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Aíssa Box Pira

Aspectos práticos na supervisão e inspecção da educação e instalações educativas em


Moçambique

Academia Militar "Marechel Samora Machel"


Nampula, 2023

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Aíssa Box Pira

Aspectos práticos na supervisão e inspecção da educação e instalações educativas em


Moçambique

Trabalho de carácter avaliativo da


cadeira de Pratica de Inspecção e
Supervisão Educativas, leccionado
por;

Docente: Agostinho Queba

Academia Militar "Marechel Samora Machel"

Nampula, 2023

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Introdução

Neste trabalho iremos abordar sobre os Aspectos práticos na supervisão e inspecção da


educação e instalações educativas em Moçambique Assim, iniciamos a nossa abordagem
fazendo a conceptualização da supervisão no ponto de vista de alguns autores e
posteriormente falaremos da história da supervisão na educação no contexto Moçambicano.

Objectivos

Objectivo Geral

 Conhecer os aspectos práticos na supervisão e inspecção da educação e instalações


educativas em Moçambique.

Objectivos Específicos

 Conceituar a supervisão
 Identificar aspectos práticos na supervisão e inspecção da educação e instalações
educativas em Moçambique.

Metodologia

A metodologia usado no presente trabalho, foi com base na leitura profunda de alguns
manuais, que posteriormente serão apresentando nas referências bibliográficas.

Estrutura

Em termos organizacionais, o presente trabalho está estruturado da seguinte maneira:

 Introdução;
 Desenvolvimento;
 Conclusão e;
 Bibliografia.

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Aspectos práticos na supervisão e inspecção da educação e instalações educativas em
Moçambique

Segundo Viera (2010 cit. em Cohen, 2014), a supervisão é entendida como sendo a teoria e
prática de regulação de processo e aprendizagem. De acordo com Alarcão & Tavares (2003
cit. em Cohen, 2014), a supervisão pedagógica é entendida como o processo em que um
professor, em princípio mais experiente e mais informado, orienta outro professor ou
candidato a professor no seu desenvolvimento humano (p.322).

Para Simbine (2009), a supervisão pedagógica resume-se na verificação superior das


actividades pedagógicas dos escalões relativamente inferiores, com o objectivo de verificar,
acompanhar, avaliar e apoiar a implementação do processo educativo, inteirando-se dos
avanços, problemas ou irregularidades que, durante o período lectivo, possam a estar a
ocorrer numa determinada instituição ligada ao ensino (p.13).

De acordo com Nérici (1974, cit. em Rolla. 2006), supervisão escolar é a visão sobre todo o
processo educativo, para que a escola possa alcançar os objectivos da educação e os
objectivos específicos da própria escola (p.15).

Segundo Barbosa & Mauride (2017 cit. em A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V. Laita & I.
Mussagy, 2017), na prática é difícil falar de inspecção sem que se fale de supervisão e vice-
versa, visto serem processos indissociáveis. O que diferencia a inspecção da supervisão é o
facto de a supervisão ser mais constante e regular que a inspecção. Segundo estes autores, a
supervisão centra-se na orientação e aconselhamento dos professores, enquanto a inspecção
preocupa-se com a avaliação do cumprimento da norma e a observância dos padrões no
funcionamento das instituições educacionais, propondo medidas para os infractores (p.91).

Como vimos anteriormente, o conceito de supervisão pedagógica é polissémico, ou seja,


possui vários significados de acordo com a visão de cada autor. Nesta perspectiva,
seguidamente vamos abordar sobre a história da supervisão na educação no contexto
moçambicano.

A supervisão em Moçambique tem que ser enquadrada antes de mais na evolução do sistema
da educação (Mazula, 1995, Cipriano, 2011, cit. em A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V.
Laita & I. Mussagy, 2017).

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No período colonial (1845-1974), foi fortemente marcado por uma educação virada aos
interesses coloniais, sobretudo para a produção de matérias-primas para as indústrias
portuguesas. Neste período houve forte aliança entre o regime colonial português e a igreja
católica. Na inspecção escolar colonial, o inspector tinha a autonomia de tomar medidas
punitivas contra os infractores da lei referente à educação. Tais medidas consistiam na
suspensão imediata e expulsão, muitas vezes por causa das irregularidades tais como: falta ao
serviço, postura não adequada e a não planificação das aulas (Barbosa & Mauride, 2017 cit.
em A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V. Laita & I. Mussagy, 2017).

No período da luta de libertação nacional, sobretudo nas zonas libertadas, a Frelimo havia
implantado um projecto de educação para os seus guerrilheiros. Nestes locais a educação era
marcada por falta de quadros, professores sem preparação psicopedagógicas e sem
supervisores (Mazula, 1995 cit. em A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V. Laita & I.
Mussagy, 2017). Neste âmbito, nas zonas libertadas passou a vigorar uma espécie de
interajuda, ou seja, os professores faziam de supervisores uns aos outros de modo a
melhorarem a qualidade das aulas que ministravam.

Segundo Mazula (1995 cit. em A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V. Laita & I. Mussagy,


2017). No período do governo de transição (1974-1975) a educação em Moçambique foi
marcada pela transição da inspecção escolar colonial para a inspecção que se pretendia depois
da independência, ou seja, uma inspecção que visava controlar as políticas do Sistema
Nacional de Educação (SNE) (p.83).

Após a proclamação da independência nacional a 25 de Junho de 1975, a Frelimo assumiu o


poder político. No âmbito da implantação do seu governo, concretamente em 1978, através
do diploma ministerial 76/ de 11 de Setembro, o Ministério de Educação e Cultura (MEC)
criou a Inspecção Geral da Educação e Cultura (Barbosa & Mauride, 2017 cit. em A. G.
Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V. Laita & I. Mussagy, 2017).

Portanto, em 1978 foram criadas as Comissões de Apoio Pedagógico (CAP’s) que passaram a
actuar tanto ao nível central do Ministério de Educação, quanto no provincial, nas Direcções
Provinciais de Educação e Cultura (DPEC). Nesta perspectiva, cabia a CAPs supervisionar o
processo da divulgação e implementação dos desígnios e ideais da educação no novo
panorama político e ideológico criado pela independência nacional. As CAPs funcionaram
até 1987 e congregavam professores de diversas áreas curriculares e níveis educacionais.
(Selimane, 2015, p.96).

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Contudo, antes da implantação do SNE, isto é no período entre (1975-1982) a inspecção e a
supervisão eram realizadas pelos técnicos das Direcções de Educação e Cultura, considerando
ainda um momento de transição da inspecção escolar colonial (Barbosa & Mauride, 2017 cit.
em A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V. Laita & I. Mussagy, 2017).

No âmbito da reestruturação da educação, a Lei 4/83 vai marcar um período de introdução do


SNE, considerado na altura como um instrumento político-ideológico e motor de
desenvolvimento (Barbosa & Mauride, 2017 cit. em A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V.
Laita & I. Mussagy, 2017).

Em 1991, através do Diploma Ministerial 46/91 de 29 de Maio é aprovado/ criado o


Regulamento da Inspecção da Educação (RIE), onde se enquadra a estrutura como: inspecção
pedagógica, administrativa e financeira. Ao nível provincial a inspecção esta instituída na
DPEC, nos distritos até às escolas, enquanto a supervisão pedagógica ao nível distrital é
coordenada pela repartição de educação geral, que é uma estrutura do Serviço Distrital da
Educação, Juventude e Tecnologia (SDEJT) ao abrigo do Decreto 6/2006 de 12 de Abril que
cria SDEJT. (Barbosa & Mauride, 2017 cit. em A. G.

Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V. Laita & I. Mussagy, 2017). Com a nova Constituição da


República de Moçambique (CRM) aprovada em 1990, verifica-se várias transformações a
nível social, político e económico. O sector da educação não ficou alheio a estas mudanças. A
aprovação da Lei 6/92 de 12 de Abril vai reformar o SNE que vigorou entre (1983-1991). Na
perspectiva de consolidar a supervisão em Moçambique, decorreu entre 24 de Agosto a 3 de
Outubro de 1992, em Maputo, a primeira Formação em Exercício de Supervisão Pedagógica
(FESP), esta conferência contou com mais de cinquenta formandos, dentre técnicos
pedagógicos, inspectores e instrutores provinciais (Selimane, 2015, p.66).

Assim, na segunda metade da década de 1990, o ensino secundário dava claros sinais de se
estar expandindo e poder vir de expandir ainda mais, o que vinha originando desfalques na
formação, afectação, acompanhamento e apoio do trabalho dos professores. Foi neste âmbito,
que a partir de 1997, a Direcção Nacional do Ensino Secundário Geral (DNESG) e as DPEC,
ambas do Ministério de Educação (MINED), iniciaram o processo de implementação do
Sistema de Supervisão Pedagógica Provincial, cujo primeiro passo se iniciou com a disciplina
de Inglês, no âmbito da implementação do projecto do ensino do inglês. (Selimane, 2015,
p.76).

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Selimane (2015), refere que a colocação da Supervisão Educacional (SE) em quase apenas
tarefas viradas para o apoio pedagógico, criou por assim dizer, uma espécie de monopólio do
saber sobre essa área por parte dos técnicos pedagógicos. Mas no ciclo governativo 2000-
2005, acentua-se o discurso da descentralização, o que motivou aimplementação duma
supervisão integrada ou multissectorial (p.95). Este autor afirma ainda, que a partir dai,
paulatinamente se passou a assistir a diluição do foco da supervisão educacional, expandindo
a sua área de actuação e abrindo espaço à participação de profissionais não providos de
docência (p.95).

A resolução n° 1/2011, de 14 de Abril, aprova o estatuto orgânico do MINED. Das áreas de


actividades do MINED compreende: a supervisão, controle e regulamentação da educação no
território Moçambicano. Segundo esta resolução, a estrutura do MINEDcompreende a
Direcção Nacional de Formação de Professores (DNFP), que dentre as várias funções,
promove e coordena a formação de gestores de escolas e dos inspectores de educação.

Destaca-se ainda, as funções da Direcção de Gestão e Garantia da Qualidade, que tem como
tarefa principal, fazer a supervisão às instituições do sector de educação no âmbito da
melhoria da qualidade de ensino. (Barbosa & Mauride, 2017 cit. em A. G. Barbosa, M. N.
Ibraimo, M. S. V. Laita & I. Mussagy, 2017).

A expansão do ensino superior em Moçambique contribuiu para a aprovação do decreto


27/2011, que estabelece as normas e procedimentos da realização da actividade de inspecção
às Instituições de Ensino Superior (IES). A actividade de inspecção das IES compreende dois
tipos, nomeadamente: ordinária e extraordinária (MINED, 2012).

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Conclusão

Como verificamos ao longo do trabalho, a supervisão na área da educação em Moçambique


sempre esteve associada ao regime político vigente. No período colonial, vigorou mais a
inspecção do que a supervisão propriamente dita. No período da luta de libertação nacional, a
supervisão caracterizou-se por uma interajuda, ou seja, devido a falta de professores
formados e com prática psicopedagógica, cada professor supervisionava as aulas do outro. No
período pós-independência, a Frelimo adoptou o regime socialista, e foi atribuída também a
educação o papel de formar o homem novo, dotado de ideologias revolucionárias, socialistas
e anticoloniais. É neste âmbito, que a supervisão/inspecção estava virada para a difusão e
cumprimento das ideologias marxistas-leninistas. No âmbito da democratização em vigor no
país, a supervisão passou a ser integrada ou multissectorial. Aliado a isto, devido a crescente
expansão do ensino superior, a inspecção nesta área passou a ser interna e externa.

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Referências bibliográficas

Barbosa, A. G. & Mauride, F. (2017). A Supervisão e a Inspecção no Enquadramento Legal


da Educação em Moçambique. In: A. G. Barbosa, M. N. Ibraimo, M. S. V.

Laita & I. Mussagy (Coords.), Desafios da Educação: Leituras Actuais. Nampula,


Moçambique: Década das palavras, pp.73-94.

Cohen, M. A. (Org.). (2014). Supervisão. Liderança e Cultura de Escola. Mangualde,


Portugal: Pedago.

Ministério da Educação (2012). Colectânea de Legislação do Ensino Superior. Maputo,


Moçambique: MINED

Rolla, L. C. (2006). Liderança Educacional: Um Desafio Para o Supervisor Escolar.


Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Faculdade de Educação. Porto Alegre, Brasil. Selimane, R. (2015). A Supervisão


Educacional de Moçambique: Entre Centralismo.

Burocrático e a Descentralização Democrática. Tese de Doutoramento, Pontifícia


Universidade Católica de São Paulo, Brasil.

Simbine, R. J. (2009). Guia prático do supervisor pedagógico. Maputo, Moçambique:


Alcance Editores.

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