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SÚMULA N~ 126

É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta-


se em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles su-
ficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recur-
so extraordinário.

Referência:

- Lei n~ 8.038, de 28.05.90, art. 27, § 5~.

AgRgREsp 16.767-0-SP (1~ T 26.08.92 - DJ 13.10.92)


EDclREsp 16.607-0-SP (1~ T 20.05.92 - DJ 15.06.92)
REsp 1.559-0-RJ (4~ T 14.12.92 - DJ 15.02.93)
REsp 5.059-0-PE (2~ T 27.11.91 - DJ 08.06.92)
REsp 5.735-0-PR (3~ T 04.12.90 - DJ 04.02.91)
REsp 13.325-0-PR (l~ T 14.06.93 - DJ 16.08.93)
REsp 14.842-0-RJ (3~ T 19.05.92 - DJ 15.06.92)
REsp 16.076-0-MG (4~ T 17.11.92 - DJ 07.12.92)
REsp 16.106-0-PR (4~ T 26.05.92 - DJ 29.06.92)
REsp 16.211-0-MG (2~ T 23.09.92 - DJ 19.10.92)
REsp 16.578-0-SP (2~ T 11.03.92 - DJ 04.05.92)
REsp 16.604-0-SP (2~ T 08.04.92 - DJ 11.05.92)
REsp 21.064-5-SP (2~ T 27.05.92 - DJ 15.06.92)
REsp 23.026-7-SP (4~ T 27.10.92 - DJ 07.12.92)
REsp 29.657-6-RS (3~ T 16.12.92 - DJ 22.03.93)
REsp 29.682-5-SP (5~ T 04.08.93 - DJ 23.08.93)
REsp 35.356-4-RS (3~ T 03.08.93 - DJ 23.08.93)
REsp 36.191-5-SP (3~ T 23.11.93 - DJ 21.02.94)
Corte Especial, em 09.03.95.
DJ 21.03.95, p. 6.369 .
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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL
N!! 16.767-0 - SP

Relator: O Sr. Ministro Cesar Rocha


Agravante: Fazenda Nacional
Agravada: Westinghouse do Brasil Ind. Comércio e Serviços Ltda.
Advogados: Drs. Fernando Calza de Salles Freire e outros, e Iran de Li-
ma e outros

EMENTA: Processual Civil. Agravo regimental. Recurso especial.


IOF. Câmbio. Isenção. Guias de importação. Decreto-lei n!! 2.434/88.
Decisão denegatória de seguimento. Acórdão com fundamento cons-
titucional e infraconstitucional. Recurso extraordinário inadmiti-
do. Ausência de agravo de instrumento. Coisa julgada.
I - Impossível prosperar recurso especial com o trânsito em jul-
gado do fundamento constitucional do acórdão, bastante por si só
para mantê-lo (Questão de Ordem - Primeira Seção - DJ de
28.02.90).
n - Não comporta provimento agravo que, por não focalizar es-
ta argumentação, não logra abalar as razões que levaram ao tran-
camento do recurso especial.
In - Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO Primeira 'furma do Superior Tribu-


nal de Justiça, na conformidade dos
Vistos, relatados e discutidos es- votos e das notas taquigráficas a se-
tes autos, acordam os Ministros da guir, por unanimidade, negar provi-

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mento ao agravo regimental. Vota- Com o trânsito em julgado do
ram com o relator os, Ministros De- fundamento constitucional do acór-
mócrito Reinaldo e Milton Pereira. dão, bastante por si só para man-
Ausentes, justificadamente, os Mi- tê-lo, impossível prosperar o Re-
nistros Garcia Vieira e Gomes de curso Especial sub examine, ten-
Barros. do em vista o que decidiu a erudi-
Brasília, 26 de agosto de 1992 ta Primeira Seção desta egrégia
(data do julgamento). Corte, na Questão de Ordem pu-
blicada no DJU de 28.02.92.
Ministro DEMÓCRITO REINAL-
DO, Presidente. Ministro CESAR Destarte, nego seguimento ao
ROCHA, Relator. Recurso Especial de que se cuida
e o faço com esteio no RISTJ, art.
34, XVIII e na Lei n~ 8.038/90."
RELATÓRIO
A agravante - Fazenda Nacional
O SR. MINISTRO CESAR RO- - alega que o recurso especial por
CHA: Trata-se de tempestivo agravo ela interposto e admitido o foi com
regimental manifestado, com funda- base na divergência de interpretação
mento nos artigos 258 e seguintes do entre diferentes tribunais. Aduz que
Regimento Interno desta Corte, con- "o Eminente Ministro Relator, em
tra decisão, por mim proferida, dene- seu despacho desconsiderou a diver-
gatória de seguimento a recurso es- gência por entender que ela própria
pecial. se fundava em tema constitucional,
O decisório agravado guarda o se- acarretando assim, a competência do
guinte teor: Supremo Tribunal Federal C.. )". Sus-
tenta que houve indevida restrição
"Contra decisum do egrégio ao texto constitucional na medida
Tribunal a quo, em que foi discu- em que dele teria sido excluída a di-
tida a isenção sobre operações de vergência com a Suprema Corte. En-
câmbio nas importações de que dá fatiza, por fim, que "o Recurso Espe-
conta o Decreto-lei n~ 2.434/88, cial foi admitido na origem porque
agitou a recorrente os recursos ex- reconhecida a divergência de inter-
traordinário e especial, vez que o posição (sic) entre tribunais outros
aresto atacado fundamenta-se em que não o Supremo Tribunal Federal
dispositivos constitucionais e da e, a persistir o entendimento de que
legislação ordinária, não tendo si- tal não será possível, teremos, então,
do o primeiro admitido nem inter- violação da Constituição Federal,
posto agravo contra o despacho precisamente do seu art. 105, III, c,
que lhe negou seguimento, confor- por não se permitir o conhecimento
me certidão que descansa às fo- de Recurso Especial em hipótese
lhas. constitucionalmente prevista."

212 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


· É o relatório. EXTRATO DA MINUTA

AgRg no REsp n 2 16.767-0 - SP


VOTO
- Relator: O Sr. Ministro Cesar Ro-
cha. Agrte.: Fazenda Nacional. Agr-
O· SR. MINISTRO CESAR RO-
da.: Westinghouse do Brasil Indús-
CHA (Relator): A improcedência do
tria Comércio e Serviços Ltda. Advs.:
inconformismo da agravante é mani-
Fernando CaIu: de SaIles Freire e
festa.
outros, e Iran de Lima e outros.
O decisório objurgado alicerçou-se, Decisão: A 'Ibrma, por unanimida-
unicamente, no trânsito em julgado de, negou provimento ao agravo re-
do fundamento constitucional do v. gimental (em 26.08.92 - 1~ 'furma).
acórdão recorrido, suficiente, por si
Participaram do julgamento: os
só, para mantê-lo - o que nem de
Srs. Ministros Demócrito Reinaldo e
passagem foi considerado pela ilus-
Milton Pereira.
tre agravante.
Ausentes, justificadamente, os
Permanecem, desta forma, inaba- Srs. Ministros Garcia Vieira e Go-
ladas as razões que levaram ao tran- mes de Barros.
camento do recurso especial.
Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
Nego provimento ao agravo. tro DEMÓCRITO REINALDO.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL


N2 16.607-0 - SP
(Registro n 2 91.0023747-7)

Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo


Embargante: Campo Belo S.A. Indústria Têxtil
Embargada: União Federal
Advogado: Pedro Luiz Lessi Rabello

EMENTA: Processual Civil. Recurso especial contra acórdão com


duplo fundamento, constitucional e infraconstitucional, ocorrendo
trânsito em julgado do primeiro.
"É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido as-
senta-se em fundamento constitucional e fundamento infraconsti-

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tucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a par-
te vencida não manifesta recurso extraordinário", ou este é inad-
mitido e transita em julgado o primeiro fundamento (questão de or-
dem no recurso especial n e 17.664-0/SP, aprovada unanimemente pe-
la Primeira Seção em 18 de fevereiro de 1992).
Embargos acolhidos, por unanimidade.

ACÓRDÃO VOTO

Vistos e relatados os autos em O SR. MINISTRO DEMÓCRITO


que são partes as acima indicadas: REINALDO (Relator): No caso pre-
Decide a Primeira 'furma do Su- sente, merecem provimento os pre-
perior Tribunal de Justiça, por una- sentes embargos declaratórios, eis
nimidade, receber os embargos, nos que o acórdão recorrido, por erro,
termos do voto do Sr. Ministro Rela- deixou de considerar que o recurso
tor, na forma do relatório e notas ta- extraordinário da União Federal não
quigráficas constantes dos autos, fora admitido pelo Tribunal a quo.
que ficam fazendo parte integran- É que o julgado da segunda ins-
te do presente julgado. Participaram tância assenta-se sobre fundamento
do julgamento os Srs. Ministros Go- constitucional e infraconstitucional,
mes de Barros e Milton Pereira. Au- sendo que foram simultaneamente
sente, justificadamente, o Sr. Minis- interpostos os apelos especial e ex-
tro Garcia Vieira. traordinário.
Brasília, 20 de maio de 1992 (da- Com a inadmissão desde último,
ta do julgamento). sem que tenha havido agravo de ins-
Ministro DEMÓCRITO REINAL- trumento a enfrentá-la, precluíram
DO, Presidente e Relator. os motivos de ordem supralegal que
embasaram o aresto, bastantes por
RELATÓRIO si sós para mantê-lo válido, donde
não poder conhecer-se o especial.
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO Aplica-se à hipótese o decidido na
REINALDO: Trata-se de embargos questão de ordem no Recurso Espe-
declaratórios contra acórdão desta cial n~ 17.664-0/SP, suscitada pelo
Primeira 'furma em recurso especial eminente Ministro Pádua Ribeiro, no
acerca da isenção do imposto sobre sentido de que é inadmissível o espe-
operações de câmbio nas importações, cial quando o acórdão arrima-se em
determinada pelo Decreto-lei n~ fundamento constitucional e infra-
2.434, de 19 de maio de 1988. constitucional, qualquer deles sufi-
Tempestivo o recurso, trago-o a ciente, por si só, para sustentá-lo, e
julgamento. a parte vencida não manifesta recur-
É o relatório. so extraordinário.

214 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


Em conseqüência, tratando-se de Embda.: União Federal. Embte.: Pe-
erro material, recebo os embargos dro Luiz Lessi Rabello.
para o fim de não conhecer do espe- Decisão: A 'furma, por unanimida-
cial. de, recebeu os embargos nos termos
É como voto. do voto do Sr. Ministro Relator (em
20.05.92 - 1~ 'furma).
Participaram do julgamento os
EXTRATO DA MINUTA Srs. Ministros Gomes de Barros e
Milton Pereira.
EDcl no REsp n~ 16.607-0 - SP Ausente, justificadamente, o Sr.
- (91.0023747-7) - Relator: O Sr. Ministro Garcia Vieira.
Ministro Demócrito Reinaldo. Emb- Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
te.: Campo Belo S/A Indústria Têxtil. tro DEMÓCRITO REINALDO.

RECURSO ESPECIAL N~ 1.559-0 - RJ


(Registro n~ 89.0012287-8)

Relator: O Sr. Ministro Bueno de Souza


Recorrente: Sateplan Consórsios Ltda.
Recorrido: João Adolfo Pires Valentim
Advogados: Drs. Jorge Antônio Culuchi e outro, e Antônio Lourival de
Oliveira e outro

EMENTA: Processual Civil. Recurso especial. Conhecimento.


1. "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão re-
corrida assenta-se em mais de um fundamento suficiente e o recur-
so não abrange todos eles." (Súmula 283, STF).
2. "O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos em-
bargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordiná-
rio, por faltar o requisito do prequestionamento." (Súmula 356,
STF).
3. Recurso especial não conhecido.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 215


ACÓRDÃO signatória para liquidação anteci-
pada das três últimas prestações
Vistos, relatados e discutidos es- desde que proposta a consignató-
tes autos, acordam os Ministros da ria antes dos seus respectivos ven-
Quarta 'Ibrma do Superior Tribunal cimentos."
de Justiça, na conformidade do votos
e das notas taquigráficas a seguir, por Interceptado o processamento do
unanimidade, não conhecer do recur- recurso, processou-se a argüição de
so, nos termos do voto do Senhor Mi- relevância (fls. 134).
nistro Relator. Votaram com o Rela- No Supremo Tribunal, o eminen-
tor os Senhores Ministros Fontes de te Ministro Paulo Brossard determi-
Alencar, Sálvio de Figueiredo e Bar- nou o envio dos autos ao ego Tribu-
ros Monteiro. Ausente, ocasionalmen- nal a quo para que se procedesse ao
te, o Senhor Ministro Athos Carneiro. exame de admissibilidade do recur-
Brasília, 14 de dezembro de 1992 so especial, tendo por base os exatos
(data do julgamento). limites de argüição de relevância
(fls. 152).
Ministro FONTES DE ALENCAR,
Presidente, em exercício. Ministro Admitido o recurso (fls. 134/136),
BUENO DE SOUZA, Relator. subiram os autos a esta Corte.
Por derradeiro, anoto que do ca-
pítulo destacado da argüição (fls.
RELATÓRIO
118/120) constam alegações de con-
trariedade ao artigo 39 do Decreto
O SR. MINISTRO BUENO DE
70.951/72, Portarias 247, de 27.07.86,
SOUZA: Sateplan Consórcios Ltda. e 337, de 23.12.86, ambas do Minis-
interpôs recurso extraordinário com tério da Fazenda, e aos artigos 972 e
argüição de relevância contra v. 974 do Código Civil.
acórdão assim ementado (fls. 108):

"Ação de consignação em pagamen- VOTO


to - Consórcio para aquisição de
automóvel - Pagamento anteci- O SR. MINISTRO BUENO DE
pado de prestações vincendas - SOUZA (Relator): Senhor Presiden-
Estabelecendo o Regulamento que te, consoante diretriz traçada pelo
o bem objeto do consórcio será pa- Plenário do Supremo Tribunal na
go em determinado número de co- Arv. 15.528-1, (DJU 05.05.89), o âm-
tas, vencíveis no último dia de ca- bito consentido ao conhecimento da
da mês e que será permitido ao presente irresignação restringe-se as
consorciado o pagamento anteci- questões deduzidas na argüição de
pado de cotas vincendas, em qual- relevância.
quer número, inversamente a con- Como venho de aludir no relató-
tar da última, procede a ação con- rio, do capítulo destacado constam

216 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


alegações .de contrariedade ao artigo tando o recorrente por interpor, des-
39 do Decreto 70.951/72, Portarias de logo, recurso extraordinário (fls.
247, de 27.07.86, e 337, de 23.12.86, 113).
ambas do Ministério da Fazenda, e
Assim, sem olvidar a orientação
aos artigos 972 e 974 do Código Civil.
seguida pela eg.'Thrceira 'furma des-
Contudo, o v. acórdão recorrido, ta Corte, no julgamento do REsp
ao confirmar r.' sentença de proce- 23.374-SP, Relator Ministro Nilson
dência do pedido, estribou-se nestes Naves (DJU 13.11.92), no sentido de
fundamentos (fls. 109/110), verbis: admitir a ampliação do prazo de du-
ração dos consórcios, tenho que, an-
"É de considerar-se, entretanto, te a singularidade da espécie, a in-
que entre os princípios que regem cúria do recorrente compromete o co-
a manifestação da vontade, encon- nhecimento do recurso, que por se
tra-se o da obrigatoriedade, segun- tratar de recurso extraordinário con-
do o qual, aquilo que foi estipula- vertido em especial, convoca a apli-
do pelas partes, de comum acor- cação dos dizeres das Súmulas 283
do, deve ser cumprido, é o princí- e 356 do Supremo 'fribunal, verbis:
pio pacta sunt servanda.
Considere-se, ainda, que além "283 - É inadmissível o recurso
desse princípio existem as normas extraordinário, quando a decisão
do art. 6~ da Lei de Introdução ao recorrida assenta em mais de um
Código Civil e do art. 53, § 3~ da fundamento suficiente e o recur-
Constituição Federal então vigen- so não abrange todos eles."
te, ora configurados no inciso 36 "356 - O ponto omisso da decisão,
do art. 5~ da atual Constituição no sobre o qual não foram opostos
sentido de que "a lei não prejudi- embargos declaratórios, não pode
cará o direito adquirido, o ato ju-
ser objeto de recurso extraordiná-
rídico perfeito e a coisa julgada",
rio, por faltar o requisito do pre-
considerando-se ato jurídico per-
questionamento."
feito o já consumado segundo a lei
vigente ao tempo em que se efe-
tuou. Eis por que não conheço do recur-
so.
No caso em exame, quando foram
É como voto.
expedidas as Portarias referencia-
das pelo apelante já consolidado
estava o direito do autor de liqui- EXTRATO DA MINUTA
dar antecipadamente as prestações
vincendas, na forma pactuada." REsp n~ 1.559-0 - RJ
(89.0012287-8) - Relator: O Sr. Mi-
Contra essa decisão não foram in- nistro Bueno de Souza. Recte.: Sate-
terpostos embargos declaratórios, op- plan Consórcios Ltda. Advs.: Jorge

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 217


Antônio Culuchi e outro. Recdo.: Votaram com o Relator os Srs. Mi-
João Adolfo Pires Valentim. Advs.: nistros Fontes de Alencar, Sálvio de
Antônio Lourival de Oliveira e outro. Figueiredo e Barros Monteiro.
Decisão: A 'furma, por unanimida- Ausente, ocasionalmente, o Sr.
de, não conheceu do recurso, nos ter- Ministro Athos Carneiro.
mos do voto do Sr. Ministro Relator Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
(em 14.12.92 - 4~ Turma). tro FONTES DE ALENCAR.

RECURSO ESPECIAL N2 5.059-0 - PE


(Registro n 2 90.0009102-0)

Relator: O Sr. Ministro José de Jesus Filho


Recorrente: Cia/ Hidroelétrica de São Francisco - CHESF
Recorrida: Construtora Mendes Júnior S/A
Advogados: Drs. Luiz Carlos Álvares de Andrade e outros, e Urbano Vi-
talino de Melo Filho e outros
Sustentação Oral: Drs. José de Magalhães Barroso, pela recorrente, Ro-
berto Rosas, pela recorrida e Antônio F. Barros e Sil-
va de Souza, Subprocurador-Geral da República

EMENTA: Ação declaratória. Decisão com assento em mais de um


fundamento.
I - O v. acórdão recorrido decidiu com base em matéria cons-
titucional e infra constitucional.
A Recorrente não interpôs recurso extraordinário. Logo, transi-
tou em julgado a matéria constitucional, por si só suficiente para
manter a decisão recorrida (Súmula 283 do S.T.F.).
De outra parte, em se tratando de ação de natureza meramente
declaratória, a decisão vale como preceito para a ação de nature-
za condenatória, se proposta, onde a matéria deverá ser amplamen-
te debatida.
11 - Recurso não conhecido.

218 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


ACÓRDÃO cursos próprios (e / ou captados no
mercado financeiro). A regra excep-
Vistos e relatados estes autos, em tio non adimpleti contractus e
que são partes as acima indicadas: impossibilidade de sua argüição con-
Decide a Segunda Turma do Su- tra serviço público. Equação econô-
perior Tribunal de Justiça, por una- mico-financeira do ajuste. Obediên-
nimidade, não conhecer do recurso, cia ao princípio constitucional que
na forma do relatório e notas ta qui- veda o confisco da propriedade e as-
gráficas constantes dos autos, que fi- segura a justa remuneração do ca-
cam fazendo parte integrante do pital.
presente julgado. Participaram do - Considera-se matéria preclusa,
julgamento os Srs. Ministros Hélio dando motivo a rejeição de prelimi-
Mosimann, Peçanha Martins, Amé- nar, o alegado cerceamento de de-
rico Luz e Pádua Ribeiro. fesa, inatacado por meio de agravo.
Brasília, 27 de novembro de 1991 Frustrada administrativamente a
(data do julgamento). solução dos desencontros, entre os
Ministro AMÉRICO LUZ, Presi- contratantes, cabe ao Judiciário
dente. Ministro JOSÉ DE JESUS resolvê-los. Embora se discuta con-
FILHO, Relator. trato administrativo típico, com
predominância do interesse coleti-
vo, não pode o particular ser obri-
RELATÓRIO gado a financiar o governo em pre-
juízo de sua economia (por mais
O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE- forte que o seja). Justiça e legali-
SUS FILHO: A Companhia Hidroe- dade no restabelecimento do equi-
létrica de São Francisco (CHESF), líbrio econômico-financeiro rompi-
com apoio no artigo 105, UI, alínea do brutalmente pelo comportamen-
a, da Constituição Federal, interpôs to violador da Administração, aos
Recurso Especial do v. acórdão, pro- direitos da outra parte. Recurso
ferido pela 1~ Câmara Cível do Tri- provido para modificar a sentença
bunal de Justiça de Pernambuco, de primeiro grau."
cuja ementa dispõe:
Alega a Recorrente, verbis:
'~ção declaratória. Contratos pa-
ra execução de terraplenagem e es- "a) Ao dar provimento à Apelação
truturas de concreto do "aproveita- da Mendes Júnior, o Egrégio 'fribu-
mento hidrelétrico de Itaparica", nal de Justiça do Estado de Per-
no Rio São Francisco. Inadimplên- nambuco, admitindo a inoponibi-
cia da administração contratante, lidade da exceptio non adimple-
por longo período e enfrentamento ti contractus contrariou o Decre-
das obras pela construtora com re- to-Lei n~ 200/67 e respectivo regu-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 219


lamento, ao extrapolar o campo visto pela ementa como se viu no re-
de abrangência de referidos diplo- latório, retrata com fidelidade a ques-
mas legais, porque inaplicáveis às tão posta nos autos que é de inadim-
Sociedades de Economia Mista, plência contratual por parte da recor-
quanto à matéria em debate. rente. No recurso especial alegou a
b) Por extensão, ao negar a força recorrente verbis:
obrigatória dos contratos face aos
princípios pacta sunt servanda "a) Ao dar provimento à Apela-
e lex inter partes, aquele Egré- ção da Mendes Júnior, o Egrégio
gio Tribunal também contrariou Tribunal de Justiça do Estado de
Lei Federal, consubstanciada no Pernambuco, admitindo a inoponi-
Código Civil. bílídade da exceptio non adim-
c) Mesmo se entendidos aplicáveis, pleti contracrus contrariou o De-
o Decreto-Lei n~ 200/67 e respecti- creto-lei n~ 200/67 e respectivo re-
vo regulamento às Sociedades de gulamento, ao extrapolar o campo
Economia Mista, o Tribunal, ain- de abrangência de referidos diplo-
da assim, os contrariou, e ao Códi- mas legais, porque inaplicáveis às
goCivil, ao admitir a captação de Sociedades de Economia Mista,
recursos, no mercado financeiro, quanto à matéria em debate.
como resultante de tácita manifes- b) Por extensão, ao negar a for-
tação de vontade da administra- ça obrigatória dos contratos face
ção, quando, dos autos, consta ex- aos princípios pacta sunt serva-
pressa manifestação em contrário. da e lex inter partes, aquele
d) O Tribunal também contrariou Egrégio Tribunal também contra-
a Lei 6.423/77, motivo suficiente riou Lei Federal, consubstanciada
para autorizar provimento ao pre- no Código Civil.
sente recurso especial". c) Mesmo se entendidos aplicá-
veis, o Decreto-lei n~ 200/67 e res-
O Recurso foi contra-arrazoado
pectivo regulamento às Socieda-
(fls. 277/286), admitido (fls. 288/292)
des de Economia Mista, o Tribu-
e encaminhado a esta Corte.
nal, ainda assim, os contrariou, e
A douta Subprocuradoria Geral ao Código Civil, ao admitir a cap-
da República opinou por seu provi- tação de recursos, no mercado fi-
mento. nanceiro, como resultante de táci-
É o relatório. ta manifestação de vontade da ad-
ministração, quando, dos autos,
consta expressa manifestação em
VOTO
contrário.
O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE- d) O Tribunal também contra-
SUS FILHO (Relator): O acórdão riou a Lei 6.423/77, motivo sufi-

220 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


1
1
1
ciente para autorizar provimento de pleno direito, a seu regime, in-
ao presente recurso especial." dependentemente de consignação 1
expressa no instrumento:
Do exame tanto do voto do eminen- a) .......................................... .
1
te Desembargador-relator, como do
douto Desembargador-revisor e como b) inoponibilidade à Adminis- 1
está claro na ementa do v. acórdão, tração de exceção de inadimple-
mento para interrupção unilateral 1
verifico que além da regra referida
da exceptio non adimpleti con- de obra ou serviço;"
1
tractus ante sua impossibilidade de
argüição contra o serviço público, o Ora, para proceder essa licitação, 1
argumento mais evidente e que pre- a Recorrente valeu-se, sem dúvida,
sidiu em sua quase totalidade, o en- das regras vigentes para a espécie. 1
tendimento dos eminentes julgado- E se assim o fez (já que não há ele-
res a quo, se prendeu à equação eco- mentos nos autos em contrário), as 1
nômico-financeira do contrato, ten- partes estão sujeitas a todas as re-
gras contidas na legislação. 1
do por base o art. 167 da Constitui-
ção precedente. Como o recurso inter- Apenas estas questões foram exa- 1
posto não se referiu a esta parte, te- minadas de forma explícita no acór-
nho como aplicável à espécie, a regra dão. Quanto as demais, não podem 1
contida na Súmula 283 do S.T.F., se- ser objeto de recurso especial, por
gundo a qual é inadmissível o recur- falta de prequestionamento, como 1
so quando a decisão recorrida assen- orientam as Súmulas n M 282 e 356
ta em mais de um fundamento sufi- do S.T.F. 1
ciente e o recurso não abrange todos É bom lembrar, como fez o emi- 1
eles. Este fato seria suficiente para nente Desembargador relator, ao fi-
que fosse mantida a decisão recorrida. nal de seu voto, que a decisão recor- 1
Mas, de outra parte, a Recorrida rida tem natureza declaratória e não
condenatória, valendo como precei- 1
afirmou na inicial, que fora vencedo-
ra na Concorrência Pública promo- to para a futura ação onde a maté-
ria poderá ser amplamente debatida. 1
vida pela Recorrente em 1979. As
únicas regras vigorantes ao tempo, Com estas considerações, não co- 1
para uma licitação desse porte, eram nheço do recurso.
as contidas nos arts. 125 a 144 do 1
Dec.-lei n~ 200, de 25.02.67 e no De-
creto n~ 73.140, de 09.11.73. Neste, VOTO-VOGAL
1
em seu art. 58, diz que: 1
O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI-
"Constituem cláusulas regula- MANN: Li os memoriais e ouvi os 1
mentares da contratação ou da debates, examinando também as
subcontratação, incorporando-se principais peças do processo. 1

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 221


1
1
1
j
Mesmo sem manusear os autos, da que implícito, a decisão não esca-
não é outra a minha conclusão que paria ao exame de cláusula contra- j
não aquela proclamada pelo voto do tual, a obstaculizar, também por is-
eminente relator. so, o conhecimento do especial. Nes- j
te aspecto, o obstáculo é de todo in-
Não me resta a mínima dúvida
transponível. A abordagem da recor-
j
em concordar com o voto que me
precedeu. rente é a análise do contrato, em di-
versos pontos:
j
Vou até um pouco além:
- Teve o cuidado de estabelecer j
1. A matéria constitucional, rela- no contrato de empreitada da obra,
cionada ao equilíbrio econômico-fi- além do reajuste (ou compensação) j
nanceiro do contrato, foge ao âmbi- mensal, uma cláusula para corrigir,
to do recurso especial. Esse foi o caso houvesse atraso; j
ponto central do voto do relator e do
revisor no Tribunal de origem, cons-
- O que fez o acórdão foi, sem j
qualquer base jurídica, considerar
tituiu o fundamento da decisão, sem-
pre à luz da Constituição Federal.
que a empreiteira, por ter feito pre- j
visão inadequada, não é obrigada a
Caberia aí, realmente, o recurso ex-
traordinári9, que não foi interposto,
cumprir o pactuado; j
conforme bem examinou o nobre re- - A empreiteira desistira, previa- I
lator. mente, por vontade própria, de plei- I
tear outra compensação pelo atraso I
2. A falta de prequestionamento, nos pagamentos além da prevista no I
quanto à aplicabilidade do Decreto-
contrato; j
lei n 2 200/67 e seu Decreto regula-
mentador, o de n 2 73.140/73. Não se - Está fazendo exigência de as- I
discute se há ou não necessidade de tronômica compensação extracontra- I
mencionar o dispositivo de lei tido tual ... ; I
como violado. Ou se basta indicar a - A regra do art. 1.092 do Códi- I
tese em exame. Evidente que o que go Civil, invocada, trata do cumpri- j
interessa é o fundamento, que deve mento de contrato, da chamada ex-
ser claramente enunciado, indican- ceção de con~rato não cumprido. j
do de modo induvidoso a questão ju- Ora, se o contrato foi cumprido ou
rídica. Assim vem entendendo o Su- não, depende do exame das cláusu- j
premo e este Tribunal, ao admitir o las. "Não se conhece do recurso es- I
prequestionamento até mesmo im- pedal, se a alegação de ofensa ao ar- I
plícito. Mas a conclusão a que se tigo 1.092 do CC exige o exame da I
chega, no caso, é que a matéria não matéria probatória e análise de cláu- I
constituiu objeto da decisão, sendo sulas contratuais" (Min. Athos Car- I
abordada de passagem pelo voto do neiro, REsp n Z 6.487-SP, D.J. de I
relator. 05-08-91); j
3. Contudo, a se considerar que - Ainda o problema da pena con-
teria havido prequestionamento, ain- vencional e assim por diante... j
222 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.j

j
j
j
Sendo assim, mesmo admitindo, A ação proposta é uma ação de-
para argumentar, que se pudesse claratória. Mas, não obstante isso,
discutir aqui o preceito constitucio- entendo que o acórdão desbordou
nal do equilíbrio do contrato (maté- dos limites da declaração, quando
ria de RE); que teria havido o regu- diz no seu final "que essa indeniza-
lar prequestionamento, ainda que ção há de ser calculada a juros de
implícito, a admissibilidade do recur- mercado".
so esbarraria no exame de cláusula Penso que no bojo desta ação não
contratual, o que é vedado pela Sú- se poderia, e nem se pode, chegar a
mula n 2 5, deste Tribunal. essa conclusão. A equação financei-
Finalmente, a alegação de astro- ra do contrato é tese já assentada na
nômica compensação, pelo vulto da melhor doutrina deste País e nestes
indenização, poderia impressionar, Tribunais: no Tribunal Federal de
mas na verdade não impressiona, Recursos, no Supremo 'fribunal Fede-
simplesmente porque não está em ral e também neste Superior 'fribunal
discussão neste ensejo. A ação é de- de Justiça. Assim, por exemplo, os
claratória da existência de relação de trabalhos dos Professores Caio Táci-
crédito e o valor do eventual ressar- to, Hely Lopes Meirelles, CreteUa
cimento, ainda a depender de prova, Júnior e Amoldo Wald, que, dentre
vai ser fixado na ocasião oportuna e outras referências, faz uma a velho
nos seus verdadeiros parâmetros. acórdão prolatado pelo primeiro Mi-
Com tais colocações, também não nistro Peçanha Martins, mandando
conheço do recurso especial, acompa- que se fizesse indenização integral à
firma que houvera sido levada à fa-
nhando o relator.
lência por inadimplência do Estado
É o meu voto. de São Paulo - se não me falha a
memória. Aqui mesmo, lembro que,
VOTO quando se discute a questão de con-
tratos do BNH, por unanimidade, a
O SR. MINISTRO PEÇANHA Turma vem assentando que há que
MARTINS: Senhor Presidente, ouvi se fazer respeitar a equação finan-
atentamente os brilhantes Advoga- ceira dos contratos. E não poderia
dos, assim como o relatório e os vo- ser de outra forma, porque esse é
tos dos Eminentes Ministro Relator um preceito constitucional, que não
e Hélio Mosimann e li também os diz respeito apenas aos contratos ad-
memoriais. Impressionou-me a ma- ministrativos, mas a todos eles, até
nifestação da Douta Subprocurado- porque o contrário seria a consagra-
ria Geral. Como os Eminentes Mi- ção da tese do enriquecimento ilíci-
nistros, tenho também que estamos, to por uma das partes.
nesse recurso especial, jungidos às Não me comove, por exemplo, a
regras legais e jurisprudência sumu- argumentação da res comunis om-
lada alegadas. nium, porque, em verdade, o que fi-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 223


cou patenteado é que a construtora fez isso num exercício de memória.
cumpriu as obrigações e realizou a Não posso admitir que, não havendo
obra pública e, como bem acentuou prova, ele possa dizer que a conclu-
o Eminente Advogado, da tribuna, são é que se tem que pagar juros de
aceitar o argumento de que ela deve- m,.ircado. Será que foi captado a ju-
ria parar a obra seria infrigir o prin- ros de mercado? Esta é a grande
cípio da continuidade e consagrar a pergunta.
inadimplência. Inadimplente, sem
dúvida, foi o Estado brasileiro, e du- O SR. MINISTRO PEÇANHA
plamente, porque o que se diz nos MARTINS: É nesse ponto que resi-
jornais e nos cálculos dos economis- de a minha grande dúvida, porque,
tas pátrios é que a simples forma de em verdade, o que se observa dos
correção monetária com que se faz a autos é que o Eminente Desembar~
correção dos valores depositados nas gador-Relator, como o Revisor, retra-
poupanças não é real. Ora, se assim tou, no seu voto, o seu próprio sen-
é ou não, esta vai ser uma matéria timento diante da inflação que nos
que deve ser discutida - e larga- assola, porque dos autos não consta
mente - no bojo dos autos, em ou- a prova de que essa equação finan-
tra ação tipicamente condenatória e ceira se fizesse dessa ou daquela for-
não declaratória. ma, e o que a Constituição determi-
Neste ponto, assalta-me uma dú- na é que se restabeleça sempre essa
vida - penso que comungo com os equação - vale dizer, em relação a
óbices postos pelo Eminente Minis- contratos de empreitadas, seja de
tro Relator, de modo geral - e gos- natureza cível ou administrativa -,
taria mesmo de me socorrer do deba- que o preço reflita custo mais lucro,
te com os Eminentes Ministros: o mas aqueles lucro obtido e aquele
simples não conhecimento da maté- com que ela se apresentou à concor-
ria nos termos em que lança o voto rência, porque - nisso tem razão o
do Eminente Ministro Relator, ou Subprocurador - se admitirmos o
seja, frisando que se trata de uma
contrário seria, inclusive, fraudar
ação declaratória, afastaria, por
aqueles outros concorrentes. Essa é
exemplo, aquela declaração de que
a equação que se busca. Por isso é
se deveria buscar os juros de merca-
do? que não posso, nessa parte do acór-
dão, admitir a referência a juros de
O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE- mercado.
SUS (Aparte): Sr. Ministro Peçanha
Martins. Acredito que sim, por uma Gostaria, no particular, também,
razão muito simples: para chegar a de merecer uma palavra do Eminen-
essa afirmação, a Firma teria que te Ministro Pádua Ribeiro, que, em
ter feito prova de que captou recur- matéria de equação econômico-finan-
sos no mercado a juros altos. Isso é ceira, já ao tempo do antigo 'fribunal
uma futurologia. O Desembargador Federal de Recursos, estabelecia -

224 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


interpretando a Constituição - , co- vale como preceito. Mas a minha
mo exigência constitucional. única dúvida é que esse preceito
O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE- contém uma declaração expressa já
SUS (Aparte): Antes que o Sr. Mi- se referindo a juros de mercado; ju-
nistro Pádua Ribeiro se pronuncie, ros de mercado esses que não sei se
se V. Exa. me permite, gostaria de seriam os aplicáveis, porque o de
fazer uma intervenção - tenho ad- que se cuida neste caso é de restabe-
miração pessoal pela cultura, compe- lecer a equação, e se ela vai ser afi-
tência e pelas posições definidas do nal restabelecida com juros de mer-
Dr. Subprocurador. Existe algo que cado ou não é questão que vai ser
não podemos negar. O desequilíbrio decidida no futuro. O que não posso
da equação financeira está confessa- é antecipar e dizer que seriam juros
do pelo outro lado, que é matéria de mercado. Neste ponto é que a mi-
constitucional pacífica. V. Exa. está nha dúvida se manifesta e, por isso,
dizendo que o entusiasmo do Desem- é que não dou, por inteiro, pelo não
bargador Relator foi muito longe - conhecimento.
ela faz uma observação sobre os efei-
No particular e, em princípio, co-
tos e os beneficios que essa usina ge-
nheço em parte do recurso, para de-
rou na região. Ressaltou mais que a
clarar o direito da Empresa Mendes
CHESF passou a receber os rendi-
mentos pela venda da energia. 'fudo Júnior a obter a restauração da equa-
isso é romântico. Para mim, o cami- ção financeira do contrato a ser pro-
nho que realmente precisa ser defi- vado no bojo de ação própria, ou seja,
nido é se existe uma equação finan- ação condenatória, retirando, por is-
ceira, e alguma dúvida a ser dissipa- so, qualquer referência a essa ou
da entre a CHESF e a Mendes Jú- aquela forma de fazer.
nior. Existe, porque, na verdade, já
foi dito nos pareceres que há uma COMPLEMENTAÇÃO DE VOTO
injustiça, só que não há uma lei pa-
ra respaldá-la. O SR. MINISTRO PEÇANHA
Está aí o preceito que serve de ba- MARTINS: Senhor Presidente, no re-
se para uma futura ação. Agora, não curso manifestado pela Companhia
vamos discutir se foram juros de de Energia Elétrica do São Francis-
mercado ou não, isso é outro assunto. co, há uma referência expressa à Lei
O SR. MINISTRO PEÇANHA n~ 6.423, de 1977, e há inclusive uma
MARTINS: Quisera apenas, no par- outra, com relação à captação de re-
ticular, ouvir a sua declaração em cursos no mercado financeiro, nos
torno só desse tema, porque concor- itens c e d da Lei n~ 6.423, de 1977.
do inteiramente com o Ministro Re- Não tenho dúvida de que se trata de
lator, inclusive na sua preocupação contrato administrativo para realiza-
de estabelecer no seu voto que se ção de obra pública, e é por isso que
trata de uma ação declaratória, que admiti o recurso para declarar o di-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 225


reito da requerente a ter a equação risprudência, volume 47, fls. 39 e
financeira do seu contrato restabe- seguintes, especialmente fls. 44 a
lecida, mas sem qualquer indicação 46."
de forma por que se o há de fazer,
ou seja, retirando do acórdão a refe- Não tenho muito a acrescentar ao
rência a "juros de mercado" até por- que aqui foi dito pelos eminentes Co-
que os juros de mercado só podem legas que me precederam, senão res-
ser cobrados nesse País por institui- saltar o item 13 desse Memorial. A
ções financeiras. Somente banco po- leitura do acórdão mostra que ele
de cobrar além da taxa legal estabe- não funda suas conclusões em ter
lecida. havido autorização tácita ou expres-
sa da CHESF à Construtora, para
esta obter recursos no mercado fi-
VOTO nanceiro: (lê)

O SR. MINISTRO AMÉRICO "O pressuposto da autorização foi


LUZ (Presidente): Srs. Ministros, ou- criado imaginativamente na peti-
vi atentamente os votos aqui profe- ção de recurso e não existe na
ridos, assim como as sustentações fundamentação do acórdão. Este
que precederam a esses votos, todas reconhece o direito da construtora
feitas competentemente pelos emi- com base no art. 176 da Constitui-
nentes Advogados e pelo também ção Federal de 1967, no princípio
eminente Subprocurador-Geral da da manutenção do equilíbrio econô-
República. mico e financeiro do contrato de
execução de obra pública, e não
Quero apenas lembrar a Súmula
com apoio em qualquer norma con-
n~282 do Supremo Tribunal Federal, tratual expressa ou tácita ou em
segundo a qual é inadmissível o re- ato autorizativo da CHESF, não
curso extraordinário quando não tendo o acórdão discutido nem re-
ventilada na decisão recorrida a conhecido a base contratual da in-
questão federal suscitada. denização, não houve prequestiona-
No memorial apresentado pela re- mento. Aplica-se, portanto, a Sú-
corrida, de autoria do Professor Cel- muI 282 já transcrita."
so Agrícola Barbi, há uma referên-
cia que passo a ler: Com essas breves considerações,
acompanho o voto do eminente Mi-
"O princípio consolidado nessa sú- nistro Relator.
mula é aplicado no recurso espe- Não conheço do recurso.
cial, como ensina o Ministro An-
tônio de Pádua Ribeiro em sua VOTO
palestra "Do Recurso Especial pa-
ra o Superior Tribunal de Justi- O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE
ça", publicada na Revista de Ju- PÁDUA RIBEIRO: Sr. Presidente,

226 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


limito-me a fazer o exame do recur- possa até mesmo, em outra ocasião,
so nos estreitos limites da sua mol- assomar a esta Corte, através do re-
dura constitucional e, do que de- curso adequado, a discussão sobre es-
preendi dos doutos debates aqui tra- ses mesmos temas. Noto também -
vados, um argumento, a meu ver, é e este é um aspecto muito relevante,
essencial: o acórdão impugnado fun- a que faço uma referência incidental
dou-se basicamente em dois fund.a- -, em razão das doutas sustentações
mentos, o primeiro, relativo à equa- orais aqui feitas pelo llustre Dr. Bar-
roso e pelo nobre Subprocurador-Ge-
ção financeira do contrato e o outro
ral da República, que, com grande
à exceção do contrato não cumprido.
veemência, procuram alertar, quan-
Do descumprimento da regra da equa- to ao mérito, para o grande interes-
ção financeira do contrato, teria de- se público que envolve a apreciação
corrido enriquecimento sem causa da dessa matéria, que lamentavelmen-
CHESF em desfavor da empresa con- te o recurso não foi interposto com a
tratante Mendes Júnior. Estes, por- dimensão adequada para essa finali-
tanto, são os dois aspectos básicos em dade. Se falha houve, foi, evidente-
que se fundamentou o acórdão. No re- mente, daqueles que deveriam redi-
curso, nenhuma palavra se falou acer- gir recurso sobre matéria que se diz
ca do primeiro fundamento - o fun- de tão alta magnitude. 'lanto assim
damento de índole constitucional - que foi necessário se recorrer comple-
que deveria ensejar a manifestação de mentarmente a um brilhantíssimo
recurso extraordinário, que não foi in- parecer, dado pelo insigne Ministro
terposto, transitando, pois, em julga- Rafael Mayer, que, obviamente, pro-
do. Este primeiro fundamento, por si curou salvar o recurso que, na verda-
só, é suficiente para manter a decisão de, nos impede - como assim esta-
recorrida. Diante disso, não há mes- mos a entender - de adentrar no as-
pecto meritório de alta relevância.
mo como se conhecer do recurso.
Claro que o Dr. Barroso, advogado
Acrescento o seguinte aspecto: extremamente combativo - como to-
não cabe, no ensejo, a meu ver, exa- dos nós sabemos - fez o possível. O
minar a extensão do julgado recorri- llustre Subprocurador-Geral da Re-
do, porque não conhecendo do recur- pública, Dr. Antônio Fernando Bar-
so, não podemos estabelecer qual a ros S. de Souza, fez uma brilhante
sua extensão, adentrar na sua es- sustentação oral que realmente mos-
sência, como se estivéssemos a exa- tra a grande preocupação com o te-
minar embargos declaratórios. Abor- ma. Infelizmente, estamos diante de
do a questão por ter sido suscitada um texto constitucional, que é mui-
pelo ilustre Relator. to claro ao dar os limites do cabimen-
to do recurso especial. Não podemos
Creio que nada obstará que, por afastar esses limites, tendo em con-
ocasião da propositura da ação pró- ta o fato de a matéria ser relevante
pria, a ação executória, o Judiciário ou não. Primeiro temos que cumprir
examine amplamente essa matéria e a Constituição. É cumprindo a Cons-

R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 227


tituição que, no caso concreto, sou contrato. Não sei o quanto isso sig-
levado, tanto quanto os Colegas que nificará. Defendo o seu integral res-
me antecederam, a não conhecer do sarcimento para manutenção desse
recurso pelos fundamentos antes equilíbrio.
mencionados. É como voto. Não posso admitir que, numa de-
claratória, se vá além para dizer a
ESCLARECIMENTOS maneira de se fazer isso. Esse é o
acórdão dominante. A parte disposi-
O SR. MINISTRO PEÇANHA tiva e a ementa dizem isso, mas a
MARTINS: Senhor Presidente, em ementa não faz coisa julgada. A dis-
meu voto, disse que gostaria de ou- positiva sim e vai prevalecer na exe-
vir a palavra do eminente Ministro cução.
Pádua Ribeiro, que acentuou objeção O SR. MINISTRO PÁDUA RI-
quanto à admissibilidade do recur- BEIRO: Permita-me V. Exa. Exata-
so - devo dizer que eu o admito pa- mente porque não foi impugnada no
ra conceder apenas em parte. recurso a questão sobre a equação fi-
O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI- nanceira do contrato que apliquei a
MANN (Aparte): V. Exa. admite Súmula n 2 283, para dele não conhe-
parcialmente? cer. Com base em ofensa a que dis-
positivo, apoiado em qual dissídio ju-
O SR. MINISTRO PEÇANHA risprudencial, V. Exa. está conhecen-
MARTINS: Conheço do recurso pa- do do recurso? Penso que a preocu-
ra dar parcial provimento apenas pação de V. Exa. é válida, mas para
nesta parte, ou seja, para fazer com se apreciar futuramente, se propos-
que da decisão seja extraída a refe- ta uma ação condenatória. Aí, essa
rência a quaisquer juros de mercado, matéria poderá ser, se for o caso,
porque entendo que a equação eco- examinada amplamente. Agora, aqui,
nômico-financeira do contrato há que não vejo como conhecer do recurso,
ser restabeleci da, mas da forma co- porque, para isso, é indispensável
mo fora pactuada no bojo de ação que se demonstre ofensa a texto de
própria, pois o Decreto-lei n 2 200, a lei federal atinente à equação finan-
que esta obra deveria estar sendo ceira no contrato ou dissídio quanto
submetida, como a lei referida no re- à sua interpretação. Ocorre que a
curso, e também no próprio acórdão equação financeira no contrato não
recorrido, veda a contratação de em- foi versada no recurso, tampouco se
préstimos. Essa parte do dispositivo alegou a ocorrência de dissídio juris-
da sentença, a meu ver, não pode prudencial. A meu ver, esta é a difi-
prevalecer. Não que isso signifique culdade em se conhecer do recurso.
o não-conhecimento do direito da O Sr. Ministro Mosimann disse mui-
empresa, ao contrário, o direito que to bem que, sem ultrapassar os óbi-
temos que proclamar - disse e repi- ces de conhecimento, não podemos
to - é o do restabelecimento da examinar essa ressalva. É esse o as-
equação econômico-financeira do pecto que queria ressaltar.

228 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


o SR. MINISTRO JOSÉ DE JE- inclusive, a isso, pois imaginei que
SUS: Senhor Ministro Peçanha Mar- no recurso tivesse sido argüida a im-
tins, se V. Exa. permite-me, a natu- possibilidade legal de a Administra-
reza jurídica da ação meramente de- ção valer-se de empréstimos obtidos
claratória não comporta execução. É no mercado frnanceiro sem autoriza-
preceito para uma futura ação. Da- ção legal.
ta venia, o que está aqui não é ob- Em sendo assim, não tendo sido
jeto de execução. Estamos dizendo manifestados os embargos, há de se
que há um ajuste a ser feito. reconhecer que o recurso não foi
O SR. MINISTRO PEÇANHA bem posto e não tenho dúvida em
MARTINS: Esse será um direito de- acompanhar a 'furma, não conhecen-
clarado. Evidentemente a ação con- do do recurso, e enfatizando com o
denatória será iniciada já com ele Relator e todos os Ministros, de que
estabelecido. há que se fazer uma nova e comple-
ta instrução probatória para resta-
O SR. MINISTRO PÁDUA RI- belecer-se a equação financeira do
BEIRO: Creio que a parte que mal contrato.
interpôs o recurso especial, deveria
ter esclarecido essa matéria através
de embargos declaratórios na Justi- EXTRATO DA MINUTA
ça de Origem. Assim não procedeu.
Chego a admitir que, futuramente, REsp n~ 5.059-0 - PE
a matéria possa ser trazida à apre- (90.0009102-0) - Relator: O Sr. Mi-
ciação do Judiciário, mas não me ca- nistro José de Jesus. Recte.: CiaIHi-
be antecipar sobre ela. Esse é o as- droelétrica de São Francisco -
pecto relevante, no momento, sobre CHESF. Recda.: Construtora Mendes
o tema. Não podemos avançar o co- Júnior S/A. Advs.: Luiz Carlos Álva-
nhecimento da matéria em razão res de Andrade e outros, e Urbano Vi-
das limitações que nos foram impos- talino de Melo Filho e outros. Susten-
tas pela parte ao interpor recurso taram, oralmente, os Drs. José de Ma-
extraordinário. galhães Barroso, pela recorrente, Ro-
berto Rosas, pela recorrida e Antônio
Fernando Barros e Silva de Souza,
RETIFICAÇÃO DE VOTO Subprocurador-Geral da República.
Decisão: A 1\uma, por unanimi-
O SR. MINISTRO PEÇANHA dade, não conheceu do recurso (em
MARTINS: Senhor Presidente, te- 27.11.91 - 2~ numa).
nho trazido a minha opinião a deba- Participaram do julgamento os
te e não seria a primeira vez que, Srs. Ministros Hélio Mosimann, Pe-
frente a melhores esclarecimentos, a çanha Martins, Américo Luz e Pá-
reform ularia. dua Ribeiro.
A leitura feita pelo Dr. Barroso em Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
esclarecimentos de fato conduz-me, tro AMÉRICO LUZ.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 229


RECURSO ESPECIAL N~ 5.735-0 - PR
(Registro n~ 90.0010776-8)

Relator: O Sr. Ministro Waldemar Zveiter


Recorrente: Iracy de Freitas Durante
Recorrida: Sylvia Martins 'lbstes
Advogados: José Eduardo Soares de Camargo e outros, e Carmem Lú-
cia Silveira Ramos e outros

EMENTA: Processual Civil- Ação reivindicatória cumulada com


anulação de escritura pública.
I - Consolidou-se na jurisprudência dos Tribunais o entendimen-
to de que, no Código de Processo Civil a matéria relativa a pressu-
postos processuais, perempção, litispendência, coisa julgada e con-
dições de admissibilidade da ação, pode ser apreciada, de ofício,
em qualquer tempo e grau de jurisdição ordinária, enquanto não
proferida a sentença de mérito (art. 267, § 3 e).
11 - Suscitada a questão sobre a ilegitimidade de parte, não pode
o Tribunal eximir-se de apreciá-la, sob alegação de preclusão, sen-
do-lhe possível, no caso, examiná-la de ofício.
111 - Há de se negar provimento ao recurso, ainda que presentes
os pressupostos de sua admissibilidade, eis que, a decisão recorri-
da assenta-se em mais de um fundamento suficiente e o mesmo não
abrange todos eles (Súmula n e 283 do STF).
IV - Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO Brasília, 04 de dezembro de 1990


(data do julgamento).
Vistos e relatados estes autos em Ministro NILSON NAVES, Presi-
que são partes as acima indicadas: dente. Ministro WALDEMAR ZVEI-
TER, Relator.
Decide a 'Ierceira fuma do Supe-
rior Tribunal de Justiça, por unani-
midade, não conhecer do recurso es- RELATÓRIO
pecial, na forma do relatório e notas
taquigráficas constantes dos autos, O SR. MINISTRO WALDEMAR
que ficam fazendo parte integrante ZVEITER: Sylvia Martins Tostes
do presente julgado. ajuizou Ação Reivindicatória de bem

230 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


imóvel, cumulada com Anulação de Devidamente processado, subiram
Escritura Pública, contra Iracy de os autos a este Egrégio Superior lli-
Freitas Durante, alegando, em sínte- bunal de Justiça, vindo-me conclu-
se, ser casada, sob o regime de comu- sos.
nhão de bens, com Francisco Dias É o relatório.
'Ibstes e que este passou a conviver
em concubinato com a ré e, assim,
adquiriu bens imóveis em nome des- VOTO
ta.
Citada, contestou a ré argüindo a O SR. MINISTRO WALDEMAR
preliminar de que a autora, na ini- ZVEITER (Relator): Examino a irre-
cial, não indicou o im0vel reivindi- signação da recorrente.
cando e que não é parte legitima ad Trata-se de Recurso Especial in-
causam e, no mérito, pede a impro- terposto ao fundamento de que o
cedência da ação (fls. 67/103). Acórdão recorrido teria negado a vi-
Pelo saneador o Dr. Juiz singular, gência do art. 267, § 3~, do CPC, por
repelindo as preliminares argüidas, haver afirmado ter o Dr. Juiz singu-
julgou as partes legítimas (fls. 145). lar incorrido em erro, ao decidir pe-
la carência da ação, extinguindo o
Dessa decisão, interpôs a ré Agra-
vo Retido (fls. 215). processo sem julgamento do mérito,
eis que as preliminares argüidas pe-
A sentença julgou a autora cara- la ré, ora recorrente, já estavam co-
cedora da ação, extinguindo o pro- bertas pela preclusão.
cesso nos termos do art. 267, IV, do
CPC (fls. 293/298). Contudo, como se infere, muito
embora sustentando tese contrária,
Irresignada, apelou a autora (fls. tocante à preclusão das preliminares
302/309), tendo a Primeira Câmara objeto de exame no saneador, a de-
Cível do Colendo Tribunal de Justi- cisão recorrida não teve essa maté-
ça do Paraná, à unanimidade, nega- ria como fundamento único de sua
do provimento ao Agravo Retido e
decisão.
provido a apelação, para anular a
sentença recorrida (fls. 340/345). Em verdade, o Acórdão recorrido
reformou a sentença de primeiro
Inconformada, interpôs a apelada
grau, para considerar a autora par-
Recurso Especial, com base no art.
te legítima para figurar no pólo ati-
105, lII, a e c, da Constituição, ale-
gando que o Acórdão recorrido teria vo da demanda, forte nas disposições
negado a vigência do art. 267, § 3~, do dos artigos 248, IV e 1.177, ambos do
CPC, bem como divergido da jurispru- Código Civil, que, assim, dispõem:
dência dos tribunais (fls. 347/353).
"Art. 248. A mulher casada po-
Impugnado, o nobre Presidente
de livremente:
daquela Corte o admitiu, apenas, pe-
lo fundamento da letra c (fls. 365). I a III - omissis;

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 231


IV - reivindicar os bens co- de voto do eminente Desembargador
muns, móveis ou imóveis, doados Oto Luiz Sponholz, para dar provi-
ou transferidos à concubina (art. mento a apelação, anulando-se a
1.177);" sentença, para que outra fosse pro-
"Art. 1.177. A doação do cônju- latada, com exame de mérito (fls.
ge adúltero ao seu cúmplice pode 345):
ser anulada pelo outro cônjuge, ou
por seus herdeiros necessários, "N a minha ótica a preclusão
até 2 (dois) anos depois de dissol- das matérias aludidas em sanea-
vida a sociedade conjugal (arts. dor irrecorrido só se opera em re-
178, § 72, VI, e 248, IV)." lação às partes e nunca para o
Juiz. É perfeitamente possível,
Cita, ainda, Clóvis, ao comentar v.g. que determinado requisito
esse artigo: necessário ao desenvolvimento re-
gular do processo seja afastado a
"A disposição deste artigo é ge- posteriori, não se podendo exigir
ral, abrange ambos os cônjuges, o que o magistrado fique atado ao
marido e a mulher, e não distin- que decidir no saneador, porque
gue regimes de bens. preclusa estaria tal matéria pro-
cessual.
Ainda que os cônjuges tenham
patrimônios separados, qualquer O saneador irrecorrido, repita-
deles tem direito de anular a doa- se, enseja a proclamação da pre-
ção, que o outro fizer ao seu cúm- clusão das matérias nele contidas,
plice em adultério. somente em relação às partes li-
tigantes.
Se o regime do casamento for o
da comunhão, a mulher poderá N a espécie dos autos, legítimo
reivindicar o bem doado, ou por era, em tese, o exercício por par-
outro modo transferido à concubi- te da esposa, da ação reivindica-
na." (Código Civil, Editora Rio, tória de imóvel que se diz adqui-
pág. 279) rido pela concubina, desde que
com numerário fornecido pelo con-
De igual, Serpa Lopes: cubino, esposo legítimo da autora.
(Cf. RT 520/311)."
"Não temos dúvida que, mes-
mo com caráter remuneratório, 'Ibcante à matéria relativa aos
doação feita à sua amante pelo pressupostos de admissibilidade, não
homem casado é nula". (Curso de tenho como válida a assertiva posta
Direito Civil, VoI. 3, ed. 1961, no aresto impugnado de que "No ca-
pág.421) so presente, incorreu em erro o Dr.
Juiz ao decidir pela carência de ação,
'Th.nto é que esta foi a única fun- extinguindo o processo sem julga-
damentação esposada na declaração mento do mérito, uma vez que as

232 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


preliminares argüidas pela ré já esta- 'Ibdavia, ainda que presentes os
vam cobertas pela preclusão." (fi. 343). requisitos contemplados nas letras a
É que a jurisprudência dos tribu- e c, que autorizam o conhecimento
nais assentou entendimento segun- do recurso, a ele há de se negar pro-
do o qual: "No Código de Processo vimento, porque a decisão recorrida
Civil a matéria relativa a pressupos- assenta em mais de um fundamen-
tos processuais, perempção, litispen- to suficiente e o mesmo não abran-
dência, coisa julgada e condições de ge todos eles, o que impõe a incidên-
admissibilidade da ação pode ser cia do disposto na Súmula n~ 283 do
apreciada, de ofício, em qualquer Pretório Excelso.
tempo e grau da jurisdição ordiná- Ante o exposto, não conheço, pois,
ria, enquanto não proferida a sen- do Recurso Especial.
tença de mérito (artigo 267, § 3~)."
(RTJ 112/1.164);
"Proposta a questão sobre a ilegi- EXTRATO DA MINUTA
timidade de parte, não pode o Tribu-
nal eximir-se de apreciá-la, sob ale- REsp n~ 5.735-0 - PR
gação de preclusão, sendo-lhe mes- (90.0010776-8). Rel.: O Sr. Ministro
mo possível apreciá-la de ofício." Waldemar Zveiter. Recte.: Iracy de
(RT J 112/1.404) Freitas Durante. Recda.: Sylvia
Martins 'Ibstes. Advs.: José Eduar-
Conquanto correta a tese susten-
do Soares de Camargo e outros, e
tada pela recorrente, com base na
Carmem Lúcia Silveira Ramos e ou-
jurisprudência consolidada, no sen-
tros.
tido de ocorrer preclusão apenas pa-
ra as partes, mas não para o Juiz, Decisão: A 'furma, por unanimida-
certo é que o Acórdão, como já afir- de, não conheceu do recurso especial,
mado, não teve essa matéria como nos termos do voto do Senhor Minis-
único fundamento de sua decisão. tro Relator (em 04.12.90 - 3~ Tur-
Embasou-se o Acórdão atacado no ma).
disposto nos artigos 248, IV e 1.177, Participaram do julgamento os
do Código Civil, que outorga à auto- Senhores Ministros Cláudio Santos,
ra, ora recorrida, o direito à ação pa- Eduardo Ribeiro e Dias Trindade.
ra reivindicar aqueles bens, objeto
da demanda, doados ou transferidos Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
à concubina do seu marido. tro NILSON NAVES.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 233


RECURSO ESPECIAL N~ 13.325-0 - PR
(Registro n~ 91.0015557-8)

Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros


Recorrente: Estado do Paraná
Recorrido: C. R. Almeida S/A Engenharia e Construções
Advogados: Drs. Ubirajara Ayres Gasparin e outros, e Sérgio 1bscano de
Oliveira e outros

EMENTA: Processual - Recurso especial - Acórdão com vários


fundamentos - Fundamento não atacado.
Não se admite recurso especial que não abrange todos os funda-
mentos suficientes à manutenção do acórdão desafiado.

ACÓRDÃO de conhecimento, a prestar indeniza-


do a C. R. Almeida S/A - Engenha-
Vistos, relatados e discutidos es- ria e Construções.
tes autos, acordam os Ministros da
Aberto o processo de liquidação,
Primeira 'llirma do Superior Tribu-
os cálculos foram homologados por
nal de Justiça, na conformidade dos sentença, contra a qual o Estado in-
votos e das notas taquigráficas a se- terpôs apelação. O recurso, porém,
guir, por maioria, vencidos os Srs. não desafiou toda a sentença, mas
Ministros Milton Pereira e Garcia alguns de seus dispositivos.
Vieira, não conhecer do recurso. Vo-
taram com o Sr. Ministro Relator os A apelação foi recebida, "em seus
Srs. Ministros Cesar Rocha e Demó- regulares efeitos".
crito Reinaldo. A credora, C. R. Almeida S/A,
Brasília, 14 de junho de 1993 (da- propôs a execução da sentença, na
ta do julgamento). parte em que não houve apelação.
Ministro GARCIA VIEIRA, Presi- O Estado do Paraná opôs embar-
dente. Ministro HUMBERTO GO- gos à execução, sob o argumento de
MES DE BARROS, Relator. que a sentença exeqüenda estava
sob efeito de recurso, carecendo de
força executória definitiva.
RELATÓRIO
Os embargos foram rejeitados em
O SR. MINISTRO HUMBERTO sentença que veio a ser confirmada
GOMES DE BARROS: O Estado do pelo v. Acórdão ora recorrido. Hou-
Paraná foi condenado, em processo ve apelação.

234 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


o Acórdão confirmou a Decisão de d) Art. 475, lI, que impõe o duplo
primeiro grau, decidindo: grau de jurisdição, mesmo em
sentenças de liquidação.
a) não conhecer da apelação inter-
posta pelo Estado, por intempes- É o relatório.
tiva;
b) reexaminar a Sentença que re- VOTO
jeitou os embargos, a título de re-
messa ex officio; O SR. MINISTRO HUMBERTO
c) confirmar a Sentença relativa GOMES DE BARROS (Relator): O
aos embargos, ao fundamento de Acórdão recorrido adotou como um
que apelação que desafiava a sen- de seus fundamentos, a circunstân-
tença de liquidação já fora julga- cia de que a controvérsia já está su-
da; perada, "pois evidenciado ficou que
d) a execução fora bem iniciada e a apelação que enfrentou a senten-
conduzida; eis que abrange ape- ça julgadora da liquidação foi deci-
nas a parte não recorrida da sen- dida por esta Câmara (fls. 87 e
tença e adota como título, somen- segts.) e o recurso tinha efeito ape-
te a parte não recorrida da deci- nas devolutivo, e após o julgamento
são homologatória da liquidação; cessou qualquer suspensividade pre-
e) a sentença homologatória da li- tendida, e as demais matérias fica-
quidação já foi confirmada, em ram superadas com a decisão do
grau de apelação. Agravo n~ 83/88" (fls. 114).
Este fundamento não foi atacado
o Estado interpôs recurso espe- pelo recorrente.
cial fincado no permissivo da alínea
Em sede de recurso especial, atua
a.
o velho princípio assentado pelo Su-
o Recorrente afirma que o Acór- premo 'fribunal Federal, na Súmula
dão negou vigência a diversos precei- n~ 283.
tos do Código de Processo Civil, a
saber: Assim, não se admite recurso es-
pecial, que não abrange todos os
a) Art. 587, que traça a diferença fundamentos suficientes à manuten-
entre execução provisória e defi- ção do acórdão desafiado.
nitiva; Não conheço do recurso.
b) Art. 588, que exige caução, co-
mo requisito da execução provisó- EXTRATO DA MINUTA
ria;
c) Art. 589, que determina se efe- REsp n~ 13.325-0 - PR
tue a execução provisória em car- (91.0015557-8). Relator: O Sr. Minis-
ta de sentença; tro Gomes de Barros. Recte.: Estado

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 235


do Paraná. Advogados: Ubirajara sentença não trânsita em julga-
Ayres Gasparin e outros. Recda.: C. do), nos autos principais. Nestes
R. Almeida S/A Engenharia e Cons- casos, a Execução, quando cabível
truções. Advogados: Sérgio 'Ibscano (não era o caso) necessariamente
de Oliveira e outros. Sustentou oral- deveria ser procedida em autos
mente o Dr. Júlio César Ribas Boeng, suplementares (onde os houver)
pelo recorrente. ou por via de carta de sentença.
Após o oferecimento do Agravo
Decisão: Após o voto do Sr. Minis-
de Instrumento e dos Embargos
tro Relator não conhecendo do recur- (29 de julho de 1987) - o pedido
so, pediu vista o Sr. Ministro Milton de Execução é de 16 de junho -
Pereira. Aguardam os Srs. Ministros determinou o MM. Juiz, de ofício,
Cesar Rocha, Garcia Vieira e Demó- esvaziando a defesa do Estado do
crito Reinaldo (em 14.04.93 - I!!: Paraná e, data vênia, substituin-
'furma). do-se à parte exeqüente, a autua-
Presidiu o julgamento o Sr. Minis- ção em separado (veja-se a data
tro GARCIA VIEIRA. da autuação) da Execução propos-
ta pela ora Recorrida.
Entretanto, tal medida não foi
VOTO - VISTA suficiente para sanar os gravíssi-
mos vícios que impedem o proces-
O SR. MINISTRO MILTON PE- samento da referida Execução."
REIRA: Movido pela necessidade de (fi. 42).
antagonizar dúvidas conturbadoras
do convencimento a respeito da ad-
"A apelação (contra a sentença
missibilidade ou não do Recurso Es-
que homologou o cálculo do conta-
pecial, de pronto, negada pelo obje- dor) foi recebida "em seus jurídi-
tivo voto proferido, solicitei vista. cos efeitos", vale dizer, nos efeitos
Concluído o voluntário mister, da suspensivo e devolutivo. Posto que
leitura dos autos recolhi que em fa- o plural utilizado para expressar
se de execução, elaborados e impug- a decisão judicial não pode tradu-
nados os cálculos, homologada a con- zir uma realidade singular, ou se-
ta e rejeitados os embargos, o execu- ja, um efeito apenas. Isto posto,
tado, ora Recorrente, articulou ape- recebido, que foi o recurso em am-
bos os efeitos, nenhuma medida
lação, em sumário, a dizer:
executiva poderia ser proposta an-
tes do pronunciamento do Juízo
omissis ad quem.
"Entre os argumentos expendi- Afirma o MM. Juiz que não se
dos pelo Embargante, situava-se poderia dar o efeito suspensivo
o relativo à impossibilidade do proibido pela lei. Entretanto, con-
processamento da Execução, defi- trariando ou não a lei, recebeu o
nitiva ou provisória (de parte de recurso nos efeitos devolutivo e

236 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


suspensivo. Exigindo a atividade dois cálculos [(i) um, do principal
jurisdicional clareza de linguagem, corrigido até o advento do plano
não pode o Juiz usar, sob pena de cruzado; (ii) outro, com a correção
causar prejuízos às partes, expres- superveniente à sua edição], aí,
sões ambíguas, vagas em seus des- em tese, poder-se-ia discutir a ad-
pachos. Não deve, pois, fazer uso missibilidade ou a processabilida-
de expressão plural para se referir de da execução requerida pela
a realidade singular. apelada.
Ora, tendo sido recebido o Re- Entretanto, a conta homologa-
curso "nos seus jurídicos efeitos", da não agasalha cálculos distin-
evidente que a Execução não po- tos, separados em capítulos espe-
deria ser processada." (fi. 43 - cíficos, de tal modo que pudessem
grifos originais). transitar em julgado em momen-
tos não simultâneos (em face da
homologação).
"Não há possibilidade, portan-
Daí porque toda ela transita
to, de desafiando a decisão homo-
em julgado ao mesmo tempo, im-
logatória de cálculo, apelação, ain-
pedindo qualquer tentativa de
da que relativa a um ou alguns
execução enquanto pender recur-
aspectos da conta (porque esta é
so. Salvo a hipótese de execução
una, inteira, indivisível), transitar
provisória." (fI. 45).
parcialmente em julgado para au-
torizar execução de parte sua não
devolvida à apreciação superior. "Ora, quisesse a ora Recorrida
É que a decomposição, ou me- - Embargada, promover a Exe-
lhor, a fragmentação da conta, cução definitiva (sic) de parte da
porque é una, não dividida em se- sentença homologatória do cálcu-
ções, capítulos, artigos, etc., só po- lo do contador (sic) - embora
de ser admitida violentando-se as pendente recurso de apelação -
normas que presidem a regulari- deveria ter tomado as cauteZas de-
dade do processo de Execução. vidas, requerendo, antes - ou se-
ja, antes do ajuizamento da medi-
Conclui-se, pois, que indivisível da executiva - a extração, dos
a sentença que homologou o cál- autos do processo principal, de
culo de contador (porque não dis- carta de sentença (a execução de-
põe de "artigos distintos" que pos-
finitiva de parte de sentença, pen-
sam configurar sentenças distin-
dendo recurso de apelação, deve
tas), resta inadmissível a execu-
ser processada do mesmo modo
ção proposta por C. R. Almeida
que a execução provisória por via
S/A.
de carta de sentença), que, neces-
Tivesse a conta homologada si- sariamente, deveria conter os re-
do elaborada de modo a conter quisitos enumerados nos arts. 589

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 237


e 590 do Código de Processo CiviL O Egrégio llibunal a quo, não co-
Esta seria em verdade o título nhecendo da apelação voluntária,
executivo." (fl. 47 - grifos origi- mas fazendo o reexame necessário,
nais). improvendo a apelação averbou a se-
guinte ementa do julgado:

"De se ver, finalmente, que o "Execução. Parte da sentença


Código exige carta de sentença definitiva não impugnada. Embar-
(devidamente autuada: - há uma gos oferecidos pelo Estado do Pa-
forma prescrita em lei) extraída raná. Matéria decidida em agravo
do processo pelo Escrivão e assi- de instrumento (Ac. 5.705, Agra-
nada pelo Juiz (art. 589 do vo de Instrumento n~ 83/88). Ape-
C.P. C.) e não simples xerox não lação que tinha efeito tão-somen-
autenticadas nem conferidas pe- te devolutivo. Recurso intempes-
lo Escrivão ou Juiz. tivo. Conhecimento do reexame da
sentença, apesar da não manifes-
Pois bem. A Exeqüente não tação do juiz pela remessa.
possui título executivo. Ou se o
Recurso. Apelação. Intempesti-
possui não consta do processo. Se
vidade. Não conhecimento. Remes-
não fundamentou a Execução em
sa necessária conhecida e improvi-
carta de sentença, se não juntou
da, desde que a matéria já fora sa-
ao processo nem mesmo a senten-
tisfatoriamente decidida em agra-
ça que pretende executar (que não vo de instrumento por esta Câma-
é evidentemente a simples decisão ra.
de homologação de cálculo, mas
sim a que decidiu o feito condena- Reexame necessário improvi-
tório), de que modo pode esta (a do". (fl. 110).
constante dos presentes autos e
não outra, eventualmente legíti- A manifestação irresignatória,
ma) medida executiva prosperar? nesta via, apóia-se no art. 105, lII,
a, Constituição Federal, a saber:
Evidente que observados os re-
quisitos da lei, poderá propor, " ... ao considerar definitiva a
mais tarde nova Execução (se pos- execução pretendida pela recorrida,
sui título executivo). Mas no pre- determinando que ela se processe
sente caso, a Execução proposta, nos próprios autos principais, sem
porque não baseada em título exe- caução e carta de sentença, o vene-
cutivo, ou porque não constando o rando acórdão recorrido negou vi-
título do processo de Execução, gência, simultaneamente, aos se-
deve necessariamente ser julgada guintes dispositivos do Código de
improcedente, reconhecendo-se a Processo Civil". (fi. 123).
legitimidade dos embargos opos-
tos." (fls. 48 e 49 - grifos origi- No voto proferido, o eminente Mi-
nais). nistro Relator, com clareza, assentou:

238 R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


"O Acórdão recorrido adotou co- seus jurídicos efeitos, não impli-
mo um dos seus fundamentos, a cou em dotar o recurso do efeito
circunstância de que a controvér- jurídico que não tem, ou seja, não
. sia já está superada, "pois eviden- implicou em dotá-lo de efeito que
ciado ficou que a apelação que en- esse dispositivo legal não lhe dá.
frentou a sentença julgadora da
liquidação foi decidida por esta Ademais disso, a apelação já
Câmara (fls. 87 e segts.) e o teve julgamento, a partir do qual
recurso tinha efeito apenas devo- teria cessado o seu efeito suspen-
lutivo, e após o julgamento cessou sivo, se o tivesse. Daí porque es-
qualquer suspensividade preten- sa questão já está superada.
dida, e as demais matérias fica- 4. No que se refere à questão de
ram superadas com a decisão do ter ou não essa apelação abrangi-
Agravo n~ 83/88" (fls. 114). do toda a conta ou cálculo homolo-
Este fundamento não foi ataca- gado, à questão da provisoriedade
do pelo recorrente. da execução e, portanto, também
Em sede de recurso especial, da necessidade de carta de senten-
atua o velho princípio assentado ça e de caução, a matéria também
pelo Supremo Tribunal Federal, já está superada pelo v. acórdão n~
na Súmula n~ 283. . 5.705 dessa egr. Câmara.
Assim, não se admite recurso 5. Assim, o parecer que se pro-
especial, que não abrange todos os põe à essa douta Câmara é pelo
fundamentos suficientes à manu- provimento do recurso da remes-
tenção do acórdão desafiado. sa".
Não conheço do recurso." "Não há nada a acrescentar ao
parecer, pois evidenciado ficou
Feitos esses registros, facilitada a que a apelação que enfrentou a
compreensão, reflete-se que, desde sentença julgadora da liquidação
os Embargos do Devedor, discutiu-se foi decida por esta Câmara (fi. 87
a iliquidez, pelo menos, de parte da e segs.), e o recurso tinha apenas
dívida, circunstância que impediria efeito devolutivo, e após o julga-
a execução, questão também consi- mento cessou qualquer suspensi-
derada no Agravo de Instrumento n~ vidade pretendida, e as demais
83/88 (fi. 97), novamente acudida na matérias ficaram superadas com
Apelação Cível 15/89 (fi. 110). E, no a decisão no Agravo n~ 83/88 ... ".
ilustrado voto-condutor desta última (fls. 114 e 115 - gf.)
apelação, ficou anotado:
No ressoar desses comemorativos,
omissis que serviram para espancar as mi-
"A circunstância de haver a de- nhas dúvidas, destaca-se que, pro-
cisão de recebimento referido a movida a execução da parcela apon-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 239


tada como incontroversa, apurada Decisão: Prosseguindo no julga-
na liquidação da sentença, ficando mento, após o voto do Sr. Ministro
excluído o saldo controvertido, o Es- Milton Pereira, no que foi acompa-
tado do Paraná, aqui recorrente, re- nhado pelo Sr. Ministro Garcia Viei-
jeitados os seus Embargos à Execu- ra' e do voto do Sr. Ministro Demó-
ção, apelou à instância ordinária ad crito Reinaldo dele não conhecendo,
quem, pela sua intempestividade, verificou-se o empate. O julgamen-
recurso não conhecido. Em assim to prosseguirá oportunamente (em
ocorrendo, evidencia-se que todas as 02.06.93 - 1~ Turma).
questões abrangidas na apelação Participaram do julgamento os
desconhecida ficaram vencidas. Srs. Ministros Milton Pereira, Gar-
Mas, menos certo não é que, no cia Vieira e Demócrito Reinaldo.
mesmo julgado (fls. 110 e 116), pela Ausente, justificadamente, o Sr.
via da "remessa necessária", foram Ministro Cesar Rocha.
considerados os temas acudidos des-
de a primeira impugnação. Logo, re- Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
flexivamente, as questões decorren- tro GARCIA VIEIRA.
tes ou simultâneas, foram reanima-
das pelo v. acórdão hostilizado. EXTRATO DA MINUTA
Por esses lineamentos, ora expres-
samente, seja implicitamente, enten- REsp n~ 13.325-0 - PR
dendo que os temas versados nesta (91.0015557-8) - Relator: O Sr. Mi-
via especial, foram albergados, for- nistro Gomes de Barros. Recte.: Es-
malizando penhoradas vênias ao emi- tado do Paraná. Advogados: Ubira-
nente Senhor Ministro Relator, pre- jara Ayres Gasparin e outros. Rec-
liminarmente, voto pelo conhecimen- da.: C. R. Almeida S/A Engenharia
to do recurso. e Construções. Advogados: Sérgio
É o meu voto-vista. 'lbscano de Oliveira e outros.
Decisão: Prosseguindo no julga-
mento, a Turma, por maioria, venci-
EXTRATO DA MINUTA dos os Srs. Ministros Milton Perei-
ra e Garcia Vieira, não conheceu do
REsp n~ 13.325-0 - PR recurso (em 14.06.93 - 1~ Turma).
(91.0015557-8) - Relator: O Sr. Mi-
Participaram do julgamento os
nistro Gomes de Barros. Recte.: Esta-
Srs. Ministros Milton Pereira, Cesar
do do Paraná. Advogados: Ubirajara
Rocha, Garcia Vieira e Demócrito
Ayres Gasparin e outros. Recda.: C. R.
Reinaldo.
Almeida S/A Engenharia e Constru-
ções. Advogados: Sérgio 'lbscano de Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
Oliveira e outros. tro GARCIA VIEIRA.

240 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


RECURSO ESPECIAL N~ 14.842-0 - RJ
(Registro n~ 91.0019219-8)

Relator: O Sr. Ministro Cláudio Santos


Recorrentes: Carmem Boutique Ltda. e Outsider Indústria e Comércio
Ltda.
Recorrido: Pinto de Almeida Engenharia Ltda.
Advogados: Antônio Martins de Almeida e outro, Alaor de Lima Filho e
outros, Alfredo Zide, e Antônio Carlos Sigmaringa Seixas

EMENTA: Recurso especial. Acórdão. Fundamento duplo. Ataque


a uma das teses. Não conhecimento.
Atacada no recurso apenas a questão da legitimidade da parte, pa-
ra propor embargos de terceiro, tendo o acórdão outro fundamen-
to, decorrente do exame do direito da parte, do especial não se co-
nhece.

ACÓRDÃO ker, através da qual foi o recurso ad-


mitido:
Vistos, relatados e discutidos es-
tes autos, acordam os Ministros da "Tratam os autos de Recursos
Thrceira TUrma do Superior llibunal Especiais, com fundamento no ar-
de Justiça, na conformidade dos au- tigo 105, lII, a e c, da Constituição
tos e das notas taquigráficas a se- Federal, contra o v. acórdão, unâ-
guir, por unanimidade, não conhecer nime de fls. 152/157, da Egrégia,
do recurso especial. Votaram com o Quinta Câmara Cível do nosso lli-
relator os Srs. Ministros Nilson N a- bunal de Justiça, assim ementado:
ves, Eduardo Ribeiro e Dias Trinda-
de. O Sr. Ministro Waldemar Zveiter "1. Incidente de Uniformiza-
declarou-se impedido. ção de Jurisprudência. Argüição
pela parte. Oportunidade.
Brasília, 19 de maio de 1992 (da-
ta do julgamento). Tratando-se de dissídio já
Ministro NILSON NAVES, Presi- existente à época da interposi-
dente. Ministro CLÁUDIO SANTOS, ção do recurso ou da resposta,
Relator. a argüição do incidente pela
parte deve ser feita em uma da-
RELATÓRIO quelas ocasiões. Só se deve ad-
mitir suscitação em petição
O SR. MINISTRO CLÁUDIO SAN- avulsa, depois daqueles momen-
TOS: Adoto como relatório a decisão tos, em referência a divergên-
do eminente Des. Fernando Whita- cia configurada ulteriormente.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 241


2. Embargos de terceiro. Ca- processo de execução do qual não
bimento. Como está expresso no tenham sido parte além de, em ra-
artigo 1.046 do Código de Proces- zão de estarem imitidas na posse
so Civil, embargos de terceiro só direta do imóvel, só poderiam ser
cabem contra ato de apreensão dele desalojadas nos casos previs-
judicial. Execução de sentença tos no artigo 520 do Código Civil,
para entrega de coisa certa não entre os quais não se inclui o da
é ato de constrição e, por isso perda de posse indireta pelo pro-
mesmo, contra ela não cabem missário-comprador (locador) em
embargos de terceiro. favor do promitente-vendedor em
Quem ocupa imóvel em razão virtude da rescisão da promessa de
de locação dada por promitente- compra e venda, não sendo lícito
comprador está sujeito à execu- negar às locatárias, como negou a
ção para restituição da coisa ao decisão recorrida, a condição de
promitente-vendedor, se o con- terceiro, nem o direito que lhes as-
trato de promessa se resolveu e siste de adotar as medidas neces-
o promitente-comprador foi con- sárias à proteção e defesa da pos-
denado a devolver o prédio." se direta de que são titulares.
Invoca, ainda, dissídio pretoria-
Em tempestivos recursos (fls. 160 no.
e 1621184) alegam as recorrentes ter
o Aresto hostilizado infringido os Contra-razões a fls. 186/206.
arts. 42, parágrafo único, 472 e É a hipótese, em síntese.
1.046, caput, do Código de Proces-
so Civil, arts. 485, 486 e 499 do Có- No que tange ao permissivo da
digo Civil e artigo 52, LV, da Cons- alínea a, a alegada ofensa ao art.
tituição Federal ao entender que 52, LV, da Constituição Federal,
quem ocupa imóvel em razão de lo- não pode ser apreciada em sede de
cação dada por promitente-compra- Recurso Especial, desafiando Re-
dor está sujeito à execução para curso Extraordinário, não interpos-
restituição da coisa ao promitente- to pelas recorrentes, nos termos
vendedor, se o contrato se resolveu dos artigos 102 da Constituição Fe-
e o promitente-comprador foi con- deral e 26 e seguintes da Lei
denado a devolver o prédio, só sen- 8.038/90.
do cabíveis embargos de terceiro Quanto aos arts. 42, parágrafo
contra ato de constrição judicial. terceiro, 472 e 1.046, caput do Có-
Sustentam os recorrentes que as digo de Processo Civil foram tais
locatárias estão legitimadas, na dispositivos devidamente pre<Ules-
qualidade de possuidoras, a opor tionados, porém padecem de rizoa-
embargos de terceiro, para pleitear bilidade as alegações das recorren-
a exclusão do bem em qualquer tes.

242 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


Com efeito, as recorrentes ocu- "O artigo 1.046 do Código de
pavam os imóveis em razão de con- Processo Civil possibilita a opo-
trato de locação celebrado com a sição de embargos de terceiro a
promitente-compradora do imóvel. quem, não sendo parte no pro-
Thndo ocorrido o desfazimento da cesso, sofrer turbação na posse
promessa, por inadimplemento da de seus bens por atos de apreen-
promitente-compradora, a sua pos- são judicial, atos esses relacio-
se perdeu a legitimidade, ensejan- nados no aludido artigo em ca-
do a restituição e, uma vez decre- ráter exemplificativo, a signifi-
tada a devolução dos imóveis à car que outros que não os ali
promitente-vendedora, é evidente mencionados podem autorizar
que a execução do julgado far-se- a medida, desde que com a na-
ia contra a promitente-vendedora tureza de ato de constrição.
ou quem estivesse nos imóveis por
Como é curial, dessa nature-
ato seu, na hipótese locação, ten-
do a decisão recorrida bem aplica- za não participa a determinação
do o parágrafo terceiro do artigo para entrega ou restituição de
42 do Código de Processo Civil, coisa, como, por exemplo, exe-
pois, as recorrentes são cessioná- cução de sentença proferida em
rias da posse direta da promiten- ação reivindicatória, em ação
te-compradora, e, em tal condição possessória ou em ação de des-
estavam sujeitas à execução da pejo. Nesses casos, não há fa-
sentença, na parte em que esta de- lar em "ato de apreensão judi-
cretou a desocupação dos imóveis cial", até porque a coisa (móvel)
para restituição à promitente-ven- não fica em poder ou à disposi-
dedora, não sendo igualmente ra- ção do juízo. O que há é execu-
zoável a afirmação das recorren- ção da sentença para entrega
tes de, por não terem sido partes ou restituição do bem ao autor
no processo principal, não estarem da ação.
sujeitas aos efeitos da sentença. A hipótese dos autos, é, pre-
Não houve, assim, qualquer con- cisamente de execução de sen-
trariedade aos arts. 42, parágra- tença."
fo terceiro e 472 do Código de Pro-
cesso Civil. Daí a razoabilidade da decisão
recorrida, a ensejar o óbice da Sú-
Por outro lado, o artigo 1.046
caput também tido como violado mula 400 do Egrégio Supremo
pelas recorrentes, na verdade não Tribunal Federal, aqui por ana-
o foi, tendo o V. Acórdão guerrea- logia.
do emprestado interpretação mais Quanto aos artigos 485, 486 e
que razoável à questão federal 499 do Código Civil não foram
suscitada, conforme se verifica do abordados nas razões de apelação
trecho abaixo transcrito (fls. 156/ das recorrentes (fls. 42/55 e 77/83)
157): e nem ventilados pela decisão re-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 243


corrida (fls. 1521157) estando ausen- ramente julgou extinto o processo, por
te o requisito do prequestionamen- ilegitimidade da parte, arrimada nos
to, ensejando o óbice das Súmulas arts. 267, I e 295, lI, do CPC, e foi
282 e 356 do Egrégio Supremo 'lli- confirmada na segunda instância.
bunal Federal, por analogia.
Inegável, entretanto, que ao ma-
No que pertine ao permissivo da nifestar-se por não ostentar a condi-
alínea c, melhor sorte assiste às re- ção de terceiro, apreciou o invocado
correntes, eis que o Julgado trazi- direito da ora recorrente.
do à colação (fls. 178/182), emana-
do do Tribunal de Justiça do Rio Preliminarmente, peço vênia aos
Grande do Sul, diverge, em situa- doutos componentes da 5!! Câmara Cí-
ção semelhante, da decisão recorri- vel do Eg. 'llibunal de Justiça do Rio
da (fls. 1521157), ao admitir Embar- de Janeiro, para discordar do enten-
gos de 'Ierceiro oferecidos por loca- dimento manifestado quanto ao ca-
tário em ação de reintegração de bimento dos embargos de terceiro.
posse e entendendo que a preten- Entendo ter o locatário, ameaçado
dida reintegração constitui ato de de perder a posse que detinha, com
constrição judicial compreendido na
aparência de legítima, direito a opor-
inteligência do artigo 1.046 do Có-
digo de Processo Civil. se à ordem judicial decorrente da sen-
tença em ação da qual não foi parte,
Os demais Julgados (fls. 182, in através de embargos de terceiro.
fine e 183) não se prestam ao pre-
tendido dissenso pretoriano, eis que Nesse ponto, estou com Humber-
foram transcritas apenas ementas, to Theodoro Junior, que em arti-
não sendo observadas as normas go de doutrina publicado na Rev.
legais e regimentais (parágrafo Bras. de Direito Processual, vol. 44,
único do artigo 26 da Lei 8.038/90 pág. 127, assinala:
e parágrafo único do art. 255 do
Regimento Interno do Superior 'lli- "Se "os embargos de terceiro, no
bunal de Justiça). Código de Processo Civil vigente,
Dessa forma, admito, em parte, constituem meio idôneo de prote-
os Recursos Especiais, com funda- ção de domínio e posse ou de direi-
mento no artigo 105, IH, c, da to real, ou obrigação que confere
Constituição Federal. posse sobre coisa alheia", impõe-
Subam os autos ao Egrégio Su- se concluir, com a jurisprudência
perior Tribunal de Justiça." (fls. dominante, que:
224/229)
"Admitem-se embargos de
Relatei. terceiro contra qualquer ato de
apreensão judicial, praticado em
VOTO qualquer ação ou execução, des-
de que resulte prejudicial ao em-
O SR. MINISTRO CLÁUDIO bargante ou seja incompatível
SANTOS (Relator): A sentença cla- com um seu direito".

244 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


Sempre, pois, que a atuação do É de levar-se em conta ter o acór-
Poder Judiciário ultrapassar os li- dão outro fundamento, pois, a rigor,
mites subjetivos do processo, aque- o direito da ora recorrente, invoca-
le que, não estando alcançado pe- do nos embargos de terceiro, foi exa-
la relação processual, se vir na imi- minado tanto na sentença como no
nência de sofrer violação ou amea- acórdão, concluindo-se no sentido de
ça em seus direitos, terá a seu dis- ser a relação locatícia de natureza
por os embargos de terceiro. pessoal, vinculando apenas as par-
Por isso, como conceitua Hamil- tes do contrato, não podendo ser
ton de Moraes e Barros, no está- oposta à proprietária do imóvel.
gio de hoje de nosso direito, os em- Diante do exposto, tendo o acór-
bargos de terceiro "são uma ação es- dão mais de um fundamento, do re-
pecial, de procedimento sumário, curso não conheço.
destinada a excluir bens de tercei- É o voto.
ro que estão sendo, ilegitimamen-
te objeto de ações alheias."
EXTRATO DA MINUTA
Daí admitir Adroaldo Furta-
do Fabricio, dentro desse largo es- REsp n~ 14.842-0 - RJ
pectro do remédio processual do ar- (91.0019219-8) - Relator: O Sr. Mi-
tigo 1.046, que no caso de execução nistro Cláudio Santos. Recte.: Car-
de sentença possessória, havendo mem Boutique Ltda. Advs.: Antônio
moléstia a quem não foi parte no Martins de Almeida e outro. Recte.:
interdito, os atos executórios lato Outsider Indústria e Comércio Ltda.
sensu poderão ser atacados pelo Advogados: Alaor de Lima Filho e
"remédio específico e adequado, que outros. Recdo.: Pinto de Almeida En-
são os embargos de terceiro". E, na genharia Ltda. Advs.: Alfredo Zide
mesma linha, segue Guido Arzua, e Antônio Carlos Sígmaringa Seixas.
para quem "o terceiro pode intro- Sustentou oralmente o Dr. Antônio
meter-se na execução (da posses- Carlos Sigmaringa Seixas, pelo Re-
sória), com embargos a ela". corrido.
Na realidade, nem mesmo se Decisão: A 'Ibrma, por unanimi-
pode afirmar que no cumprimen- dade, não conheceu do recurso espe-
to do mandado reintegratório ino- cial (em 19.05.92 - 3~ 'Ibrma).
corre "apreensão judicial". Se a O Sr. Ministro Waldemar Zveiter
apreensão, in casu, não é dura- declarou-se impedido.
doura é, pelo menos, transitória,
isto é, ocorre necessariamente na- Participaram do julgamento os
queles instantes em que o Poder Srs. Ministros Nilson Naves, Eduar-
Público toma o bem do poder de do Ribeiro e Dias Trindade.
uma parte, para em seguida en- Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
tregá-lo ao vencedor da causa." tro NILSON NAVES.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 245


RECURSO ESPECIAL N~ 16.076-0 - MG
(Registro n~ 91. 0021947 -9)

Relator: O Sr. Ministro Barros Monteiro


Recorrente: Credireal Leasing S.A. - Arrendamento Mercantil
Recorridas: Empresa Unida Mansur e Filhos Ltda. e Cajaíba Indústria
e Comércio de Madeiras Ltda.
Advogados: Drs. José Orne las de Melo, Ezequiel de Melo Campos Filho
e outro, e Roberto Marinho Pires

EMENTA: Recurso especial. Inadmissibilidade.


É inadmissível o recurso especial, quando a decisão recorrida as-
senta-se em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abran-
ge todos eles.
Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO RELATÓRIO

Vistos e relatados estes autos em O SR. MINISTRO BARROS MON-


que são partes as acima indicadas: TEIRO: "Empresa Unida Mansur &
Filhos Ltda." ajuizou ação reparató-
Decide a Quarta 'furma do Supe-
ria de danos contra "Credireal Lea-
rior Tribunal de Justiça, por unani-
sing S/A - Arrendamento Mercantil",
midade, não conhecer do recurso, na
em virtude de acidente automobilís-
forma do relatório e notas taquigrá-
tico causado por veículo de proprie-
ficas constantes dos autos. que ficam
dade da ré.
fazendo parte integrante do presen-
te julgado. Participaram do julgamen- N a contrariedade, a demandada
to os Srs. Ministros Bueno de Souza denunciou à lide a empresa "Cajaí-
e Athos Carneiro. ba Indústria e Comércio de Madeiras
Ltda.", sob a alegação de que o veí-
Brasília, 17 de novembro de 1992 culo mencionado na inicial fora ob-
(data do julgamento). jeto de arrendamento mercantil.
Ministro .ATHOS CARNEIRO, Pre- O MM. Juiz de Direito, ao senten-
sidente. Ministro BARROS MONTEI- ciar, excluiu da lide a arrendadora
RO, Relator. "Credireal Leasing S/A - Arrenda-

246 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


mento Mercantil" e condenou nos ter- incluída na categoria de condições
mos do pedido a arrendatária-denun- da ação, será, assim, apreciada em
ciada, "Cajaíba Indústria e Comér- momento próprio.
cio de Madeiras". De rejeitar-se, também, a pre-
Apelaram a arrendatária-denun- liminar de sua exclusão da lide, eis
ciada e a autora. que, por época do acidente, era a
O 'llibunal de Alçada de Minas Ge- primeira apelante a arrendatária
rais rejeitou as preliminares, negou do veículo, que causou o desastro-
provimento à apelação da arrenda- so acidente, por força do contrato
tária e deu-o ao recurso da autora, de arrendamento mercantil (fls. 87
nos termos seguintes, de acordo com a 91, do I volume), no qual assu-
o voto condutor do Acórdão, da lavra miu ela a responsabilidade pelos
do ilustre Juiz José Marrara: danos causados a terceiros, pelo
que rejeitável a preliminar dê ex-
''No que tange ao recurso da pri- clusão da lide e carência da ação
meira apelante, caso é de se rejei- por falta de legitimidade passiva
tar a preliminar de nulidade da ad causam.
sentença por não haver apreciado
Quanto ao recurso da segunda
a perícia feita pelo Instituto Bri-
apelante, está ele a merecer pro-
na Vidal e por não haver analisa-
vimento, no que toca à Credireal
do corretamente a denunciação à
Leasing S/A - Arrendamento
lide.
Mercantil.
Quanto ao primeiro fundamen-
to, é ele inacolhível, eis que, optan- A despeito da polêmica, a nível
do a sentença pelo que revelou a de doutrina e jurisprudência, em
perícia oficial, implicitamente re- tomo da responsabilidade civil da
jeitava os fundamentos da perícia arrendadora do bem, objeto do ar-
feita pelo Instituto, o que ficou cla- rendamento mercantil, tenho que
ro quando afirma que a primeira plenamente sustentável a tese de
apelante se limitou a atacar a pe- tal possibilidade.
rícia oficial, mas não oferecendo A uma, porque me parece irre-
prova alguma que ilidisse as suas cusável a doutrina de Alvino Li-
conclusões, pois é certo que a pe- ma - Da Culpa ao Risco - pág.
rícia do Instituto, conquanto res- 101 - quando adverte de forma la-
peitável, não convenceu a douta pidar que:
Magistrada a ponto de neutralizar
a eficácia na perícia oficial. 'Os danos e a reparação não
No que toca ao segundo funda- devem ser aferidos pela medida
mento, por ser matéria ligada ao da culpabilidade, mas devem
mérito da causa, eis que evidente- emergir do fato causador da le-
mente preliminar de mérito, na lin- são de um bem jurídico, a fim
guagem de Redenti, visto estar de se manterem incólumes a in-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 247


teresses em jogo, cujo desequi- causados pela coisa arrendada,
líbrio é manifesto se ficarmos posto que, segundo jurisprudên-
dentro dos estreitos limites de cia consagrada na Súmula 492
uma responsabilidade subj eti- do STF, a empresa locadora de
va'. veículos responde civil e solida-
riamente por danos causados
A duas, porque inteiramente pelo automóvel a terceiros'.
aplicável à espécie a lição de Ar-
naldo Rizzardo - O "Leasing" Mas evidentemente, não é só.
- Ed. RT, 1985 - pág. 78: Leitura atenta da cláusula 7 e
7.2, do contrato de arrendamento
'Há fatos que chamam a res- (fls. 87 a 91-TA, I volume) admitiu
ponsabilidade pela sua ocorrên- a Credireal Leasing a possibilida-
cia em si. Não importa a ine- de de vir a ser acionada por danos
xistência de culpa no ato do causados pelo veículo, objeto do
empréstimo ou da locação. In- contrato, tanto assim que, naque-
teressa a ação do condutor do las disposições contratuais, se re-
veículo, reveladora de culpa no servou o direito de denunciar à li-
evento, para acionar a respon- de a primeira apelante.
sabilidade daquele que mantém Desta forma, não andou bem a
o domínio'. sentença hostilizada, quando ex-
'A inserção de cláusula im- cluiu da lide a Credireal Leasing,
putando a obrigação do arren- como arrendante do veículo, que
datário pelos danos causados a causou os danos pessoais e mate-
terceiros pelo uso do bem, art. riais à segunda apelante, com o
9~, i, lU, das Res. 980, circuns-
que se dá provimento ao recurso
desta, para, reformando a senten-
creve-se ao relacionamento dos
ça hostilizada, julgar procedente
contratantes, não atingindo ter-
a ação da segunda apelante con-
ceiros, que não podem sofrer os tra a Credireal Leasing e a pri-
efeitos das limitações estabele- meira apelante, solidariamente,
cidas, e nem ver ameaçado o julgando procedente a ação da
direito de reparação pelo dano Credireal Leasing, por força da
suportado injustamente'. denunciação à lide, contra à pri-
meira apelante, para que esta lhe
A três, porque é lição de Amol- reembolse o que ele - Credireal
do Wald - Obrigaçõeo e Contra- Leasing - vier a pagar à segun-
tos - pág. 396: da apelante, que é o principal de
Cz$ 1.312.505,26, acrescida de ju-
'São indisfarçáveis as seme- ros legais a partir da citação e da
lhanças entre o leasing e a loca- correção monetária a partir das
ção. Sendo assim, o arrendante datas em que foram efetuados os
há de responder pelos danos pagamentos das despesas indica-

248 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


das com inicial, para que ocorra, A segunda apelada tem legiti-
assim, a restitutio in integrum, midade passiva para responder
condenadas mais a denunciante e pelos efeitos da ação, e, em caso
a denunciada à lide às custas e contrário, a segunda apelante se-
verba honorária de 20% sobre o ria carecedora da ação e a denun-
valor corrigido da causa. ciação da lide ficar~a prejudicada.
Custas do recurso pela primei- A legitimidade nasce do próprio
ra apelante :3 pela Credireal Lea- contrato e, agora, da lei, que esta-
sing." (fls. 424/427). belece a obrigação de se reparar
danos de acidente de automóvel
o voto do 2~ Juiz, Dr. Tibagy SaI- ao proprietário, isto é, aquele em
les, não discrepou, in verbis: nome de quem estiver o veículo
matriculado no Detran.
"A falta de alusão expressa ao Dá-se provimento à segunda
laudo pericial inoficial existente apelação para se estender à ape-
nos autos não conduz a nulidade lada Credireal Leasing os efeitos
de sentença e ela, ao julgar proce- da condenação, eis que ela tem le-
dente o pedido, desacolheu a con- gitimidade passiva para figurar
clusão do laudo, sem a necessida- como ré na ação, com o que fica
de de a ele se referir. condenada a pagar o valor da con-
A preliminar de que a lide se- denação da sentença, solidaria-
cundária não foi julgada não é mente.
correta; ela foi julgada, sim, mas A denunciação da lide é proce-
com técnica própria do decisum dente e assim deverá a denuncia-
do primeiro grau. da, Cajru.ôa Ind. e Com. de Madei-
A sentença excluiu a r. da lide ras Ltda., pagar à denunciante,
e julgou o pedido procedente con- Credireal Leasing, tudo aquilo
tra a denunciada da lide, daí por- que ela tiver pago em relação do
que a denunciada foi julgada, co- processo.
mo já se anotou. Custas pela primeira apelante
Rejeitam-se as preliminares. e pela Credireal Leasing". (fls.
Quanto ao mérito, a r. senten- 427/429).
ça bem examinou a prova e a sua
conclusão é correta. Inconformada, a arrendante "Cre-
direal Leasing S/A - Arrendamen-
É verdade que o laudo da polí- to Mercantil" manifestou recurso es-
cia de trânsito é correto e nenhu- pecial com arrimo nas alíneas a e c
ma prova se produziu quanto à do permissor constitucional, alegan-
sua ineficácia e invalidade. do negativa de vigência do art. 1~,
A segunda apelação merece parágrafo único, da Lei n~ 6.099, de
provimento. 12.09.74, bem como dissenso inter-

R. Sup. Trib. J ust., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 249


pretativo com arestos do Supremo Excelso: "É inadmissível o recurso
Tribunal Federal, do Primeiro 'fribu- extraordinário, quando a decisão re-
nal de Alçada do Rio de Janeiro, do corrida assenta em mais de um fun-
Tribunal de Alçada de Minas Gerais damento suficiente e o recurso não
e do Primeiro Tribunal de Alçada Ci- abrange todos eles." É que o Juiz
vil de São Paulo. Sustentou a recor- Relator admitiu a possibilidade de
rente, em suma, que não se aplicam vir a arrendante a ser acionada por
ao leasing os princípios que regem o força das cláusulas 7 e 7.2 do con-
contrato de locação. trato de arrendamento mercantil. O
2~ Juiz, de sua vez, asseverou que a
Admitido o apelo extremo, subi-
ram os autos a esta Eg. Corte. legitimidade da ora recorrente nas-
ce do próprio contrato.
É o relatório.
Ora, tal fundamento, por si só su-
ficiente, não foi objeto de qualquer
VOTO impugnação nesta via recursal, sub-
sistindo, pois, às inteiras.
O SR. MINISTRO BARROS MON-
Não bastasse, deixou a recorren-
TEIRO (Relator): O ponto nodal da
te de evidenciar em que consistiu a
controvérsia diz com a legitimidade
negativa de vigência da lei federal,
da arrendadora para figurar no pó-
nem tampouco cuidou de proceder à
lo passivo da ação indenizatória mo-
demonstração analítica do dissídio
vida em razão de ato culposo de pre-
pretoriano (art. 255, parágrafo úni-
posto da arrendatária.
co, hoje parágrafo 2~ do RISTJ).
O Acórdão recorrido concluiu pe-
Ante o exposto, não conheço do
la legitimidade passiva ad causam
recurso.
da arrendadora, responsabilizando-a
em face do evento danoso. Enquan- É como voto.
to o Juiz relator dera ênfase à simi-
litude entre o leasing e a locação, o EXTRATO DA MINUTA
2~ Juiz destacou a titularidade do
veículo, ou seja, o nome de quem es- REsp n~ 16.076-0 - MG
tá registrado o auto no Detran. (91.0021947-9) - Relator: O Sr. Mi-
Ocorre que o decisum hostiliza- nistro Barros Monteiro. Recte.: Cre-
do não se assenta tão-somente nes- direal Leasing S/A - Arrendamen-
tes fundamentos. Ambos os votos re- to Mercantil. Adv.: José Ornelas de
feridos e, conseqüentemente, o ter- Melo. Recda.: Empresa Unida Man-
ceiro, que com eles concordou, repor- sur e Filhos Ltda. Advogados: Eze-
tam-se a uma outra motivação, esta quiel de Melo Campos Filho e outro.
não impugnada no presente recurso Recda.: Cajaíba Indústria e Comér-
especial, dando ensejo, assim, à apli- cio de Madeiras Ltda. Adv.: Roberto
cação da Súmula n~ 283 do Pretório Marinho Pires.

250 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


Decisão: A 'furma, por unanimida- Ausentes, por motivo justificado,
de, não conheceu do recurso (em os Srs. Ministros Fontes de Alencar
17.11.92 - 4~ '!brma). e Sálvio de Figueiredo.
Votaram com o Relator os Srs. Mi- Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
nistros Bueno de Souza e Athos Car- tro ATHOS CARNEIRO.
neiro.

RECURSO ESPECIAL N~ 16.106-0 - PR


(Registro n~ 91.0021992-2)

Relator: O Sr. Ministro Fontes de Alencar


Recorrente: Banco Sogeral S/A
Recorrido: Jurandir Tincani Osório
Advogados: Drs. Antônio Carlos Muniz e outros, e Francisco Machado
de Jesus e outro

EMENTA: Decisão com duplo fundamento.


É rejeitável o recurso não abrangente de todos os fundamentos
da decisão atacada, quando suficiente cada um.
Súmula n 2 283 do Supremo Tribunal Federal.
Recurso especial não conhecido.
Unânime.

ACÓRDÃO Brasília, 26 de maio de 1992 (da-


ta do julgamento).
Vistos e relatados estes autos em
que são partes as acima indicadas: Ministro ATHOS CARNEIRO,
Presidente. Ministro FONTES DE
Decide a Quarta '!brma do Supe-
ALENCAR, Relator.
rior Tribunal de Justiça, por unani-
midade, não conhecer do recurso, na
forma do relatório e notas taquigrá- RELATÓRIO
ficas constantes dos autos, que ficam
fazendo parte integrante do presen- O SR. MINISTRO FONTES DE
te julgado. Os Srs. Ministros Sálvio ALENCAR: Trata-se de recurso es-
de Figueiredo, Barros Monteiro, pecial interposto exclusivamente pe-
Bueno de Souza e Athos Carneiro lo dissídio jurisprudencial, com fun-
votaram com o Relator. damento no art. 105, lII, c, da C.F.,

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 251


contra decisão proferida pela Primei- corrido para negar provimento à
ra Câmara Cível do Tribunal de Al- apelação: a) que são indevidas as
çada do Estado do Paraná, que ex- verbas contratuais com relação aos
cluíra da execução as verbas contra- avalistas, por quanto a execução tem
tuais com relação aos avalistas dos como escopo apenas as notas-promis-
títulos ao pacto vinculados e que sórias e não os contratos; b) mesmo
tem a seguinte ementa: que a execução se estribasse também
nos contratos, ditas verbas eram in-
"Embargos à execução. Avalistas. devidas, pois os avalistas ao assina-
Exclusão dos acessórios pactuados rem os contratos "por 0las ali não se
nos contratos de empréstimo. responsabilizaram de modo claro".
Baseando-se a execução exclusiva- Neste particular, transcrevo as se-
mente em notas promissórias, dos guintes considerações da decisão im-
avalistas não podem ser cobrados pugnada:
acessórios, previstos tão-somente
nos contratos de empréstimos em ".. .) entretanto, a nosso ver, de-
garantia dos quais foram emitidas sassiste razão ao apelante.
as cambiais. No caso, ainda que a
Em primeiro lugar, nota-se que,
execução se estribasse também
nos contratos, ditas verbas, mes- na hipótese, a execução apóia-se
mo assim, não poderiam ser exi- exclusivamente nas promissórias,
gidas dos avalistas, que, conquan- e não também nos contratos de
to assinando os instrumentos con- empréstimo (que poderiam ser
tratuais, por elas ali não se res- considerados títulos executivos,
ponsabilizam de modo claro." (fi. consoante o art. 585, inciso II, do
63) Código de Processo Civil); tal se
depreende, não só da menção na
o recorrente traz como discrepan- petição inicial da execução, apenas
tes alguns julgados do Tribunal de ao inciso I do artigo 585, como
Alçada Civil do Estado de São Pau- também da explícita alusão aos
lo (fls. 69 a 94). avalistas como os executados. Con-
seqüentemente, em face do princí-
Pelo despacho de fls. 112 a 118 foi pio das literalidades dos títulos de
o recurso admitido, subindo os autos crédito, dos avalistas, afora juros
a esta Corte. de mora e correção monetária (es-
ta, na forma da Lei n~ 6.899/81),
VOTO não podem ser cobradas verbas
outras, que não as expressamente
O SR. MINISTRO FONTES DE neles indicadas.
ALENCAR (Relator): O recurso res- Por outro lado, posto eventual-
tringe-se ao dissídio jurisprudencial. mente se entenda que a execução
Consoante vimos do relatório, dois se estriba também nos contratos
foram os fundamentos do aresto re- de empréstimos - e é claro que

252 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


não se pretende negar a possibi- ü recurso não logra viabilidade.
lidade de uma execução fundar-se Como observado, o v. acórdão baseou-
em mais de um título, oriundos, se em dois fundamentos suficientes
todos, do mesmo negócio jurídico e o recorrente não atacou todos eles,
- ainda assim, não nos parece restringindo-se a apenas um. Incide,
que se possa exigir dos executados pois, a Súmula 283 do Supremo Tri-
os acessórios pactuados naqueles bunal Federal, em cujo verbete se lê:
contratos.
A variedade dos contratos ban- "É inadmissível o recurso ex-
cários de empréstimo é grande, traordinário, quando a decisão re-
havendo necessidade da leitura corrida assenta em mais de um
atenta de cada qual, para se che- fundamento suficiente e o recur-
gar a uma solução justa com vis- so não abrange todos eles."
tas ao caso concreto; no de que
ora se trata, os quatro têm reda- Ademais, ainda que se pudesse,
ção semelhante, neles não se ten- ad argumentandum tantum, su-
do obrigado os avalistas como de-
perar esse óbice, considero a tese do
vedores solidários, como acontece
aresto reéorrido como a mais corre-
em outros contratos congêneres.
Ao revés, embora tendo assinado ta, e assim decidiu esta Thrma no
ditos contratos, afigura-se-nos que REsp 4.700, por mim relatado.
o fizeram tão-somente em decor- Ex positis, não conheço do pre-
rência de sua condição de avalis- sente recurso.
tas das notas promissórias (. .. )"
(fls. 65 e 66)
EXTRATO DA MINUTA
o recorrente traz à colação vários
julgados do Tribunal de Alçada de
REsp n 2 16.106-0 - PR
São Paulo que sustentam a tese de
que o fato de os avalistas da cárlula (91.0021992-2) - Relator: O Sr. Mi-
terem assinado o contrato de mútuo, nistro Fontes de Alencar. Recte.:
é por si só suficiente para fazer deles Banco Sogeral S/A. Advs.: Antônio
devedores co-responsáveis pelo cum- Carlos Muniz e outros. Recdo.: Ju-
primento das verbas contratuais. randir Tincani Osório. Advs.: Fran-
cisco Machado de Jesus e outro.
Verifico que o concorrente, em suas
razões de fls. 70 a 94, ataca apenas Decisão: A 'furma, por unanimida-
um dos fundamentos do aresto re- de, não conheceu do recurso (em
corrido, ou seja, o que diz com a as- 26.05.92 - 4!! 'furma).
sinatura dos avalistas no contrato, Votaram com o Relator os Srs. Mi-
deixando, no entanto, de fazer a im- nistros Sálvio de Figueiredo, Barros
pugnação no tocante a ser a execu-
Monteiro, Bueno de Souza e Athos
ção respaldada, exclusivamente, nos
títulos cambiais (nota promissória) Carneiro.
e, por esta razão, serem indevidas as Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
verbas contratuais. tro ATHOS CARNEIRO.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 253


RECURSO ESPECIAL N!! 16.211-0 - MG

Relator: O Sr. Ministro Hélio Mosimann


Recorrente: Renovadora de Pneus Letícia Ltda.
Recorrida: União Federal
Advogados: AGi Heli Coutinho e outro

EMENTA: Recurso especial. Cabimento. Acórdão com fundamen-


tos constitucional e infraconstitucional. PIS. Base de cálculo. DDLL
nQ.§. 2.445 e 2.449/88.
- Hipótese em que, nos termos da Questão de Ordem apreciada na
Egrégia Primeira Seção, é inadmissível recurso especial quando o
acórdão recorrido assenta-se em fundamentos constitucional e in-
fraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para man-
tê-lo, e a parte vencida não manifesta apelo extremo ou este não
tem seguimento, como no caso.

ACÓRDÃO RELATÓRIO

. Vistos, relatados e discutidos es- O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI-


tes autos, acordam os Ministros da MANN: Trata-se de recurso especial
Segunda 'furma do Superior Tribu- interposto com fundamento no art.
nal de Justiça, na conformidade dos 105, lII, c, da Constituição Federal,
votos e das notas taquigráficas a se- contra acórdão da 2!! 'furma do Tri-
guir, por unanimidade, não conhecer bunal Regional Federal da 1!! Re-
do recurso. Participaram do julga- gião que, na linha de entendimento
mento os Srs. Ministros Peçanha firmado pelo Plenário na Argüição
Martins, Pádua Ribeiro e José de Je- de Inconstitucionalidade suscitada
sus. Ausente, justificadamente, o Sr. nos autos do REO n!! 89.01.10478-
Ministro América Luz. 4-MG, proclamou a legitimidade das
alterações determinadas pelos De-
Brasília, 23 de setembro de 1992 creto-leis nQ.§. 2.445 e 2.449/88, rela-
(data do julgamento). tivas ao Programa de Integração
Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA Social (PIS).
RIBEIRO, Presidente. Ministro HÉ- Sustenta, a recorrente, exclusiva-
LIO MOSIMANN, Relator. mente dissenso pretoriano.

254 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


Às fls. 155v., o ilustre Presidente tão de ordem suscitada no REsp n~
do Tribunal de origem, julgou deser- 17 .664-0-SP, publicada no DJ de
to o recurso extraordinário interpos- 28.02.92, in verbis:
to p':)la empresa, por falta de prepa-
ro. "É inadmissível recurso especial
Admitida a formação do recurso quando o acórdão recorrido assen-
especial às fls. 149/15l. ta-se em fundamento constitucio-
nal e fundamento infraconstitucio-
É o relatório. nal, qualquer deles suficiente, por
si só, para mantê-lo, e a parte ven-
VOTO cida não manifesta recurso extra-
ordinário."
O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI-
MANN (Relator): Sr. Presidente, na Isto posto, não conheço do recurso.
espécie, o acórdão recorrido, na for-
ma do decidido pelo Plenário do TRF
EXTRATO DA MINUTA
- 1~ Região, declarou a constitucio-
nalidade dos Decretos-leis n2§. 2.445
e 2.449/88, que introduziram altera- REsp n~ 16.211-0 - MG - Rela-
ções na base de cálculo do tributo e tor: O Sr. Ministro Hélio Mosimann.
no prazo de seu recolhimento. Recte.: Renovadora de Pneus Letícia
Ltda. Advogados: Aci Heli Coutinho
O especial, interposto exclusiva- e outro. Recda.: União Federal.
mente com base em divergência ju-
risprudencial, foi admitido na ori- Decisão: A '!brma, por unanimi-
gem. dade, não conheceu do recurso (em
23.09.92 - 2~ '!brma).
Entretanto, ao que se constata do
processado, o recurso extraordinário Participaram do julgamento os
interposto pela empresa recorrente, Srs. Ministros Peçanha Martins, Pá-
foi julgado deserto, por falta de pre- dua Ribeiro e José de Jesus.
paro (fls. 155v.). Ausente, justificadamente, o Sr.
Deste modo, tenho por aplicável à Ministro Américo Luz.
hipótese o decidido pela Egrégia Pri- Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
meira Seção deste Tribunal na ques- tro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO.

RECURSO ESPECIAL N~ 16.578-0 - SP


(Registro n~ 91.0023714-0)

Relator: O Sr. Ministro Peçanha Martins


Recorrente: União Federal

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 255


Recorrido: Akzo Ltda.
Advogados: Silvana Bussab Endres e outros

EMENTA: Recurso especial - Acórdão recorrido apoiado em fun-


damentos constitucional e infraconstitucional - Recurso extraordi-
nário não manifestado - Inadmissibilidade - Súmula n!! 283 STF.
- Estando o acórdão recorrido fundamentado em matéria cons-
titucional e infraconstitucional, sendo suficiente um deles para
mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário,
transita em julgado o fundamento constitucional, pelo que não se
admite o recurso especial.
- Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO Regional Federal da 3~ Região que


reconheceu à ora recorrida o direito
Vistos, relatados e discutidos es- de não pagar o LO.F. nas operações
tes autos, acordam os Ministros da cambiais, independentemente da da-
Segunda Turma do Superior Tribu- ta da emissão das guias, entenden-
nal de Justiça, na conformidade dos do ser o art. 6~ do Decreto-lei n~
votos e das notas taquigráficas a se- 2.434/88 inconstitucional, por violar
guir, por unanimidade, não conhecer o princípio da isonomia.
do recurso. Votaram com o Relator Aponta vulnerados os arts. 6~ do
os Ministros Américo Luz, Pádua Ri- Decreto-lei n~ 2.434/88 e 176, 98, VI
beiro, José de Jesus e Hélio Mosi- e 11, II do CTN e dissídio pretoria-
mann. no com julgados que transcreve.
Brasília, 11 de março de 1992 (da- Admitido o especial pela letra c
ta do julgamento). do permissivo constitucional.
Ministro AMÉRICO LUZ, Presiden- Simultaneamente, a parte inter-
te. Ministro PEÇANHA MARTINS, pôs recurso extraordinário para o
Relator. Supremo Tribunal Federal, argüin-
do a inconstitucionalidade do art. 6~
do Decreto-lei n~ 2.434/88, não admi-
RELATÓRIO tido no Tribunal a quo e não agra-
vado, conforme certidão de fls. cons-
O SR. MINISTRO PEÇANHA tantes dos autos.
MARTINS: A União Federal inter-
Dispensei manifestação da Sub-
põe recurso especial fundado no art.
procuradoria Geral da República.
105, lU, letras a e c da Constituição
Federal, contra acórdão do Tribunal É o relatório.

256 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


VOTO EXTRATO DA MINUTA

O SR. MINISTRO PEÇANHA REsp n~ 16.578-0 - SP


MARTINS (Relator): A União Fede- (91.0023714-0) - Relator: O Sr. Mi-
ral não manifestou agravo de instru- nistro Peçanha Martins. Recte.: União
mento contra o despacho denegató- Federal. Recdo.: Akzo Ltda. Advs.: Sil-
rio do recurso extraordinário para o vana Bussab Endres e outros.
Supremo Tribunal Federal, tendo, Decisão: A 'furma, por unanimida-
por isso mesmo, transitado em julga- de, não conheceu do recurso, nos ter-
do o aresto. mos do voto do Sr. Ministro Relator
À vista do exposto e com funda- (em 11.03.92 - 2~ Turma).
mento na Súmula n~ 283 do STF e Participaram do julgamento os Srs.
na questão de ordem julgada em Ministros América Luz, Pádua Ribei-
sessão extraordinária de 18.02.92 ro, José de Jesus e Hélio Mosimann.
pela Egrégia Seção deste Tribunal, Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
não conheço do recurso. tro AMÉRICO LUZ.

RECURSO ESPECIAL N~ 16.604-0 - SP


(Registro n~ 91.0023740-0)

Relator: O Sr. Ministro América Luz


Recorrente: União Federal
Recorrida: Scritta Eletrônica Ltda.
Advogados: Carlos Ely Eluf e outros

EM:ENTA: Recurso especial. Admissibilidade. Fundamento cons-


titucional e infraconstitucional. Não impugnação do fundamento
constitucional, acolhido pelo acórdão, através de recurso extraor-
dinário.
- Questão de Ordem acolhida pela Eg. l:!- Seção, aplicável à hipóte-
se dos autos, no sentido da inadmissibilidade do recurso especial
quando o acórdão recorrido assenta-se em fundamento constitucio-
nal e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para
mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário.
- Recurso não conhecido.

R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 257


ACÓRDÃO VOTO

Vistos, relatados e discutidos es- O SR. MINISTRO AMÉRICO


tes autos, acordam os Ministros da LUZ (Relator): Ambas as fumas in-
Segunda Thrma do Superior Tribu- tegrantes da Seção de Direito Públi-
nal de Justiça, na conformidade dos co desta Eg. Corte assentaram o en-
votos e das notas taquigráficas a se- tendimento, sem discrepância, de
guir, por unanimidade, não conhecer que é legítima a isenção do Imposto
do recurso. Votaram com o relator os sobre Operações realizadas para pa-
Ministros Pádua Ribeiro, Hélio Mo- gamento de bens importados, cujas
simann e Peçanha Martins. Ausen- guias foram emitidas após 1~ de ju-
te, justificadamente, o Ministro Jo- lho daquele ano, tudo em face da in-
sé de Jesus. terpretação restritiva que se empres-
Brasília, 08 de abril de 1992 (da- tou ao citado dispositivo legal à vis-
ta do julgamento). ta do art. 111, II, do CTN.
Ministro AMÉRICO LUZ, Presi- Todavia, acolhendo Questão de
dente e Relator. Ordem suscitada pelo eminente Mi-
nistro Antônio de Pádua Ribeiro, a
Eg. Primeira Seção, assentada de
RELATÓRIO 18.02.92, decidiu que "é inadmissí-
vel recurso especial quando o acór-
O SR. MINISTRO AMÉRICO dão recorrido assenta-se em funda-
LUZ: Trata-se de recurso especial mento constitucional e fundamento
versando tema por demais conheci- infra constitucional, qualquer deles
do no âmbito das Thrmas componen- suficiente, por si só, para mantê-lo,
tes da Primeira Seção deste Egrégio e a parte vencida não manifesta re-
Pretório, qual seja o relativo à isen- curso extraordinário".
ção do Imposto sobre Operações de É o que ocorre no presente proces-
Câmbio, instituída pelo art. 6~ do sado, porquanto deixou a União Fe-
Decreto-lei n~ 2.434/88, nas opera- deral inatacada a decisão indeferitó-
ções realizadas para pagamento de ria do processamento do recurso ex-
bens importados, cujas guias foram traordinário, dando azo a que o fun-
emitidas após 1~ de julho daquele damento constitucional acolhido pe-
ano, entendendo o acórdão recorrido lo acórdão recorrido transite em jul-
ilegítima a regra isencional fixada gado, tornando em conseqüência,
pelo aludido diploma legal. ineficaz o especial que, mesmo pro-
N o especial alega-se violação a di- vido, não pode reformar a decisão do
versos dispositivos legais e dissídio Tribunal a quo.
jurisprudencial.
Do exposto, não conheço do recur-
É o relatório. so.

258 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


EXTRATO DA MINUTA mos do voto do Sr. Ministro Relator
(em 08.04.92 - 2~ '!brma).
REsp n 2 16.604-0 - SP Participaram do julgamento os
(91.0023740-0) - Relator: O Sr. Mi- Srs. Ministros Pádua Ribeiro, Hélio
nistro América Luz. Recte.: União Fe- Mosimann e Peçanha Martins.
deral. Recda.: Scritta Eletrônica Ausente, justificadamente, o Sr.
Ltda. Advs.: Carlos Ely Eluf e outros. Ministro José de Jesus.
Decisão: A Thrma, por unanimida- Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
de, não conheceu do recurso, nos ter- tro AMÉRICO LUZ.

RECURSO ESPECIAL N2 21.064-5 - SP


(Registro n 2 92.0008667-5)

Relator: O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro


Recorrente: Fazenda Nacional
Advogados: Drs. Luiz Alberto Americano e outro
Recorrida: Vallee Nordeste S/A
Advogados: Drs. Sansão Sapoznik e outro

EMENTA: Recurso especial. Acórdão recorrido embasado em fun-


damentos constitucional e infra constitucional. Fundamento cons-
titucional impugnado através de recurso extraordinário cujo segui-
mento foi denegado por decisão com trânsito em julgado. Não co-
nhecimento.
É inadmissível recurso especial quando o acórdão recorrido as-
senta-se em fundamento constitucional e fundamento infraconsti-
tucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a par-
te vencida não manifesta recurso extraordinário ou o processamen-
to deste é denegado por decisão irrecorrida.

ACÓRDÃO Decide a Segunda '!brma do Su-


perior Tribunal de Justiça, na con-
Vistos, relatados e discutidos es- formidade dos votos e das notas ta-
tes autos, em que são partes as aci- quigráficas anexas, por unanimida-
ma indicadas: de, não conhecer do recurso, nos ter-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 259


mos do voto do Sr. Ministro Relator. fica a jurisprudência desta Corte no
Votaram com o Ministro Relator, os sentido de atribuir interpretação res-
Ministros José de Jesus, Hélio Mo- tritiva ao art. 6~ do Decreto-lei n~
simann, Peçanha Martins e Améri- 2.434, de 1988, à vista do art. 111,
co Luz. II, do C.T.N.
Brasília, 27 de maio de 1992 (da- Nõs vários votos que tenho profe-
ta do julgamento). rido sobre a matéria venho seguin-
Ministro AMÉRICO LUZ, Presi- do a referida orientação; deixo, po-
dente. Ministro ANTÔNIO DE PÁ- rém, explícito não caber a esta Cor-
DUA RIBEIRO, Relator. te apreciar a matéria à vista do
princípio constitucional da isonomia,
pois se adstringem os limites do re-
RELATÓRIO curso especial à matéria infracons-
titucional.
O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE Por isso mesmo, em feitos como o
PÁDUA RIBEIRO: Decidiu o v. acór- presente, é indispensável que a
dão, do Egrégio Tribunal Regional União Federal interponha recurso
Federal da 3~ Região, que o art. 6~ extraordinário, objetivando afastar
do Decreto-lei n~ 2.434/88 deve ser o fundamento constitucional adota-
entendido no sentido de que a isen- do pelo acórdão recorrido, suficien-
ção nele prevista abrange todas as te, por si só, para mantê-lo. Se as-
operações de câmbio referentes à im- sim não proceder, o recurso especial
portação de bens, abstraída a data perde a sua eficácia, pois não pode,
de emissão das guias de importação. mesmo se for provido, reformar o
Inconformada, alega a União Fe- aresto recorrido. Daí ser inadmissí-
deral, em recurso especial pelas le- vel.
tras a e c do permissivo constitucio- Nesse contexto, a Egrégia F Se-
nal, ofensa aos arts. 97, VI, 111, II, ção, na sessão ae 18.02.92, acolhen-
176 do CTN e, ainda, dissídio quan- do questão de ordem por mim susci-
to à interpretação do art. 6~ do De- tada, decidiu que:
creto-lei 2.434/88.
Contra-arrazoado (fls. 107-108) o "É inadmissível recurso espe-
recurso, cujo processamento foi admi- cial quando o acórdão recorrido
tido (fls. 113), subiu a esta Corte, on- assenta-se em fund'ª-mento cons-
de os autos vieram-me distribuídos. titucional e fundamento infracons-
titucional, qualquer deles suficien-
É o relatório.
te, por si só, para mantê-I?, e a
parte vencida não manifesta re-
VOTO curso extraordinário".

O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE Na-espécie, o recurso extraordiná-


PÁDUA RIBEIRO (Relator): É pací- rio, interposto pela União Federal,

260 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


foi admitido por despacho do ilustre fundamento constitucional, cingindo-
Presidente do tribunal a quo (fls. se a interpor recurso especial, para
114), que permaneceu irrecorrido infirmar o fundamento ínfraconstí-
(fls. 116). tucional. Em tal contexto, algo ina-
Isto posto, reportando-me aos fun- ceitável tem verificado: provido o re-
damentos adotados por aquela deci- curso especial, fica afastado o funda-
são (cópia anexa), não conheço do re- mento infraconstitucional do acórdão
curso especial. recorrido; todavia, à falta do apelo
extraordinário, transita em julgado
o fundamento constitucional daque-
QUESTÃO DE ORDEM le aresto, suficiente, por si só, para
mantê-lo.
O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE
PÁDUARIBEIRO: As duas 'furmas, Em tais circunstâncias, penso que
cujos componentes integram esta devem ser aplicados os princípios
Egrégia Primeira Seção, em suces- consubstanciados na Súmula n 2 283
sivos julgados, vem conhecendo, pe- do Supremo Tribunal Federal, nestes
la letra d, e dando provimento a termos:
numerosos recursos especiais, em
que se discute a amplitude de isen- "É inadmissível o recurso ex-
ção prevista no art. 62 do Decreto-lei traordinário, quando a decisão re-
n 2 2.434, de 1988. Desde que passei corrida assenta em mais de um
a integrar a Segunda 'furma, após fundamento suficiente e o recur-
ter cumprido o mandato de Correge- so não abrange todos eles".
dor-Geral, venho seguindo a aludi-
da orientação, que se tornara pací- Por isso, proponho que se adote
fica. regra de julgamento semelhante,
Thdavia, com o constante exame adaptada à Constituição em vigor,
da matéria, passei a notar que di- que deu a este Tribunal a competên-
versos arestos padecem de erro téc- cia para julgar os antigos recursos
nico, salvo melhor Juízo de Vossas extraordinários, fundados em maté-
Excelências. ria infraconstitucional, a que deno-
Com efeito, em regra, muitos minou de "especiais", e atribuiu ao
acórdãos recorridos fundam-se em Supremo a competência para conti-
duplo fundamento: um de índole nuar julgando os antigos recursos
constitucional (ofensa ao princípio da extraordinários, mas adstringindo-
isonomia) e outro de natureza infra- os à matéria constitucional, que po-
constitucional (as leis de isenção de- de ser assim sintetizada:
vem ser interpretadas restritamen-
te - C.T.N., art. 111, II). Ocorre "É inadmissível recurso especial
que, na grande parte dos recursos, a quando o acórdão recorrido assen-
União Federal não tem manifestado ta-se em fundamento constitucio-
recurso extraordinário para atacar o nal e infraconstitucional, qual-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 261


quer deles suficiente, por si só, no recurso sobrestado" (Lei n~
para mantê-lo, e a parte vencida 8.038, de 28.05.90, art. 27, § 5~).
não manifesta recurso extraordi-
nário". É o que submeto à apreciação
desta Egrégia Primeira Seção.
À vista dos citados princípios, pro-
ponho, ainda, que se observem as se- EXTRATO DA MINUTA
guintes regras de julgamento:
REsp n~ 21.064-5 - SP
(92.0008667-5) - Relator: O Sr. Mi-
"O Relator, por despacho, nega- nistro Pádua Ribeiro. Recte.: Fazen-
rá seguimento a recurso especial da Nacional. Advogados: Luiz Alber-
fundado em matéria exclusivamen- to Americano e outro. Recdo.: Vallee
te constitucional; se não o fizer, o Nordeste S/A. Advs.: Sansão Sapoz-
órgão julgador dele não conhecerá" nik e outro.
(Lei n~ 8.038, de 28.5.90, art. 38). Decisão: A 'furma, por unanimida-
"O Relator, por despacho, sobres- de, não conheceu do recurso (em
tará o julgamento do recurso espe- 27.05.92 - 2~ 'furma).
cial e determinará a remessa dos Participaram do julgamento os
autos ao Supremo Tribunal Fede- Srs. Ministros José de Jesus, Hélio
ral para julgar o recurso extraor- Mosimann, Peçanha Martins e Amé-
dinário, se considerar que a deci- rico Luz.
são a ser proferida neste recurso é Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
prejudicial daquela a ser prolatada tro AMÉRICO LUZ.

RECURSO ESPECIAL N~ 23.026-7 - SP

Relator: O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo


Recorrente: Golda Snitcovsky
Advogados: Drs. José Leite Saraiva Filho e outros
Recorrido: Banco Safra S/A
Advogados: Drs. Luiz Antônio Martins Ferreira e outros
Interessado: Arthur Snitcovsky

EMENTA: Embargos à arrematação. Advogado. Procuração. Nu-


lidade inocorrente. Ausência de prejuízo. Súmula 283/STF. Recur-
so desacolhido.

262 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


I - Não logra prosperar recurso especial que deixa de atacar
fundamento, constante do acórdão impugnado, bastante ao reco-
nhecimento da improcedência da pretensão deduzida.
11 - A procuração para o foro em geral não confere ao advoga-
do poder para, em nome do constituinte, oferecer lanços e arrema-
tar bens em hasta pública.

ACÓRDÃO arresto do bem, posto que promovi-


do por pessoa jurídica que não é par-
Vistos, relatados e discutidos es- te no feito, distinta do exeqüente.
tes autos, acordam os Ministros da Por fim, sustenta que o edital de que
Quarta 'lbrma do Superior Tribunal tratava o art. 686, CPC, não aten-
de Justiça, na conformidade dos vo- deu as exigências previstas nos inci-
tos e das notas taquigráficas a se- sos I e V de mencionado dispositivo
guir, por unanimidade, não conhecer legal.
do recurso. Votaram com o Relator O MM. Juiz, refutando todos os
os Ministros Barros Monteiro, Bue- argumentos deduzidos pela embar-
no de Souza, Athos Carneiro e Fon- gante, julgou improcedente os em-
tes de Alencar. bargos, assim fundamentando:
Brasília, 27 de outubro de 1992
(data do julgamento). "Quanto à matéria deduzida
pela Embargante, e referente à
Ministro ATHOS CARNEIRO,
nulidade do arresto, convertido
Presidente. Ministro SÁLVIO DE FI- em penhora, não pode mais ela
GUEIREDO TEIXEIRA, Relator. ser apreciada, pois, de acordo com
o que estatui o art. 746 do CPC,
RELATÓRIO somente é lícito ao devedor ofere-
cer embargos à arrematação, des-
O SR. MINISTRO SÁLVIO DE de que fundados em nulidade da
FIGUEIREDO: Cuida-se de embar- execução que seja superveniente
gos à arrematação ajuizados por exe- à penhora.
cutada, que erige como fundamento Assim, as irregularidades que
central de sua irresignação o fato de porventura tivessem ocorrido até
o imóvel penhorado levado à praça a efetivação da penhora, podiam
ter sido arrematado pelo exeqüente, ser argüidas pelos executados
por intermédio de seu advogado, através de Embargos à Execução;
sem que constasse, contudo, da pro-
curação a este outorgada, poder pa- ................ omissis ............... .
ra, representando seu constituinte, Por outro lado, o fato de ter
participar de hastas públicas. Alega, constado o nome do Banco Safra
ainda, nulidade do processo desde o de Investimentos S/A no auto de

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 263


arresto, em vez do nome da exe- do pela ora Embargante, visto que
qüente Banco Safra S/A, em nada podia o credor, através de seu
beneficia a Emb&rgante, por cons- procurador, arrematar o bem que
tituir mero erro material escusá- fora levado à praça, já que lhe ou-
vel, praticado pelo meirinho que torgara mandato para o foro em
lavrou aquele ato (fls. 41), e que a geral, o que habilitava seu advo-
qualquer tempo pode ser corrigi- gado a dar lance em arrematação.
do. Em caso semelhante decidiu a 6!!
Câmara, na Ap. 317.975, Mogi
J á no que tange às alegadas
das Cruzes, j. 6.12.83, sendo Re-
nulidades do edital do praceamen-
lator o juiz Minhoto Júnior, que
to e da própria arrematação, se-
"o mandato para o foro em geral
riam elas pertinentes aos Embar-
habilitava o procurador a dar lan-
gos à Arrematação, por superve-
ce em arrematação", transcreven-
nientes à penhora, mas, na espé-
do a "Revista dos 'fribunais" 590,
cie, não autorizam a procedência
pág. 152, a seguinte ementa:
dos Embargos oferecidos pela ora
Embargante. Arrematação. Hasta Pública.
É que o edital de pr'aceamento Credor representado por advo-
do bem imóvel penhorado foi pu- gado com procuração para o fo-
blicado, observando-se as forma- ro em geral. Validade. Ato judi-
lidades legais previstas no art. cial".
686 do CPC e adotando-se a pra-
xe de se reduzir o seu texto ape- Interposta apelação, a ego Quarta
nas ao indispensável. Câmara do Primeiro 'fribunal de Al-
O edital, na forma como foi re- çada Civil de São Paulo, adotando os
digido, atendeu sua finalidade de fundamentos da sentença e realçan-
divulgar os dados essenciais do do a inexistência, in casu, de prejuí-
zo para a embargante, negou-lhe
bem que ia à praça, de modo a
provimento.
despertar interesse de terceiros
na aquisição que o praceamento Inconformada, a sucumbente ma-
ensejava. Estes, sim, poderiam nifestou recurso especial, alegando
pedir a nulidade da arrematação, negativa de vigência aos arts. 38,
caso se julgassem prejudicados 653, 665, I, 686, I e V, 821, CPC, 81,
com uma eventual omissão de da- 82, 129, 130, 145, IH e IV, e 147,
dos relevantes no edital, mas não CC. Reitera, em síntese, os mesmos
a executada, ora embargante, que argumentos esposados desde a ini-
sequer apontou que prejuízos te- cial.
ria sofrido com eventuais falhas Inadmitido o apelo na origem, su-
no referido edital. biram os autos por força de agravo
Por fim, a arrematação propria- que, a final, provi para melhor exame.
mente dita não tem o vício aponta- É o relatório.

264 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


VOTO deveria ter sido argüida antes
da efetivação da penhora, atra-
O SR. MINISTRO SÁLVIO DE vés de embargos de execução".
FIGUEIREDO (Relator): 1. Quanto
à insurgência da recorrente relativa Acrescento, ainda, que o recurso
à nulidade do processo a partir do especial, no que respeita a essa
arresto, em razão de figurar do res- questão da nulidade do arresto, so-
pectivo auto pessoa jurídica distin- mente combateu o entendimento do
ta da do exeqüente, reitero o mesmo acórdão recorrido segundo o qual a
entendimento que adotei quando da indicação errônea do exeqüente no
apreciação do agravo de instrumen- respectivo auto constituiu circuns-
to, no sentido de que: tância sem relevo, "inócua e anódi-
na". Restou, porém, inatacado o fun-
" ... a indicação, no auto de ar- damento de que, porque irregulari-
resto, do nome de empresa perten- dade anterior à penhora, não pode-
cente ao grupo do banco exeqüen- ria ser objeto de embargos de segun-
te constitui mero erro material, da fase. Aplicável, destarte, o enun-
perpetrado pelo meirinho ao ano- ciado n~ 283 da súmulalSTF.
tar Banco Safra de Investimentos
2. No que concerne ao edital de
em lugar de Banco Safra S/A.
praça, que se alega não conter a
Compreensível o equívoco, não
completa descrição do bem, remeten-
contamina ele a substância do ato,
do os interessados à consulta do lau-
afastando-se, em conseqüência, a
do de avaliação, da mesma forma
pretendida ofensa aos artigos 81 e
não vislumbro contrariedade aos dis-
82 do Código Civil, 145, 147,653 e
positivos legais apontados como vul-
665, I e II, CPC.
nerados pela recorrente.
Ademais, pertinente se afigura,
Conforme exposto, as instâncias
no ponto, a observação lançada na
ordinárias consideraram que "o edi-
r. decisão recorrida, verbis:
tal, da forma como redigido, atendeu
"Outrossim, a alegação de sua finalidade de divulgar os dados
nulidade do arresto convertido essenciais do bem que ia à praça, de
em penhora é inoportuna nes- modo a despertar interesse de tercei-
sa fase processual, já que em ros na aquisição que o praceamento
consonância com o estatuído no ensejava".
artigo 746 do Código de Proces- Assim, também quanto ao parti-
so Civil, somente é lícito ao de- cular, mantenho-me fiel à orientação
vedor oferecer embargos à arre- que sufraguei ao decidir o agravo:
matação, desde que fundados
em nulidade da execução que "Ao afirmarem as instâncias
seja superveniente à penhora. ordinárias que os requisitos ne-
Assim, a nulidade ora invocada cessários à divulgação da praça

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 265


foram observados, tendo o ato Tribunais, trazido à colação no dou-
atingido sua finalidade, mesmo to memorial da recorrente.
que publicado no essencial, giza- A arrematação, como anotado no
ram a controvérsia no campo da agravo regimental e no referido me-
matéria fática, cuja invasão em morial, "muito mais do que um ato
nível de recurso especial é inad- processual... é um negócio jurídico
missível a teor do verbete n 2 7 da celebrado entre o arrematante e o
jurisprudência sumulada desta Estado, vendedor do bem".
Corte.
Para chegar a essa assertiva, que
A propósito do tema, já tive dá sustentação à tese por ela advo-
oportunidade de anotar, em sede gada, no sentido de que o poder pa-
doutrinária, que ra arrematar em hasta pública não
se insere entre os inerentes à procu-
"Cumpre aos juízes diligen- ração geral para o foro, a recorren-
ciarem no sentido de que os te ainda coligiu lições doutrinárias
editais contenham apenas o es- de Pontes de Miranda e De Pláci-
sencial, em obséquio ao princí- do e Silva.
pio da economia" (Código de
Este último, in, "Tratado de Man-
Processo Civil Anotado, 3~ edi-
dato e Prática das Procurações", sus-
ção, Forense, 1986, pág. 310)".
tenta:
3. Superados esses dois primeiros
''Arrematar, adjudicar ou remir
inconformismos deduzidos na impug-
bens - É bem de ver que os atos
nação recursal, resta analisar o ter-
de arrematação, adjudicação e re-
ceiro, atinente à não inclusão, entre
mição de bens não podem inferir-se
os poderes ad judicia, do que con-
autorizados pela imposição de
fere ao advogado permissão para,
mandato, mesmo geral e amplo,
em nome do constituinte, oferecer
desde que não foram expressamen-
lanços e arrematar bens em hasta te especificados.
pública.
Assim, como assevera 'JIoplong,
Após detida reflexão sobre o tema, mesmo que se trate de procuração
convenci-me de que o fundamento geral nos seus termos, isto é, de
adotado por sentença e acórdão, no procuração condutora de poderes
que diz respeito ao tema, não guar- gerais, desde que não confira po-
da harmonia com o sistema. deres especiais, além dos poderes
Os poderes ad judicia, em reali- para a administração, não pode o
dade, não conferem ao outorgado a mandatário geral praticar atos de
possibilidade de arrematar imóvel disposição, que não sejam neces-
em hasta pública, como, a propósito, sários, entre os quais se incluem
assinalou Amílcar de Castro em não somente as vendas como tam-
seus "Comentários" pela Revista dos bém as próprias compras.

266 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


Arrematar, adjudicar ou remir é negócio jurídico bilateral de di-
implicam necessariamente em reito processual, negócio jurídico
meios de adquirir ou readquirir, que contém a alienação, com a
pelo que resultam em comprar. aceitação da oferta. Negócio jurí-
Além disso, a arrematação é dico bilateral entre o Estado e ar-
ato pelo qual o arrematante não rematante" ("Comentários ao Có-
somente assume a obrigação de digo de Processo Civil" '!bmo X
pagar o preço da coisa arremata- Forense, I:! ed., 1976, a;t. 685, n~
da, como se sujeita às penalidades 4, p. 356).
legais pelo não cumprimento da
obrigação assumida, conforme se Não vejo como dissentir de tal or-
inscreve no art. 695, §§ 12 e 3 2 da dem de considerações.
lei processual. Com efeito, da análise teleológica
É ato, pois, que se revela de do art. 38 do diploma instrumental
responsabilidade mais grave que a ressai o intuito do legislador de re-
da própria compra comum, pelo querer, para os atos que, embora
processuais, encerrem dose de von-
que não pode ser tido como ato or-
tade e disposição da própria parte, a
dinário ou um negócio correntio,
outorga de poderes específicos. O ad-
que se integre nos atos normais de
vogado é constituído para a defesa
uma administração deferida nem
de seu cliente. Nesse mister pode e
num mandato judicial geral. Deve,
deve envidar todos os esforços, com
por isso, ser autorizado por um po-
a prática dos atos processuais que
der especial e expresso, para que
reputar necessários à salvaguarda
por ele demonstre o mandante o
dos interesses que patrocina. Não se
necessário consentimento à arre-
lhe faculta, contudo, sem a outorga
matação e, sem restrições, possa
de poderes especiais, a prática de
por ele responsabilizar-se o man-
atos que importem em disposição da
datário".
totalidade ou de parcela does) direi-
.................. omissis ................. . toes) em litígio, tampouco em gastos
"Nem mesmo o mandato judi- patrimoniais que não sejam absolu-
cial, em que se inscreva a cláusu- tamente imprescindíveis ao desem-
la ad judicia, autoriza a prática penho da missão que lhe incumbe.
da arrematação, remição e adjudi- Em resumo, quando o ato enseje cer-
cação" (Volume 1, Forense, 4:! ed., ta porção de vontade, implique em
1989, n 2 198, p. 292/294). escolha, envolva livre arbítrio da
parte, não pode o advogado, munido
Pontes de Miranda, por seu de instrumento procuratório que lhe
turno, assim define o ato de arrema- confira tão-somente os poderes da
tar: cláusula ad judicia, praticá-lo em
nome do mandante.
"O ato da arrematação não é Pela arrematação o arrematante
contrato de direito material, mas assume o compromisso de saldar,

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 267


dentro em três dias, o preço ofereci- vezes, até mesmo as normas de or-
do. Encerra, portanto, conteúdo voli- dem pública, como se dá, por exem-
tivo, de assumir, ou não, referido plo, com a adoção de rito procedimen-
compromisso e mesmo de limitar o tal inadequado (nessa diretriz, confi-
valor do lanço. Ademais, não se cons- ram-se a conclusão n~ 51 do "VI EN-
titui em ato indispensável à defesa TA" e o REsp n~ 2.834-SP, DJU de
dos direitos da parte. Resta-lhe, 27.8.90, relator o Sr. Ministro Walde-
mesmo sem que haja lanço em pri- mar Zveiter). Artigo 244, por sinal,
meira e segunda hastas, a possibili- que veio a ser consagrado, no último
dade de adjudicação do bem, às ve- Congresso Mundial de Direito Proces-
zes preferíveL E, como argumento sual Civil (Portugal, 1991), como a
definitivo, se se permitir que advo- mais bela regra da legislação proces-
gado sem poderes expressos ofereça sual vigente no plano internacional.
lanços, como representante do exe- Assim, não se tratando de nulida-
qüente, não raras vezes pode acon- de pleno iure e nem havendo comi-
tecer dele não dispor de meios para nação de nulidade, hipótese em que
cobrir a diferença entre o lanço e o há prejuízo presumido, devem ser
direito que lhe resulta da execução. considerados válidos e eficazes os
N essa hipótese, à toda evidência, atos que, mesmo realizados à mar-
não seria razoável responsabilizar- gem das prescrições legais, tenham
se o outorgante, que somente confe- alcançado a sua finalidade e não te-
riu poderes gerais para o foro, pelo nham redundado em efetiva lesão.
ato do advogado. Outrossim, in casu, quem deti-
Assim, razão assiste à recorrente nha legitimidade para argüir a nu-
quando sustenta que a arrematação, lidade da arrematação, por falta de
.gerando direitos e obrigações para as outorga de poderes ao advogado, era
partes, necessita, em se desejando exatamente a firma exeqüente, que
efetivá-la por mandatário, de outor- poderia ter alegado que não conferi-
ga de poder especial. ra poderes ao procurador para lan-
çar e arrematar.
Entretanto, não merece prosperar
o apelo. Não o tendo feito, contudo, impõe-
se depreender ter havido, quando
É que, em momento algum, a re-
menos, outorga tácita (art. 1.290,
corrente invocou ou demonstrou pre-
CC), na medida em que o mandante
juízo. Não argumentou, v.g., ter si- se dispôs a honrar o compromisso
do o bem arrematado por preço vil, assumido pelo mandatário. Nesse
tampouco não ter o banco exeqüen- sentido, o art. 1.296 é expresso:
te comparecido com a quantia que
seu patrono comprometera por meio "Art. 1.296. Pode o mandante
do lanço feito. ratificar ou impugnar os atos pra-
A ausência de prejuízo, nos limites ticados em seu nome sem poderes
do art. 244, CPC, sobrepuja, muitas suficientes.

268 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


Parágrafo único. A ratificação Destarte, de qualquer modo, não
há de ser expressa, ou resultar de seria caso de nulidade da arremata-
ato inequívoco, e retroagirá à da- ção, mas sim de considerar o advo-
ta do ato". gado como arrematante, em nome
próprio, impondo-lhe os consectários
Ademais, exorbitando o advogado resultantes do ato.
de seus poderes, responderia pelo Em face do exposto, conquanto
seu ato, principalmente perante o louvando o denodo com que se hou-
exeqüente, a teor do disposto nos veram os ilustres Patronos do recor-
arts. 1.305 e 1.307 do Código Civil rente, não conheço do recurso.
combinados com o art. 695, CPC.
VOTO
"Art. 1.305. O mandatário é
obrigado a apresentar o instrumen- O SR. MINISTRO BARROS
to do mandato às pessoas, com MONTEIRO: Sr. Presidente, estou
quem tratar em nome do mandan- de pleno acordo com o voto do Emi-
te, sob pena de responder a elas nente Ministro Relator. No tocante
por qualquer ato, que lhe exceda às argüições relativas às deficiências
os poderes". do auto de arresto e do edital de
"Art. 1.307. Se o mandatário praça, à evidência, não ocorreu irre-
obrar em seu próprio nome, não gularidade alguma, como, de sobejo,
terá o mandante ação contra os mostrou o Eminente Ministro Rela-
que com ele contrataram, nem es- tor. E, no tocante à falta de poderes
tes contra o mandante. específicos para arrematar o bem,
parece-me que, quando menos, hou-
Em tal caso, o mandatário fica- ve a ratificação por parte do exe-
rá diretamente obrigado, como se qüente, desde que, no caso, é indu-
seu fora o negócio, para com a vidoso que houve por parte do mes-
pessoa com quem contratou". mo o depósito do preço oferecido.
"Art. 695. Se o arrematante ou Quanto à observação feita por V.
o seu fiador não pagar dentro de Exa., Sr. Presidente, não me parece
três (3) dias o preço, o juiz impor- que é caso de cogitar-se do preço vil,
lhe-á, em favor do exeqüente, a pois esta questão não está especifi-
multa de vinte por cento (20%) camente posta em tela no presente
calculada sobre o lanço. recurso.
§ 12• Não preferindo o credor Acompanho o Eminente Ministro
que os bens voltem a nova praça Relator.
ou leilão, poderá cobrar ao arre-
matante e ao seu fiador o preço VOTO
da arrematação e a multa, valen-
do a decisão como título executi- O SR. MINISTRO BUENO DE
vo". SOUZA: Senhor Presidente, a ques-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 269


tão já está ampla e suficientemen- o exeqüente teria arrematado o bem
te debatida. Sem embargo do reco- por preço inferior à avaliação, e in-
nhecido esforço do seu D. Patrono, ferior à dívida. 'Ibdavia, esta maté-
as razões do recorrente, detidamen- ria não foi, segundo consta do rela-
te examinadas, são bastantes para tório, questionada no recurso espe-
viabilizar o pretendido conhecimen- cial. Quanto ao restante, estou de in-
to. teiro acordo com o voto do Eminen-
Acompanho o Sr. Ministro Rela- te Relator, nos termos em que S.
tor. Exa. refutou as duas primeiras ar-
güições e nos termos em que apre-
ciou a argüição mais relevante, da
ESCLARECIMENTO falta de poderes ao Advogado que
ofereceu lance na arrematação.
O SR. MINISTRO ATHOS CAR-
Também não conheço.
NEIRO (Presidente): Sr. Ministro
Relator, há uma indagação: o valor
da arrematação foi superior ao valor
EXTRATO DA MINUTA
da dívida, ou quiçá inferior? O Ilus-
tre Advogado poderia informar?
REsp n~ 23.026-7 - SP - Rela-
O SR. JOSÉ LEITE SARAIVA FI- tor: O Sr. Ministro Sálvio de Figuei-
LHO (Advogado): Sr. Presidente, o redo. Recte.: Golda Snitcovsky.
valor foi inferior ao da avaliação; in- Advs.: José Leite Saraiva Filho e ou-
clusive, em segunda praça. tros. Recdo.: Banco Safra S/A. Advs.:
O SR. MINISTRO ATHOS CAR- Luiz Antônio Martins Ferreira e ou-
NEIRO (Presidente): E foi inferior tros. Interes.: Arthur Snitcovsky.
ou superior ao valor da dívida? Sustentou, oralmente, o Dr. José
Leite Saraiva Filho, pelo recorrente.
O SR. JOSÉ LEITE SARAIVA FI-
LHO (Advogado): Foi bastante infe- Decisão: A 'furma, por unanimida-
rior, inclusive quanto à avaliação do de, não conheceu do recurso (em
bem. 27.10.92 - 4~ 'furma).
Votaram com o Relator os Srs. Mi-
nistros Barros Monteiro, Bueno de
VOTO
Souza, Athos Carneiro e Fontes de
Alencar.
O SR. MINISTRO ATHOS CAR-
NEIRO: Eminentes Colegas, da tri- Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
buna o ilustre Advogado referiu que tro ATHOS CARNEIRO.

270 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


RECURSO ESPECIAL N2 29.657-6 - RS
(Registro n 2 92.0030165-7)

Relator: O Sr. Ministro Dias Trindade


Recorrentes: Rosane Santos de Matos e outros
Recorridos: Luiz Alberto Salgado e cônjuge
Advogados: João Máximo Lopes e outro, e João Carlos Nunes de Campos

EMENTA: Civil. Processual Civil. Imissão de posse. Carência. Du-


pla fundamentação.
Não se conhece de recurso especial que não é dirigido a fundamen-
to suficiente a sustentar o acórdão recorrido, em caso de dupla fun-
damentação.

ACÓRDÃO Federal, recorrem Rosane Santos de


Matos e outros, de acórdão proferi-
Vistos, relatados e discutidos es- do pela Sexta Câmara Cível do Tri-
tes autos, acordam os Ministros da bunal de Justiça do Rio Grande do
Thrceira Thrma do Superior 'Ihbunal Sul, que negou provimento a agravo
de Justiça, na conformidade dos vo- de decisão em que foram rejeitadas
tos e das notas taquigráficas a se- preliminares de carência de ação e
guir, por unanimidade, não conhecer ilegitimidade passiva dos réus argüi-
do recurso especial. Participaram do das na contestação, em ação de imis-
julgamento os Srs. Ministros Walde- são de posse promovida por Luiz Al-
mar Zveiter, Cláudio Santos, Nilson berto Salgado e outra.
Naves e Eduardo Ribeiro. Sustentam os recorrentes ter o
acórdão divergido de outros julgados
Brasília, 16 de dezembro de 1992
que entenderam que, para o adqui-
(data do julgamento).
rente de imóvel propor a ação de
Ministro EDUARDO RIBEIRO, imissão de posse, é necessário que o
Presidente. Ministro DIAS TRINDA- compromisso de compra e venda es-
DE, Relator. teja registrado, sendo a ação dirigi-
da contra o próprio alienante, ou ter-
ceiro, que detenha a posse em nome
RELATÓRIO
daquele.
O SR. MINISTRO DIAS TRIN- Recebido e processado o recurso,
DADE (Relator): Com fundamento vieram os autos a este Tribunal.
no art. 105, lU, c, da Constituição É como relato.

R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 271


VOTO "Civil! Processual. Compromisso
de venda. Ação reivindicatória.
O SR. MINISTRO DIAS TRIN- Pretensão a imissão na posse.
DADE (Relator): É certo que o acór- Exposta pretensão de imitir-se na
dão recorrido repousa em dois fun- posse, em decorrência de cláusula
damentos, ou seja, o cabimento da contratual que atribui ao promi-
ação de imissão de posse, de proce- tente-comprador o direito à posse,
dimento ordinário, em face do títu-
assegura-se o direito de ação de
lo do autor e da inexistência de títu-
imissão de posse, de natureza pe-
lo dos réus e a necessidade de que a
jurisdição seja prestada. titória, ainda que a proposta este-
ja intitulada de reivindicatória,
O recurso é dirigido apenas ao pri- sem mudança da causa de pedir
meiro fundamento, sob o argumento ou do pedido".
básico de que os réus exerciam a pos-
se em nome próprio trazendo acórdão Isto posto, voto no sentido de não
divergente, no sentido de que carece conhecer do recurso.
de ação imissória contra terceiro o
adquirente da posse.
Dir-se-á que o segundo fundamen- EXTRATO DA MINUTA
to não é suficiente em si para sus-
tentar o acórdão, posto que teria o REsp n~ 29.657-6 - RS
autor os interditos para a disputa da (92.0030165-7) - Relator: O Sr. Mi-
posse, ao menos em tese. Ocorre, no nistro Dias Trindade. Rectes.: Rosa-
entanto, que o acórdão está assenta-
ne Santos de Matos e outros. Advs.:
do em que, por não ter posse ante-
João Máximo Lopes e outro. Recdos.:
rior, o adquirente não teria ação pos-
Luiz Alberto Salgado e cônjuge.
sessória e por não ter título de domí-
nio, ainda, segundo exame da prova Advs.: João Carlos Nunes de Cam-
inicialmente apresentada, não teria pos.
como reivindicar e, não sendo loca- Decisão: A 'furma, por unanimida-
dor, ação de despejo não teria, o que de não conheceu do recurso especial
serve a dizer como capaz de fazer (e~ 16.12.92 - 3!!: Turma).
prevalecer o acórdão, que, no parti-
cular, não foi atacado. Participaram do julgamento os
Srs. Ministros Waldemar Zveiter,
Aliás, sobre o tema, esta Turma Cláudio Santos, Nilson Naves e
tem precedente, ao confirmar acór-
Eduardo Ribeiro.
dão do Tribunal de Justiça de São
Paulo, no REsp n~ 8.785-0-SP, do Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
qual fui relator, com esta ementa: tro EDUARDO RIBEIRO.

272 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


RECURSO ESPECIAL N~ 29.682-5 - SP
(Registro n~ 92.0030288-2)

Relator: O Sr. Ministro José Dantas


Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo
Advogada: Dra. Antonia Marilda Ribeiro Alborgheti
Recorridos: Cristina Maria Notary Godoy e outros
Advogado: Dr. Antonio Roberto Sandoval Filho

EMENTA: Processual. Recurso especial. Cabimento.


- Fundamento inatacado. Aplicação da Súmula 283-STF ao re-
curso especial.

ACÓRDÃO Civis do 'Iribunal de Justiça julgou


o Autor carecedor da ação - primei-
Vistos, relatados e discutidos es- ro, por falta do interesse de agir, da-
tes autos, acordam os Ministros da do que o impugnado recálculo de
Quinta 'furma do Superior 'fribunal vantagens adicionais aos vencimen-
de Justiça, na conformidade dos vo- tos dos réus já fora cassado por for-
tos e das notas taquigráficas a se- ça da vedação constitucional do art.
guir, por unanimidade, não conhecer 37, XIV, c.c. o art. 17 do ADCT/88,
do recurso. Votaram com o Relator administrativamente já cumprida; e
os Srs. Mins. Flaquer Scartezzini, segundo, porque as questões do dis-
Assis 'Ibledo, Edson Vidigal e Jesus cutido recálculo e da prescrição da
Costa Lima. vantagem eram controvertidas ao
tempo da decisão rescindenda, Sú-
Brasília, 04 de agosto de 1993
mula 343-STF - fls. 1.243/44.
(data do julgamento).
Ministro JESUS COSTA LIMA, Daí o presente recurso especial
Presidente. Ministro JOSÉ DANTAS, pela letra a do permissivo, argüindo
Relator. a violação de vigência do art. 3~ do
C.P.C., segundo a fundamentação de
que, inobstante aquele reparo cons-
RELATÓRIO titucional das vantagens em causa,
persistiria o interesse do Autor em
O SR. MINISTRO JOSÉ DAN- desconstituir a obrigação, até mes-
TAS: Decidindo rescisória movida pe- mo para eximir-se às prestações pre-
lo Estado-SP a servidores públicos téritas ainda pendentes de execução.
de seu quadro, Grupo de Câmaras Lê-se - fls. 1.258/61.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 273


Contra-razões a fls. 1.263, firme Face ao exposto e pelo óbice da
na acusação da falta de prequestio- Súmula n~ 07 desse Augusto Su-
namento do aludido artigo de lei fe- perior Tribunal, o alvitre é pelo
deral, tanto mais que cingida a res- não conhecimento do recurso."-
cisória ao reexame de interpretação fls. 1.335/36.
de lei estadual.
Admitido o recurso (fls. 1.331), Relatei.
nesta instância opinou o Subprocu-
rador-Geral Edinaldo de Holanda, do VOTO
seguinte modo:
O SR. MINISTRO JOSÉ DAN-
"1. Postula a Fazenda do Esta- TAS (Relator): Senhor Presidente,
do de São Paulo reexame, pela via dando-se de barato o prequestiona-
excepcional, de decisão do Egrégio mento do invocado art. 3~ do CPC,
Tribunal do Estado de São Paulo, pela implicitação contida na própria
que extinguiu ação rescisória da negação do interesse de agir, da qual
recorrente, ao fundamento de ca- explicitamente tratou o v. acórdão re-
rência da ação. corrido, ainda assim se mostra limi-
2. A v. decisão considerou que narmente improsperável o recurso.
o fato de a Fazenda não mais De fato, consoante consignado no
cumprir o julgado que se preten- relatório, a carência de ação se hou-
de rescindir, face ao favorecimen- ve pronunciada com base em dois
to superveniente dos arts. 37, inc. fundamentos por si mesmos suficien-
XIV da Constituição e 17 de suas tes - a falta de interesse de agir, e
disposições transitórias, fez desa- o trato de questões de interpretação
parecer o interesse de agir da pro- controvertida nos tribunais ao tem-
ponente. po da prolação da decisão rescinden-
3. Argúi, entretanto, a recor- da, a estilo da Súmula 343-STF.
rente, a existência de dívida ante- No entanto, o recurso especial li-
rior, ainda não satisfeita e que, mitou-se a redargüir aquele primei-
por si, justificaria a subsistência ro fundamento, sem uma mínima in-
do interesse inicial de agir. firmação daquele segundo, cuj a pro-
4. Incompossível, no entanto, o cedência restou inatacada. Vem,
reexame da decisão pela via elei- pois, ao caso a Súmula 283-STF,
ta. In casu, o interesse de agir é mutatis mutandis aplicável ao ca-
implicativo de apreciação de ma- so, sob assertiva de que é inadmis-
téria de fato, pois envolve o exa- sível o recurso especial quando a de-
me da subsistência do referido in- cisão recorrida assenta em mais de
teresse, com base nos fatos alega- um fundamento suficiente e o recur-
dos pela recorrente, como a exis- so não abrange todos eles.
tência de dívida anterior ainda Pelo exposto, não conheço do re-
não satisfeita. curso.

274 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


EXTRATO DA MINUTA Decisão: A 'furma, por unanimida-
de, não conheceu do recurso (em
REsp n 2 29.682-5 - SP 04.08.93 - 5~ 'furma).
(92.0030288-2) - Relator: O Sr. Mi-
Votaram com o relator os Srs.
nistro José Dantas. Recte.: Fazenda
Mins. Flaquer Scartezzini, Assis 'Ib-
do Estado de São Paulo. Advogada:
Ieda, Edson Vidigal e Jesus Costa
Antonia Marilda Ribeiro Alborghe-
Lima.
ti. Recdos.: Cristina Maria Notary
Godoy e outros. Advogado: Antonio Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
Roberto Sandoval Filho. tro JESUS COSTA LIMA.

RECURSO ESPECIAL N2 35.356-4 - RS


(Registro n 2 93.0014671-8)

Relator: O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro


Recorrentes: Athos Alvício Schafer e outros
Recorridos: Aitel Frederico Miranda Perroni e outros
Advogados: Drs. Lucival M. Rabello, Hélio Boeira Braga e outros, Cláu-
dio Leite Pimentel, Balbino Martins Pimentel e outros, e Fre-
derico Henrique Viegas de Lima

EMENTA: Recurso Especial. Admissibilidade.


Acórdão recorrido com fundamento constitucional e infracons-
titucional, ambos suficientes.
Tendo o recorrente deixado de atacar, mediante recurso extraor-
dinário, fundamento constitucional suficiente, este subsiste, impe-
dindo o conhecido do especial.

ACÓRDÃO param do julgamento os Srs. Minis-


tros Cláudio Santos e Nilson Naves.
Vistos, relatados e discutidos es- Ausente, ocasionalmente, o Sr. Mi-
tes autos, acordam os Srs. Ministros nistro Costa Leite. Ausente, justifi-
da Terceira 'furma do Superior Tri- cadamente, o Sr. Ministro Waldemar
bunal de Justiça, na conformidade Zveiter.
dos votos e das notas taquigráficas
a seguir, por unanimidade, não co- Brasília, 03 de agosto de 1993
nhecer do recurso especial. Partici- (data do julgamento).

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 275


Ministro EDUARDO RIBEIRO, "Recurso especial. Admissibili-
Presidente e Relator. dade. Fundamento constitucional
e infraconstitucional. Não impug-
nação do fundamento constitucio-
RELATÓRIO
nal, acolhido pelo acórdão, atra-
OBR. MINISTRO EDUARDO RI- vés de recurso extraordinário."
BEIRO: Agravou o ora recorrente vi- "Questão de ordem acolhida pe- .
sando a modificar decisão denegató- la Egrégia 1~ Seção, aplicável à hi-
ria de cancelamento de penhora, em pótese dos autos, no sentido da
que alegou ser residencial o imóvel ob- inadmissibilidade do recurso espe-
jeto da constrição judicial, aplicando- cial quando o acórdão recorrido as-
se, ao caso, o disposto na Lei 8.009/90. sentasse em fundamento constitu-
Negado provimento ao recurso, o cional e infraconstitucional, qual-
agravante interpôs recurso especial, quer deles suficiente, por si só, pa-
pelas alíneas a e c, sustentando con- ra mantê-lo, e a parte vencida não
trariedade do art. 62 da Lei 8.009/90 manifesta recurso extraordinário".
e dissídio de jurisprudência. (REsp 25.271-8, ReI. Min. Améri-
co Luz, in DJ de 14.12.92)
O recurso foi admitido, na origem,
e regularmente processado. "Recurso especial. Acórdãos
É o relatório. com fundamentos de ordem cons-
titucional e infraconstitucional."
"Sendo suficiente um dos fun-
VOTO damentos para manter o acórdão
- que tratou de matéria constitu-
O SR. MINISTRO EDUARDO RI- cional descabe acionar-se a via es-
BEIRO (Relator): O acórdão recorri- pecial.
do, ao apreciar o tema em debate, fê-
lo também sob o prisma constitucio- Recurso especial não conhecido,
nal, entendendo que a referida lei, conforme precedentes deste Supe-
ao incidir sobre penhoras já existen- rior Tribunal de Justiça." (REsp
tes à época de sua vigência, infrin- 29.082-3, Relator Ministro Hélio
giria o disposto no artigo 52, XXXVI Mosimann, in DJ de 14.12.92)
da Constituição.
O recorrente, insurgindo-se contra Ante o exposto, não conheço do
o aresto, limitou-se a interpor recur- recurso.
so especial, deixando inatacado fun-
damento constitucional suficiente, EXTRATO DA MINUTA
que, assim, subsiste, impedindo o co-
nhecimento do presente recurso es- REsp n 2 35.356-4 - RS
pecial. (93.0014671-8) - Relator: O Sr. Mi-
N este sentido, os seguintes acór- nistro Eduardo Ribeiro. Rectes.:
dãos deste Tribunal: Athos Alvício Schafer e outros. Ad-

276 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


vogados: Lucival M. Rabello, Hélio Participaram do julgamento os
Boeira Braga e outros. Recdos.: Ai- Srs. Ministros Cláudio Santos e Nil-
tel Frederico Miranda Perroni e ou- son Naves.
tros. Advogados: Cláudio Leite Pi- Ausente, ocasionalmente, o Sr.
mentel, Balbino Martins Pimentel e Ministro Costa Leite.
outros. Ausente, justificadamente, o Sr.
Decisão: A 'Ibrma, por unanimida- Ministro Waldemar Zveiter.
de, não conheceu do recurso especial Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
(em 03.08.93 - 3~ 'furma). tro EDUARDO RIBEIRO.

RECURSO ESPECIAL N2 36.191-5 - SP


(Registro n~ 93.0017535-1)

Relator: O Sr. Ministro Nilson Naves


Recorrente: Marlene CoUa Matheus
Recorrida: Musiclave Editora Musical Ltda.
Advogados: Drs. Sérgio Dante Grassini, e Roberto Corrêa de Mello e outro

EMENTA: Recurso especial. Não cabimento. Acórdão recorrido


assentado em fundamentos: constitucional e infraconst:iitucional,
autônomos e suficientes. Em tal hipótese, o recurso especial só tem
cabimento quando o recorrente também interpõe o recurso extraor-
dinário. Caso de duplo fundamento, em que o acórdão é mantido
pelo fundamento não impugnado, suficiente por si só. Princípio da
Súmula 283/STF. Precedentes do STJ, entre outros: REsp's 11.152
e 18.903. Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO julgamento os Srs. Ministros Eduar-


do Ribeiro, Waldemar Zveiter, Cláu-
Vistos, relatados e discutidos es- dio Santos e Costa Leite.
tes autos, acordam os Ministros da
Thrceira 'furma do Superior Tribunal Brasília, 23 de novembro de 1993
de Justiça, na conformidade dos vo- (data do julgamento).
tos e das notas taquigráficas a se- Ministro EDUARDO RIBEIRO,
guir, por unanimidade, não conhecer Presidente. Ministro NILSON NA-
do recurso especial. Participaram do VES, Relator.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72); 209-282, agosto 1995. 277


RELATÓRIO tro de Títulos e Documentos, que
daria eficácia erga omnes à
O SR. MINISTRO NILSON NA- avença contratual.
VES: Provendo a apelação da auto- Baseia no preceito Constitucio-
ra, por maioria de votos, decidiu as- nal do artigo 5~, incisos XXVII e
sim o Tribunal de Justiça de São XXVIII, que definem e dispõem so-
Paulo, por sua 7'!: Câmara Civil: bre quais direitos que competem
ao autor de obras intelectuais.
"1. A autora, Musiclave Editora Completa tal preceito a Lei espe-
Musical Ltda., alega que se tornou cífica n~ 5.988/73 (Lei de Direito do
dona dos direitos autorais do hino Autor).
"Campeão ·dos Campeões", de au-
toria de Lauro D'Ávila, sub-rogan- Recurso tempestivo, respondi-
do-se por contrato do cedente, em do e preparado.
1969. Objetiva a condenação da 2. O preceito da Carta Magna,
Presidente do Sport Club Corin- art. 5~, incisos XXVII e XXVIII, é
thians Paulista pela utilização in- auto-explicativa e auto-aplicável,
devida da obra musical, quando de veja-se:
sua candidatura à presidência do
clube, sem prévio e expresso con- 'XXVII - aos autores perten-
sentimento da autora. ce o direito exclusivo de utiliza-
ção, publicação ou reprodução
A r. sentença de fls. 163/174,
de suas obras, transmissível a
julgou improcedente o pedido de
seus herdeiros pelo tempo que a
indenização, impondo à autora o
lei o fixar.
ônus da sucumbência. O MM.
Juiz fundamenta a decisão com XXVIII - são assegurados,
doutrina e jurisprudência, que a nos termos da lei:
ré não estava obrigada a solicitar a) a proteção às participações
autorização à autora, tampouco a individuais e a reprodução da
indenizá-la. imagem e voz humanas, inclu-
No recurso de fls. 176/187, a sive nas atividades desportivas;
apelante bate-se contra a funda- b) o direito de fiscalização do
mentação da sentença, dizendo aproveitamento econômico das
não ser verídica a alegação que a obras que criarem ou de que
agremiação não possui fms lucra- participarem aos criadores, aos
tivos, pois não houve exploração intérpretes e às respectivas re-
econômica, posto que não houve presentações sindicais e asso-
lucro com a utilização da obra ciativas.'
musical. Aduz absurda a alegação
de que não há registro do contra- 'llimbém a Lei n. 5.988/73 pre-
to de edição em Cartório de Regis- serva o direito do titular e deixa

278 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


a critério dele autorizar ou não o Apresentados os embargos infrin-
uso de sua obra, mediante crité- gentes, com base no voto vencido,
rios de conveniência artística, fi- tais foram rejeitados, conclusivamen-
nanceira, etc. te:
Interessante notar que a ape-
"'Iem-se que as razões dos em-
lante já houvera autorizado outro
bargos em nada elidem o acórdão
candidato a fazer uso da obra em embargado não se vislumbrando
sua campanha à presidência do de qualquer forma, violação como
clube. A autorização não se presu- pretendido pela embargante do
me gratuita, ficando a critério do parágrafo único do artigo 53 da
autor, desde que não abuse, o di- Lei 5.988/73 e do artigo 129, item
reito exclusivo de fixar preço rela- 9~ da Lei 6.015/73 e alegada ofen-
tivo à utilização por terceiros da sa constitucional do artigo 5~, in-
obra intelectual (fls. 188/189). cisos II e XXXVI.
A questão de inexistência de Adotadas mais as razões bem
registro em Cartório de Registro lançadas pela embargada às fls.
de Títulos e Documentos fica afas- 230, rejeitam-se os embargos."
tada, pois como preceitua o art.
17, da Lei n. 5.988/73, é faculda- Após, Marlene Colla Matheus, ré,
de do titular registrar ou não em interpôs recurso especial, admitido
cartório ou nos órgãos ali elenca- pelo Desembargador Yussef Cahali,
dos (fls. 184/185). litteris:
o cessionário atua como se ori- "Alega a recorrente que o ares-
ginariamente fosse o titular do di-
to contrariou os arts. 53, § 1~ e 17
reito autoral e a dispensa do re-
da Lei 5.988/73 e 129, item 9 da
gistro advém, basicamente, da fa-
Lei 6.015/73, pois sendo a recorri-
culdade concedida ao titular de
da cessionária do direito da obra
registrar os direitos autorais, sen- musical, somente poderia fazê-lo
do o registro prescindível. valer contra terceiro se a respec-
Há decisão do STF a respeito tiva cessão tivesse sido levada ao
(fls. 186/187 e 190/191). competente registro.
A reforma da sentença se im- N a espécie, estão presentes os
põe, com o fito de condenar a ré pressupostos de admissibilidade do
ao pagamento de indenização pe- recurso pela alínea a do permissi-
lo uso indevido da obra musical, vo constitucional, pois a questão
conforme o quantum a ser apu- jurídica suscitada deve ser subme-
rado em execução. tida à apreciação do Superior Tri-
bunal de Justiça, a quem incumbe
Dá-se, pois, provimento ao re- velar pela uniformidade de inter-
curso, pelas razões acima desfila- pretação da legislação federal or-
das." dinária.

R. Sup. 'Irib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 279


A matéria foi razoavelmente extraordinário. Por exemplo, entre
exposta na petição de interposição outros julgados:
e devidamente examinada pelo
acórdão, estando atendido, assim, - "Recurso especial. Acórdão
o requisito do prequestionamento, recorrido embasado em fundamen-
não incidindo os demais vetos re- tos constitucional e infraconstitu-
gimentais ou sumulares. cíonal. Fundamento constitucional
não impugnado através de recur-
Anoto, ainda, que baseando o so extraordinário. Não conheci-
recurso também na alínea c, a re- mento. I - É inadmissível recur-
corrente sequer mencionou a exis- so especial quando o acórdão re-
tência de dissídio com decisão de corrido assenta-se em fundamen-
outro Tribunal. to constitucional e fundamento in-
Em tais condições, dou segui- fraconstitucional, qualquer deles
mento ao recurso pela alínea a. suficiente, por si só, para mantê-
lo, e a parte vencida não manifes-
É o relatório. ta recurso extraordinário. II - Re-
curso especial não conhecido"
(REsp-18.903, Sr. Ministro Pádua
VOTO Ribeiro, DJ de 13.4.92).
- "Recurso Especial - FGTS
O SR. MINISTRO NILSON NA- - Competência do Judiciário -
VES (Relator): Preliminarmente, que- CF, art. 5~, XXXV - Ausência de
ro entender que os acórdãos, tanto o Prequestionamento - Reexame
da apelação quanto o dos embargos da Prova - Súmula STJ-07. 1. É
infringentes (este o acórdão recorri- inadmissível o recurso especial
do), tiveram dois fundamentos, um quando o acórdão recorrido se
dos quais de ordem constitucional fundamenta, também, em disposi-
(art. 5~, incisos XXVII e XXVIII), não tivo constitucional suficiente à
impugnado este fundamento por sua manutenção e não foi inter-
meio do recurso extraordinário. O re- posto recurso extraordinário ...
curso movimentado, e único, foi o es- (REsp-ll.152, Sr. Ministro Peça-
pecial: apresentado às fls. 249/253 e nha Martins, DJ de 15.3.93).
admitido às fls. 269/270.
A orientação assumida por este
À semelhança do primeiro inscri- Tribunal foi aprovada pelo Supremo
to na Súmula 283/STF, o Superior Tribunal Federal, em despachos pro-
Tribunal de Justiça vem entendendo feridos em agravos de instrumento,
que não é admissível o recurso espe- entre os quais o Ag-154.959, Sr. Mi-
cial quando, encontrando-se a deci- nistro Celso de Mello, in DJ de
são recorrida assentada também em 1.9.93, verbis:
fundamento constitucional suficien-
te, não foi ela, no pertinente a tal "A impossibilidade jurídico-pro-
ponto, impugnada mediante recurso cessual do recurso especial decor-

280 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.


re, em tal hipótese, da circunstân- o acórdão atacado julgou a cau-
cia de o acórdão impugnado osten- sa, nos limites de sua estrita
tar duplo fundamento - de índo- competência. O fato de não ha-
le constitucional e de natureza in- ver examinado a divergência,
fraconstitucíonal - revelando-se suporte do especial, não signi-
suficiente, qualquer deles, em fa- fica que tenha deixado de cum-
ce de seu caráter autônomo, para prir sua função jurisdicional.
manter a decisão questionada. Nesta, inclui-se, como parece
A concorrência entre fundamen- óbvio, a análise prévia do cabi-
tos suficientes, ainda que de natu- mento do recurso. Se existe al-
reza jurídica diversa, impunha à guma prejudicial, como ocorreu
ora agravante o ônus de manifes- na espécie, o mérito da dissen-
tar, perante o Tribunal Regional são perde substância. Por outro
lado, a simples discordância
Federal competente, recurso ex-
traordinário com o objetivo de im- desse entendimento não erige a
pedir o trânsito em julgado da mo- questão a foro constitucional,
de sorte a justificar o extraor-
tivação constitucional do acórdão,
dinário.
bastante, por si só, como já acen-
tuado, para sustentar-lhe a inte- Na verdade, a recorrente ao
gridade. se conformar com o despacho
de inadmissão do seu recurso
Ocorre, porém, que, no caso em
extraordinário, interposto no
exame, interposto o apelo extre-
Tribunal de origem, perdeu a
mo, sobre este incidiu juízo nega-
oportunidade de ver o assunto
tivo de admissibilidade emanado
discutido no Supremo Tribunal
da Presidência do TRF. Contra
Federal. Agora, por via oblíqua,
essa decisão, a ora agravante não
pretende, nesta instância, recu-
deduziu o recurso adequado, com
perar-se daquele insucesso. Is-
o que operou-se o trânsito em jul-
so, contudo, não é possível, por-
gado do fundamento constitucio-
quanto há de ser respeitada a
nal em que apoiado o acórdão da
ordem constitucional que fixa
Corte Regional.
de forma clara, a competência
Impende registrar, neste ponto, dessas duas Cortes.'
a procedente advertência constan-
te do ato decisório com que a ilus- Sendo assim, e tendo presentes,
tre Presidência do Superior Tribu- ainda, dentre outras, as seguintes
nal de Justiça deixou de admitir decisões (Ag 151.856-1, rel. Min. lI-
o recurso extraordinário interpos- mar Galvão, DJU de 14.4.93; Ag
to, verbis: 152.884-2, reI. Min. Octávio Gallot-
ti, DJU de 13.5.93; Ag 153.765-5,
'Demais disso, vale pôr em reI. Min. Celso de Mello, DJU de
destaque a circunstância de que 8.6.93 e Ag 154.060-5, reI. Min.

R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995. 281


Sydney Sanches, DJU de 3.8.93), nistro Nilson Naves. Recte.: Marle-
nego seguimento a este recurso, ne Colla Matheus. Advogado: Sérgio
eis que se revela correto o v. acór- Dante Grassini. Recda.: Musiclave
dão proferido pelo Superior Tribu- Editora Musical Ltda. Advogados:
nal de Justiça." Roberto Corrêa de Mello e outro.
'fratando-se o caso presente de ca- Decisão: A 'furma, por unanimida-
so que se subsume na orientação es- de, não conheceu do recurso especial
tabelecida pelo Superior Tribunal de (em 23.11.93 - 3~ Turma).
Justiça; reputo inadmissível o especial, Participaram do julgamento os
razão pela qual do recurso não conheço. Srs. Ministros Eduardo Ribeiro, Wal-
demar Zveiter, Cláudio Santos e
EXTRATO DA MINUTA Costa Leite.
REsp n~ 36.191-5 - SP Presidiu o julgamento o Sr. Minis-
(93.0017535-1) - Relator: O Sr. Mi- tro EDUARDO RIBEIRO.

282 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 7, (72): 209-282, agosto 1995.

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