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PRIMEIRA REGIÃO DE POLÍCIA MILITAR

CENTRO DE APOIO ADMINISTRATIVO


ASSESSORIA JURÍDICA

Parecer Jurídico nº 15/2023

Assunto: análise de REDS do mês de fevereiro de 2023,


para alteração, conforme solicitação encaminhada via PA
(protocolo nº 202302065182701-2302).

Foi solicitado a esta Assessoria Jurídica consulta sobre a auditagem pelo


CINDS acerca do REDS 2023-007131745-001, que poderia ter sido registrado
com natureza diversa dos fatos narrados no histórico do registro do boletim.

ANÁLISE DO REDS 2023-007131745-001

Consta no histórico da ocorrência que:


“Comparece a esta especializada o sr. Thiago Vinicius Andrade
de Carvalho, onde representa em razão de: que em 06/02/23, através do
facebook, começou um dialogo com uma pessoa que se identificou por
Jennifer, sendo o dialogo direcionado ao aplicativo whatsapp. Que o
dialogo direcionou para um conteúdo adulto com troca de fotos intimas.
Ocorre que na data desta representação o representante recebeu
contatos (ligação e mensagem) 55-9210 5745, dizendo ser delegado de
policia Guedes, e que o representante seria "indiciado e preso" por crime
de pedofilia, o que poderia ser evitado mediante um pagamento de
R1.800,00. Sem maiores informações, e se sentindo vitima de ação
criminal solicita providencias.”

No campo breve motivo/histórico da ocorrência ter algum erro de área,


data pretérita ou não se configurar como crime violento conta:

“pelo fato que conforme narrado no histórico do registro , o qual


resumo em breves palavras que "o autor da ação delitiva solicita o
pagamento da vitima da quantia de R$ 1.800,00 reais para o não
indiciamento/prisão pelo crime de pedofilia, devido a troca de
mensagens e fotos entre a vitima uma terceira pessoa, pagamento este
que não foi efetuado", sendo muito claro que o crime ocorrido nesse fato
foi o de estelionato tentado, tendo a ocorrência sido classificada de forma
errônea com a natureza de extorsão tentado.”
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A classificação preenchida pelo agente relator da ocorrência foi de


natureza de crime de extorsão tentada.

Nos termos do artigo 158 do Código Penal, o crime de extorsão consiste


em constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de
obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que
se faça ou deixar de fazer alguma coisa.

Portanto, na extorsão, o autor necessita da colaboração da vítima para


atingir seu objetivo; ela é forçada a colaborar e sem sua participação o agente
não consegue atingir seu objetivo. A colaboração para a prática do crime é obtida
mediante violência ou grave ameaça.

Configura-se tentativa de extorsão quando a vítima não assume qualquer


comportamento voltado à atender a exigência empreendida pelo agente
mediante grave ameaça, com vista a obtenção de valor em espécie.

O estelionato é caracterizado pela astúcia, pela esperteza de quem


procura despojar a vítima do seu patrimônio fazendo com que ela o
entregue espontaneamente, evitando, assim, a necessidade de subtração. Em
suma, o agente busca obter a vantagem de maneira sutil, fazendo com que a
vítima se envolva completamente na trama fraudulenta.

No estelionato sempre existirá uma fraude, sendo que esta visa a fazer
com que a vítima incida em erro e proporcione espontaneamente a vantagem ao
criminoso, ou seja, ela é empregada com o propósito de envolver a vítima em
todos os passos do arranjo criminoso, fazendo com que ela, não obstante em
falsa percepção da realidade, proporcione conscientemente a vantagem ao
agente.

Diferenciam-se os crimes de extorsão e estelionato, entre outros


aspectos, porque no estelionato a vítima quer entregar o objeto, pois foi induzida
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ou mantida em erro pelo agente mediante o emprego de fraude; enquanto na


extorsão a vítima despoja-se de seu patrimônio contra a sua vontade, fazendo-
o por ter sofrido violência ou grave ameaça.

Observa-se que no histórico da ocorrência foi relatado grave ameaça


contra a vítima para que esta entregasse determinada quantia indevida ao autor
da ação delituosa, sendo relatado, em tese, uma tentativa de extorsão, uma vez
que foi narrado que a vítima foi ameaçada por uma pessoa que se identificou
como delegado de polícia e que este iria indiciá-la e prendê-la pelo crime de
pedofilia caso não pagasse ao autor R$1800,00.

A classificação que melhor se adequa às circunstâncias narradas no


boletim de ocorrência, se refere, em tese, ao tipo penal descrito no artigo 158 do
Código Penal.

CONCLUSÃO

Por todo exposto esta Assessoria entente por manter o REDS 2023-
007131745-001 como crime de extorsão tentado.

É o parecer, S.M.J.

Belo Horizonte, 27 de março de 2023

Pâmala da Silva Miranda


Assessora Jurídica
OAB/MG190.875
PM 1827898

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