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Vinícius Augusto Batista dos Santos – Nº 11289556 – 192/23

Fichamento – Filosofia do Direito

Na monitoria desta semana, o foco do debate passou da análise do nascimento da


psicanálise em si para um maior entendimento de como esta começou a influenciar na
sociedade da época. O documentário apresentado foca na história de Edward Barnays,
sobrinho de Freud, que se tornou o pioneiro na aplicação da teoria de seu tio de forma
prática no mundo dos negócios, visto que este enxergou o potencial que existia na
possibilidade de influenciar as pessoas de formas indiretas a tomarem certos
comportamentos benéficos para seus clientes. Para isso, criou a área de relações
públicas, visto que na época o termo propaganda carregava um forte teor negativo em
suas raízes.

Sua atuação inaugural se deu na construção da imagem dos EUA como libertadores da
Europa na Primeira Guerra Mundial, se percebendo aqui a semente da propaganda
cultural estadunidense que predominaria nos próximos anos, sendo presente até os dias
atuais. Após isso, ele percebeu que tal influência poderia se dar também em períodos de
paz, com forte potencial econômico e buscou a teoria de seu tio, se fascinando com a
temática do aspecto inconsciente da mente humana, ou seja, enxergou aqui uma
promissora união que poderia nascer do investimento econômico na manipulação do
indivíduo. Para isso, era necessário transformar a visão predominante no mundo nesta
época, em que o consumo era intrinsicamente ligado à necessidade de cada um, e as
propagandas se resumiam em meros demonstrativos práticos de como aqueles objetos
atuavam. Era necessário criar uma conexão emocional entre o produto e os seus
consumidores e Barnays conseguiu implementar seu ideário, em parte, beneficiado pelo
crescente medo que surgia nas grandes corporações, em que o perigo da superprodução
se tornava cada dia mais real, e, portanto, conseguiu apoio de figuras como Paul Mazer,
que também defendia uma imensa mudança na América, que deveria passar a treinar
seus cidadãos para se tornarem consumidores.

Em síntese, é possível resumir a visão de Edward em uma palavra: apelo. Era através
disto que se construía na mente de cada pessoa um vínculo entre seus desejos
inconscientes e os produtos que eram divulgados. Ao deturpar conceitos e associa-los,
diversas vezes de forma completamente irracional, à vontades presentes nos indivíduos,
como se ao adquirir aquele produto fosse possível suprir não somente uma necessidade
física, mas também adquirir algo que se tornaria uma expressão do seu próprio Eu
interior. Através do exemplo do carro, é possível ver que os propagandistas coletavam
alguns paradigmas fortemente incrustados na sociedade da época, como o machismo e
sua forte necessidade de autoafirmação, e vincula-lo à propriedade de um automóvel,
deixando quase subentendido que “caso você não adquira um, estará deixando de
afirmar para a sociedade este valor que é tão importante no seu inconsciente”. É
possível enxergar algumas consequências desta visão até os dias de hoje, como no caso
em que grupos de jovens, divididos nas suas “tribos”, associam fortemente sua
individualidade à certas marcas, ao consumo de produtos e à frequentar determinados
lugares. O fenômeno das empresas que se apropriam de movimentos sociais também
pode se relacionar com esta visão, pois estas incorporam pautas pessoais e importantes
para muitos aos seus produtos, tentando transmitir uma imagem “descolada e atual”
para seus consumidores, sendo que internamente, diversas vezes, tais valores são
completamente ignorados, gerando uma curiosa hipocrisia muito relacionável à tal
fenômeno.

A segunda parte do documentário aborda o aspecto político das ações de Bernays. Ao se


comparar a realidade da Alemanha Nazista e dos Estados Unidos pós New Deal, é
possível perceber que nessas duas realidade, a princípio consideradas extremos opostos
políticos, se aproximam na visão da necessidade de controle dos “instintos agressivos”
das pessoas, ainda que de maneiras completamente diferentes. No contexto
estadunidense, tem-se Walter Lippmann foi um dos expoentes desse movimento,
contribuindo muito na construção da engenharia do consentimento. Defendia-se que era
necessário guiar os desejos da população, para evitar que esta “escolhesse errado”,
necessitando, portanto, de ser guiada pela elite. Aqui é perceptível o quão a teoria de
Freud foi usada, de maneira deturpada em minha opinião, numa tentativa de justificar as
rédeas que os capitalistas buscavam colocar na massa da sociedade, sob uma alegação
de estabilidade, que nada mais era que garantir os interesses econômicos destes. Por
fim, demonstra-se que a civilização em si serve como um freio para os impulsos mais
primitivos do ser humano.

Com a quebra da bolsa, em 1929, percebeu-se, de maneira ainda mais contundente, o


quão rápido poderia se espalhar a sensação de desespero social. Tal situação gerou uma
crise sem precedentes até mesmo nas recentes democracias europeias, possibilitando a
ascensão de movimentos como o Nazismo, que defendia que era necessário abandonar o
egoísmo individualista e centrar os desejos de todos em prol do desenvolvimento da
nação. Mais uma vez se faz presente a teoria de Freud, visto que o imenso culto pela
imagem do líder é associado à uma força libidinal, ou seja, se deposita um amor quase
que delirante à este – sendo um fenômeno, infelizmente, completamente relacionável
atualmente, visto que tal força permite até mesmo a ascensão de um viés negacionista
em prol da manutenção do líder como salvador de todos – e reservando a agressividade
aos inimigos externos. Portanto, o Partido enxergava que o ser humano era irracional
por si, e que era possível guiar tal irracionalidade em prol de seus interesses.

Ao final, analisando os efeitos políticos nos EUA, percebe-se que se pautou muito mais
pela crença na racionalidade do cidadão, e como este poderia contribuir para a
administração estatal. Através do New Deal, o Estado passou a controlar o mercado
visando o fortalecimento da democracia, o que, em contrapartida, assustou o
empresariado. George Gallup foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento
das pesquisas de opinião, que passaram a considerar os pensamentos racionais dos
cidadãos em prol do fortalecimento do Estado, rejeitando a visão da força inconsciente e
evitando a manipulação das emoções. O contra-ataque das empresas se deu pela
construção da utópica visão do livre mercado. Inclusive, considerei muito interessante
finalmente descobrir de onde se originou esta corrente de pensamento que até os dias de
hoje é defendida por liberais, que enxergam o Mercado como um ente quase divino que
poderia trazer o paraíso à Terra. Através da construção dessa ideologia, defendia-se que
o capitalismo, por si, que construiu o país, e, subjetivamente, defendia a importância de
os desejos estarem no controle, e não os cidadãos enquanto indivíduos, visto que tais
desejos poderiam ser moldados de acordo com o que se desejava. Em síntese, serve
mais ao capitalismo que as opiniões construídas por este dirijam a sociedade, visto que
caso alguém pare para se questionar o porque de tal sistema funcionar da forma que é,
as rachaduras deste finalmente poderiam começar a aparecer.

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