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Processo n. 0016706-53.2017.8.05.

0000
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Quinta Câmara Cível

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Processo : Agravo de Instrumento n. 0016706-53.2017.8.05.0000
Foro de Origem : Comarca de Feira de Santana
Órgão Julgador : Quinta Câmara Cível
Agravante : Daiane Avelina Mascarenhas Rodrigues
Agravante : Edinaldo Azevedo Rodrigues
Advogado : Thandara Cruz Teles (OAB: 41867/BA)
Advogado : Lorena Sobral Santa Rosa (OAB: 45078/BA)
Agravada : Patricia Souza do Nascimento
Relator : José Edivaldo Rocha Rotondano
ACÓRDÃO

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ADOÇÃO COM


DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. GUARDA DE FATO.
ESTABELECIMENTO DE VÍNCULO AFETIVO DA INFANTE
COM OS PRETENSOS ADOTANTES. SITUAÇÃO
EXCEPCIONAL. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO
MENOR APLICÁVEL À HIPÓTESE. RECURSO PROVIDO.
1. In casu, verifica-se que a irresignação recursal gira em derredor do
decisum prolatado pelo Juízo primevo, no qual restou determinada a
medida protetiva de acolhimento em favor da menor sob a guarda de
fato dos recorrentes, para mantê-la aos cuidados do Orfanato
Evangélico em Feira de Santana, no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena
de busca e apreensão, nos termos do art. 297, CPC. Com efeito, a
análise do cartapácio revela que os agravantes são guardiões da
criança suso citada, desde o primeiro dia após seu nascimento, por
entrega espontânea realizada pela respectiva genitora, ainda no
âmbito da unidade de saúde onde nasceu.
2. Nesse sentido, verifica-se que a criança mantém vínculo com os
recorrentes desde o mês de maio de 2016, de modo que em dezembro
do mesmo ano, ingressaram com a ação originária, visando à
formalização da sua guarda, bem como os procedimentos inerentes ao
processo de adoção, contudo, conforme constatado pelo Ministério
Público e pelo Juízo primevo, os autos permaneceram 7 (sete) meses
sem movimentação, lapso temporal que solidificou ainda mais as
relações afetivas relatadas na casuística.
3. Noutro vértice, data venia, em contraposição ao fundamento
esposado pela magistrada a quo, ao afirmar que "a única saída
momentânea para o feito é a entrega da criança na instituição de
acolhimento habilitada", tem-se que em atendimento ao princípio do
melhor interesse da menor, ao menos nesta fase processual, a medida
mais coerente é a manutenção da guarda da infante com os
recorrentes, pois é a única forma de evitar abalo psicológico e
emocional, além do agravamento das patologias indicadas no
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arcabouço probatório.
4. Outrossim, em que pese haver para a adoção, a necessidade de se
respeitar procedimento específico, com a devida habilitação de
pretendentes nos cadastros mantidos pelo Poder Judiciário e a
progressão destes em outras etapas, observa-se que a hipótese
vertente comporta a relativização de tais requisitos, em virtude do
princípio do melhor interesse do menor.

Vistos, relatados e discutidos os autos de Agravo de Instrumento n.


0016706-53.2017.8.05.0000, da Comarca de Feira de Santana em que são agravantes Daiane
Avelina Mascarenhas Rodrigues e Edinaldo Azevedo Rodrigues e agravada Patricia Souza do
Nascimento.

ACORDAM os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara Cível do Tribunal de


Justiça do Estado da Bahia, à unanimidade, em conhecer e dar provimento ao recurso, nos
termos do voto do relator.

Salvador/BA, __ de ____________ de 2018.

Presidente

José Edivaldo Rocha Rotondano


Relator

Procurador(a) de Justiça

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Processo : Agravo de Instrumento n. 0016706-53.2017.8.05.0000
Foro de Origem : Comarca de Feira de Santana
Órgão Julgador : Quinta Câmara Cível
Agravante : Daiane Avelina Mascarenhas Rodrigues
Agravante : Edinaldo Azevedo Rodrigues
Advogado : Thandara Cruz Teles (OAB: 41867/BA)
Advogado : Lorena Sobral Santa Rosa (OAB: 45078/BA)
Agravada : Patricia Souza do Nascimento
Relator : José Edivaldo Rocha Rotondano
RELATÓRIO

Trata-se de agravo de instrumento interposto por Daiane Avelina Mascarenhas Rodrigues e


Edinaldo Azevedo Rodrigues contra decisão do Juízo da 1ª Vara da Infância e Juventude da
Comarca de Feira de Santana que, nos autos da ação ordinária tombada sob o n.
0515675-26.2016.8.05.0080, ajuizada em face de Patricia Souza do Nascimento, aplicou a
medida protetiva de acolhimento em favor da menor S. R.S. N., para mantê-la aos cuidados
do Orfanato Evangélico em Feira de Santana, no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de busca e
apreensão, nos termos do art. 297, CPC.

Em suas razões, os recorrentes sustentaram, em suma, que ingressaram com a ação originária
de adoção em 05/12/2016, com vista a regularizar formalmente a guarda de fato que estão
exercendo em relação à menor que lhes foi entregue pela mãe biológica, um dia após seu
nascimento, requerendo, ainda, a destituição do poder familiar, bem como a dispensa do
cumprimento do estágio de convivência.

Alegaram que a ausência de indicação do genitor da infante se deu pelo desconhecimento da


genitora, uma vez que esta declarou ter mantido relações sexuais com diversos parceiros em
curto espaço de tempo, não sabendo esclarecer informações ou localização dos mesmos.

Aduziram que a urgência do caso demonstrou-se em virtude da menor, desde seu nascimento,
sofrer com baixa imunidade, devido aos maus cuidados da mãe biológica durante a gestação,
sendo que a imunodeficiência causa uma série de infecções na menor, e tal quadro acarretou
dificuldades para prestar-lhe a assistência necessária, posto que não possuem qualquer

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documento que comprove o vínculo existente.

Asseveraram que a decisão interlocutória causará dano irreparável à menor, que se encontra
em situação de extrema vulnerabilidade, de modo que o Juízo a quo vislumbrou tão somente
a formalidade do cadastro nacional de adoção, deixando de considerar o único e
imprescindível critério a ser observado nas decisões dessa natureza, qual seja, a existência de
vínculo afetivo da infante com o casal adotante.

Nesses termos, requereram a concessão de efeito suspensivo ao recurso para que fosse
suspensa a determinação de encaminhamento da referida menor aos cuidados de entidade
acolhedora e, em caráter definitivo, o provimento deste instrumento.

Juntou os documentos de fls. 14/61.

Às fls. 63/64, foi deferida a gratuidade de justiça, assim como a suspensividade requestada.

Devidamente intimada, a agravado apresentou contrarrazões às fls. 74/75, asseverando que


não concorda com a inclusão da infante em programa de acolhimento institucional,
posicionando-se pela manutenção daquela no lar e na família em que se encontra, até o
julgamento final do processo.

Instada a manifestar-se no feito, a douta Procuradoria de Justiça ofereceu seu parecer, fls.
84/89, opinando pelo provimento do recurso.

Elaborado o relatório, restituo os autos à Secretaria para inclusão do feito em pauta de


julgamento, nos termos do art. 931 do Código de Processo Civil.

Salvador/BA, __ de ____________ de 2017.

José Edivaldo Rocha Rotondano


Relator

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Agravante : Daiane Avelina Mascarenhas Rodrigues
Agravante : Edinaldo Azevedo Rodrigues
Advogado : Thandara Cruz Teles (OAB: 41867/BA)
Advogado : Lorena Sobral Santa Rosa (OAB: 45078/BA)
Agravada : Patricia Souza do Nascimento
Relator : José Edivaldo Rocha Rotondano
VOTO

1. Requisitos de admissibilidade.

Presentes os pressupostos legais para a admissibilidade, conhece-se do recurso.

2. Mérito.

In casu, verifica-se que a irresignação recursal gira em derredor do decisum prolatado pelo
Juízo primevo, no qual restou determinada a medida protetiva de acolhimento em favor da
menor S.R.S. N., para mantê-la aos cuidados do Orfanato Evangélico em Feira de Santana,
no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de busca e apreensão, nos termos do art. 297, CPC.

Com efeito, a análise do cartapácio revela que os agravantes são guardiões da criança suso
citada, desde o primeiro dia após seu nascimento, por entrega espontânea realizada pela
respectiva genitora, ainda no âmbito da unidade de saúde onde nasceu, fl.44.

Nesse sentido, verifica-se que a criança mantém vínculo com os recorrentes desde o mês de
maio de 2016, de modo que em dezembro do mesmo ano, ingressaram com a ação originária,
visando à formalização da sua guarda, bem como os procedimentos inerentes ao processo de
adoção, contudo, conforme constatado pelo Ministério Público às fls. 50/51, e reconhecido
pelo Juízo primevo às fl.52/53, os autos permaneceram 7 (sete) meses sem movimentação,
lapso temporal que solidificou ainda mais as relações afetivas relatadas na casuística.

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Data venia, em contraposição ao fundamento esposado pela magistrada a quo, ao afirmar


que "a única saída momentânea para o feito é a entrega da criança na instituição de
acolhimento habilitada", tem-se que em atendimento ao princípio do melhor interesse da
menor, ao menos nesta fase processual, a medida mais coerente é a manutenção da guarda da
infante com os recorrentes, pois é a única forma de evitar abalo psicológico e emocional,
além do agravamento das patologias indicadas nos documentos de fls. 56/59.

A respeito da aplicabilidade do princípio retrocitado em situações similares ao caso sub


examine, veja-se o posicionamento adotado pelo Tribunal da Cidadania, ipsis litteris:

DIREITO CIVIL. ADOÇÃO. 1. VÍCIO DE CONSENTIMENTO. VIOLAÇÃO DO


ART. 45 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. NÃO
OCORRÊNCIA. AQUIESCÊNCIA DEMONSTRADA POR TERMO ASSINADO
PELA MÃE BIOLÓGICA CORROBORADO PELAS DEMAIS PROVAS DOS
AUTOS. 2. LONGO CONVÍVIO DA ADOTANDA COM A FAMÍLIA
SUBSTITUTA. MELHOR INTERESSE DA MENOR. 3. RECURSO
IMPROVIDO.
1. São nobres os propósitos do art. 45 do Estatuto da Criança e do Adolescente,
notadamente diante dos noticiados casos de venda e tráfico de crianças. De fato, o
consentimento dos pais biológicos do adotando encerra segurança jurídica ao
procedimento legal de adoção.
Sucede, entretanto, que o desate de controvérsias como a presente reclama a
definição, diante do quadro fático apresentado, de qual solução atenderá o melhor
interesse da criança, real destinatária das leis e da atuação do Poder Judiciário.
2. Na espécie, o conteúdo da declaração prestada pela mãe biológica da adotanda,
apesar de não autenticada ou ratificada em audiência, elucida o consentimento e a
intenção de entregar a infante aos cuidados dos recorridos. Os depoimentos das
testemunhas, igualmente, esclarecem que a genitora da menor não possuía condições
para criá-la. O relatório social atesta a regularidade da situação de fato, bem como o
carinho e amor dispensados pelos adotantes à criança. Além disso, a mãe biológica
da infante foi pessoalmente citada e deixou de comparecer em juízo ou de
questionar o termo de anuência por ela assinado. Assim, sobejamente demonstrado o
vínculo afetivo criado entre a criança e os recorridos, sendo todas as circunstâncias
favoráveis à manutenção da menor na companhia da família que a acolheu, a
interpretação literal da norma violaria, acima de tudo, a doutrina da proteção
integral e, como tal, encontrar-se-ia na contramão da melhor dogmática
processual.Precedentes.
3. Com efeito, no confronto das formalidades legais com os vínculos de afeto
criados entre os adotantes e a infante, os últimos devem sempre prevalecer. Diante
dessas considerações, declarar a nulidade do processo de adoção, notadamente

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diante dos elementos de prova coletados durante a instrução do feito - termo de
anuência apresentado pela mãe biológica, depoimentos das testemunhas, relatório
social e situação de fato estabelecida há aproximadamente 13 (treze) anos -,
postergando sem justificativa a regularização da situação da infante, não condiz com
os objetivos do Estatuto da Criança e do Adolescente.
4. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp 1423640/CE, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 04/11/2014, DJe 13/11/2014).

Destarte, em que pese haver para a adoção, a necessidade de se respeitar procedimento


específico, com a devida habilitação de pretendentes nos cadastros mantidos pelo Poder
Judiciário e a progressão destes em outras etapas, observa-se que a hipótese vertente
comporta a relativização de tais requisitos, em virtude do princípio em comento.

A propósito, tal circunstância não passou despercebida pela doutra Procuradoria de Justiça.
Confira-se:

"[...]Em vista da verificação da existência de relativização quanto à obrigatoriedade


de cadastramento prévio e obediência à cronologia de habilitação, importa destacar
que, no presente caso, considerando que a infante foi entregue aos cuidados dos
pretensos adotantes desde o segundo dia de vida (cujo natalício data de 06/05/2016)
e tendo em vista que, desde então, já se passou mais de uma no, onde decerto já
houve o estabelecimento de laços afetivos, não se afigura razoável a retirada da
criança desse lar para colocação em abrigo, notadamente quando inexistem notícias
de maus tratos ou de abuso pelos pretensos guardiões. Antes, pelo contrário, a
criança vem tendo acompanhamento de saúde, como se infere do relatório médico
de fl. 56 e inexiste fato de, por ora, desabone a conduta dos agravantes, que não
possuem antecedentes criminais (fls. 34/35) e, ainda que por declaração e médico
particular, foram declarados psiquiatricamente aptos, consoante laudos de fls. 31/32.
Nesse caso, deve-se privilegiar o melhor interesse da criança evitando a alteração
constante de sua rotina, o que pode constituir um obstáculo ao seu desenvolvimento
saudável, notadamente tratando-se de criança de tão tenra idade.
[...]Assim, há de se ater à questão que a submissão da menor a um abrigo, ao invés
do acolhimento familiar – considerado o vínculo de afetividade já formado após
mais de um ano de convivência -, não se configura, pelo menos no referido
momento processual, como melhor medida a ser adotada em favor da menor,
sobretudo levando em consideração que a própria norma prevê preferência do
acolhimento familiar em detrimento de abrigo institucional, consoante já declinado
alhures.
Todavia, é forçoso salientar que por mais que o princípio do melhor interesse do
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menor seja o primado que norteia todo procedimento de adoção, não se pode olvidar
do fato notório quanto à ocorrência de fraude a tal procedimento. Nesse contexto,
para fins de análise da viabilidade do provimento da ação originária, mister se faz a
observância de todas as cautelas necessárias para garantia do direito do incapaz,
como a realização dos estudos psicossociais pertinentes, com manifestação pessoal
da genitora da infante e acompanhamento da equipe técnica hábil a opinar sobre o
assunto.
Destarte, em vista das peculiaridades da situação concreta posta à apreciação, e
considerando a observância do melhor interesse da criança, qua se sobrepõe ao mero
formalismo legal, tem-se como irreprochável a decisão que concedeu o efeito
suspensivo requerido, tornando necessária a reforma do decisum vergastado [...]".

Logo, tem-se que as razões suscitadas no presente instrumento merecem prosperar.

3. Conclusão.

Ex positis, na esteira do opinativo ministerial, o voto é no sentido de dar provimento ao


recurso, para determinar que a infante seja mantida sob a guarda provisória dos recorrentes
até o julgamento final da ação originária.

Salvador/BA, __ de ____________ de 2018.

José Edivaldo Rocha Rotondano


Relator

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