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1.

Bandura

Modelação e aprendizagem vicária


É imprescindível argumentar que o espaço que circunscreve a vida cotidiana reverbera aprendizados e induz
comportamentos engrenados a um sistema cultural.

A língua, a moral, os costumes, os valores, as configurações familiares e as práticas educacionais operam


como heranças geracionais que designam ao sujeito maneiras de interagir com a realidade. Conceitos de
modelação social, modelação simbólica e aprendizagem observacional.

Para tal, deve-se iniciar esclarecendo a proposta sociocognitiva de que o coletivo não é antagônico ao
individual. Na perspectiva da TSC, o social é o resultado das interações entre semelhantes (BANDURA,
2002). Assim, a influência sociocultural sobre o comportamento pode ser atribuída às trocas interpessoais
e/ou ao contato direto com produções simbólicas humanas.

Particularmente, a observação de padrões comportamentais publicamente sancionados chama a atenção


como uma das formas mais comuns de socialização ao redor do mundo inteiro. Desse modo, aponta-se a
modelação enquanto um processo de aquisição de novas competências cognitivos-comportamentais a
partir da observação de modelos programados ou incidentais (BANDURA; AZZI; POLYDORO, 2008).

Na modelação social, um sujeito observador assimila procedimentos manifestados por um modelo humano.
Já na modelação simbólica, o observador entra em contato com produções culturais – sejam essas
orientações verbais, produções cinematográficas, vídeos ou imagens – e utiliza-as de parâmetro para guiar
suas condutas.

Compreende-se que a contemplação prolongada de um modelo pode: (1) resultar na aquisição de novos
comportamentos; (2) inibir ou instigar a exibição de comportamentos adormecidos; e (3) suscitar o
desempenho de condutas similares, porém diferentes, às do modelo.

Sabe-se, ainda, que a modelação permite a aquisição de valores, crenças e habilidades cognitivas. Além
disso, não demanda respostas imediatas ou reforçamento, sendo singular à espécie humana (BANDURA;
AZZI; POLYDORO, 2008).

Nesse sentido, a modelação, ou aprendizagem vicária, é uma potencialidade humana passível de ser
decomposta, visando a análise meticulosa de suas partes irredutíveis. Seus componentes fundamentais são a
atenção, a retenção, a reprodução e a motivação – tais subprocessos se interrelacionam, permitindo
traduzir dados sensoriais em novos aprendizados (BANDURA, 1989).
As diferentes capacidades atencionais humanas determinam aquilo que será observado, assim como as
informações a serem extraídas.

Em seguida, por meio da retenção, essas informações são condensadas em regras e conceitos para melhor
armazenamento mnêmico.

Durante a reprodução, as normas simbólicas memorizadas são evocadas e transformadas em estratégias


comportamentais ou cognitivas. As condutas performadas são, então, comparadas e ajustadas até se
tornarem compatíveis com a representação mental do fenômeno previamente contemplado.

O último subprocesso envolvido na aprendizagem observacional é a motivação. Entende-se que a Teoria


Social Cognitiva (TSC) distingue a aquisição e a performance, pois nem tudo que é aprendido vicariamente
é colocado em prática. Dessa forma, o valor social atribuído ao comportamento modelado, as
consequências reforçadoras experimentadas pelo modelo e a adequação da conduta adquirida às crenças e
valores do observador são fatores que motivam a ocorrência de performance (BANDURA, 1989).

Deve-se, também, elencar a relação do modelo com o observador como um facilitador da imitação, visto que
indivíduos dependentes do modelo tendem a buscar aprovação por meio de comportamentos imitativos –
esse é um dos motivos que explica por que crianças estão tão suscetíveis a copiarem comportamentos
exibidos pelos pais.

Adiante, é necessário ressaltar que indivíduos não são capazes de imitar condutas que requeiram habilidades
físicas e/ou mentais altamente especializadas, apenas por meio da observação. Consumir avidamente
conteúdos relacionados a futebol e acompanhar todas as partidas de seu time favorito não capacita ninguém
a se tornar um artilheiro.

O conhecimento procedural cognitivo só é passível de reprodução imediata caso o sujeito já possua a aptidão
para tal. Assim, durante o desenvolvimento da proficiência cognitivo-comportamental especializada, o papel
das imagens mentais adquiridas é operar como padrão para a adequação paliativa da conduta em
treinamento.

Indivíduos não interagem com o ambiente de forma passiva. Depreende-se, então, que o processo de
modelação é influenciado por determinantes intrapessoais e, portanto, tende a produzir reinterpretações da
conduta observada ao invés de mimetismos perfeitos.
O ser humano não possui a capacidade de atentar a todos os detalhes, memorizar todos os passos ou
reproduzir tudo que observa. Por meio da modelação, o sujeito extrai os princípios subjacentes à execução
do comportamento, podendo, assim, utilizá-los para manifestar condutas novas, criativas e únicas
(BANDURA, 1999).

Na modelação de comportamentos agressivos, a observação contínua de comportamentos cruéis pode levar


os indivíduos a: (1) aprenderem uma conduta agressiva; (2) desinibirem suas restrições acerca de
comportamentos violentos; (3) tornarem-se dessensibilizados à violência; e (4) adquirirem uma imagem
desesperançosa da realidade (BANDURA; AZZI; POLYDORO, 2008).

O núcleo familiar e os meios de comunicação em massa, especialmente a televisão, são os principais


responsáveis pela apresentação e pelo reforço positivo de modelos violentos. Sabe-se que a modelação
simbólica possui um papel protagonista na disseminação de condutas agressivas. No mundo globalizado, as
novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC) possibilitam a transmissão de uma quantia ilimitada
de cenários violentos para um número gigantesco de indivíduos.
Teoria sociocognitiva

Nesse sentido, na perspectiva da TSC, o dualismo corpo-mente é uma falácia, sendo a consciência um
produto da atividade cerebral superior de segunda ordem. Superior, pois não pode ser reduzida a nenhuma
estrutura singular do sistema nervoso. De segunda ordem, pois os indivíduos não controlam seus
mecanismos neuronais diretamente. Exercem domínio sobre eles ao se engajarem em atividades
cognitivas/comportamentais (BANDURA, 2008).

Deve-se compreender, então, que, analogamente à transformação de átomos de hidrogênio e oxigênio em


água, as estruturas neurológicas humanas, ao se interconectarem, formam algo maior do que a soma de suas
partes, possibilitando, assim, o exercer da agência consciente. Do ponto de vista sociocognitivo, ser um
agente significa “influenciar intencionalmente o seu funcionamento e o curso dos eventos ambientais”
(BANDURA; AZZI, 2017, p.131).

Nessa direção, destacam-se quatro propriedades básicas que caracterizam o processo agêntico humano:
intencionalidade, pensamento antecipatório, autorreação e autorreflexão.

Por meio da intencionalidade, os indivíduos conjuram objetivos e, visando realizá-los, desenvolvem


estratégias e planos de ação.

Ao lançar mão do pensamento antecipatório, trazem o futuro para o presente, mediante a representação
cognitiva, antecipando os resultados de suas ações e motivando seus esforços. Depreende-se que, ao guiarem
suas condutas via metas e visualizações mentais, as pessoas propiciam um senso de direção e coerência
interna às suas vidas.

Outra propriedade agêntica é a autorreação. Agentes não apenas planejam e preveem suas ações, mas
também regulam a execução de seus planos, modificando estratégias, quando necessário, para assegurar os
melhores resultados.

Além disso, agentes também praticam a autorreflexão. Ponderam a respeito de sua eficácia pessoal, seus
pensamentos, seus valores e os significados de seus comportamentos, consolidando, assim, uma identidade
própria – o self.

Faz-se indispensável separar a agência humana em individual, coletiva e delegada. No exercer da agência
individual, o sujeito utiliza suas competências pessoais e vontades internas para guiar a produção de efeitos
no mundo. Não obstante, dado o fato de que seres humanos se organizam socialmente, é notável como a
conduta autônoma é uma forma ineficaz de operar mudanças em certos contextos.

A agência coletiva surge, então, como um compromisso compartilhado pelo qual é possível coordenar ações
grupais em direção ao bem comum (BANDURA, 1989).

Ainda, é possível exercer uma agência mediada pelo outro. Isso ocorre quando o indivíduo delega a
responsabilidade de assegurar resultados desejados àqueles que possuem os recursos necessários. A agência
delegada é comumente praticada em países cujo sistema político funciona por meio da atribuição de
encargos governamentais a candidatos, democraticamente eleitos, que atuam a partir da vontade do povo.

É necessário explicitar a não compatibilidade da noção de agência humana com uma liberdade plena. A
agência humana não é absoluta. Exercer influência deliberada sobre seu funcionamento não significa possuir
controle total de si.

Para a TSC, as condutas humanas são determinadas, sendo a autoinfluência um fator de peso nesse processo
de determinação. Sabe-se que o cultivo e a prática das capacidades agênticas levam a uma expansão das
possibilidades de ação e à presença mais frequente de crenças capacitantes. Afinal, “O desenvolvimento de
estratégias para o exercício do controle sobre idealizações perturbadoras e autodebilitantes é psiquicamente
libertador” (BANDURA; AZZI, 2017, p.148).

Entende-se, portanto, que algumas pessoas possuem capacidades agênticas mais desenvolvidas do que outras
e, assim, exercem maior domínio sobre seus comportamentos e cognições. Não obstante, esses indivíduos
não comandam integralmente suas reações emocionais, o estado de seus corpos, o ambiente e, muito menos,
outros agentes.

Além do mais, não deixam de ser influenciados pelas redes socioculturais em que estão inseridos. Nesse
sentido, a Teoria Social Cognitiva (TSC) considera que o homem está conectado à realidade social ao seu
redor, porém, ao mesmo tempo, não é refém dela. As pessoas são tanto produtos quanto produtoras de sua
história. Postula-se, então, a conduta humana como resultado de um “jogo recíproco entre determinantes
intrapessoais, comportamentais e ambientais” (BANDURA; AZZI, 2017, p.142). No processo de
determinação recíproca triádica – esquematicamente representado na figura abaixo –, a relação entre os
determinantes é bidirecional, ou seja, as diferentes influências triádicas se afetam mutuamente, dando
origem à pluralidade humana.

Contudo, não há, necessariamente, simetria entre as forças exercidas pelos determinantes. A depender da
situação e dos recursos internos do sujeito, os determinantes intrapessoais podem ser mais influentes do que
os ambientais ou vice-versa. Da mesma forma, em ocasiões variadas, os determinantes comportamentais são
capazes de ofuscar os demais.
No intuito de compreender melhor como surge a conduta humana, não se deve analisar os determinantes
individualmente, mas sim destrinchar as relações que estabelecem entre si. Dessa forma, ao examinar mais a
fundo os vínculos bidirecionais, depreende-se que, na relação entre determinantes intrapessoais e
comportamentais, as tendências biológicas, os valores, as crenças e os estados afetivos irão influenciar a
maneira de se comportar do indivíduo. Em contrapartida, os efeitos e as consequências do comportamento
irão reverberar afetivamente e cognitivamente no sujeito.

Na relação entre os determinantes comportamentais e ambientais, percebe-se que a ação humana


indubitavelmente modifica o ambiente. Esse último, por sua vez, faz demandas próprias, convocando as
condutas humanas a variarem junto aos contextos em que são executadas.

Já por meio da relação entre influências intrapessoais e ambientais, os diferentes modos de persuasão social
moldam e/ou alteram os atributos identitários. Em compensação, as pessoas provocam modificações no
ambiente sem precisar falar ou agir, devido a características individuais como etnia, gênero, raça,
temperamento e status (BANDURA, 1989).
2. Cognitivismo

De acordo com o autor “por conteúdos factuais se entende o conhecimento de fatos, acontecimentos,
situações, dados e fenômenos concretos e singulares: a idade de uma pessoa a conquista de um território, a
localização ou altura de uma montanha, os nomes, os códigos, os axiomas, um fato determinado num
determinado momento, etc.”
Os conteúdos conceituais se referem ao conjunto de fatos, objetos ou símbolos que têm características
comuns, e os princípios se referem às mudanças que produzem num fato, objeto ou situação em relação a
outros fatos, objetos ou situações que normalmente descrevem relações de causa efeito ou de correlação.
Referem-se à construção ativa de capacidades intelectuais para operar símbolos, imagens, ideias e
representações que permitam organizar as realidades.
O conteúdo procedimental é um conjunto de ações ordenadas e com um fim, quer dizer, dirigidas para a
realização de um objetivo. São conteúdos procedimentais: ler, desenhar, observar, calcular, classificar,
traduzir, recortar, saltar, inferir, espetar, etc.” Referem-se ao fazer com que os alunos construam
instrumentos para analisar, por si mesmos, os resultados que obtém e os processos que colocam em ação
para atingir as metas que se propõem e os conteúdos.
Os conteúdos atitudinais supõe um conhecimento que podem ser agrupados em valores atitudes e normas.
Configuram-se por componentes cognitivos, afetivos e condutuais. Referem-se à formação de atitudes e
valores em relação à informação recebida, visando a intervenção do aluno em sua realidade.

Unidade de análise e didática

Antoni Zabala elege como unidade de análise básica a atividade ou tarefa – exposição, debate, leitura,


pesquisa bibliográfica, observação, exercícios, estudo, etc. – pois ela possui, em seu conjunto, todas as
variáveis que incidem nos processos de ensino/aprendizagem. A outra unidade eleita são as sequências
de atividades ou sequências didáticas: “conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a
realização de certos objetivos educacionais, que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelos
professores como pelos alunos” (p. 18).

Discernir o que pode ser objeto de uma unidade didática, como conteúdo prioritário do que exige um
trabalho mais continuado pode nos conduzir a estabelecer propostas mais fundamentadas, suscetíveis
de ajudar mais os alunos e a nós mesmos. As diferentes propostas didáticas analisadas têm diferentes
potencialidades quanto à organização do ensino. Portanto, “mais do que nos movermos pelo apoio
acrítico a um outro modo de organizar o ensino, devemos dispor de critérios que nos permitam considerar o
que é mais conveniente num dado momento para determinados objetivos a partir da convicção de que nem
tudo tem o mesmo valor, nem vale para satisfazer as mesmas finalidades. Utilizar esses critérios para
analisar nossa prática e, se convém, para reorientá-la” (Zabala determina as variáveis que utilizará para a
análise da prática educativa, quais sejam: as sequências de atividades de ensino/aprendizagem ou sequências
didáticas; o papel do professor e dos alunos; a organização social da aula; a maneira de organizar os
conteúdos; a existência, as características e uso dos materiais curriculares e outros recursos didáticos; o
sentido e o papel da avaliação. Contudo, apesar das diferenças, o objetivo básico desses métodos consiste
em conhecer a realidade e saber se desenvolver nela.

Concluindo, o autor afirma que inclinar-se por um enfoque globalizador como instrumento de ajuda para
a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos não supõe a rejeição dasdisciplinas e dos conteúdos
escolares. Pelo contrário, implica atribuir-lhes seu verdadeiro e fundamental lugar no ensino, que vai
além dos limites estreitos do conhecimento enciclopédico, para alcançar sua característica de um
instrumento de análise, compreensão e participação social. As relações interativas são de caráter
diretivo: professor → aluno; os tipos de agrupamentos de conteúdo se circunscrevem às atividades de
grande grupo. A distribuição do espaço reduz-se ao convencional. Quanto ao tempo, estabelece-se um
módulo fixo para cada área com uma duração de uma hora. O caráter propedêutico do ensino faz com que
a organização dos conteúdos respeite unicamente a lógica das matérias. O livro didático é o melhor
meio para resumir os conhecimentos e, finalmente, a avaliação tem um caráter sancionador centrado
exclusivamente nos resultados

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