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Resumos Português (exame)

Ingles (Escola Secundária do Restelo)

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Exame Nacional de Português 2022

Resumos Português- Exame Nacional

Poesia Trovadoresca:
● Cantigas de amigo
● Cantigas de amor
● Cantigas de escárnio e maldizer

Representações de afetos e emoções na cantiga de amigo e na cantiga de amor:


A cantiga de amigo e de amor desenvolvem muitas vezes o tema do amor não
correspondido, embora perspectivado sob ângulos diferentes: um sujeito feminino ou um
sujeito masculino.
A cantiga de amigo apresenta um grande número de composições em que se
exprimem os sentimentos femininos de donzelas casadoiras, que partilham alegrias ou
angústias com vários confidentes. O sentimento amoroso aparece retratado em múltiplas
situações ou quotidiano rural.
A cantiga de amor remete para o ambiente e linguagem de corte. A cantiga de amor
expressa, geralmente, um código amoroso artificial: o código do amor cortês, baseado numa
relação de vassalagem característica da sociedade feudal.

Espaços medievais, protagonistas e circunstâncias:


A cantiga de amigo apresenta um ambiente rural, descrevendo geralmente um
cenário natural. Os encontros amorosos normalmente afastados de olhares indiscretos, mas
ligados ao quotidiano da donzela que vive no campo: a fonte onde vai buscar água, o rio
onde vai lavar a roupa, etc.
A cantiga de amor recria um universo cultural diferente da cantiga de amigo. O
ambiente da cantiga de amor é o da corte, afastado das formas rurais e oralizantes. A cantiga
de amor é geralmente estruturada como um pedido de amor do sujeito à dama ou como um
lamento pela sua indiferença. Assume, assim, um modelo poético estereotipado de
influência provençal que divide a sua intensidade expressivas, tornando-se por vezes
artificial.

Cantiga de amigo- variedade do sentimento amoroso:


Nas cantigas de amigo, o sujeito poético é uma donzela de origem popular, que
expressa espontaneamente os seus sentimentos amorosos. Estas cantigas apresentam várias
formas de sentimentos amorosos: a jovem incita as amigas do baile para seduzir o amigo;
lamenta a ausência ou a falta de notícias; espera ansiosamente a sua chegada, que tarda;
exprime o seu desalento pela indiferença, pela traição, ou mentira do amigo.

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Cantiga de amigo- confidência amorosa e relação com a natureza:


A cantiga de amigo apresenta sempre um sujeito feminino que expressa os seus
sentimentos, as suas emoções e os seus anseios amorosos. A donzela desabafa, muitas
vezes, com diferentes confidentes: as amigas, as irmãs, ou a própria natureza. A natureza
adquire, deste modo, um grande protagonismo na cantiga de amigo, surgindo até como
confidente quando a donzela a interpela. Por outro lado, o cenário rural tem muitas vezes
um papel simbólico na construção do poema quando é entendido como uma alusão ao final
do relacionamento amoroso; à presença do amigo na forma de cervo do monte; ou ao
conflito interior da donzela.

Cantiga de amor- a coita de amor e o elogio cortês:


Na cantiga de amor são expressos os sentimentos do homem por uma <dona= ou
"senhora" casada e de condição hierarquicamente superior à do sujeito poético, que a
enaltece de forma hiperbólica. O homem assume uma atitude de inferioridade face à
mulher amada, elevando as qualidades femininas ao seu expoente máximo, ao mesmo
tempo que hiperboliza o seu sentimento amoroso, a sua coita de amor.
Na realidade, na cantiga de amor, o sujeito realiza uma transposição amorosa para
uma <senhor=, abstrata ou extremamente idealizada, dos sentimentos do vassalo pelo
senhor feudal: admiração, devoção, fidelidade, desejo de ser admitido na intimidade.
Nestas cantigas, cultiva-se o amor cortês, um ideal amoroso marcado por
convenções e por algum artificialismo, em que o homem serve a sua amada numa relação
de vassalagem amorosa.
Deste modo, as cantigas de amor procuram representar o estado emocional e a
vivência psicológica daquele que ama. Estes poemas assumem muitas vezes sentimentos
contraditórios: o sujeito poético ama e sofre; espera e desespera; morre de amor e
enlouquece. Todavia, espera sempre uma recompensa da dama: um sinal do seu afeto. A
mulher assume geralmente uma forma abstrata e raramente é descrita. Frequentemente, a
dama é idealizada e as suas virtudes morais são elogiadas.

Cantigas de escárnio e maldizer- a dimensão satírica: a paródia do amor cortês e a crítica


de costumes
As cantigas de escárnio e maldizer são composições satíricas que expressam uma
crítica a comportamentos e vícios da época medieval.
São vários os temas versados nestas composições: desde acontecimentos históricos e
militares a hábitos sociais ou pessoais, polémicas entre trovadores e paródias das cantigas
de amigo e de amor.
O que distingue é o facto de na cantiga de escárnio existir uma crítica encoberta e na
cantiga de maldizer uma crítica direta.

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Linguagem, estilo e estrutura:


● Composição em galego português
● Cantigas de amigo: sujeito poético feminino, vocabulário simples, frases simples ou
coordenada e várias formas de repetição com recurso ao refrão ( verso(s) que se
repete(m) no final da estrofe) e ao paralelismo, que pode ser estrutural ou
semântico: paralelismo perfeito com <leixa-prem= (repetição da ideia da estrofe
ímpar na estrofe par); paralelismo anafórico (repetição literal de uma ou mais
palavras no início de um verso ou estrofe); e paralelismo semântico (repetição com
recurso a um sinónimo).
● Cantigas de amor: sujeito poético masculino, vocabulário menos repetitivo, frases
mais complexas e ausência de refrão (cantiga de mestria). O sujeito demonstra,
nestas composições, a complexidade dos seus sentimentos e os respetivos
argumentos com as razões do seu sofrimento.
● Cantigas de escárnio e maldizer: crítica de costumes com recurso à ironia, ao humor
e ao sarcasmo.

Neste tipo de composições é muito frequente o uso de recursos expressivos como a


comparação, a ironia e a personificação de elementos da natureza.

Fernão Lopes:

A Crónica de D. João I é a crónica Fernão Lopes:


portuguesa mais importante. Foi publicada - Nasceu entre 1380 e 1390,
em 1644, em Lisboa e encontra-se dividida provavelmente em Lisboa;
em duas partes: - Tabelião (notário) geral do
● a primeira- ocupa-se do espaço de Reino, guarda-mor na Torre
tempo desde a morte de D. do Tombo (arquivo geral) e
Fernando até à eleição de D. João I <escrivão= dos livros;
● a segunda- relata o reinado deste (primeiros reis da dinastia de
monarca até a paz com Castela, em Avis- D. João I e D. Duarte)
1411. - Secretário de D. Fernando;
- Nomeado por D. Duarte para
cronista do Reino- 1434;
- Supõe-se que terá morrido
em 1459.

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Escrita durante o reinado de D. Duarte, é na realidade, uma legitimação da nova


dinastia, a dinastia de Avis. Iniciada após o período conturbado de interregno na monarquia
portuguesa que vai de 1383 a 1385. A crise dinástica e a revolução popular e burguesa que
então se deram foi o resultado de uma série de acontecimentos, muitos dos quais ocorridos
durante o reinado de D. Fernando (1367-1383), reinado este marcado pelos sucessivos
confrontos com Castela, que empobreceram o reino e culminaram com a assinatura do
Tratado de Salvaterra de Magos, que determinou o casamento de D. Beatriz, a sua filha, com
o rei João I de Castela, pondo em causa a independência de Portugal. Para além disso,
acresce a grave crise económica que o monarca tentou resolver recorrendo à desvalorização
da moeda, à legislação para aumentar a produção agrícola e ao fomento e proteção do
comércio. É possível concluir que este reinado ficou marcado por um clima de instabilidade
e de incerteza, que se acentuou aquando da morte de D. Fernando, que não deixou filho
varão, pelo que a sucessão deveria caber à sua filha D. Beatriz, casada com o Rei de Castela.

A nobreza e o clero eram partidários de D. Beatriz, enquanto o povo pretendia que o


sucessor do trono fosse um dos filhos bastardos de D. Pedro, meros irmãos, portanto, do
falecido D. Fernando. Graças a uma conspiração bem preparada pelo influente burguês
Álvaro Pais, o povo viria a apoiar entusiasticamente o Mestre de Avis.

Após a invasão castelhana, seguiu-se um prolongado e doloroso cerco de Lisboa e


diversas batalhas, de que, sob o comando de Nuno Álvares Pereira, os portugueses seriam
vitoriosos. Posteriormente, o Mestre de Avis seria proclamado Rei, graças igualmente à
habilidade jurídica do Dr. João das Regras que, nas cortes de Coimbra, soube encontrar
argumentos para defender a aclamação do Mestre, que recebe o nome de D. João I e seria o
fundador da 2ª dinastia.

Afirmação da consciência coletiva


A legitimação da dinastia de Avis adveio da força do povo (<arraia-miúda=)
<habilmente por Álvaro Pais=. O povo foi a força moral da revolução, representando todos
aqueles que queriam preservar a independência de Portugal, todos aqueles que
manifestavam um amor à terra que os vira crescer, à terra que cultivavam e da qual
dependiam para viver. É, por isso, possível de se dizer que a Crónica de D. João I constitui
uma afirmação da consciência coletiva, no sentido em que o verdadeiro herói da obra não é
um herói individual, mas sim um herói coletivo- povo. Fernão Lopes mostra-nos, com
imenso realismo, vivacidade, pormenor descritivo e emotividade, o povo que se revolta, que
irrompe pelas ruas de Lisboa à procura do Mestre, que defende a cidade contra os
castelhanos, que passa fome e privações por causa do cerco.

Visualismo e dinamismo (característica muito importante na Crónica)- visível no apelo às


sensações e no uso de verbos de movimento (juntar, ver, etc.) - cinematografia

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A voz do povo, o sentir dos homens e das mulheres, dos mesteirais, dos
homens-bons é, muitas vezes, transmitida através de uma voz anónima da multidão. Outras
vezes é a própria cidade que parece revelar essa consciência do todo, assumindo quase o
estatuto de uma personagem coletiva. A afirmação da consciência coletiva é, sem dúvida
alguma, uma inovação, e, simultaneamente, uma prova de originalidade e da modernidade
de Fernão Lopes. De facto, ele é um cronista, um historiador mais preocupado com os
elementos de fundo (movimento), com uma visão em conjunto (em que entram elementos
económicos, políticos e sociais), com as massas do que propriamente com as figuras isoladas
da elite.

Atores individuais e coletivos:


● Mestre de Avis- homem que se mostra receoso, no seguimento do assassinato do
conde Andeiro; um homem acarinhado e apoiado pelo povo de Lisboa; um líder
resoluto, mas também solidário com a população, aquando no cerco à cidade.
● Álvaro Pais- o burguês que espalha pelas ruas de LIsboa que estão a matar o Mestre,
influenciando o povo a correr em seu auxílio.
● D. Leonor Teles- a mulher que gera ódios na população e que é apelidada de
<aleivosa= (traidora)- capítulo XI.

Crónica de D. João I- capítulos:


Capítulo 11:
● O pajem do Mestre de Avis grita pelas ruas, a caminho de casa de Álvaro Pais, que
matam o Mestre nos Paços da Rainha, o que leva as pessoas a saírem à rua, e a
pegarem em armas;
● Álvaro Pais, que já estava preparado, dirige-se com o pajem e outros aliados para os
paços, apelando à população para que se junte em auxílio do Mestre.
● Chegada às portas do Paço, que estavam fechadas, a multidão mostra-se ansiosa e
agitada, querendo entrar para confirmar se o Mestre estava vivo;
● Aconselhado pelos que estavam consigo e atendendo ao alvoroço das pessoas, o
Mestre aparece à janela para acalmar os ânimos. Perante esta visão, a população
manifesta um <gram prazer=;
● Sentindo-se seguro, o Mestre deixa os paços e cavalga pelas ruas em direção aos
paços do Almirante, onde se encontrava o Conde D. João Afonso, irmão da Rainha;
● Pelo caminho, o Mestre contacta com a população, que se mostra aliviada, alegre e
disponível;
● Próximo dos Paços do Almirante, o Mestre é acolhido pelo conde, pelos funcionários
da cidade e por outros fidalgos;
● Já à mesa, vêm dizer ao Mestre que as gentes da cidade querem matar o bispo. O
Mestre faz tensões de o ir socorrer, mas é aconselhado a permanecer ali (o bispo é
morto pela população)

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Tópicos de análise do capítulo 11:


● O episódio enquadra-se na sequência do cerco de Lisboa;
● Fernão Lopes retrata como aconteceu a aclamação do Mestre (após a morte do
conde de Andeiro), bem como as ações da população quando souberam que o
Mestre corria perigo e os seus sentimentos relativamente ao futuro monarca do país;
● A população (arraia-miúda) é a protagonista. Fernão Lopes assemelha-se a um
repórter (sensações auditivas e visuais) - visualismo e dinamismo;
● Concentração espacial (rua - paço - janelas- culmina no clímax);
● Após o aparecimento do Mestre o ritmo narrativo diminui;
● Os sentimentos do povo são realçados através das próprias falas;
- Servem para denegrir a imagem de D. Leonor Teles
- Servem para fazer a apologia do futuro monarca do país
● Narrador subjetivo, demonstra simpatia pelo povo e pela defesa do Mestre;

Capítulo 115:
● Ao saberem da vinda do rei de Castela, o Mestre e os habitantes começam a recolher
mantimentos e muitos vão buscar gado morto para alimentação;
● As populações movimentam-se: muitos lavradores deslocam-se para ao pé das
mulheres e dos filhos com tudo o que têm para dentro da cidade; outros vão para
Setúbal e Palmela; outros ficam em Lisboa e há quem permaneça em terras que
apoiam os de Castela;
● Começa-se a preparar a defesa da cidade; primeiro pensa-se na defesa a nível das
muralhas e das torres, tarefa que o mestre dá aos fidalgos e aos cidadãos honrados,
que contam com a ajuda de homens de armas. O mestre mostra preocupação em
defender a cidade. As gentes estão em alerta e são cuidadosas;
● Depois analisa-se a defesa das portas da cidade: quem vigia as várias portas e que
cuidados devem ter;
● Depois, na ribeira foram construídas estacas para impedir e dificultar a passagem dos
castelhanos;
● Ainda sobre a defesa, há a construção de um muro à volta das muralhas da cidade
que, com a ajuda das mulheres sem medo, apanham pedras pelas herdades e
cantam cantigas a louvar Lisboa;
● O narrador salienta a coragem e a determinação dos portugueses que defendem a
cidade, ao mesmo tempo constroem uma muralha, comparando-o com os filhos de
Israel;
● Todos pensavam em sintonia num bem maior, o que leva o cronista a concluir o
capítulo num tom elogioso. No final, Fernão Lopes, menciona a superioridade do Rei
de Castela apenas para elogiar o povo português que defendeu a cidade de Lisboa
perante um adversário feroz;

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Tópicos de análise do capítulo 115:


● O leitor começa, neste capítulo, por presenciar: a descrição da cidade de Lisboa-
preparação da defesa da cidade pelo Mestre de Avis com a ajuda da população- o
esforço, a valentia, a determinação;
● Primeiro, o cronista passa a recitar o que foi feito em relação aos mantimentos,
mostrando depois a sua preocupação relativamente à defesa da cidade- descrição
muito detalhada;
● Ao ir descrevendo a situação de defesa da cidade, vai referindo os grupos sociais que
participavam;
● O capítulo ilustra a cooperação, entreajuda, patriotismo e orgulho que reinava entre
as gentes, atitude muitas vezes elogiada pelo narrador- afirmação da consciência
coletiva das gentes contra o inimigo pela defesa da cidade;
● O mestre (ator individual) também recebe elogios pelo seu comportamento digno de
louvar, que merece uma caracterização favorável destacando toda a sua
determinação, bem como todo o apoio dado ao povo

Neste capítulo há um registo coloquial- apelos ao leitor; uso da 2ª pessoa do plural (vós);
linguagem popular e cheia de insinuações.

Capítulo 148:
● A cidade está cercada e os mantimentos começaram a falhar, devido à quantidade de
gente dentro das muralhas, o que leva à procura de comida para o cerco- correm
perigo;
● As esmolas escasseiam e não há como socorrer os pobres. Começa-se a estabelecer
quem deve ser colocado fora da cerca; as pessoas miseráveis, os que não combatem,
as prostitutas, os judeus…
● Na cidade, há carência de todos os alimentos (milho, vinho, trigo). Os preços dos
produtos é elevado e, por isso, os hábitos alimentares alteram-se, levando pessoas a
beberem água até à morte ou mesmo a procurarem grãos de trigo na terra. A carne e
os ovos são alimentos caros e escassos;
● As crianças não têm o que comer e pedem pela cidade, as mães já não têm leite para
os filhos e vêem-nos morrer. O ambiente na cidade é de tristeza, de pesar, de morte.
As pessoas rezam. Circula um rumor de que o Mestre vai expulsar todos os que não
têm comida, mas esse rumor é depois desmentido;
● O capítulo termina com um forte apelo ao leitor, representante da geração que
depois vem, que não teve de enfrentar os episódios/sofrimento.

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Tópicos de análise do capítulo 148:


● Continuidade e ligação ao ponto central da narrativa- o cerco;
● Ator coletivo- vivem momentos difíceis devido à fome (muita gente no cerco);
● O Cronista narra e descreve pormenorizadamente o sofrimento da população: a
procura arriscada de trigo; à noite em barcos; a falta de esmola para socorrer os
pobres; a expulsão do cerco de todos aqueles que não podiam combater; a recusa
dos castelhanos ao recolhimento dos que foram expulsos do cerco; procura
desesperada de algo para comer e beber. O suprimento acentua-se com a subida dos
preços.
● o narrador mostra-se solidário e pretende sensibilizar os leitores- perguntas
retóricas;
● O Mestre de Avis (autor individual) aparece, neste capítulo como o chefe que tem de
tomar decisões, algumas difíceis até a bem da comunidade, como a expulsão dos
inaptos. Por outro lado mostra-se solidário com as suas gentes.

Farsa de Inês Pereira- Gil Vicente:


Estrutura da obra:
● Exposição- monólogo inicial de Inês e o diálogo com a mãe em que se apresentam as
características da jovem e os seus objetivos;
● Conflito- desde a chegada de Lianor Vaz ao casamento com Pêro Marques;
● Desenlace- a partir do casamento com Pêro Marques até ao final, que concretiza o
tema da peça e o provérbio que a determinou ("mais vale asno que me leve que
cavalo que me derrube=);
- Ponto de partida: aspiração de Inês a libertar-se pelo casamento;
- Desenvolvimento: proposta e recusa do casamento com Pêro Marques;
casamento falhado com o escudeiro; casamento com Pêro Marques.
- Ponto de chegada: concretização da aspiração de Inês.

Características do género farsa:


● Curta extensão- normalmente, a peça apresenta somente um ato e não tem divisão
cénica;
● Representação de "cenas da vida profana", através da sátira;
● Representação do ambiente popular da época e de flagrantes da vida quotidiana;
● Representação de um conflito entre aspas forças opostas ", no âmbito das relações
sociais;
● Estrutura que pode ir da mais simples intriga a "justaposição de episódios" ou até
uma entrega mais complexa, com princípio, meio e fim;
● Número reduzido de personagens- podem ser o retrato vivo de certos tipos sociais
ou que apresentem já uma "violência psicológica acentuada"- personagens-tipo (ex:
Alcoviteira, Judeus, Escudeiro, Moço).

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Características da Farsa de Inês Pereira:


● O texto vicentino não é muito extenso (1116 versos) e quanto à sua estrutura
externa, não está dividida nem em atos, nem cenas, embora exista uma estrutura
tripartida (introdução, desenvolvimento e conclusão).
● A realização de trabalhos domésticos, nomeadamente a costura, atividade de que
Inês não gosta; a intervenção de uma Alcoviteira que dá a conhecer a Inês um
possível marido; o casamento de Inês com o escudeiro e os festejos que então
ocorreram; a ida do escudeiro para a guerra; o casamento de Inês Pereira com o
lavrador Pêro Marques.
● A mãe de Inês é referida como uma "mulher de baixa sorte" e as restantes
personagens integram-se nesse ambiente (Alcoviteira, Judeus, Lavrador, Escudeiro,
Moço, Ermitão).
● Quando Inês quer casar e a mãe (experiente) lhe dá alguns conselhos, Inês replica e
mostra alguma aspereza para com a mãe
● Tendo um princípio, um meio e um fim, torna a mais complexa do que as outras
forças; de facto, podemos reconstituir toda uma história e não apenas um episódio.

Mote: Abrir "mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube"
"asno"- Pêro Marques, marido estúpido ingénuo;
"que me leve"- que leve Inês a cavalo, ou seja, que lhe faça todas as vontades;
"cavalo"- escudeiro, marido "avisado" e "discreto";
"que me derrube"- que lhe faça a "vida negra", lhe tire a liberdade e a ameaçe e maltrate.

Resumo:
Inês Pereira, moça simples e caseira mas com grande ambição procura marido que
seja astuto e sedutor. A mãe de Inês, preocupada com a sua filha, sua educação e
casamento, incita-a a casar com Pêro Marques, pretendente arranjado pela alcoviteira
Lianor Vaz, no entanto o lavrador não agrada Inês Pereira, por ser ignorante e inculto. Pêro
Marques, nunca viu sequer uma cadeira, e isso não deixa de provocar o riso, assim
funcionando como mecanismo subliminar do autoelogio da Corte.
Inês Pereira recusa-o, pois pretende alguém que demonstre alguma cortesia, alguém
que, à boa maneira da Corte, saiba combater, fazer versos, cantar e dançar, alguém como
Brás da Mata, o segundo pretendente, que lhe é trazido pelos Judeus Casamenteiros, um
pouco menos sinceros e bem-intencionados do que Lianor Vaz. Mas Brás da Mata
representa apenas o triunfo das aparências, um simulacro de elegância, boa educação e
bem-estar social, que acredita no casamento como solução para as suas dificuldades
financeiras.

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Este casamento depressa se revela desastroso para Inês, que por tanto procurar um
marido astuto acaba por casar com um, que antes de sair em missão para África, dá ordens
ao seu moço que fique a vigiar Inês e que a tranque em casa de cada vez que sair à rua. Este
era um escudeiro falido que casou com Inês de forma a poder aproveitar-se do seu dote.
Três meses após a sua partida, Inês recebe a prazerosa notícia de que o seu marido
foi morto por um mouro. Não tarda em querer casar de novo, e é nesse mesmo dia que
Lianor Vaz traz-lhe a notícia que Pêro Marques continua disponível, de resto como este tinha
prometido a Inês aquando do primeiro encontro destes. Inês casa com ele logo ali, e já no
fim da história aparece um Ermitão que se torna amante da protagonista.
O ditado <mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube=, não podia
ser melhor representado do que na última cena da obra quando o marido a carrega em
ombros até ao amante, e ainda canta com ela <assim são as coisas=.
Trata-se, portanto, de uma sátira aos costumes da vida doméstica, jogando com o tema
medieval da mulher como personificação da ignorância e da malícia.

Personagens:

Inês Representa a moça que tem o desejo de se casar,


fútil, muito preguiçosa e interesseira, que se casa
duas vezes, apenas para se livrar do tédio da vida de
solteira. Não conseguindo casar-se na primeira
tentativa, garante-se na segunda, com o marido
ingénuo. Apesar de seu comportamento impróprio,
consegue até mesmo a simpatia do público pela
inteligência com que planeja seus passos.

Lianor Vaz É alcoviteira, mulher na época assim chamada que


arrumava casamentos, revelando que a base da
família está corrompida.

Pero Marques É o marido bobo mas um lavrador abastado. Apesar


de ser ridicularizado por Inês, ele casa-se como ela e
deixa que ela o maltrate e o traía.

Mãe Apesar de dar conselhos à filha, acha importante


que ela não fique solteira e torna-se cúmplice das
atitudes dela.

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Escudeiro Preocupado em encontrar uma esposa, finge, e


engana, criando uma imagem de "bom moço" que
depois se revela um tirano, e deixa Inês presa na sua
casa mas ele é morto por um mouro.

Moço Era um amigo do primeiro marido de Inês, que o


ajuda a mentir para se casar com ela.

Ermitão Era o amante de Inês que depois se torna num


padre.

Latão e Vidal Judeus casamenteiros.

Tempo
É um tempo dilatado, tendo o espectador dificuldade de se aperceber da sua passagem.

Cómico
Cómico de Caráter
Concretiza-se nas figuras de Pêro Marques-ingenuidade (provinciano e bronco nitidamente
deslocado junto de Inês e da Mãe) e do Escudeiro pobre e cobarde (falsidade) mas
dissimulado na elegância do seu discurso, na variedade das suas prendas (canta e toca) e na
fanfarronice solene todas as suas fraquezas e misérias.

Cómico de Situação
Quando Pêro Marques se senta na cadeira ao contrário e de costas para Inês e para a Mãe;
na fala dos Judeus casamenteiros, que, na sua sofreguidão e calculismo para conseguirem
casar Inês com o Escudeiro, se interrompem, repetem e atropelam constantemente; no
episódio final quando Pêro Marques. descalço. transporta Inês às costas. mais duas lousas
que lhe agradam e para cúmulo, aceita cantar uma cantiga que o apelida de "marido cuco".

Cómico de Linguagem
Quando Pêro Marques entra com a sua linguagem recheada de termos e expressões
provincianas; quando os Judeus produzem o seu discurso repetitivo e arrastado; quando
Inês se refere a Pêro Marques dizendo "Ei-lo se vem penteando/será com algum ancinho?";
na ironia do Moço desmascarando a pelintrice do Escudeiro. Nos trocadilhos (quando Pêro
Marques diz que seu é o "mor gado" e a Mãe pensa que ele é morgado; quando Inês
pergunta a Pêro se pode sair e ele pensa que ela se refere a "evacuar").

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Objetivo da crítica vicentina:


Gil Vicente critica:
● A mentalidade das jovens raparigas;
● Os escudeiros fanfarrões, galantes e pelintras;
● A selvajaria e ingenuidade de Pêro Marques;
● As alcoviteiras e os judeus casamenteiros;
● Os casamentos por conveniência;
● Os clérigos e os Ermitões.

Lírica Camoniana
Estrutura:
Medida velha (redondilha menor e maior) ³ Medida nova (versos decassílabos)
´
- Vilancete- mote de 2 ou 3 versos e - Soneto: duas quadras e dois tercetos com
voltas de 7 versos decassilábicos
- Cantiga- mote de 4 ou 5 versos e ´
grosas de 8,9 ou 10. Esquema rimático: abba/abba (quadras)
- Esparsa- única estrofe (8 ou 16 versos) ou cde/dce ou cdc/dcd (tercetos).
- Endecha- número variável de estrofes Normalmente o segundo terceto é a
(quadras/ oitavas), com versos de 5 <chave de ouro=- significado do soneto
ou 6 sílabas

Temas predominantes:
● A representação da amada;
● A experiência amorosa e a reflexão sobre o amor;
● A representação da natureza;
● A reflexão sobre a vida pessoal;
● O desconcerto do mundo;
● A mudança.

Nota: deve-se ter em atenção que na medida velha e na medida nova também há temas
predominantes em cada um deles.
Assim:
● Medida velha:
- Temas tradicionais e populares;
- Sociedade rural- ambiente pastoral;
- Natureza;
- Amor simples e desengano;
- Saudade e sofrimento;
- Exaltação da beleza das mulheres de condição senil;
- Dor e mágoa;
- Temas autobiográficos e filosóficos.

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● Medida nova:
- Ideal da mulher;
- Desejo;
- Efeitos do amor;
- Ausência e saudade;
- Mulher divinizada e inacessível, beleza suprema;
- Mudança e efemeridade da vida;
- Desconcerto do mundo.

Rimas- Luís de Camões:

A representação da amada:
Está marcada pela confluência de duas linhas:
➔ Influência da linha trovadoresca: relações da sociedade feudal alicerçada na
hierarquia senhor/vassalo, ou no quotidiano da donzela no povo
➔ Influência da Itália Renascentista: Surge a influência do ideal da mulher
renascentista.

Poesia de Petrarca e beleza de Laura³ pele branca, cabelos loiros e idealização das suas
qualidades morais que a coloca num plano inacessível- Visão celestial da mulher
´
No entanto, na na lírica camoniana também há a presença da mulher com os
contornos bem definidos. Enquanto a mulher petrarquista permite ao amado elevar-se a
um sentimento amoroso de dimensão puramente celestial, a figura feminina corporizada
permite ao sujeito libertar-se das convenções sociais que o prendem e identificar-se com a
harmonia da natureza.
Na lírica camoniana, existem dois ideais femininos que se cruzam e conduzem o
sujeito a sentimentos contraditórios e o levam à reflexão.

Exemplo: <A ua cativa com quem andava d’amores na Índia, chamada Barbora=
● forma poética tradicional
● ideal da mulher semelhante à renascentista (subversão da figura feminina)
● Tratava-se de uma jovem indiana (cabelo e olhos negros, tez escura)³ inovacão e
tradição

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A experiência amorosa e a reflexão sobre o amor:


Na lírica camoniana, esta experiência é vivida de diversas formas. O sofrimento
amoroso é frequentemente associado a uma tortura, do mesmo modo que a saudade é
insuportável e faz desejar a morte.
O sujeito exprime, frequentemente, a sua insatisfação pela infelicidade do amor ou
pelos obstáculos da fortuna. Deste modo, a experiência amorosa está muito associada à
derrota da razão e ao domínio do sentimento perante a sedução do amor.
Opostamente, o Amor em Camões é visto como uma forma de elevação a nível
espiritual, um sentimento inexplicável e paradoxal e uma entidade superior. Por outro lado,
o conceito de amor é muitas vezes associado a figuras mitológicas e a locais ideais pois visto
como uma ficção cuja concretização é impossível. A figura feminina é muitas vezes
caracterizada como angelical e , à semelhança do ideal petrarquista. A reflexão amorosa
em Camões é complexa, uma vez que o sujeito exprime o desejo da amada, mas canta ao
mesmo tempo o amor do amor.
´
No fundo, o <eu= deseja ascender a um estado de exaltação amorosa que lhe permita aceder
à elevação espiritual

A representação da Natureza:
Surge associada ao amor e à representação da amada. Assim, os poemas
apresentam-nos uma Natureza ligada à expressão sentimental do <eu= e marcada pelos
cenários idílicos. Camões retoma uma representação da Natureza na linha da poesia
bucólica de Virgílio e descreve frequentemente uma Natureza diurna, natural e edênica ³
<locus amoenus=, podendo representar diferentes papéis:
1. cenário propício ao amor e à sublimação da amada;
2. confidente do sujeito poético;
3. objeto de contemplação, pretexto para reflexão e contraponto ao estado de espírito
do sujeito poético;
4. cenário natural associado à passagem do tempo e ao movimento cíclico das estações
do ano.

A reflexão sobre a vida pessoal:


A reflexão sobre a vida pessoal é, em Camões, determinada por um destino
implacável e marcada por experiências pessoais de pendor negativo. Assim, o sujeito
desenha o seu percurso existencial marcado pelo sofrimento, pela angústia e pela
inquietação. Deste modo, a experiência infeliz do amor, a recordação de um sem passado, a
instabilidade e o desnorte no presente conduzem à revolta, ao desejo de vingança e à
tentação de morte. A constante desilusão amorosa é acentuada pela crueldade do destino
que retira ao <eu= todas as possibilidades de esperança.
Assim, a reflexão sobre a sua vida pessoal faz o sujeito cair num profundo
desencanto que o leva à perplexidade, ao remorso e ao profundo sofrimento.

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O tema do desconcerto:
É perspetivado em duas vertentes: a desordem entre o homem e o mundo e a
desarmonia no interior do próprio homem.
O desconcerto é, assim, de caráter social, moral e existencial, pois o sujeitodá-se
conta, na sua análise, que os verdadeiros valores estão completamente invertidos e que o
mundo anda <às avessas=.
Os sinais desta desordem são diversos, desde as injustiças sociais, à valorização da
mediocridade, à inevitabilidade da passagem ao tempo, ao absurdo da morte e a ação do
destino implacável. Assim, o sujeito apresenta-se, não raras vezes, como vítima deste
desconcerto: é infeliz no amor, enfrenta inúmeras dificuldades, vive na miséria, não é
reconhecido no seu trabalho e dedicação à Pátria.
Paralelamente, o sujeito vive vários conflitos interiores, sente-se responsável pelos
seus erros, condenado pela fortuna e perseguido pelo fado adverso.

O tema da mudança:
Está associado ao desconcerto do mundo e à questão do Destino. O desconcerto e a
mudança estão associados ao desencanto e à frustração e são determinantes do tom crítico
de algumas composições poéticas.
Este tema é desenvolvido pelo sujeito segundo duas perspetivas aparentemente
antagónicas. Assim, enquanto na Natureza, a mudança tem um pendor cíclico, a mudança no
Homem anula a esperança- enquanto que as mudanças naturais são previsíveis e os
períodos de decadência são substituídos por períodos de renascimento, na vida humana
domina a instabilidade, a fragilidade e quase sempre a imprevisibilidade. O sujeito poético
faz uma auto análise, constata que nunca se muda para melhor e o declínio e a adversidade
marcam o percurso do <eu=.
Face a esta situação, o sujeito poético assume uma posição de desencanto e
frustração pela impossibilidade de inversão do percurso natural da vida.

Linguagem, estilo e estrutura:


● Lírica tradicional (redondilhas)- 5 ou 7 sílabas- medida velha
- vilancetes: poesia de mote (2 ou 3 versos) e glosas ou voltas
- cantigas: poesia de mote (4 ou 5 versos) e glosas ou voltas
- trovas: várias estofes- não está sujeita a mote
- esparsas: uma única estrofe.
● Lírica de inspiração clássica (petrarca)- medida nova
- soneto: forma rígida com verso decassílabo
- canções
- elegias

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Os Lusíadas- Luís de Camões

Conceito de epopeia (poema épico)


A epopeia é um género narrativo em verso que remonta à antiguidade clássica. A
epopeia, marcada pelo estilo grandioso e solene, canta um facto heróico de interesse
nacional e universal que assegura a unidade de ação (em Os Lusíadas, a viagem à Índia) ; os
episódios retrospectivos e as profecias dão extensão e riqueza à obra.

Estrutura Externa:
Os Lusíadas, escrito em versos decassilábicos, apresenta dez cantos, as estrofes
organizam-se geometricamente em oitavas, com esquema rimático abababcc; o poema tem
1102 estrofes.

Estrutura Interna:
Partes Constituintes de Os Lusíadas
O poema está organizado em quatro partes: Proposição (1, 1-3); Invocação (I, 4-5);
Dedicatória (I, 6-18 e X,145-156); Narração (I-X).

● Proposição: o poeta enuncia um projeto narrativo audaz e vasto: glorificar os heróicos


realizadores das grandes navegações e descobertas, as armas e os barões assinalados
(est. 1, v. 1), a evocação dos reis que foram dilatando / A Fé, o Império (est. 2, vv. 2-3)
e, finalmente, todos os que por obras valerosas / Se vão da lei da morte libertando
(est. 2, vv. 5-6), ou seja, os que se tornaram imortais devido à grandeza dos seus atos,
na perspetiva do poeta. Enfim, canta o peito ilustre lusitano / A quem Neptuno e
Marte obedeceram (est. 3,vv. 5-6).
● Invocação: define o estilo que acompanha o canto de engrandecimento do povo luso,
um discurso marcado pelo som alto e sublimado, / Um estilo grandíloco [grandioso] e
corrente (est. 4, vv. 4-5), e adequado à matéria narrada.
● Dedicatória: apresenta dois momentos, no canto l e no canto X, a fechar a obra, o
poeta oferece o poema ao rei D. Sebastião, tece-lhe elogios, mas também o exorta a
governar bem, olhando para todos os que contribuem para o desenvolvimento da
pátria, onde o próprio se inclui, como pede na estância 150 do canto X: Todos
favorecei em seu ofício / Segundo têm das vidas seu talento.
● Narração: constitui o desenvolvimento da obra e se inicia <in medias res=;
compreende diversos planos narrativos, sendo que o acontecimento de relevo é a
viagem de Vasco da Gama à índia, núcleo central da ação. A História de Portugal
(episódios passados e futuros), a intervenção mitológica, e as considerações e
reflexões do poeta conferem uma composição variada e complexa à textura narrativa.

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Planos estruturais da Epopeia Os Lusíadas


● Plano da viagem: constitui a ação central do poema. Compreende a narração da
viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia, que se iniciou em julho de
1947, chegada a Calecut, em maio de 1948, e regresso a Portugal em 1499. Com
início da narração <in medias res=, a ação dos ousados navegadores é cantada pelas
vozes heterodiegética (narrador/poeta) e autodiegética (Vasco da Gama).
● Plano Mitológico: é dado pela intervenção dos deuses pagãos na ação, simbolizando,
por um lado, diversas adversidades superadas pelos heróis, por outro, o estatuto do
herói português a quem Neptuno e Marte obedeceram.
● Plano da História de Portugal: é assegurado por diversas vozes (Vasco da Gama, Paulo
da Gama, figuras mitológicas) e encaixado por analepses e prolepses em diversos
momentos da ação. São narrativas secundárias que se inserem no propósito inicial do
poeta sem perder a unidade de ação: o louvor dos feitos valorosos dos portugueses.
● Plano das Considerações do Poeta: revela-nos um autor atento ao seu tempo e com
uma intenção pedagógica e cívica que acompanha os diversos relatos. Assim,
maioritariamente nos finais dos cantos, a narração é interrompida e o poeta lança
críticas, tece lamentos e desabafos ou exorta os portugueses a seguirem o exemplo
dos verdadeiros heróis, o caminho da imortalidade, que é, como afirma, o Caminho
da virtude, alto e fragoso / Mas, no fim, alegre e deleitoso (VI, 90).

Principais Considerações do Poeta ao longo da Epopeia


Nestas reflexões do poeta, destacam-se duas perspetivas diferentes. Por um lado, constituem
a visão do poeta renascentista relativamente à própria condição humana, o que está, por
vezes, ao serviço da construção do herói do poema, que ultrapassa todas as dificuldades e
será premiado pelo seu esforço e valentia, na Ilha dos Amores, espaço simbólico de
recompensa pela conclusão de um percurso heróico e glorioso.
Todavia, o poeta revela também a sua perspetiva disfórica em relação a uma fase do Império
Português e aos valores dominantes no país, num momento em que o brilho das grandes
navegações começava a ser ofuscado pelo materialismo que dominava no reino, pela
indiferença em relação à arte; o poeta manifesta ainda o seu desalento pelo desprezo a que
a sua epopeia era votada.

Canto 1, 105-106: exclamações do poeta sobre a insegurança e os perigos que envolvem a


vida do ser humano. Na sequência da traição levada a cabo em Mombaça, o poeta utiliza a
metáfora bicho da terra tão pequeno para evidenciar a frágil condição humana. Também
acerca das situações e circunstâncias nefastas da vida se pronunciará o Velho do Restelo (IV,
95-97), que, na sua voz de experiência feita, alerta os navegadores para os perigos,
crueldades, tormentas e mortes, ao desafiarem os espaços longínquos e desconhecidos.

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Canto V, 92-100: reflexão sobre a falta de cultura do povo português e a falta de apoio à
atividade artística. O poeta reconhece que, até ao seu tempo, os heróis portugueses eram,
na sua maioria, rudes, ásperos e austeros. Consequentemente, advoga que é necessário
libertar o país da ignorância. Um povo inculto Não será capaz de potenciar heróis plenos.

Canto VIII, 96-99: O poeta reflete sobre o poder do ouro e procede à enumeração de atos de
corrupção que percorrem todos os estratos sociais, de forma particular as elites. Este
comentário apresenta uma estrutura argumentativa, pois defende-se uma tese inicial na
Estância 96, referindo que o dinheiro afeta negativamente as pessoas; Em seguida,
apresenta, exemplificando, a tese de que o ouro corrompe o ser humano; e, por fim, nas
duas estâncias finais, comprova através de argumentos o que o vil metal consegue fazer às
pessoas.

Canto IX, 88-95: Considerações sobre o conceito de imortalidade e da mitificação do herói


sobre o verdadeiro valor da glória e da fama, De acordo com a simbologia veiculada pelo
episódio fantástico da Ilha dos Amores. O espaço mítico da Ilha dos Amores, prémio que
permite ao ser humano atingir a condição divina através da imortalidade dos seus feitos, é
um texto para o poeta exortar os seus contemporâneos a seguirem o exemplo dos
navegadores, pondo de parte é indolência, a cobiça, a ambição.

Cantos VII Vit, 78-87, e X, 145-156: lamentos sobre a condição de homem e de artista. Da
sua vida, lamenta o infortúnio; de ser poeta, a incompreensão e sensibilidade artística por
parte de quem tem responsabilidades na condução do país, ignorando os seus elementos
mais ilustres e letrados. Esta queixa é recorrente em outros momentos da obra de forma
implícita ou explícita. Deste modo, desiludido por cantar para gente surda e endurecida,
adverte sarcasticamente que a pátria do seu tempo, a mesma que projetara heróis que
deram novos mundos ao mundo, está mergulhada numa austera, apagada e vil
tristeza.

Tendo em conta o relevo destes «discursos» e o seu elevado número, se considerarmos que
é através deles que o poeta veicula a sua principal mensagem cívica e pedagógica, que é
ainda por meio deles que passa a finalidade épica- louvar e imortalizar os heróis, corrigindo,
por vezes, a justiça mundana; se ligarmos todos estes fios, convencemo-nos de que as linhas
mestras deste poema se situam mais no plano do discurso e menos no plano da narração.

Imaginário épico: matéria épica e mitificação do herói


Em estilo grandíloco e corrente (I, 4), o poeta enaltece, n’ Os Lusíadas, um herói
coletivo, os Portugueses. Para isso, faz incluir na epopeia feitos históricos, passados e
futuros, encaixados na narrativa da viagem à Índia, cumprindo plenamente o que havia
enunciado na Proposição. E é neste percurso pela história de um povo que emerge, traço a
traço, a dimensão superior do herói lusíada, que culmina na Ilha dos Amores.

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Com efeito, a mitificação do herói, nesta obra épica, resulta da interação do plano da
intriga dos deuses, da mitologia, com o plano da viagem dos portugueses à Índia. Depois de
superarem todas as dificuldades de ordem natural e humana (Tromba marítima, Adamastor,
Tempestade, oposição de deuses) e terem chegado à Índia, são conduzidos à Ilha dos
Amores onde se unem às ninfas, adquirindo um estatuto divino.
Assim, os navegadores portugueses tornam-se iguais aos deuses, pois venceram
todas as dificuldades e obstáculos, aparentemente transcendentes e inultrapassáveis que
impediam o seu conhecimento do mundo e da natureza. Através da mitologia, que culmina
com a já referida união dos navegadores portugueses com as ninfas e a sua consequente
«divinização» e mitificação desses mesmos heróis, Camões exprime um dos ideais mais
profundos do Renascimento: a confiança na capacidade humana para se opor e suplantar a
tradição (os deuses da Antiguidade), para afastar o obscurantismo e para dominar o mundo
e a natureza.
Por outro lado, a epopeia apresenta não o retrato de um herói concreto, mas sim um
modelo de heroísmo, um ideal humano que se exprime pela heroicidade. O poeta sustenta
que qualquer homem pode ser herói e o heroísmo, em teoria, é acessível a todos, porém,
nem todos chegam a atingi-lo e estes, pela situação superior a que ascendem e pela sua
elevação espiritual, isolam-se da maioria. O heroísmo resulta, deste modo, de um esforço
individual,

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