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Sistema cardiovascular: O encurtamento do endoderma desempenha um

importante papel mecânico na formação do


É originado do mesoderma esplâncnico, para-axial coração tubular. A fusão dos tubos cardíacos
e lateral bem como das células da crista neural da começa na extremidade cranial do coração em
região entre as vesículas óticas. desenvolvimento e se estende caudalmente. O
- Primeiro sistema a ser funcional no embrião, coração embrionário começa a se contrair (“bater”)
devido a necessidade de um método eficiente de no 22º ao 23º dia. O fluxo sanguíneo começa
captação de oxigênio. durante a 4ª semana, e os batimentos cardíacos
podem ser visualizados pela ultrassonografia com
O coração primitivo e o sistema vascular Doppler.
aparecem na metade da terceira. Esse
desenvolvimento cardíaco precoce ocorre porque,
como o embrião cresce rapidamente, ele não
consegue mais satisfazer suas necessidades
nutricionais e de oxigênio apenas por difusão.
Consequentemente, existe a necessidade de um
método eficiente de aquisição de oxigênio e
nutrientes do sangue materno e eliminação de
dióxido de carbono e escórias metabólicas.
A primeira indicação morfológica da futura região
cardíaca é a cavidade pericárdica, em forma de
ferradura (também chamada de meia-lua
cardíaca), que se desenvolve ventralmente ao
intestino anterior e à placa precordal.

- Se a fusão das duas estruturas falhar, duas


estruturas semelhantes a um tubo se formam ao
invés de uma, levando ao coração bífido.

Desenvolvimento do coração:
O primórdio do coração é observado no 18º dia de
desenvolvimento na área cardiogênica. O acúmulo
No 18º dia, o mesoderma bilateral já apresenta de células mesenquimais esplâncnicas ventrais ao
componentes da somatopleura e da celoma pericárdico leva à formação dos cordões
esplancnopleura; a última dá origem a quase angioblásticos, que se canalizam e formam os dois
todos os componentes do coração. Essas tubos endocárdicos. Com o dobramento lateral do
primeiras células progenitoras endocárdicas embrião, esses tubos se fundem para formar um
separam-se do mesoderma para criar tubos único tubo cardíaco. Essa fusão começa na
cardíacos pareados. Conforme ocorre o extremidade cranial e se estender caudalmente,
dobramento embrionário lateral, os tubos entre o 22º e 28º dia de desenvolvimento.
endocárdicos do coração aproximam-se um do
outro e fusionam para formar um único tubo O coração em desenvolvimento é composto de um
cardíaco. tubo endotelial separado de um tubo muscular
(miocárdio primitivo) por tecido conjuntivo
Os cordões angioblásticos, localizados no gelatinoso (geléia cardíaca). O tubo endotelial
mesoderma cardiogênico, na 3ª semana de torna-se o endocárdio, o miocárdio primitivo torna-
desenvolvimento se canalizam para formar os se a parede muscular do coração e o epicárdio é
tubos cardíacos, os quais se fundem no final da 3ª derivado de células mesoteliais que se originam
semana para formar o coração tubular primitivo. da superfície externa do seio venoso.
O miocárdio primitivo, é formada a partir do
mesoderma esplâncnico.

Com o dobramento cefálico o coração e a O seio venoso recebe as veias vitelínicas,


cavidade pericárdica passam a ficar ventralmente umbilicais e cardinais.
ao intestino anterior e caudalmente a membrana
bucofaríngea. Em consequência desse É importante notar que antes do dobramento
dobramento o coração tubular se alonga e cardíaco as estruturas do coração encontravam-
desenvolve dilatações e constrições se em série, ou seja, conectadas desde a
extremidade venosa até a extremidade arterial por
alternadas: tronco arterial, bulbo cardíaco,
um tubo reto. O estabelecimento da alça
ventrículo primitivo, átrio primitivo e seio venoso. ventricular é importante para a transformação da
Dessa maneira, podemos considerar que o disposição em séria para a em paralelo.
desenvolvimento inicial do coração pode ser
dividido em três fases: plexiforme, tubular reta e Dessa forma, o resultado final do dobramento
em alça. cardíaco é colocar as quatro futuras câmaras do
coração nas suas relações espaciais exatas uma
-Plexiforme: caracteriza-se por um plexo endotelial com a outra. Assim, quando o tubo cardíaco se
(que forma o endocárdio) envolvido pelo alonga em ambos os polos arterial e venoso, ele
miocárdio. toma uma configuração em forma de S: o bulbo
cardíaco é deslocado caudalmente, ventralmente
- Tubular reta: consiste em dois tubos e para a direita; o ventrículo primitivo é deslocado
endocárdicos dando origem a um ventrículo único. para a esquerda e o átrio primitivo é deslocado
dorsalmente e cranialmente.
- Tubular em alça: ocorre a formação da alça
cardíaca, em que o coração assume uma Circulação no Coração Primitivo
morfologia semelhante a um S.
O coração primitivo é composto de seio venoso,
válvula sinoatrial, átrio primitivo, ventrículo
As extremidades arterial e venosa do coração são primitivo, bulbo cardíaco e tronco arterial
fixadas, respectivamente, pelos arcos faríngeos e
pelo septo transverso e está suspenso na parede
dorsal pelo mesocárdio dorsal. Durante o
desenvolvimento o coração se invagina para a
cavidade pericárdica e a parte central do
mesocárdio se degenera formando o seio
pericárdico transverso, entre os lados direito e
esquerdo da cavidade pericárdica, separando os
vasos de entrada e saída em adultos.
O crescimento mais rápido do bulbo cardíaco e do
ventrículo primitivo leva a formação da alça
bulboventricular em forma de U.
No final da 4ª semana de desenvolvimento as
contrações coordenadas do coração levam a um
fluxo unidirecional do sangue. Antes, era do tipo
fluxo-refluxo.

O caminho a ser percorrido pelo sangue é do


seio venoso para o tronco arterial, e quando o
sangue chega neste compartimento vai para o
saco aórtico, de onde é distribuído para os arcos A princípio, o canal atrioventricular que ficava
aórticos, passando então para a aorta dorsal. predominantemente à esquerda parece passar por
uma mudança relativa para a direita. Assim, o átrio
Entre a metade da 4ª semana e no final da 5ª direito pode se comunicar diretamente com o
semana ocorre a septação do coração primitivo. ventrículo direito. Além disso, com a circulação
Isto é, septação do canal atrioventricular. aórtica e pulmonar, o ventrículo esquerdo pode se
conectar com o tronco arterial através do forame
O início da septação se dá com a formação dos interventricular. Acredita-se que fatores
coxins endocárdicos nas paredes ventrais e hemodinâmicos sejam importantes para a
dorsais do canal atrioventricular. Eles se fusionam modelagem da anatomia do sistema circulatório.
e divide o canal AV em canais AV direito e
esquerdo. Separando o átrio do ventrículo, No final da 4ª semana ocorre a septação do
primordialmente. átrio primitivo, dividindo-o em átrio direito e átrio
esquerdo. Essa septação se inicia com a formação
Os coxins endocárdicos são originados a partir do septum primum (Figura 8), uma fina membrana
da matriz extracelular (geleia cardíaca) que é em forma de meia-lua começa a surgir a partir do
secretada entre o endocárdio e o miocárdio. teto do átrio em direção aos coxins endocárdicos
Quando o dobramento cardíaco está próximo do em fusão. Esse processo dá origem ao forâmen
fim, algumas das células endocárdicas nos coxins primum.
sofrem uma transformação epitélio-mesenquimal
(EMT) gerando o mesênquima que invade a matriz Antes da obliteração total do forâmen primum,
extracelular e se diferencia em tecido conjuntivo. perfurações no septum primum aparecem,
O desenvolvimento correto dos coxins é essencial resultantes de apoptoses, representando o
para a septação completa – que é a geração da forâmen secundum. Inicia-se a formação do
porção membranosa (ou fibrosa) dos septos septum secundum e a degeneração cranial do
interventricular e atrial e a separação da aorta e da septum primum (Figura 8).
artéria pulmonar.
Como a formação do septum secundum é
incompleta ocorre a formação do forame oval.
Assim, o septum secundum divide
incompletamente o átrio e a parte distal do septum
primum funciona como uma válvula (válvula do
forame oval). A fossa oval é um
vestígio(remanescente) do forame oval.

Mudanças do seio venoso

Inicialmente o seio venoso se abre no centro da


parede dorsal do átrio primitivo. Devido à
formação da veia braquiocefálica esquerda e da
degeneração da veia vitelínica esquerda, ocorre
desvio de sangue da esquerda para a direita.
Assim, no final da 4ª semana de desenvolvimento,
o corno direito do seio venoso é maior que o
esquerdo.

O corno esquerdo irá diminuir de tamanho e se


tornará o seio coronário. Já o corno direito se
incorporará à parede do átrio direito.
Veia pulmonar primitiva e formação do ventrículo esquerdo ele forma as paredes do
átrio esquerdo vestíbulo aórtico, porção do ventrículo logo abaixo
da válvula aórtica.
A veia pulmonar primária se desenvolve ao
lado esquerdo do septum primum na parede atrial Desenvolvimento das válvulas cardíacas
dorsal. Ao longo do desenvolvimento são
formadas 4 veias pulmonares. As válvulas semilunares se desenvolvem no
final da septação do tronco arterial através de três
tumefações de tecido subendocárdico. As válvulas
atrioventriculares desenvolvem-se igualmente, só
que ao redor dos canais atrioventriculares.

Desenvolvimento das Veias

Três principais pares de veias drenam para


o coração tubular: vitelínicas, umbilicais e
cardinais comuns. Todas drenam para o seio
venoso, extremidade venosa do coração
primitivo (Figura 1).

As veias vitelínicas transportam sangue


Septação do ventrículo primitivo com pouco oxigênio a partir do saco vitelino.
As veias vitelínicas irão participar
A divisão do ventrículo primitivo inicia-se com a
posteriormente do desenvolvimento das veias
formação do septo interventricular(IV) primário, no
assoalho do ventrículo próximo do seu ápice hepáticas (veia vitelínica direita) e da veia
(Figuras 15 e 16). O septo IV é resultante porta (veias vitelínicas ao redor do duodeno).
principalmente da dilatação dos ventrículos. Até a
7ª semana há o forame interventricular, que As veias umbilicais transportam sangue
permite a comunicação entre os ventrículos direito oxigenado da placenta para o embrião. Elas
e esquerdo. O fechamento do forame correm em cada lado do fígado, e com o
interventricular ocorre no final da 7ª semana e é desenvolvimento desse órgão, as veias
resultado da fusão das cristas bulbar direita e umbilicais perdem o contato direto com o
esquerda e do coxim endocárdico. coração. Assim, a veia umbilical direita
desaparece na 7ª semana do
Após o fechamento do forame interventricular, desenvolvimento e a porção caudal da veia
o tronco pulmonar fica em comunicação com o
umbilical esquerda torna-se a veia umbilical,
ventrículo direito e a aorta com o ventrículo
esquerdo. transportadora de oxigênio.

Septação do bulbo cardíaco e tronco Nesse estágio desenvolve-se um grande


arterial desvio venoso no interior do fígado, o ducto
venoso. Ele conecta a veia umbilical
Durante a 5ª semana de desenvolvimento a diretamente com a veia cava inferior (VCI),
proliferação de células mesenquimais nas paredes desviando o sangue vindo da placenta dos
do bulbo cardíaco resulta na formação das cristas sinusóides hepáticos (Figura 2).
bulbares. No tronco arterial, de forma semelhante,
ocorre a formação das cristas do tronco. Esses As veias cardinais constituem o sistema de
dois conjuntos de cristas sofrem espiralização de drenagem venoso do embrião. As veias
180° resultando na formação do septo cardinais anteriores drenam a região cefálica
aorticopulmonar. e as veias cardinais posteriores a região
caudal do embrião; e juntas formam as veias
Esse septo divide o bulbo cardíaco e o tronco cardinais comuns. Na 8ª semana as veias
arterial em dois canais: a aorta e o tronco
cardinais anteriores se anastomosam, tendo
pulmonar.
um desvio da esquerda para a direita,
O bulbo cardíaco é incorporado às paredes dos formando a veia braquiocefálica esquerda. As
ventrículos definitivos. No ventrículo direito é veias cardinais posteriores são basicamente
representado pelo cone arterial (infundíbulo) e no vasos do mesonéfron e desaparecem
simultaneamente com esses rins transitórios. •A parte caudal persistente da veia umbilical
Porém, os únicos derivados adultos das veias esquerda transforma-se na veia umbilical, que
cardinais posteriores são a raiz das veias transporta todo o sangue da placenta para o
ázigos e ilíacas comuns. embrião

•Um grande desvio venoso, o ducto venoso,


As veias cardinais posteriores são
desenvolve-se no fígado e conecta a veia umbilical
substituídas pelas veias subcardinais e à VCI. O ducto venoso forma um desvio,
supracardinais. As veias subcardinais dão possibilitando que a maior parte do sangue da
origem à veia renal esquerda, veias supra- placenta passe diretamente para o coração, sem
renais, veias gonadais e um segmento da VCI. passar pelas redes capilares em desenvolvimento
As veias supracardinais se tornam a parte do fígado.
inferior da VCI.
Artérias: Durante a 4ª semana de
A VCI possui 4 segmentos: segmento desenvolvimento, os arcos aórticos,
hepático formado pela veia vitelínica direita, originados do saco aórtico, suprem os arcos
segmento pré-renal formado pela veia faríngeos. Ao longo do desenvolvimento, os
subcardinal direita, segmento renal formado arcos aórticos ajudam na formação de vários
pelas veias subcardinais e supracadinais e vasos sanguíneos (Figura 1):
segmento pós-renal formado pela veia
supracardinal. 1º par de arcos aórticos: artérias maxilares
e artérias carótidas externas.

2º par de arcos aórticos: artérias


estapédicas.

3º par de arcos aórticos: artérias carótidas


comuns e junto com a aorta dorsal formam as
artérias carótidas internas.

4º par de arcos aórticos: forma parte do


arco da aorta e parte proximal da artéria
subclávia direita.

5º par de arcos aórticos: se degenera ou


Três veias pareadas drenam no coração não se desenvolve.
primitivo do embrião de 4 semanas:
6º par de arcos aórticos: parte proximal da
•As veias vitelinas retornam o sangue pobre em artéria pulmonar esquerda e ducto arterial
oxigênio da vesícula umbilical (desvio arterial).

•As veias umbilicais levam sangue rico em Circulação fetal:


oxigênio proveniente do saco coriônico
Existem três estruturas vasculares importantes
•As veias cardinais comuns retornam sangue na transição da circulação fetal para a neonatal:
pobre em oxigênio do corpo do embrião para o ducto venoso, forame oval e ducto arterial.
coração.
Circulação fetal (Figura 1): o sangue oxigenado
A transformação das veias umbilicais pode ser chega da placenta através da veia umbilical. Ao se
resumida da seguinte forma: aproximar do fígado o sangue passa diretamente
para o ducto venoso, um vaso fetal que comunica
•A veia umbilical direita e a parte cranial da veia a veia umbilical com a veia cava inferior.
umbilical esquerda, entre o fígado e o seio venoso, Percorrendo a veia cava inferior, o sangue chega
degeneram no átrio direito e é direcionado através do forame
oval para o átrio esquerdo. Assim, neste
compartimento o sangue com alto teor de oxigênio
vindo da veia cava se mistura com o sangue pouco
oxigenado vindo das veias pulmonares, já que os
pulmões extraem oxigênio e não o fornece.
O ducto arterial, ao desviar o sangue da artéria
pulmonar para a artéria aorta, protege os pulmões
da sobrecarga e permite que o ventrículo direito se
fortaleça para a sua total capacidade funcional ao
nascimento.

Derivados Adultos de
Estruturas Vasculares Fetais:
Circulação neonatal de transição:
A porção intra-abdominal da veia umbilical se
após o nascimento o ducto arterial, o ducto torna o ligamento redondo do fígado.
venoso, o forame oval e os vasos umbilicais não
são mais necessários. Dessa forma, ocorre o
O ducto venoso se transforma no ligamento
fechamento do forame oval e o ducto venoso e
venoso.
arterial se contraem. O fechamento do forame oval
ocorre pelo aumento de pressão no átrio esquerdo
que pressiona a sua válvula contra o septum O forame oval normalmente se fecha ao
secundum. O fechamento do ducto arterial parece nascimento. O fechamento anatômico ocorre no 3º
ser mediado pela bradicinina, uma substância mês e resulta da adesão do septum primum na
liberada pelos pulmões durante a sua distensão margem esquerda do septum secundum, assim, o
inicial. Essa substância tem potentes efeitos septum primum forma o assoalho da fossa oval
contráteis na musculatura lisa, atuando na
dependência do alto teor de oxigênio do sangue
aórtico. Assim, quando a pressão de oxigênio for
maior que 50 mmhg no sangue que passa através
do ducto arterial promove a sua contração. O
fechamento do ducto venoso ocorre pela
contração do seu esfíncter, possibilitando que o
sangue que entra no fígado percorra os sinusóides
hepáticos. Porém, vale ressaltar que a mudança
do padrão circulatório fetal para o padrão adulto
não ocorre repentinamente. Algumas alterações
ocorrem com a primeira respiração e outras após
horas e dias.
O próprio sangue é diferente, sendo rico em se tornam as pregas vocais (cordas) e pregas
hemoglobina fetal, muito melhor em captar o vestibulares.
oxigênio e segurá-lo, mesmo que a pressão
parcial de O2 (PaO2) seja baixa. No gráfico acima, A epiglote desenvolve-se da parte caudal da
repare que, com uma PaO2 de 30mmHg, um feto eminência hipofaríngea, uma proeminência
alcança uma saturação de quase 80%, enquanto produzida pela proliferação do mesênquima na
um adulto não passa de 60%. extremidade ventral do terceiro e quarto arcos
faríngeos. A parte rostral dessa eminência forma o
Formação do sistema respiratório: terço posterior ou parte faríngea da língua.

- Os órgãos do sistema respiratório inferior Como os músculos da laringe se desenvolverem


(laringe, traqueia, brônquios e pulmões) começam dos mioblastos do quarto e sextos pares de arcos
a se formar durante a 4ª semana do faríngeos, eles são inervados pelos ramos
desenvolvimento. laríngeos do nervo vago que suprem esses arcos.
A laringe é encontrada em uma posição alta no
É na quarta semana do desenvolvimento que o pescoço de recém-nascidos; esse posicionamento
sistema respiratório começa a surgir a partir do permite que a epiglote entre em contato com o
divertículo respiratório, que é uma protuberância palato mole. Isso proporciona uma separação
na parede ventral do intestino anterior. O quase completa dos sistemas respiratório e
aparecimento e a localização do broto pulmonar digestório, facilitando a amamentação; entretanto,
dependem do aumento do ácido retinóico (AR) significa também que, quase obrigatoriamente, os
produzido pelo mesoderma adjacente, que eleva a recém-nascidos respiram pelo nariz. A descida
expressão do fator de transcrição TBX4 no estrutural da laringe ocorre em torno dos primeiros
endoderma do tubo intestinal, no local do 2 anos de vida.
divertículo respiratório.

O TBX4 induz a formação do broto pulmonar, a


continuidade de seu crescimento e a diferenciação
dos pulmões. Assim, os epitélios do revestimento
interno da laringe, da traqueia e dos brônquios,
bem como o do pulmão, são integralmente
de origem endodérmica. Os tecidos
cartilaginosos, muscular e conjuntivo, que
compõem a traqueia e os pulmões, são derivados
do mesoderma esplâncnico que cerca o intestino
anterior. Traqueia:

Laringe: Durante a separação do intestino anterior, o


divertículo laringotraqueal forma a traqueia e duas
O epitélio de revestimento da laringe desenvolve- evaginações laterais, os brotos brônquicos
se a partir do endoderma da extremidade cranial primários. O revestimento endodérmico do tubo
do tubo laringotraqueal. As cartilagens da laringe laringotraqueal distal à laringe se diferencia no
desenvolvem-se do quarto e sexto pares de arcos epitélio e nas glândulas da traqueia e no epitélio
faríngeos, a partir do mesênquima que é derivado pulmonar. A cartilagem, o tecido conjuntivo e os
das células da crista neural. O mesênquima da músculos da traqueia são derivados do
extremidade cranial do tubo laringotraqueal mesênquima esplâncnico que envolve o tubo
rapidamente prolifera, produzindo um par de laringotraqueal.
brotos aritenóideos. Os brotos crescem em
direção à língua, convertendo a abertura em forma
de fenda, a glote primitiva, em um canal laríngeo
em forma de T e reduzindo o lúmen da laringe em
desenvolvimento a uma estreita fenda.

O epitélio da laringe prolifera rapidamente,


resultando em uma oclusão temporária do lúmen
da laringe. A recanalização, processo em que os
O broto respiratório (broto pulmonar) desenvolve-
ventrículos da laringe são formados, normalmente
se na extremidade caudal do divertículo
ocorre na 10a semana. Esses recessos são
laringotraqueal durante a quarta semana. O broto
delimitados por pregas da membrana mucosa que
logo se divide em duas evaginações, os brotos
brônquicos primários. Esses brotos crescem
lateralmente para dentro dos canais
pericardioperitoneais, o primórdio das cavidades
pleurais. Brotos brônquicos secundários e
terciários logo se desenvolvem.

Junto com o mesênquima esplâncnico


circundante, os brotos brônquicos se diferenciam
em brônquios e suas ramificações nos pulmões.
No início da 5a semana, a conexão de cada broto
brônquico com a traqueia aumenta para formar o
primórdio dos brônquios principais.

O brônquio principal direito embrionário é


ligeiramente maior do que o esquerdo e está
orientado mais verticalmente. Essa relação
persiste no adulto; consequentemente, um corpo
estranho entra com mais facilidade no brônquio Os brônquios segmentares, 10 no pulmão direito e
principal direito do que no esquerdo. 8 ou 9 no pulmão esquerdo, começam a se formar
na 7a semana. Enquanto isso ocorre, o
Os brônquios principais subdividem-se em mesênquima circundante também se divide. Os
brônquios secundários, que formam os ramos brônquios segmentares, com a massa de
lobares; estes se dividem em segmentares, que mesênquima, formam o primórdio dos segmentos
originam os intrassegmentares. No lado direito, o broncopulmonares. Na 24a semana,
brônquio lobar superior suprirá o lobo superior do aproximadamente 17 ordens de segmentos estão
pulmão, enquanto o brônquio lobar inferior se formadas e os bronquíolos respiratórios já se
subdivide em dois brônquios, o brônquio lobar desenvolveram. Além disso, sete ordens de vias
médio e o brônquio lobar inferior. No lado respiratórias se formam após o nascimento.
esquerdo, dois brônquios secundários suprem o
lobo superior e o lobo inferior dos pulmões. Cada Conforme os brônquios se desenvolvem, as
brônquio lobar sofrerá progressivas ramificações. placas de cartilagem se desenvolvem a partir do
mesênquima esplâncnico circundante. O músculo
liso e o tecido conjuntivo dos brônquios, o tecido
conjuntivo pulmonar e os capilares também são
derivados desse mesênquima. Quando os
pulmões se desenvolvem, adquirem uma camada
de pleura visceral derivada do mesênquima
esplâncnico. Com a expansão, os pulmões e a
cavidade pleural crescem caudalmente para o
mesênquima da parede corporal e logo se
aproximam do coração. A parede torácica corporal
torna-se revestida por uma camada de pleura
parietal derivada do mesoderma somático. O
espaço entre a pleura parietal e a visceral é a
cavidade pleural.

MATURAÇÃO DOS PULMÃOS:

A maturação dos pulmões é dividida em quatro


estágios histologicamente superpostos:
pseudoglandular, canalicular, saco terminal
(sacular) e alveolar.

Estágio pseudoglandular (da 5ª à 17ª semana):

-formação dos brônquios terminais.

Do ponto de vista histológico, durante o estágio


pseudoglandular, o pulmão tem aparência de
glândulas exócrinas. Com 16 semanas, todos os
principais componentes dos pulmões estão seus epitélios tornam-se muito finos. Os capilares
formados, exceto aqueles envolvidos com as começam a se projetar para esses sacos. O íntimo
trocas gasosas. A respiração não é possível; contato entre o epitélio e as células endoteliais
portanto, fetos nascidos durante esse período não estabelece a barreira hematoaérea, que permite
conseguem sobreviver. uma troca adequada de gases, necessária para a
sobrevida do feto em caso de nascimento
Estágio canalicular (da 16a à 25a semana): prematuro.

O estágio canalicular sobrepõe-se ao estágio Na 26a semana, os sacos terminais são revestidos
pseudoglandular porque os segmentos craniais principalmente por células epiteliais pavimentosas
dos pulmões amadurecem mais rápido do que os de origem endodérmica, os pneumócitos do tipo I,
segmentos caudais. Durante o estágio canalicular, através dos quais ocorre a troca gasosa. A rede
os lumens dos brônquios e dos bronquíolos de capilares prolifera rapidamente no mesênquima
terminais tornam-se maiores e o tecido pulmonar ao redor dos alvéolos em desenvolvimento e é
torna-se altamente vascularizado. Na 24a concomitante ao desenvolvimento dos capilares
semana, cada bronquíolo terminal forma dois ou linfáticos. Dispersas entre as células epiteliais
mais bronquíolos respiratórios, que irão se dividir pavimentosas, estão células epiteliais secretoras
em três a seis passagens: os ductos alveolares arredondadas (de mesma origem endodérmica),
primitivos. os pneumócitos do tipo II, que secretam o
surfactante pulmonar, uma mistura complexa de
A respiração é possível ao final do estágio fosfolipídios e proteínas.
canalicular (26 semanas), pois alguns sacos
terminais de parede delgada (alvéolos primitivos) O surfactante se forma como uma película
se desenvolvem no fim dos bronquíolos monomolecular na parede interna dos sacos
respiratórios e o tecido pulmonar está bem alveolares, as unidades funcionais dos pulmões, e
vascularizado. Embora fetos nascidos ao término neutraliza as forças de tensão superficial na
desse período consigam sobreviver se tiverem interface ar-alvéolo. Isso facilita a expansão dos
cuidados intensivos, recém-nascidos prematuros sacos terminais, prevenindo a atelectasia (colapso
muitas vezes não sobrevivem, porque o sistema dos sacos durante a expiração). A maturação dos
respiratório e os outros sistemas ainda estão pneumócitos do tipo II e a produção do surfactante
relativamente imaturos. variam amplamente entre os fetos de diferentes
idades gestacionais. A produção do surfactante
aumenta durante os estágios terminais da
gestação, particularmente durante as últimas 2
semanas.

A produção de surfactante começa entre a 20a e


a 22a semana, mas o surfactante está presente
apenas em pequenas quantidades em recém-
nascidos prematuros, não existindo em níveis
adequados até o fim do período fetal. Por volta da
26a à 28a semana, o feto frequentemente pesa
cerca de 1.000 g, e existem sacos alveolares e
surfactante suficientes para permitir a sobrevida
de recém-nascidos prematuros. Antes disso, os
pulmões não conseguem, geralmente, realizar
trocas gasosas adequadas, em parte, porque a
área de superfície alveolar é insuficiente e a
vascularização é pouco desenvolvida.

A presença de sacos terminais delgados ou um


epitélio alveolar primitivo não é tão importante
para a sobrevida e o desenvolvimento neurológico
de recém-nascidos prematuros quanto a
Estágio de saco terminal (sacular) (da 24a adequada vascularização pulmonar e produção de
semana ao final do período fetal) surfactante suficiente.

Durante o estágio de saco terminal, muito mais


sacos terminais (alvéolos primitivos) se
desenvolvem (ver Figuras 10.10C e 10.11D) e
Fetos nascidos entre a 24a e a 26a semana após conforme a expansão dos pulmões, mas o maior
a fecundação conseguem sobreviver se tiverem aumento no tamanho dos pulmões resulta do
cuidados intensivos; entretanto, eles podem sofrer aumento no número de bronquíolos respiratórios e
de angústia respiratória (desconforto respiratório) alvéolos primitivos, mais do que do aumento no
pela deficiência de surfactante. A sobrevida tamanho dos alvéolos.
desses recém-nascidos tem aumentado pelo uso
pré-natal de corticosteroides (esteroides O desenvolvimento alveolar está, em grande
produzidos pelo córtex das glândulas parte, completo aos 3 anos de idade, mas novos
suprarrenais), que induz a produção de alvéolos são acrescentados até aproximadamente
surfactante, e também com a terapia pós-natal de 8 anos de idade. Ao contrário dos alvéolos
reposição de surfactante. maduros, os alvéolos imaturos têm o potencial
para formar alvéolos primitivos adicionais. À
Estágio alveolar (do fim do período fetal aos 8 medida que esses alvéolos aumentam em
anos) tamanho, eles se tornam alvéolos maduros. No
entanto, o principal mecanismo para o aumento do
A definição do momento exato quando o estágio número de alvéolos é a formação de septos
de saco terminal acaba e se inicia o estágio secundários de tecido conjuntivo que subdividem
alveolar depende da definição do termo alvéolos. os alvéolos primitivos existentes. Inicialmente, os
Os sacos terminais análogos aos alvéolos já septos são relativamente espessos, mas eles logo
existem na 32a semana. O epitélio de são transformados em septos delgados maduros
revestimento desses sacos atenua-se para uma que são capazes de realizar as trocas gasosas.
fina camada epitelial pavimentosa. Os
pneumócitos do tipo I tornam-se tão delgados que O desenvolvimento dos pulmões durante os
os capilares adjacentes projetam-se para os sacos primeiros meses após o nascimento é
alveolares. Ao fim do período fetal (38 semanas), caracterizado pelo aumento exponencial na
os pulmões são capazes de realizar a respiração, superfície da barreira hematoaérea graças à
pois a membrana alveolocapilar (barreira de multiplicação dos alvéolos e capilares.
difusão pulmonar ou membrana respiratória) é Aproximadamente 150 milhões de alvéolos
delgada o suficiente para realizar as trocas primitivos, metade do número em adultos, estão
gasosas. Embora os pulmões não comecem a presentes nos pulmões de um recém-nascido a
realizar essa função vital até o nascimento, estão termo. Na radiografia de tórax, portanto, os
bem desenvolvidos e, portanto, capazes de pulmões dos recém-nascidos são mais densos
funcionar prontamente após o nascimento. que os pulmões dos adultos. Entre o terceiro e o
oitavo ano de vida, são alcançados os 300 milhões
No início do estágio alveolar (34 semanas), cada de alvéolos dos adultos.
bronquíolo respiratório termina em um aglomerado
de sacos alveolares de paredes delgadas, Os movimentos respiratórios fetais (MRFs), que
separados uns dos outros por tecido conjuntivo podem ser detectados pela ultrassonografia em
frouxo. Esses sacos representam os futuros tempo real, ocorrem antes do nascimento,
ductos alveolares. A transição da troca gasosa exercendo força suficiente para causar a
dependente da placenta para a troca gasosa aspiração de algum líquido amniótico para os
autônoma requer as seguintes mudanças pulmões. Os MRFs ocorrem de modo intermitente
adaptativas dos pulmões: (aproximadamente 30% durante o movimento
rápido dos olhos [REM] no sono) e são essenciais
•Produção de surfactante nos sacos alveolares ao desenvolvimento normal dos pulmões. O
padrão do MRF é amplamente utilizado para o
•Transformação dos pulmões de órgãos acompanhamento do trabalho de parto e na
secretores para órgãos capazes de realizar as previsão da sobrevida de fetos nascidos
trocas gasosas prematuros. Ao nascimento, o feto já tem a
vantagem de alguns meses de exercícios
•Estabelecimento das circulações sistêmica e respiratórios. Os MRFs, que aumentam à medida
pulmonar em paralelo. que o parto se aproxima, provavelmente
condicionam os músculos respiratórios. Além
Aproximadamente 95% dos alvéolos maduros disso, esses movimentos estimulam o
desenvolvem- se no período pós-natal. Antes do desenvolvimento do pulmão, possivelmente pela
nascimento, os alvéolos primordiais aparecem criação de um gradiente de pressão entre os
como pequenas projeções nas paredes dos pulmões e o líquido amniótico.
bronquíolos respiratórios e dos sacos alveolares,
dilatações terminais dos ductos alveolares. Após o
nascimento, os alvéolos primitivos se ampliam
Três fatores são importantes para o
desenvolvimento normal do pulmão: espaço
torácico adequado para o crescimento pulmonar,
MRFs e volume de líquido amniótico adequado.

Ao nascimento, os pulmões têm aproximadamente


metade de seu volume preenchido com líquido
derivado da cavidade amniótica, pulmões e
glândulas traqueais. A aeração dos pulmões ao
nascimento se deve à rápida substituição do
líquido intra-alveolar pelo ar e não à dilatação dos
órgãos colapsados vazios.

O líquido dos pulmões é retirado ao nascimento


por três vias:

•Através da boca e do nariz por pressão no tórax


fetal durante o parto vaginal

•Pelos capilares, artérias e veias pulmonares

•Pelos vasos linfáticos.

No feto próximo ao termo, os vasos linfáticos


pulmonares são relativamente maiores e mais
numerosos do que em adultos. O fluxo linfático é
rápido durante as primeiras horas após o
nascimento e em seguida diminui.

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