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“Na sua visão é possível que empresas acusadas de participarem de um cartel utilizem o art.

14 da Lei nº 14.010/2020 como isenção da prática de conluio? Em que circunstâncias?”

Aluno: Raimundo Vinícius Silva de Arruda NUSP: 13715231

De acordo com o artigo 14 da Lei nº 14.010/2020, que trata das normas


de caráter transitório para as relações jurídicas de Direito Privado em virtude da
pandemia da Covid-19, é possível que empresas acusadas de participarem de um
cartel utilizem esse dispositivo como uma possível isenção da prática de conluio,
desde que cumpridas determinadas circunstâncias específicas.

No entanto, é importante ressaltar que o referido dispositivo não concede


uma imunidade automática às empresas envolvidas em cartéis, mas estabelece
uma mitigação das sanções quando as condutas anticompetitivas estejam
relacionadas às medidas adotadas em decorrência da pandemia. A aplicação desse
dispositivo dependerá da interpretação dos órgãos responsáveis pela aplicação da
legislação antitruste.

Segundo análises realizadas por especialistas, como Vinicius Marques de


Carvalho e Henrique Felix Machado, em seus artigos sobre "Cartéis de crise e a
Covid-19", e por Roberto Augusto Castellanos Pfeiffer, em seus artigos sobre
"Direito da concorrência e pandemia I e II", a utilização do artigo 14 da Lei nº
14.010/2020 como isenção da prática de conluio pode ocorrer em situações em que
as empresas demonstrem que suas condutas foram motivadas pela necessidade de
enfrentar os efeitos econômicos da pandemia e que tais medidas foram adotadas de
forma colaborativa e temporária para garantir a continuidade de suas atividades.

No entanto, a utilização desse dispositivo como uma defesa contra


acusações de cartel dependerá de uma análise detalhada do caso concreto,
considerando os princípios e normas do Direito da Concorrência. É fundamental que
as empresas envolvidas consultem advogados especializados nessa área, pois a
caracterização de um cartel requer uma avaliação completa das circunstâncias
específicas e do contexto econômico em que as práticas ocorreram.

A pandemia da Covid-19 trouxe desafios sem precedentes para a


economia e para a aplicação das normas concorrenciais. Autores como José
Augusto Medeiros e João Otávio Bacchi Gutinieki discutem em seu artigo "A ordem
econômica constitucional resiste à (e na) crise?" sobre as transformações do direito
administrativo e a política econômica concorrencial em tempos de pandemia. Eles
ressaltam a importância de equilibrar a proteção dos princípios concorrenciais com
as necessidades de adaptação às circunstâncias excepcionais, como é o caso da
crise sanitária atual.

Em suma, embora o artigo 14 da Lei nº 14.010/2020 possa ser utilizado


como uma possível isenção da prática de conluio em meio à pandemia, sua
aplicação dependerá das especificidades do caso e da interpretação dos órgãos
responsáveis pela aplicação da legislação antitruste.

Referências:

BRASIL. Artigo 14 da Lei nº 14.010/2020.

CARVALHO, Vinicius Marques de; MACHADO, Henrique Felix. Cartéis de crise e a


Covid-19: possíveis caminhos para a política concorrencial. Disponível em:
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/carteis-de-crise-e-a-covid-19-possiveis
-caminhos-para-a-politica-concorrencial-02042020.

PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos. Direito da concorrência e pandemia I:


preço abusivo em tempos de Covid-19. Consultor Jurídico, 16 de novembro de
2021.Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2020-nov-16/defesa-concorrencia-direito-concorrencia-pa
ndemia-precos-abusivos.

PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos. Direito da concorrência e pandemia II:


infrações da ordem econômica e Lei nº 14.010/2020. Consultor Jurídico, 08 de
fevereiro de 2021. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021-fev-08/defesa-concorrencia-direito-concorrencia-pan
demia-ii-infracoes-ordem-economica.

MEDEIROS, José Augusto ; GUTINIEKI, João Otávio Bacchi. A ordem econômica


constitucional resiste à (e na) crise? O regime jurídico emergencial e a política
econômica concorrencial brasileira. In: Fernando Leal; José Vicente Santos de
Mendonça. (Org.). Transformações do direito administrativo: direito público e
regulação em tempos de pandemia. 1ªed. Rio de Janeiro: FGV Direito Rio, 2020, v. ,
p. 175-201. Disponível em:
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/30230

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