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Unicentral / Faculdade de Ciências Sociais e Tecnologia – FACISTEC

Credenciada pela Portaria Nº 2.095 de 05 de dezembro de 2019.

AULA 07 – DIREITO ROMANO

INTRODUÇÃO

A grosso modo, podemos dizer que o Direito Romano é o


conjunto de normas jurídicas desse povo, desde sua fundação, em 753 A.C. até
a compilação feita por Justiniano no século VI D.C.

No entanto, a compreensão do direito romano vai além de uma


mera compilação de normas, uma vez que o direito romano, mais do qualquer
norma jurídica de qualquer povo da antiguidade, moldou o que entendemos
hoje por Direito, por república, e por Estado de Direito.

Podemos até mesmo afirmar, sem muito medo de errar, que


toda a ciência jurídica moderna tem como base princípios, regras e noções
jurídicas criadas e estabelecidas pelos romanos.

Para tanto, basta vermos a definição de direito trazida pelo


Digesto: “iuris praecepta sunt haec: honete vivere, alterum non ladere, suum cuique tribuere”,
que quer dizer basicamente que: “os preceitos do direito são estes: viver
honestamente, não lesar ninguém, e dar a cada um o que é seu”.

Outro exemplo da influência dos princípios criados pelos


romanos é símbolo do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, que,
dentre outros simbologias extraídas do Direito romano, traz estampado o
princípio acima descrito, de que a sua função seria a de “dar a cada um o que é
seu”.

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Além disso, a própria simbologia da Justiça, como


personificação de uma mulher de olhos vendados, com uma balança e uma
espada em suas mãos foi herdada da cultura Romana, que tinha na Deusa
Justitia, a personificação do Direito.

Tal imagem é utilizada ainda hoje, conforme podemos verificar


na entrada do Supremo Tribunal Federal brasileiro, deixando clara a influência
e a importância da ciência e simbologia jurídicas de Roma ainda hoje.

Justitia STF

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Para facilitar o estudo, bem como para melhor compreender o


processo histórico de sua formação, a história do Direito Romano é dividida
em três períodos: a) Período arcaico, também chamado de pré-clássico, b)
período clássico, c) período pós-clássico.

PERÍODO ARCAICO

Esse período vai desde a fundação de Roma em 753 A.C. até o


século II A.C., abarcando o período histórico da realeza e da República.

Como já estudado na aula anterior, em que nos aprofundamos


na História de Roma, vimos que no período da Realeza, e em boa parte da
República, a vida social e política de Roma se concentrava no agrupamento
familiar, ou seja, nas gens, em que o patriarca, ou seja, o patrício, possuía poder
quase que absoluto na vida dos membros de sua família.

Nesse período, então, o direito romano se caracteriza por


intenso formalismo, rigidez e ritualismo, visto que existia para manter o poder
do pater familis.

Nesse período, o cidadão era visto antes como membro de um


grupo familiar do que como cidadão do Estado.

De fato, como nos demonstra Thomas Marky, citado por Flávia


Lages de Castro:

“O Estado tinha funções limitadas a questões essenciais para sua


sobrevivência: guerra, punição dos delitos mais graves e, naturalmente, a
observância das regras religiosas.”

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O principal marco jurídico desse período se deu entre 451 A.C


a 450 A.C, com a edição da Lei das XII Tábuas, resultado de disputas internas
e revoltas da Plebe.

Essa legislação foi o primeiro código de leis escritas de Roma e


se trata de uma compilação de regras costumeiras. Apesar de ter ficado pouco
tempo em vigência, foi considerada, em toda a História de Roma como a fonte
de todo o direito (fons omnis publici privatique iuris).

A LEI DAS XII TÁBUAS

Em resposta à convulsão social na revolta da plebe, além da


necessidade de se elaborar uma codificação de leis que estivessem alinhadas
com a nova ordem política (República), os patrícios entregaram a dez homens,
chamados de “decênviros”, o dever de criação de leis de equiparação, gravadas
em lâminas de bronze e expostas no Fórum de Roma para todos pudessem ler
e ter conhecimento da legislação agora vigente.

A delegação viajou até a Grécia para colher o que fosse mais


importante da legislação helênica, na época ainda em vigor o Código de Sólon.
Sobre a presidência de Ápio, teriam elaborado 10 tábuas de leis, mas o trabalho
estava incompleto e foi organizado um novo decenvirado para redigir mais duas
tábuas que faltavam, essas duas tábuas seriam complementos para as outras dez.

A Lei das XII Tábuas era dividida em temas, assim descritos:

Tábuas I e II - Organização e procedimento judicial; Tábua III -


Normas contra os inadimplentes; Tábua IV - Pátrio poder; Tábua V - Sucessões
e tutela; Tábua VI - Propriedade; Tábua VII - Delitos; Tábua VIII - Direitos
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prediais; Tábua IX - Direito público; Tábua X - Direito sagrado; Tábuas XI e


XII - Complementares.

Atualmente, conhece-se quase que a totalidade do conteúdo das


XII tábuas:

TÁBUA PRIMEIRA
Do chamamento a Juízo

1. Se alguém e chamado a Juízo, compareça.


2. Se não comparece, aquele que o citou tome testemunhas e o prenda.
3. Se procurar enganar ou fugir, o que o citou pode lançar mão sobre (segurar)
o citado.
4. Se uma doença ou a velhice o impede de andar, o que o citou, lhe forneça
um cavalo.
5. Se não aceitá-lo, que forneça um carro, sem a obrigação de dá-lo coberto.
6. Se se apresenta alguém para defender o citado, que este seja solto.
7. O rico será fiador do rico; para o pobre qualquer um poderá servir de
fiador.
8. Se as partes entram em acordo em caminho, a causa está encerrada.
9. Se não entram em acordo, que o pretor as ouça no comitium ou no forum e
conheça da causa antes do meio-dia, ambas as partes presentes.
10. Depois do meio-dia, se apenas uma parte comparece, o Pretor decida a
favor da que está presente.
11. O pôr do sol será o termo final da audiência.

TÁBUA SEGUNDA
Dos julgamentos e dos furtos

1. ... cauções... subcauções ... a não ser que uma doença grave ... um voto ...,
uma ausência a serviço da república, ou uma citação por parte de estrangeiro,
dêem margem ao impedimento; pois se o citado, o juiz ou o árbitro, sofre
qualquer desses impedimen-tos, que seja adiado o julgamento.
2. Aquele que não tiver testemunhas irá, por três dias de feira, para a porta da
casa da parte contrária, anunciar a sua causa em altas vozes injuriosas, para
que ela se defenda.
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3. Se alguém comete furto à noite e é morto em flagrante, o que matou não


será punido.
4. Se o furto ocorre durante o dia e o ladrão é flagrado, que seja fustigado e
entregue como escravo à vítima. Se é escravo, que seja fustigado e precipitado
do alto da rocha Tarpéia.
5. Se ainda não atingiu a puberdade, que seja fustigado com varas a critério do
pretor, e que indenize o dano.
6. Se o ladrão durante o dia defende-se com arma, que a vítima peça socorro
em altas vozes e se, depois disso, mata o ladrão, que fique impune.
7. Se, pela procura cum lance licioque, a coisa furtada é encontrada na casa de
alguém, que seja punido como se fora um furto manifesto.
8. Se alguém intenta ação por furto não manifesto, que o ladrão seja
condenado no do-bro.
9. Se alguém, sem razão, cortou árvore de outrem, que seja condenado a
indenizar à razão de 25 asses por árvore cortada.
10. Se transigiu com um furto, que a ação seja considerada, extinta.
11. A coisa furtada nunca poderá ser adquirida por usucapião.

TÁBUA TERCEIRA
Dos direitos de crédito

1. Se o depositário, de má fé, pratica alguma falta com relação ao depósito,


que seja condenado em dobro.
2. Se alguém coloca o seu dinheiro a juros superiores a um por cento ao ano,
que seja condenado a devolver o quádruplo.
3. O estrangeiro jamais poderá adquirir bem algum por usucapião.
4. Aquele que confessa dívida perante o magistrado ou é condenado, terá 30
dias para pagar.
5. Esgotados os 30 dias e não tendo pago, que seja agarrado e levado à
presença do magistrado.
6. Se não paga e ninguém se apresenta como fiador, que o devedor seja levado
pelo seu credor e amarrado pelo pescoço e pés com cadeias com peso até o
máximo de 15 libras, ou menos, se assim o quiser o credor.
7. O devedor preso viverá à sua custa, se quiser; se não quiser o credor que o
mantém preso dar-lhe-á por dia uma libra de pão ou mais, a seu critério.
8. Se não há conciliação, que o devedor fique preso por 60 dias, durante os

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quais será conduzido em 3 dias, de feira ao comitium, onde só proclamará em


altas vozes, o valor da divida.
9. Se são muitos os credores, é permitido, depois do terceiro dia de feira,
dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quantos sejam os credores, não
importando cortar mais ou menos; se os credores preferirem, poderão vender
o devedor a um estrangeiro, além do Tibre.

TÁBUA QUARTA
Do pátrio poder e do casamento

1. É permitido ao pai matar o filho que nasce disforme, mediante o


julgamento de cinco vizinhos.
2. O pai terá sobre os filhos nascidos de casamento legítimo o direito de vida
e de morte e o poder de vendê-los.
3. Se o pai vendeu o filho 3 vezes, que esse filho não recaia mais sob o poder
paterno.
4. Se um filho póstumo nasceu até o décimo mês após a dissolução do
matrimônio, que esse filho seja reputado legitimo.

TÁBUA QUINTA
Das heranças e tutelas

1. As disposições testamentárias de um pai de família sobre os seus bens ou a


tutela dos filhos terão a força de lei.
2. Se o pai de família morre intestado, não deixando herdeiro seu (necessário),
que o agnado mais próximo seja o herdeiro.
3. Se não há agnados, que a herança seja entregue aos gentis.
4. Se um liberto morre intestado, sem deixar herdeiros seus, mas o patrono ou
os filhos do patrono a ele sobrevivem, que a sucessão desse liberto transfira
ao parente mais próximo na família do patrono.
5. Que as dividas ativas e passivas sejam divididas entre os herdeiros, segundo
o quinhão de cada um.
6. Quanto aos demais bens da sucessão indivisa, os herdeiros, poderão
parilhá-los, se assim o desejarem; para esse fim o pretor poderá indicar 3
árbitros.
7 Se o pai de família morre sem deixar testamento, ficando um herdeiro seu

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impúbere, que o agnado mais próximo seja o seu tutor.


8. Se alguém torna-se louco ou pródigo e nato tem tutor, que a sua pessoa e
seus bens, sejam confiados à curatela dos aguados e, se não há agnados, à dos
gentis.

TÁBUA SEXTA
Do direito de propriedade e da posse

1. Se alguém empenha a sua coisa ou vende em presença de testemunhas, o


que prometeu tem força de lei.
2. Se não cumpre o que prometeu, que seja condenado em dobro.
3. O escravo a quem foi concedida a liberdade por testamento, sob a condição
de pagar uma certa quantia, e que é vendido em seguida, tornar-se-á livre se
pagar a mesma quantia ao comprador.
4. A coisa vendida, embora entregue, só será adquirida pelo comprador depois
de pago o preço.
5. As terras serão adquiridas por usucapião depois de dois anos de posse, as
coisas mó-veis depois de um ano.
6. A mulher que residiu durante um ano em casa de um homem, como se fora
sua esposa, é adquirida por esse homem e cai sob o seu poder, salvo se se
ausentar da casa por 3 noites.
7. Se uma coisa é litigiosa, que o pretor a entregue provisoriamente àquele que
detém a posse; mas se se tratar da liberdade de um homem que está em
escravidão, que o pretor lhe conceda a liberdade provisória.
8. Que a madeira utilizada para a construção de uma casa, ou para amparar
videira, não seja retirada só porque o proprietário a reivindica; mas aquele que
utilizou a madeira que não lhe pertencia, seja condenado a pagar o dobro do
valor; e se a madeira é destacada da construção ou do vinhedo, que seja
permitido ao proprietário reivindicá-la.
9. Se alguém quer repudiar a sua mulher, que apresente as razões desse
repúdio.

TÁBUA SÉTIMA
Dos delitos

1. Se um quadrúpede causa qualquer dano, que o seu proprietário indenize o

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valor desse dano ou abandone o animal ao prejudicado.


2. Se alguém causa um dano premeditadamente, que o repare.
3. Aquele que fez encantamentos contra a colheita de outrem;
4. ou a colheu furtivamente à noite antes de amadurecer ou a cortou depois de
madura, será sacrificado a Ceres.
5. Se o autor do dano é impúbere, que seja fustigado a critério do pretor e
indenize o prejuízo em dobro.
6. Aquele que fez pastar o seu rebanho em terreno alheio;
7. E o que intencionalmente incendiou uma casa ou um monte de trigo perto
de uma casa, seja fustigado com varas e em seguida lançado ao fogo;
8. Mas se assim agiu por imprudência, que repare o dano; se não tem recursos
para isso, que seja punido menos severamente do que se tivesse agido
intencionalmente.
9. Aquele que causar dano leve indenizará 25 asses.
10. Se alguém difama outrem com palavras ou cânticos, que seja fustigado.
11. Se alguém fere a ourem, que sofra a pena de Tailão, salvo se houver
acordo.
12. Aquele que arrancar ou quebrar um osso a outrem deve ser condenado a
uma multa de
300 asses, se o ofendido é um homem livre; e de 150 asses, se o ofendido é
um escravo.
13. Se o tutor administra com dolo, que seja destituído como suspeito e com
infâmia; se causou algum prejuízo ao tutelado; que seja condenado a pagar o
dobro ao fim da gestão.
14. Se um patrono causa dano a seu cliente, que seja declarado sacer (podendo
ser morto como vítima devotada aos deuses).
15. Se alguém participou de uma ato como testemunha ou desempenhou
nesse ato as funções de libripende, e recusa dar o seu testemunho, que recaia
sobre ele a infâmia e ninguém lhe sirva de testemunha.
16. Se alguém profere um falso testemunho, que seja precipitado da rocha
Tarpéia.
17. Se alguém matou um homem livre e empregou feitiçaria e veneno, que seja
sacrificado como o último suplício.
18. Se alguém matou o pai ou a mãe, que se lhe envolva a cabeça e seja
colocado em um saco costurado e lançado ao rio.

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TÁBUA OITAVA
Dos direitos prediais

1. A distância entre as construções vizinhas deve ser de dois pés e meio.


2. Que os sodales (sócios) façam para si os regulamentos que entenderem,
contando que não prejudiquem o público.
3. A área de cinco pés deixada livre entre os campos limítrofes não pode ser
adquirida por usucapião.
4. Se surgem divergências entre possuidores de campos vizinhos, que o pretor
nomeie três árbitros para estabelecerem os limites respectivos.
5. Lei incerta sobre limites
6. ... jardim ..........
7. ... herdade ..........
8. ... choupana ..........
9. Se uma árvore se inclina sobre o terreno alheio, que os seus galhos sejam
podados à altura de mais de 15 pés.
10. Se caem frutos sobre o terreno vizinho, o proprietário da árvore tem o
direito de colher esses frutos.
11. Se a água da chuva retida ou dirigida por trabalho humano, causa prejuízo
ao vizinho, que o pretor nomeie 3 árbitros, e que estes exijam, do dono da
obra, garantias contra o dano iminente.
12. Que o caminho em reta tenha oito pés de largura e o em curva tenha
dezesseis.
13. Se aqueles que possuem terrenos vizinhos a estrada não. os cercam, que
seja permitido deixar pastar o rebanho à vontade. (Nesses terrenos).

TÁBUA NONA
Do direito público

1. Que não se estabeleçam privilégios em leis. (Ou: que não se façam leis
contra indivíduos).
2. Aqueles que foram presos por dívidas e as pagaram, gozam dos mesmos
direitos como se não tivessem sido presos; os povos que foram sempre fiéis e
aqueles cuja defecção foi apenas momentânea gozarão de igual direito.
3. Se um juiz ou um árbitro indicado pelo magistrado recebeu dinheiro para
julgar a favor de uma das partes em prejuízo de outrem, que seja morto.

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4. Que os comícios por centúrias sejam os únicos a decidir sobre o estado de


um cidadão (vida, liberdade, cidadania, família).
5. Os questores de homicídio ...
6. Se alguém promove em Roma assembléias noturnas, que seja morto.
7. Se alguém insuflou o inimigo contra a sua Pátria ou entregou um
concidadão ao inimi-go, que seja morto.

TÁBUA DÉCIMA
Do direito sacro

1. ....... do juramento.
2. Não é permitido sepultar nem incinerar um homem morto na cidade.
3. Moderai as despesas com os funerais.
4. Fazei apenas o que é permitido.
5. Não deveis polir a madeira que vai servir à incineração.
6. Que o cadáver seja vestido com três roupas e o enterro se faça acompanhar
de dez tocadores de instrumentos.
7. Que as mulheres não arranhem as faces nem soltem gritos imoderados.
8. Não retireis da pira os restos dos 05505 e um morto, para lhe dar segundos
funerais, a menos que tenha morrido na guerra ou em país estrangeiro.
9. Que os corpos dos escravos não sejam embalsamados e que seja abolido
dos seus funerais o uso de bebida em tomo do cadáver.
10. Que não se lancem licores sobre a pira de incineração nem sobre as cinzas
do morto.
11. Que não se usem longas coroas nem turíbulos nos funerais.
12. Que aquele que mereceu uma coroa pelo próprio esforço ou a quem seus
escravos ou seus cavalos fizeram sobressair nos jogos, traga a coroa como
prova do seu valor, assim como os seus parentes, enquanto o cadáver está em
casa e durante o cortejo.
13. Não é permitido fazer muitas exéquias nem muitos leitos fúnebres para o
mesmo morto.
14. Não é permitido enterrar ouro com o cadáver; mas se seus dentes são
presos com ouro, pode-se enterrar ou incinerar com esse ouro.
15. Não é permitido, sem o consentimento do proprietário levantar uma pira
ou cavar novo sepulcro, a menos de sessenta pés de distância da casa.
16. Que o vestíbulo de um túmulo jamais possa ser adquirido por usucapião,

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assim o próprio túmulo.

TÁBUA DÉCIMA PRIMEIRA

1. Que a última vontade do povo tenha força de lei.


2. Não é permitido o casamento entre patrícios e plebeus.
3. ..... Da declaração pública de novas consecrações.

TÁBUA DÉCIMA SEGUNDA

1. ..... do penhor ......


2. Se alguém fez consagrar uma coisa litigiosa, que pague o dobro do valor da
coisa consagrada.
3. Se alguém obtém de má fé a posse provisória de uma coisa, que o pretor,
para pôr fim ao litígio, nomeie três árbitros, e que estes condenem o
possuidor de má fé a restituir o dobro dos frutos.
4. Se um escravo comete um furto, ou causa algum dano, sabendo-o o
patrono, que seja obrigado esse patrono a entregar o escravo, como
indenização, ao prejudicado.

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PERÍODO CLÁSSICO

Esse período, que vai do século II A.C até o século III D.C.,
perpassa a transição da república para o Império, e foi o auge do Direito
Romano como também de seu desenvolvimento.

Nesse período, principalmente na fase imperial, o Poder do


Estado foi centralizado e, no direito, dois personagens ganham destaque, sendo
eles os magistrados pretores e jurisconsultos.

Os pretores cuidavam da primeira fase do processo entre


particulares, verificando as alegações e fixando os limites da contenda. Seu
amplo poder de mando, denominado imperium, lhes dava discrição para negar
ações propostas ou admitir ações até então desconhecidas pelo ius civile. Suas
reformas e inovações pretendidas eram publicadas em editos, ao início de seu
mandato de um ano, e estes se sucediam num corpo estratificado e finalmente
codificado por volta de 130 d.C., sendo este direito pretoriano intitulado ius
honorarium.

Numa analogia aos nossos tempos, pode-se comparar os editos


pretorianos às súmulas de jurisprudência que complementam o direito positivo;
mas eram mais poderosos, dado que, mesmo sendo formalmente considerados
diferentes do ius civile, na prática eles o substituíram.

Instruindo o pretor os juristas sobre as particularidades da


apreciação do caso, estes adaptavam as regras às novas exigências, via uma
interpretação jurisprudencial similar à que encontramos nos tribunais de hoje,
conquanto mais ampla. Aos juristas de maior prestígio deram-se o nome, na
época de Augusto, de jurisconsultos, cujo parecer tinha força obrigatória,

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excetuando quando conflitantes entre si. Seu método era casuístico, avesso a
abstrações e generalizações, como é próprio a este período romano.

Já prenunciando a onda de compilações que se veria no período


pós-clássico, no ano de 130 publicou-se uma compilação de todos os Éditos,
ou seja, dos julgados. Essa compilação recebeu o nome de Edito perpetuo.

PERÍODO PÓS-CLÁSSICO

Nesse período, do século III até o século D.C, o Direito


Romano não teve grandes inovações, vivia-se do legado da fase áurea.

Talvez esse declínio de produção e desenvolvimento seja


reflexo do próprio período, já que se passa durante o Baixo Império, em que se
agravaram as diversas crises que culminaram na queda do Império romano.

Foi nesse período que o direito vulgarizou-se, não em um


sentido pejorativo, mas sim no sentido de se tornar mais amplo e popular.

Com isso, sentiu-se a necessidade de fixar-se definitivamente as


regras por meio de uma codificação que, a princípio, era muito mal vista pelos
romanos, já que, após a codificação da Lei das XII Tábuas, os romanos sentiam
que uma codificação não seria necessária.

Houve então várias tentativas pouco sucedidas de se compilar


o direito então vigente, como o Codex Gregorianus, o Codex Hermogenianus, o Codex
Theodosianus.

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No entanto, foi somente após a queda do Império Romano do


Ocidente que Justiniano, então Imperador do Oriente, conseguiu empreender
tal intento.

A Codificação Justiniana, que recebeu o nome de Corpus Iuris


Civilis, é considerada conclusiva, mesmo porque praticamente todos os códigos
modernos trazem a marca dessa obra.

O Corpus Iuris Civilis é composto por quatro obras: O Codex, o


Digesto ou Pandectas, as Institutas, e as Novelas.

O Codex foi completado em 529 e reúne a coleção completa das


Constituições Imperiais, já o Digesto, também conhecido como Pandectas, foi
terminado em dezembro de 533 e traz uma compilação das jurisprudências, as
Institutas, terminadas em novembro de 533 se trata de um manual de estudo do
direito, e, por último, as Novelas, que trata da publicação das novas leis editadas
pelo próprio Imperador Justiniano.

Com a edição do Codex, proibiu-se a invocação de qualquer lei


que não estivesse ali descrita. No entanto, como se pode observar até mesmo
pela edição das Novelas, reservou-se ao Imperador o direito de editar novas leis.

Justiniano
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FONTES DO DIREITO ROMANO

COSTUME

Por certo, o costume é a fonte mais antiga de qualquer Direito,


e com o romano não seria diferente.

Os romanos o chamavam de consuetudo e, mais frequentemente,


de mores, sendo esta, inclusive, a raiz da palavra “moral”.

Assim, dado o sentido que os romanos davam ao costume, de


intensa ligação à moral, o costume não era entendido como simples fonte do
Direito, mas também como um padrão de comportamento a ser seguido por
todo “bom romano”.

Esse padrão de comportamento era inclusive ligado à noção de


cidadania e requisito para exercício dos poderes políticos, e seu desvio poderia
ser denunciado por um censor.

A importância de se seguir os costumes se percebe na análise


do chamado mos maiorum, no plural mores maiorum, que eram os costumes dos
ancestrais.

O seguimento ou não desses costumes poderiam servir como


exaltação ou degradação de um indivíduo durante um julgamento.

Para melhor entendimento, podemos citar a Fides, que pode ser


entendida como o cumprimento da palavra dada.

Sua importância era tamanha que a Fides era personificada na


mitologia romana como uma deusa, até mais velha que o próprio Júpiter, dando
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a noção de que a Fides, ou seja, o cumprimento de um juramento seria a base


da sociedade ou da ordem política.

A Fides, qualidade imprescindível do bom romano, existe no


direito ao menos desde a publicação da Lei das XII Tábuas.

Moeda Romana em homenagem à Fides

Já a Pietas era o item do Mores maiorum que justificava o poder


do pater famílias, visto que ela se define como um sentimento de obrigação para
com aqueles a quem o homem está ligado, seja pelo sangue, pela política, seja
através do dever para com os deuses, a pátria e a família.

O Gravitas, cuja etimologia remete a “peso”, posteriormente


adquiriu o sentido de designar uma “personalidade ética”.

Era uma das qualidades mais utilizadas para a defesa de um


indivíduo no Tribunal. Era usada no sentido de indicar que um homem era
sério, compenetrado.

O Religio e Cultus, eram vinculados ao verbo latino religare,


“atar”, “religar-se”, religio é a união entre deuses e mortais, tal como acontece
nas práticas religiosas tradicionais para preservar a pax deorum (“paz dos

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deuses”). Cultus era a observância constante e a realização correta dos rituais. A


prática religiosa neste sentido deve se distinguir da pietas e moralidade a ela
inerente.

A Disciplina é oriunda da raiz militar da sociedade romana, e


demonstra sua relação com a educação, treinamento, disciplina e autocontrole.
A disciplina também era personificada na mitologia romana como uma deusa,
tradicionalmente cultuada por militares.

Virtus deriva da palavra latina vir, que significa “homem”.


Assim, a ideia de virtus está intimamente ligada ao que se entenderia como a
idealização do homem romano. Como descrita por Lucílio, a virtus era atingida
quando um homem soubesse o que é bom, mal, inútil, vergonhoso ou
desonroso.

Virtus também foi personificado como um deus na mitologia


romana.

Moeda romana em homenagem à Virtus

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Por sua vez, as Dignitas e auctoritas constituem o resultado final


do exercício do mos maiorum e simbolizam o ideal de cidadão romano, bem como
do magistrado e servidor público.

Dignitas era conseguida por mérito, honra e apreço. Assim, um


romano que demonstrava sua gravitas, constantia, fides, pietas e outros valores
apropriados a um romano possuía dignitas entre seus iguais. De forma
semelhante, através desta via, um romano podia obter a auctoritas (“prestigio e
respeito”).

Se bem exercido o mos Maiorum, ao romano era dedicado o honor,


que era o reconhecimento público de mérito, bem como a Gloria, como sendo
só possível o seu alcance a homens de bem.

LEIS E PLEBISCITOS

Para o direito romano, a palavra lex tem significado mais amplo


do que se tem modernamente. Para eles, a lex indica uma deliberação de vontade
com efeitos obrigatórios. Dessa forma, fala-se para uma cláusula de um contrato
em leges privatae (leis privadas).

Para referir-se ao estatuto de uma cidade os romanos flavam em


lex colegii.

Para deliberações dos órgãos do Estado (com o mesmo sentido


moderno), os romanos aplicavam o termo Lex Publica.

No período republicano há duas espécies de leis dependendo


de onde se origina: a Lex Rogata e a Lex Data. A Lex Data era a lei proveniente
do senado ou de algum magistrado.

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Já as Leges Rogatae eram as leis votadas pelos cidadãos romanos


(populus romanus) reunidos em Comícios e eram propostas pelos magistrados
e somente entravam em vigor após a ratificação pelo Senado.

Caso essa aprovação fosse feita somente pelos Plebeus (parte


da sociedade romana) nos Plebiscitos, eram válidas, a princípio, somente para
os próprios plebeus, porém, após a lei Hortênsia de 286 A.C.1, as decisões do
Plebiscito tinham força de lei para a sociedade como um todo.

EDITO DOS MAGISTRADOS

Como visto na aula anterior, a magistratura em Roma possuía


significado diverso do atual, estando mais ligada ao que entendemos hoje por
Poder Executivo, abarcava diversos cargos públicos ligados à administração da
cidade, como também aos responsáveis pela administração da justiça, como no
dos pretores.

O pretor, ao iniciar seu mandato, publicava um edicta, para


tornar pública a maneira pela qual administraria a justiça durante o ano de seu
mandato.

Como nos ensina CORREI, citado por Flávia Lages de Castro:

“Da etimologia da palavra (e – dicere) se deve deduzir que, em sua origem,


tais comunicações eram orais: mas o edito era transcrito a tinta em tábuas
pintadas de branco (donde o nome de labum) com letras pretas e cabeçalhos

1
A Lex Hortensia de plebiscitiis, conhecida em português apenas como Lei Hortênsia,
foi uma lei outorgada pelo ditador Quinto Hortênsio depois da terceira secessão da
plebe da República Romana em 287 a.C., que determinou que todas as resoluções
aprovadas pelos plebeus no Concílio da plebe (o plebiscito) adquirissem força de lei e,
portanto, aplicassem para todos os cidadãos sem requerer a aprovação do senado romano
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vermelhos (rubricae) e afixado no fórum, onde pudesse facilmente (de plano)


ser lido.”

Com os Editos, os Pretores acabavam criando novas normas e


estas acabavam por estratificar-se, visto que os Pretores que entravam
utilizavam-se largamente das experiências bem-sucedidas dos Editos dos
Pretores anteriores. Esses Editos eram chamados Edictum Tralacium e eram
diferenciados dos Editos que continham inovações propostas pelo Pretor,
chamados Edictum Repentinum.

O resultado desses Editos foi um corpo estratificado de regras,


que eram aceitas e copiadas pelos pretores que se sucediam, e que, finalmente,
por volta de 130 D.C., foram compiladas e codificadas pelo Jurista Sálvio
Juliano, por ordem do Imperador Adriano.

No entanto, o direito pretoriano, também chamado de Ius


Honorarium, nunca foi equiparado ao Ius Civile, até mesmo porque, conforme
regra prevista no direito romano, ao pretor era proibido criar direito (praetor
ius facere nos potest).

Portanto, o ius honorarium sermpre foi considerado inferior ao


ius civile, mesmo que, por vezes, o tenha substituído.

Sálvio Julinao
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JURISCONSULTOS

No início da História de Roma, como em vários outros povos


da antiguidade, o Direito se confundia com a religião, e as decisões jurídicas e
interpretações da lei também eram atribuições dos sacerdotes.

No entanto, a partir do século IV A.C., o Direito passou a ser


atribuição dos jurisconsultos.

Com destaque no período clássico do Direito Romano, os


jurisconsultos exerceram papel fundamental para o desenvolvimento do
Direito, destacando-se pelos seus estudos profundos e sistemáticos, sua
importância era tamanha que se pode até mesmo dizer que formaram uma
verdadeira aristocracia intelectual.

Também conhecidos como prudentes, os jurisconsultos tinham


como atribuição indicar as formas dos atos processuais aos magistrados e às
partes.

Aqui, cumpre ressaltar que eles não atuavam diretamente na


causa, cuidando somente da “administração” do processo, indicando a forma e
os limites que o processo deveria tomar.

Essas indicações e instruções recebiam o nome de agere.

No entanto, os jurisconsultos também auxiliavam na elaboração


e escrita de instrumentos jurídicos, que, em vista do formalismo exigido,
necessitava de particular competência, a qual era chamada de cavere. Era ainda
da parte do Jurisconsulto a obrigação do respondere, que consistia em emitir
pareceres jurídicos sobre questões a pedido de particulares e magistrados.

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Até pelo menos o fim da República, a atividade dos


Jurisconsultos não era utilizada como fonte do direito, tinha apenas valor para
o caso específico apresentado a ele. Entretanto, a partir do século I A.C., com
Augusto, seus pareceres passaram a ter força de lei, mesmo porque os
Jurisconsultos passaram a responder ex autoritate principis, ou seja, com a mesma
autoridade do Príncipe.

A jurisprudência passou, então, como fonte do direito, a ser um


dos elementos mais importantes para o desenvolvimento profundo pelo qual o
Direito Romano passou. Nas palavras de um grande Jurisconsulto romano:

“Iuris prudentia est divinarum atque humanarum rerum notitia, iusti


atque iniústi scientia – Jurisprudência é o conhecimento das instituições divinas e
humanas, a ciência do justo e do injusto.”2

Apesar do prestígio e da importância do cargo, os


Jurisconsultos não recebiam remuneração, exercendo tal função gratuitamente,
recebendo somente fama, reconhecimento e destaque social.

SENATUS-CONSULTUS

Senatus-Consultus eram deliberações do senado mediante


proposta dos magistrados; estas somente passam a ser fonte de lei após o
Principado (século I A.C.), portanto, somente após esse período, os senatus-
consultus podem ser considerados como fontes do direito.

No período anterior, ou seja, na República, o Senado não


legislava, entretanto indiretamente influenciava o Direito, à medida que

2
Ulpiano, Dig 1,1,10,2.
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aconselhava os magistrados para que seguissem determinadas prescrições na


administração da justiça.

Quando, no Império, os imperadores passaram a centralizar


mais fortemente o poder, os senatus-consultus passaram a ser somente um
formalismo que era desejado pelo Imperador, quando este queria fazer valer
uma decisão que era impopular, para, dessa forma, livrar-se do ônus político.

Senatus Consultus

CONSTITUIÇÕES IMPERIAIS

A partir do século II, depois do Imperador Adriano, as decisões


dos Imperadores passaram a ser fontes do Direito.

Além disso, conforme se aumentava a centralização do poder,


o Imperador passou a substituir as outras fontes do Direito, para que, ao fim,

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as decisões do Imperador fossem consideradas como as únicas fontes do


Direito.

As providências legislativas do Imperador eram denominadas


de constitutiones, ou então de placita, e poderiam se dar na forma de: edicta, mandata,
decreta, ou rescripta.

• Edcta: deliberações de ordem geral. Caso não sejam


revogadas pelos seus sucessores, a edcta tem duração indefinida.
• Mandata: instruções dadas pelo imperador aos funcionários
imperiais e aos governadores de província, na qualidade de
chefe supremo. Seu caráter é, portanto, administrativo,
exercendo algumas vezes influência sobre o direito privado.
• Decreta: são decisões do Imperador proferidas em um
processo no exercício do supremo poder jurisprudencial que
este possuía (jurisdictio). O Princeps decidia em primeira instância
ou em grau de apelação. Os decretos eram aplicados e
estendidos pelos juristas e casos semelhantes.
• Rescripta: são respostas solicitadas ao Imperador a respeito
de casos jurídicos a ele submetidos pelos magistrados ou por
particulares.

DIVISÃO DO DIREITO ROMANO

São várias as divisões que o direito romano recebeu, estas se


dão pela origem de sua fonte, como meio de melhor organizar o seu estudo e
aplicação, ou até mesmo para delimitar o seu alcance público alvo, como no

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caso da primeira e principal divisão que aqui será estudada, a divisão entre Ius
Civile e Ius Gentium, assim explicados:

• Ius Civile: também conhecido como ius quiritum, é o direito


próprio do cidadão romano e exclusivo deste.
• Ius Gentium: é o direito universal, aplicável a todos os
homens livres, inclusive os estrangeiros. Para o jurista Gaio e
para Ulpiano, era um direito baseado na razão natural (naturalis
ratio), descrita segundo o brocardo Ius Gentium est, quo gentes
humanae untuntur (Direito das gentes é o que a razão natural
estabeleceu entre os homens).

Para tanto, considera-se como natural o que decorre das


qualidades físicas dos homens ou das coisas, como também o que corresponde
a uma ordem normal de interesses humanos e, por isso mesmo, não exige
justificações.

DIVISÃO BASEADA NA ORIGEM

Essa divisão é feita com base na fonte do direito, e é


estabelecida entre o Ius Civile, Ius Honorarium, e o Ius Extraordinarium.

• Ius Civile: era o Direito tradicional que provinha do costume,


das leis, dos plebiscitos e, na época imperial, dos senatus consultus
e das Constituições Imperiais.
• Ius Honorarium: era o Direito elaborado e introduzido pelos
pretores.

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• Ius Extraordinarium: era derivado da atividade jurisdicional


do Imperador na época do Império. O Imperador e seus
funcionários, tomando conhecimento das controvérsias
(cognitio) de forma diferente da ordem natural dos juízos (extra
ordinem), originaram todo um conjunto de normas.

DIVISÃO BASEADA NA APLICABILIDADE

Essa distinção se faz baseada em de que forma as regras podem


ou não ser aplicadas. Distingue-se, então, entre Ius Cogens e Ius Dispositivum.

• Ius Cogens: é a regra absoluta. Sua aplicação não depende da


vontade das partes interessadas. É o caso do Direito Público:
ius publicum privatorum pactis mutari non potest (o direito público não
pode ser alterado por acordo entre particulares).
• Ius Dispositivum: esse Direito admitia a expressão da vontade
dos particulares, as regras podiam ser modificadas ou postas de
lado de acordo com o desejo das partes.

DIVISÃO BASEADA NO SUJEITO

Dependendo da regra, se esta era aplicável a todos ou somente


a alguns, os romanos distinguiam o Ius Commune do Ius Singulare.

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• Ius Commune: é o conjunto de regras que regem de modo


geral uma série de casos normais. É a regra que se opõe à
exceção.
• Ius Singulare: são as regras que valem somente para uma
categoria de pessoas, grupos ou situações específicas. É
importante salientar que o Ius Singulare não é uma determinação
particular, válida somente a uma pessoa. Essa situação era
chamada no Direito Romano de Privilegium e não tinha o peso
do Ius Singulare.

CAPACIDADE JURÍDICA DE GOZO

Capacidade jurídica de gozo, atualmente denominada de


capacidade de direito, é a aptidão do indivíduo para ser sujeito de direitos e
obrigações.

Atualmente, ao menos na maioria dos países, todas as pessoas


possuem capacidade de direito, mas em Roma não era da mesma forma.

Em Roma havia uma série de precondições para que o homem


tivesse capacidade jurídica de gozo. Para ter completa capacidade de direito, era
necessário que a pessoa fosse livre (status libertatis), tivesse cidadania romana
(status civitatis) e fosse independente do pátrio poder de um patrício (status
familiae).

Tais requisitos serão melhor explicados.

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STATUS LIBERTATIS

Para ter capacidade jurídica o indivíduo tinha que ser livre.

Assim, escravos não eram sujeitos de direito, pois como já


estudado, escravo era considerado como posse, como propriedade, e não como
uma pessoa, os escravos eram somente objeto, e nunca sujeito, de direito.

Para os romanos, a condição de escravo poderia resultar de


aprisionamento de guerra, condenação penal, ou por dívidas.

No entanto, a escravidão por dívidas foi abolida pela Lei Licínia


Sextia (século IV A.C.).

Eram muitos os crimes pelos quais o indivíduo poderia ser


condenado à escravidão, como por exemplo a recusa ao recrutamento militar
ou se tentasse fugir do censo.

Nascia escravo o filho de escrava, independente da situação do


pai, ou seja, mesmo que o pai fosse um patrício, sendo a mãe escrava, a criança
seria nascida escrava. Tal regra foi relativizada no período pós clássico, quando
então se entendia que, caso a mãe tivesse ficado livre em qualquer momento da
gestação, mesmo que voltasse à condição de escrava no parto, a criança nasceria
livre.

Para todos os efeitos, o escravo era uma coisa (res) e, como tal,
não possuía personalidade, estando sujeito ao poder de seu senhor (dominica
potestas), esse poder, em sentido jurídico, tinha caráter absoluto, e se assemelhava
ao direito de propriedade de um bem móvel ou imóvel, inclusive ao tríplice
aspecto do direito de propriedade, quais sejam, o ius fruendi (direito de perceber
os frutos e os produtos da coisa, daí se considerar o filho da escrava como um
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escravo), de ius utendi (direito de utilizar-se da coisa), e de ius abutendi (direito de


dispor ou não dispor, de alienar etc.).

Além disso, o escravo não poderia contrair matrimônio legítimo


e todos os bens adquiridos por ele pertenciam ao senhor “quodcumque per servum
adquiritur id domino adquiritur” (tudo o que adquiriu pelo escravo é do dono).

No entanto, era comum que se permitisse ao escravo ter um


certo patrimônio, denominado de peculium, para que pudesse ter alguns bens ou
até mesmo pudesse, em alguns casos, exercer comércio.

Ao mesmo tempo em que uma pessoa poderia se tornar escava,


também poderia deixar de ser. Isso se dava por meio da manumissão
(Manumissio ou datio libertatis).

Tal instituto se tornou popular em Roma, não tanto pela


humanidade do senhor, mas pela possibilidade de que o trabalhador livre
poderia render mais ao patrício, mas também pela vaidade da elite romana, uma
vez que, em seus cortejos fúnebres eram acompanhados por todos aqueles que
o senhor libertou da escravidão.

A manumissão se dava por meio de três institutos jurídicos: a)


o censu; b) a vindicta; c) o testamento.

a) Censu: o escravo era inscrito, sempre com a


permissão do senhor, no registro censitário do censor como homem livre
vinculado ao patrício.
b) Vindcta: processo judicial no qual se discutia a
liberdade do escravo.

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c) Testamento: o escravo era libertado por meio de um


testamento, instituto previsto na Lei das XII Tábuas.

Além disso, haviam outras formas menos formais de se libertar


um escravo, que poderiam ser reconhecidas por um Pretor, como a manumissio
inter amicos (feita perante testemunhas e confirmada pelo pretor), a per mesa
(quando o senhor permitia ao escravo que se sentasse junto à mesa), per estipulam
(por escrito), per pileum (quando o senhor, de forma simbólica, colocava um
chapéu na cabeça do escravo).

No entanto, o escravo liberto, que era chamado de liberto, não


tinha os mesmos direitos das pessoas que nunca estiveram na condição de
escravo, que recebiam o nome de ingênuos.

Os direitos políticos dos escravos eram limitados e, no campo


do direito privado, o liberto encontrava-se na dependência de seu ex-dono.

STATUS CIVITATIS

A cidadania romana era condição imprescindível para a


capacidade jurídica plena. Os não-cidadãos (nascer em Roma não era garantia
de cidadania) e os estrangeiros podiam ter propriedade, fazer testamento, por
exemplo, mas pelas regras de sua cidade de origem. A aplicação a lei romana
era exclusiva para seus cidadãos.

Já os inimigos vencidos (peregrini dediticii) cujo direito e


independência não tivessem sido reconhecidos pelos romanos estariam
privados do uso de seu direito de origem.
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Era cidadão aquele que nascia de casamento válido pelo ius civile,
ou se a mãe fosse de família cidadã. Podiam tornar-se cidadãos os indivíduos
ou povos que recebessem a cidadania por lei ou por vontade do imperador.

A cidadania podia ser perdida através da Capitis Deminutio, que


era a diminuição ou perda dos direitos de cidadão. “Civili ratione capitis deminutio
morti coaequatur” (no Direito Civil, a perda da cidadania se equipara à morte).

STATUS FAMILIAE

A ideia de vínculo familiar para os romanos adquiria


importância maior que a que temos hoje.

Para os romanos, o status familiae determinava a capacidade


jurídica, uma vez que tais relações não se davam entre indivíduos, mas sim entre
grupos familiares, as gentes, e portanto, se referiam inteiramente ao chefe de cada
família.

Essa era a realidade do Direito Romano até a edição das Leis


das XII Tábuas, quando então passou a se reconhecer direitos políticos e civis
dos plebeus.

No entanto, o poder dos patrícios permanecia forte, e caso o


indivíduo fosse vinculado a um gens, não poderia gozar de plena capacidade
jurídica e civil, subordinando-se sempre à autoridade de seu patrício.

Não de outra forma, para uma completa capacidade jurídica era


preciso que o indivíduo fosse independente do pátrio poder (pátria potestas).

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Dentro da organização familiar romana, eram distintos dois


tipos de pessoas: os sui iuris – totalmente independentes, sem um pater famílias,
e os alien iuris – pessoas sujeitas ao poder de um pater famílias.

Para melhor entender, deve-se explicitar que a independência


do pátrio poder não tinha relação com a idade ou com o fato de se ter
paternidade, estava sim vinculado com o fato de se ter um ascendente direto
que exercia tal poder.

Assim, por exemplo, um recém nascido que não tivesse


ascendente masculino exercendo o pátrio poder, era independente do pátrio
poder.

Por outro lado, um ancião, com o pai ainda vivo e que nuca
tivesse sido emancipado, era alien iuris.

Os alien iuris não eram totalmente incapazes juridicamente. No


que diz respeito aos direitos públicos, tinham plena capacidade, podiam votar e
ser votados para as magistraturas (ius sufragii e ius honorum), podiam participar do
exército. No tocante aos direitos privados, podiam casar-se (ius conubii), desde
que o obtivessem o consentimento de seu pater famílias.

No campo patrimonial, tudo o que o alien iuris adquiria o fazia


para o pater famílias, ao contrário das obrigações assumidas pelo alien iuris, pelas
quais o pater famílias somente respondia em casos excepcionais.

O indivíduo podia sair da condição de alien iuris, caso perdesse


seu ascendente masculino direito por morte ou fosse emancipado. Poderia,
também, sendo sui iuris (pessoa livre), tornar-se alien iuris por adoção.

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CAUSAS RESTRITIVAS DA CAPACIDADE JURÍDICA


DE GOZO

A capacidade de direito não era irrevogável, poderia tanto ser


obtida como também perdida.

A perda poderia ser capitis deminutio máxima, no caso de perda


total da cidadania e, portanto, de todos os direitos, quando um indivíduo se
tornava escravo.

Também poderia ser captio deminutio media, quando o sujeito era


desterrado e tornava-se um peregrinus, um sem-pátria.

Por fim, a perda da capacidade jurídica poderia ser captio


deminutio mínima, no caso de a pessoa mudar seu status familiar por emancipação,
ad-rogação ou adoção.

Frise-se que, todos os casos apontados são exclusivos do sexo


masculino, visto que à mulher não era permitida plena capacidade. Elas não
tinham direitos públicos e sofriam restrições no âmbito do direito privado
também. Como veremos mais adiante, elas não tinham direito ao pátrio poder,
nem à tutela e, tampouco, podiam participar de atos solenes na qualidade de
testemunhas.

A capacidade jurídica poderia também sofrer restrições por


penalidades impostas em consequência de atos ilícitos ou por questões
religiosas que causavam impedimentos nos campos matrimoniais,
testamentários e hereditariedade.

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DIREITO DE FAMÍLIA

A palavra família, para o Direito Romano, pode ser aplicada


tanto às coisas quanto às pessoas.

Aplicada às coisas, tem o sentido de indicar o conjunto de um


patrimônio, como, por exemplo, na expressão dimidium familiae (metade do
patrimônio), na expressão família rústica (escravos rurais).

Aplicada somente às pessoas, ou à soma de pessoas e coisas,


família significava, para os romanos, todos e tudo sob o poder do pater famílias.

Quanto às pessoas, a família pressupunha a existência de


parentesco e este, em Roma, poderia ter dois sentidos, um estritamente jurídico,
chamado de agnatio, outro basicamente biológico, ou seja, a ascendência
comum, que recebia o nome de cognatio.

O parentesco jurídico englobava todos sob o poder de um


mesmo pater famílias, portanto este só era transmitido pela linha paterna, pois
somente homens poderiam ser pater famílias. Por isso, a agnatio era chamada
também de cognatio virilis.

Durante a evolução do Direito Romano, esses dois sentidos de


parentesco foram colocados, muitas vezes, em contraposição, o que gerou
juridicamente a prevalência cada vez mais acentuada do princípio do parentesco
consanguíneo em detrimento da agnação.

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PÁTRIO PODER

Durante praticamente toda a história de Roma, o poder do pater


families era praticamente absoluto, e por vezes rivalizava com o poder estatal.

Esse poder era de vida e morte sobre todos sob sua chefia. Seus
filhos recém nascidos poderiam ser deixados para morrer ou, em qualquer
idade, serem vendidos.

O poder do pater families englobava e se manifestava por vários


poderes: a pátria potestas (que se dava sobre os filhos), a manus (sobre a esposa),
a dominica postestas (sobre os escravos), e o mancipum (sobre pessoas livres alien
iuris que passavam ao poder de um pater familis).

Como as pessoas sujeitas ao poder familiar não tinham plena


capacidade jurídica, toda e qualquer coisa adquirida o era para o pater families.
Por outro lado, se o alien iuris cometesse algum delito, o pater families poderia
ressarcir o dano ou entregar o filho para ser penalizado.

A principal fonte do pátrio poder era o nascimento do filho em


casamento legítimo. “In potestate mostra sunt liberi nostri, quo sex iustis nuptiis
procreavimus” (sob o nosso poder estão nossos filhos, procriados em um
matrimônio legítimo).

A filiação legítima era resumida, se o parto acontecesse, no


mínimo, cento e oitenta dias da data em que o matrimônio fosse contraído ou,
no máximo, trezentos dias após a sua dissolução.

Entretanto, o reconhecimento da criança nascida em


casamentos juridicamente reconhecidos dependia do pai, embora, sem esse
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reconhecimento paterno, a paternidade pudesse ser definida juridicamente


através de uma ação especial. Os filhos fora do casamento e não reconhecidos
não estavam sob o pátrio poder.

O pátrio poder poderia ser extinto pela morte do pater families, a


morte do alien iuris, a perda da cidadania ou liberdade do pater families, a adoção
por outro do alien iuris, a emancipação do filho alien iuris ou o casamento cum
manu da filha.

CASAMENTO

Casal Romano

Para a sociedade romana, baseada fortemente nas relações


familiares, o casamento era instituição de extremada importância, como se pode
ler nas Novelas de Justiniano: “nihil in rebus mortalium perinde venerandum est atque
matrimonium” – Nada é tão venerável nas instituições humanas como o
matrimônio.

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O casamento legítimo era definido como Iustae Nuptiae ou


Iustum Matrimonium, sendo estas as formas reconhecidas pelo Ius Civile.

Para que o casamento fosse legítimo, era necessário o conúbio,


que pela definição de Ulpiano: “Conubium est uxoris iure ducendade facultas. Cubium
habent cives romani cum civibus romanis: cum latinis autem aut pregrini ita, si concessim sit.
Cum servis nullum est conubium” – Conúbio é a faculdade de casar-se legalmente.
Os cidadãos romanos tem conúbio com os cidadãos romanos, com os latinos e
os estrangeiros, quando lhes foi permitido. Não há conúbio entre escravos.

No Direito Romano, apresentam-se dois tipos de


casamento: Cum Manu e Sine Manu.

No casamento Cum Manu, a mulher estava sujeita a forte


autoridade do marido, sendo considerada sua propriedade; a mulher renunciava
a seus costumes, crenças e patrimônio para incorporar-se a família do marido,
abraçando as crenças e costumes dele; a mulher desligava-se da Patria Potestas,
passando ao poder do marido, Pater Famílias.

Para que isso ocorresse, era realizado um ato chamado conventio


in manu ou aquisição da manus, do poder do marido sobre a mulher.

Havia três formas da manus ser estabelecida: com a confarreatio3


(formalidade de cunho religioso muito utilizada na antiguidade da História

3
Era também o único casamento em cuja cerimónia estavam presentes sacerdotes, que
eram o flâmine Dial (em representação de Júpiter, que presidia a esta união) e o pontífice
máximo (pontifex maximus). Celebrava-se na presença de dez testemunhas, com os
noivos de cabeça coberta sentados um ao lado do outro em bancos cobertos com a pele
de uma ovelha oferecida em sacrifício. Pronunciadas as fórmulas solenes, os noivos
davam uma volta pelo lado direito ao altar, tomavam um pouco de sal e um bolo
de espelta, o panis farreus (daí o nome confarreatio).
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Romana); coemptio (venda formal da noiva ao noivo pelo pater families); e o usus
(era baseado no princípio de poder absoluto por posse prolongada e se dava
quando o casal convivia maritalmente por mais de um ano. O poder da manus,
entretanto, podia ser evitado se a mulher se ausentasse de casa por três noites
seguidas durante o curso do ano).

Confarreatio

O casamento sine manu foi o que prevaleceu na Roma após a


expansão territorial. Ele não oferecia a possibilidade de sujeição da mulher ao
marido e esta podia continuar sob o poder de seu próprio pater famílias,
conservando, portanto, os direitos sucessórios de sua família de origem mas era
mais condizente com o que se pensava acerca do que era o matrimônio.

Para os romanos o matrimônio era, antes de tudo, um ato


consensual de contínua convivência. Era um fato (res facti) e não uma res Iuri
(estado de direito). Para melhor entendimento, veja-se o que os juristas
afirmavam quanto ao casamento:

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• Coitos matrimonium no facit, sed maritalis affectio – Não é a


cópula em si, mas o afeto marital que constitui o matrimônio.
• Matrimonium inter invictos non contrahitur – não se contrai
matrimônio entre quem não deu consenso.

No entanto, dada a primazia do poder do pater famílias, a noção


de consentimento, ao menos para as mulheres, era bem relativo e limitado,
como nos demonstra a Digesta de Justiniano:

“A moça que não se opõe explicitamente à vontade do pai é considerada


concorde. Só se permite que uma jovem tenha opinião diferente daquela que
de seu pai quando este escolhe para seu noivo um homem indigno ou
portador de alguma tara”
O casamento era permitido para rapazes a partir dos quatorze
anos e para moças a partir dos doze, mas o noivado poderia ocorrer antes dessa
idade e não raramente, no caso das meninas, havia a consumação pela
coabitação com o noivo, mesmo antes do casamento.

Nesses casos, os juristas se valiam de termos como in domum


deducta (aquela que foi conduzida à casa), ou loco nuptae (aquela que tem posição
e função de esposa).

A justificativa para tal ato, que hoje nos soa repulsivo, era de
que, como defendido por Plutarco4, assim a noiva traria a maior pureza possível
no corpo e no caráter, e ficariam moldadas aos seus esposos.

Quanto aos impedimentos para o casamento, pode-se listar: a)


a loucura; b) a consanguinidade (em linha reta sem restrições e na linha colateral

4
foi um historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo médio platônico grego, conhecido
principalmente por suas obras Vidas Paralelas e Morália.
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até o terceiro grau), c) o parentesco adotivo, d) a diferença de camadas sociais


(libertos e ingênuos ou qualquer um com uma mulher “infame”, por exemplo),
e) condição de soldado em campanha, f) ser tutor e pupila, g) o fato de já ser
casado(a).

O último impedimento pressupõe que para os romanos a


monogamia era a regra, ao menos juridicamente, visto que a prática era outra,
uma vez que não era raro que concubinas convivessem dentro de casa, e o
adultério era somente mal visto e considerado crime quando cometido pela
esposa, como nos demonstra o ensinamento do Censor Catão:

“Se surpreendesses sua mulher em adultério, poderias mata-la sem


julgamento e impunemente; mas se cometesses adultério [...] ela não ousaria
tocar-te nem com a ponta do dedo, e aliás não teria tal direito.”

O DIVÓRCIO

O divórcio sempre foi previsto no Direito Romano, posto que


o casamento, ao menos em regra, baseava-se no consentimento das partes
envolvidas, somente na era dos Imperadores cristãos é que foram introduzidas
limitações ao divórcio, sem, no entanto, aboli-lo completamente.

O divórcio era praticado através de formas solenes: a diffarreatio


e a remantipatio. No casamento sine manu, essa dissolução era ainda mais fácil.
Podia ocorrer através do divortium comuni consensu se houvesse acordo entre as
partes, ou por repudium, no caso de vontade unilateral.

No início da História romana, o divórcio somente podia ocorrer


por vontade do marido, mesmo assim se ele convocasse o Tribunal Familiar e
fundamentasse seu pedido com provas das acusações contra a esposa. Já a
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mulher, somente podia desfazer o casamento no caso de perda da cidadania do


esposo. Importante frisar que, nesse caso, de perda da cidadania do esposo, não
se tratava de divórcio, mas sim de dissolução do casamento.

Com o passar do tempo as justificativas dadas ao Tribunal


Familiar eram cada vez mais tolas, e passou a ser possível o divórcio sem
qualquer motivo. O casamento sine manu deu às mulheres a mesma
possibilidade.

O DOTE

Pode ser definido como o conjunto de bens que a noiva, por si


mesma ou por meio de outros, traz para o marido para sustentar o ônus do
matrimônio.

Esses bens eram dados à guarda do marido para que os


administrasse e, com a evolução do Direito Romano, quando da dissolução do
casamento, ou no divórcio, deveriam ser devolvidos à esposa.

O dote era constituído pelo dotio datio (efetiva entrega de bens


ao marido), a dotis dictio (promessa de entrega), a dotis promissio (consta de uma
stipulatio em virtude da qual o constituinte do dote se obriga a transferir os bens
posteriormente, substituiu a dotis dictio).

A ADOÇÃO

A adoção em Roma era corriqueira e bastante aceita pela


sociedade, inclusive era considerada como uma forma legítima de imitar a

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natureza no tocante à procriação, como afirmado pela Instituta 1,11: “adoptio est
legitimus actus, naturam imitans, qui líberos nobis quaerimus” – A adoção é um ato
legal, que imita a natureza, com o qual podemos adotar filhos como seus.

O Direito romano previa duas formas de adoção:

a) Adrogatio: adoção de um pater famílias por outro, que levava


seus patrimônio e dependentes.
b) Adoptio: adoção de um indivíduo sui iuris.

Para a adoção, não havia limite de idade, mas exigia-se que o


adotante fosse mais velho que o adotado, como determinado pela Instituta
1,11,4: “adoptio naturam imitatur et pro monstro est, ut maior sit fliius quam pater” – A
adoção imita a natureza: seria monstruoso que o filho fosse mais velho que o
pai.

Às mulheres era proibido adotar a não ser quando perdiam seus


próprios filhos e obtinham permissão especial para isso.

TUTELA E CURATELA

Tanto a tutela quanto a curatela têm por finalidade dar meios


para que uma pessoa sem condições de fazê-lo sozinha possa ter os seus bens
cuidados, tendo ambos os institutos estreita ligação com a noção de capacidade
civil.

A tutela existia pela incapacidade por idade ou sexo e visava


proteger os interesses da família. A curatela visava cuidar de interesses
patrimoniais em casos excepcionais de incapacidade como loucura,
prodigalidade etc.
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TUTELA.

Podiam ficar sob tutela os impúberes e as mulheres sui iuris. O


tutor podia ser um parente agnatício5 próximo, que era denominada como tutela
legitima. O tutor também podia ser nomeado por testamento (tutela testamentária)
ou ainda ser nomeado pelo pretor (tutor dativus). Uma mulher não poderia ser
tutora, a não ser casos excepcionais, limitando-se à tutela dos próprios filhos e
ainda sob a permissão do príncipe.

Exceto o tutor nomeado por testamento, os outros eram


obrigados a aceitar o cargo a não ser que provassem idade avançada, ter vários
filhos, exercer cargos públicos. Seu dever é explicitado de forma simples e
direta: “Tutoris praecipuum officium est, ne indefesum pupíllum relinquat” – O primeiro
dever do tutor é não deixar o pupilo indefeso.

A incumbência do tutor era administrar o patrimônio do pupilo,


e essa administração deveria ser feita de maneira correta, sempre visando ao
interesse da pessoa tutelada. Em caso de prejuízo ocasionado por ações do
tutor, qualquer pessoa poderia denunciá-lo e, se condenado, seria penalizado
com a infâmia6. “lege rata non habetur auctoritas dolo malo facta” – A autoridade do
tutor, se exercida com dolo, não se considera ratificada por lei.

5
Parentesco pela linha masculina.
6
era um tipo de desonra formal envolvendo certas incapacidades e limitações legais.[2] Ou
ainda uma perda de statu jurídico ou social. Como termo técnico do Direito romano,
a infamia era uma exclusão oficial das proteções legais usufruídas pelo cidadão romano,
como imposta por um censor ou pretor.
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A tutela de impúberes e de mulheres era diferente, enquanto a


mulher poderia administrar seus próprios bens, ficando o tutor como um
assistente, no caso dos impúberes toda a administração ficava por conta do
tutor que deveria prestar contas de seus atos. “Officio tutoris incumbit etiam rationes
actus confecere et pupilo reddere” – É também dever do tutor prestar contas de sua
administração dos bens do pupilo.

CURATELA

A curatela tem por principal objetivo a proteção do patrimônio


do indivíduo, cuja capacidade está deteriorada e não é impúbere ou mulher. O
curador tinha por função ou representar o curatelado absolutamente incapaz ou
assistir relativamente o curatelado dando-lhe, quando convinha, consentimento
para a prática de atos jurídicos.

As espécies de curatela distinguiam-se baseadas no tipo de


incapacidade do indivíduo. Havia a cura furiosi, que era a curatela do indivíduo
mentalmente prejudicado. Se houvesse um parente agnado próximo, este seria
o curador caso contrário, o pretor nomeava um. Havia também a cura prodigi,
que era a curatela dada ao indivíduo que, comprovadamente, esbanjava seus
bens; dessa forma, o pródigo ficaria com sua capacidade de ação limitada, e seu
patrimônio estaria defendido. Em casos excepcionais, havia ainda a cura
minorum, que era a curatela solicitada por menores de 25 anos para abrandar as
dúvidas daqueles que receavam contratar com eles por causa da pouca idade.

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SUCESSÃO

A princípio somente o sucessor do pater famílias tinha direito a


herança, porém, com as mudanças estruturais pelas quais passaram não
somente a família romana, mas a sociedade como um todo, essa questão
tornou-se mais complexa.

Os romanos utilizavam a expressão succedere in ius para designar


a transmissão de todos s direitos e obrigações do defunto a uma outra pessoa,
seu sucessor.

A palavra hereditas era utilizada para indicar o processe dessa


passagem e seu objeto, já a palavra heredis indicava a pessoa do herdeiro.
“Hereditas nihil aliud est quam successio in universumius, quod defunctus habuerit” – a
herança não é senão a sucessão na universalidade do direito que o falecido
possuía.

Os sucessores naturais eram os filhos, estes eram considerados,


mesmo durante a vida de seu pai, como quase donos. Dessa forma, durante o
período clássico, não se considerava que os filhos herdassem os bens, mas a
plena administração deles.

Eram filhos os nascidos em justas bodas e após a morte do pai,


a título sucessório: “Post decem menses mortis natus non admittetur ad legitiman
hereditatem” – o nascido dez meses após a morte não é admitido à legítima
herança. Eram herdeiros como os filhos biológicos os adotados: “Qui adoptatur,
iisdem fit agnatus quibus pater ipsius fuit; et legitimam eorum hereditatem habbit, vel ipsi
eius” – quem é adotado se torna herdeiro dos mesmos de quem foi seu pai e
terá a herança legítima deles (ou eles a dele).

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HERANÇA

O usufruto, a posse, o uso, algumas relações obrigacionais


(como mandato, por exemplo) não eram considerados transmissíveis, bem
como obrigações delituais, já que “in poenam heres nun succedit” – o herdeiro não
herda a pena.

Já os demais direitos e obrigações constituíam o patrimônio


transmissível.

Através de um balanço entre o que o defunto devia e o que


tinha determinava-se a herança, que, obviamente, poderia ser somente dívidas,
que hoje se chama de inventário negativo, recebia o nome de damnosa hereditas.

Diferentemente de outros povos da antiguidade, os Romanos


não davam a primazia ao primogênito, dividindo a herança entre todos os
herdeiros homens, deixando de fora somente as mulheres, que recebiam sua
herança pelo dote.

TESTAMENTO

Para os romanos, o testamento era a expressão de uma vontade


unilateral. Era um documento no qual o testador indica seu sucessor ou seus
sucessores. Até a morte do testador, este era revogável, “posteriore testamento, quod
iure perfectum est, supérius rúmpitur” – com o testamento posterior, que se faz
legalmente, se anula o anterior.

No entanto, a capacidade de testar não era prevista para todos,


necessitando da existência da testamenti factio activa, isto é, a capacidade jurídica
para testar.
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Não tinham capacidade jurídica para testar os alien iuris (por não
terem patrimônio próprio), os latini juniani (que morriam como escravos e seu
patrimônio era automaticamente do patrono), os intestabiles (que tiveram essa
punição por negarem-se a depor como testemunhas), os incapazes (como os
loucos, os impúberes, os pródigos).

No início da história romana as mulheres também eram


impedidas de testar, mas tal limitação foi superada no Direito Clássico.

Ser herdeiro também era uma questão de capacidade jurídica, já


que a principal condição era ser cidadão romano livre e não ser intestabiles.

Havia dois tipos de testamento:

a) Testamentum publicum: era feito publicamente ou perante o


comício, que era reunido para esse fim duas vezes por ano,
também chamado de testamentum calatis comitiis ou perante o
exército.
b) Testamentum privatum: o testador passava seu patrimônio a
uma pessoa de sua confiança para que esta o transferisse à
pessoa designada pelo testador; essa fórmula transformou-se e
a pessoa de confiança passou a ser testemunha apenas (junto
com outras seis, já que sete testemunhas era o número exigido
para a validade de um testamento.

Testamentos podiam ser considerados nulos, ineficazes ou


ainda podiam ser revogados. O testamento nulo era aquele que era feito por um
testador sem capacidade para testar ou aquele feito sem alguma formalidade
exigida ou ainda quando o testador desrespeitava os direitos de seus
descendentes.
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O testamento tornava-se ineficaz quando o testador, após a


feitura do testamento, perdia sua capacidade de testar, quando os herdeiros não
aceitavam a herança ou quando o testamento fosse revogado.

Para ser revogado, o testamento deveria estar danificado,


perdido, destruído voluntariamente (pelo testador) ou quando o testador fizesse
posteriormente outro.

POSSE E PROPRIEDADE

Posse e propriedade podem ser diferenciadas pelo fato de se ter


poder jurídico ou poder apenas de fato sobre a coisa. Quando há somente
posse, a coisa está sob o poder da pessoa, mas esta não tem poder jurídico total
sobre ela. No caso da propriedade, o indivíduo tem poder jurídico (inclusive de
compra, venda, aluguel etc.).

Para os romanos, poderia se gerar propriedade de várias formas,


inclusive através da posse. A tomada de posse de uma coisa que não estivesse
sob o domínio de ninguém (animais selvagens, coisas abandonadas, bens de
inimigos de Roma) geraria a propriedade; isso era chamado de occupatio. Poderia
se adquirir também a propriedade por transferência da mesma, por usucapião,
por compra, por herança etc.

DELITOS

No início do Direito romano, não havia limites para a represália


quando um indivíduo cometia um crime. Era de livre vontade do ofendido a

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vingança, embora atenuando esse fato houvesse outro: não tinham, os romanos,
a nítida distinção entre punição e ressarcimento.

Portanto, mesmo que a vingança pura e simples fosse a regra,


não se pode dizer que a Pena de Talião fosse aplicada, visto que lhes faltava essa
noção de punição como ressarcimento do dano.

Para os romanos, o crime era definido em uma só palavra: noxae.


Como bem definido nas Digestas: “Noxae appellatione omne delictum continetur” –
Na palavra “noxa” está compreendido todo tipo de delito. Nesse sentido,
Noxa= prejuízo, dano, delito, crime.

Ainda para os romanos, não poderia um indivíduo pagar pelo


crime de outro, como também demonstrado nas Digestas: “Peccata suos teneant
autores” – Os crimes só atingem aqueles que o cometeram.

Além disso, consideravam que o fato de uma pessoa calar não


significava necessariamente uma confissão de culpa: “Qui tacet, non utique fetetur:
sed tamen verum est, eum non negare” – Quem cala nem sempre confessa. Contudo,
certo é que não nega.

Existia ainda a previsão da legítima defesa: “Quod quisque ad


tutelam corporis sui fecerit, id iure fecisse existimatur” – O que cada um fez para
proteger o próprio corpo julga-se que haja feito com todo direito.

Essa noção demonstra a intensa busca de justiça pelos romanos,


e a valorização de um julgamento antes da aplicação da pena, como dito por
Ulpiano: “Satius est impunitum relinqui facinus nocentis quam inocentem damnari” –
Mais vale deixar impune o culpado que condenar o inocente.

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No decorrer do tempo, e com fortalecimento do Estado


romano o uso da força foi sendo monopolizado pelo Estado, retirando do
indivíduo o pleno exercício da vingança, que agora era regulamentada.

De fato, com o fortalecimento do Estado e do Direito romano,


a vingança, que antes era exercida livremente pelo ofendido, agora somente
poderia ser executada caso o criminoso fosse pego em flagrante e, mesmo
assim, os limites da represália foram estabelecidos.

Nesse momento então, inicia o surgimento da noção da pena


como meio de ressarcimento do dano, seja para a sociedade seja para o
indivíduo.

Assim, a represália poderia tanto se basear na Pena de Talião


como também em compensação pecuniária.

Para melhor entendimento acerca da evolução do direito penal


romano, veja-se a lição de Mirabete:

“Em Roma, a separação entre delicta publica (crimes contra a segurança


da cidade, parricidium etc) e delicta privata (infrações menos graves)
determinava também a distinção dos órgãos competentes para julgamento.
Quanto aos últimos, o Estado era o árbitro para solucionar litígio enre as
partes, decidindo de acordo com as provas por elas apresentadas. Com o
passar dos anos, porém, o processo penal privado foi abandonado quase
totalmente. No processo penal público, ao contrário, ocorreu a evolução. Da
ausência de qualquer limitação ao poder de julgar existente no começo da
monarquia, em que nenhuma garantia era dada ao acusado (cognitio)
passou-se com a Lex Valeria de Provocatione ao provocatio ad populum,
em que o condenado podia recorrer da condenação para o povo reunido. Já
na República surgiu a justiça centurial, em que as centúrias, integradas por
patrícios e plebeus, administraram a justiça penal em um procedimento oral
e público e, excepcionalmente, o julgamento pelo senado que a podia delegar
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aos questores. Já no último século da República surgiu nova forma de


procedimento: a accusatio, ficando a administração da justiça a cargo de um
tribunal popular, composto inicialmente por senadores e, depois, por
cidadãos. No Império, a accusatio foi pouco a pouco cedendo lugar a outra
forma de procedimento: a cognitio extra ordinem, processo penal
extraordinário a cargo, no início, do senado, depois ao imperador e,
finalmente, outorgado ao praefectus urbis. Os poderes do magistrado, diz
Mazini, foram invadindo a esfera de atribuições já reservadas ao acusador
privado a tal extremo que, em determinada época, se reuniam no mesmo
órgão do estado (magistrado) as funções que hoje competem ao Ministério
Público e ao Juiz. Fez-se introduzir, então, a tortura do réu e mesmo de
testemunhas que depusessem falsamente e a prisão preventiva. Pode-se
apontar tal procedimento como a base primordial do chamado Sistema
Inquisitivo.”

CAUSALIDADE

Causalidade é o nexo subjetivo que liga o delito ao seu autor e


manifesta-se de duas formas: dolo ou culpa. Os romanos levavam em
consideração a intenção conforme pode-se atestar na Lex Numae: “Se alguém
matou um homem com prévia intenção, é homicida.”

O Jurisconsulto Numa indicava que: “Se alguém matou um homem


imprudentemente, aos agnados do morto será oferecido em compensação um carneiro perante a
assembléia”. Tomando essa máxima de Numa e a Lex Numae, pode-se concluir
que diferenciavam dolo e culpa.

Além de um delito poder ser doloso, intencional, os romanos


indicavam que poderia ainda ser pior, poderia se cometer um delito com fraus,
que significa falta consciente de respeito à lei.

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Essa graduação do delito, baseado na intenção, pode ser vista


no Digesto, que indica:

“O divino Adriano decidiu em um rescriptum que aquele que matou um


homem, se não o fez com intenção de matar, pode ser absolvido. E aquele
que não matou um homem, mas feriu, com intenção de matar, deve ser
condenado como homicida; e segundo os casos deve ser determinado isto: se
tomou a espada na mão e nele golpeou, incontestavelmente o fez com
intenção de matar; mas se em uma rixa feriu com uma chave ou marmita,
embora tenha golpeado com instrumento de ferro, não fez, contudo, com a
intenção de matar. Deduz-se que deve ser mitigada a pena daquele que,
numa rixa, cometeu um homicídio mais por causalidade que por vontade.”

IMPUTABILIDADE

Imputabilidade é a aptidão do indivíduo para praticar atos com


discernimento. No Direito Romano, não há uma definição doutrinária
completa, mas eles indicam que se preocuparam em pensar, minimamente, o
tema.

Os impúberes eram considerados, dependendo do caso, como


sendo semi-imputáveis, porque, embora não lhes fossem atribuídas as penas
mais severas, o ressarcimento era sempre exigido. No Digesto lemos: “Os
impúberes não sejam torturados: costumam somente ser assustados e ser batidos com uma
correia ou vara.” De qualquer maneira, a pena de morte nunca era aplicada a uma
criança.

Os mentalmente incapacitados eram subdivididos em


categorias: os furiosis e os demens. Os primeiros seriam os doentes agitados, mas
com intervalos de lucidez, os demens seriam aqueles constantemente em privação

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do uso total de sua capacidade mental, totalmente débil e, portanto, sem exercer
qualquer tipo de possibilidade de perigo para a sociedade.

No caso dos demens não lhes era atribuída imputabilidade no


caso de crimes e os furiosis, somente em crimes violentos ou de roubo. Estes
não eram, segundo acreditavam os romanos, capazes de crimes de inteligência
como falsificações, por exemplo. Os furiosis, quando cometiam um delito, ou
tinham a possibilidade de fazê-lo, eram acorrentados.

A ignorância da lei não gerava imputabilidade, mas a ignorância


do fato, sim. Por exemplo, uma mulher que se casasse novamente crendo que
o marido anterior estivesse morto, e este não estivesse não poderia ser acusada
de adultério.

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

A pena era extinta se o culpado cumprisse a pena, se obtivesse


o perdão, se recebesse a abolitio, que consistia em extinguir temporariamente a
ação penal em curso por ocasião de alguma solenidade (a ação poderia ser
retomada após findo o prazo), se o crime prescrevesse (para o homicídio não
havia prescrição) e por morte do que cometeu o delito.

CODELINQUÊNCIA

Os romanos previam a colaboração para cometer crimes e a


punia da mesma forma que era punido o que cometeu o delito.

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RETROATIVIDADE DA LEI PENAL

Não aplicado em nosso Direito atual, salvo em benefício do réu,


a retroatividade da lei penal era comum no Direito Romano.

ALGUNS DELITOS

Inicialmente, cumpre esclarecer que havia clara distinção entre


delitos públicos – como traição (perduellio), homicídio (parricidium) e incêndio –
e delitos privados que eram o furto, o roubo, o dano injustamente causado, a
injúria, o dolo, a coação, o quase delictus (o empréstimo de dinheiro a juros era
considerado delito, mas houve controvérsia se este delito era privado ou
público. A Lex Genucia de 342 A.C. considerava delito público, a Lex Márcia de
Fenore, de 104 A.C., considerava delito privado).

Para melhor entender essa diferenciação, vejamos a lição de


Ulpiano sobre o tema: “Hoc iure utimur: ut quidquid omnino per vim Fiat, aut in vis
publicae, aut in vis privatae crimen incidat” – Nós usamos este princípio em direito:
tudo aquilo que se faz com violência cai, ou no delito de violência pública, ou
no de violência privada.

• Furto: entendido como apropriação da coisa alheia sem uso


de violência. No início do Direito Romano, tinha como pena a
possibilidade de o ladrão, pego em flagrante, ser punido
fisicamente (ser morto ou reduzido à condição de escravo).
Mais tarde, o furto passou a gerar direito à condição de escravo).
Mais tarde, o furto passou a gerar direito de o ofendido exigir

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uma multa pecuniária que poderia ser o dobro, o triplo ou o


quádruplo do valor da coisa furtada.
• Roubo: pela definição do jurisconsulto Paulo: “Fur est qui
dolo malo rem alienam contrectat” – ladrão é aquele que se apropria
dolosamente da coisa alheia. Para a pena seguia-se a mesma
tendência de cobrar o ladrão, a título de pena, uma multa cujo
montante poderia ser até o quádruplo do valor da oisa roubada.
• Dano: quando causado injustamente, era cobrado do
indivíduo que cometeu o delito que esse reparasse o que causou.
No cálculo do valor do dano, no período clássico, ao invés de
um valor objetivo, calculava-se o dano efetivo material
(Damnum emergens) e a perda do lucro advinda do dano (lucros
cessans).
• Injúria: “Iniuriam acciiemus, damunum culpa datum etiam abe o,
qui nocere noluit” – Consideramos injúria o prejuízo causado por
culpa, ainda que não houvesse intenção de prejudicar. No
período clássico, por meio de uma ação chamada actio iniuriarum,
o ofendido poderia pedir indenização pela ofensa sofrida.
• Dolo: o pretor Aquilio Galo introduziu essa inovação no
Direito Romano. O dolo é apontado como sendo todo
comportamento desonesto com a finalidade de induzir um
indivíduo a erro. A parte lesada poderia entrar com uma actio
dolo contra o ofensor para obter ressarcimento do dano sofrido.
O dolo era considerado um delito bastante grave: “Dolus
omnimodo puniatur” – O dolo deve ser punido por todos os
meios.
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• Coação: é o ato de um indivíduo compelir outro a práticas


de atos jurídicos mediante violência. Esta pode ser física
(também chamada de absoluta) ou moral (chamada
compulsiva). O ofendido teria, como ação penal, uma actio quod
metus causa contra o autor da violência.
• Quase – Delictus: pode ser definido como quase delito, ou
como um delito que foi ocasionado de forma culposa, ou seja,
sem intenção, mas que poderia ter sido evitado. Eram
agrupados em effusum et deiectum (atirar objetos de um edifício
sobre a via pública), positum et suspensum (colocar objeto
pendurado em um edifício com a possibilidade de cair e causar
dano), exercitor navis aut caupónae et stabuli (responsabilidade de
proprietários de navios, hospedarias e estábulos em relação às
coisas dos clientes) e si iudex litem suam fecerit (se o juiz julgou mal
o processo).

O ESTUDO DO DIREITO E OS ADVOGADOS EM


ROMA

Quando se trata de educação em Roma, é necessário salientar


que, antes das influências dos povos conquistados, todo o ensino fosse ele
básico ou superior, era basicamente per exemplo, ou seja, o indivíduo era educado
seguindo o exemplo de seu pai, ou de um tutor por ele indicado.

O método do ensino do Direito, a princípio, era também,


essencialmente prático. Era chamado de respondere audire: os jovens assistiam às

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consultas que o mestre dava a seus clientes e às minuciosas explicações que este
lhes administrava, sobre cada caso.

Com o passar do tempo, principalmente a partir do primeiro


século antes de Cristo, o ensino prático do Direito passou a ser completado por
um ensino sistematizado. Segundo Marrou:

“[Utilizando] todos os recursos da lógica grega, o Direito Romano se


esforça, desde então, por se apresentar aos iniciantes sob a forma de um
corpo de doutrina, de um sistema constituído por um conjunto de princípios,
de divisões e classificações apoiadas sobre uma terminologia e em definições
precisas.”
Quanto mais cresceram a influência e o poder (no tocante ao
Direito, principalmente) dos Jurisconsultos, mais o estudo do Direito adquiriu
maior importância e maior atenção da sociedade e do Estado. Os escritórios
dos Jurisconsultos eram, ao mesmo tempo, lugares de consultas públicas e
escolas de Direito. Essas escolas situavam-se, geralmente, perto dos templos
para que se pudesse aproveitar os recursos as bibliotecas que anexas aos
templos.

Não se pode, com isso, confundir o iurisconsultus e o orator


Ambos eram advogados, mas um era especialista no Direito e a ele cabia estudar
o aspecto jurídico das controvérsias, e o outro era o que estava em juízo lutando
pelo seu cliente.

Ser advogado em Roma era quase uma tendência natural, visto


que os romanos, durante todo o período republicano, pelo menos, tinham um
imenso apreço pela oratória, que consideravam como arte e como algo a ser
cultivado e admirado. Os maiores vultos da política republicana foram,
também, campeões da vida forense. Em ambas as funções a oratória era
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ferramenta primordial. Afirmava Ulpiano: “Melius est sensum magis quam verba
amplect” – O melhor é ater-se ao sentido das palavras que o escrito.

Esse casamento entre a advocacia, seu exercício e a política


eram bastante intensos na Roma Republicana, visto que a Lex Cicia, de 304 A.C.
proibia o recebimento de honorários (ao menos oficialmente); o apoio eleitoral
advindo através de uma boa carreira no fórum era uma excelente recompensa.
Com o Império, a carreira política perdeu sua importância e logo em seu início
o Imperador Cláudio (séc. I D.C.) permitiu os honorários advocatícios, mas
dentro de limites pecuniários. Portanto, somente após Cláudio, podemos
considerar a advocacia em Roma como uma profissão.

A popularidade dos advogados em Roma era tanta quanto os


próprios litígios que reuniam uma multidão tão ávida de diversão quanto aquela
que frequentava o circo.

PRINCIPAIS JURISCONSULTOS

Dentre os vários jurisconsultos que atuaram em Roma, pelo


dois podem ser apontados como os mais importantes, que são Cícero e Ulpiano,
os quais estudaremos a seguir.

CÍCERO
Estadista, orador e filósofo romano, Marco Túlio Cícero nasceu
a 13 de janeiro do ano 106 a.C. em Arpino, Itália, e morreu em 7 de dezembro
de 43 a.C. em Formia, Itália. Recebeu aprimorada educação, com os maiores
oradores e jurisconsultos de sua época.
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Embora tenha sido um dotado orador e um advogado de


sucesso, Cícero acreditava que sua carreira política era sua conquista mais
importante. Foi durante seu consulado que a Segunda Conspiração de
Catilina tentou derrubar o governo romano através de um ataque por forças
estrangeiras e Cícero suprimiu a revolta executando cinco dos conspiradores
sem o devido processo legal. Durante a caótica segunda metade do século I a.C.,
marcada pelas sucessivas guerras civis e pela ditadura de Júlio César, Cícero
liderou a campanha pelo retorno do governo republicano. Logo depois da
morte de César, Cícero se destacou como inimigo de Marco Antônio nas lutas
pelo poder que se seguiram, atacando-o numa série de discursos.
Acabou proscrito como inimigo do estado pelo Segundo Triunvirato e
consequentemente executado por soldados por sua ordem em 43 a.C., depois
de ser interceptado numa tentativa de fugir da península Itálica. Suas mãos e
sua cabeça foram, como vingança final de Antônio, exibidas no Fórum
Romano.

Claramente influenciado pela filosofia estóica, para Cícero, o


Direito era objeto de estudo como ciência própria e universal.

Tal influência e ideias podem ser constatadas no estudo de suas


citações e lições:

“A maior parte das coisas que dizemos e fazemos não é necessária; quem
as eliminar da própria vida será mais tranquilo e sereno.”
“Nascemos para a justiça, e alei não se funda na opinião, mas na própria
natureza do homem.”
“Os chefes devem reconduzir tudo a este princípio: aqueles que eles
governam devem ser tão felizes quanto possível.”

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“A lei não é invenção do engenho humano nem vontade dos povos, mas algo
eterno que deve reger o mundo inteiro pela sabedoria dos seus mandatos e
proibições.”
Como Cícero era pensador estóico, acreditava que o Direito era
uma verdadeira ciência, a qual deveria ser desenvolvida para que se torna-se algo
ideal e universal, a ser aplicado em todos os povos do mundo, criando-se um
verdadeiro ius gentium (Direito dos povos).

Cícero

ULPIANO

Eneo Domitius Ulpianus, foi um jurista romano. Sua obra


influenciou fundamentalmente a evolução dos direitos romano e bizantino.

Tem como expoente jurídico o princípio contido no ditame:


Tais são os preceitos do direito: viver honestamente, não ofender ninguém, dar
a cada um o que lhe pertence.

Ainda foi reconhecido como importante político e estudioso,


sendo considerado um dos maiores economistas de seu tempo.

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Foi Ulpiano quem deu os primeiros passos para o


desenvolvimento do seguro de vida. Interessou-se pelo estudo de documentos
sobre nascimentos e mortes dos romanos, publicando a Tabela de Ulpiano,
provavelmente no ano 200 d.c, o que lhe valeu o título de Primeiro atuário da
História.

Ulpiano foi prefeito pretoriano sob o império de Alexandre


Severo, sendo morto pela guarda pretoriana.

Para Ulpiano, Direito e Justiça não eram a mesma coisa.


Considerava que Ius (Direito em latim), provinha da palavra Iustitia (Justiça),
ou seja, o Direito seria proveniente da Justiça, ou de sua busca.

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