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RESUMO
Analisar a nova identidade empresarial, e que traz em seu bojo a substituição de um
modelo meramente econômico por outro de natureza social, é nosso desafio voltado
para uma reflexão sobre a empresa, seus objetivos e princípios, reavaliando sua relação
com o interesse público e sua responsabilidade dentro da comunidade.
Em um sentido geral, nesse estudo buscamos reavaliar o papel da empresa privada na
sociedade, procurando estabelecer que, enquanto unidade social, esta tem uma
responsabilidade que transcende seu conceito, hoje obsoleto, de mera fonte geradora de
lucros.
INTRODUÇÃO
Não se quer dizer com isto que a burguesia (do séc. XVIII) estivesse,
efetivamente, abrindo mão de sua autoridade individual. De uma forma sutil, o que se
tem são indivíduos privados que tentam exercer uma influência na esfera pública. A
burguesia, ao reivindicar esta esfera, o faz para que possa melhor legitimar suas idéias,
já que tem por intenção modelar a Opinião Pública.
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A partir deste conceito de esfera privada, e considerando a esfera pública como
aquela em que se configuram os verdadeiros interesses coletivos, em um sentido amplo
do termo chegamos a melhor compreensão da força deste “interesse público”, no
processo de determinação de limites às atividades que ocorrem na esfera privada.
A OPNIÃO PÚBLICA
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Através das palavras de David Hume, filósofo do século XVIII e autor da obra
“Ensaio sobre o Entendimento Humano”, Cândido Teobaldo fala sobre a soberaneidade
da Opinião Pública: “A soberania da Opinião pública, longe de ser uma aspiração
utópica, é o que pesa e pesará sempre em todas as horas, nas sociedades humanas”. (5)
Portanto, devemos estar atentos para uma questão fundamental a ser considerada
pela empresa nos dias de hoje: a necessidade da conquista de um conceito positivo
(credibilidade), junto aos diversos públicos com que a empresa se relaciona.
Se por um lado, a qualidade dos produtos e serviços é fator de alta relevância, por
outro, a imagem institucional da empresa é quem confere credibilidade a estes mesmos
produtos e serviços.
A LEGITIMIDADE E A LIBERDADE
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Para Weber, esta expressão pressupunha a “aceitação do exercício do poder”; hoje,
ela envolve outras variáveis bem menos coercitivas e, ao mesmo tempo, de maior
amplitude e capacidade de determinação. A aceitação social de uma empresa é o que lhe
permite ser legítima. É a opinião pública que torna possível esta legitimidade e só pode
existir de fato dentro de um sistema verdadeiramente democrático. A partir daí,
podemos concluir que só uma organização que atenda aos interesses e expectativas da
sociedade como um todo, através do estabelecimento de objetivos cuja orientação não
seja simplesmente a econômica, estará preparada para enfrentar os desafios do futuro.
Ou seja, somente quando a empresa interagir com o meio ambiente em que está
inserida, procurando apreender desta sua necessidade, e funcionando, efetivamente,
como um sistema aberto, terá caminhado em direção ao “interesse público”.
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“O homem é dominado pela produção de dinheiro, pela aquisição encarada
como finalidade última de sua vida. A aquisição econômica não mais está
subordinada ao homem como meio de satisfazer suas necessidades materiais.
Esta inversão do que poderíamos chamar de relação natural (...) é
evidentemente um principio orientador do capitalismo(...). Mas, ao mesmo
tempo, ela expressa um tipo de sentimento que está inteiramente ligado a
certas idéias religiosas (...)”. (7)
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“O âmago do problema de uma ideologia capitalista coerente reside na
justificação das pedras fundamentais gêmeas da organização do sistema — a
propriedade e a liberdade”. (12)
Mostra o autor com esta colocação que a sociedade cobra constantes resultados da
iniciativa privada, não permitindo que a mesma atue de forma nociva aos chamados
“interesses coletivos”. Contudo, há que se discutir também a empresa, do ponto de vista
moral e ético, pois estas são características que não podem ser esquecidas no processo
avaliativo, tanto de pessoas físicas como de pessoas jurídicas.
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Norberto Bobbio, enunciando Emmanuel Kant, renomado filósofo do século
XVIII, ao falar sobre o conceito de moralidade, considera que:
Sendo assim, temos que o homem, ao obedecer a uma legislação moral, cria
limites à própria atuação para conservar justamente esta sua condição de “ser livre”. Tal
pensamento pode ser aplicado à situação organizacional, se considerarmos que as
empresas, enquanto “realidades humanas” e “sociais” necessitam adequar suas ações
para a garantia da própria sobrevivência, às leis morais impostas pelo meio social.
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coexistência deste dever, mas sim de uma obrigatoriedade criada pelas circunstâncias. O
que significa dizer que tais ações não se traduzem como “imperativos categóricos”, mas
ao contrário, consistem em “imperativos hipotéticos” ou “condicionados”, em que a
vontade que lhes suscitou é de natureza “heterônoma”. Bobbio cita um trecho da
Fundamentação, de Kant, que traduz o caráter do imperativo hipotético, tão presente nos
dias de hoje, dentro do ambiente organizacional:
A liberdade, que é fonte de justiça para Kant, tem muita a ser questionada quando
vista sob o prisma das empresas. Se por um lado, esta liberdade do indivíduo, no sentido
“lato” do termo, permite e justifica a questão da propriedade e da iniciativa privadas,
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por outro, a limitação da mesma em face da liberdade de meu semelhante, prova que um
ato de desconsideração ao interesse público, dá a este o direito de interferir em minha
liberdade de atuação, enquanto empresa. Com isto, se a organização não for legitimada
pela opinião pública, sofrerá fortes pressões dos grupos que com ela se relacionam.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Outro grande pensador e filósofo que estudou a liberdade e que, a partir de seus
questionamentos, nos pode conduzir a uma análise contemporânea da empresa privada é
Jean Paul Sartre. Ele diz que “o homem faz-se; ele não está pronto logo de início; ele se
constrói escolhendo sua moral”. (18)
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Sartre fala a respeito da extensão do compromisso de cada indivíduo com relação aos
destinos desta Humanidade:
Quando Sartre afirma que “o homem é apenas seu projeto, só existe na medida em
que se realiza, e que (...) é tão somente o conjunto de seus atos”, (20) surge uma nova
concepção de indivíduo e, a partir daí, uma concepção também nova de sociedade. Este
novo homem se sabe livre e responsável (responsabilidade esta que vai além do espaço
físico que ocupa no mundo). Tem consciência de que só ele pode construir, através de
sua condição de existência, a sua realidade, o seu eu, a sua essência. E, acima de tudo,
percebe que cada passo seu reflete na estrutura social de que faz parte. Cada homem
passa a ser responsável pelos destinos do mundo.
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outros”, (21) partindo deste fundamento, a liberdade de ação do empresário o torna
mais responsável ainda pela realidade que ajuda a construir.
O conceito da empresa será decorrente dos atos que a mesma empreender; ou seja,
a empresa em si (sua essência) resultará daquilo que construiu, pela sua condição de
existência. Esta condição só é válida, no entanto, a partir do momento em que a
organização é vista como realidade humana, em constante transformação, pois como
disse Aristóteles: “(...) o homem é um principio motor de ações (...)”. (22)
Podemos dizer que a empresa, nos dias atuais, só sobreviverá se for legítima, se
for aceita pela ordem social. Para isto, faz-se necessário que ela reconheça sua
responsabilidade social e baseie sua filosofia de atuação no principio de utilidade. Se
não interagir com o meio, não conseguirá compreender o que dela se espera e não
oferecerá ao público condições de efetivamente avaliá-la. A política de “low profile”
deve ser substituída o quanto antes pela adoção de uma abordagem organizacional
enquanto sistema aberto.
Referência Bibliográfica
1. HABERMAS, Jürger. Mudança Estrutural da Esfera Pública: investigações quanto a uma categoria da
sociedade burguesa, 1984, p. 42.
2. Id., ibid., p. 46.
3. ANDRADE, Cândido Teobaldo de Souza. Psicossocio1ogia das Relações Públicas, 1989, p. 9.
4. Id., ibid., 1989, p. 14.
5. ANDRADE, Cândido Teobaldo de Souza. Curso de Relações Públicas, 1988, p. 20.
6. BJORK, Gordon C. A empresa privada e o interesse público: os fundamentos de uma economia
capitalista. 1971, p.17-18.
7. WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, 1967, p. 33.
8. MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã, 1991, p. 27.
9. Id., ibid., p. 28.
10. Id., ibid., p. 37.
11. Id., ibid., p.36.
12. BJORK, Gordon, op. cit., p. 31.
13. Id., ibid., p. 50.
14. BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no Pensamento de Kant, 1984, p. 50.
15. KANT, Emmanuel. Critica da Razão Prática, s/d, p. 135.
16. BOBBIO, Norberto, op. cit., p. 78.
17. KANT, Emmanuel. Fundamentação. Apud BOBBIOI, Norberto, op. cit., p. 85.
18. SARTRE, Jean-Paul. “O Existencialismo é um Humanismo”, 1987, p. 18.
19. SARTRE, Jean-Paul. “O Existencialismo é um Humanismo”. Apud BORNHEIM, Sartre - Metafísica
e Existencialismo, 1984, p. 127.
20. Id., ibid., p. 125.
21. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Contrato Social, 1977, p. 10.
22. ARISTOTELES. Ética a Nicômaco, Livro III, 1113 a., p.86.
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Bibliografia
ANDRADE, Cândido Teobaldo de Souza. Psicossocio1ogia das Relações Públicas. 2ª ed. SP: Loyola,
1989.
__________________________ . Curso de Relações Públicas. 4ª ed. SP: Atlas, 1988.
ARISTOTELES. Ética a Nicômaco. SP: Nova Cultural, 1987.
BJORK, Gordon C. A Empresa Privada e o Interesse Público: os fundamentos de uma economia
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BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no Pensamento de Emmannuel Kant. Brasília: Universidade de
Brasília, 1984. Coleção Pensamento Político, 63.
HABERMAS, Jürger. Mudança Estrutural da Esfera Pública: investigações quanto a uma categoria
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KANT, Emmanuel. Crítica da Razão Prática. RJ: Tecnoprint, s/d. Coleção Universidade, 60624.
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ROUSSEAU, Jean-Jacques. Contrato Social. Lisboa: Editorial Presença, 1977.
SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo – A Imaginação – Questão de Método.
3ª ed. SP: Abril Cultural, 1987.
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. SP: Pioneira, 1967.
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