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Mestrado em Ergonomia

Ergonomia na
Organização do Trabalho

Introdução / Conceitos Básicos


José Domingos Carvalhais
Universidade de Lisboa
Faculdade de Motricidade Humana
Secção Autónoma de Ergonomia
jcarvalhais@fmh.ulisboa.pt

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Introdução / Conceitos Básicos

Ergonomia

Fatores Psicossociais

Organização do Trabalho

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Ergonomia

A Ergonomia é uma ciência que tem como objetivo a


compreensão das interações entre o homem e os outros
elementos de um sistema de trabalho.

A profissão de Ergonomista aplica teorias, princípios, dados e


métodos para uma conceção de produtos e sistemas de
trabalho, visando de forma integrada a saúde, a segurança e o
bem estar do indivíduo, bem como a eficácia dos sistemas.

IEA, What is Ergonomics >>Definition and Applications:


https://www.iea.cc/whats/index.html , consultado em 23 de março de 2020

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Interação Homem-Sistema

Interação Homem-Sistema
objeto de estudo da Ergonomia,
pressupõe a relação entre dois tipos de
componentes (humano e sistema),
num determinado envolvimento.

Num contexto laboral,


este Envolvimento integra:
• o envolvimento físico
• o espaço de trabalho (posto, equipamento, ...)
• e a organização do trabalho

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“Ergonomia Organizacional”
Ergonomia Organizacional: um domínio de especialização (a par da
Ergonomia Física e da Ergonomia Cognitiva) que se preocupa com a
otimização dos sistemas sócio-técnicos, incluindo as suas estruturas
organizacionais, políticas e processos.

Os tópicos relevantes incluem:


• Comunicação • Ergonomia comunitária
• Gestão de recursos de pessoal • Trabalho cooperativo
• Design do trabalho • Novos paradigmas do trabalho
• Design do tempo de trabalho • Organizações virtuais
• Trabalho em equipa • Teletrabalho
• Design (projeto) participativo • Gestão da qualidade
IEA, What is Ergonomics >>Definition and Domains of ergonomics:
http://www.iea.cc/whats/index.html , consultado em 12 de fevereiro de 2014 old

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Organização do Trabalho
[ Bridger, R. (1995) “Introduction to Ergonomics”; McGraw-Hill ]

A um nível mais básico,


refere-se à organização da interação Homem-Sistema: o
ritmo de trabalho, se esse ritmo é imposto pelo sistema de
trabalho ou pelo próprio indivíduo, e se ele trabalha
sozinho ou está dependente de outros.

De forma mais global,


refere-se à estrutura organizacional onde a
atividade está integrada, ao sistema técnico e ao
sistema social que a suportam.

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Organização do Trabalho

A forma como o trabalho é estruturado, distribuído, processado


e supervisionado. É uma característica objetiva do envolvimento
de trabalho e depende de vários fatores, incluindo:

• estilo de gestão
• tipo de produto ou serviço
• características da força de trabalho
• nível e tipo de tecnologia
• e condições de mercado

[Hagberg et al., 1997 in Carayon, Pascale e Smith, Michael J. (2000) “Work organization
and ergonomics”; Applied Ergonomics, Volume 31, Issue 6, December 2000, Pages 649-
662.]

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Organização do Trabalho
A organização do trabalho refere-se ao processo de trabalho
(a forma como o trabalho está concebido e é executado) e às
práticas organizacionais (métodos de gestão e produção e as
políticas de recursos humanos que os acompanham) que
influenciam o design do trabalho.
Neste conceito incluem-se também fatores externos, tais
como o envolvimento económico e legal e fatores
tecnológicos que favorecem ou permitem novas práticas
organizacionais.

Sauter, S. et al (2002) “The Changing Organization of Work and the Safety and
Health of Working People: Knowledge Gaps and Research Directions”, NIOSH.

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Organização do Trabalho

É um conceito amplo que se refere às escolhas


feitas pelas organizações sobre questões como:

• a estrutura do processo de produção

• a relação entre funcionários e departamentos de produção

• as responsabilidades em diferentes níveis hierárquicos

• e a conceção dos postos de trabalho individuais.

(Valeyre, 2009)

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Importância da Organização do Trabalho (1)

[MacLeod, D. (1998) “The Ergonomics Kit for General


Industry With Training Disc”; CRC Press.]

Considera a
optimização da Organização do Trabalho como um
dos 12 princípios da Ergonomia:

1. Trabalhar em posturas neutrais 7. Minimizar pontos de pressão


2. Reduzir a força excessiva 8. Espaço adequado e acesso fácil
3. Manter um alcance fácil 9. Movimento, exercício e alongamento
4. Trabalhar a uma altura adequada 10. Manter envolvimento confortável
5. Reduzir movimentos excessivos 11. Tornar compreensíveis os displays
6. Minimizar a fadiga e a carga estática e controlos

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Importância da Organização do Trabalho (2)

Um inquérito às associações profissionais federadas na “International


Ergonomics Association” (IEA) mostrou que entre as cinco áreas
emergentes mais importantes em Ergonomia se incluem duas
diretamente ligadas à Organização do Trabalho:

• Metodologia para mudar a organização do trabalho e o design;


• Perturbações músculo-esqueléticas relacionadas com o trabalho;
• Avaliação da usabilidade em produtos de consumo eletrónicos;
• Interface Homem-Computador: software;
• Design organizacional e organização do trabalho psicossocial.

[Helander, 1997 in Carayon, Pascale e Smith, Michael J. (2000) “Work organization and
ergonomics”; Applied Ergonomics, Volume 31, Issue 6, December 2000, Pages 649-662.]

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“Os locais de trabalho devem potenciar a organização do


trabalho de forma a aumentar quer a qualidade do
trabalho, quer a criatividade e inovação dos trabalhadores
o que, por sua vez, melhora a produtividade.”

Declaração da reunião informal do Conselho de Ministros


do Trabalho, dos Assuntos Sociais e da Saúde,
Helsínquia, 6–8 de Julho de 2006

In “Quarto Inquérito Europeu sobre as Condições de


Trabalho: Resumo”, Fundação Europeia para a Melhoria
das Condições de Vida e de Trabalho.

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Código do Trabalho: Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro

Artigo 127.º Deveres do empregador


...

2 — Na organização da actividade, o empregador deve observar o


princípio geral da adaptação do trabalho à pessoa, com vista
nomeadamente a atenuar o trabalho monótono ou cadenciado em
função do tipo de actividade, e as exigências em matéria de segurança
e saúde, designadamente no que se refere a pausas durante o tempo
de trabalho.

...

Nota: No código anterior este ponto fazia parte do Artigo 161º


Ritmo de trabalho

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EU-OSHA, de que a ACT é Ponto Focal Nacional

Campanha «Locais de trabalho seguros e saudáveis 2014-2015», iniciada


em abril, dedicada à “Gestão do stresse e dos riscos psicossociais
relacionados com o trabalho”.

Diretora da EU-OSHA, Christa Sedlatschek: «Temos de fazer


mais para reforçar a consciencialização para estes riscos e
ajudar as empresas a lidar com eles, por exemplo, através de
melhores avaliações dos riscos, mudanças na organização
do trabalho e formação».

A EU-OSHA disponibilizará ferramentas práticas para lidar com os


riscos psicossociais.
https://osha.europa.eu/pt/previous-healthy-workplaces-campaigns

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Fatores psicossociais no trabalho

A International Labour Organisation (ILO) e a World Health Organization


(WHO) definiram os fatores psicossociais no trabalho como referindo-se:
às interações entre o ambiente de trabalho, o conteúdo do trabalho e as
condições organizacionais, com as capacidades, cultura e necessidades dos
trabalhadores, e as suas considerações pessoais fora do trabalho que
podem, através das perceções e experiências, influenciar a saúde,
desempenho e satisfação no trabalho.

International Labour Organisation (1986) “Psychosocial factors at work: recognition


and control”, Report of the Joint ILO/WHO Committee on Occupational Health, Ninth
Session, Geneva, 18-24 September 1984, Occupational Safety and Health Series
No. 56. ILO: Geneva (p3-4).

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Fatores psicossociais no trabalho


Referem-se às interações entre
Capacidades, Necessidades e
Ambiente de trabalho
Expetativas dos Trabalhadores

Conteúdo do trabalho Costumes e Cultura

Condições organizacionais Condições extraprofissionais

que podem influenciar

Satisfação no
Desempenho
trabalho
Saúde

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Essa definição evidencia a interação dinâmica entre o ambiente de
trabalho e os fatores humanos:

A interação negativa pode gerar distúrbios emocionais, problemas


comportamentais e alterações bioquímicas e neuro-hormonais, com risco
acrescido de doenças mentais e físicas.

Quando a interação se encontra em equilíbrio pode gerar sensação de


controlo e autoconfiança, melhorando a motivação, a capacidade de
trabalho e a satisfação, e contribuindo para uma melhoria da saúde.

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Riscos psicossociais ...


que estão relacionados com a forma como o trabalho é concebido,
organizado e gerido, bem como com o seu contexto económico e social,
suscitam um maior nível de stresse e podem originar uma grave
deterioração da saúde mental e física.’
EU-OSHA (2007) “Previsão dos peritos sobre os riscos psicossociais emergentes
relacionados com a segurança e saúde no trabalho (SST)” , FACTS 74 , Bilbau.
https://osha.europa.eu/pt/publications/factsheets/74/view
O 5º IECT inclui um conjunto de indicadores de riscos psicossociais agrupados
em 6 dimensões baseadas na classificação de Gollac e Bodier (2011):
• Exigências elevadas e intensidade do trabalho;
• Exigências emocionais;
• Conflitos éticos;
• Falta de autonomia;
• Relações sociais fracas;
• Insegurança no trabalho e no emprego.
Gollac, M.; Bodier, M. (2011), Mesurer les facteurs psychosociaux de risque au
travail pour les maîtriser, Collège d’Expertise sur le Suivi des Risques
Psychosociaux au Travail, Ministry of Work, Employment and Health, Paris.

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Fatores Psicossociais

Não existe uma definição clara que abarque tudo o que se considera
quando nos referimos a aspetos psicossociais ou às abordagens da
organização do trabalho e conceção de postos de trabalho.
A designação aspetos psicossociais tem sido frequentemente utilizada
para descrever todos os fatores relevantes que não são de natureza
física.

As dimensões e posicionamento de uma secretária e um assento, a


qualidade e nível da iluminação que incide numa tarefa, e a postura de
um trabalhador de escritório numa tarefa de codificação de dados,
constituem aspetos que podem ser definidos no âmbito da designação
ergonomia física. A qualidade do ecrã e o desenho do teclado que estão a
utilizar também pode ser incluídos nesse âmbito.

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Por outro lado, as horas que trabalham, o modo como são


supervisionados, o nível de controlo que têm sobre a forma
como fazem o seu trabalho, a sua satisfação no trabalho, as
suas atitudes para com os aspetos físicos do trabalho e o
clima organizacional, serão todos classificados como aspetos
psicossociais.
Na fronteira entre o físico e o psicossocial estará a informação
utilizada na codificação. Esta tem uma forma manifestamente
física no ecrã, mas também um impacto direto na tomada de
decisões, resolução de problemas e amplitude do trabalho do
operador que se relaciona com a conceção do trabalho e
outros aspetos psicossociais.

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3 Grandes Categorias
1. Características individuais das pessoas: podem ser genéticas,
adquiridas (por exemplo, pela educação) ou “disposicionais”
(respostas afetivas como a satisfação). Também relevantes são
reduções de capacidade temporárias, como o efeito do álcool ou a
fadiga

2. Vida extra laboral: a sua vida familiar, transportes disponíveis de e


para o trabalho, e os passatempos podem ter uma influência com
diferentes extensões em diferentes momentos; um exemplo óbvio é
quando, de forma adequada ou não, as atividades extra laborais das
pessoas são suspeitas de influenciar a propensão para lesão (ex.
desportos com raquete, ver televisão ou tricotar)

3. O terceiro grupo é o mais relevante para a organização do pessoal e


corpos de regulação ligados à ergonomia; são os fatores da
organização do trabalho.

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Exemplos

Individuais:
Genéticos
Adquiridos: classe, cultura, educação, experiência, saúde
Disposicionais: respostas afetivas – atitudes, personalidade
Temporários: fadiga ou consumo de álcool

Extra laborais:
Antecedentes familiares e culturais
Vida familiar e social
Organização do trabalho:
Hábitos
Conceção do posto e das tarefas
Necessidade e disponibilidade de
Aspetos temporais
transportes
Mecanismos de suporte
Passatempos
Estrutura social
Aspetos económicos
Desenho da organização e processos

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Também não existe uma definição ou delimitação clara
dos fatores da organização do trabalho. Em parte, os
aspetos relevantes são definidos pelos fatores
psicossociais.

Mais pragmaticamente, a organização do trabalho é


também definida pelas oportunidades para
transformação do trabalho e respetivos postos que
podem ser implementadas por um ergonomista

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Devemos considerar os aspetos da organização do trabalho


devido a, pelo menos, cinco razões:
1. Os fatores da organização do trabalho podem constituir os fatores de
stress que levam a uma lesão.
Como exemplos, temos taxas elevadas de trabalho com ritmo imposto
ou um sistema de avaliação do desempenho que motiva as pessoas a
adotar práticas menos seguras.

2. Os principais fatores de risco podem ser de natureza física, mas


podem não ser mutáveis no curto prazo. Assim, pode-se atenuar algo
melhorando a organização do trabalho.
Um exemplo é quando a combinação de uma tarefa e de um posto de
trabalho tem elevada incidência de lesões do membro superior, mas
necessidades financeiras e de produção impõem que nada pode ser
feito durante um determinado período; rotação de postos de trabalho
ou trabalho em grupo podem ser usados para atenuar o problema.

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3. Alguns aspetos da organização do trabalho podem levar as pessoas a
ter maior ou menor probabilidade de sofrer e reportar alguns sintomas,
que podem parecer ser resultado de fatores físicos ou organizacionais.
Por exemplo, as pessoas que sentem ter exigências elevadas com
pouco controlo sobre o seu trabalho, podem desenvolver atitudes em
que um desconforto físico, mesmo em pequena escala, é amplificado e
atribuído ao trabalho.

4. Existe uma corrente de opinião crescente que postula que fatores de


stress na organização do trabalho podem produzir tensão muscular nos
empregados, que pode contribuir para a incidência ou reconhecimento
de lesão musculo-esquelética.

5. Finalmente, a organização do trabalho está relacionada com, e faz parte


de, qualquer implementação de alterações para reduzir os fatores de
risco no trabalho.

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