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Nota: 10/10

EXPERIMENTO 6
Dispersão da luz em um prisma
Dayvison Costa
Ítalo Figueiredo
Objetivos: com o auxílio de um espectroscópio, determinar o índice de refração
de um prisma para diferentes comprimentos de onda e, a partir dos valores
obtidos, determinar qual é o material e estudar sua curva de dispersão, obtendo
também a força de oscilador e a frequência de ressonância.
1. Introdução
Os metais são bons refletores, ou seja, eles não conduzem a luz, mas
refletem em sua superfície. Isso ocorre porque o metal possui íons livres nos
metais, assim quando uma onda eletromagnética tenta penetrar no interior do
metal (de maneira geral um condutor), os elétrons se reorganizam de forma a
expulsar o campo elétrico; sem campo elétrico também não há campo
magnético, culminando na não propagação da onda.
Já em materiais dielétricos esse fenômeno não ocorre, já que seus
elétrons são presos ao núcleo. Assim, a luz se propaga no interior do material
com uma velocidade v menor que a velocidade de propagação 𝑐 da luz no vácuo.
Essa redução vem da resposta das partículas carregadas do material. De
maneira geral, essa velocidade de propagação dependerá da frequência da luz.
Quando a luz vem do vácuo e penetra um material transparente com
índice de refração 𝑛, ela será refratada conforme a lei de Snell:

sin 𝜃𝑖 = 𝑛 sin 𝜃𝑟 1.1

onde os índices 𝑖 e 𝑟 se referem aos raios incidente e refratado, respectivamente.


Em geral, o índice de refração depende do comprimento da onda 𝜆 da luz. Essa
dispersão ocorre justamente pela resposta das cargas elétricas do meio à
presença do campo da luz. Quando a frequência é maior que as frequências de
ressonância dos elétrons, estes não respondem mais e o meio se aproxima ao
vácuo com respeito à dispersão. Entre as ressonâncias, o índice de refração
cresce com a frequência, enquanto próximo a tais valores, temos o
comportamento inverso. Chamamos esses comportamentos de dispersão
normal e dispersão anômala. Justamente por causa da dispersão, a luz se
decompõe espectralmente quando passa por um prisma.
Quando o campo elétrico interage com um material dielétrico, existem
vários mecanismos possíveis para que o meio se polarize. Devemos levar em
conta a possibilidade de que moléculas polares podem se reorientar de modo a
se alinharem com o campo e os íons podem vibrar na frequência da onda
eletromagnética incidente; esses mecanismos de polarização envolvendo
núcleos e moléculas ocorrem sempre para frequências abaixo do visível, devido
a sua grande inércia. Tendo em conta isso, podemos derivar uma expressão
para o índice de refração 𝑛 de um meio em função da frequência 𝜔 da luz
incidente a nível atômico. Temos então a seguinte relação:

𝜔2 1
(𝑛2 − 1)−1 = − 2 2
+ 2 1.2
𝑓 𝜔0 𝑓

onde 𝑓 = 𝑁𝑒 2 /(𝜔0 2 𝜀0 𝑚𝑒 ) é chamada de “força de oscilador” e representa


fisicamente a contribuição de transição eletrônica para o índice de refração 𝑛(𝜔),
ou seja, quão alta é a probabilidade de transição para a absorção na ressonância
e 𝜔0 é frequência de ressonância.
2. Respostas das questões levantadas na apostila
Questão 1:
Consideremos a situação onde o feixe de luz, após ser refratado em uma
das faces do prisma se propaga paralelamente à face oposta ao vértice de
ângulo 𝐴, conforme representado na Figura 2.1.

Figura 2.1: Representação esquemática de um raio de luz incidindo sobre o prisma para a
determinação do ângulo A.

Nessa situação, notamos que 𝐴 + 2𝐴′ = 180° e 𝐴′ + 𝜃2 = 90°. Isolando


𝐴′ em ambas as equações e comparando-as, obtemos:
180° − 𝐴
= 90° − 𝜃2
2
180° − 𝐴 = 180° − 2𝜃2
𝐴
𝜃2 =
2 2.1

Além disso, 𝑅 + 2𝑅 ′ = 180° e 𝑅 + 𝛿𝑚𝑖𝑛 = 180°. Logo:

𝑅 + 2𝑅 ′ = 𝑅 + 𝛿𝑚𝑖𝑛
2𝑅 ′ = 𝛿𝑚𝑖𝑛
𝛿𝑚𝑖𝑛
𝑅′ =
2 2.2

Substituindo 2.2 em 2.1, obtemos:

𝛿𝑚𝑖𝑛 + 𝐴
𝜃1 =
2 2.3

𝛿𝑚𝑖𝑛 + 𝐴
𝜃1 =
2
Considerando o índice de refração do ar 𝑛𝑎𝑟 = 1, temos, Pela Lei de
Snell:,

sin 𝜃1 = 𝑛 sin 𝜃2

Substituindo 2.1 e 2.3 nessa equação, finalmente provamos a relação


descrita no roteiro da prática experimental:

𝛿𝑚𝑖𝑛 + 𝐴
sin ( )
2 2.4
𝑛=
𝐴
sin ( 2 )

Questão 2:
Consideremos o feixe de luz incidindo sobre o prisma segundo a
configuração da Figura 2.2. Percebemos que, considerando as três retas
𝑅
verticais paralelas, 2 = 𝑏1 + 𝑏2 . Também, 𝐴 = 𝑎1 + 𝑎2 . Como o raio incidente e
o refletido devem formar o mesmo ângulo com a normal, e, portanto, o mesmo
ângulo com a superfície do prisma, 𝑎1 = 𝑏1 e 𝑎2 = 𝑏2 . Ou seja, 𝑎1 + 𝑎2 = 𝑏1 + 𝑏2 .
Logo:

𝑅
=𝐴
2

𝑅 = 2𝐴 2.5
Figura 2.2: Representação esquemática da luz incidindo sobre o
prisma, com a reta que passa pelo vértice de ângulo A paralela ao
feixe incidente.

3. Experimento
Primeiramente, determinamos o valor de 𝐴. Para isso, posicionamos o
prisma com o vértice de ângulo 𝐴 direcionado ao feixe de luz que sai pelo centro
do espectroscópio e medimos os ângulos 𝜑1 e 𝜑2 . Repetimos o processo 5 vezes
e tomamos a média dos valores de 𝜑1 e 𝜑2 no intuito de, pela combinação da
Equação 2.5 e da relação 𝑅 = 𝜑1 − 𝜑1 , calcular 𝐴.
Em seguida, posicionamos o prisma segundo a configuração apresentada
na Figura 3.1 e, assim, conseguimos observar as raias espectrais da luz emitida.
Figura 3.1: Representação esquemática do posicionamento do prisma para a medição
dos ângulos das raias à esquerda.

Medimos os ângulos 𝛿𝑚𝑖𝑛 à esquerda do eixo por onde passa a luz que
sai do espectroscópio para as seguintes raias cujos comprimentos de onda são
mostrados na Tabela 3.1. Os ângulos foram medidos no ponto de retorno das
raias.
Tabela 3.1: Cores das raias e seus respectivos comprimentos de onda

Cor da raia 𝜆(𝑛𝑚)


Vermelho (fraco) 690,720
Amarelo (forte) 579,070
Amarelo (forte) 576,962
Verde (forte) 546,070
Verde-azul (médio) 491,600
Azul (forte) 435,830
Violeta (médio) 407,780

A seguir, posicionamos os prisma em configuração semelhante à


mostrada na Figura 3.2 e medimos novamente os ângulos 𝛿𝑚𝑖𝑛 à direita para as
mesmas raias da Tabela 3.1.
Figura 3.2: Representação esquemática do posicionamento do prisma para a medição
dos ângulos das raias à esquerda.

Tomamos a média dos ângulos medidos à esquerda e à direita para cada


uma das cores e, assim, determinamos o 𝛿𝑚𝑖𝑛 correspondente a cada raia.
De posse dos valores de 𝐴 e 𝛿𝑚𝑖𝑛 obtidos, calculamos, por meio da
Equação 2.4, o índice de refração 𝑛 do prisma para cada cor especificada e
produzimos um gráfico do índice de refração em função do comprimento de
onda. Comparando esse gráfico ao da Figura 6.1 apostila, identificamos o
material do qual o prisma é composto.
Após descobrirmos o valor de 𝑛 para cada uma das cores, pudemos
4𝜋 2 𝑐 2
calcular os respectivos valores de 𝜔2 , a partir da 𝜔2 = . Então, produzimos
𝑛 2 λ2
um gráfico linearizado de (𝑛2 − 1)−1 em função de 𝜔2 , com o qual obtemos 𝜔0 e
𝑓 a partir da comparação entre os parâmetros do ajuste linear e a Equação 1.2.
4. Resultados
Os valores de 𝜑1 e 𝜑2 medidos estão dispostos na Tabela 4.1:
Tabela 4.1: ângulos 𝜑2 e 𝜑1 medidos

𝑖 𝜑2 𝜑1
1 127°27′ 235°10′
2 126°20′ 234°10′
3 129°30′ 232°10′
4 127°35′ 235°25′
5 129°25′ 237°15′

O valor do menor ângulo é:


𝝋𝟐 = (𝟏𝟐𝟖° ± 𝟏°)
E o do maior ângulo é:
𝝋𝟏 = (𝟐𝟑𝟓° ± 𝟐°)
As incertezas foram calculadas pelo desvio padrão, dado, nesse caso, por
∑5𝑖=1(𝜑𝑖 −𝜑
̅ )2
𝐷=√ ., onde 𝜑𝑖 , com i variando de 1 a 5, são os valores dos ângulos
5
medidos para cada caso e 𝜑̅ é a média aritmética desses valores.
O valor do ângulo 𝐴 é, portanto:
𝑨 = (𝟓𝟒° ± 𝟒°)
sendo a incerteza obtida pelo método das derivadas parciais.
Os ângulos 𝛿𝑚𝑖𝑛 medidos à esquerda e à direita para cada um dos
comprimentos de onda observados, bem como a média desses dois valores,
estão dispostos na Tabela 4.2:
Tabela 4.2: ângulos medidos 𝛿𝑚𝑖𝑛 medidos e suas médias para cada comprimento de onda.

𝜆(𝑛𝑚) 𝛿𝑚𝑖𝑛 (direita) 𝛿𝑚𝑖𝑛 (esquerda) 𝛿𝑚𝑖𝑛 (médio)


690,720 47°30′ 47°30′ 47°30′
579,070 48°25′ 48°21′ 48°22′
576,962 48°27′ 48°21′ 48°23′
546,070 48°50′ 48°45′ 48°47′
491,600 49°40′ 49°38′ 49°39′
435,830 51°00′ 51°00′ 51°00′
407,780 52°10′ 52°05′ 52°07′

O índice de refração para cada comprimento de onda analisado é:


Tabela 4.3: Índice de refração para cada comprimento de onda

𝜆(𝑛𝑚) 𝑛
690,720 1,7057
579,070 1,7163
576,962 1,7165
546,070 1,7213
491,600 1,7316
435,830 1,7475
407,780 1,7605

O gráfico de 𝑛 em função de lambda é apresentado na Figura 4.1.


Figura 4.1: Gráfico do índice de refração em função do comprimento de onda.

O material que compõe o prisma, segunda a Figura 6.1 da apostila, é o


dense flint glass.
A Tabela 4.4 mostra os valores de (𝑛2 − 1)−1 e seus correspondentes 𝜔2
para cada um dos índices de refração encontrados.
Tabela 4.4: valores de (𝑛2 − 1)−1 e 𝜔2 para cada índice de refração.

𝑛 (𝑛2 − 1)−1 𝜔2 (1030 )


1,7057 0,52372 2,55972
1,7163 0,51395 3,59711
1,7165 0,51377 3,6226
1,7213 0,50945 4,02154
1,7316 0,50039 4,90324
1,7475 0,48691 6,12539
1,7605 0,47633 6,89411

E o gráfico de (𝑛2 − 1)−1 em função de 𝜔2 é mostrado na Figura 4.2.


Comparando-se a equação do ajuste linear, na forma 𝑌 = 𝐴𝑋 + 𝐵, com a
1 1
Equação 1.2, percebe-se que 𝐵 = 𝑓2 , isto é, 𝑓 = . Substituindo o valor de 𝐵
√𝐵
fornecido no gráfico da Figura 4.2., tem-se:
𝒇 = (𝟏, 𝟑𝟒 ± 𝟎, 𝟎𝟏)
Sendo a incerteza obtida pelo método das derivadas parciais. Também
−1 −1
nota-se que 𝐴 = 𝑓2 𝜔 2, isto é, 𝜔0 = √𝐴𝑓2. Substituindo os valores conhecidos e
0

dividindo por 2𝜋, para que a frequência seja dada em Hz, obtemos:
𝝎𝟎 = (𝟏, 𝟓 ± 𝟎, 𝟏) ∙ 𝟏𝟎𝟏𝟓 𝑯𝒛
Sendo a incerteza obtida pelo método das derivadas parciais. No espectro
das ondas eletromagnéticas, essa frequência corresponde ao ultravioleta.

Figura 4.2: gráfico linearizado de (n2 − 1)−1 em função de ω2 .

5. Conclusão
O experimento permitiu estudar o comportamento do índice de refração
do prisma para diversos comprimentos de onda diferentes. Os objetivos
estabelecidos previamente foram atingidos: o índice de refração de cada
comprimento de onda foi determinado, o que possibilitou a construção de um
gráfico do índice em função do comprimento; o material do prisma foi
identificado; o gráfico linearizado de (𝑛2 − 1)−1 em função de 𝜔2 foi produzido e,
a partir dele, calculamos a força de oscilador e a frequência de ressonância do
prisma, que está na faixa do ultravioleta. Sendo os resultados satisfatórios,
concluímos que a prática foi efetiva para o estudo da curva de dispersão do
material do prisma.

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