Você está na página 1de 7

Nota: 9,5/10

EXPERIMENTO 08
Birrefringência

Dayvison Costa
Ítalo Figueiredo

Objetivo do experimento
Investigar fenômenos de birrefringência em calcita e acrílico. Estudar efeitos de placas ½ e
¼ de onda.

1. Introdução
A birrefringência é um fenômeno ótico que ocorre em materiais anisotrópicos, ou seja,
materiais cujas propriedades físicas não são as mesmas em todas as direções como cristais de calcita
e polímeros como acrílico. Esses materiais apresentam o índice de refração dependente da direção
em relação a orientação de sua rede cristalina, ou seja, a luz incidente pode experimentar diferentes
índices de refração. Os dois índices principais de refração são o ordinário no e o extraordinário ne. A
birrefringência Δn é definida pela diferença entre índices principais de refração de um material
como Δn = ne – no (1).
Quando incidimos sobre um material um feixe de luz polarizado linearmente de forma que o
campo elétrico faz um ângulo ϴ com o eixo y conforme mostrado na Figura 1 a seguir:

Figura 1 – Diagrama da propagação de um feixe de luz linearmente polarizada em um cristal


birrefringente.

FONTE: Guia de Laboratório AII, Departamento de Física – UFMG

Podemos escrever o campo elétrico incidente como:

E = (Exsenϴx + Eysenϴy)cos(kz – ꞷt) (2)

onde x e y são direções perpendiculares à direção de propagação da luz incidente z e as componentes do


campo elétrico nessas direções são dadas por E X e EY. Enquanto esse feixe atravessa esse cristal de
espessura d, as componentes do campo elétrico se propagam linearmente independentes, uma na direção
do eixo ótico e outra perpendicular a ele. Eles estarão sujeitas a diferente índices de refração e,
consequentemente, terão diferentes velocidades de propagação. Essas componentes sofrerão uma
variação de fase ao entrar no material que pode ser expressa por:

δo = nokd e δe = nekd (3)


Percebemos que a diferença de fase varia à medida que a onda se propaga no meio do
material, resultando em uma defasagem final que depende da espessura do material. Podemos,
portanto, construir lâminas que controlem a defasagem entre as componentes do campo, gerando
ondas com diferentes estados de polarização. Podemos escrever uma expressão para a
birrefringência do material sendo como:

Δ n= δ λ (4).
2π d

2. Parte experimental

2.1 Materiais utilizados


• Laser;
• Cristal de Calcita;
• Placas de ½ e ¼ de onda;
• Polarizadores com goniômetro;
• Anteparo;
• Peça de acrílico.

2.2 Procedimentos e discussões


Dividimos os procedimentos experimentais em três partes: na parte A, observamos o
fenômeno da birrefringência em um cristal de calcita; na parte B, estudamos a polarização da luz e o
funcionamento de placas de meia onda e quarto de onda; na parte C, nos aprofundamos na relação
de equivalência entre a combinação das placas λ/4 e a λ/2; e na parte C, observamos a
birrefringência em uma placa de acrílico.

Parte A:
A calcita tem alta birrefringência ( Δ n=0,172), o que torna possível a observação do
fenômeno a olho nu. Traçamos uma cruz em uma folha de papel e colocamos o cristal de calcita
sobre o desenho. Observamos que, olhando através do material, o desenho aparece duplicado. A
separação entre as linhas se dá pela separação do raio de luz incidente em duas componentes, em
razão da diferença entre os módulos dos índices de refração ordinário e extraordinário. A Figura 2
mostra o observado e esquematiza a separação do feixe de luz incidente.
Figura 2: O feixe de luz incidente sobre a calcita se divide em duas componentes em razão dos
diferentes índices de refração, conforme mostrado à direita. Isso resulta na imagem duplicada da
cruz observada na imagem à direita. (legenda)

Ao girarmos o cristal, percebemos que a imagem de uma das cruzes permanece fixa,
enquanto a outra gira em torno da primeira. Encontramos dois pontos onde um dos eixos duplicados
desaparece, como mostrado na Figura 3. Esses pontos correspondem aos eixos ópticos ordinário e
extraordinário da calcita, especificados nas linhas em vermelho.

Figura 3: Na imagem à esquerda, apenas o eixo vertical está duplicado, de maneira que o eixo
óptico está na horizontal. Na imagem à direita, apenas o eixo horizontal está duplicado, de modo
que o eixo óptico está na vertical.

Em seguida, observamos o cristal através de um polarizador. Girando o polarizador,


percebemos que, para certos ângulos, quando o eixo de polarização do polarizador coincide com um
dos eixos ópticos, a imagem duplicada desaparece totalmente, enquanto que, para ângulos
intermediários, a imagem das cruzes duplicadas se tornam menos ou mais intensas. Isso acontece
porque a luz que sai do cristal está polarizada em diferentes direções, mais especificamente, em
direções ortogonais entre si, em razão da diferença de fase entre os campos elétricos dos dois raios
de luz que se propagam na calcita, por sua vez gerada pelos diferentes índices de refração. Assim,
ao colocarmos o polarizador, estamos selecionando a polarização da luz emergente da calcita.

Parte B:
Segundo a Equação 3, a diferença de fase δ é proporcional à espessura d do material
birrefringente, ou seja, alterando a espessura, podemos manipular a diferença de fase. Para uma
placa de um quarto do comprimento de onda (λ/4), a diferença de fase é π/2, de maneira que,
quando a luz linearmente polarizada (em um ângulo de 45º com o eixo y) passa pela placa, a luz
emergente tem polarização circular. Para uma placa de meio comprimento de onda (λ/2), temos δ =
π, de modo que, quando a luz linearmente polarizada passa pela placa, ela sai também com
polarização linear, porém a direção dessa polarização é espelhada em relação ao eixo óptico.
Posicionando os eixos das placas λ/4 na mesma direção, obtemos o mesmo efeito de uma
placa λ/2. Isso porque a luz incidente sofre uma mudança de fase δ1 = π/2 ao passar pela primeira
placa. Ao passar pela segunda, o feixe sofre novamente uma mudança de fase δ2 = π/2. A mudança
de fase total é δp = δ1 + δ2 = π. Por outro lado, posicionando os eixos das placas λ/4 em direções
perpendiculares entre si, o efeito das placas é anulado, já que, enquanto uma das placas adianta a
fase do feixe em π/2, a outra placa atrasa a fase na mesma intensidade, gerando uma diferença de
fase nula.
Para comprovarmos essas considerações, procedemos da seguinte maneira: posicionamos
dois polarizadores, com seus eixos cruzados, entre um laser e um anteparo, de maneira que o feixe
sofre total extinção ao passar pela combinação de polaroides. Colocamos uma placa λ/4 entre os
polarizadores e observamos que a luz que passa pelo primeiro polaroide e, em seguida, pela placa
torna-se circularmente polarizada, de maneira que a intensidade da luz no anteparo aumenta, já que
a direção de polarização da luz que incide no segundo polaroide não é mais perpendicular ao seu
eixo de polarização. Inserimos outra placa λ/4 próxima à primeira, atentando para que os eixos
estivessem perpendiculares entre si. Notamos que a luz no anteparo volta a se extinguir. Concluímos
que, ao colocarmos duas placas λ/4 com seus eixos cruzados, o efeito das placas é anulado.
Depois, colocamos a placa λ/2 entre os polarizadores, com seu eixo posicionado de modo a
manter a extinção no anteparo. Em seguida, removemos a placa λ/2 e, em seu lugar, colocamos uma
placa λ/4 com seu eixo na mesma direção que o eixo da placa λ/2. A intensidade da luz no anteparo
aumenta, como explicado no parágrafo anterior. Então, posicionamos outra placa λ/4 próxima à
primeira, dessa vez com seus eixos paralelos. O resultado é que a extinção volta a ocorrer.
Concluímos que a junção de duas placas λ/4 com seus eixos paralelos equivale a uma placa λ/2. Isso
será explorado com mais atenção na parte C.

Parte C:
Mais uma vez, posicionamos dois polarizadores, com seus eixos cruzados, entre um laser e
um anteparo, de maneira que o feixe de luz sofresse total extinção ao passar pela combinação de
polaroides. Colocamos uma placa λ/2 entre dois polarizadores, com seu eixo direcionado tal que a
extinção da luz se mantém. Giramos o ângulo θ1 da placa e observamos que a intensidade da luz no
anteparo cresceu. Então, giramos o segundo polarizador de um ângulo θ2 de modo que extinção da
luz retornou. Coletamos vários pares de valores de θ1 e θ2 para os quais a extinção ocorria e
dispomos esses valores na Tabela 1.

ϴ1 ϴ2

10º 21º

15º 30º

20º 41º

25º 55º

30º 64º

35º 73º

40º 84º

45º 96º

50º 105º

55º 116º

60º 126º

65º 136º

70º 147º
75º 158º

80º 165º

85º 173º

90º 180º
Tabela 1: valores do ângulo ϴ1 da placa λ/2 e do ϴ2 do segundo polaroide para os quais a extinção
ocorre.

Produzimos um gráfico (Figura 4) de θ2 em função de θ1 e obtemos a inclinação da reta A =


θ2/θ1= 2,03 +- 0,02.

Figura 4: Gráfico de ϴ2 em função de ϴ1 para a placa λ/2.

Repetimos o mesmo processo, substituindo a placa λ/2 por duas placas λ/4 com seus eixos
paralelos. Os pares de θ1 (ângulo das duas placas λ/4) e θ2 obtidos estão dispostos na Tabela 2.

ϴ1 ϴ2

10º 21º

15º 31º

20º 48º

25º 54º

30º 64º

35º 73º

40º 81º

45º 96º
50º 101º

55º 112º

60º 120º

65º 132º

70º 140º

75º 155º

80º 164º

85º 173º

90º 180º
Tabela 2: valores do ângulo ϴ1 das placas λ/4 e do ângulo ϴ2 do segundo polaroide para os quais a
extinção ocorre.

O gráfico produzido é mostrado na Figura 5. A inclinação da reta é A=θ2/θ1=1,98 +- 0,02

Figura 5: Gráfico de ϴ2 em função de ϴ1 para a combinação paralela de placas λ/4.

Vemos que a inclinação das duas retas coincidem, mais uma vez comprovando a
correspondência entre a placa λ/2 e a combinação paralela de duas placas λ/4.

Parte D:
Novamente, posicionamos dois polarizadores, com seus eixos cruzados, entre um laser e um
anteparo, de maneira que o feixe de luz sofresse total extinção ao passar pela combinação de
polaroides. Colocamos a peça de acrílico entre os polarizadores e giramos os dois polarizadores no
mesmo sentido até obter a posição onde a extinção ocorre novamente. Assim, encontramos os eixos
ópticos do acrílico, que estão aproximadamente nas direções vertical e horizontal da área da placa
sobre a qual o feixe de luz incide.
Em seguida, fizemos o laser incidir com a luz linearmente polarizada a aproximadamente
45º do eixo vertical do acrílico. Observamos que feixe de laser através do acrílico se torna visível
pelo espalhamento causado pelos defeitos microscópicos do acrílico. Devido à birrefringência do
material, o espalhamento das duas componentes do feixe incidente é diferenciado. Dessa forma, o
feixe de luz dentro do material possui regiões mais escuras, correspondentes a uma luz linearmente
polarizada na direção do observador, e outras mais claras, correspondentes a uma luz cuja direção
de polarização é perpendicular à direção de observação.
Medimos a distância D entre 6 mínimos e dividimos pelo número de mínimos contidos no
intervalo observado, obtendo assim a distância média d entre eles:
poderiam ter uma foto e
−2 colocado no relatório!!!
d =( 4,3±0,1) x 10 m ,

em que a incerteza foi calculado pelo método do erro padrão da média.


A diferença de fase entre os mínimos é δ = 2 π e o comprimento de onda da luz do laser é λ
= 632,8nm. Substituindo esses valores na Equação 4, temos:
−5
Δ n=(1,49±0,02) x 10

Onde a incerteza foi calculada pelo método das derivadas parciais Δ(Δ n)= λ ⋅Δ d . Percebemos que

o valor encontrado ao longo desse processo está dentro da faixa da ordem de grandeza para maioria
dos materiais birrefringentes.
Uma das dificuldades desse experimento que enfrentamos foi que o acrílico estudado estava
já bem desgastado e manuseado, além de que seu suporte não o fixava bem, entretanto, pelos
resultados, conseguimos extrair bastante do experimento.

3. Conclusão
Pelos objetivos do experimento já citados, consideramos que conseguimos atingi-los.
Pudemos analisar de maneira qualitativa e quantitativa do fenômeno da birrefringência para os dois
materiais disponíveis, estudando também a polarização desses feixes. Os resultados obtidos foram
satisfatórios e adequados; o comportamento dos feixes estão de acordo com o fenômeno, a curva
obtida se ajusta satisfatoriamente aos dados obtidos, que estão de acordo com o esperado
teoricamente, além do valor de sua birrefringência. Concluímos que conseguimos extrair muito da
prática realizada.

Você também pode gostar