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Ética Profissional

Unidade 1a
Ética Profissional

1ª edição
2019
Produção do Material Didático - Pedagógico
Delinea Tecnologia Educacional

Diretoria Executiva
Design Educacional
Charlie Anderson Olsen
Gabriela Souza
Larissa Kleis Pereira
Mônica Guarezil
Margarete Lazzaris Kleis
Coordenação de Design Gráfico
Gestão de Produção
Edison Valim
Camila Sayury Nakahara
Projeto Gráfico
Coordenação de Produção
Hortência Granair
Fátima Satsuki de Araujo Iino
Diagramação
Professor Conteudista
Bruna Flôr
Antônio Feliciano
Sumário
1.1 Abordagem conceitual ��������������������������������������������������������������������������� 7

1.2 Formação e trajetória da Ética��������������������������������������������������������������� 10

1.3 Tipologia e Conduta Ética���������������������������������������������������������������������� 12


Unidade 1a
Moral e Ética

Para iniciar seus estudos


Olá, aluno(a)! Nesta unidade, vamos situar a Moral e a Ética nas perspectivas histórica, filosófica e
política.
A ação humana é repleta de conexões feitas de conhecimentos, experiências, insights, impulsos, valo-
res, crenças, amor, carinho, capricho, entre outros aspectos que tornam sua compreensão complexa,
mas essencial para o entendimento do desenvolvimento da conduta das pessoas.
Os estudos sobre a Ética e a Moral têm suas origens antes mesmo de Aristóteles (384 a. C. – 322 a. C.),
que ainda hoje é considerado um dos principais pensadores do tema, e cujas contribuições teóricas
e práticas são significativas na configuração de qualquer iniciativa cujo objetivo consista no entendi-
mento sobre o assunto.
Desde antes do período aristotélico, a sociedade vem mudando intensa e continuamente e, por isso, a
compreensão do comportamento humano se faz necessária para que se entenda a extensão concei-
tual e prática da Ética e da Moral nas relações pessoais e profissionais na sociedade.
Nesta unidade abordaremos a Ética e a Moral a partir de uma perspectiva teórico-conceitual, com
o objetivo de oferecer a você elementos suficientes para a compreensão ampla do significado das
situações que você vive em seu cotidiano, seja na família, na igreja, na instituição educacional, enfim,
em qualquer lugar e em qualquer circunstância onde há relacionamentos, pois a Ética e a Moral são
onipresentes.

Objetivos de Aprendizagem

• Situar Moral e Ética nas perspectivas histórica, filosófica e política;


• Promover a reflexão e a crítica sobre a natureza e os fundamentos da Moral e da Ética;
• Apresentar a Ética a partir de uma perspectiva classificatória.

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Ética Pro issional | Unidade 1a - Moral e Ética

1.1 Abordagem conceitual


Uma pequena e inocente fofoca não faz mal a ninguém; aliás, quem nunca fez isso? Levar uma van-
tagenzinha no trânsito maluco das cidades e rodovias, quem nunca fez isso? Usar equipamentos e
outros recursos da empresa para realizar um trabalho particular, quem nunca fez isso? Contar uma
mentirinha, quem nunca fez isso? Parece mesmo difícil pensar em um mundo perfeito, em que todos
tenham comportamento ético, reto, sem verdadeiramente levar vantagens sobre os demais.
As contradições e incertezas apresentadas no contexto da sociedade fazem com que a humanidade
busque cada vez mais explicar sua realidade por meio de atributos éticos e morais, que são parte de
qualquer grupo social, da vida de qualquer pessoa, em qualquer situação. Os valores sociais comu-
mente limitam as pessoas a agir de forma antiética, pois todo valor social apresenta consigo uma
sanção, por isso seu caráter limitador ao comportamento humano.
A Figura 1.1 apresenta a incerteza como elemento permanentemente presente na vida humana.

Figura 1.1: Incerteza humana.

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

A incerteza acompanha o homem desde os primórdios, fazendo parte da evolução da espécie e de seu
domínio sobre a natureza. Foi por meio da capacidade humana que os recursos naturais foram gra-
dativamente sendo utilizados para garantir sua sobrevivência, o que ocorre desde a geração de ener-
gia elétrica, passando pela moradia, alimentação, segurança, criação de medicamentos, entre outros
usos.
Não devemos perder de vista que, de fato, o homem travou grandes batalhas contra a natureza, pelo
menos em um passado recente. Devemos destacar que durante toda a sua história, o grande inimigo
do homem sempre foi ele mesmo, por isso a incerteza de continuidade da espécie se mantem presente
até os dias atuais.
Até certo período da humanidade, a virtude pessoal significava um verdadeiro atestado de segurança
relativa à honra individual, garantindo prestígio social aos virtuosos. O resgate da Ética para resolver
questões sociais que causam grandes incertezas depende de pessoas virtuosas, com ampla capa-

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cidade de refletir e agir com espírito coletivo, isto é, visando ao bem-estar comum, atentando para a
pluralidade que é o mundo.
Nesse contexto, convém destacar que Passos (2007 p. 22) argumenta que nos dias atuais, “a palavra
virtude está em desuso, enquanto que a palavra moral foi substituída por ética, por ser mais geral e
menos identificada com a religião”. Apesar de isso ter acontecido, você deve compreender que o com-
portamento humano é constituído primeiramente pela moral, pois é esta que contém a estrutura de
valores que nos afasta das ações animalescas.
A realidade mundial muda rapidamente. Pense nas sociedades global e na brasileira na década de 50
e perceba que elas eram completamente diferentes do que são hoje, entretanto muitos aspectos da
Ética se mantiveram. Nesse sentido, podemos afirmar que a evolução da sociedade tem por base seu
código de conduta, que é definido pela Ética, e essa, por sua vez, define os valores e os comportamen-
tos, estando no cerne da virtude social.
No plano conceitual, Sá (2010, p. 3) afirma que “[...] a Ética tem sido entendida como a ciência da con-
duta humana perante o ser e seus semelhantes”.
Em momentos de crises, em que a sociedade percebe o potencial risco ao seu equilíbrio, a Ética é res-
gatada pelos virtuosos, por isso podemos afirmar que ela exerce papel fundamental para o equilíbrio
harmônico nas relações humanas.
A noção de Ética é importante pois a competição é inerente a todas as espécies, fazendo parte do
comportamento de cada indivíduo, e com o ser humano não é diferente. São a virtude e os códigos éti-
cos e morais que impedem que as competições sejam desleais ao ponto de serem violentas. Portanto,
sem esses aspectos, a convivência dos homens seria impossível.
Você já imaginou o ambiente familiar, social ou do trabalho sem códigos éticos? A disputa violenta
pela alimentação e a propriedade de qualquer objeto poderia tornar insustentável qualquer espaço
ocupado por mais de uma pessoa.
Passos (2007) admite que a virtude não é um elemento relevante para o status social dos indivíduos,
mas que, apesar disso, é possível perceber que as pessoas fundamentam seus projetos de vida em
valores sociais morais, significando que o comportamento individual é parametrizado pelos valores
morais coletivos.
A amplitude dos valores morais é sintetizada por Passos (2007, p. 22), ao considerar que os valores
estão presentes em todas as ações e relações humanas, possuindo vários sentidos: “[...] estéticos,
políticos, jurídicos ou morais”.

Reflita

Partindo da ideia de que toda ação individual tem por base valores coletivos, quando
uma pessoa planeja uma ação cujo valor fundamental é o econômico, tendo por
base o lucro financeiro, você imagina como caracterizar a existência de algum valor
moral, jurídico, estético ou político nas relações econômicas?

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A materialidade da Ética pode ser evidenciada nesse tipo de relação a partir de vários pontos de vista.
Possivelmente, você pode pensar que é provável haver razoabilidade na taxa de lucro em uma relação
econômica, ou também que é ético não enganar as pessoas em uma relação econômica. Por isso
relembramos Passos (2007), ao considerar que toda ação humana possui algum valor moral que fun-
damenta o comportamento.
Nessa direção, Sá (2010, p. 3) aponta que a Ética “[...] envolve os estudos de aprovação e desaprova-
ção da ação dos homens”. Sá (2010) complementa que a Ética também envolve a análise da vontade
e do desempenho virtuoso das pessoas a partir das suas intenções e atuações, seja do ponto de vista
individual ou sob o prisma das normas coletivas.
Na direção conceitual, Cortina e Martinez (2013, p. 9) evidenciam que a Ética “é um tipo de saber nor-
mativo, isto é, um saber que pretende orientar as ações dos seres humanos”. Nesse sentido, por meio
da Ética é possível propor soluções concretas para problemas concretos.
Assim, podemos afirmar que a Ética pode ser considerada como um braço operacional da Moral, que,
por sua vez, na visão de Cortina e Martinez (2013, p. 9), orienta a ação humana de forma indireta: “[...]
no máximo, pode indicar qual concepção moral é mais razoável para que, a partir dela, possamos
orientar nossos comportamentos”.
Entenda que ambas, Ética e Moral, são definidas a partir de modelos teóricos, no entanto, é na prática
da ação humana que podemos identificar com maior facilidade os aspectos éticos.
Cortina e Martinez (2013, p. 11) indicam que:
Não há dúvida de que a Ética, entendida à maneira aristotélica como saber orientado para o
esclarecimento da vida boa, com o olhar posto na realização da felicidade individual e comuni-
tária [...] Se a pergunta ética para Aristóteles era, “quais virtudes morais temos de praticar para
conseguir uma vida feliz, tanto individual como comunitariamente”, na era moderna, em contra-
partida, a pergunta ética seria esta outra: “quais deveres morais básicos têm de reger a vida dos
homens para que seja possível uma convivência justa, em paz e em liberdade, dado o pluralismo
existente quanto às maneiras de ser feliz”.

Essa passagem deixa claro que pode haver múltiplos entendimentos e práticas para alcançar a feli-
cidade, entretanto as ações humanas são limitadas para que não se constituam em práticas desle-
ais, que atentem contra a moral coletiva. Dessa forma, podemos afirmar também que a evolução da
sociedade faz surgir novas necessidades por novos códigos éticos, que visam orientar as ações das
pessoas em busca da felicidade.
Para reforçar um pouco mais o entendimento sobre a Moral, Cunha (2012, p. 17) afirma que a Moral
tem relação com as decisões humanas, não somente as consequências de uma decisão em relação
ao coletivo, mas também no que diz respeito ao tomador de decisão, pois uma decisão precede uma
ação.
Sendo assim, você deve perceber que há limites entre a Moral e a Ética, os quais podemos descrever
da seguinte forma: posso me beneficiar muito com minha ação, que mesmo sendo legal, pode ser
imoral, e a partir dessa noção de moralidade/imoralidade surge a Ética, como uma forma de corrigir as
distorções morais no plano prático.
Passos (2007, p. 22) afirma que a Moral vem do latim mores, que quer dizer “costume”, “conduta”,
“modo de agir”; enquanto a ética vem do grego ethos e, do mesmo modo, significa “costume”, “modo
de agir”.
Apesar de aparentemente apresentarem o mesmo significado, é justamente no emprego dos termos
que se percebe as diferenças. A Ética é uma espécie de “examinadora da moral” para manter o caráter
civilizador às nossas ações. Isso ocorre, segundo Passos (2007), porque a Ética permite a reflexão, a

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teorização da conduta humana, tendo função fundamental nas nossas atitudes diárias, corriqueiras,
pois ela regula o comportamento humano.
Você pode perceber que a Ética oferece suporte à Moral, que, convenhamos, em relação à Ética, está
em um plano mais amplo. Passos (2007, p. 23) afirma que “a ética é a ciência da Moral”. Nessa dire-
ção, citamos Sanchez Vasquez (apud PASSOS, 2007) ao afirmar que “[...] a ética é a ciência que estuda
o comportamento moral dos homens na sociedade”.
Podemos reter com isso que a Ética e a Moral são mutantes, no sentido de mudarem conforme o con-
texto social. Se o Brasil da década de 1950 era muito diferente do Brasil de hoje, então a Ética e a Moral
sofreram mudanças. Como se trata de comportamento associado a valores culturais e outros aspec-
tos sociais, você deve pensar que as mudanças não são estanques, isto é, não há um rompimento
definitivo entre os padrões éticos e morais de um período em relação ao momento subsequente, pois
se trata, na verdade, de um processo permanente de construção.
Nesse sentido, é correto afirmar que a Ética e a Moral se conformam com a função de facilitar a con-
vivência em sociedade, e por isso Aristóteles e outros pensadores ainda estão muito presentes na
sociedade atual.
Ainda assim, há pessoas que não veem qualquer problema em usar os recursos da empresa onde
trabalham para realizar atividades de caráter particular, como utilizar um veículo público para ir ao
supermercado fazer suas compras pessoais. Enfim, a partir da materialidade da Ética, você pode pro-
mover reflexões adaptando o conceito à sua realidade.
Convém lembrar que a coletividade procura, diante das contradições sociais, agir para que se man-
tenha a harmonia entre as pessoas, portanto não se trata de moldar a Ética e a Moral a interesses
específicos, mas tornar os níveis de convivência idealmente equilibrados.

1.2 Formação e trajetória da Ética


Desde os tempos mais remotos, a Ética tem sido alvo de estudos e pesquisas, ampliando o escopo de
análise para todos os campos da ciência e da sociedade. Muitos autores investem esforços sobre o
assunto tecendo contribuições que se complementam aos escritos de outros, possibilitando o melhor
entendimento do comportamento humano. Sem dúvida alguma, os escritos de pensadores que vive-
ram na antiguidade, como Aristóteles (384 a. C. – 322 a. C.), Platão (428 a. C. – 347 a. C.) e Sócrates
(469 a. C. – 399 a. C.) ainda balizam novas pesquisas, tamanha a influência das teorias elaboradas
por esses autores na filosofia.
Na Figura 1.2 apresentamos alguns importantes nomes de estudiosos que contribuíram com o desen-
volvimento do tema da Ética.

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Figura 1.2: Autores com contribuições no campo da Ética.

Aristóteles
384 a.C – 322 a.C

Karl Marx David Hume


1818 - 1883 1711 - 1776

Sócrates
Platão
469 a.C – 399 a.C
428 a.C – 347 a.C

Martin Heidegger Hans-Georg Gadamer


1889 - 1976 Ética 1900 - 2002

Hugo Grotius Jürgen Habermas


1583 - 1645 1929 – Ainda vivo

René Descartes Immanuel Kant


1596 - 1650 1724 - 1804

Hannah Arendt
1906 - 1975

Fonte: Elaborada pelo autor (2018).

Na figura anterior, apresentamos alguns importantes filósofos cujas contribuições para a ciência e
para o desenvolvimento do tema são reconhecidas em todo o mundo. Evidentemente que por absoluta
falta de espaço tivemos que deixar tantas outras estrelas desse mundo que caberiam perfeitamente
na figura.
A complexidade da sociedade aumenta quanto mais seu desenvolvimento se acentua. Sobretudo a
partir da Segunda Guerra Mundial, a sociedade começou a clamar mais por paz e justiça social, deman-
dando também um novo modelo de desenvolvimento e de novos padrões de relacionamento entre as
pessoas, empresas e países, passando a ter novas preocupações como, por exemplo, a ecologia e a
necessidade de atender às minorias. Sendo assim, com um entendimento cada vez maior de que a
sociedade é plural, a Ética é novamente chamada para que esse universo seja melhor compreendido.
Para Sá (2010, p. 4), a Ética como campo da ciência tem como objeto de análise a conduta humana,
“analisando os meios que devem ser empregados para que a referida conduta se reverta sempre em
favor do homem”. Nesse sentido, o autor assume que a análise dos estudiosos sobre a Ética foca
nas “formas ideais da ação humana” (SÁ, 2010). Além disso, adiciona que ainda são objetos de aná-
lise modelos de conduta conveniente (SÁ, 2010), isto é, a correlação direta entre o homem e o seu
ambiente de vida.

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Nesse último aspecto, você não deve pensar apenas nas formas de relação entre os homens e os
recursos naturais e ambientais, mas apenas no próprio homem em suas relações no âmbito familiar,
no trabalho, na vida social, enfim, em qualquer espaço da sociedade.
A Figura 1.3 apresenta o ambiente da ação e conduta humana e onde ocorrem seus relacionamentos.

Figura 1.3: Ambiente da ação humana

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

Saiba que mesmo os pensadores modernos que se debruçam sobre a Ética como campo de estudos
partem dos aspectos apontados pelos autores clássicos para tecer suas análises.

1.3 Tipologia e Conduta Ética


A Ética nunca sai de moda; o que ocorre é que em alguns períodos a humanidade parece esquecê-la ou
ignorá-la, logo, em alguns momentos, aparentemente há a necessidade de redescobri-la. Essa neces-
sidade deriva das barbáries que a espécie humana é capaz de cometer, gerando grandes incertezas
e contradições sociais, o que faz com que a virtude moral da sociedade se manifeste para retomar o
curso da história, equilibrando as relações e mantendo níveis de convivência minimamente aceitáveis.
Passos (2007, p. 21) considera que as situações de contradições sociais não ocorrem ao acaso, elas
tomam maiores proporções quando a “[...] sociedade passa por graves crises de valores, identificada
pelo senso comum como falta de decoro, de respeito pelos outros e de limites”.
Existem situações inerentemente inaceitáveis, como a omissão em relação às pessoas em condição
de vulnerabilidade social, a fome e as guerras, situações essas comumente identificadas como injus-
tiça social. Tais aspectos comovem, emocionam e fazem a sociedade se movimentar em busca da
resolução ou mitigação desses tipos de problemas.
O levante da sociedade ocorre, geralmente, pela explícita falta de condições mínimas para a sobrevi-
vência dos atingidos pelas injustiças sociais. Nesse momento, mais do que coletivamente, é a união

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dos indivíduos que faz movimentar a sociedade. A Ética individual e a Ética coletiva são influenciadas
pela injustiça social.
Passos (2007, p. 23) afirma que uma brusca ruptura nas normas sociais influencia o modo de agir das
pessoas, que, “[...] a princípio podem parecer absolutamente individuais, por consistir em uma ação
praticada por um sujeito a partir de um posicionamento no mundo e de uma decisão por ele tomada”.
O fato, considera a autora, é que a sociedade possui níveis de tolerância para atos de injustiça social,
no entanto, quando ameaçam a sobrevivência da espécie ou as condições mínimas de convivência,
a sociedade resgata a Moral e a Ética como formas de redirecionar as ações e exigir a resolução dos
problemas.
Quando falamos no resgate da Ética e da Moral, estamos falando claramente que a sociedade evolui,
que o conhecimento humano é cumulativo e complementar, logo a sociedade se desenvolve de acordo
com padrões aceitáveis e, portanto, mesmo individualmente ou coletivamente, a exclusão social e o
progresso científico e tecnológico possuem níveis de aceitação por parte da sociedade.
Dessa forma, podemos falar em liberdade individual e Ética individual sob uma configuração social
estabelecida, posto que a Ética coletiva, impregnada pelos valores morais, é superior ao desejo indivi-
dual que, de alguma forma, manifesta algum tipo de injustiça social.
Pelo apresentado, fica fácil compreender que A Ética individual é severamente limitada pela Ética cole-
tiva. No dizer de Passos (2007, p. 25):
Os valores morais dominantes não são decididos voluntariamente por sujeitos individuais; eles
emergem da própria experiência do grupo humano [...] Ao serem socializados, vão-se tornando
consenso entre os membros da sociedade.

Dessa forma, podemos comparar a Ética e a Moral ao comportamento das pessoas em relação ao
Código Penal, em que a ação individual está de acordo com a lei ou fora dela.
A Figura 1.4 apresenta a representação de um Código de Ética no meio organizacional a ser seguido
pelos indivíduos que ali atuam profissionalmente.

Figura 1.4: Código de Ética.

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

A aplicação da Ética por meio da ação humana em qualquer ambiente pressupõe a liberdade que, de
forma geral, pode ser compreendida como o melhor remédio contra a coação e o poder arbitrário.
O fato é que atualmente estamos vivenciando um período em que o individualismo parece assumir a
configuração de uma tendência para o comportamento humano. Sá (2010) afirma que a conduta estri-

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tamente individualista é pouco recomendável às pessoas, pois os interesses pessoais não podem,
em hipótese alguma, subjugar os coletivos, sob pena de as pessoas assumirem seus pontos de vista
como corretos, ou seja, como éticos.
Em um ambiente organizacional, a Ética é fundamental para a sustentabilidade do negócio, pois as
empresas dependem das equipes de trabalho, e mesmo havendo níveis de competição entre os mem-
bros de qualquer equipe, as empresas devem buscar o equilíbrio harmônico entre seus colaboradores.
Para isso, institui códigos de conduta para os relacionamentos profissionais e institucionais.
Todo código de Ética, seja no interior de uma empresa ou de uma categoria, como advogados, médicos
e enfermeiros, entre outros, objetiva aculturar as pessoas para a consciência de grupo. Atualmente, os
gestores organizacionais sabem que pessoas motivadas e focadas no negócio produzem com muita
efetividade, sendo são criativas, proativas e inovadoras.
A Figura 1.5 representa a capacidade de uma equipe de trabalho coesa, motivada, focada no negócio
organizacional.

Figura 1.5: Equipe de trabalho.

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

As equipes em que a consciência de grupo predomina facilmente resolvem problemas de convivência


e diferenças de visão de mundo.
Para manter os valores organizacionais sempre presentes nas relações no seu ambiente, as empresas
precisam empregar muitos esforços, sobretudo quando o contingente de pessoas é expressivo. Mas
não devemos pensar que é fácil manter as pessoas no centro dos valores organizacionais quando a
empresa possui poucos colaboradores.
Bennett (2014, p. 11) argumenta que “A maioria das pessoas tem uma noção geral do que é certo ou
errado, em especial no ambiente de trabalho”. Assim, são as empresas que devem criar condições
para que seus valores e suas práticas éticas se mantenham ativos entre seus colaboradores.
As empresas precisam monitorar a conduta e os relacionamentos internos e externos de seus funcio-
nários, afinal de contas sua imagem está presente no comportamento desses.

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Bennett (2014) considera que as empresas precisam observar alguns aspectos na conduta de seus
colaboradores, para se certificar da presença de seus valores no comportamento de quem as repre-
senta nas relações com o mercado:
• Conflito de interesses: O grande problema existente quando uma pessoa prioriza seus interes-
ses individuais, relegando ao segundo plano os interesses ou as necessidades do grupo;
• Honestidade e Justiça: Esse aspecto tem relação com honestidade e transparência nos rela-
cionamentos entre as pessoas e atos institucionais, que devem priorizar o justo;
• Comunicação: Esse aspecto trata da capacidade de informar corretamente os atores que man-
têm algum tipo de relacionamento com a empresa. Uma marca pode ser reconhecida pela
honestidade que transmite ao mercado;
• Relacionamento Organizacional: Cada colaborador possui grande responsabilidade em seus
relacionamentos internos e externos, pois é portador de uma marca. Empresas que praticam
atos antiéticos, como o plágio, enfrentam dificuldades em todos os níveis do mercado.
A Ética e a Moral podem ser facilmente identificadas nos códigos de conduta de classes. Esses docu-
mentos reúnem valores e orientações práticas para as ações profissionais. Apesar de toda conduta
profissional se fundamentar na Ética e Moral social, devemos destacar que existem peculiaridades
nas profissões que requerem atenção dos conselhos profissionais.
A Ética pode ser dividida em campos de análise para melhor entendimento do comportamento humano
no seu âmbito profissional. Dessa forma, temos a Ética do trabalho, a Ética ecológica, a Ética familiar,
a Ética na educação, a Ética nas classes profissionais etc. Se o objeto de análise é a conduta humana,
então onde há ação humana se faz necessário analisar os parâmetros de relacionamentos éticos.

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Referências

BENNETT, C. Ética profissional. São Paulo: Cengage, 2014.

CORTINA, A.; MARTINEZ, E. Ética. São Paulo: Loyola, 2013.

CUNHA, S. S. da. Ética. São Paulo: Saraiva, 2012.

PASSOS, E. Ética nas organizações. São Paulo: Atlas, 2007.

SÁ, A. L. de. Ética profissional. São Paulo: Atlas, 2010.

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