aquisição ou a manutenção do condicionamento


físico, das funções orgânicas e, consequentemente, preservação
da saúde, tanto do indivíduo normal e/ou atleta. Como exemplo,
podemos citar a localizada, aeróbica, body sistems, treinamento funcional,
musculação, step, entre outras.

A seguir, veja algumas características das ginásticas que compõem este


campo de atuação.

4.2.2.1 Ginástica localizada

O auge desta ginástica (Figura 18) ocorreu nos anos 90 do século XX.
A origem vem do método calistênico e da, até então, chamada ginástica
estética, cujo propósito estava associado à busca de um corpo belo e magro.

Figura 18: Ginástica localizada.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.

O objetivo é aumentar a força e a flexibilidade com movimentos repetidos


e com a utilização do peso do corpo, acompanhados de música. Em
geral, a aula se inicia com movimentos combinados de pernas e braços,
em seguida, com exercícios para pernas, abdômem, glúteo e uma parte
final, que visa baixar a frequência cardíaca (COSTA, 1999).

A variedade de movimentos é simples e caracteriza-se por um número


elevado de repetições de grupos musculares distintos, geralmente sem
uso de equipamentos.
UNIUBE 133

Na atualidade, há outras denominações para esta proposta, como


também a utilização de halteres nos membros superiores e inferiores e/
ou barras com anilhas.

4.2.2.2 Ginástica aeróbica

Presente nas academias no final dos anos 80 e no início dos anos 90


do século XX, a ginástica aeróbica (Figura 19) teve como pressuposto
o método proposto por Cooper. Este método estimulava a prática de
exercícios aeróbios com vistas a melhorar a aptidão cardiorrespiratória e
reduzir a gordura corporal e, consequentemente, diminuir riscos de doenças
cardiovasculares, dislipidemia, obesidade, diabetes, hipertensão e outras
(PRESTES; ASSUMPÇÃO, 2010).

Figura 19: Ginástica aeróbica.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.
134 UNIUBE

A disseminação da ginástica aeróbica nas academias foi grande por ser


uma prática que visa a um alto gasto calórico por meio de movimentos
rápidos e ritmados, proporcionando a oxigenação das células musculares
e, portanto, sendo extremamente eficiente para perda de peso e
tonificação dos músculos.

Paralela a este movimento, havia a dança aeróbica, que aliava movimentos


para o treinamento cardiovascular de caráter calistênico com passos
de dança, utilizando de forma mais dinâmica a música (PRESTES;
ASSUMPÇÃO, 2010).

4.2.2.3 Musculação

A musculação (exercícios resistidos) é uma das práticas mais recomendadas


para quem deseja melhorar a hipertrofia e a definição muscular ou mesmo
desenvolver a força muscular (Figura 20). É uma forma de exercício
em que se realizam os treinamentos contra uma resistência. Além de
deixar o corpo forte e saudável, pode também aprimorar a eficiência
cardíaca e promover um efeito estético atrativo nos corpos dos indivíduos
(MOREIRA, 2014).

Figura 20: Musculação.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.
UNIUBE 135

No entanto, a musculação deve ser bem orientada para evitar riscos


aos seus praticantes. Em média, uma série de musculação dura
aproximadamente de 30 minutos a 1h e 30 min. Kraemer, Fleck e Evans
(1996) apontam que volumes, que variam entre quatro e seis séries de
oito a 20 repetições, com pausas de dois a três minutos entre séries,
e intensidades de 60% a 85% de uma repetição máxima (1RM), são
frequentemente apresentados.

4.2.2.4 Step

A aula de step (Figura 21) se caracteriza por utilizar uma plataforma


geralmente de madeira ou plástico rígido, a qual possui alturas variadas
que contribuem para o no aumento do nível de aptidão física, queima de
gordura e melhor capacidade aeróbia (MOREIRA, 2014).

Figura 21: Step.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.

A aula é coreografada e pode ocorrer em cima de tal plataforma ou no


chão. Possui uma variedade de movimentos de membros superiores
além dos inferiores, com duração aproximada de 30 a 60 minutos.

Olson et al. (1996) dizem que a aula de step tomou-se uma modalidade
de exercício aeróbico amplamente praticado pelas mulheres.
136 UNIUBE

4.2.2.5 Jump

A modalidade de jump (Figura 22) caracteriza-se como uma aula


de condicionamento cardiovascular, baseada na utilização de um
minitrampolim com duração aproximada de 30 a 50 minutos.

Figura 22: Jump.


Fonte: Getty Images – Acervo EAD-Uniube.

As aulas podem ser pré-coreografadas ou serem feitas com passos


aleatórios, tendo como objetivo a melhora da resistência cardiorrespiratória,
fortalecimento dos membros inferiores e glúteos, redução da gordura
corporal, podendo ajudar no combate à celulite, baixar os níveis depressão
arterial e melhorar a coordenação motora (CONTI, 2001).

4.2.2.6 Laboral

A ginástica laboral (Figura 23) foi originariamente desenvolvida no Japão


e relaciona-se com o trabalho, uma vez que a raiz etimológica da palavra
labor é sinômimo de trabalho (OLIVEIRA, 2007).

Figura 23: Ginástica laboral.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.
UNIUBE 137

Caracteriza-se por uma série de exercícios físicos realizados de forma


coletiva no ambiente de trabalho, no horário de trabalho ou no ambiente
doméstico, com o objetivo de melhorar a saúde e evitar lesões dos
funcionários por esforço repetitivo e algumas doenças ocupacionais
(LIMA, 2004).

A base da ginástica laboral constitui-se em alongamentos de diversas


partes do corpo, definidos de acordo com a função de cada trabalhador.
Esses alongamentos utilizam força, flexibilidade e coordenação motora
com objetivos profiláticos, e não estéticos, ou seja, de relaxar e alongar
os músculos que são usados repetitivamente todos os dias. Além disso,
pretende melhorar o relacionamento interpessoal e possíveis dores
corporais (MENDES, 2000).

Em geral, as atividades da ginástica laboral são desenvolvidas três


vezes por semana em torno de 10 a 15 minutos e com baixa intensidade.
Essa ginástica pode ser preparatória, compensatória, para relaxamento,
manutenção, correção postural ou terapêutica.

4.2.2.7 Treinamento funcional

A modalidade de treinamento funcional vem sendo uma tendência por


se constituir de exercícios globais que objetivam o desenvolvimento da
propriocepção e, sobretudo, o fortalecimento dos músculos estabilizados
(ARRIECHE, 2010).

Trentine (2010) completa que o treinamento funcional (Figura 24) possibilita


uma preparação para a execução de movimentos mais eficientes e a
prevenção de lesões, tornando o corpo mais inteligente nesse processo.
Esse treinamento torna acessível a qualquer indivíduo as estratégias de
condicionamento usadas pelos melhores atletas do mundo.
138 UNIUBE

Figura 24: Treinamento funcional.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.

O treinamento funcional (Figura 24) pode ainda proporcionar ganho de


força e de massa muscular, perda de peso, aprimoramento da postura e,
ainda, desenvolve de forma equilibrada todas as capacidades físicas, como
equilíbrio, força, velocidade, coordenação, flexibilidade e resistência. Seu
tempo pode variar entre 60 minutos e 1hora e 30 minutos.

4.2.3 Ginástica de demonstração

A característica principal da ginástica de demonstração é a não competitividade,


tendo como função principal a interação social e formação integral do
indivíduo nos seus aspectos motor, cognitivo, afetivo e social e o resgate
às questões culturais.
UNIUBE 139

Tem como representante a ginástica para todos (GPT), antiga ginástica geral
(GG). A GPT engloba todas as modalidades gímnicas com e sem aparelhos
e elementos corporais, desde que tenha somente caráter demonstrativo.

O propósito é estimular o prazer pela prática, integrar as pessoas e estimular


a criatividade aliadas ao resgate da cultura, ao número indefinido de
participantes, à liberdade quanto à utilização de roupas e aparelhos
oficiais (bola, arco, barras) ou alternativos (jornal, garrafão de água,
espaguete, paraquedas), diversidade musical, proporcionado inclusão de
pessoas, independentemente do sexo, idade e nível de condicionamento
e conhecimento da ginástica. (AYOUB, 2003).

Os princípios básicos da GPT são identificados pelos 4 F’s, que se referem


às seguintes palavras inglesas: fun (fundamentos ginásticos, divertimento);
friendship (amizade ou companheirismo) e fitness (condicionamento físico) e
se orienta para o lazer, desenvolvendo diferentes vertentes da vida humana,
entre elas, a da saúde, as condições físicas e a interação social (SIMÕES,
CARBINATTO, 2016).

PESQUISANDO NA WEB

Para poder compreender melhor a ginástica de demonstração, sugerimos


que assista aos vídeos a seguir.

Primeiro vídeo: Grupo Ginástico Unicamp [GGU] – VIII Fórum Internacional


de Ginástica Para Todos (Brasil, Campinas, 2016):

https://www.youtube.com/watch?v=16h0C-OhARY&t=11sAlA

Segundo vídeo: Grupo Ginástico Unicamp – Gotas – VI Forum Internacion


de Ginástica Geral (Brasil, Campinas, 2012).

https://www.youtube.com/watch?v=QvnQOpm_EzU

Terceiro vídeo: Zurcaroh Acrobatic Group / FIG Gala Helsinki – World


Gymnaestrada (Áustria, 2015).

https://www.youtube.com/watch?v=6cXXulNKh9E
140 UNIUBE

4.2.4 Ginástica de conscientização corporal

A ginástica de conscientização corporal reúne as técnicas alternativas ou


ginásticas suaves, sendo a maioria dos trabalhos voltados para solução
de problemas físicos e posturais.

No Brasil, este tipo de ginástica foi inserida na década de 70, com base
em práticas milenares como yoga e tai chi chuan (BARBOSA-RINALDI,
2010). Fazem parte dela a eutonia, o método feldenkrais, a bioenergética
e a antiginástica, entre outras.

A seguir algumas das possibilidades deste campo de atuação da ginástica


de conscientização corporal.

4.2.4.1 Yoga

A yoga (Figura 25) é uma modalidade de ginástica que procura desenvolver


o equilíbrio emocional do indivíduo por meio da execução de posturas,
respirações e meditações, entre outras atividades.

Figura 25: Yoga.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.
UNIUBE 141

Seu tempo de duração pode variar em média 30 minutos a 1hora e 30


minutos, sendo considerada por alguns autores como uma espécie de
ginástica. Vem de uma antiga filosofia oriental que busca unir as funções
psíquicas e físico-orgânicas do ser humano, integrando os sistemas
fisiológicos e a mente.

Segundo Allegro (2004), as técnicas do yoga se dividem em ásana (postura),


pranayama (respiração controlada), yoganidra, que vem a ser o relaxamento
e a meditação considerada por muitos a parte principal da prática.

4.2.4.2 Pilates

A modalidade pilates (Figura 26) é uma das mais procuradas nas academias
atualmente. Possui como principais objetivos a melhora da consistência
corporal por meio de um sistema completo de exercícios sistematizados que
promovem o aumento da flexibilidade e o fortalecimento muscular, a partir
do centro de força, ou seja, a região abdominal (TRENTINE, 2010).

Figura 26: Pilates.


Fonte: Getty Images – Acervo Uniube.

O tempo de duração do pilates, em média, é de aproximadamente 60


minutos. Trentine (2010) ressalta também que o método pilates utiliza a
força do próprio corpo e equipamentos construídos a partir das necessidades
dos alunos.
142 UNIUBE

O método se destaca pela originalidade de seus conceitos e princípios,


sendo considerado por especialistas e praticantes como uma das mais
eficientes formas de trabalho para o corpo.

4.2.4.3 Eutonia

A eutonia é uma técnica de consciência corporal, criada pela alemã Gerda


Alexander. Ela tem por objetivo o autoconhecimento e o desenvolvimento
do senso de percepção, por meio do conhecimento das possibilidades de
funcionamento do corpo, de padrões habituais de postura, de movimento,
de modo de distribuição das tensões, de alinhamento e/ou desvios do
eixo físico (MAEDA; MARTINEZ; NEDER, 2006).

Propõe-se a traçar um caminho a partir da experimentação e da observação


do corpo com vistas a orientar a construção de um centro de equilíbrio,
para que o indivíduo possa ter a possibilidade de se relacionar melhor
consigo mesmo e com o mundo.

4.2.4.4 Antiginástica

A antiginástica, difundida por Thérèse Bertherat, tem como meta ser uma
prática corporal que busca autoconhecimento do corpo e o entendimento
de que várias partes diferentes se conectam.

Para ela, muitos males que nos assolam vêm do excesso de tensão, de
encurtamentos e de contrações das cadeias musculares, em especial da
região posterior do corpo.

Este tipo de ginástica surge nos anos 70 do século XX. Considerando o


seu propósito, o nome antiginástica era uma espécie de antagonismo ao
que era proposto na época na área da ginástica.
UNIUBE 143

O método da antiginástica também busca reconhecer e despertar áreas


que estão adormecidas, que perderam mobilidade ou sensibilidade, com
o objetivo final de aumentar o bem-estar, ou seja, harmonizar e equilibrar
os movimentos e o funcionamento do corpo. Na proposta de aula são
utilizadas bolinhas de tênis, bambu, bolas, colchões, entre outros.

PESQUISANDO NA WEB

Para compreender mais sobre a antiginástica, convidamos você para assistir


ao vídeo do link a seguir, em que Thérèse Bertherat demonstra a realização
de alguns exercícios.

https://www.youtube.com/watch?v=bYFOSCyKl-4

Vale a pena assistir!

4.2.5 Ginástica fisioterápica

A ginástica fisioterápica é responsável pela utilização do exercício físico


na prevenção ou tratamento de doenças. Entre elas, podemos citar
isostretching, reeducação postural global, cinesioterapia, entre outras.
Em sua maioria, são mais utilizadas pela área da Fisioterapia.

Essas modalidades possuem grande vínculo com o caráter médico que


a ginástica ganhou a partir do século XIX. Também podem ter relações
com as técnicas orientais, como afirma Fiorin (2002).

Você consegue relacionar o aparecimento das modalidades


gímnicas com momentos históricos marcantes no Brasil e no
mundo?

Como podemos constatar é fato que há uma diversidade de conteúdos


a serem abordados pelo docente universitário que ministra a disciplina
de ginástica no nível superior de ensino, ou seja, aqueles que devem
preparar o futuro profissional para sua atuação.
144 UNIUBE

Na atualidade, a ginástica está dividida em várias modalidades, caracterizadas


pelos diferentes períodos e contextos sociais, econômicos, políticos
e epistemológicos, que são definidos pela sociedade na qual estão
inseridos.

Se por um lado os métodos/escolas originaram a ginástica, vimos que


seu universo foi se ampliando e os objetivos que, inicialmente, eram de
preservação da saúde, de condicionamento físico ou de utilitarismo, hoje
também contemplam aspectos estéticos e profiláticos.

Não podemos deixar de destacar que a indústria midiática favoreceu a


difusão da ginástica, assim como estimulou modismos, tanto em relação
às aulas, quanto a roupas, acessórios e aparelhos.

Um fato interessante é que a ginástica por ter uma ampla gama de opções
pode ser praticada por muitas pessoas, atletas ou não, estimulando
alegria, prazer e bem-estar para quem vivencia seus movimentos. Agora
fica a seguinte pergunta.

Onde a ginástica hoje acontece?

4.3 Elementos constitutivos da ginástica

Para o desenvolvimento de uma aula de ginástica, seja na escola, na


academia e ou em outros espaços, além das especificações dos campos
de atuação, é preciso definir os movimentos a serem implementados.

Souza (1997) define esses movimentos como elementos constitutivos


que podem ser encontrados em todas as ginásticas e que, portanto,
devem ser enfatizados na formação dos profissionais que irão trabalhar
na área, são eles (Figura 27):
UNIUBE 145

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA
GINÁSTICA

EXERCÍCIOS EXERCÍCIOS EXERCÍCIOS DE


CORPORAIS ACROBÁTICOS CONDICIONAMENTO

PASSOS
CORRIDAS ROTAÇÕES:
SALTOS no solo,
SALTITOS no ar,
PARA MELHORAR A:
GIROS em aparelhos
força, resistência,
EQUILÍBRIO APOIO:
flexibilidade, etc.
POSES no solo
EXERCÍCIOS
ONDAS em aparelhos
LOCALIZADOS
MARCAÇÕES RESERSÕES:
BALANCEAMENTOS no solo,
EXERCÍCIOS DE em aparelhos
CIRCUNDUÇÕES

COM APARELHOS
SEM APARELHOS
EM APARELHOS

Figura 27: Elementos constitutivos da ginástica.


Fonte: Adaptado de Souza (1997).

4.4 Considerações finais

A ginástica na atualidade é fruto dos pressupostos presentes nos métodos


ginásticos europeus do século 19. Sendo que, a partir do século XX, o
caráter competitivo passou a ter característica marcante, além do aspecto
estético e profilático com o aparecimento das academias de ginástica.

Este movimento deliberou vários campos de atuação para a área da ginástica


quer em âmbito competitivo ou não, além de estimular a participação de
todos com vistas à busca da qualidade de vida, uma vez que as condições
de vida e de trabalho eram insalubres, proporcionando riscos e danos para
a saúde da população.
146 UNIUBE

Concluímos que é essencial desmistificar a ginástica como prática para


elite ou para atletas, devemos pensá-la como uma atividade de possível
acesso a toda a população.

Resumo
Neste capítulo, vimos que a sistematização da ginástica contemporânea
se solidifica a partir da criação da Federação Internacional de Ginástica
– FIG e pela consolidação dos movimento ginástico europeu.

Foi possível identificar que, para além da escola, são vários os campos
de atuação, como Souza (1997) expõe. Vimos que a ginástica de
competição, como a ginástica artística, rítmica, acrobática, de trampolim,
para todos e aeróbica, caracterizam-se, da mesma forma que as de
condicionamento físico (localizada, aeróbica, step, laboral, entre outras).
Também foram compreendidas as especificações das chamadas ginástica
de conscientização corporal como o caso da eutonia e antiginástica e a
ginástica fisioterápica.

A ginástica de demonstração, identificada pela ginástica para todos, cujo


propósito é a integração, a criatividade sem o caráter competitivo, foi estudada
por se tratar de uma das tendências da ginástica na contemporaneidade,
assim como foi possível verificar que há algumas alternativas que não visam
somente ao aspecto estético, mas ao equilíbrio corporal e alívio de tensões.

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Capítulo Descrição de exercícios
5

Regina Simões
Sandra Nascimento

Introdução
A obtenção e a manutenção de uma boa condição física, psicológica
e social requer do ser humano, como uma das opções possíveis,
estar inserido em práticas de exercícios físicos.

Estes, entre outros objetivos, visam estimular as diferentes funções


do organismo, como os músculos, o sistema cardiovascular, o
sistema imunológico, melhorando a força, o tônus muscular, a
flexibilidade, o fortalecimento dos ossos e das articulações, além
dos aspectos preventivos, como as dislipidemias, por exemplo,
contribuindo para saúde e qualidade de vida.

O exercício físico, no âmbito psicológico, ajuda na regulação das


substâncias relacionadas ao sistema nervoso, melhora o fluxo
de sangue para o cérebro, ajuda na capacidade de lidar com
problemas e com o estresse. Além disso, auxilia na manutenção
da abstinência de drogas, na recuperação da autoestima e
no tratamento da depressão, como também contribui para a
manutenção da autonomia.

Um outro aspecto benéfico às pessoas inseridas em práticas


regulares de exercícios físicos é realizá-los em grupo, pois nesta
experiência há possibilidade de surgir novas amizades, ampliar o
152 UNIUBE

ciclo de contatos sociais e ter oportunidade de participar de eventos


de lazer ou de entretenimento. Com isso, é possível a redução
dos sintomas depressivos e da solidão e, consequentemente, o
aumento do convívio social (CASTELLANO, 2013).

Para que estes objetivos sejam atingidos, é preciso participar da


prática de exercícios físicos, os quais, devem ser desenvolvidos
por profissionais de Educação Física.

Estes profissionais devem ter o domínio de como elaborar e


transmitir estes exercícios, sendo este o foco deste capítulo.

Conforme expõe Moreira (2011), a condição física de cada


indivíduo é consequência das alterações morfológicas e funcionais
que ocorrem no organismo à medida que este é estimulado pela
prática de exercícios físicos. Desta forma, ao se elaborar uma
prescrição, é preciso estar atento ao propósito de cada indivíduo
para que sejam atendidas às especificidades de cada um.

A prescrição deverá ser individualizada para cada pessoa, porém


é preciso considerar os elementos essenciais, como a intensidade,
o volume e a frequência, temas que serão tratados posteriormente
em outras disciplinas.

Objetivos
Esperamos que, ao término dos estudos deste capítulo, você seja
capaz de:

• explicar os planos e eixos do corpo humano;


• orientar as posições iniciais dos exercícios;
• mostrar as possibilidades de movimento do corpo humano;
• orientar adequadamente a realização de exercícios físicos.
UNIUBE 153

Esquema
5.1 Os planos e eixos do corpo humano
5.2 Movimentos do corpo humano
5.3 Descrição de exercícios

5.1 Os planos e eixos do corpo humano

Você já deve ter tido contato com a disciplina de Anatomia e conhecido o


corpo humano e seus diferentes planos e eixos. Este material complementa
os seus estudos, pois não se difere do que foi estudado.

Uma orientação estrutural sobre o corpo humano compreende os planos


de orientação cardinal.

Os três planos cardinais, denominados sagital, frontal e horizontal,


correspondem às três dimensões do espaço, sendo cada plano perpendicular
aos outros dois. O ponto no qual os três planos cardinais se encontram no
corpo em posição anatômica é o centro de gravidade do corpo humano.

5.1.1 Planos

Vejamos os seguintes planos.

a) Plano Sagital – divide o corpo em partes esquerda e direita.


b) Plano Frontal – é o plano vertical que passa por meio do corpo
dividindo-o em partes anterior e posterior.
c) Plano Horizontal – divide o corpo em partes inferior e superior.

Estes planos, apesar de imaginários, são úteis na descrição dos movimentos


básicos. Os planos são sempre os mesmos, independentemente da
orientação do corpo em relação à terra. Deve-se, simplesmente, referir
à posição anatômica para a descrição de um movimento realizado em
um ou mais planos.
154 UNIUBE

5.1.2 Eixos

a) Eixo Transversal – atravessa o corpo de lado a lado.


b) Eixo Ântero-posterior – atravessa o corpo da frente para trás.
c) Eixo Longitudinal – atravessa o corpo de cima para baixo.

PESQUISANDO NA WEB

No site de José Vilaça Alves, você pode saber um pouco mais sobre essa
temática. Acesse:

https://strengthconditioningscience.blog/2017/02/27/entender-o-movimento-
humano-parte-i-articulacoes-planos-e-eixos-de-movimento-graus-de-
liberdade-e-movimentos/

Com uma linguagem didática e imagens claras, ele traz um resumo dessa
abordagem.

Vale a pena conferir!

5.2 Movimentos do corpo humano

5.2.1 Flexão e extensão

Flexão e extensão são movimentos encontrados em todas as articulações


sinoviais, ou seja, aquelas que são completamente móveis do corpo,
incluindo artelhos (dedos do pé), tornozelos, joelhos (pernas), quadril,
tronco, ombro, cotovelo (braços), punho e dedos.

A flexão (Figura 1) faz com que haja diminuição do ângulo relativo dos
segmentos, ou seja, ocorre aproximação dos segmentos.
UNIUBE 155

Já a extensão (Figura 2) faz com que haja aumento do ângulo relativo.

Figura 1: Movimento de flexão de punho. Figura 2: Movimento de flexão de punho.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube. Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

5.2.2 Movimentos de adução e abdução

Os movimentos de abdução (Figura 3) se referem ao afastamento da linha


média do corpo e só ocorrem nas articulações do quadril (afastamento
lateral das pernas) e do ombro (afastamento lateral dos braços).

Já o movimento de adução é contrário à abdução, ou seja, é o movimento


de aproximação da linha média do corpo (Figura 3).

Figura 3: Movimento de adução e abdução de ombro.


Fonte: Acervo Uniube.

Observe que se estender o braço ou a perna para cima não é adução,


e, sim, abdução.
156 UNIUBE

5.2.3 Movimentos de rotação interna e externa

As rotações (Figura 4) estão relacionadas ao movimento giratório em


torno do próprio osso. A referência é sempre a linha média do corpo e,
considerando isso, os segmentos, ao realizarem a rotação do tronco ou
da cabeça, fazem-na para a direita ou para a esquerda.

Já em relação aos outros segmentos, as rotações são internas quando


estiverem direcionadas para a linha média do corpo, enquanto serão
externas quando for o movimento contrário.

Figura 4: Movimento de rotação de tronco.

5.2.4 Circundução

O movimento de circundução (Figura 5) ocorre em um plano horizontal


e o eixo de movimento é o vertical.

Figura 5: Movimento de circundução de ombro.


Fonte: Acervo Uniube.
UNIUBE 157

A circundação é um movimento combinatório de adução, extensão,


abdução e flexão (Figura 4). A extremidade distal do segmento descreve
um círculo e o corpo do segmento, um cone, cujo vértice é representado
pela articulação que se movimenta. Este movimento é feito usando os
três eixos. Vale ressaltar que a circundução ocorre nas articulações do
quadril e ombro.

RELEMBRANDO

Você se lembra do que é distal?

Veja a comparação:

Proximal Distal

• afastado da raiz do
• próximo da raiz do
membro, longe do
membro, isto é, do
tronco ou do ponto de
tronco.
inserção.

E então? Conseguiu se lembrar?

5.3 Descrição de exercícios

Para melhor descrevermos um exercício, vamos dividi-lo em três etapas


distintas:

Posição inicial,

execução e

figuração.

Vejamos cada uma delas a seguir.


158 UNIUBE

5.3.1 Posição Inicial (PI) ou Posição de Partida (PP)

A posição inicial do exercício deve ser cuidadosamente escolhida e


estudada, pois determina:

1. a musculatura a ser trabalhada;


2. a localização precisa dos efeitos pretendidos sobre a musculatura que
se deseja trabalhar;
3. a intensidade do exercício, isto é, o grau de tensão muscular sob a
qual o movimento é realizado;
4. o grau de dificuldade com relação ao nível de equilíbrio.

Uma boa posição inicial favorece a estrutura e a técnica do movimento,


ajuda a determinar os seus planos e trajetórias, assim como permite obter
o máximo de benefícios que se quer alcançar ao construir o exercício.

A posição inicial é sempre estática e marca o início da execução do exercício.

Basicamente, existem dois tipos de posições iniciais: posições principais


e posições derivadas.

• As posições principais estão relacionadas com as posições que o ser


humano adota em sua atividade normal. São elas: em pé, ajoelhado,
sentado, decúbito, apoiado e suspenso.
• As posições derivadas são consequência da mudança de atitude
de algum segmento corporal em relação às posições principais,
sendo que as mais comuns são: em pé, deitada, ajoelhada, em apoio,
descritas a seguir.

5.3.1.1 Posição em pé

A posição em pé tem a base de sustentação muito pequena e o centro


de gravidade relativamente elevado. O estado de equilíbrio do corpo é
muito menos estável que qualquer outra posição principal.
UNIUBE 159

É muito pouco utilizada para se iniciar exercícios, empregando-se com


mais frequência as posições derivadas em que as atitudes dos membros
inferiores e superiores são modificadas.

Veja os exemplos a seguir.

• Primeiro exemplo: em pé, com as pernas em afastamento lateral


(Figura 6).

Figura 6: Posição em pé com as pernas afastadas.


Fonte: Acervo Uniube.

• Segundo exemplo: em pé, em afastamento ântero-posterior (Figura 7):

Figura 7: Em pé, em afastamento ântero-posterior.


Fonte: Acervo Uniube.
160 UNIUBE

• Terceiro exemplo: de cócoras (Figura 8):

Figura 8: Posição cócoras.


Fonte: Acervo Uniube.

5.3.1.2 Posição ajoelhada

Na posição ajoelhada, a base de sustentação torna-se maior em relação


à posição em pé, mas o indivíduo sente-se inseguro, porque o centro de
gravidade encontra-se muito na frente da base entre os joelhos.

É uma posição muito instável, incômoda, sendo pouco utilizada. Variando-


se as atitudes dos diversos segmentos corporais, pode-se conseguir boas
posições derivadas.

Observe os exemplos a seguir.

• Ajoelhado com uma das pernas e a outra perna flexionada ou


estendida à frente, à lateral ou atrás (Figura 9 e 10).

Figura 9: Primeiro exemplo. Figura 10: Segundo exemplo.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube. Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.
UNIUBE 161

• Ajoelhado sentado sobre os calcanhares (Figura 11 e 12).

Figura 11: Primeiro exemplo. Figura 12: Segundo exemplo.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube. Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

• Posição seis apoios (Figura 13).

Figura 13: Posição seis apoios.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube

5.3.1.3 Posição sentada

A base de sustentação é delimitada pela pelve e calcanhares, portanto é


bem maior que na posição principal em pé.

É bastante utilizada, podendo-se obter diversas posições derivadas. Veja


os exemplos a seguir.
162 UNIUBE

• Sentado com as pernas flexionadas e unidas ou afastadas (Figura 14).

Figura 14: Sentada com pernas flexionadas e afastadas.


Fonte: Acervo Uniube.

• Sentado com as pernas estendidas, unidas ou afastadas (Figura 15).

Figura 15: Sentados com as pernas estendidas e unidas.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.
UNIUBE 163

• Sentado com as pernas cruzadas (Figura 16):

Figura 16: Sentada com as pernas cruzadas.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

• Sentado com as pernas unidas, estendidas e elevadas e com apoio


dos antebraços (Figura 17):

Figura 17: Sentada com as pernas unidas, estendidas e elevadas e apoio


dos antebraços.

5.3.1.4 Posição decúbito (deitada)

A posição decúbito é muito estável devido à base de sustentação.


164 UNIUBE

Pode-se obter posições derivadas combinando-se as várias posições dos


membros superiores e/ou inferiores.

Vejamos os exemplos a seguir.

• Primeiro exemplo: decúbito ventral (Figura 18).

Figura 18: Decúbito ventral.


Fonte: Acervo Uniube.

• Segundo exemplo: decúbito lateral (Figura 19).

Figura 19: Decúbito lateral.


Fonte: Acervo Uniube.

• Terceiro exemplo: decúbito dorsal (Figura 20).

Figura 20: Decúbito dorsal.


Fonte: Acervo Uniube.
UNIUBE 165

5.3.1.5 Posição apoiado

Nessa posição, o corpo encontra-se apoiado quando a maior parte do


seu peso encontra-se acima do ponto de sustentação.

O corpo pode estar apoiado sobre um aparelho ou sobre o solo.

Sobre o aparelho, as posições variam de acordo com as características


de cada aparelho

Sobre o solo, temos os seguintes exemplos:

• Primeiro exemplo: em quatro apoios (Figura 21).

Figura 21: Em quatro apoios.


Fonte: Acervo Uniube.

• Segundo exemplo: em apoio de costas.

Figura 22: Apoio de costas.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.
166 UNIUBE

• Terceiro exemplo: em três apoios – determinar os apoios (Figura 23).

Figura 23: Em apoio.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

• Quarto exemplo: em apoio lateral (Figura 24).

Figura 24: Em apoio lateral.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.
UNIUBE 167

• Quinto exemplo: vela (apoio invertido sobre os ombros). Veja Figura


25 e 26:

Figura 25: Vela. Figura 26: Vela.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube. Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

5.3.1.6 Posição suspensa

O corpo encontra-se suspenso quando a maior parte do seu peso


encontra-se abaixo do ponto de sustentação.

Exemplos

A – alongada
B – carpada
C – invertida

Obs.: tanto na posição apoiada como na suspensa, poderemos utilizar


as seguintes empunhaduras: palmar, dorsal, mista, cubital.
168 UNIUBE

• Primeiro exemplo: alongada (Figura 27).

Figura 27: Posição suspensa alongada.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

• Segundo exemplo: carpada (Figura 28).

Figura 28: Carpada suspensa.


Fonte: Acervo Uniube.

SAIBA MAIS

Para ver uma série em que há salto carpado, veja a apresentação de


ginástica artística, de Flávia Saraiva, que obteve medalha de bronze, e de
Daniela Hipólito, que obteve o 5º lugar, no Pan Americano, de 2015, em
Toronto, Canadá. Acesse o link a seguir, no YouTube, disponibilizado por
Bruno e Wense Comunica:

https://www.youtube.com/watch?v=5EGKQlMktJE
UNIUBE 169

• Terceiro exemplo: invertida (Figura 29).

Figura 29: Invertida.


Fonte: Acervo Uniube.

PESQUISANDO NA WEB

Assista à apresentação da ginasta brasileira Flávia Saraiva nas Olimpíadas


do Rio, em 2016, disponibilizada por Elena Lang, no YouTube. Veja a série
de posição invertida em que a ginasta fica de cabeça para baixo:

https://www.youtube.com/watch?v=9jZ8r8-PPto

5.3.1.7 Variações das posições dos braços

São muitas as variações dos braços e ambos podem executar a mesma


posição ou um dos braços estar em uma posição e o outro em uma
diferente. As possibilidades são:

A – à vertical
B – à lateral
C – à frente
D – atrás
E – ao longo do corpo
F – em elevação oblíqua superior ou na diagonal alta
G – no prolongamento do corpo (quando em decúbito)
170 UNIUBE

Observe os exemplos a seguir.

• Variação das posições dos braços à vertical ou acima da cabeça


(Figura 30).

Figura 30: Braços estendidos na vertical e palmas das mãos unidas


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

• Variação das posições dos braços à lateral (Figura 31 e 32).

Figura 31: Primeiro exemplo.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.
UNIUBE 171

Figura 32: Segundo exemplo.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

• Variação das posições dos braços à frente (Figura 33).

Figura 33: Braços para frente, sobre o step.


Fonte: Gettty Images. Acervo Uniube.

Figura 34: Braços para frente.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.
172 UNIUBE

• Variação das posições dos braços atrás (Figura 35).

Figura 35: Braços atrás.


Fonte: Acervo Uniube.

• Variação das posições dos braços ao longo do corpo (Figura 36).

Figura 36: Braços ao longo do corpo.


Fonte: Acervo Uniube.
UNIUBE 173

• Variação das posições dos braços em elevação oblíqua superior ou


na diagonal alta (Figura 37).

Figura 37: Braços na vertical.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

• Variação das posições dos braços no prolongamento do corpo


(quando em decúbito). Observe a Figura 38.

Figura 38: Braços – prolongamento do corpo.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.
174 UNIUBE

5.3.1.8 Variações das mãos

Para além dos braços, é possível alterar a posição das mãos, a saber:

A – na nuca
B – nos ombros
C – nos quadris
D – entrelaçados
E – dadas
F – segurando nos punhos

Observe os exemplos a seguir.

• Primeiro exemplo: variação – mãos na nuca (Figura 39).

Figura 39: Mãos na nuca.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.
UNIUBE 175

• Segundo exemplo: variação – mãos nos ombros (Figura 40).

Figura 40: Mãos nos ombros.


Fonte: Acervo Uniube.

• Terceiro exemplo: variação – mãos nos quadris (Figura 41).

Figura 41: Mãos nos quadris.


Fonte: Acervo Uniube.
176 UNIUBE

• Quarto exemplo: variação – mãos entrelaçadas (Figura 42).

Figura 42: Mãos entrelaçadas.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

• Quinto exemplo: variação – mãos dadas (Figura 43 e 44).

Figura 43: Primeiro exemplo – mãos dadas.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

Figura 44: Segundo exemplo – mãos dadas.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.
UNIUBE 177

• Sexto exemplo: variação – mãos segurando os punhos (Figura 45).

Figura 45: Mãos segurando os punhos.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

5.3.2 Execução

A execução constitui-se no exercício propriamente dito. Inicia-se a partir


do primeiro movimento executado pelo corpo a partir da posição inicial
(estática).

Em geral, ela é definida a partir da contagem em 4 tempos (1, 2, 3 e 4)


ou múltiplos de 4, sendo que a cada movimento se define uma posição.

A execução é realizada em função dos seguintes fatores:

objetivo do movimento;

o tipo de contração muscular;

a técnica do movimento;

a amplitude do movimento;

a duração (repetições).
178 UNIUBE

O objetivo está relacionado ao que se pretende tanto de modo geral,


como estético, profilático, como em relação à especificidade das
capacidades, como força, resistência, flexibilidade e outras.

Quanto ao tipo de contração muscular, ela pode ser estática ou dinâmica,


associada à execução técnica, ou seja, a partir de uma execução sem utilizar
movimentos que não estão diretamente ligados ao objetivo pretendido.

É preciso, além disso, que a execução tenha uma boa amplitude articular
e que se defina o número de vezes que o exercício será repetido.

Para que o exercício tenha sequência, sempre a posição final, como


acabamento do exercício, deve ser igual à posição inicial.

5.3.3 Figuração

Para melhor entendimento dos exercícios, no momento da descrição


deles, deve-se acrescentar figuras elucidativas dos movimentos a serem
executados.

Também pode-se incluir, ao final da descrição teórica, o número de repetições


indicadas no momento da execução, como também os cuidados a serem
seguidos, além de outros itens, conforme se faça necessário.

Os exercícios ginásticos, em relação ao efeito que exercem sobre o


organismo, podem ser classificados, como exercícios de alongamento,
exercícios de descontração, exercícios de fortalecimento, exercícios de
resistência e exercícios de coordenação.

Para uma descrição adequada do exercício, a primeira definição é a


posição inicial (que sempre deve ser estática), que pode ser em pé,
ajoelhada, sentada, em decúbito, em apoio ou em suspensão, seguida
da posição das pernas, dos braços e/ou das mãos.
UNIUBE 179

Exemplo: em pé, com pernas estendidas em afastamento lateral e braços


ao longo do corpo.

Após a descrição da posição inicial, descreve-se a execução, que deve


ser por tempos, sendo que cada movimento se refere a um tempo, como
no exemplo.

Exemplos:

Tempo 1 – Flexionar as pernas (somente escreve-se o que alterou em


relação à posição inicial).
Tempo 2 – Elevar os braços acima da cabeça.
Tempo 3 – Flexionar o tronco à frente.
Tempo 4 – Voltar à posição inicial.

Resumo

Neste capítulo vimos que, para a descrição adequada de exercícios


físicos, além do conhecimento das possibilidades do movimento, é
necessário compreender quais posições podem ser utilizadas para
iniciar o movimento (em pé, ajoelhada, sentada, decúbito, apoiado
ou em suspensão). De posse deste conhecimento, mostramos que é
preciso definir como será a execução dos movimentos, que devem ser
descritos de acordo com cada um deve ser realizado e definido por tempo
numéricos de 4 ou múltiplos de 4. Finalmente, depois deve-se apresentar
o exercício em forma gráfica, ou seja, pela figuração.
180 UNIUBE

Referências

ALVES, José Vilaça. Entender o movimento humano. Disponível em: <https://


strengthconditioningscience.blog/2017/02/27/entender-o-movimento-humano-parte-i-
articulacoes-planos-e-eixos-de-movimento-graus-de-liberdade-e-movimentos/>.
Acesso em 06 jun. 2019.

CASTELLANO, S. A qualidade de vida autorreferida das mulheres de 40 a 59 anos


praticantes de ginástica em praças, parques e academias da cidade de Uberaba-
MG. 2013. 115f. Dissertação (Mestrado em Educação Física). Universidade Federal
do Triângulo Mineiro, 2013.

FUNDAMENTOS técnicos para elaborar exercícios ginásticos. Disponível em: ˂http://


will-educacaofisica.blogspot.com/2009/07/fundamentos-tecnicos-para-elaborar.html˃.
Acesso em 28 jan. 2019.

GETTY IMAGES. Disponível em: < https://www.gettyimages.com/>. Acesso em:


09 maio 2019.

HALL, S. Biomecanica básica. 7ª ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2016.

HAMILL J, KNUTZEN KM. Bases biomecânicas do movimento humano. São Paulo:


Editora Manole, 1999.

MELLO, P.R. B. Fundamentos técnicos para elaborar exercícios ginásticos. Revista


Sprint, n. 4, p. 27-37, 1983.

MOREIRA, C. Prescrição do exercício físico. Disponível em: ˂obesidade.info/


prescricaoaf.htm˃. Acesso em 15 dez. 2018.

SMITH LK, WEISS EL, LEHMKUHL LD. Cinesiologia Clínica de Brunnstrom.


São Paulo: Manole, 1997.

YOUTUBE. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=9jZ8r8-PPto>. Acesso


em: 09 maio 2019.
Capítulo Capacidades físicas e
6 habilidades motoras
na ginástica

Aline Dessupoio Chaves

Introdução
Para trabalharmos qualquer conteúdo da Ginástica, é necessário
entender todas as habilidades e capacidades físicas envolvidas e
assim definir o melhor método para desenvolvê-las.

Entendemos como capacidades físicas o conjunto de capacidades


individuais, orgânicas, musculares e neurológicas que interferem
na atividade motora, em especial na ginástica. Essas capacidades
são características passíveis de treinamento e essenciais para o
desenvolvimento das destrezas e de movimentos especializados.

À medida que envelhecemos, todas as capacidades físicas sofrem


um declínio, estabelecendo um quadro perfeito para diminuir o
rendimento e, principalmente, provocar quedas e lesões. Por
isso, essas capacidades deveriam ser treinadas ao longo da vida,
independentemente da condição de atleta ou de praticante de
algum exercício físico.

A habilidade física é uma forma de movimento específico, dependente


da experiência e da automatização resultante da repetição.

Segundo Magill (1984), as capacidades constituem a base de


todas as habilidades motoras, pois toda pessoa nasce com uma
182 UNIUBE

determinada quantidade de força ou flexibilidade, porém ninguém


nasce com habilidade para jogar futebol ou basquete, a habilidade
para tal necessita ser aprendida e desenvolvida.

As capacidades físicas e habilidades motoras são resistência,


força, velocidade, agilidade, equilíbrio, flexibilidade e coordenação
motora e podem ser classificadas como condicionais (força,
resistência, velocidade, flexibilidade e agilidade) e coordenativas
(coordenação motora, equilíbrio).

Objetivos
Após os estudos deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• conceituar cada capacidade física e habilidade motora;


• classificar as habilidades e capacidades em condicionantes
e/ou coordenativas;
• mostrar como as habilidades físicas podem ser desenvolvidas
por meio da ginástica;
• estimular as habilidades motoras a partir dos movimentos
ginásticos.

Esquema
6.1 Capacidades condicionais
6.1.1 Força
6.1.2 Resistência
6.1.3 Velocidade
6.1.4 Flexibilidade
6.1.5 Agilidade
6.2 Capacidades coordenativas
6.2.1 Coordenação motora
6.2.2 Equilíbrio
6.3 Conclusão
UNIUBE 183

6.1 Capacidades condicionais

As capacidades condicionais são aquelas que têm como fator limitante a


disponibilidade de energia e se baseiam na condição orgânica muscular
do ser humano, sendo assim, são determinadas pelos processos
energéticos e metabólicos – obtenção e transformação da energia. Por
isso, são condicionadas pela energia disponível nos músculos e pelos
mecanismos que lhes regulam a distribuição no sentido quantitativo.

6.1.1 Força

Força “é a capacidade de vencer ou resistir uma determinada resistência


através de uma contração muscular. Por meio dela é que conseguimos
levantar, saltar, etc.” (DANTAS, 2003; GALLAHUE; OZMON, 2005;
FERNANDES FILHO et. al., 2007 apud RAIOL, RAIOL, ARAÚJO, 2010, p.1).

Consideramos como força a capacidade física que permite deslocar um


objeto, o corpo de um parceiro ou o próprio corpo por meio da contração
dos músculos. Envolve a capacidade do sistema neuromuscular em
exercer uma tensão contra uma resistência, vencendo-a ou não.

Segundo Kraemer e Hakkinen (2004), força pode ser definida como


quantidade de tensão que um músculo ou grupamento muscular pode
gerar dentro de um padrão específico e com determinada velocidade de
movimento.

Em geral, a força tem um papel importante, pois qualquer movimento


executado exige certo nível de força muscular.

Para o desenvolvimento da força, é necessário levar em consideração a idade


(maturação sexual) e o sexo do indivíduo (mulheres – entre 16 e 30 anos e
homens – entre 20 e 32 anos). Além disso, necessita de um aquecimento
184 UNIUBE

prévio, envolvendo o grupo muscular, que será recrutado no exercício de


força, porém dosando o volume e a intensidade já que a fadiga prejudica
o aumento desta capacidade.

Além disso, o desenvolvimento de força pode ser geral, quando visamos


ao desenvolvimento de todos os grupos musculares; ou específica,
quando visamos ao desenvolvimento de um ou vários grupos musculares
específicos, envolvidos em determinados movimentos (WEINECK, 2005).

SAIBA MAIS

Para saber mais acerca dessa temática, leia o artigo “Ginástica artística
aplicada como treinamento de força funcional para crianças: um estudo de
revisão”, de Alan de Oliveira Rodrigues. Para isso, acesse o link:

https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/39163

O artigo apresenta a ginástica artística aplicada como forma de treinamento


funcional para crianças com o intuito de desenvolvimento das habilidades
físicas, incluindo a força, tratada neste tópico. O aspecto lúdico é apontado
neste estudo como uma ferramenta para se trabalhar com o público infantil.

Existem 4 tipos de força:

Máxima (isotônica ou dinâmica/isométrica ou estática)

Explosiva

De resistência

Limite
UNIUBE 185

Vejamos cada uma a seguir.

6.1.1.1 Força máxima

É a maior força muscular possível que pode ser empregada, independentemente


do peso corporal e do tempo que se destina para o desenvolvimento do
movimento. Muitas vezes, é conhecida como força “pura”.

Segundo Weineck (2005), a força máxima representa a maior força


disponível que o sistema neuromuscular pode mobilizar por meio de
uma contração máxima voluntária.

Nesse tipo de força, temos:

a) Força isotônica ou dinâmica

Neste tipo de força, ocorre um encurtamento das fibras musculares,


provocando um afastamento ou aproximação dos segmentos ou partes
musculares próximas, portanto há movimento. Neste aspecto, a força
pode ainda ser:

• concêntrica ou positiva (a força muscular empregada é maior que a


resistência, produzindo o movimento positivo) e
• excêntrica ou negativa (a resistência é maior que a força, produzindo
movimento negativo).

Sendo assim, podemos dizer que a força isotônica ou dinâmica é a


maior força que o sistema neuromuscular pode realizar por contração
voluntária, no desenvolvimento do movimento.
186 UNIUBE

b) Força isométrica ou estática

A força isométrica ou estática é considerada o máximo de força que um


músculo ou grupo muscular pode realizar contra uma resistência fixa.
Sendo a maior força que o sistema neuromuscular pode realizar por
contração voluntária contra uma resistência insuperável.

Surge quando a força muscular se iguala à resistência. Podemos também


enunciá-la como a força realizada contra cargas insuperáveis, havendo
contração muscular, mesmo sem realizar movimento. É a força que
explica a produção de calor, sem a existência de movimento.

Exercícios de força estática devem ser evitados antes da


puberdade para não comprometer o crescimento e desenvolvimento
normal da criança. Com supervisão adequada, o treinamento de
força pode auxiliar crianças pré-púberes no aumento de força,
redução de lesões e melhora do desempenho.

SAIBA MAIS

O estudo a seguir realiza uma revisão da literatura a respeito do treinamento


de força em crianças pré-púberes, inseridas no futebol de campo, apontando
as intensidades de treinamento de força mais adequados para essa fase
de maturação e as consequências da carga extenuante nesta faixa etária.

http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=000969804

Para complementar a leitura indicada acima, a pesquisa a seguir buscou


apontar causas e consequências do treinamento físico excessivo em crianças e
adolescentes para que os profissionais antentem ao planejamento do volume
e da intensidade dos exercícios propostos.

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
S1517-86921997000400007
UNIUBE 187

6.1.1.2 Força explosiva

Segundo Weineck (2005, p.47), “força explosiva compreende a capacidade


do sistema neuromuscular de movimentar o corpo ou parte do corpo
(braços, pernas), ou ainda objetos (bola, pesos, esferas, discos, etc.) com
a maior velocidade possível”. É o termo utilizado para manifestações da
força que envolve grande velocidade de contração.

Para tal, o sistema neuromuscular mobiliza o potencial funcional com a


finalidade de alcançar altos níveis de força no menor tempo possível,
utilizando o máximo de energia num ato explosivo. Assim, o tempo é uma
variável importante neste tipo de força, também conhecido como potência.

A força explosiva está presente nas corridas de velocidade, lançamentos


e arremessos, pois estes exigem potência nos seus movimentos para se
alcançar um bom rendimento. Como exemplo, temos o salto de um ginasta.

6.1.1.3 Força de resistência

É a capacidade que os músculos ou grupos musculares têm para resistir


contra a fadiga com repetidas contrações dos músculos, ou seja, com
desempenho prolongado de força (WEINECK, 2005).

É um desempenho de força submáxima devido à duração. Na prática,


seria o número máximo de vezes que conseguimos repetir determinado
exercício com uma determinada intensidade.

Esta forma de manifestação de força é requerida nas atividades do


dia a dia, principalmente para os indivíduos que têm em sua atividade
profissional a repetição sistemática de movimentos.

Outra aplicação da força de resistência é encontrada nas atividades


desportivas que têm por objetivo manter esforços contínuos durante sua
execução.
188 UNIUBE

6.1.1.4 Força limite

Corresponde 25% da força individual, que, em condições de exercício,


poderia ser considerada máxima. Assim, esse tipo de força só pode ser
mobilizada, por qualquer ser humano, por solicitações psíquicas fortes
como medo, ameaças, raiva, doping.

CURIOSIDADE

Uma demonstração de força limite pode ser percebida na situação a seguir.

Em 2015, em Paraguaçu Paulista (SP), o policial militar Renato resgatou


outros dois colegas, durante uma perseguição e um incidente, quando um
bandido jogou o carro em direção ao carro estacionado da polícia. Renato
ajudou a levantar a viatura em chamas para salvar os colegas. Na ocasião,
ele fez tanta força que quebrou os ossos da coxa direita, da panturrilha, o
tornozelo e lesionou a coluna. Dos dois colegas resgatados, um conseguiu
sobreviver.

Leia a matéria “Policial recebe prêmio nacional por ter salvo colegas de carro
em chamas”, do site G1, de Bauru e Marília, no link:

https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/policial-recebe-premio-nacional-
por-ter-salvo-colegas-de-carro-em-chamas.ghtml

No caso relatado, o policial utilizou sua força limite, pois dificilmente


conseguiríamos levantar um carro sozinho sem que uma emoção, como o
medo e a ameaça causados neste acidente, mobilizasse a força acima da
intensidade máxima.
UNIUBE 189

6.1.2 Resistência

É a capacidade física que permite efetuar um esforço estático ou


dinâmico durante um tempo considerável, resistindo à fadiga resultante
desse esforço e recuperando-se com alguma rapidez, sem diminuir a
qualidade do trabalho (GALLAHUE; OZMON, 2005; FERNANDES FILHO
et al, 2007).

Os tipos de resistência são anaeróbia, aeróbia e muscular localizada


(RML).

6.1.2.1 Resistência anaeróbia

A resistência anaeróbica se relaciona à realização de uma atividade


com alta intensidade em um período curto de tempo, uma vez que o
consumo de oxigênio é superior à sua absorção, ou seja, há um déficit
de oxigênio que só será recuperado após um intervalo de repouso.

Ela é definida como a “capacidade de realizar um trabalho de intensidade


máxima ou submáxima, com insuficiente quantidade de oxigênio e
com produção de ácido lático, durante um período de tempo inferior
a 3 min.” (BARBANTI, 1997, p.43).

Pode ser dinâmica (conhecida como resistência de velocidade em


que a carga dinâmica é realizada na intensidade de ritmo máximo)
ou estática (em que não há encurtamento das fibras musculares e,
consequentemente, não há movimento).

Exemplos: resistência anaeróbia dinâmica: fazer uma série de ginástica


no solo, com movimentos acrobáticos com duração de 2 minutos.
Resistência Anaeróbia Estática: parar o movimento e manter a posição
durante um período, como ocorre durante o trabalho nas argolas.
190 UNIUBE

O objetivo é manter a velocidade e o ritmo apesar do crescente


débito de oxigênio.

6.1.2.2 Resistência aeróbia

O trabalho de resistência aeróbia representa a maior intensidade do


exercício realizado, sem aumento da concentração sanguínea de lactato,
correspondendo a esforços de longa duração (DENADAI et al., 2000).

Resistência aeróbia é a resistência com capacidade de suportar esforços


de baixa e média intensidade, na qual o consumo de oxigênio e nutrientes
mais complexos acontece de forma equilibrada em relação à sua
absorção para continuar o desempenho durante a atividade.

A atividade pode ser dinâmica (envolver mais de 1/6 da musculatura total


do corpo, com intensidade máxima de 50% da capacidade circulatória e
com duração acima de 3 minutos) ou estática (recruta grande parte dos
grupos musculares, com carga inferior a 20% e com duração acima de
3 minutos).

EXEMPLIFICANDO!

Uma maratona, uma corrida de 40 minutos, uma aula de ginástica aeróbica.

6.1.2.3 Resistência muscular localizada (RML)

A resistência muscular localizada é a capacidade de repetir um mesmo


movimento com a mesma eficiência e em um mesmo ritmo durante um
tempo prolongado.

Essa capacidade pode ser expressa em relação à quantidade de massa


muscular envolvida na atividade, de duas formas diferentes, são elas:
UNIUBE 191

A) Resistência geral: mais de 1/6 ou 1/7 da musculatura envolvida no


exercício

B) Resistência especial (localizada): até 1/3 da musculatura total do corpo


envolvida no exercício.

6.1.3 Velocidade

É a capacidade física que permite realizar gestos no menor tempo


possível ou reagir rapidamente a um sinal. Este é um aspecto particular
dos músculos e das coordenações neuromusculares que promove
a execução de uma sucessão rápida de movimentos, que, em seu
encadeamento, constitui uma só e mesma ação, de intensidade máxima
e duração breve ou muito breve. Assim, depende da perfeita relação do
sistema neuromuscular.

De acordo com Dantas (2003), velocidade é a capacidade de realizar as


ações vigorosas em um curto espaço de tempo. Essa capacidade só é
utilizada, em geral, em atividades intervaladas, em que sempre há um
intervalo entre cada ação.

Esta capacidade é determinada pela hereditariedade e requer talento natural,


podendo ser melhorada pelo aumento da força e da flexibilidade. Além
disso, é maior entre as crianças devido ao processo de desenvolvimento
do sistema neuromuscular.

Para desenvolver a velocidade, recomenda-se que os exercícios específicos


sejam colocados no início da sessão, pois, com a fadiga, a tendência é
um menor tempo de resposta ao estímulo.

A velocidade é classificada em três tipos: de reação, de deslocamento


e de membros.
192 UNIUBE

6.1.3.1 Velocidade de reação

É o mesmo que tempo de reação e está relacionada com a rapidez que


o indivíduo responde a um estímulo externo, seja visual, auditivo ou tátil.
Sendo assim, pode-se dizer que é o tempo decorrido entre um sinal e o
movimento muscular solicitado (FERNANDES, 1981).

6.1.3.2 Velocidade de deslocamento/locomoção

É a capacidade máxima que uma pessoa tem para se deslocar de um


determinado ponto a outro. Também é conhecida como velocidade de
movimento.

Este tipo de velocidade é considerado cíclico, pois acontece repetição de


fases, é composto por movimentações que apresentam ciclos definidos
e repetitivos. Normalmente, apresentam apenas um eixo e apenas dois
ciclos de movimento. Exemplo: flexão e extensão, adução e abdução,
rotação para a direita e rotação para a esquerda, pronação e supinação.
Movimentos de deslocamento, como caminhar, correr, nadar, remar,
pedalar, também são cíclicos.

Em relação à velocidade cíclica, temos a velocidade de sprint, que é


a capacidade de executar movimentos cíclicos com bastante rapidez
(BARBANTI, 1997).

6.1.3.3 Velocidade de membros/segmentar

A velocidade de membros ou segmentar é entendida como a capacidade


máxima que uma pessoa tem de mover os seus membros superiores e/
ou inferiores o mais rápido possível.
UNIUBE 193

Este tipo de velocidade é considerada acíclica, já que não apresenta


repetição de partes de fases em seu processo de movimento, ou seja,
nunca se repete da mesma forma. As atividades básicas de lançar, saltar,
empurrar e levantar são exemplos típicos de movimentos acíclicos.

A velocidade acíclica envolve exercícios compostos por movimentações


que apresentam ciclos definidos, porém não repetitivos, com variação dos
eixos e posições de movimentos, assim como da ordem de realização
deles. Exemplo: extensão seguida de abdução, flexão e novamente
extensão; iniciar pela posição em pé, executar um giro (cambalhota) e
finalizar em quatro apoios em decúbito ventral.

SAIBA MAIS

Leia o artigo Manejo da bola da ginástica rítmica como estímulo ao


desenvolvimento da destreza de mãos e dedos e velocidade de mãos e
braços em adultos e idosos, de Flávia Maria Domingues. Para isso, acesse:

https://www.researchgate.net/publication/242240301_MANEJO_
DA_BOLA_DA_GINASTICA_RITMICA_COMO_ESTIMULO_AO_
DESENVOLVIMENTO_DA_DESTREZA_DE_MAOS_E_DEDOS_E_
VELOCIDADE_DE_MAOS_E_BRACOS_EM_ADULTOS_E_IDOSOS

O estudo testou os efeitos de um treinamento do manejo técnico da bola


utilizada na ginástica rítmica sobre a destreza manual de indivíduos adultos
e idosos, após o treinamento com bola. A pesquisa nos mostra a validade
de se treinar a velocidade de membros mesmo com indivíduos não atletas
com o objetivo de melhorar as atividades cotidianas.
194 UNIUBE

6.1.4 Flexibilidade

A flexibilidade permite executar movimentos com grande amplitude, por


isso é expressa pela maior amplitude possível do movimento voluntário
de uma articulação, ou combinações de articulações num determinado
sentido. O grau de flexibilidade é determinado pela amplitude articular e
pela elasticidade ou extensibilidade muscular (DANTAS, 2003).

Fernandes Filho et al (2007) afirmam que, com o aumento da flexibilidade,


é possível, ao indivíduo, realizar movimentos articulares com maior
amplitude sem que ocorram lesões. Além disso, o grau de flexibilidade
deve ser específico para cada exercício físico ou esporte. Sendo assim,
depende da elasticidade muscular e da mobilidade articular.

O treinamento de flexibilidade deve reduzir o risco de lesões, criar


uma boa variedade de movimento, melhorar a circulação ao redor da
articulação, reduzir a dor muscular, aumentar a coordenação e aumentar
a circulação do fluxo sanguíneo.

Em relação às classificações da flexibilidade, temos quanto à sua abrangência


(geral e específica), quanto às articulações envolvidas (simples e composta)
e quanto à ação exercida (estática ou dinâmica). Veja Figura 1:

Figura 1: Flexibilidade da musculatura posterior da coxa.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.
UNIUBE 195

6.1.4.1 Abrangência da flexibilidade

a) Flexibilidade geral: observada em todos os movimentos de uma pessoa,


englobando uma amplitude normal de oscilação das suas articulações.

b) Flexibilidade específica: refere-se à amplitude necessária para


realização de um ou alguns movimentos realizados em determinadas
articulações.

6.1.4.2 Articulações envolvidas na flexibilidade

a) Flexibilidade simples: ação articular em uma única articulação.

b) Flexibilidade composta: quando o movimento envolve mais de uma


articulação.

6.1.4.3 Ação exercida na flexibilidade

a) Flexibilidade estática: é a amplitude de movimento ao redor de


uma articulação, sem enfatizar a velocidade durante o alongamento.
Assim, flexibilidade estática é o resultado do alongamento, referindo-se
à amplitude máxima de um movimento.

EXEMPLIFICANDO!

É o caso do espacato na ginástica artística, ou seja, uma pessoa realiza uma


abertura total das pernas apenas com o apoio do solo.

b) Flexibilidade dinâmica: é a capacidade de usar uma amplitude de


movimento articular no desempenho de uma atividade física em velocidade
normal ou acelerada. Corresponde diretamente à especificidade do processo
de alongamento, relacionado com a atividade, tendo maior correlação com
o desempenho desportivo.
196 UNIUBE

Assim, a flexibilidade dinâmica refere-se à resistência ou rigidez oferecida


ao movimento dentro de uma determinada amplitude.

Neste aspecto, ainda temos a flexibilidade ativa, considerada a maior


amplitude de movimento alcançada usando apenas a contração dos
músculos agonistas e sinergistas, enquanto os antagonistas são
alongados. O desenvolvimento deste tipo de flexibilidade pode ser mais
difícil, pois requer a flexibilidade passiva para assumir a posição inicial e
a contração dos músculos agonistas para mantê-la. Algumas atividades
que necessitam do desenvolvimento deste tipo de flexibilidade são:
ginástica rítmica, ginástica olímpica, ballet, artes marciais, entre outras.

Há, também, a flexibilidade passiva (Figura 2), que é a maior amplitude


de movimento que se pode assumir utilizando forças externas, por isso é
sempre maior do que a ativa. Podemos dizer que esta maior amplitude de
movimento gerado pela flexibilidade passiva seria a chamada “ reserva
de movimentos”, que só acontece quando ocorre a intervenção de forças
externas. Alguns exemplos seriam realizar o movimento com a ajuda de
outra pessoa ou de algum equipamento.

Figura 2: Flexibilidade passiva.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.
UNIUBE 197

6.1.5 Agilidade

A agilidade é uma variável neuromotora caracterizada pela capacidade


de deslocar o corpo no espaço o mais rápido possível e de realizar trocas
rápidas de direção e sentido, mudando o centro de gravidade de posição,
sem perder o equilíbrio e a coordenação dos movimentos de todo o corpo
ou parte dele (MATSUDO, 2009). Observe a Figura 3:

Figura 3: Agilidade no cavalo.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

Agilidade é a qualidade física que permite mudar a direção do corpo no


menor tempo possível. Conhecida como velocidade de “troca de direção”.
Requer uma combinação de várias qualidades físicas e, embora dependa
da carga hereditária, pode ser bastante melhorada com o treinamento.

6.2 Capacidades coordenativas

As capacidades coordenativas são qualidades que permitem organizar,


regular e controlar os movimentos. São condicionadas pela capacidade
de elaboração das informações por parte dos analisadores implicados na
formação e realização do movimento no sentido qualitativo.
198 UNIUBE

6.2.1 Coordenação motora

A coordenação motora é a capacidade física que permite realizar uma


sequência eficiente de movimentos, desde os mais simples até os mais
complexos, de forma coordenada, com um mínimo de esforço. Refere-
se, portanto, à combinação dos movimentos do corpo para criar uma
ação pretendida, englobando a cinemática (como a direção espacial) e
a cinética (força).

É o resultado de um trabalho conjunto do sistema nervoso e das unidades


motoras dos músculos e das articulações, mostrando-se os movimentos
coordenados, amplos e econômicos, sem desnecessárias contrações.
Desta forma, espera-se que os movimentos sejam suaves e harmoniosos
no que diz respeito ao objetivo pretendido, mesmo quando realizados
com aplicação de força e velocidade.

Pode envolver uma única parte do corpo ou um conjunto, e a repetição


contínua de movimentos combinados melhora gradualmente a coordenação.
Quanto mais complicadas as tarefas motoras, maior o nível de coordenação
necessária para um desempenho eficiente.

Segundo Nascimento, Frighetto e Santos (2013), o comportamento motor


que trata das necessidades individuais é a consciência corporal e o que
trata das necessidades coletivas é a consciência espaço-temporal.

Algumas qualidades básicas para o desenvolvimento da coordenação


motora são adequação de força que determina a amplitude e a velocidade
do movimento; seleção dos músculos que influenciam a condução e
orientação do movimento e a capacidade de alternar rapidamente
estados de tensão e descontração (relaxamento) muscular (GORLA;
ARAÚJO; RODRIGUES, 2007).
UNIUBE 199

Desta maneira, para garantia de uma boa coordenação motora, é


primordial atentar para aspectos como:

a) Precisão de movimento: equilíbrio corporal, boa oscilação nos gestos.


b) Economia de movimento: equilíbrio muscular, utilização adequada de
força.
c) Fluência de movimento: equilíbrio temporal, adequação da velocidade.
d) Elasticidade de movimento: equilíbrio da elasticidade muscular,
adaptação de graus de tensão muscular.
e) Regulação da tensão: equilíbrio de tensão muscular, adequação de
estados de contração e descontração muscular.
f) Isolamento do movimento: equilíbrio na escolha muscular; enervação
dos grupos musculares necessários para o gesto.
g) Adaptação do movimento: regulação sensório-motora, adaptação
adequada a cada situação de movimento.

Exemplos: controlar movimentos específicos de uma atividade (chutar


uma bola no futebol ou realizar uma bandeja no basquete).

A coordenação motora pode ser classificada como grossa (geral) e fina.

6.2.1.1 Coordenação motora grossa

Por meio da coordenação motora grossa, o indivíduo utiliza os grandes


grupos musculares, gerando uma integração intermuscular, para o
desenvolvimento das habilidades motoras, de forma eficaz, permitindo
ao indivíduo dominar o corpo no espaço, controlando os movimentos
mais rudes.

Exemplo: saltar, andar, rastejar, correr, saltitar, subir, descer.


200 UNIUBE

6.2.1.2 Coordenação motora fina

Por meio da coordenação motora fina, o indivíduo utiliza de forma


eficiente e precisa os pequenos músculos para o manuseio de objetos
e para dominar o ambiente. Ela está relacionada a movimentos mais
específicos e refinados, que, muitas vezes, necessitam da interação
sinestésica e sensorial. Como exemplo, temos atividades de recortar,
lançar algo em um alvo, costurar, escrever, digitar, encaixar, empilhar.

AGORA É A SUA VEZ

Tente listar, em seu caderno, movimentos específicos da ginástica que


representem a coordenação motora fina e a coordenação motora grossa!

6.2.2 Equilíbrio

O equilíbrio é a qualidade física conseguida por uma combinação de


ações musculares com o propósito de assumir e sustentar o corpo sobre
uma base, contra a lei da gravidade.

Ele é básico para todo movimento e é influenciado


Vestibulares
por estímulos visuais, táteis, cinestésicos e
É um dos mais
vastos sistemas vestibulares, no qual a visão desempenha um
sensoriais, pois
estabiliza a papel muito importante, pois propicia a focalização
visão durante o de um ponto de referência para a manutenção
movimento da
cabeça e/ou do desta capacidade. Além disso, a visão auxilia na
corpo, dando
consciência monitoração do corpo durante a realização da
da posição da
cabeça em relação tarefa.
ao movimento
executado, ao
espaço em que se
realiza o movimento
O movimento do corpo e a gravidade são
e ao movimento dos percebidos por receptores vestibulares a fim de
membros/corpo.
manter o indivíduo consciente tanto das alterações
UNIUBE 201

posturais dinâmicas como das estáticas e das alterações na aceleração.


Esses receptores ficam estruturalmente completos até o nascimento,
porém a musculatura e outras modalidades sensoriais envolvidas na
manutenção do equilíbrio ainda não, o que compromete a manutenção
desta capacidade nas idades iniciais.

É um sistema complexo que envolve a captação de informações externas


e feedbacks internos do sistema nervoso e do sistema osteomuscular
em constante adaptação para manter os movimentos coordenados e
sincronizados.

Esta capacidade física, como qualquer outra, precisa ser treinada


e, quase sempre, é negligenciada, por acreditarmos que ela estará
naturalmente presente.

É necessário treinar o equilíbrio, desde a infância, para melhorar não só a


propriocepção, como fortalecer os músculos que estabilizam as articulações,
garantindo, assim, maior controle e precisão nos movimentos.

Alguns exemplos de equilíbrio são caminhar por uma superfície de


pequena amplitude.

Pode ser de 3 tipos: dinâmico, estático e recuperado.Vejamos a seguir.

6.2.2.1 Equilíbrio dinâmico

É a habilidade do indivíduo em manter o equilíbrio, enquanto se movimenta


de um ponto a outro, adquirido, portanto, durante as ações de movimento.

6.2.2.2 Equilíbrio estático

O equilíbrio estático é a habilidade do corpo em manter-se em certa


posição estacionária.
202 UNIUBE

6.2.2.3 Equilíbrio recuperado

É o tipo de equilíbrio responsável pela retomada da sustentação do


corpo sobre a base após uma ação de movimento, ou seja, explica a
recuperação do equilíbrio após o corpo ter estado em movimento.

Exemplo: saltar.

SAIBA MAIS

Para saber mais acerca da capacidade de equilíbrio, sugerimos a leitura


do artigo Análise comparativa do equilíbrio unipodal de atletas de ginástica
rítmica, de Shigaki et al.

https://www.ingentaconnect.com/content/doaj/15178692/2013/00000019/0
0000002/art00016

O texto vem apresentar a importância do equilíbrio na ginástica rítmica,


para preservar a simetria na execução dos elementos da modalidade em
busca de um bom desempenho esportivo. Aponta, ainda, a necessidade de
desenvolver outras capacidades, como força, flexibilidade, como forma de
melhorar o equilíbrio das atletas.

6.3 Conclusão

As capacidades físicas e as habilidades motoras são inerentes a qualquer


exercício físico, mas, em específico, na ginástica, podemos encontrar
uma gama enorme deles. Porém, é necessário saber utilizá-los de acordo
com a modalidade, com a faixa etária e com o objetivo do aluno, e, assim,
planejá-los quanto à intensidade e ao volume.
UNIUBE 203

Saber prescrever os movimentos de forma correta trará não só benefícios


físicos para o aluno, mas tornará a prática da ginástica mais segura e
fará de você um profissional muito mais confiante e preparado para agir
de forma mais consciente e assertiva.

Resumo

Entendemos, como capacidades físicas, o conjunto de capacidades


individuais, orgânicas, musculares e neurológicas que interferem na atividade
motora, em especial na ginástica. Essas capacidades são características
passíveis de treinamento e essenciais para o desenvolvimento das
destrezas e movimento especializados.

Neste capítulo vimos que as capacidades físicas e habilidades motoras


são resistência, força, velocidade, agilidade, equilíbrio, flexibilidade e
coordenação motora. Elas podem ser classificadas como condicionais
(força, resistência, velocidade, flexibilidade e agilidade) e coordenativas
(coordenação motora, equilíbrio).

As capacidades físicas e as habilidades motoras são inerentes a qualquer


exercício físico, mas, em específico, na ginástica, podemos encontrar
uma gama enorme deles. Porém é necessário saber utilizá-los de acordo
com a modalidade, com a faixa etária e com o objetivo do aluno e, assim,
planejá-los quanto à intensidade e ao volume.

No capítulo, vimos também que saber prescrever os movimentos de


forma correta trará não só benefícios físicos para o aluno, mas tornará a
prática da ginástica mais segura e fará de você um profissional muito mais
confiante e preparado para agir de forma mais consciente e assertiva.
204 UNIUBE

Referências

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WEINECK, Jürgen. Biologia do esporte. 7. ed. São Paulo: Manole, 2005.


Capítulo A ginástica para crianças
7 e adolescentes

Aline Dessupoio Chaves

Introdução
A ginástica possui características universais e democráticas
e é integrada à realidade cultural de quase todos os países,
abrangendo pessoas de todas as faixas etárias. Pode ser praticada
de várias formas e com diversos objetivos.

Para que a ginástica seja ensinada e praticada de forma adequada, é


necessário que o profissional se qualifique para atuar nas suas mais
diversas vertentes, atentando para as expectativas e necessidades
de seus praticantes em suas múltiplas possibilidades, conhecendo,
assim, cada fase do ciclo da vida.

O ciclo de vida humana é uma dinâmica comportamental. Cada


indivíduo passa por cada uma das fases desse ciclo. Ele envolve
o ser humano em toda sua constituição, ou seja, sua estruturação
física e psicológica.

Este capítulo tem a intenção de oferecer aos profissionais de


Educação Física, especificamente àqueles que estão atuando
ou pretendem atuar no âmbito do ginástica, a oportunidade de
estudarem e de discutirem questões que permeiam a infância e
a adolescência diante das possibilidades de prática da ginástica.
208 UNIUBE

Objetivos
A partir da leitura deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• explicar como a ginástica é para as crianças, tanto no ambiente


escolar quanto fora dele;
• identificar a importância da prática da ginástica durante a
adolescência, em relação aos aspectos físicos e motivacionais;
• mostrar a prática da ginástica na infância e na adolescência,
seus benefícios e cuidados necessários.

Esquema
7.1 Prática da ginástica na infância
7.1.1 Contextualização da ginástica na infância
7.1.2 Objetivos e conteúdos
7.1.3 Procedimentos metodológicos e avaliação
7.2 Prática da ginástica na adolescência
7.2.1 Contextualização da ginástica na adolescência
7.2.2 Objetivos e conteúdos
7.2.3 Procedimentos metodológicos e avaliação
7.3 Considerações finais

7.1 Prática da ginástica na infância

Ao trabalhamos a ginástica para crianças, devemos primeiramente entender


as concepções de infância, para, assim, utilizarmos a ginástica no sentido de
auxiliar no desenvolvimento global delas, independentemente da forma de
prática, seja por saúde, lazer ou rendimento (enquanto esporte competitivo).
UNIUBE 209

7.1.1 Contextualização da ginástica na infância

Uma criança é um ser humano no início de seu desenvolvimento e,


segundo a OMS (2015), a infância é o período que vai desde o nascimento
até aproximadamente o décimo-segundo ano de vida de uma pessoa
(Figura 1).

Figura 1: Infância.
Fonte: Depositphotos – Acervo Uniube.

A infância é um período de grande desenvolvimento físico, marcado pelo


gradual crescimento da altura e do peso da criança – especialmente
nos primeiros três anos de vida. Mais do que isso, é um período em que
o ser humano se desenvolve psicologicamente, envolvendo graduais
mudanças em seu comportamento e na aquisição das bases de sua
personalidade.

Entretanto, para entendermos a infância, é importante


compreendermos a concepção de infância ao longo dos tempos!
Vamos lá?!

Historicamente, a criança e a infância têm recebido diversas significações


da sociedade. Ariès (1981) conta que, na sociedade medieval, não existia
a ideia de infância, todas as particularidades da criança eram ignoradas
e ela era considerada um adulto em miniatura, participando das mesmas
atividades e dos mesmos grupos que os adultos.
210 UNIUBE

A partir do século XVII, segundo Priszkulnik (2002), surge uma nova


noção de criança, apoiada nas preocupações com a disciplina e a
moral, pela qual ela é tida como um ser frágil e imperfeito, colocando a
educação como uma das principais obrigações humanas. Educação esta
que acreditava ser preciso humilhar a criança, trazendo-a a uma condição
inferior, para poder melhorá-la e torná-la um adulto honrado.

Já no século XIX, assume-se a ideia de que a criança deve ser preparada


para a vida adulta. A partir de então, a educação formal passa a ter
importância significativa, e a escola passa a exercer papel fundamental
para a formação física e moral dos jovens.

No início do século XX, pela expansão do processo de escolarização,


as dificuldades de aprendizagem despertam o interesse de psicólogos,
pedagogos e professores, que passam a se preocuparem com a
sistematização de estudos sobre a criança e seu desenvolvimento,
principalmente em relação aos processos de aprendizagem. Assim, a
escola firma-se como local privilegiado para a formação da criança, ainda
voltada para o seu futuro adulto. Mas além da escola, os adultos criam e
buscam outras atividades para complementarem essa formação, como
as aulas de línguas, informática, artes e a própria prática esportiva.

No século atual, a criança e a educação têm como um dos grandes


temas de discussão o processo de adultização da infância, decorrente do
estilo de vida e das expectativas da vida adulta impostos às crianças que,
segundo Rosa (2000), têm provocado transformações de comportamento,
precocidade do desenvolvimento físico e hormonal e problemas de
saúde, como o estresse, representando um retrocesso histórico. Rosa
(2000, p.6) explica:
[...] a versão high tech da infância, típica do nosso
tempo, ameaça acabar com ela, pela destruição
paulatina e constante das fronteiras entre o universo
de interesses de adultos e crianças. A ‘adultização’ da
infância e o seu contraponto, a infantilização da vida
UNIUBE 211

adulta, têm gerado uma indiferenciação perigosa entre


estas duas etapas da vida do indivíduo. De modo que,
estranhamente, o ser criança nos dias de hoje não deixa
de se assemelhar, em muitos aspectos, ao período
anterior. [...] A crescente ausência de discriminação,
por parte dos adultos do que é próprio ou impróprio às
crianças, representa um retorno a uma mentalidade
tipicamente medieval, caracterizada pela ignorância,
insensibilidade e o desrespeito para com elas.

Esse conceito de infância atual não se apresenta como uma mera


reprodução da concepção medieval, e, sim, como uma combinação
complexa da ideia de criança como um ser que deve ser preparado
para a vida adulta, acompanhada do ritmo frenético em que a sociedade
avança. Neste conceito, o caminho mais curto para se preparar alguém
para a vida adulta é torná-lo adulto o mais rápido possível.

AGORA É A SUA VEZ

Observe a imagem e os conceitos que ela traz:

Adultização
da infância Infantilização
da vida adulta

Em relação ao que tem observado acerca da educação das crianças


atualmente, você concorda com afirmação de Rosa (2000)? Por quê? Pense!

Contrariamente à Idade Média, em que a criança não se distinguia do


adulto por não serem reconhecidas suas particularidades, o que parece
ocorrer hoje é o desprezo das características da infância em nome da
212 UNIUBE

produtividade, ou seja, quanto antes a criança se tornar um adulto,


antes também estará pronta para enfrentar este mundo competitivo e
excludente, será capaz de render e conquistar o sucesso (KORSAKAS;
DE ROSE JR, 2002).

IMPORTANTE!

Os autores citam, ainda, que é necessário possibilitar na infância a descoberta,


o conhecimento e a vivência do movimentar-se (Figura 2), como forma de
expressão e linguagem. Isso contribui para a formação humana integral e
plena da criança, oportunizando o brincar, o movimento como linguagem, o
afeto, a solidariedade e a cooperação.

Figura 2: Vivência do movimentar-se.


Fonte: Depositphotos – Acervo Uniube.

Nesta perspectiva, a ginástica na infância começa de forma bastante natural,


a partir de situações variadas, como correr e saltar livremente, trepar em
árvores, suspender-se em seus galhos, em cordas, equilibrar em troncos e
muretas, andar de bicicleta, patinar, ou contorcer o corpo nos aparelhos de
ginástica (NISTA-PICCOLO, 1995, p. 62).

A criança desenvolve, assim, a agilidade corporal e a destreza na realização


dos movimentos, gerando segurança no que é capaz de executar. Futuramente
esta segurança adquirida poderá afetar de forma significativa a sua
capacidade mental, ao tomar suas decisões ou ao realizar escolhas.
UNIUBE 213

Schiavon (1996) cita que algumas crianças têm dificuldades de se


movimentarem em casa, seja por falta de espaço ou de estímulo, o
que aumenta ainda mais a necessidade da escola abordar a ginástica,
enquanto conteúdo, para tornar possível ações motoras adequadas para
esta fase da vida.

Essa vivência permitirá que a criança descubra e conheça o seu corpo e


com o auxílio do professor comece a construir uma imagem positiva de
si mesma, mediante a exploração de diferentes movimentos e posturas
do corpo.

Segundo Piaget (1983, p. 72), “as raízes do raciocínio lógico terão que
se basear na coordenação das ações a partir do nível sensório-motor,
cujos esquemas têm importância fundamentalmente desde o início”.
Assim, uma base motora bem trabalhada, em que a coordenação dos
movimentos das grandes partes do corpo e a percepção sensorial são
estimuladas, pode preparar um “alicerce” motriz e mental da criança.

Quando nos referimos à prática da ginástica na infância, vamos para


além de práticas exclusivas para crianças com desempenho atlético ou
do professor que busca identificar e treinar atletas precocemente. A ideia
é permitir às crianças novas experiências de movimentos, que envolvam
grandes grupos musculares, em ação desde os primeiros anos de vida
(NISTA-PICCOLO, 1995), e que sejam desafiadoras à capacidade motora
das crianças, além de prepará-las para ser um praticante lúcido e ativo
que incorpore a ginástica e os demais componentes da cultura corporal
em sua vida, para deles tirar o melhor proveito possível.

Desta forma, na aula de Educação Física, a ginástica deve ser estimulada


como forma de movimento composto por significados/sentidos, símbolos
e códigos que se produzem e reproduzem dinamicamente, promovendo
um diálogo expressivo com o mundo e com os outros.
214 UNIUBE

De fato, se pensarmos na ginástica visualizando as acrobacias e


elementos apresentados pela mídia, realmente a sua aplicação na escola
torna-se inviável. É preciso pensarmos nas diversas possibilidades de se
trabalhar os elementos fundamentais e explorações corporais cabíveis
nesse ambiente.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

O texto de Philippe Aires sobre a História social da criança e da família é


importante para contextualizar essa fase da vida, pois, ao trabalharmos a
ginástica com esse público, é necessário conhecer todas as características,
não só as físicas e fisiológicas, mas psicológicas e sociais.

http://files.grupo-educacional-vanguard8.webnode.com/200000024-
07a9b08a40/Livro%20PHILIPPE-ARIES-Historia-social-da-crianca-e-da-
familia.pdf

Ao conhecer os sentimentos e expectativas das crianças conseguimos


utilizar essas informações para mantê-las motivadas nas aulas de ginástica.

7.1.2 Objetivos e conteúdos

O trabalho da ginástica na infância é um processo que possui fases, com


objetivos específicos, que respeitam os níveis de desenvolvimento e as
características e interesses dos alunos.

É preciso levar em conta que a atividade corporal é um elemento


fundamental da vida infantil e que uma adequada e diversificada estimulação
psicomotora guarda estreitas relações com o desenvolvimento cognitivo,
afetivo e social da criança; deve-se privilegiar o desenvolvimento das
habilidades motoras básicas, jogos e brincadeiras de variados tipos e
atividades de autotestagem (em que o aluno procura se autoavaliar na
execução das atividades).
UNIUBE 215

Acredita-se que o prazer do brincar é fundamental nesta faixa etária,


independentemente do conteúdo a ser trabalhado nas aulas, a brincadeira
pode ser o princípio norteador, pois, por meio dela, pode-se favorecer
a expressão plena da criança e consequentemente a descoberta e a
construção dos saberes específicos da Educação Física, inclusive da
ginástica.

Em relação ao brincar, Debortoli (1999) elucida como uma das dimensões


da linguagem a ludicidade, já que se expressar plenamente significa
buscar a linguagem em sua plena forma emancipadora, tornando
fundamental a descoberta de modos de expressão que vão além do
recurso da palavra. Daolio (1997) explicita isso muito bem, dizendo que,
por exemplo, um movimento de dança em dupla nada mais é do que uma
relação entre o indivíduo, o colega e o ritmo da música.

PONTO-CHAVE

Não se trata de ensinar a técnica tida como correta, mas de propiciar aos
alunos o desenvolvimento de uma série de relações com o espaço, com os
objetos, com o colega, com o grupo, com o professor, com o ritmo, sendo
essas relações justificadas na descoberta do movimento.

Assim, a brincadeira passa a ter um objetivo, e o conteúdo abordado


na aula passa a ser reconstruído pelas crianças, tornando-se, portanto,
mais significativo para elas. Esta atitude de proporcionar às crianças
a descoberta dos movimentos e sua ressignificação pressupõe que o
professor considere os conteúdos e tenha clareza de como fazer com
que estes sejam apropriados e reconstruídos por elas.

A eleição dos conteúdos a ser trabalhados irá depender essencialmente


do grupo de acordo com a cultura em que está inserido. Mas, o que é
imprescindível compreender é que o professor, além de oferecer ao aluno
várias experiências de movimentos, deverá possibilitar a significação deles.
216 UNIUBE

Assim ele favorecerá sua autonomia e garantirá uma formação humana


que valoriza o indivíduo em sua totalidade, colocando o movimento como
uma dimensão da linguagem.

A tirinha (Figura 3), a seguir, mostra a importância de se escolher conteúdos


adequados a cada faixa etária, tornando a aula mais motivante e com
significado para os alunos.

Figura 3: A escolha do conteúdo nas aulas.


Fonte: Acervo Uniube.

Na escolha do conteúdo, além do professor pensar no interesse dos


alunos, deve também levar em conta sua fase de desenvolvimento.
Segundo Galvão (1999), o desenvolvimento da criança é como uma
construção alternadamente afetiva e cognitiva. Antes de agir diretamente
sobre o meio físico, o movimento mobiliza as pessoas por meio de seu
teor expressivo, por meio da emoção.

Os movimentos na infância expressam, então, desejos e percepções dos


estímulos exteriores e se tornam a principal forma que a criança possui
de expressão do pensamento.
UNIUBE 217

Desta forma, a autora destaca que a afetividade ganha contornos


diferentes em cada fase do desenvolvimento. Por exemplo, na primeira
fase (primeiro ano de vida), existe uma afetividade impulsiva, emocional,
que se nutre pelo olhar, pelo contato físico e se expressa em gestos,
mímica e postura. Já na fase do personalismo (três a seis anos), a
afetividade é diferente: ela incorpora recursos intelectuais (notadamente a
linguagem verbal), desenvolvidos ao longo do estágio anterior (sensório-
motor e projetivo – até três anos).

No período inicial da Educação Infantil, a afetividade é simbólica,


traduzida em palavras e ideias. A troca afetiva pode se dar à distância,
não necessitando do contato físico, por exemplo, abraçar o amigo para
expressar que gosta dele. Mas ela pode ser por meio de gestos de cuidado
e zelo, assim o educador pode salientar a afetividade no comportamento.
Posteriormente, a criança passa pelo estágio categorial, a afetividade
se torna cada vez mais racionalizada. No entanto, em todas as fases
do desenvolvimento mencionadas, o afeto é sempre um fator essencial
para a interação da criança com o ambiente e, consequentemente, para
a construção do conhecimento (GALVÃO, 1999).

Além da afetividade e do aspecto cognitivo, o professor deve se


preocupar, também, com a motricidade de seus alunos, pois a ausência
de oportunidades de vivências motoras pode prejudicar a aquisição
de habilidades e o amadurecimento dos movimentos das crianças.
Elas precisam passar por várias possibilidades de exploração de seus
movimentos: quanto mais variadas, melhor será o repertório motor
adquirido (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

Para que isto aconteça, ao abordar os conteúdos da ginástica, o professor


deverá proporcionar aos seus alunos várias possibilidades de movimento,
pois a oportunidade de vivenciar diferentes situações pode enriquecer o
acervo motor das crianças.
218 UNIUBE

Além disso, um dos papéis do professor da Educação Física Escolar


é perceber quais são as maiores necessidades motoras da criança,
partindo de suas interpretações, e a partir daí proporcionar vivências em
que o importante seja a oportunidade de experimentar novos movimentos,
que dará à criança a condição de conhecer melhor seu potencial e suas
múltiplas possibilidades de movimento.

É importante o professor perceber as emoções despertadas na criança


ao praticar a ginástica para que possa promover uma maior participação
e satisfação de seus alunos, por meio de propostas que variem suas
formas e estratégias metodológicas.

Para isto, Nista-Piccolo e Moreira (2012, p.56) apontam que:


Não há receitas prontas de aulas ideais, porém,
quanto mais ricas forem as experiências motoras,
mais facilmente as crianças atingirão o domínio dos
seus movimentos. Quanto mais variados forem o
ritmo, o espaço, o tempo, o material, as direções, as
trajetórias, os planos e as possibilidades de realização
do movimento, melhor controle corporal a criança terá, e
será cada vez mais consciente de suas ações.

O Quadro 1, a seguir, mostra as possibilidades de se trabalhar a ginástica


na escola sob o olhar de diversas abordagens metodológicas.
UNIUBE 219

Quadro 1: Ginástica em obras dos representantes das abordagens metodológicas da


Educação Física

METODOLOGIAS
DE ENSINO DA OBRAS AUTOR (ES) GINÁSTICA
EDUCAÇÃO FÍSICA

É citada nas
últimas séries
do Ensino
Fundamental
Educação Edison de e também
física escolar: Jesus Manoel, no Médio
fundamentos de Eduardo e Superior,
Desenvolvimentista
uma abordagem Kokubun, Go integrando
desenvolvimentista Tani, José Elias o nível
(1988). de Proença. “comunicação
não verbal”
da taxionomia
proposta por
Anta Harrow.

Destaca a
importância de
desenvolver
a inteligência
corporal, citando
Educação de os saltos e giros
João Batista
Construtivista corpo inteiro como recursos
Freire.
(1989). (presentes
em atividades
gímnicas), além
do manuseio de
cordas, arcos,
bolas e bastões.
220 UNIUBE

GTP, Celi
Taffarel, Eliane
Moraes,
Mércia Destaca a
Andrade, ginástica como
Visão didática da Michelil importante
educação física: Escobar, Vera conhecimento da
Ensino Aberto análises críticas e Costa, Amauri educação física
exemplos práticos Oliveira, escolar, trazendo
de aulas (1991). Carlos exemplos de
Cardoso, como tratá-la
Reiner na escola.
Hildebrandt
e Wenceslau
Filho.

Apresenta uma
sistematização
do campo de
conhecimento da
ginástica para a
escola a partir
Coletivo
de ciclos de
de autores
escolarização,
Carmem Lúcia
envolvendo
Soares, Celi
Metodologia formas de
Taffarel, Valter
do ensino de saltar, equilibrar,
Crítico-superadora Bracht, Lino
Educação balançar e girar;
Castellani
Física (1992). formas técnicas
Filho,
das ginásticas
Elizabeth
sistematizadas;
Varjal e Micheli
conhecimento
Escobar.
técnico/artístico
das ginásticas
institucionalizadas
e da ginástica
em geral,
entre outras.
UNIUBE 221

Ressalta a
importância
de trabalhar
Transformação elementos que
Crítico- didático- estão presentes
Elenor Kunz
emancipatória pedagógica do na prática de
esporte (2003). atividades
ginásticas, como
formas de andar,
saltar e correr.

A ginástica
aparece somente
na abordagem
Educação física histórica da
e sociedade: a Educação Física
educação física (movimentos
Sistêmica Mauro Betti
nas escolas ginásticos
brasileiras de 1° e europeus,
2° graus (1991). ginástica,
integrando a
cultura física
e outros).

Considera que
o trabalho com
a ginástica
não deve ser
Da cultura do direcionado
Plural Jocimar Daolio
corpo (1994). para os padrões
rígidos dos
movimentos
técnicos dessa
manifestação.

Fonte: Adaptado de Lara et al. (2007).


222 UNIUBE

O planejamento dos conteúdos deve ser flexível e dinâmico, devendo se


configurar de acordo com as necessidades e experiências culturais do
aluno. Segundo Soares (2002, p. 31), o planejamento tem:
por objetivo estabelecer um diálogo com o contexto da
criança, permitindo a ela a apropriação de conhecimentos,
retirando-a de uma situação passiva na escola (aquela em
que seu único papel é receber e assimilar conteúdos)
e passando-a para o lugar de sujeito sociocultural
que pretende construir significados com base nas
experiências vividas.

Portanto, trabalhar os conteúdos da ginástica na infância pode ser voltado


tanto para o desenvolvimento motor quanto para iniciação esportiva, mas,
acima de tudo, respeitando as necessidades da criança para que seja
uma experiência bastante positiva e proveitosa.

EXEMPLIFICANDO!

Para exemplificar, assistam aos vídeos indicados:

O vídeo a seguir foi resultado de uma pesquisa que teve o objetivo de demonstrar
que a ginástica artística pode ser desenvolvida sem, necessariamente, ter uma
infraestrutura específica para tal. Muitos movimentos podem ser ensinados, com
segurança, para crianças em idade escolar, mesmo que o ambiente não tenha os
equipamentos oficiais desta modalidade.

http://www.youtube.com/watch?v=bjsZJp9bT2A (Ginástica Artística na


Educação Física Escolar)

Os materiais utilizados são baratos e acessíveis para que alguns fundamentos


da ginática artística sejam aprendidos na iniciação esportiva da modalidade.

Já o vídeo seguinte mostra uma outra realidade da ginástica artística, que


seriam as crianças que já estão em processo de treinamento esportivo
UNIUBE 223

voltado para a competição. Sendo assim, os equipamentos oficiais da


modalidade são imprescindíveis para a execução dos fundamentos.

https://www.youtube.com/watch?v=fQzl6IBmla0

Notamos que os movimentos são realizados com maior controle motor, já


que o treinamento sistematizado tem como um dos seus objetivos a melhora
da técnica e das capacidades físicas específicas da modalidade, como força,
flexibilidade, agilidade e outros.

7.1.3 Procedimentos metodológicos e avaliação

Ao planejar sua aula, o professor deve se lembrar de que, embora não


haja um modelo único para isto, um método de ensino deve ser escolhido
de forma que gere a aprendizagem dos alunos, mesmo sabendo que
cada criança aprende por um caminho diferente. Assim, é preciso que o
professor identifique quais são os caminhos facilitadores para seus alunos
aprenderem. Nista-Piccolo e Moreira (2012) sugerem que, para elaborar
melhor as aulas, elas sejam divididas em três grandes momentos, que
se mesclam como partes de uma mesma aula, interpretados como
momentos de exploração, análise e experiência, consolidando-se numa
aprendizagem.

1º) 2º) 3º)


Exploração Análise Experiência
224 UNIUBE

• Primeiro momento: exploração


As crianças deverão explorar movimentos, de acordo com o conteúdo a
ser trabalhado, para que o professor consiga observar melhor seu aluno e
identificar sua bagagem motora. Dessa forma, a criança tem a possibilidade
de mostrar seu potencial e seus limites em relação àquela prática, além
de aprender outras formas de ação motora, observando seus colegas e
tentando executar um movimento que ainda não havia pensado.
Num primeiro momento, as crianças tomam contato
com o tema que será desenvolvido naquela aula, sem,
contudo, receber nenhuma proposta dirigida; é o tempo
da exploração dos possíveis movimentos que a criança
é capaz de criar e executar. Na maioria das vezes, as
ideias surgem das próprias brincadeiras das crianças
com o tema ou material que está sendo trabalhado.
Esse é o momento em que o professor não interfere,
apenas estimula a ação perguntando o que é possível
fazer, outras maneiras de fazer, observando sempre
seus alunos. (NISTA-PICCOLO, 1995, p.117).

Neste momento, o professor consegue analisar o nível de exigência


de suas atividades, adequando-as às possibilidades que os alunos
apresentam e aumentando a complexidade do exercício em si, visando
sempre ultrapassar o que já foi atingido pelos alunos sem desrespeitar
suas capacidades. Esse momento determina a familiarização do aluno
com a atividade proposta, por meio de explorações dos objetos, de
materiais, do espaço, dos movimentos corporais, sem seguir nenhum
modelo predeterminado (NISTA-PICCOLO e MOREIRA, 2012).

• Segundo momento: análise


O professor, baseado no potencial de cada aluno, irá propor atividades,
explicando-as mas sem determinar como fazer.
Num segundo momento, as propostas são transmitidas
por meio de pistas para que as crianças criem alternativas
de trabalho, solucionem os problemas apresentados para
a realização da tarefa, individualmente e em grupo; não há
nessa fase direcionamento da atividade em si, apenas um
direcionamento da proposta da atividade; é dizer “o quê”
sem determinar ‘como’.(NISTA-PICCOLO, 1995, p.117).
UNIUBE 225

Neste momento da aula, é apresentada aos alunos uma situação-


problema para que encontrem uma solução, a partir da reflexão sobre a
situação proposta. Ao pensarem como podem resolver o problema, as
crianças vão buscar o que já foi aprendido e o professor, ao intermediar a
atividade com pistas, deve ter o cuidado de não influenciar as crianças na
condução de soluções que ele julga adequadas. Ele deve dar liberdade
para que os alunos busquem soluções por eles mesmos.
A mediação do professor nesse caso é crucial.
Colocando dicas e outras perguntas, acerca das
hipóteses dos alunos, eles terão oportunidade para
revelar seus pontos de vista, oportunidades para
formular novas respostas. É imprescindível que os
alunos compreendam a importância daquilo que estão
experimentando ou descobrindo, para que se torne
possível responderem às questões do tipo: ‘por que
isso é necessário?’, ‘para que serve fazer de outra
forma?’ Poder refletir, organizar o pensamento e as
situações motoras, identificar o que é familiar e o que
é desconhecido serve para abandonar o imediatismo
na realização das tarefas, e seguramente faz com que
os conhecimentos adquiridos possam se transformar
em conceitos, modificando sua estrutura inicial. Muitos
podem ser trilhados pela mesma ‘pista’. Capazes de
refletir e se envolver com cada uma delas, os alunos
podem sentir curiosidade por averiguar o que ainda
lhes é desconhecido. Neste momento, a neutralidade
do professor em relação ao posicionamento dos alunos
tende a estimulá-lo para argumentações, explicações
e interpretações de suas realizações. (VELARDI,
TOLEDO, NISTA-PICCOLO, 2009, p.82).

No caso da ginástica, poderia se propor um circuito que permitisse


movimentos diversos em cada estação, por exemplo, colocar um banco
sueco para que os alunos atravessem até o outro lado, mas deixando
livre a forma de se deslocar, podendo ser de pé movendo-se de lado ou
de frente, assentado escorregando sobre as nádegas, engatinhando,
ou seja, deixando que os alunos desenvolvam sua criatividade para
desenvolver a atividade proposta.
226 UNIUBE

• Terceiro momento: experiência


O professor deverá verificar os objetivos que não foram contemplados nos
dois momentos anteriores, considerados indispensáveis à aprendizagem e,
assim, intervir acrescentando algo que esteja relacionado ao desenvolvimento
potencial deles.

Enfim, as definições das propostas de atividades e as estratégias escolhidas


devem sempre estar vinculadas às necessidades de movimento das
crianças, que devem ser o ponto central da preocupação dos professores
ao elaborarem as aulas.

A atuação de um professor pode contribuir diretamente para o desenvolvimento


de um aluno e, muitas vezes, sua influência é decisiva. Suas atitudes
podem ser analisadas, avaliadas, imitadas ou rejeitadas pelos próprios
alunos, tudo depende da relação estabelecida com eles. Ser capaz de
entender os sentimentos e as emoções de seus alunos também faz parte
das competências de um bom professor (NISTA-PICCOLO e MOREIRA,
2012, p.43). Os autores ainda contribuem para a importância do saber
ensinar:
Saber ensinar é oportunizar o conhecimento, oferecendo
meios e instrumentos que permitam ao aluno sua
própria construção. O fazer pedagógico tem a ver com
a criação de desafios que provoquem o desequilíbrio
nos alunos, promovendo crescimento, incitando-os
a avançar. Mas, para isso, é preciso olhar seu aluno
com respeito às suas limitações, reconhecendo seu
potencial e auxiliando-o na descoberta do caminho mais
fácil para uma aprendizagem eficaz. (NISTA-PICCOLO
e MOREIRA, 2012, p.43).

Korsakas e De Rose Jr (2002) enfatizam ainda que o professor deve


estabelecer referências e metas individuais coerentes com o nível
particular de desenvolvimento de cada criança para que todos os alunos
tenham oportunidades iguais de aprendizagem e progresso e, desta
maneira, busquem a autossuperação, e não a superação dos outros.
UNIUBE 227

A observação é uma forma de aprendizagem que pode ser utilizada


na infância. Ao solicitarmos que as crianças executem determinado
movimento que já existe, elas terão que observar como é que se realiza
o movimento e podem fazer isso assistindo alguém executá-lo. Em
seguida, devem imitar aquele movimento proposto, analisando a partir
da observação.

Na verdade, muitos movimentos realizados numa aula não são originais,


pois os alunos já podem ter vivenciado-os, ou, pelo menos, visto-os
anteriormente em outro contexto (NISTA-PICCOLO e MOREIRA,
2012). Observar e imitar não são práticas exclusivas de técnicas da
ginástica, pois servem também para que os alunos copiem modelos
de comportamento, como a atitude de um professor que respeita os
limites e as capacidades de cada aluno. É comum, também, que uma
criança imite o movimento de um colega que se mostre mais ousado ao
realizá-lo, podendo, inclusive, gerar uma mudança de comportamento,
fazendo parte dos conteúdos atitudinais desenvolvidos em cada aula.
A individualidade, portanto, de cada criança deve ser respeitada pelo
professor:
Precisamos enfatizar que não há uma padronização
das condutas e valores dos indivíduos, pois cada um
tem uma formação segundo sua realidade econômica,
social, cultural, e seu contexto familiar. Alunos se
manifestam de formas diferentes diante da mesma
situação, enquanto uns utilizam a agressividade,
outros se expressam pelo silêncio como forma de
manifestação de suas sensações, sejam de afeto ou
aversão. (VELARDI, TOLEDO, NISTA-PICCOLO, 2009,
p. 60).

Assim, no processo avaliativo, o professor deverá usar como parâmetro o


antes de e o depois de de cada aluno, e não simplesmente compará-lo com
o outro, que possui outra vivência e outro estágio de desenvolvimento.
Desta forma, estará respeitando a individualidade de cada aluno e
promovendo um controle da evolução da aprendizagem.
228 UNIUBE

PARADA PARA REFLEXÃO

Alguns questionamentos poderão nos auxiliar na elaboração das atividades


ginásticas para crianças: o que espero que minhas crianças consigam fazer?
O que eu quero que meus alunos aprendam hoje? O que eles precisam
alcançar que está relacionado ao conteúdo trabalhado?

O texto a seguir poderá ajudá-lo a contextualizar a ginástica ao longo dos


tempos, relacionando-a com a pedagogia, a escola e a Educação Física,
refletindo, assim, as possibilidades de trabalha-la no ambiente escolar.

http://www.ginasticas.com/conteudo/gimnica/gin_ginastica/ginasticas_com_
gimnica_o_conteudo_ginastica_em_aulas_de_ef_escolar.pdf

O texto enfatiza, principalmente, o processo de apropriação, recriação e


socialização dos conhecimentos aprendidos por meio da ginástica, assim
como vimos no decorrer deste tópico relacionado à infância.

7.2 Prática da ginástica na adolescência

Percebemos que entre os adolescente que praticam ginástica, temos


basicamente dois grupos: aqueles que estão preocupados com sua
aparência física e aqueles que buscam a modalidade enquanto esporte
de rendimento, embora estudos apontem que os adolescentes estão
cada vez mais sedentários.

Desta forma, especificamente com esta faixa etária, é preciso questionar


quais grupos sociais estão interessados na prática da ginástica e como
motivá-los a mantê-los ativos na modalidade.
UNIUBE 229

7.2.1 Contextualização da ginástica na adolescência

A adolescência é um período crítico de evolução biológica e psicológica


para o indivíduo. É possível ajudar o adolescente a preparar-se para a idade
adulta mediante orientações sobre saúde, doença e adaptações da conduta.

De acordo com Molina (2004), a adolescência pode ser entendida como


um período que caracteriza a fase de mudanças físicas e psicológicas
que vive o ser humano ao sair da infância e antes de formar parte da
vida adulta.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência é um


período de vida em que ocorre uma série de transformações amplas,
rápidas e variadas, registradas entre os 10 e 19 anos, correspondendo
da puberdade à idade adulta.

As principais mudanças são (BANKOFF, 2000):

• “estirões” do crescimento que definem uma acentuada aceleração


do aumento de estatura e de modificação da forma do corpo, assim
como de muitos órgãos. A aceleração do crescimento acontece
primeiro nas mulheres do que nos homens, pois neles dura mais
tempo (5% dos homens sadios continuam crescendo após os 18
anos);
• crescimento e transformação das gônadas;
• transformação dos órgãos sexuais secundários e características
sexuais;
• modificação na composição corporal.

Na atualidade, cada vez mais, os jovens prolongam sua passagem da


infância à vida adulta, sendo diversos os fatores que influenciam isso.
Percebe-se, assim, que a adolescência prolongada é um fenômeno que
vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade.
230 UNIUBE

Perrot (1991) enfatiza que, antigamente, a adolescência era ignorada


pelas sociedades tradicionais. Ele considera que a vivência da
adolescência é um perigo para o jovem e para a sociedade, pois existe
uma busca narcisista, ou seja, busca de si mesmo; há procura de sua
imagem física e moral e o adolescente é, portanto, o único que tende a
desintegrar a sociedade.

Os jovens do século XIX, para Perrot (1991), não são mais considerados
como grupo, e, sim, como indivíduos que só têm a obedecer e a calar.
Sendo considerada zona de turbulência e de contestação, a adolescência
constitui uma linha de fraturas e erupções vulcânicas no seio das famílias.

A sociedade representa os valores e crenças dos indivíduos dada


a época em que se vive e, em relação à adolescência, isso também
se aplica. Antigamente, o adolescente deveria ser submisso aos mais
velhos e não podia se expressar frente às suas necessidades, enquanto
atualmente esse comportamento é completamente diferente, ele
participa das decisões familiares e se expressa livremente. E ainda,
independentemente do momento, a adolescência acontece de forma
singular para cada jovem, para cada família, para cada cultura.

Segundo Soares (2000), definir a essência da adolescência sempre


pressupõe ter determinadas concepções da natureza humana, a fim
de poder definir como são os adolescentes e o que fazer com eles,
configurando-se, portanto, as concepções como formas de controle.
O que se sabe é que o adolescente vive à mercê
de impulsos de difícil controle. Vive na ambiguidade
evidenciada, por um lado, pela exuberância e pela
competência biológica e, por outro lado, por um estatuto
social que o subestima e o declara incapaz. Por tudo
isso, a adolescência é feita de muito medo para os
adolescentes ao mesmo tempo em que é alvo de muita
repressão por parte dos adultos (MOLINA; SILVA;
SILVEIRA, 2004, p.42).
UNIUBE 231

A sociedade em geral tem como verdadeira a afirmação de que na


adolescência a identidade está em processo, portanto é passível de
mobilidade e de instabilidade.

A adolescência é um período de inúmeras mudanças, em todos os sentidos,


marcado por muitas instabilidades. Entre as principais alterações estão
aquelas, segundo Outeiral (1994), relacionadas à maior capacidade de
abstração, à transformação do corpo infantil e às mudanças emocionais. A
mudança ocorre na totalidade do adolescente, afetando sua personalidade
e seu modo de se ver e enxergar o mundo à sua volta.

Em decorrência, a adolescência é tida como um período de instabilidade,


marcada inclusive pelas mudanças físicas que surpreendem, gratificam,
mas também incomodam os próprios adolescentes e seus pais.

AGORA É A SUA VEZ

Você se lembra de sua adolescência? Como se sentia? Quais eram suas


expectativas? Anote, em seu caderno, cinco aspectos bons daquela época
e cinco aspectos ruins.

Agora pense: você acredita que a adolescência de hoje é diferente da adolescência


de sua época?

O que mudou? Escreva.

Oliveira (2007) postula que, devido à velocidade dessas mudanças, o


adolescente não possui um lugar definido e se vê entre dois mundos: o da
criança que não é mais e o do adulto que ainda não é. Os pais ratificam
essa posição ao lhe cobrar responsabilidades com frases do tipo: “Você
não é mais uma criança.” e ao lhe negar direitos com outras afirmações:
“Você ainda não é um adulto”. Se algo acontece com um adulto, trata-se
de um acidente, já com o adolescente, mesmo que se trate de fato idêntico
e nas mesmas circunstâncias, há uma propensão a responsabilizá-lo,
considerando-o imprudente, desatento e mesmo incapaz.
232 UNIUBE

Quanto a estas questões, Molina, Silva e Silveira (2004, 127) apontam que:
O hábito de definir o adolescente como alguém que
não é mais criança, ao mesmo tempo em que também
não é adulto, expressa a indefinição social desse lugar.
Essas características da adolescência, normalmente,
são associadas à ameaça à segurança social, e muitas
das justificativas para a implementação de políticas
de esporte para os jovens vêm sendo justificadas por
esse argumento que, a nosso juízo, é unicamente
moral e, portanto, desprovido de preocupações, de
conhecimento e de fundamento pedagógico. Aliás, o
corpo e a sexualidade dos adolescentes normalmente
chamam a atenção em termos de crises morais.

Oliveira (2007) entende que todas as mudanças que ocorrem com o


adolescente (Figura 4) resultarão em uma nova identidade para o jovem,
a identidade adulta. Esta é formada pelas identificações que o indivíduo
obtém ao longo de sua vida, sendo que as mais relevantes são as que
ocorrem durante a socialização primária, ou seja, no âmbito familiar.

Figura 4: Adolescência.
Fonte: Depositphotos – Acervo Uniube.

E o término da adolescência ocorre, portanto, quando o jovem tem


o sentido de sua própria individualidade e compreende o seu papel
independentemente da orientação da sua vida, aceitando compromissos.
Ele cumpriu determinadas tarefas, como afirmação de identidade pessoal,
sexual e psicossocial e a aquisição de uma autonomia (OLIVEIRA, 2007).

Nesta fase da vida, estudos demonstram uma progressiva desmotivação


em relação ao exercício físico (CAVIGLIOLI, 1976; BETTI, 1986; ZONTA;
BETTI; LIZ, 2000). Os adolescentes adquirem uma visão mais crítica e
já não atribuem a essa prática tanto crédito. A atividade física, central
em suas vidas até 12 ou 13 anos, cede espaço para outros núcleos de
interesse (sexualidade, trabalho, vestibular, etc.).
UNIUBE 233

Neste contexto, Betti e Zuliani (2002) apontam dois grupos de alunos:


os que vão se identificar com o esforço metódico e intenso da prática
esportiva formal e os que vão perceber, no exercício físico, sentidos
vinculados ao lazer e bem-estar. Citamos, ainda, um terceiro grupo que
estará preocupado com a imagem corporal, portanto irá recorrer ao
movimento em função disso.

Entende o
Identifica-se
exercício físico Preocupa-se com a
com a prática
como lazer e imagem corporal.
esportiva formal.
bem-estar.

O que se percebe é que muitos professores não investigam o que


motivam os alunos nesta faixa etária e, assim, não planejam as aulas
com conteúdos que despertem o interesse deles.

Nesta fase da vida, muitos iniciam a prática sistematizada de alguma


modalidade esportiva, como a ginástica, por escolha própria ou mesmo
por imposição da família. Por mais que os aspectos objetivados não
sejam mais do esporte educacional, mas, sim, do rendimento, o
profissional deve ficar atento para trabalhar valores morais e éticos
dentro da prática esportiva, contribuindo para a formação do adolescente
enquanto ser social e humano.

Por mais contundentes e intensas, existem críticas ao esporte de


rendimento, já que este é seletista e excludente, há riscos de lesões e
no Brasil é difícil conciliar os treinamentos com os estudos, ainda assim,
não podemos esquecer que o esporte também traz inúmeros benefícios,
como os valores, a ética, a alimentação saudável, entre outros.
234 UNIUBE

Na verdade, o profissional que atua na ginástica irá proporcionar mais


benefícios ou malefícios de acordo com a maneira que entender o
processo de treinamento de alto rendimento.

Assim sendo, a primeira pergunta que o profissional deve fazer é: qual


a responsabilidade pedagógica com a iniciação de jovens, crianças e
adolescentes na prática do esporte de rendimento com o objetivo de
participar, sistematicamente, de treinamentos e competições esportivas?

O treinamento especializado precoce no esporte acontece quando


crianças são introduzidas, antes da fase pubertária, a um processo
de treinamento planejado e organizado a longo prazo e que se efetiva
em um mínimo de três sessões semanais, com o objetivo do gradual
aumento do rendimento, além de participação periódica em competições
esportivas (KUNZ, 1994).

Conforme uma pesquisa empírica realizada por Kunz (1983, p.12), para
sua dissertação de mestrado na UFSM:
Este tipo de treinamento esportivo infantil acontece
com maior frequência e intensidade nos países com
hegemonia mundial, especialmente em esportes
como a ginástica artística e rítmica ou natação e
atletismo. Mas, no atletismo brasileiro, especialmente, o
problema também começa a ficar sério, não somente
para o atleta, como para a própria modalidade, pois
coíbe grandes talentos de alcançar o máximo de seu
rendimento quando adultos.

Nas situações em que as desilusões, fracassos e até mesmo a falta de


talento para a modalidade ou para o próprio esporte em geral, estes
acontecem sem haver apoio do técnico ou da família, é muito comum que os
problemas psicológicos sejam evidentes. Nestes casos, o atleta precoce
é, ou se sente, excluído do mundo esportivo.

Portanto, o que definirá se o esporte trará benefícios ou malefícios será


a forma como ele será abordado e ministrado pelos profissionais, assim
como o aporte familiar.
UNIUBE 235

SAIBA MAIS

Indicação de leitura

Sabendo que a prática esportiva na adolescência é um dos determinantes


de um estilo de vida ativo na idade adulta, o texto a seguir faz um recorte
sobre as preferências dos jovens.

http://www.periodicos.usp.br/rbefe/article/view/16613

Ao conhecermos as preferências e motivações dos jovens em relação à


prática esportiva, teremos uma probabilidade de aumentar a sua retenção
e diminuir as taxas de sedentarismo nesta etapa da vida.

7.2.2 Objetivos e conteúdos

Na fase da adolescência, Betti e Zuliani (2002) afirmam que o exercício


físico deve ter como objetivo trabalhar o aperfeiçoamento em habilidades
específicas da modalidade praticada, no caso a ginástica, e a aprendizagem
de habilidades mais complexas e, ainda, pode-se iniciar um trabalho
voltado para a aptidão física, entendida como o desenvolvimento global
e equilibrado das capacidades físicas (resistência aeróbica, resistência
muscular localizada e flexibilidade).

Nesta faixa etária, devido ao desenvolvimento e mudanças corporais, a


prevenção de problemas posturais deve ser um objetivo sempre presente,
mediante exercícios específicos e informações sobre o tema.

Outro conteúdo apontado por Betti e Zuliani (2002) como importante


seria a sistematização de conceitos teóricos sobre a cultura corporal
de movimento, sempre buscando uma associação entre a vivência e
o conhecimento, bem como a inter-relação com áreas afins, como a
Fisiologia, Biologia, Sociologia, Psicologia e outras.
236 UNIUBE

Mesmo que seja de extrema importância trabalhar a ginástica no que


diz respeito à dimensão procedimenta e, ainda se mostra necessário
o aprofundamento em relação às dimensões conceitual e atitudinal,
possibilitando uma formação mais ampla e mais humana, fazendo com
que os jovens efetivamente alcancem o exercício da cidadania e da
autonomia (BARROSO; DARIDO, 2009).

Veja o esquema com os objetivos do exercício físico, na fase da


adolescência.

aperfeiçoamento de habilidades específicas da modalidade (ginástica);

aprendizagem de atividades mais complexas;

trabalho voltado para aptidão física – desenvolvimento global equilibrado;

prevenção de problemas posturais, com exercícios e informações;

sistematização de conceitos teóricos sobre a cultura corporal de movimento;

aprofundamento das dimensões conceitual e atitudinal.

Como dito anteriormente, independentemente da abordagem da ginástica,


seja na dimensão educacional ou de rendimento, os profissionais devem
se preocupar com os valores que estão presentes no trato do corpo com
a modalidade. Pois, estes valores serão importantes por toda a vida na
formação do caráter e da ética do praticante.

Isto fica demonstrado na colocação de Nista-Piccolo e Moreira (2012), que


se remetem à importância dos adolescentes conhecerem e praticarem
exercícios com o objetivo de criar o hábito da prática, contribuindo para
a busca e manutenção de uma melhor qualidade de vida.
UNIUBE 237

Ferreira (2002) enfatiza que o movimento pode colaborar para a busca


da qualidade de vida porque sua prática deve ir além da economia dos
gestos, assumindo um compromisso com a educação dos sentidos, ou
seja, não basta repetir movimentos, treinar a técnica repetitivamente, mas
que os gestos executados sejam permeados de sentido e significados
para o praticante.

Bento (2006) também aponta a prática não só para aquisição de


habilidades motoras, mas, principalmente, para propiciar ao corpo uma
estrutura de viver melhor, tanto se considerado individualmente quanto
se levarmos em consideração os aspectos das relações sociais que
ela pode proporcionar. É preciso entender que o adolescente, seja no
alto rendimento, ou mesmo no lazer, busca a melhora da técnica para
competir melhor, porém não pode ser visto como um mero objeto de
manipulações biotecnológicas.

A ginástica, enquanto modalidade esportiva, pode favorecer a experiência


de nos tornarmos mais humanos segundo uma dimensão simbólica de
competição na qual estão presentes valores morais (NISTA-PICCOLO;
MOREIRA, 2012). Os autores ainda apontam que, neste contexto, tem-se
a oportunidade de desenvolver ações em que se trabalhe em equipe,
socialize alegrias e tristezas, elementos presentes numa prática esportiva
devidamente orientada.

Conseguir estimular os adolescentes é desafiador, pois, nessa fase, são


muitos os motivos que os afastam do exercício físico. A ideia é que as
ações do professor possam contribuir para um aumento da adesão dos
alunos nas aulas e isso não se dá por meio de imposição, mas, sim, por
meio do diálogo e de estratégias que os motivem.
238 UNIUBE

Para isto, Nista-Piccolo e Moreira (2012, p.50) afirmam que:


Ensinar a sentir o corpo, ser o corpo e ousar expandi-
lo não se esgota na instrução de conteúdos. Como
vivência estética, passa necessariamente pela arte
de ensinar a ouvir, ver, cheirar, apalpar, ou melhor,
desenvolver a capacidade de conhecer humanamente
o mundo. A produção da saúde não diz nada para quem
não vê mais sentido em continuar vivendo. Em outras
palavras, a anterioridade não é a busca da saúde, mas
o sentido de viver, e isto também pode ser trabalhado
na atividade esportiva.

A prática esportiva, mesmo em se tratando do esporte de alto rendimento,


deve ser permeada de significados. O atleta precisa se enxergar
enquanto ser humano que sente, pensa e se movimenta e não apenas
como um corpo máquina que deve render a qualquer custo.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

A ginástica artística é uma modalidade iniciada precocemente, além de ser


um esporte extremamente técnico que exige um treinamento exaustivo e
repetitivo. Por esses fatores, o abandono precoce é bastante incidente.
Assim, o estudo a seguir traz os aspectos que motivam as ginastas de alto
nível durante a carreira esportiva.

http://www.periodicos.usp.br/rbefe/article/view/16654

Entender os fatores que motivam os atletas no esporte de alto nível é fundamental


para que se possa traças estratégias com o objetivo de evitar o abandono da
modalidade, mesmo antes de se atingir o ápice da carreira esportiva.

Enfim, o professor deve atentar para um ensino que motive os adolescente


na prática da ginástica, que vá ao encontro de suas necessidades e
motivações. Assim, só haverá interesse e participação se as propostas de
atividades tiverem significado para os adolescentes. Ao sentirem prazer na
ginástica, os alunos poderão incorporar conhecimentos revelados nas aulas
e incorporar a prática esportiva como um hábito.
UNIUBE 239

7.2.3 Procedimentos metodológicos e avaliação

De acordo com Machado (1995), o professor, além de trabalhar os


componentes inerentes ao esporte, tem um papel essencial na construção
da personalidade e de valores que se transferem para além da prática
esportiva. Assim, é responsável por proporcionar experiências positivas
e com significados suficientes para possibilitar a formação global do seu
aluno. Neste contexto, o aspecto afetivo não pode ser descartado, mas
entendido como importante para se estabelecer a relação entre professor
e aluno (CUNHA, 1996).

Assim sendo, para ser um motivador, o professor deveria possuir uma


formação tal que o conduzisse a algumas das seguintes competências,
que, segundo Meinberg (1988, p. 3), fazem parte do rol do professor de
Educação Física:

Vejamos cada uma delas a seguir.

• Transmissor: as suas funções não devem se restringir ao ensino


de técnicas grosseiras de esportes, mas ensinar o aluno a organizar
o seu esporte e também assimilar os valores apreendidos para que
possa transmiti-los à família e aos amigos.
240 UNIUBE

• Educador: o professor deveria não só transmitir, mas também ser


um protetor, advogado e procurador da criança, e, para tal, a sua
personalidade deveria estar adequada ao seu ensino, sobressaindo-
se pela alegria, pela justiça, pelo amor ao trabalho e aos alunos.
• Avaliador: ao ter de atribuir uma classificação ao aluno, o professor
assume-se como um juiz do rendimento das outras pessoas.
• Orientador: o professor deve assumir um papel de conselheiro,
tanto do esporte como da própria carreira escolar e profissional do
aluno.
• Inovador: essa característica não consiste só em introduzir coisas
novas, mas também em discutir, refletir e modificar o que já existe
(MEINBERG, 1988).

O professor deve evitar que as aulas permaneçam sempre na mesma


rotina, deve estar atento às transformações da sociedade, pois, se a
sociedade mudou, se o aluno mudou, também o professor deveria mudar
(MARTINS JÚNIOR, 2000).

Conforme nos apresentam Graça e Mesquita (2006, p.207):


Os programas de ensino do desporto implementados
nas escolas, nos clubes desportivos e recreativos,
nas academias e demais instituições encontram a
sua legitimidade, a sua função social específica e a
sua identidade própria no modo como acolhem e
proporcionam aqueles benefícios aos segmentos da
sociedade por eles visados.

Desta forma, o ensino da ginástica deve estar focado na formação, antecedendo


à capacitação dos praticantes, objetivando, primeiramente, formar cidadãos
críticos, criativos, que saibam resolver problemas e ultrapassar obstáculos
que surgirem à sua frente, e deve permitir a superação do simples ato de
ensinar as técnicas dos movimentos da ginástica.
UNIUBE 241

Esta situação só será possível, de acordo com Nista-Piccolo e Moreira


(2012), se o professor também demonstrar gosto pelo que faz, envolvendo-
se com os alunos, contagiando-os por meio de novas e diferentes ações
pedagógicas. Para isso, é necessário identificar aspectos que norteiam
o contexto em que os jovens vivem, conhecendo seus interesses e suas
características específicas.

Corroborando esta ideia, Moreira, Pereira e Lopes (2009, p.183)


acrescentam ainda que:
Assim, o professor deve contribuir para a aquisição
da autonomia do indivíduo, possibilitando que ele seja
um agente crítico, interventor e transformador de sua
realidade, por meio de um processo de construção
conjunta. Para tanto, o professor precisa conhecer e
compreender seu aluno, pois assim, terá condições
de participar na vida deles de forma significativa; mais
do que isso, deve atentar-se aos sinais emitidos pelo
próprio corpo do aluno, incluindo seus gestos, emoções
e postura.

Refletindo sobre estas proposições, pode-se indagar: será que os


professores têm conhecimento da enorme quantidade de conteúdos que
podem ser desenvolvidos nesta faixa etária? Como transformar saberes
da ginástica em conhecimentos importantes para os adolescentes?

Veja algumas sugestões de trabalhar a ginástica, a seguir.

EXEMPLIFICANDO!

• A) Propor a exploração de gestos e movimentos diversos na resolução


de problemas apresentados pelo professor.

Exemplo:
1) O que é rolamento?
2) Quais os tipos de rolamento que podem ser feitos?
3) Existem outras formas de rolar?
4) Em que outras situações do cotidiano utilizamos o rolamento?
242 UNIUBE

• B) Partir da ginástica institucionalizada (artística, rítmica,...), enquanto


modalidade esportiva, para refletir sobre o seguinte:

1) Todos podem fazer parte desse esporte?


2) O que impossibilita a participação de todos?
3) Podemos mudar as regras?

• C) Considerando a perspectiva de que os alunos trazem consigo


histórias próprias de movimentos, exemplificar movimentos da ginástica
e suas formas de utilização no cotidiano. Ex.: rolamento (cambalhota),
que era executado na cama dos pais na infância.
• D) Abordar ginástica e as questões mais amplas que envolvem a
modalidade, tais como: os temas doping e genêro, por exemplo.
• E) Abordar as mudanças que a ginástica sofreu ao longo do tempo,
vivenciando alguns movimentos que se transformaram. Ex.: criação do
movimento dos Santos na ginástica artística a partir da série de solo
apresentada pela atleta brasileira Daiane dos Santos.
• F) Experimentar a vivência de diferentes movimentos utilizando
materiais alternativos, observando e discutindo as dificuldades sentidas
pelo grupo. Ex.: utilizar garrafas pet para construção das massas da
ginástica rítmica, com o objetivo de vivenciar as manobras com o
equipamento.
• G) Elaborar atividades que envolvam mímicas, desenhos, representações
de aspectos relacionados à ginástica. Ex.: realizar a brincadeira do
“mestre mandou” com a utilização de movimentos corporais que
remetem à ginástica.

A partir de então, é necessária a escolha de um método que se ajuste


ao objetivo do ensino e do nível de habilidade dos alunos. Nista-Piccolo
e Moreira (2012, p.77) citam o conceito do termo “método”, que “é
formado pelas palavras ‘meta + ode’, que significam caminho que levam
a um fim. Assim, método se refere à maneira como os conteúdos serão
desenvolvidos nas aulas, sempre pensando em atingir os objetivos
traçados”.
UNIUBE 243

PONTO-CHAVE

Desta forma, os autores sugerem que as aulas sejam desenvolvidas


sempre por meio de desafios, de situações-problema, para que os jovens
possam buscar soluções. Nelas, é combinado o potencial dos alunos com
a mediação do professor e a aprendizagem depende muito das estratégias
utilizadas para facilitar ou dificultar as ações dos alunos.

Mesmo não praticando a ginástica enquanto esporte de rendimento, os


jovens têm uma tendência ao imediatismo, sempre querendo conseguir
executar da forma mais perfeita, trazendo o modelo que a mídia
apresenta e imaginando que vão conseguir executar os movimentos
como os atletas de alto nível, chegando até mesmo a se frustrarem com
a falta de sucesso.

É por essa razão que experimentar e explorar os movimentos da modalidade


esportiva é fundamental, mas de forma que haja uma reflexão sobre o
sentido e o significado do movimentar-se, e não apenas a repetição de
técnicas institucionalizadas (NISTA-PICCOLO; MOREIRA, 2012). Por
isso, deve haver um cuidado na elaboração e na instrução das atividades
que serão trabalhadas.

Isto reflete, também, na maneira como os adolescentes serão avaliados


na prática da ginástica. Se o ensino da modalidade estiver pautado
na dimensão educacional, valores, como cooperação, participação,
corresponsabilidade, coeducação, deverão ser avaliados ao longo do
processo de ensino, assim como as questões técnicas, de forma que o
foco seja a aprendizagem, e não o rendimento. Mas, se estiver pautado
na dimensão de rendimento, a aptidão física, as habilidades motoras e
as qualidades psicológicas passam a ter uma importância no processo
de avaliação e a técnica deve estar focada na execução com excelência.
244 UNIUBE

EXEMPLIFICANDO!

Os vídeos a seguir podem exemplificar a prática da ginástica na adolescência


sob dois aspectos: benefícios gerais e específicos.

Este primeiro vídeo é sobre os benefícios da ginástica artística para adolescentes,


por meio do depoimento de praticantes, família e do técnico de um projeto
chamado MovimentAção.

https://www.youtube.com/watch?v=QwSG4FVdPRE

Alguns detalhes quanto ao volume e à intensidade de treinamento, assim


como a necessidade de outros aspectos, como a alimentação, fazem-se
importantes para a formação do alteta de ginástica.

O segundo vídeo demonstra a necessidade da prática de exercícios físicos


para uma formação óssea saudável, visto que o número de adolescente que
estão sedentários vem aumentando cada vez mais.

https://www.youtube.com/watch?v=D_UJQKz_HbM

As consequências da inatividade vêm aumentando desvios posturais que


geram dores e desgaste de algumas estruturas ósseas em jovens, e o
exercício físico é apontado como fator preventivo para isso.

Independentemente do público com o qual irá se trabalhar a ginástica,


é importante fazer uma alusão ao que Freire (2000) explica acerca do
ensino do futebol, remetendo a situações de ensino que respeitem a
individualidade e objetivos dos alunos:

• ensinar para todos: desenvolver competências para ensinar todas as


pessoas, não apenas aquelas que julgamos mais talentosas;
• ensinar bem a todos: não basta ensinar de qualquer jeito, mas, sim,
com a preocupação de que o praticante aprenda bem;
UNIUBE 245

• ensinar mais que a ginástica a todos: quando o praticante pode


ter consciência daquilo que ele aprende, essa consciência remete
a outros aspectos de sua vida em relação àquilo que aprendeu
especificamente num determinado setor;
• ensinar a gostar da ginástica: as práticas devem ser dinâmicas,
alegres, livres, de acordo com as características típicas da faixa
etária. As práticas mecânicas, rotineiras e monótonas acabam por
ensinar a não gostar da ginástica.

7.3 Considerações finais

Como vimos neste capítulo, a ginástica necessita ser abordada na


infância e na adolescência não só na perspectiva do esporte ou do
exercício físico, mas também na criação de bons hábitos de vida e
construção de valores que desenvolvam globalmente o ser humano.

Resumo

Neste capítulo, pudemos oferecer aos profissionais de Educação Física,


especificamente àqueles que estão atuando ou pretendem atuar no
âmbito do ginástica, a oportunidade de estudarem e de discutirem questões
que permeiam a infância e a adolescência diante das possibilidades de
prática da ginástica.

Vimos que, para que a ginástica seja ensinada e praticada de forma


adequada, é necessário que o profissional se qualifique para atuar
nas suas mais diversas vertentes, atentando para as expectativas e
necessidades de seus praticantes em suas múltiplas possibilidades,
conhecendo, assim, cada especificidade da infância e da adolescência.

É imprescindível conhecer as características que permeiam cada uma


destas etapas, assim como os objetivos de cada aluno, aquilo que o
motiva e que o limita e, assim, fazer da prática da ginástica algo repleto
de benefícios e prazer.
246 UNIUBE

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Capítulo A ginástica para
8 adultos e idosos

Aline Dessupoio Chaves

Introdução
A ginástica está cada vez mais presente na vida de adultos e dos
idosos, porém é praticada de várias formas e com diversos objetivos.

Assim, é necessário que o profissional adeque as atividades


ginásticas de acordo com as expectativas e necessidades do
aluno, a partir do conhecimento das peculiaridades da vida adulta
e do envelhecimento.

Este capítulo irá auxiliar os profissionais que atuarem no contexto


da ginástica na compreensão das alterações ocorridas na fase
de vida adulta e no processo de envelhecimento, para que se
adeque a metodologia de trabalho e a avaliação de acordo com
os objetivos do praticante.

Objetivos
Ao final deste capítulo, esperamos que seja capaz de:

• mostrar os aspectos importantes da ginástica para os adultos;


• explicar sobre a prática da ginástica na terceira idade, seus
benefícios e cuidados necessários;
• promover possibilidades metodológicas e avaliativas na
prática da ginástica, na perspectiva das faixas etárias – adultos
e idosos.
252 UNIUBE

Esquema
8.1 Prática da ginástica na vida adulta
8.1.1 Contextualização da ginástica na vida adulta
8.1.2 Objetivos e conteúdos
8.1.3 Procedimentos metodológicos e avaliação
8.2 Prática da ginástica na terceira idade
8.2.1 Contextualização da ginástica na terceira idade
8.2.2 Objetivos e conteúdos
8.2.3 Procedimentos metodológicos e avaliação
8.3 Conclusão

8.1 Prática da ginástica na vida adulta

Ao trabalharmos com o público adulto, é essencial conhecer os motivos


que o levam à prática da ginástica e o que o mantêm na atividade, pois,
desta forma, o planejamento das atividades se torna mais adequado
e motivante para o aluno. Além disso, nós, enquanto profissionais da
Educação Física, podemos nos perguntar: o que ensinar em relação à
ginástica para os adultos?

8.1.1 Contextualização da ginástica na vida adulta

A fase adulta engloba, segundo Gallahue e Ozmun (2005), indivíduos de


20 a 59 anos de idade. É nessa fase da vida que a pessoa, normalmente,
assume maior responsabilidade e que surgem novas atividades que
ocupam a maior parte do seu tempo, como o trabalho e uma maior
dinâmica na vida familiar.

Atualmente, fala-se muito em estresse, este é considerado uma doença da


era moderna que atinge pessoas que trabalham excessivamente. Uma das
formas de combater esse mal é a prática regular de atividade motora.
UNIUBE 253

A crescente difusão de informações e imagens a respeito de


saúde, corpo e todas as formas de movimento resulta num
aumento pela procura do exercício físico, mas não garante a
real adesão continuada a ele. Ou seja, as pessoas iniciam a
prática estimulada por vários motivos, mas, muitas vezes, não
conseguem incorporá-la efetivamente no seu cotidiano!

De acordo com Santos e Knijnik (2006), a prática de exercício físico


regular já faz parte da história da humanidade. Na civilização ocidental,
podemos ter registros mais sólidos a partir da Segunda Guerra Mundial
(1938-1945), com a massificação desta prática, pois foi um momento
em que se valorizou exponencialmente o desenvolvimento da aptidão
física para que o corpo se tornasse apto e forte para o combate. E, ao
longo dos anos seguintes, houve um aprimoramento das pesquisas na
área de saúde em todo mundo, ocorreram avanços na medicina e as
sociedades progrediram, aumentando, assim, a expectativa de vida geral
da população.

Estudos que relacionam a necessidade de atividades motoras, como a


ginástica, à vida adulta vêm encontrando resultados diferentes com o
passar dos anos. Isso ocorre porque, embora tenha havido um aumento
na expectativa de vida da população e, nos afazeres do cotidiano, as
pessoas se movimentam cada vez menos. Como exemplo, temos o uso
do controle remoto das TV’s, acarretando o maior aparecimento das
doenças crônico-degenerativas e a baixa qualidade de vida. Por outro
lado, o adoecimento maior tem gerado uma maior procura pelo exercício
físico, na tentativa de reestabelecer a saúde e a qualidade de vida.

A ginástica na vida adulta pode ser utilizada “(...) como mecanismo


de prevenção, a atividade física tem papel fundamental, podendo
desacelerar as alterações fisiológicas do envelhecimento e das doenças
crônico-degenerativas” (FEDERIGUI, 1995 apud MOREIRA, 2001, p.13).
254 UNIUBE

Para adiar ou prevenir o aparecimento de patologias associadas ao


processo de envelhecimento na fase adulta, a ginástica, de forma
orientada, poderá contribuir muito para uma vida mais saudável e
com qualidade, trazendo benefícios físicos, psicológicos e sociais, e
contribuindo para a manutenção das funções físicas e cognitivas.

Nesta fase da vida, ocorre uma desaceleração na taxa metabólica,


o controle do peso torna-se mais difícil, em alguns casos o equilíbrio
bioquímico é perturbado por moléstias, como cálculos renais, cálculos
biliares, dificuldades respiratórias ou circulatórias (PIKUNAS, 1979).

Segundo Shephard (2003), o indivíduo adulto tem um decréscimo


de 10% a 30% nas suas funções e, após entrarmos na 3ª idade e
senescência, acentuam-se cada vez mais os decréscimos. Ocorre, ainda,
a queda progressiva na mobilidade articular (que já teve início na fase da
adolescência), queda na resistência, no equilíbrio, na força muscular,
entre outros (LENDZION et. al., 2002).

O declínio cognitivo é mais gradual; nas dimensões sociais há um declínio


acentuado dos 40 aos 60. Especialmente após os 60 anos, esta curva é
mais acentuada (PIKUNAS, 1979).

Com relação ao bem-estar emocional, este é, em parte, resultado da


interação social e da força do vínculo social (NERI, 1993).

No aspecto psicossocial, pode-se obter um aumento da autoestima, alívio


do estresse, queda da depressão, aumento do bem-estar, redução do
isolamento social, melhora da autoconfiança, autoeficácia, redução dos
riscos de ansiedade, melhora do autocontrole e melhora da autoimagem
(COUSINS, 1997; HOWLEY; FRANKS, 2000; WEINBERG; GOULD,
2001; SHEPHARD, 2003).
UNIUBE 255

Na idade adulta, muitos indivíduos praticam a ginástica não apenas para


a busca da saúde ou da qualidade de vida, mas também para o aspecto
do rendimento esportivo. Neste contexto, os objetivos da modalidade
passam a ser:

• o rendimento esportivo,
• a competição,
• a comparação de rendimentos e recordes,
• a regulamentação rígida;
• a racionalização de técnicas e táticas das modalidades.

Portanto, para atingir as exigências do esporte de rendimento, o atleta


deve ser submetido a um programa de treinamento sistematizado, no
qual o profissional deverá focar as habilidades principais necessárias
para a obtenção dos objetivos de desempenho de cada esporte.

Além disso, é de suma importância estabelecer a frequência, o volume e


a intensidade do treinamento, a fim de se criarem adaptações fisiológicas
necessárias para que o atleta alcance um desempenho máximo, sem que
haja prejuízos físicos, biológicos ou psicológicos para ele.

Esta organização do treinamento deve estar a mais distanciada possível


de todas improvisações, integrando os conhecimentos em um sistema
estrutural e organizado e mais pertos da ciência e da tecnologia.

É igualmente certo que os profissionais que trabalham na área de


rendimento esportivo necessitam pôr em prática seus conhecimentos
de forma adequada, com a finalidade de programar o treinamento dos
atletas e não esquecer que cada atleta possui sua individualidade e não
deve ser tratado como uma “máquina”, mas como um ser humano.
256 UNIUBE

Os atletas de alto rendimento se apresentam com uma preparação física


distinta da média da população e têm, ainda, uma preparação mental
igualmente excepcional. Eles participam de programas de treinamento
exaustivos que necessitam desenvolver vários aspectos físicos,
cognitivos e psicológicos.

Mesmo diante de tantas exigências e sacrifícios, estes atletas permanecem


na modalidade pelo simples prazer inerente à sua prática, pela necessidade
de se autossuperar e, até mesmo, vivenciar situações estimuladoras.
Existem, também, os atletas que têm a prática da ginástica como meio
de sobrevivência, que fazem dela sua profissão, mas que nem por
isso podem esquecer sua condição humana, não focando apenas o
esgotamento de seu corpo.

8.1.2 Objetivos e conteúdos

Acredita-se que muitos adultos que praticam a ginástica têm por objetivo
minimizar os efeitos do estresse, recuperando-se física e mentalmente.
Para aqueles que querem apenas relaxar, o professor deve utilizar
uma metodologia diferente daquela utilizada para aqueles que querem
competir ou emagrecer, por exemplo.

Portanto, para o profissional selecionar os conteúdos adequados, antes


ele precisa conhecer os objetivos de cada aluno e, no caso dos adultos,
estes são variados.

Mesmo sendo numa situação de prática da ginástica para o lazer ou para


a saúde, algumas situações inadequadas desmotivam ou até mesmo
estressam os participantes, como mostrado na Figura 1.
UNIUBE 257

Figura 1: Situações inadequadas à prática esportiva para o lazer.

Assim como existem adultos que praticam a ginástica por lazer, há


aqueles que buscam a aprendizagem dos seus fundamentos e até os
que praticam com o objetivo de rendimento esportivo.

Silva, Galatti e Paes (2010, p. 4) citam, que para a formação do atleta


adulto, espera-se que:
ao longo da infância e adolescência, seja no contexto da
educação, não formal ou informal, a vivência e a prática
esportiva permitam às pessoas o desenvolvimento de
habilidades e capacidades gerais e específicas que
lhes permitam o acesso autônomo à prática esportiva
na idade adulta. Entretanto, esta expectativa nem
sempre se cumpre, ou por um tratamento insuficiente
com o esporte no cenário escolar ou pela dificuldade
de acesso à prática esportiva em outros cenários, tais
como clubes e centros privados.
258 UNIUBE

Assim, o indivíduo que tenha tido um amplo repertório motor e que


tenha praticado diversas atividades e exercido suas habilidades motoras
básicas por meio de vivências motoras variadas tende a ter maior
facilidade para o aprendizado de um novo movimento ou de uma nova
modalidade esportiva (BARBANTI, 1994).

Esta colocação é importante para que o professor saiba trabalhar com


aquelas pessoas que começam a prática da ginástica na idade adulta.
Mesmo que, no momento da aprendizagem, o aluno não demonstre
interesse em tornar-se um atleta, deve-se ter a preocupação em ensinar
os movimentos corretamente, até porque não se sabe se futuramente
esta escolha mudará, por mais que a ginástica competitiva seja mais
comum entre os jovens.

Confirmando a colocação acima, Gallahue e Ozmun (2005, p. 434, p.434)


destacam que:
Uma técnica aprendida corretamente é difícil de ser
alterada e se gasta muito tempo para obter essa
alteração porque qualquer novo aprendizado requer que
se torne determinada habilidade avançada inconsciente
e que se faça com que ele retorne ao nível consciente.

O jovem adulto apresenta determinados padrões de movimento que


podem dificultar a aprendizagem de movimentos muito técnicos, mas
não a impedem. E em se tratando da prática para a saúde ou para o
lazer, a técnica dos movimentos deve ser exigida pensando apenas no
bem-estar do praticante, e não no seu rendimento.

Por isso, o profissional que trabalha com este público deve estar atento
aos conteúdos trabalhados e, principalmente, a como serão ensinados
ou treinados, para que os alunos alcancem o seu objetivo almejado com
a prática ginástica e, desta forma, não a abandonem antes de atingirem
sua meta.
UNIUBE 259

8.1.3 Procedimentos metodológicos e avaliação

As diversas possibilidades de prática da ginástica (Figura 2) são diferentes


quanto às exigências técnicas, táticas e cognitivas, e o treino correto de
cada uma delas poderá determinar o alcance de um objetivo ou não.
Para isso, deve-se preocupar com todas as habilidades motoras que a
integram; todos os recursos técnicos, com variação dos fundamentos,
que compõem uma habilidade motora; e todas as escolhas técnicas para
as situações específicas da modalidade (SILVA, 2006).

Figura 2: Prática de ginástica.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

Quando a ginástica for praticada no contexto esportivo, a técnica dos


movimentos deverá ser bastante evidenciada. De acordo com Martin
(1991), a técnica esportiva é comprovada, conveniente, útil e efetiva,
com sucessão de movimentos para a solução de uma definida tarefa em
situações esportivas. Assim como, para Greco (1998), a interpretação
no tempo-espaço e a situação do meio instrumental operativo são
necessárias para a solução e execução da tarefa ou problema com que
se defronta no esporte.

Desta maneira, os objetivos do treinamento técnico devem ser:


• a formação de automatismos flexíveis dos movimentos ideais,
conforme modelos;
• a otimização dos programas motores generalizados;
260 UNIUBE

• a otimização da imagem de movimento;


• o aprimoramento da capacidade de variação, combinação e adaptação
do comportamento motor, na execução da técnica na situação de
competição.

O treinamento técnico deve seguir uma sequência, partindo do simples


para o complexo, em que o atleta inicia com gestos mais simples (de
menor exigência psicomotora), chegando aos mais complexos (com
maiores variações e combinações).

Quando o atleta tem movimentos básicos bem automatizados, ele está


totalmente apto a executar os mais complexos sem grande dispêndio
psicológico e energético, evitando falhas que levam à frustração, insegurança e
queda na autoestima. A boa preparação técnica torna o atleta mais confiante
em relação a suas capacidades e realmente mais perto de seus objetivos.

IMPORTANTE!

Justamente pelo treinamento técnico ser muito aplicado, ele se torna um


pouco maçante, o que exige do técnico uma boa distribuição de atividades
com variações de exercícios e senso crítico adequado, isto significa que,
quando um atleta começa a repetir falhas em sua execução, o técnico deve
ser capaz de perceber que tais falhas podem ter sido geradas pelo cansaço
físico e mental, devendo, então, dar um “tempo” para o atleta se recuperar
ou passar para outro exercício, evitando, assim, a automação de um gesto
incorreto.

As variáveis que influenciam o desenvolvimento da capacidade técnica


são: a estrutura temporal (quando se realiza); a frequência (quantas
vezes se realiza); o oferecimento (como se apresentam os exercícios) e
a precisão (quantas ou como se deve acertar).
UNIUBE 261

Estrutura temporal

CAPACIDADE
Precisão Frequência
TÉCNICA

Oferecimento

Vejamos, a seguir, cada uma dessas variáveis.

Em relação à estrutura temporal, recomenda-se que, para se otimizar


a técnica, o treinamento técnico deve ser feito após o aquecimento, no
início do treino. Pode também, no esporte de alto nível, ser realizado no
final do treino, com o objetivo de se executar a técnica, já aprendida sem
erros, em situação de estresse.

A frequência com que se pratica a técnica depende do objetivo, sendo


que, em níveis mais altos, é realizado diariamente. Um dos detalhes
importantes em relação à frequência se refere à interseção com a
estrutura temporal. O treinamento técnico (a repetição de exercícios)
deve ser oferecido até que apareçam sinais de cansaço mental, pois o
aprendizado da técnica só será possível se esta for repetida enquanto o
atleta esteja coordenando a ação de forma consciente, já que a correção
da técnica exige muito do sistema nervoso central.

As atividades ministradas nas aulas devem utilizar quatro princípios


básicos da aprendizagem motora: dividindo a técnica em partes;
modificando os níveis de força; apoiando, por meio de exercícios, os
elementos invariáveis do programa motor; modificando parâmetros
variáveis de aplicação de força e do tempo de execução.
262 UNIUBE

Ao trabalhar a precisão, o profissional deverá proceder sempre a uma


redução das exigências para, progressivamente, melhorar as condições
de rendimento.

Para o alcance das metas propostas para o atleta, é necessário que um


treinamento bem planejado e bem executado seja realizado.

Após o estabelecimento das metas que serão buscadas, o técnico


deverá encontrar a melhor maneira de conduzir os treinamentos, sempre
enfocando seus principais componentes, que são o treinamento físico,
o treinamento técnico, o treinamento tático e o treinamento psicológico.

Dentro das necessidades principais de cada atleta, o técnico deve


identificar os pontos fortes e fracos, buscando um equilíbrio na preparação
de seus atletas, o que certamente resultará no melhor desempenho e,
consequentemente, no alcance dos resultados pretendidos.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

O que você acha que motiva os adultos dentro de uma academia de ginástica?
Segue um artigo sobre o tema.

Este artigo, dos autores Balbinotti e Capazzoli (2008), investigou o aspecto


que mais motiva os alunos de uma academia de ginástica. O público
investigado tinha entre 18 e 65 anos de ambos os sexos e eram residentes
em Porto Alegre/RS.

http://www.periodicos.usp.br/rbefe/article/view/16683

O estudo indica que a dimensão “saúde” é a que mais motiva os praticantes


investigados na prática da ginástica em academia. Sabemos que existem
outros motivos que fazem com que uma pessoa pratique ginástica e esta
informação é muito importante para o planejamento das atividades propostas
nas aulas.
UNIUBE 263

8.2 Prática da ginástica na terceira idade

São consideradas idosas as pessoas com 60 anos ou mais (OMS, 2015)


e, nos dias de hoje, a preocupação maior quando se trata do processo
de envelhecimento é em relação à promoção da saúde, isto é, como se
manter saudável e feliz (SHEPHARD, 2003).

8.2.1 Contextualização da ginástica na terceira idade

Conforme Wagorn (2002), uma das coisas mais maravilhosas deste


mundo é envelhecer com autonomia e capacidade para resolver, sozinho,
as suas próprias coisas, para viver de forma independente e ativa, sem
criar barreiras para o prosseguimento do ritmo natural da vida.

Sabemos que nos, últimos anos, a expectativa de vida do brasileiro


aumentou, inclusive Veras e Caldas (2004) apontam que, com o avanço
da ciência e da tecnologia, esse aumento da sobrevida será de 75 anos
atuais para 110 a 120 anos. Porém, são necessárias medidas para que
esta fase da vida seja realmente ativa e proveitosa.

O envelhecimento é um segmento biossocial retroativo dos seres


vivos, com manifestações de perda das capacidades ao longo da vida,
geneticamente influenciado por fatores psicoemotivos e pelo estilo de
vida do indivíduo (FRANCHI; MONTENEGRO JÚNIOR, 2005).

Os idosos são acometidos por mudanças, como perda de massa óssea e


muscular, redução de força, baixa flexibilidade, lentidão na execução dos
movimentos e oscilação corporal frequente na postura em pé, estando os
sujeitos a alterações posturais em virtude dessas mudanças (PEREIRA,
2006). No envelhecimento, as alterações posturais fisiológicas acontecem
na senescência (FERREIRA, MASSOTE; LIMA, 2005).
264 UNIUBE

Porém, o processo de envelhecimento varia de indivíduo para indivíduo,


dependendo de seus hábitos de vida e genética, podendo ocasionar
alterações biológicas, psicológicas e/ou sociais, sendo assim representadas
não só pelos seus anos de vida, mas pela qualidade e condições
favoráveis para um envelhecimento saudável (RAMOS, 2002).

Durante o processo de envelhecimento, ocorrem declínios em algumas


funções, algumas intrínsecas, difíceis de serem controladas, como
aquelas relacionadas ao sistema fisiológico e ao sistema psicológico, que
acabam por acarretar algumas doenças, e outras extrínsecas, que podem
ser modificadas, como a tendência a um estilo de vida mais sedentário
e isolamento social.

O envelhecimento também proporciona redução da flexibilidade, ocasionando


encurtamento muscular e aumentando o gasto energético durante a
realização de atividades, por exemplo, durante a locomoção.

A ausência de movimentos amplos está associada à redução da


flexibilidade, causando insegurança durante as atividades físicas, sendo
frequentes as reclamações de dores músculo-articulares durante a
realização de atividades diárias (ACHOUR JÚNIOR, 1999).

O equilíbrio e a capacidade de manter a posição do corpo sobre sua base


de apoio, seja ela estacionária ou móvel, também sofrem um decréscimo
nesta fase da vida, quando os níveis de força dos membros inferiores
para manutenção do equilíbrio são diminuídos. Muitas vezes, isso
acarreta a perda da locomoção, principalmente se não for estimulado,
além de aumentar, significativamente, o risco de quedas.
UNIUBE 265
PONTO-CHAVE

Em virtude destas perdas, acredita-se que a participação da pessoa idosa


em um programa de atividade física regular, como a ginástica, poderá
influenciar o processo de envelhecimento, com impacto sobre a qualidade
e expectativa de vida, melhoria das funções orgânicas, garantia de maior
independência pessoal, com efeitos benéficos no controle, tratamento e
prevenção de doenças, como diabetes, deficiências cardíacas, hipertensão,
arteriosclerose, varizes, artrose, distúrbios mentais, artrite e dor crônica
(SHEPHARD, 2003; MONTEIRO et al, 2004).

Além disso, os processos de absorção e organização das informações


pioram, comprometendo a expressão das capacidades coordenativas,
principalmente dos movimentos que não são mais suficientemente utilizados
no cotidiano (COSTA, 1998) e, com a prática da ginástica, ela pode ser
estimulada, até porque a regressão motora normalmente está relacionada
mais à inatividade do que propriamente ao envelhecimento em si.

Entre as diferentes formas de exercícios, a ginástica abraça e desenvolve


várias capacidades físicas e habilidades, ultrapassando as melhorias
aparentemente motoras, associando-se aos desenvolvimentos cognitivos,
afetivos e sociais.

A ginástica possibilita trabalhar os diferentes grupos musculares de


forma mais específica, permitindo a melhora da resistência e força
muscular. Pode contribuir, também, para a melhora do equilíbrio dinâmico,
coordenação motora e agilidade dos praticantes.

8.2.2 Objetivos e conteúdos

A maioria dos idosos que busca a ginástica, enquanto exercício físico,


o fazem pela busca de saúde e melhora na qualidade de vida. Mas,
não podemos esquecer que uma parcela também tem como objetivo a
questão estética, que, para algumas pessoas, é algo bastante relevante
no processo de envelhecimento.
266 UNIUBE

Percebe-se que as motivações são muitas e variadas, mas que podem


ser agrupadas sob quatro aspectos:

Prevenção Manutenção Reabilitação Recreação

Esses aspectos devem diferenciar a escolha dos exercícios e métodos


de trabalho.

Além disso, alguns alunos idosos nunca praticaram nenhum tipo de


exercício físico e os iniciam quando entram na terceira idade, às vezes
já com algum problema de saúde.

Independentemente do motivo, o profissional deve conhecer todo o


processo de envelhecimento, as alterações tanto fisiológicas, quanto
psicológicas, para planejar, com mais eficácia, o programa de atividades
que serão realizadas.

Muitos estudos já demonstraram que a prática regular da ginástica é


eficaz para renovar e melhorar a capacidade de coordenação motora,
a regressão motora e o prazer pelas atividades desenvolvidas. Ela
proporciona importantes alterações fisiológicas no organismo, como
benefícios físicos, mentais e afetivos.

Os principais objetivos e benefícios da ginástica na terceira idade são:

• a manutenção da massa magra (tornando o idoso apto a realizar


tarefas diárias que exigem maior intensidade de força);
• a manutenção de um alto metabolismo basal (evitando, assim,
obesidade e suas consequências);
UNIUBE 267

• prevenção de doenças crônico-degenerativas (influenciando


positivamente a mineralização e matriz óssea);
• desenvolve a autoestima, aumentando a vaidade e a vontade de
viver.

Como a ginástica é uma modalidade que envolve uma gama enorme de


movimentos, é possível estimular também o ritmo, a fluência, o sincronismo,
o equilíbrio e, acima de tudo, a economia de energia.

Figura 3: Pilates na terceira idade.


Fonte: Getty Images. Acervo Uniube.

Movimentos que proporcionem alongamento podem minimizar as


alterações posturais características do indivíduo idoso, cabeça projetada
para frente, a coluna vertebral torácica curvada para uma postura mais
cifótica e retroversão pélvica (GUCCIONE, 2002). O método pilates
(Figura 3) e as aulas específicas de alongamento podem minimizar estas
alterações na postura.

A postura corporal de um indivíduo pode ser alterada utilizando-se de


exercícios ou por meio de mudanças das propriedades musculares, como
fazemos nas aulas de ginástica localizada ou de treinamento funcional,
sendo necessário mudar o ponto de equilíbrio desse conjunto de rigidez
que age em certo segmento do corpo (FUNDEP, 2004).
268 UNIUBE

A sociabilização é um aspecto presente na ginástica, já que se trata,


na maioria das vezes, de uma modalidade praticada em grupo. Isso
é muito benéfico na terceira idade, já que atualmente muitos idosos
moram sozinhos, assim, a ginástica em grupo melhora seus aspectos
psicológicos e, consequentemente, os fisiológicos, pois, com um ambiente
prazeroso, a adesão aos exercícios aumenta, diminuindo, assim, as idas
ao médico por complicações das doenças crônicas.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Como exemplo de que a ginástica pode melhorar os efeitos do envelhecimento,


a pesquisa, a seguir, de Ferreira e Gobbi (2003), verificou a influência do
treinamento na agilidade geral e de membros superiores em mulheres
idosas.

https://www.researchgate.net/publication/242144638_Agilidade_geral_e_
agilidade_de_membros_superiores_em_mulheres_de_terceira_idade_
treinadas_e_nao_treinadas

Os resultados do estudo demonstraram que a prática regular de atividades


físicas melhora os níveis de agilidade, porém estas precisam ser sistematizadas
e supervisionadas por profissionais de Educação Física.

8.2.3 Procedimentos metodológicos e avaliação

Os métodos utilizados para se trabalhar com idosos devem fazer


referência aos métodos de trabalho existentes em qualquer campo de
atividade física e adaptá-los à forma de trabalhar com os grupos de
terceira idade (GEIS, 2003).

Vale destacar a extrema importância de definir, avaliar a funcionalidade


e aplicar um programa de ginástica para idosos, seja em grupos ou
individualmente.
UNIUBE 269

De maneira geral, o movimento deve ser apresentado de forma progressiva,


tanto no que se refere à intensidade quanto à dificuldade dos exercícios
e da aula, dando prioridade, no início, para movimentos mais naturais,
evitando a fadiga excessiva.

Recomenda-se buscar variedade nos exercícios a fim de que a aula não


seja monótona e entediante, podendo propor atividades que estimulem
a criatividade e a memória. A música, nesta faixa etária, é bastante
motivadora, assim como as atividades lúdicas.

Além disso, caso algum aluno não consiga realizar algum movimento,
deve-se propor para ele um exercício paralelo ou alguma adaptação
para que não se sinta deslocado. É necessário desenvolver no aluno um
autoconhecimento de suas capacidades e limitações, sem que isso lhe
cause algum constrangimento.

É importante evitar movimentos bruscos, que causem perda de equilíbrio,


devido ao risco de queda, e trocas de posições (em pé, deitado, decúbito
ventral e dorsal etc), pois podem provocar tonturas.

Nas aulas de ginástica, o professor é a pessoa responsável pela


execução correta e eficaz dos movimentos, para isto, deverá estar atento
e corrigir o aluno sempre que necessário. É tarefa dele fazer com que o
grupo funcione, que cada componente assuma seu papel, que aceite a
si mesmo e que seja respeitado pelos demais alunos (GEIS, 2003).

Assim, o profissional de Educação Física deve estar atento e capacitado


para atender a este novo segmento de mercado e esta nova geração
saúde, de maneira digna, eficaz e responsável para promover saúde,
bem-estar, motivação e ânimo.

Espera-se que, com a prática da ginástica, o idoso resgate seu movimento


coordenado, harmônico, de forma prazerosa, proporcionando-lhe uma vida
mais ativa e feliz.
270 UNIUBE

AGORA É A SUA VEZ

Com base no que foi estudado e nos vídeos a seguir, elabore uma sequência
de dez exercícios de ginástica para idosos, escreva o objetivo principal e o
material utilizado.

O vídeo, a seguir, demonstra uma aula de ginástica para idosos, que


acontece diariamente no PIC Vila Tibério, em Ribeirão Preto, com as
divisões: aquecimento, parte principal e volta à calma. Observe o conteúdo
de cada parte da aula, como os exercícios foram comandados e a forma
como os alunos executaram os movimentos propostos.

https://www.youtube.com/watch?v=iBrGdoUX5Nc

O espaço para a execução da atividade não é específica para uma aula de


ginástica, porém isso demonstra que podemos adaptar alguns espaços para
aumentar a adesão à prática. Assim, pode-se perceber que os materiais são
simples e que se utilizou o peso do próprio corpo como sobrecarga.

O vídeo do endereço a seguir traz possibilidades de movimentos para a


população acima de 60 anos, demonstrados por uma senhora de 95 anos,
que se exercita desde os 72 anos de idade.

https://www.youtube.com/watch?v=6m0KjKeF_hY

Os exercícios apresentados são de fácil execução, não necessitando de


materiais específicos da ginástica, e podem ser realizados em qualquer
ambiente. Salientamos apenas a importância do profissional de Educação
Física para uma orientação segura e uma execução correta.
UNIUBE 271

8.3 Conclusão

A ginástica para adultos e idosos deve, antes de mais nada, atender aos
objetivos desses públicos, criando hábitos saudáveis e melhorando a
qualidade de vida.

O ideal é criar um ambiente de aula ou treino que seja motivador e


mantenha os alunos ativos e realizados. Sendo assim, é imprescindível
que o profissional busque conhecimento não só sobre as técnicas da
ginástica e seus métodos de trabalho, mas também sobre as peculiaridades
inerentes a essas fases da vida.

Enfim, chegamos ao final de mais uma etapa de nosso curso e esperamos


que você tenha aproveitado as leituras e as atividades propostas.

É certo que, para trabalhar com a ginástica, é necessário estudo para


aprofundamento dos conhecimentos e colocar em prática tudo aquilo
que foi aprendido.

Sucesso!

Resumo
Neste capítulo, vimos que, para que a ginástica seja ensinada e praticada
de forma adequada, é necessário que o profissional se qualifique para
atuar nas suas mais diversas vertentes, atentando para as expectativas
e necessidades de seus praticantes em suas múltiplas possibilidades,
conhecendo, assim, a sua fase de vida.

Neste capítulo pudemos perceber que é imprescindível conhecer


as características que permeiam cada etapa da vida, assim como os
objetivos de cada aluno, aquilo que os motiva e que os limita e, assim,
fazer da prática da ginástica algo repleto de benefícios e prazer.
272 UNIUBE

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Anotações
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