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de Professores
Autor
Pedro Leonidas
2008
© 2005 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.
ISBN: 978-85-387-0149-1
1. Artes. I. Título.
CDD 700.7
Dança......................................................................................................................................47
Renascimento . ...........................................................................................................................................49
Cinema....................................................................................................................................53
Lanterna mágica..........................................................................................................................................54
Cinema II................................................................................................................................57
O que é um filme?.......................................................................................................................................57
E o que é linguagem?..................................................................................................................................57
Thelma e Louise.........................................................................................................................................59
O Exterminador do Futuro II (cenas do início do filme)............................................................................59
Teatro......................................................................................................................................61
Referências..............................................................................................................................65
Anotações................................................................................................................................67
Apresentação
O
que vamos apresentar a vocês nestas doze aulas não se limita apenas a uma seqüência his-
tórica de fatos e artistas. Queremos, por meio do estudo das manifestações artísticas em
diferentes épocas e por criadores diferentes, mostrar que ela, a Arte, é, entre outras coisas,
a tradução de uma maneira de pensar e de ver o mundo de acordo com as vivências de cada momento
histórico em que elas acontecem e, mais ainda, segundo a visão subjetiva do artista que a cria.
A Arte não se contenta com um simples “retratar do mundo”, preocupa-se principalmente
com um “mostrar” o mundo e a vida da maneira mais ampla possível, possibilitando ao observador
ver muito além daquilo que é concreto, palpável. É um ato revelador do mundo subjetivo que existe
“em nossa volta e em nosso mundo psíquico”.
A Arte é a única atividade humana que trabalha com a verdade em sua plenitude, e não com
a verdade imediata como faz a ciência. No entanto, o homem é incapaz de se defrontar com esse po-
tencial de verdade, pois enlouqueceria, diz Nietzsche. Assim, a qualidade de uma obra de arte é tanto
maior quanto maior for seu volume de verdades que souber oferecer, permitindo que o observador as
apreenda sem que enlouqueça.
A Arte apresenta-se como filtro da grande verdade que é a vida. Eis a razão deste estudo; e
a melhor maneira de entendê-la não se limita a apreciá-la, mas apreciá-la da melhor maneira possível
e, sobretudo, vivenciá-la.
Por essa razão, dividimos nossas aulas em uma parte teórica, e, em outra com exemplos e
atividades que facilitam o entendimento dessa grandiosa manifestação da sensibilidade humana.
A Arte reflete a vida
Pedro Leonidas
A
Arte é uma constante na vida. Ela faz parte da história de todos nós. Aquele general autoritá-
rio, aquele padre severo, aquela mulher bondosa e aquela criança endiabrada são todos artistas
em potencial e, na verdade, certamente, em alguma época de suas vidas, todos fizeram ou
talvez ainda façam Arte.
O general, quando menino, pode ter desenhado um carrinho; o padre talvez tenha feito poesia;
a mulher talvez pinte aquarelas, e a criança pode estar fingindo que é um robô num futuro distante.
Todos fizeram ou estão fazendo Arte: o general desenha; o padre faz literatura; a mulher faz
pintura, e o garoto representa. E tudo isso é Arte.
Abaixo, uma definição de Arte:
“Arte é todo trabalho criativo, ou seu produto, que se faça consciente ou inconscientemente
com intenção estética, isto é, com o fim de alcançar resultados belos.”
<www.estudantedefilosofia.com.br/conceitos/teoriadaarte.php>.
No entanto, sabemos que tentar definir esse conjunto complexo do fazer humano, a que cha-
mamos de Arte, é extremamente difícil devido à abrangência de fatores que, para essa realização,
concorrem e as infinitas variáveis que nela interferem, tanto na sua criação psíquica quanto na sua
execução.
Para Kandinsky, “...a obra de arte é filha do seu tempo.” Cada época cria uma Arte que lhe
é propícia, e cada grupo humano o faz a sua maneira, dentro do conhecimento de mundo que esse
mesmo grupo venha a ter, bem como de sua capacidade tecnológica, de sua localização geográfica,
de seu poder econômico, de seu sistema político, de suas convicções religiosas e das características
psicológicas que estruturam tal complexo grupal.
Vamos fazer uma breve interrupção para salientar que, além de todos esses fatores grupais,
as características individuais propícias do artista são elementos fundamentais na avaliação da obra
artística; mas para que pudéssemos fazer um estudo da individualidade do artista, desta ou daquela
obra, necessitaríamos de dados – acontecimentos, história familiar e outros – da vida desse artista,
que viveu em épocas remotas da história de nossa civilização, e nada ficou registrado nessa área.
Somente com a invenção da escrita registros mais detalhados e mais específicos vieram acontecer,
somente a partir daí particularidades significativas sobre os artesãos do mundo antigo puderam ser
esclarecidas.
Assim, voltemos à visão de Arte ainda no sentido grupal.
Arte e Formação de Professores
A Arte, como vimos, então, está sujeita à época e ao grupo cultural que lhe
dá origem. Como se pode perceber nas imagens a seguir.
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A Arte reflete a vida
Arte pré-histórica.
Não era exatamente uma figura humana, e sim “uma figura fantasiada de
animal”. Entretanto, por que aqueles homens que retrataram animais com tanta
perfeição não o fizeram com figuras humanas? Poderiam perfeitamente tê-lo feito.
Por que não o fizeram?
A mais coerente explicação é a de que o homem-feiticeiro, vestido com as
peles de animal, estaria incorporando o poder desse animal. Era, ao mesmo tem-
po, a incorporação, uma união com as forças do animal e também um domínio,
um controle sobre essas mesmas forças.
E a incorporação de um animal assinalava uma outra forma e manifestação
artística dessas eras – a representação – que viria a desenvolver-se no teatro.
Assim como não temos registros da música ou da dança, nada temos de
como seria um esboço da representação teatral daquela época.
Pesquisas de grupos, de culturas primitivas,
ainda existentes em nossos tempos (como na Ama-
zônia, na Austrália, na África), levam-nos a deduzir
que, como nessas culturas, o que havia era uma repre-
sentação de fundo mágico, em que, pela imitação de
animais, de atos de caça ou luta, de forças da nature-
za, iria se estabelecer uma ligação com as misteriosas
forças que dominavam o pensamento desses grupos e
que dominavam o homem pré-histórico.
Estudando as civilizações antigas, como a egíp-
cia, a grega e, mais precisamente, suas celebrações, Músicos gregos participando da Comédia Nova Grega.
vemos rituais que se constituíam de representações de
animais e seres ancestrais, de deuses ligados às estações do ano, às épocas de secas
e de chuva, da noite e do dia e a outros acontecimentos para eles inexplicáveis.
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Arte e Formação de Professores
O teatro grego destaca-se como a melhor fonte de estudos para isso. Nele,
vemos claramente a transformação dos rituais de celebração ao deus Baco em re-
presentações teatrais que, no decorrer do tempo, deixariam sua função sacra para
se tornarem profanas.
O homem, em decorrência de um maior crescimento populacional, abando-
na sua maneira de viver, torna-se mais sedentário, começa a criar animais, desen-
volve a agricultura e o artesanato. Suas manifestações artísticas mais marcantes
dessa época são construções palafíticas e monumentos megalíticos.
Construções palafíticas são habitações rústicas de madeira, reunidas em
verdadeiras cidades erguidas sobre pilotis, estacas resistentes e profundamente
enterradas em lagos ou às margens de rios.
Monumento megalíticos são enormes construções de pedra, toscamente
lavradas, e recebem as denominações de:
menir – grandes blocos de pedra erguidos verticalmente;
alinhamento – menires enfileirados regularmente;
crontiques – menires dispostos em círculos;
dolmens – formados de duas pedras verticais sustentando um pedra hori-
zontal.
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A Arte reflete a vida
Colagem coletiva
Materiais
Papel de vários tamanhos;
Cola;
Tesoura;
Fita adesiva;
Algodão;
Fio e barbantes;
Tampinhas de garrafa;
Cortiça;
Isopor;
Macarrão;
Botões; e
Outros.
Instruções
Em grupo, montar uma paisagem com os materiais disponíveis.
Ao final, debater a experiência com a turma e com o professor, questionando:
o que foi fácil;
o que foi difícil;
de onde veio a inspiração;
que nota você daria a sua obra-de-arte.
Caça ao tesouro
Em sua casa, procure elementos relacionados com Arte. Pode ser embalagens antigas,
fotografias em revistas ou jornais, pedras, ramos de árvores, folhas etc.
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A arte: um espelho do
passado, presente e futuro
A maneira de o homem se exprimir nos revela muito do mundo em que vive, sua vida, suas
crenças, medos e desejos, mas ainda fica uma pergunta: Arte é isso? Um simples registro histórico,
nada mais?
E podemos responder de imediato que não, não é apenas isso. É muito mais, e para que melhor
entendamos o alcance que tem, o que expressa uma obra de arte, vamos falar e explicar o que vem a
ser essa faceta do comportamento humano, que é o fazer artístico.
E com esse objetivo em mente, vamos dar mais um passo nesta caminhada, comentando um
trecho de um filme.
O filme é 2001 – uma odisséia no espaço. Por que escolhemos esse filme e, mais precisamente,
por que esse trecho do filme?
Estas cenas acontecem no início do filme.
Esse filme relata o futuro da humanidade, a conquista do espaço pelo homem. Mas o impor-
tante é que esse “espaço” tem um duplo sentido: fala de um espaço exterior, o universo físico como o
conhecemos; e do espaço interior, o universo desconhecido que constitui nosso interior, nosso espaço
psíquico, sendo este um universo tão grandioso e misterioso quanto o espaço físico que nos envolve
exteriormente.
A história do filme é simples: num futuro que não se encontra muito distante, cientistas desco-
brem sinais de rádio que partem do planeta Júpiter. Um grupo de astronautas é, então, enviado em
uma nave sob o comando de um fabuloso computador, de nome Hall, para investigar a origem desses
sinais. Durante a viagem, acontece um problema no computador, originando, entre Hall e os astro-
nautas, uma espécie de luta pelo controle da nave. Depois de uma série de acontecimentos, o único
astronauta sobrevivente consegue desligar o computador e chega sozinho ao ponto de origem dos
misteriosos sinais de rádio. Então, uma série de imagens visualmente fantásticas se sucede, imagens
estas que falam do mundo “interno” (psíquico) do astronauta.
Reforçamos que 2001 é uma viagem. Uma viagem ao desconhecido. E esse desconhecido tem
um duplo significado. Ao mesmo tempo em que retrata uma viagem nesse universo físico, material,
que conhecemos de certa maneira – porque, na verdade, muito pouco ainda dele conhecemos – é tam-
bém uma jornada para o universo interno que nos leva a pensar, a agir, enfim, a ser o que somos de
acordo com nossas características individuais, as quais, também, muito pouco conhecemos.
Arte e Formação de Professores
Formas. Posições.
As linhas não têm apenas um lado palpável, elas também expressam senti-
mentos ou produzem sensações.
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Arte e Formação de Professores
Quando fez esses desenhos, Picasso queria dar uma expressão de dor às fi-
guras. Para isso, fez muitas tentativas até conseguir um resultado que considerou
ideal, mesmo que para isso tenha “deformado” bastante o que representava.
Olhando este desenho, logo pensamos: é, realmente, não sou um artista e
jamais virei a ser. É impossível, para mim, fazer algo semelhante a isto:
Tudo o que precisamos e devemos fazer é dar esse primeiro passo: fazer o
primeiro risco e mergulhar neste mundo desconhecido: uma folha de papel em
branco. Vamos fazer como o homem-macaco ou macaco-homem do filme e lançar
o osso.
Traços livres
Rabisque numa folha de papel, de olhos fechados, dois ou três riscos aleatórios.
Troque a sua folha com um colega de classe.
A partir dos rabiscos na folha do seu colega, deixe a sua imaginação fluir e componha um
desenho.
Ao final, comente essa experiência com a turma.
Exercício de observação
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Grécia e Roma:
a Arte Clássica
Vamos agora dar um grande salto no tempo e sair da Pré-His-
tória para pousar na Grécia, algumas centenas de anos antes da Era
Cristã.
A história grega é dividida em três períodos – o Arcaico, que
abrange os séculos XII a VI a.C.; o Clássico, os séculos VI, V e IV
a.C., e o Helênico, 323 a.C. a 30 a.C.
A civilização grega viveu um extraordinário grau de criação
artística e intelectual. Os séculos V e VI a.C. (época clássica) cons-
tituem a época do esplendor grego. Definitivamente alcançando o
equilíbrio entre pensamento lógico, técnica apurada, ideal de beleza
e organização, empreendem-se as grandes obras que viriam a se tor- Crético-mecênica.
nar os pilares da cultura ocidental. Nesse momento da história, a Arte
chega a um dos clímax da nossa cultura. A arquitetura e a escultura
atingem ápices até hoje difíceis de serem alcançados. A literatura se
concretiza, e o teatro explode numa genialidade inigualável.
Afastando-se de seu Período Arcaico, surgiria, nesse canto da
terra, a arte ocidental propriamente dita. Manifestam-se, nela, três
influências: o espírito dinâmico, com linhas curvas, vindo da cultura
crético-mecênica; o geometrismo retilíneo, de origem ariana, e o re-
Geometrismo retilíneo.
alismo convencional dos povos orientais.
A convergência dessas influências sobre a Grécia modela uma
raça que aprende um novo modo de viver em cidades (pólis), nas
quais o homem tem o interesse voltado para si mesmo, desliga-se do
culto a deuses terríveis (humaniza essas diversidades) e tem como
meta alcançar a beleza por meio do apolíneo.
Escultura grega.
Arte e Formação de Professores
Pártenon, em Atenas.
Escultura grega.
Da pintura grega, no entanto, não restaram obras originais. O que nos ficou
como registro foi a decoração de vasos.
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Arte e Formação de Professores
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Grécia e Roma: A Arte Clássica
Dramatização
dividir a turma em grupos.
Valendo-se de um sorteio, cada grupo recebe uma história a ser dramatizada.
história 1 – o Fantasma num Quarto Escuro: meninas brincando de fantasma. No meio
da brincadeira, ouve-se um barulho vindo de fora. O medo torna-se real. Tomam coragem e
se escondem. Entra um ladrão e começa a roubar. Os meninos observam e resolvem gozar
do ladrão – fazem barulho, aparecem vestidos de fantasmas. O ladrão se apavora e foge.
história 2 – a Pescaria. pessoas saem de barco para pescar. Arma-se uma tempestade, os
pescadores tentam remar para a praia (mímica de pescaria, mímica de remar). Ansiedade.
Reação segundo o temperamento de cada um. O mais corajoso pede calma, outro reza,
outro chora etc. Finalmente, vêem ao longe um barco que se aproxima para salvá-los. Ale-
gria.
história 3 – o Espantalho. toda noite um ladrão roubava a plantação da família. Os me-
ninos resolvem descobrir quem é. Colocam-se no lugar dos espantalhos. Quando o ladrão
chega, começam a fazer barulho e, fantasiados de espantalho, agarram-se entre si, ame-
drontando o ladrão, que acaba sendo preso pelos meninos.
história 4 – o Milagre. um casal pobre não tinha tempo de arrumar a casa. Os filhos,
fingindo-se de fadas, resolvem arrumar tudo durante a noite. Quando os pais acordam, não
sabem quem trabalhou e acham que é um milagre. No dia seguinte, a mesma coisa. Na ter-
ceira vez, os pais resolvem ficar de vigília para ver quem eram os anjos que os ajudavam.
Quando descobrem que eram seus filhos, ficam muito alegres.
Observação: outras histórias podem ser criadas pelos grupos.
Ao final, comente com a turma sobre a experiência.
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A religião domina o
mundo ocidental
Idade Média
O fim do Império Romano do Ocidente ocorreu com a invasão das terras pertencentes a Roma
pelos chamados bárbaros, ou povos germânicos. As diversas raças que o constituíam espalharam-se
por toda a Europa, criando muitos reinos com características próprias e que viriam, muitos deles, a se
transformar nos atuais países europeus.
Uma nova maneira de viver organizou-se na Europa. Nasceram as cidades e nelas surgiram
o que se chamou de confraria de artesãos (um conjunto de profissionais de uma mesma área – por
exemplo, marceneiros, pintores, ferreiros e outros mais) organizados com o objetivo de melhor se
fortalecerem em suas profissões.
Nasceram as primeiras universidades, e, com elas, uma maior expansão do ensino.
Os muçulmanos dominaram o Mare Nostrum (Mar Mediterrâneo), que se tornou, assim, um
mar proibido aos navios europeus. Foi o fim do comércio mediterrâneo e o fim também da civilização
greco-romana. Na verdade, as invasões bárbaras já haviam destruído o poder político de Roma. Mas,
com a dominação do Mar Mediterrâneo pelos muçulmanos os habitantes da Europa Ocidental foram
obrigados a procurar novas maneiras de sobrevivência, voltando-se então para o campo. Naquele
mundo rural que surgiu, cada unidade, castelo ou mosteiro tratou de bastar-se a si mesmo, de ter uma
existência econômica própria – lavrar seus campos, tecer seus tecidos, costurar seus sapatos, enfim,
realizar cada qual todas as atividades necessárias capazes de lhes garantir a independência.
Nesse mundo, a justiça era aplicada pelos senhores, feudais, e a esse regime político-econômico
deu-se o nome de feudalismo.
Esse mundo fragmentado tinha apenas uma organização, cuja estrutura nasceu em Roma e que
manteve uma precária unidade: a Igreja Católica.
A Igreja Católica, na verdade, era, na Idade Média, a grande força unificadora e dominante em
toda a Europa. O cristianismo é uma religião que incorporou elementos vindos das religiões mais
primitivas, principalmente do judaísmo: Deus único, a história do mundo, os Dez Mandamentos, a
cosmologia etc. Em meio a tudo isso, viveu a Arte antes do ano 1000. A Igreja se constituía na grande
produtora e consumidora das obras artísticas. Como uma potência econômica, foi capaz de propiciar,
numa época de profunda decadência financeira, a produção de obras de Arte, como a construção de
mosteiros e templos. No entanto, o que a Igreja realmente ambicionava era fazer da arte um eficaz
instrumento da fé. A verdade propagada por Cristo era a verdade absoluta, e não devia ser questiona-
da – diziam os religiosos da época. E impunham uma total submissão a esses princípios. Não se podia
discutir a verdade estabelecida pela Igreja; o que se devia fazer era conservar esses ensinamentos
tornando-os sagrados.
Arte e Formação de Professores
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A religião domina o mundo ocidental
Palco renascentista.
29
Arte e Formação de Professores
Após deixar esse estado de relaxamento profundo, desenhe em uma folha de papel a pai-
sagem que você viu.
Não se preocupe com a qualidade do sedenho, simplesmente desenho tudo de que se lem-
brar. O importante é manter contato com essas imagens internas.
A partir do seu desenho, crie uma história com começo, meio e fim.
Ao final, comente essa experiência com a turma.
Professor,
Nesse relaxamento, trabalha-se o corpo todo, dos pés à cabeça, principalmente as articula-
ções. São dois os movimentos básicos, expansão e contração muscular (três vezes cada): lentamente,
contraia o pé direito e relaxe-o, voltando à posição inicial. Repita esse exercício com o pé esquerdo.
Lentamente, estique o pé direito e relaxe-o, voltando à posição inicial. Repita esse exercício com o
pé esquerdo. Faça o mesmo com joelhos, quadril, abdômen, tórax, braços, mãos, ombros, pescoço e
cabeça.
Eis o que deve ser dito suave e pausadamente aos alunos para que eles alcancem profundo es-
tado de relaxamento, de preferência embalado pelos sons da natureza (pássaros, água, chuva, vento,
folhas etc):
seu corpo começa a ficar cada vez mais leve...
cada vez mais leve...
e você começa a levitar, saindo lentamente as da sala de aula (através do teto)...
levitando sobre a cidade...
afastando-se dela até chegar num lindo bosque...
procure esse bosque...
observe-o com atenção (as árvores, a mata, os pássaros, os bichos, o céu, um riacho, o baru-
lho do riacho...)
Dê tempo aos alunos, agora e, depois, peça que eles se despeçam desse bosque e conduza-os de
volta à sala de aula, repetindo o processo inversamente.
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O homem volta a
olhar para o homem
Renascimento
Por volta de 1500, a Europa sofria enormes transformações:
a navegação no Mediterrâneo voltava a dinamizar proporcionando intercâmbio comercial e
cultural entre os povos que habitavam a Europa;
a burguesia se tornava mais participante na vida econômica e social;
o homem passava a ser visto de uma maneira mais humanista e, nesse processo, surgiu o con-
ceito de individualismo – o homem, detentor de direitos inalienáveis, livre para trabalhar onde
bem entendesse, para exercer com liberdade seus talentos;
o mundo continuava a ser encarado como criação de Deus, mas a Arte já não se prendia apenas
nele ou em tudo que a ele se relacionasse, e o homem passava a assumir uma posição privile-
giada.
Essa transformação do universo medieval se processou lentamente, mas a sua grande conquista
foi a revalorização do homem e a rejeição da cultura do mundo medieval em troca de uma preocu-
pação com uma ciência distanciada da religião e interessada em entender as causas das coisas – por
exemplo: a causa da movimentação da água e dos ventos para se construírem melhores navios.
Na Arte, então, o que realmente importava era criar a ilusão de um mundo imaginário que, de
repente, adquiriria vida própria. O Nascimento de Vênus é um exemplo disso.
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O homem volta a olhar para o homem
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O homem descobre
novos mundos
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O homem descobre novos mundos
“Lendo” um quadro
O quadro mostra a “infanta Margarida na companhia de duas damas de honra; ela visita seus
pais no momento em que eles estão sendo retratados pelo artista. O pintor aparece de pé, do lado
esquerdo, diante de enorme tela na qual se vê apenas a armação do fundo. A sala baixa apresenta
paredes em tons mornos, recobertas de quadros. Num espelho brilham os vultos do rei e da rainha
que estão sendo retratados. A luz jorra de uma porta, ao fundo, contrastando com a imagem negra
de um oficial da côrte e parente do pintor. Embora existam outras fontes de luz, vindas das janelas à
direita, a iluminação principal de toda a cena está concentrada no brilho especial que destaca a figura
da infanta.”
A análise do quadro As Meninas feita por Michel Foucault, revolucionou toda a visão estética
das obras de arte. Foucault prova que Velásques cria uma composição que não se restringe apenas aos
limites da pintura. Nela, o espectador não é apenas um observador; na verdade, ele (o observador) é
como que sugado para dentro do quadro – torna-se “participante” do quadro.
Arte e Formação de Professores
O quadro o envolve como um laço e “puxa-o para dentro de si”; ocorre uma
interação entre obra e espectador.
Agora, vamos ver como e por que isso acontece.
O quadro retrata o próprio pintor executando uma grande tela, e está, na
pintura, de costas; ao seu lado, as meninas e acompanhantes ao fundo, uma porta
aberta onde se vê um homem. Na parede do fundo, vários quadros e um espelho
com duas figuras aparecendo entre os brilhos do reflexo do vidro. Essa disposição
dos elementos que constituem a obra monta um contexto riquíssimo para nós,
espectadores. “O pintor está ligeiramente afastado do quadro. O braço que segura
o pincel está dobrado para a esquerda, na direção da palheta. Essa mão está pen-
dente do olhar.” O olhar do auto-retratado (Velásquez) capta quem observa a obra
e daí parte o início de um diálogo que poderia ser assim resumido:
Quem observa a cena?
Quem pinta?
Quem é retratado?
É com esse artifício que Velásquez faz desaparecer o distanciamento entre
obra e observador e cria a ilusão de que o observador é quem está sendo retrata-
do. Nesse momento o espectador pode pensar: o pintor está olhando para fora do
quadro, está olhando para mim, é a mim que ele está pintando.
Mas se essa pessoa que observa continuar tentando “ler”, entender o quadro,
observará que o olhar de outras personagens parecem também olhar para fora;
olhar para quem está sendo realmente retratado. Nesse momento, o observador
deve quebrar essa sensação de “estar dentro” do quadro e procurar olhar racional-
mente e perguntar-se novamente: quem o pintor está realmente retratando?
É esse enigma que cria toda a magia dessa obra de Velásquez.
Mas vamos observar novamente o quadro. Quem o pintor está pintando? A
resposta é simples, o pintor está pintando o rei e a rainha, que aparecem refletidos
no espelho, no fundo, e quase no centro do quadro.
Esse vaivém de olhares traça no ar a linha que une o quadro ao ambiente ao
qual ele pertence. A obra deixa de ser algo estático, como se criasse vida, movi-
mento. “O quadro se abre para frente numa grande volta”, (diz Foucault); começa
no olhar do pintor do auto-retrato, vai ao espectador, leva-o ao espelho que fixa
o casal real no lugar ao lado do autor, no momento em que compõe, e ao lado
do espectador, daí corre aos personagens cada um recebendo e devolvendo essa
maravilhosa serpentina que se remete ao espaço que atravessa o observador, volta
ao quadro e retorna novamente ao que observa. É como uma serpentina que se
desenrola e a tudo envolve.
No momento em que estamos observando essa obra, vem-nos uma sensação
inicial de confusão e espanto, pois o quadro, como num passe de mágica, elimina
o tempo e o espaço – por alguns momentos somos levados ao local em que aquela
cena está acontecendo e deixamos o presente para mergulhar no passado ou o pas-
sado vem até nós e nos transporta para um novo estado de consciência. E, então,
“voltamos” à realidade e ao presente. Nós não apenas observamos a obra, mas a
“vivenciamos”, e, com isso, nos transformamos.
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Arte: nossa eterna companheira
2. O que você acha que o artista pensou quando realizou essa obra? O que ele quis “dizer” com
ela?
41
Arte e Formação de Professores
42
Na infância do homem:
o nascimento da Arte
Música
O que é música?
Música, poderíamos dizer, é a arte dos sons, combinados de acordo com as variações da altura,
proporcionados segundo a sua duração e ordenados sob as leis da estética.
São três os elementos fundamentais de que se compõe a música:
melodia;
ritmo;
harmonia.
Mas, como dissemos no início, a música é a arte dos sons; assim, para melhor entendê-la, pri-
meiro falaremos um pouco a respeito de som.
O que é som?
A definição de som que nos é dada pelo Dicionário Aurélio é:
Fenômeno acústico que consiste na propagação de ondas sonoras produzidas por um corpo que vibra em meio
material elástico (especialmente o ar). Som é a sensação auditiva criada por esse fenômeno.
Altura
Propriedade de uma onda ou vibração sonora, caracterizada pela freqüência
da vibração.
Dependendo de sua altura, o som pode ser grave ou agudo.
Podemos também dizer que são essas diferenças de altura que criam as
notas musicais.
Essas notas musicais são conhecidas como dó, ré, mi, fá, sol, lá, si.
À seqüência dessas notas damos o nome de escala musical, e elas são, po-
deríamos dizer, as letras do “alfabeto” musical com as quais o compositor vai criar
as “palavras”, que vão compor as “frases” da “história” musical que o compositor
desejar criar.
Duração
Consiste no espaço de tempo em que o som acontece. Ele pode ser obvia-
mente longo, curto ou, até mesmo, estar ausente. A essas ausências de som damos
o nome de pausas. À combinação de sons e pausas damos o nome de ritmo.
Densidade
A qualidade daquilo que é “denso”, isto é, “que tem muita massa e peso em
relação ao volume”. Transpondo isso para a música, poderíamos dizer que densi-
dade é a quantidade de sons acontecendo ao mesmo momento num mesmo lugar.
Por exemplo:
1. o som de uma flauta; o som de vários instrumentos numa bateria de
escola de samba.
Intensidade
Poderíamos definir intensidade como o maior ou menor grau de força com
que um som é emitido. No campo da música, podemos dizer que é a maior ou a
menor amplitude de vibrações, que podem ser fortes, fracas, dependendo da força
com que acontecem. Por exemplo: o som de um trovão; o barulho suave do vento
nas folhas das árvores.
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Na infância do homem: o nascimento da Arte
Timbre
Qualidade distinta de sons da mesma altura e intensidade, que resulta da
combinação dos sons harmônicos presentes e de suas intesidades relativas ao som
fundamental. Timbre, na verdade, é a marca, o selo que personaliza o som, que
o caracteriza, que nos permite saber se ele é de um piano, de uma guitarra ou de
uma corneta.
Falamos o tempo todo a respeito do som porque música é simplesmente som
(ou ausência dele). E, falando do som, falamos de música, pois som é a matéria-
prima de que é feita a música e, para entendê-la, devemos simplesmente estar
atentos aos sons: sua altura; densidade; intensidade; timbre e sua duração.
É dele que o compositor faz uso para expressar, por meio de sua composição
musical, aquilo que pretende comunicar, dizer ao ouvinte. É por meio dele que um
compositor cria uma música suave como Garota de Ipanema; empolgante como o
Hino Nacional; alegre como uma marchinha de carnaval; profunda como as sin-
fonias de Beethoven, e envolvente e triste como o Lago dos Cisnes.
Distribuir balões vazios (bexigas) para os alunos e pedir que não os encham.
Pedir que os alunos encham o balão e que voltem a explorá-lo, agora cheio.
Pedir que os alunos procurem tirar algum som do balão. Experimentar as várias possibili-
dades que ele apresenta.
Incentivar os alunos a produzirem sons graves, agudos; sons suaves e sons rápidos; ritmos
diferentes; aumentar ou diminuir a densidade do som etc.
Pedir que os alunos procurem “criar” uma única música como se formassem uma “orquestra”.
Comentar a experiência.
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Dança
A dança nasceu associada às práticas mágicas do ho-
mem. Com o desenvolvimento da civilização, o rito separou-se
da dança, configurando-se assim um campo mais específico
para essa manifestação cultural.
Como vimos em nossas primeiras aulas, o homem pri-
mitivo pintava nas paredes das grutas, cavernas e galerias sub-
terrâneas cenas de caça e rituais que representavam a caçada.
Pareciam acreditar ser possível, pela representação pictórica,
alcançar determinados objetivos, como abater um animal, por
exemplo. Caça ao rinoceronte.
Na figura ao lado, vemos a representação de um ritual de
caça ao rinoceronte.
Nesta outra figura, o que vemos é um homem com uma
máscara de ave. O que está aí desenhado não é exatamente uma
figura humana, e sim “uma figura fantasiada de animal”. Pode-
mos deduzir que o significado disso é que o homem/feiticeiro,
vestido com peles de animais, ou máscaras que o representem,
está naquele momento incorporando o poder desse animal e,
mediante a incorporação das forças dele, adquire sobre ele um
domínio, um controle das suas forças. Homem com máscara de ave atacado por um
bisonte ferido.
Nessa tentativa de conquistar magicamente a caça, o ho-
mem primitivo não apenas pintava as paredes, mas também criava rituais com fundo mágico, nos
quais, por meio da imitação desses animais, de atos de caça ou de luta, procurava estabelecer uma
ligação misteriosa com as forças da natureza e, sobre elas, adquirir domínio.
Desses rituais, originaram-se: teatro, música e dança.
Os primeiros registros dessas atividades ritualísticas datam do paleolítico superior. Naquela
época, os homens viviam em pequenos bandos isolados, cultivando um primitivo individualismo,
apenas se preocupando em coletar alimentos. Não há indicações de que cultuassem alguma divindade
ou acreditassem na vida após a morte, nem que possuíssem um pensamento lógico. Eles eram apenas
dominados por esse pensamento mágico, rudimentar.
Já no neolítico, o homem “adorava os espíritos, cultuava e enterrava seus mortos. Nas cerimônias e
cultos, a dança tinha um importante papel, sendo mesmo a Arte dominante do período; sua execução
estava a cargo dos homens, principalmente dos magos e sacerdotes. Talvez já fossem acompanhados
por alguma música, como se depreende de uma ou outra pintura mural e pelo encontro, em escava-
ções, entalhados em osso, flautas e matracas, muitas vezes também representados em tais pinturas.”
“A princípio, homens deviam dançar nus. Quando a dança tornou-se um elemento ritual e sua
execução quase que só um privilégio de sacerdotes, eles se cobriram de amuletos na presunção, tal-
vez, de que assim teriam mais forças para enfrentar os poderes sobrenaturais e a própria natureza.”
Arte e Formação de Professores
A dança pode ser considerada a mais antiga das artes, a mais capaz de
exprimir tanto as mais fortes quanto as mais simples emoções, sem o auxílio da
palavra.
A arte da dança é também profundamente simbólica, “capaz de sugerir, ili-
mitadamente, imagens e associações cheias de riqueza e de vitalidade.”
O Dicionário Aurélio define dança como uma seqüência de movimentos
corporais executados de maneira ritmada, em geral ao som de música. Essa defi-
nição levaria a um dado fundamental para se entender a dança, o ritmo.
Dança expressa movimentos e gestos, mas esses “gestos e movimentos só
obteriam efeito mágico ou encantatório se executados dentro de certas regras e
medidas, não necessariamente regulares ou aparentes, mas que os tornassem um
conjunto homogêneo e fluente no tempo, quando tinham, enfim, sua duração divi-
dida em determinados intervalos, isto é, dentro de um ritmo, fator indispensável
para que essa atividade se configurasse uma dança.”
Vimos, na aula passada, que ritmo é uma seqüência de durações de sons e
silêncios, isto é, ritmo é um agrupamento, uma organização, uma combinação ou
junção de durações sonoras.
Dentro da linguagem musical, ritmos são as diversas maneiras de usar o
som de que um compositor faz uso para realizar sua obra.
Dois elementos do ritmo são fundamentais para defini-lo: o andamento e a
pulsação.
O andamento está relacionado com a rapidez ou com a lentidão de uma
música. A pulsação é o elemento que regula uma música. Ela corresponderia às
batidas do nosso coração.
É ele que nos faz bater o pé, ou bater palmas, procurando fazer o acompa-
nhamento de determinada música.
Na dança, o ritmo pode ser externo ou interno. O ritmo de origem externa é
aquele que provém da música ou de sons que chegam até o dançarino. O ritmo in-
terno é aquele que provém do mundo interior (psíquico e biológico) do dançarino.
Acompanhar os batimentos cardíacos pode ser um exemplo desse tipo de ritmo.
Com o passar do tempo, assim como a música e o teatro, a dança vai se
distanciando do aspecto mágico ou religioso. Vai tornando-se mais complexa e
tomando forma diferenciada, típica dos variados grupos sociais dos quais se ori-
gina. Por exemplo, a dança na Grécia é diferente da que é executada na China.
Grupos sociais diferentes criam diferentes maneiras de se expressar artisticamen-
te, quer seja na música, no teatro ou na dança.
Na Grécia, a dança originou-se de rituais religiosos. Acreditavam, os gre-
gos, no poder mágico da dança. Os vários deuses gregos eram cultuados de dife-
rentes maneiras, e deles a música era parte fundamental. Importante no teatro, a
dança nele se manifestava por meio do coro.
Em Roma, a dança nunca foi privilegiada. Na verdade, em Roma, a dança
entra em total decadência. Só no Renascimento ela recupera suas qualidades e sua
importância.
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Dança
Renascimento
A dança no Renascimento.
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Dança
Ao som relaxante que você está ouvindo tente “esvaziar” sua mente e preste atenção so-
mente à música.
Deixe-se levar pela música e, à medida que se sintam levados por ela, comece a movi-
mentar-se.
Levante-se e solte-se com a música.
Ao final, discuta a respeito de tudo que foi vivenciado.
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Cinema
Falaremos um pouco a respeito do cinema e, para isso, vamos inicialmente procurar imitá-lo.
Tentemos visualizar estas cenas:
Noite de inverno em Paris; mais precisamente, o Natal já ficou para trás e faltam ainda alguns
dias para o ano terminar; estamos no dia 28 de dezembro de 1895.
É sábado e as ruas estão repletas de pessoas. As comemorações das festas de fim de ano criam
um clima festivo e, apesar do frio da noite invernal, em meio às músicas, luzes e alegre movimenta-
ção, num porão escuro do Gran Café, algo inusitado, quase misterioso acontece: em uma sala escura,
um pequeno grupo de pessoas olha hipnotizado para uma grande tela branca.
Na verdade, a tela aos poucos deixa de ser branca, pois nela surgem imagens de pessoas saindo
de uma fábrica. Logo depois, outra cena cria um verdadeiro alvoroço na sala: um trem avança em
direção à platéia. Algumas pessoas chegam a pular de suas cadeiras, assustadas, criando um princípio
de tumulto. No entanto, o trem passa e tudo continua como antes; esse foi o primeiro susto que essa
invenção provocou no público que assistiu à apresentação.
Nessa noite, e com esse “susto”, nascia o cinema, e daí em diante faria nascer um novo mundo.
O homem inventara o cinema, e este inventaria o mocinho, a mocinha e o bandido, criaria novos mun-
dos no fundo dos mares, em desertos e nas estrelas. Em épocas passadas e futuras, contaria histórias
alegres e tristes, mostraria o homem no seu cotidiano e seus mundos de fantasia, mostraria a realidade
e o sonho.
A sétima arte nascia. A arte que viria representar soberbamente o século XX e que só nele po-
deria ter acontecido, pois para que ele (o cinema) fosse possível, a humanidade já deveria encontrar-se
inserida em um sistema industrial com suas incríveis invenções, como a eletricidade, a fotografia, a
persistência retiniana etc.
Hoje, gravada numa pedra, no número 14 da rua dos Capucinos, em Paris, uma inscrição eter-
niza aquela noite. Nela está escrito: “Aqui, em 28 de dezembro de 1895, tiveram lugar as primeiras
projeções públicas de fotografia animada com auxílio de cinematógrafo, aparelho inventado pelos
irmãos Lumière.”
Naquela data ficou estabelecido o nascimento do cinema, e seus criadores foram os irmãos Au-
guste e Louis Lumière; no entanto, para chegar até esse momento, toda uma história aconteceu. E a
história do nascimento do cinema é, resumidamente, esta:
Século XVIII, reinado de Luis XIV, o mundo tem notícia do embrião do cinema – a lanterna
mágica.
Arte e Formação de Professores
Lanterna mágica
A lanterna mágica.
Um fenacistiscópio.
Logo a seguir, o terceiro passo seria dado com a invenção do teatro ótico,
por Emile Reynald.
54 Teatro ótico;
Cinema
Praxioscópio.
Obturador
Cinematógrafo.
outros países, inclusive para os Estados Unidos. E foi nos Estados Unidos que a
nova invenção tornou-se uma indústria gigantesca.
No século XX, o cinema espalhou-se por todos os países; novas tecnologias
surgiram e a qualidade dos filmes cresceu espantosamente. A capacidade de re-
criar a realidade foi se tornando cada vez maior, e o desejo de o homem conhecer
o mundo e conhecer-se recebeu um fantástico reforço com essa nova maneira de
ele expressar-se artisticamente.
Falamos um pouco a respeito dos primórdios do cinema, mas agora deve-
mos fazer novas perguntas: afinal de contas, o que é cinema? O que o diferencia
das outras formas de expressão artística? Qual é a sua real importância?
A essas perguntas, daremos resposta na próxima aula.
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Cinema II
Vamos iniciar esta aula com uma pergunta:
O que é um filme?
O Dicionário Aurélio nos dá a seguinte definição: é uma “seqüência de imagens e/ou cenas,
em movimento ou não, registradas em filme por uma câmera cinematográfica, para projeção poste-
rior em tela, depois de revelada a película.
Outra definição de filme poderia ser: uma história contada por meio de imagens em movi-
mento projetadas em uma tela.
Essa definição levanta uma questão: filme é sempre uma história contada?
A resposta é não, um filme não é necessariamente uma história contada. Alguns filmes não
contam uma história, mostram aos espectadores um determinado acontecimento; uma certa região
geográfica e, para tanto, não precisam “contar” uma história, mostram apenas fatos. A esses tipos
de filme damos o nome de documentário.
Mas, se pensarmos no filme tradicional, e não no documentário, o que nos vem à mente é uma
história contada. Para “contar essa história”, o filme faz uso de uma espécie de linguagem.
E o que é linguagem?
Linguagem é o uso da palavra articulada ou escrita como meio de expressão ou comunicação
entre duas ou mais pessoas. Mas não apenas a palavra comunica, as imagens também atuam como
um meio de comunicação.
Assim sendo, linguagem no cinema significa o uso de imagens apresentadas em seqüência
numa tela branca, com o objetivo de comunicar, expressar, contar algo para aquele que a observa.
Vamos tentar entender melhor isso.
Exemplo:
Cena I – uma mulher está tomando banho.
Cena II – aparece uma mão segurando uma faca afiada.
Cena III – a mão com a faca aproxima-se da cortina do banheiro onde a mulher se encontra.
Cena IV – a mulher vê a faca e grita.
Cena V – gotas de sangue sujam uma parede.
O que você deduz disso? Você sabe, mesmo sem ter visto, que houve um caso de agressão, um
assassinato (ou pelo menos a tentativa de um assassinado) e esse entendimento só foi possível porque
a seqüência de imagens comunicou a intenção do diretor do filme: praticar um assassinato.
Arte e Formação de Professores
E ele (o diretor) fez tudo isso sem o uso de palavras. As imagens “contaram”
o fato. Bem, filme é isto: uma seqüência de imagens contando uma história.
No início da aula anterior, fizemos a descrição de um fato: a noite em que
foi feita pela primeira vez a exibição de um filme para um público. Vamos retornar
até lá e transformar tal descrição em um roteiro.
Syd Freld, famoso consultor de roteiro, esclarece melhor em que consiste
um roteiro cinematográfico. Diz ele: “O roteiro tem uma forma original; não é um
romance nem peça de teatro, mas combina elementos contidos em ambos. Um ro-
teiro consiste em uma história contada por meio de imagens, com diálogos e descri-
ções localizadas dentro do contexto da estrutura dramática”. E continua, agora a
respeito de estrutura. “A estrutura é o fundamento de todo roteiro – é a espinha,
o esqueleto que ‘mantém’ tudo coeso. A estrutura de roteiro é como um mapa
rodoviário do deserto, que mostra todas as informações de que o viajante neces-
sita para enfrentar a jornada. É tanto um guia como um apoio...”
E agora vamos à tarefa de transformar um texto em um roteiro cinemato-
gráfico. Veja como fica.
Exterior – rua da cidade – noite
Uma rua de Paris. É noite. Luzes e enfeites natalinos indicam a época em
que transcorre a cena. Ambiente festivo. Músicas e risos de pessoas. Numa vitri-
ne, um calendário indica que é dia 28 de dezembro de 1895.
A câmera “caminha” entre os transeuntes. Imagens de veículos puxados por
cavalos; vitrines iluminadas, restaurantes, pessoas bebem, cantam, riem. Aparece
uma placa identificando um restaurante como sendo um Gran Café. A câmera “en-
tra” no restaurante, passa por entre mesas, pelo balcão, desce uma escada e entra
numa sala semi-iluminada.
Interior – sala na penumbra
Rostos suavemente iluminados. As pessoas olham com expressão de espanto
para uma tela onde aparecem pessoas saindo de uma fábrica. Outros rostos aparecem.
Expressões e gestos ansiosos nas pessoas. Na tela, aparece a imagem de um trem se
aproximando. A ansiedade aumenta na platéia. Na tela, o trem aproxima-se rapida-
mente. Algumas mulheres gritam. Homens riem nervosos. O trem aumenta na tela
como se fosse dela sair e atropelar o público. Algumas pessoas gritam e levantam-se
procurando fugir, derrubando cadeiras. O trem passa. Olhares de assombro. Risos.
Palmas. Escurece.
Esse seria o trecho de um roteiro para um hipotético filme. E o que ele faz?
Ele mostra ao diretor as imagens que devem ser filmadas, o que deve ser mostra-
do, o “clima” em que devem ser feitas as filmagens – ruas, restaurantes, salão da
projeção do filme etc.
Vamos agora conhecer dois pequenos trechos do roteiro de dois filmes:
Thelma e Louise e O Exterminador do Futuro II.
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Cinema II
Thelma e Louise
Interior casa de Thelma – dia
A polícia está grampeando o telefone, colhendo impressões digitais etc.,
enquanto Darryl fica sentado sem ação em sua cadeira reclinável, com uma ex-
pressão estúpida na face.
Hal (para Darryl)
Grampeamos o seu telefone, você sabe. No caso de ela ligar.
Max (o homem do FBI) se junta a eles andando pelo corredor.
Max
Vamos deixar alguém aqui na casa para o caso de ela ligar. Alguém vai ficar
aqui até que a encontremos.
Hal
O mais importante é não deixar perceber que você sabe alguma coisa. Que-
remos descobrir onde ela está. Agora, não quero entrar no terreno pessoal, mas
você tem um bom relacionamento com a sua mulher? É íntimo dela?
Darryl
Eu acho que sim, quer dizer, tão íntimo quanto é possível com uma louca
dessas.
Max
Bem, se ela ligar, seja gentil. Como se estivesse contente em ouvi-la. Você
sabe, como se realmente sentisse falta dela. As mulheres adoram.
O Exterminador do Futuro II
(cenas do início do filme)
Centro de Los Angeles. Meio-dia de um dia quente de verão. A multidão da
hora do almoço empilha-se num muro de seres humanos. Em câmera lenta, eles
se movem em massa entre as filas brilhantes de carros espremidos, pára-choques
contra pára-choques. Ondas de calor distorcem a torrente de faces. A imagem é
surreal, onírica, e como num sonho ela começa lentamente a fundir-se com....
Exterior – ruinas da cidade – noite
O mesmo lugar do último plano, só que agora mostra uma paisagem do
inferno. Os carros enferrujados estão parados em filas, e ainda pára-choques. Os
contornos dos edifícios ao fundo foram quebrados por uma força inimaginável,
como uma linha de areia pisoteada...
Uma cartela surge em Fade
Los Angeles, 11 de Julho de 2029
Sarah Conor (voz em off)
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Arte e Formação de Professores
60
Teatro
Interior de um teatro do século XIX. É o Teatro Drury Lane, em Londres, segundo aquarela de
Edward Dayes.
Como já é de nosso conhecimento, o teatro se destaca como uma das manifestações artísticas
de primeira grandeza na cultura mundial.
Dissemos que o teatro originou-se na Grécia. Devemos agora, entretanto, salientar que quando
falamos que o teatro originou-se na Grécia, estamos falando do teatro ocidental, e não estamos in-
cluindo as manifestações teatrais da cultura oriental.
Dissemos também que, apesar de sua origem grega, já na Idade da Pedra encontram-se vestígios
dessa forma de expressão artística: pinturas rupestres e, manifestações ritualísticas, que poderíamos
chamar de teatralizações. Se afirmamos que o teatro teve sua origem na Grécia é devido ao fato de
que ali foram encontrados registros mais precisos de como os feitos se deram. Sua presença em nossa
cultura (a ocidental) é avassaladora.
Mais adiante, na aula a respeito da época da Renascença, falamos do ressurgimento do teatro
e da grandiosidade que ele alcança, já nessa mesma época, com o destaque de autores de altíssima
qualidade, sendo o principal deles, William Shakespeare, que até hoje se mantém como ponto central
da literatura ocidental.
No entanto, o teatro, naturalmente, não pára aí. Outros grandes autores teatrais se destacaram
no decorrer da história.
Logo após Shakespeare, o francês Molière despontou como mais um dos expoentes da nossa
cultura.
Arte e Formação de Professores
62
Teatro
Ora, para que ele fosse rei, o rei, ainda vivo, precisaria morrer. E ele, com
sua mulher, lady Macbeth, o matam, e a tragédia acontece.
No teatro moderno, isso já não é necessário. O ator pode simplesmente fa-
lar de si mesmo, de suas experiências, da experiência de um personagem por ele
“autobiografado”, entre outros.
63
Arte e Formação de Professores
Dividir em subgrupos.
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Referências
ARMES, Roy. Panorama Histórico del Cine. Madrid: Editora Sundamental, 1976.
ARTE NOS SÉCULOS. São Paulo: Abril Cultural, 1970.
BATTISTONI, F. Duilio. Pequena História da Arte. Campinas: Papirus, 1989.
CADERNOS DE ARTE. Curitiba: projeto correção de fluxo, 1998.
CADERNOS DE ORIENTAÇÂO AO PROFESSOR. São Paulo: Pueri Domus Escolas Associadas.
CAPUZZO, Heitor. Cinema a Aventura de um Sonho. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1986.
DOM QUIXOTE. O Cavaleiro da Triste Figura. São Paulo: Scipione, 1996.
FIELD, Syd. 4 Roteiros. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.
GALERIA DELTA DA PINTURA UNIVERSAL. Rio de Janeiro: Delsa S.A., 1972.
Gênios da pintura. São Paulo: Abril Cultural, 1967.
HISTÓRIA GERAL DA ARTE. Espanha: Ediciones del Prado, 1995.
KANTINSKY, Wassily. Do Espiritual na Arte. Portugal: Publicações Dom Quixote, 1987.
MENEZES, Miriam Garcia. A Dança. São Paulo: Ática, 19985.
MINK, Sanis. Duchmp. Alemanha: Taschen, 1996.
OSTROWER, Sayga. Universos da Arte. Rio de Janeiro: Campos, 1989.
SHAKESPEARE, William. Romeu e Julieta. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
VENEZIA, Mike. Mestres da Arte. Curitiba, 1996.
Anotações
Arte e Formação de Professores
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