Você está na página 1de 132

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS


FACULDADE DE FARMÁCIA
PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
E GESTÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

ESTERLITA BOUÇAS

IMPLICAÇÕES DO PROCESSO DE ACREDITAÇÃO EM SERVIÇOS DE FARMÁCIA


DE HOSPITAIS PRIVADOS SOB A PERSPECTIVA DA QUALIDADE DA
ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA: UM ESTUDO DE CASO.

Niterói
2014
2

ESTERLITA BOUÇAS

IMPLICAÇÕES DO PROCESSO DE ACREDITAÇÃO EM SERVIÇOS DE FARMÁCIA DE HOSPITAIS


PRIVADOS SOB A PERSPECTIVA DA QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA: UM
ESTUDO DE CASO.

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-


graduação em Administração e Gestão da
Assistência Farmacêutica da Universidade
Federal Fluminense como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre. Área de
concentração: Gestão de Serviços Farmacêuticos.

Orientadora: Profa. Dra. DÉBORA OMENA FUTURO


Coorientadora: Profa. Dra. SELMA RODRIGUES CASTILHO

Niterói
2014
3
4

Dedico este trabalho a todos os colegas farmacêuticos, que fazem do seu dia-a-dia, um novo
começo para esta profissão.
5

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela graça da vida e fé que me conduz todos os dias.

Aos meus pais, pela educação primorosa, que me deu as bases morais fundamentais para
me tornar o que sou hoje. Sem seu amor, proteção e incentivo eu não teria chegado a lugar
algum.

Ao meu marido, Leonardo Dias Pinto, pelo carinho, paciência e compreensão em tantas
horas de ausência, ansiedade e nervosismo, sempre tentando me animar com suas piadas e
frases de efeito.

À Prof.a Dr.a Débora Omena Futuro, minha orientadora, por me ensinar a manter a medida
certa do equilíbrio nos momentos mais difíceis, sempre com muito carinho. Sua orientação
me conduziu a um novo caminho profissional, que certamente será muito promissor.

À Prof.a Dr.a Selma Rodrigues de Castilho, minha coorientadora, por seu estímulo, atenção e
dedicação, que tanto contribuíram para minha formação.

Aos profissionais que prontamente aceitaram participar do estudo, abrindo mão de


preciosas horas de trabalho.

A José Carlos Magalhães e Charles Souleyman Al Odeh, pela oportunidade profissional que
me possibilitou a condução desta pesquisa.
6

“O papel do Farmacêutico no mundo é tão nobre quão vital. O Farmacêutico representa o


órgão de ligação entre a medicina e a humanidade sofredora. É o atento guardião do arsenal
de armas com que o Médico dá combate às doenças. É quem atende às requisições a
qualquer hora do dia ou da noite. O lema do Farmacêutico é o mesmo do soldado: servir.
Um serve à pátria; outro serve à humanidade, sem nenhuma discriminação de cor ou raça. O
Farmacêutico é um verdadeiro cidadão do mundo. Porque por maiores que sejam a vaidade
e o orgulho dos homens, a doença os abate - e é então que o Farmacêutico os vê. O orgulho
humano pode enganar todas as criaturas: não engana ao Farmacêutico. O Farmacêutico sorri
filosoficamente no fundo do seu laboratório, ao aviar uma receita, porque diante das drogas
que manipula não há distinção nenhuma entre o fígado de um Rothschild e o do pobre negro
da roça que vem comprar 50 centavos de maná e sene.”

Monteiro Lobato
7

RESUMO

A discussão a respeito da avaliação da qualidade em saúde tornou-se um fenômeno


universal, cuja essência é garantir os mais elevados padrões assistenciais, a fim de obter
bons resultados em um mercado cada vez mais competitivo. Apesar dos avanços no setor,
falhas continuam acontecendo, especialmente em relação à má utilização dos
medicamentos, cujo gerenciamento inadequado constitui um autêntico problema de saúde
pública. Este estudo analisa o impacto do processo de acreditação na assistência
farmacêutica hospitalar, sob a perspectiva de farmacêuticos e seus clientes internos. Para
isso, foi realizado um estudo de casos múltiplos em cinco hospitais privados do Estado do Rio
de Janeiro, pertencentes a uma grande operadora de saúde e acreditados pela ONA até Abril
de 2012. Partindo-se da aplicação de dois instrumentos investigativos, caracterizaram-se as
unidades hospitalares e seus serviços de farmácia, buscando identificar as mudanças
promovidas pela acreditação nos eixos estrutura, processo e resultados. Paralelamente,
aplicou-se a técnica de grupo focal para compreender as implicações do processo de
acreditação na assistência farmacêutica hospitalar, a partir das percepções dos sujeitos que
vivenciaram o fenômeno. Constatou-se que a acreditação resultou em investimentos de
infraestrutura, recursos tecnológicos e humanos. Houve incremento na execução de
atividades desejáveis para um serviço de farmácia hospitalar, com destaque para a farmácia
clínica, que resultaram em adequação de processos e melhora geral de desempenho. A
diferença observada se mostrou significativa (p=0,0088) para um nível de confiança de 95%.
Observou-se que os serviços farmacêuticos hospitalares estão em expansão na amostra
avaliada, criando um novo modelo de prática profissional, resultante de mudanças
estruturais e processuais, que contribuem para uma transformação lenta, porém contínua
da realidade da farmácia hospitalar. Na perspectiva dos clientes, houve discreta melhora na
eficiência, qualidade e a segurança do serviço prestado. No entanto, a qualidade do
atendimento global oferecido ao paciente permanece aquém do desejado, o que contribui
para uma visão frágil dos processos implantados em decorrência da acreditação. Apesar do
atendimento parcial das expectativas dos clientes, o impacto geral no desempenho da
farmácia hospitalar foi positivo. Nesse contexto, as diretrizes da acreditação em serviços de
saúde podem apontar o caminho para o aprimoramento da farmácia hospitalar, ao exigir o
cumprimento de padrões necessários a uma assistência farmacêutica de qualidade, pautada
na segurança e otimização dos resultados clínicos, econômicos e sociais.

Palavras-chave: Avaliação da qualidade. Acreditação hospitalar. Assistência farmacêutica.


Farmácia hospitalar.
8

ABSTRACT

The discussion of quality assessment in health care has become a universal phenomenon,
whose essence is to ensure the highest standards of patient care in order to obtain good
results in an increasingly competitive market. Despite the sector's development, failures are
still happening. Among the most serious events are medication errors, as a result of
inappropriate drug management, becoming a real public health problem. This study
analyzes the impact of accreditation in hospital pharmacies from the perspective of
pharmacists and their stakeholders. For this, a case study was conducted in five private
hospitals in the city of Rio de Janeiro, belonging to a large health carrier and accredited by
ONA until April 2012. Two questionnaires were applied to the personal to characterize the
hospitals and their pharmacy services trying to identify the changes promoted by the
Accreditation in structure, processes and outcomes. In parallel, focus group was conducted
to understand the implications of the accreditation in the hospital pharmacies from the
perceptions of the subjects who experienced the phenomenon. The questionnaires
identified changes resulting from the pharmacy’s accreditation, such as investments on
structure, technology and personnel. It also provided an increase in desirable activities for
hospital pharmacy, with emphasis on clinical pharmacy, which resulted in processes'
adaptations and overall performance improvement. The difference was significant (p =
0.0088) for a confidence level of 95%. It was observed that the hospital pharmacy’s services
are expanding in the sample studied. This creates a new model of professional practice that
contributes to a slow but continuous transformation in the hospital pharmacy's reality. From
the perspective of stakeholders there was a slight improvement in efficiency, quality and
safety of services provided by hospital pharmacy. However, the overall quality of care
provided to the patient remains below the desired level which contributes to a weak view of
processes deployed as a result of accreditation. Despite the partial fulfillment of customer
expectations, the overall performance was positive. In this context it is concluded that the
accreditation's guidelines may point the way for the development of hospital pharmacies,
since they require compliance with standards for the quality of pharmaceutical care, based
on security and optimization of clinical, economic and social outcomes.

Key Words: Quality evaluation. Hospital accreditation. Pharmaceutical Assistance. Hospital


pharmacy.
9

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 15
1.1 JUSTIFICATIVA 17
1.2 OBJETIVOS 18
1.2.1 OBJETIVOS GERAIS 18
1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 18

2 REFERENCIAL TEÓRICO 20
2.1 O HOSPITAL: CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES 20
2.2 QUALIDADE EM SAÚDE 23
2.2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS 24
2.2.2 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS DE SAÚDE 28
2.2.2.1 Acreditação hospitalar 33
2.2.3 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA HOSPITALAR NO CONTEXTO DA ACREDITAÇÃO E DA 40
CULTURA DA SEGURANÇA
2.3 GRUPO FOCAL 54

3 METODOLOGIA 57
3.1 DETERMINAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO 57
3.2 SUJEITOS DA PESQUISA 57
3.3 COLETA DE DADOS 58
3.3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS HOSPITAIS E DOS SERVIÇOS DE FARMÁCIA 58
3.3.2 GRUPO FOCAL 62
3.4 VALIDAÇÃO DOS INSTRUMENTOS INVESTIGATIVOS 64
3.5 ASPECTOS ÉTICOS 66
3.6 TRATAMENTO DE DADOS 67

4 RESULTADO E DISCUSSÃO 68
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA 68
4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS HOSPITAIS 69
4.3 CARACTERIZAÇÃO DA FARMÁCIA HOSPITALAR 71
4.3.1 ORGANOGRAMA 71
4.3.2. ESTRUTURA 74
4.3.3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA FARMÁCIA HOSPITALAR 76
4.3.3.1 Gerenciamento 77
4.3.3.2 Participação em comissões institucionais 79
4.3.3.3 Logística 81
4.3.3.4 Distribuição 82
10

4.3.3.5 Fracionamento e manipulação 83


4.3.3.6 Farmácia clínica 84
4.3.3.7 Informação 87
4.3.3.8 Ensino e pesquisa 88
4.3.3.9 Inovações tecnológicas associadas à dispensação 88
4.4 PERCEPÇÃO DO IMPACTO DA ACREDITAÇÃO 90
4.4.1 ACREDITAÇÃO COMO FONTE DE MUDANÇAS NA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA 92
4.4.2 ASPECTOS FACILITADORES PARA ACREDITAÇÃO NA FH 94
4.4.3 OBSTÁCULOS PARA ACREDITAÇÃO NA FARMÁCIA HOSPITALAR 95
4.4.4 IMPACTOS DA ACREDITAÇÃO NA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA 99
4.4.5 CONTRIBUIÇÕES DA ACREDITAÇÃO PARA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA 102

5 CONCLUSÃO 106

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 110

7 APÊNDICES 119
7.1 QUESTIONÁRIO DE PESQUISA - CARACTERIZAÇÃO DO HOSPITAL 119
7.2 QUESTIONÁRIO DE PESQUISA - CARACTERIZAÇÃO DA FARMÁCIA 120
HOSPITALAR
7.3 AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA 123
7.4 TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DO PROJETO DE 124
PESQUISA
7.5 TERMO DE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 125
7.6 TERMO DE COMPROMISSO GRUPAL 126
7.7 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELO SERVIÇO DE FARMÁCIA EM 127
FUNÇÃO DA UNIDADE HOSPITALAR

7.8 IMPACTO DA ACREDITAÇÃO SOBRE O NÚMERO DE ATIVIDADES 129


DESENVOLVIDAS PELAS FARMÁCIAS HOSPITALARES

7.9 IMPACTO DA ACREDITAÇÃO NA SEGURANÇA E EFICIÊNCIA DAS 131


ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELAS FARMÁCIAS HOSPITALARES
11

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Ciclo da Assistência Farmacêutica 41

Figura 2 Evolução do foco da gestão na farmácia hospitalar 43

Gráfico1 Tipos de funções exercidas pelos profissionais atuantes nas farmácias 72


hospitalares

Gráfico 2 Tipos de atividades de gerenciamento desempenhadas pelas farmácias 78


hospitalares

Gráfico 3 Participação do farmacêutico em comissões institucionais 79

Gráfico 4 Tipos de atividades clínicas desempenhadas pelas farmácias hospitalares 85


12

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Classificação das organizações hospitalares 22

Quadro 2 Características, princípios orientadores e tipo de certificações adotado 38


pela ONA

Quadro 3 Componentes essenciais para o desenvolvimento das atividades da FH 44


brasileira

Quadro 4 Diretrizes para a FH brasileira segundo MS 47

Quadro 5 Requisitos do padrão para acreditação na FH 54

Quadro 6 Publicações empregadas como referencial teórico para elaboração dos 59


questionários de pesquisa

Quadro 7 Objetivo e abordagem de questionário de pesquisa para caracterização 60


da unidade hospitalar

Quadro 8 Objetivo e abordagem das seções temáticas que compõem 61


questionário de pesquisa para caracterização da FH

Quadro 9 Roteiro estruturado com perguntas norteadoras do GF 63

Quadro 10 Codificação dos sujeitos convidados a participar da pesquisa conforme 68


cargo institucional
13

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Dados para caracterização dos hospitais submetidos ao pré-teste 65

Tabela 2 Caracterização dos sujeitos participantes da pesquisa 69

Tabela 3 Dados de caracterização das unidades hospitalares 70

Tabela 4 Caracterização das unidades hospitalares quanto à natureza da 70


assistência, porte, nível de atenção, corpo clínico, sistema de edificação e
tipo de certificação

Tabela 5 Relação farmacêutico/leito 73

Tabela 6 Caracterização da estrutura física das farmácias Hospitalares 74

Tabela 7 Distribuição das farmácias satélites nos setores Hospitalares 76

Tabela 8 Número de atividades desenvolvidas pela farmácia hospitalar em função 77


da acreditação

Tabela 9 Adoção de inovações tecnológicas pelos serviços de farmácia em função 89


da acreditação

Tabela 10 Tipo de impacto percebido pelos serviços de farmácia na adoção de 91


inovações tecnológicas após a acreditação
14

LISTA DE SIGLAS

AF Assistência Farmacêutica
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ASHP American Society of Health-System Pharmacists
BVS Biblioteca Virtual em Saúde
CAC Colégio Americano de Cirurgiões
CCIH Comissão de Infecção Hospitalar
DST Doença Sexualmente Transmissível
EUA Estados Unidos da América
FH Farmácia Hospitalar
GF Grupo Focal
ISQua International Society for Quality in Health Care
JCAH Joint Commission on Accreditation of Hospitals
JCAHO Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organization
JCI Joint Commission International
MS Ministério da Saúde
OMS Organização Mundial de Saúde
ONA Organização Nacional de Acreditação
OPAS Organização Panamericana de Saúde
OPME Órteses, Próteses e Materiais Especiais
PNAF Política Nacional de Assistência Farmacêutica
PNM Política Nacional de Medicamentos
POP Procedimento Operacional Padrão
RDC Resolução da Diretoria Colegiada
SBRAFH Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar
SIDA Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
SIM Serviço de Informações de Medicamentos
SUS Sistema Único de Saúde
TI Tecnologia da Informação
15

1 INTRODUÇÃO

O século XX, palco de guerras e profundas transformações nas conformações sociais,


trouxe consigo a valorização, cada vez maior, do conceito de qualidade nas áreas de
produção e serviços, fruto da necessidade de controle, escassez de recursos e reorganização
das Instituições. Esse quadro foi ampliado e reforçado pelo recente cenário de globalização,
caracterizado pela forte competitividade do mercado, crescentes custos dos serviços,
difusão do conhecimento técnico-científico e o contínuo incremento tecnológico (MANZO,
2009). A sociedade se mostra cada vez mais consciente e exigente em relação aos seus
direitos, permanecendo atenta às constantes mudanças de mercado. Dessa forma, os
sistemas de gestão organizacional com foco na qualidade tornaram-se expressamente
utilizados, almejando potencial competitivo e êxito institucional (MANZO, 2009).
Acompanhando as transformações do mercado, o setor hospitalar, objeto deste
estudo, vem passando por diversas mudanças, inevitáveis e necessárias à sua sobrevivência,
visando principalmente à melhoria da qualidade da assistência e o controle dos custos
(RODRIGUES, 2004). As instituições hospitalares tornaram-se mais complexas, havendo
maior necessidade pela busca por inovações em produtos, tecnologias e serviços, que
resultaram em novas formas de organização e reestruturações que garantissem a
permanência em um mercado cada vez mais competitivo e caro (MATOS et al., 2006). Diante
disso, a discussão a respeito da qualidade em saúde tornou-se um fenômeno universal,
deixando o campo conceitual, para se tornar uma realidade, cuja essência é a garantia da
sobrevivência das empresas (RODRIGUES, 2004; MATOS et al., 2006). A qualidade, antes
considerada desejável, passa a ser um atributo indispensável para obtenção de resultados
satisfatórios em serviços de saúde, aparecendo como elemento diferenciador no
atendimento das expectativas dos clientes (RODRIGUES, 2004).
O hospital, peça chave no sistema de atenção à saúde brasileira, concentra a maior
parte dos recursos para a prestação dos serviços à população, com cerca de 20 milhões de
internações ao ano, a uma taxa de 115 admissões para cada 1000 habitantes (LA FORGIA e
COUTTOLENC, 2008). Em Dezembro de 2013, o Brasil contava com uma rede de 6.799
instituições hospitalares, das quais 65,9% eram privadas, concentrando aproximadamente
70% dos leitos disponíveis para internação segundo dados do DATASUS/MS (BRASIL, 2013).
16

No Brasil, os gastos hospitalares representam 3,5% de seu produto interno bruto e


correspondem ao maior componente dos gastos em saúde no país, representando 67% do
total (LA FORGIA e COUTTOLENC, 2008). Contudo, o setor hospitalar brasileiro ainda está
abaixo do padrão razoável de qualidade e apresenta deficiências em termos de
produtividade, mantendo aproximadamente 70% das instalações privadas dependentes do
financiamento público (LA FORGIA e COUTTOLENC, 2008). Por isso, a contenção de custos e
a manutenção da qualidade da atenção e segurança do paciente transformaram-se nos
maiores desafios dos gestores de serviços de saúde e formuladores das políticas públicas
brasileiras (MONTGOMERY e SCHNELLER, 2007).
Este cenário exige uma profunda reestruturação dos serviços, de maneira que sejam
organizados, adequados, produtivos e seguros, através do aprimoramento da gestão
hospitalar e da disseminação dos conceitos e métodos de avaliação da qualidade, para
alcance da eficiência e dos mais elevados padrões na prestação de serviços de saúde
(RODRIGUES, 2004). É nesta perspectiva que surge a acreditação hospitalar, uma
metodologia de avaliação, desenvolvida para apreciar a qualidade da assistência oferecida
em todos os serviços de um hospital. A solicitação da acreditação por um serviço de saúde é
um ato voluntário e espontâneo, em que se pretende obter a condição de acreditado, a
partir da averiguação de padrões de referência desejáveis e previamente aceitos, elaborados
por peritos no assunto e certificados por instituições acreditadoras credenciadas
(RODRIGUES, 2004). Ao identificar as oportunidades de melhorias, a acreditação pode
contribuir para uma melhor utilização dos recursos e prestação de serviços de saúde pelos
hospitais, na medida em que apoia e promove mudanças comportamentais, mobilização
gerencial, inovações estruturais e tecnológicas.
Nesse contexto, as diretrizes da acreditação para os serviços de saúde podem
apontar o caminho para o aprimoramento das farmácias hospitalares brasileiras, na medida
em que exigem o cumprimento da legislação e padrões necessários à efetiva promoção da
assistência farmacêutica (AF), em um cenário onde grande parte dos serviços ainda
apresenta baixo desempenho, quando consideradas as estruturas existentes, a qualidade
dos processos e os resultados das atividades, dado que seu desenvolvimento ocorreu de
forma pontual e não planejada (MESSEDER, 2005).
Sendo assim, a proposição desta pesquisa fundamenta-se na hipótese de que a
acreditação proporciona a melhoria da eficiência, qualidade e segurança no serviço prestado
17

pela farmácia hospitalar (FH). Partindo-se deste pressuposto, buscou-se responder às


seguintes questões:

a) Que mudanças a acreditação promove na estrutura, processos de trabalho e


resultados conquistados pela FH?

b) Quais as percepções dos farmacêuticos em relação às mudanças na AF


provocadas pela acreditação?

c) Quais as percepções das partes interessadas - que se relacionam com a FH e


utilizam os seus serviços - em relação às mudanças na AF provocadas pela
acreditação?

A fim de facilitar o desenvolvimento do tema proposto, a redação da presente


dissertação estruturou-se em referencial teórico, metodologia, resultados e conclusão,
No referencial teórico são apresentados conceitos relacionados à qualidade e
avaliação de serviços de saúde, resgatando tópicos que confluem sobre a acreditação, a FH,
a segurança do paciente e a técnica do grupo focal (GF), para melhor embasamento do
estudo.
A metodologia detalha o desenho e os procedimentos adotados no presente
trabalho, ressaltando pontos considerados cruciais para o método, como: escolha da
amostra e sujeitos da pesquisa, construção dos instrumentos para levantamento de dados, o
GF e finalmente as questões éticas envolvidas na produção deste estudo.
Nos resultados, são apresentados e discutidos os achados obtidos a partir dos
questionários, enunciando os de maior relevância no que tange a estrutura e os processos
de trabalho. Além disso, são descritas as percepções e vivencias dos sujeitos, extraídas a
partir do desenvolvimento do GF, com ênfase na discussão das mudanças e impactos
provocados pela acreditação na FH.
Finalmente, são apresentadas as conclusões da pesquisa, apontando as limitações e
contribuições do estudo em questão.

1.1 JUSTIFICATIVA

Este estudo fundamenta-se na crescente demanda por eficiência e profissionalização


nas ações globais em saúde, como forma de garantir a qualidade e segurança do serviço
prestado ao paciente hospitalizado.
18

A FH, como parte integrante dos serviços de saúde, deve contribuir para a obtenção
de tais resultados, na medida em que permeia de forma crucial as atividades finalísticas do
cuidado e seu produto base - o medicamento - interfere diretamente nos custos da
assistência (OSÓRIO-DE-CASTRO; CASTILHO, 2004). Neste sentido, a FH deve estruturar-se
para garantir o uso seguro e racional de medicamentos em prol da qualidade da AF e a
acreditação, como importante ferramenta de avaliação, pode contribuir com esses alcances.
Em consulta à biblioteca virtual em saúde (BVS)1, foram identificados alguns
trabalhos relacionados aos resultados dos programas internacionais de acreditação na FH,
realizados em outros países (RICH, 2010; YOUNG, 2004; KOWIATEK et al., 2002; TRAVERSO
et al., 2002; HOFFMANN, 1988). No Brasil, contudo, localizou-se apenas uma iniciativa, cuja
meta foi sistematizar e propor indicadores para FH com foco na acreditação nacional
(CIPRIANO, 2004).
Desta forma, a escassez de informações disponíveis sobre o impacto do processo de
acreditação no âmbito da FH brasileira motivou a realização da pesquisa aqui proposta. Não
se sabe a fundo que mudanças são promovidas pela acreditação e, nem mesmo, quais são as
percepções ou o conhecimento dos sujeitos que empregam tal ferramenta como meio de
excelência para a AF, havendo uma lacuna científica entre a exposição teórica do assunto e a
aplicação prática da metodologia pelos farmacêuticos no cenário nacional.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 OBJETIVOS GERAIS

Analisar o impacto do processo de acreditação em serviços de FH de


estabelecimentos privados de saúde no Estado do Rio de Janeiro e acreditados pela
Organização Nacional de Acreditação (ONA).

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Caracterizar os hospitais em estudo e suas farmácias;

1
Descritores empregados: acreditação, serviço de farmácia hospitalar.
19

 Investigar a percepção dos diferentes atores sobre o processo de acreditação,


identificando os aspectos facilitadores e dificultadores para a sua implantação no
serviço de farmácia;

 Investigar as mudanças que a certificação provocou na AF na perspectiva dos


farmacêuticos e partes interessadas dos serviços de farmácia;

 Identificar possíveis melhorias na segurança e eficiência do serviço prestado pela


FH como decorrência do processo de acreditação.
20

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O HOSPITAL: CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES

O hospital é uma organização de natureza social que tem por finalidade “produzir e
oferecer serviços de saúde à população” (GOMES; REIS, 2003). Segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), o hospital é definido como:

Parte integrante de uma organização médica e social, cuja função é prover


completa assistência à saúde da população – curativa e preventiva – e cujos
serviços atingem a família e seu meio-ambiente. É também um centro de formação
2
para os que trabalham no campo da saúde e das pesquisas biossociais (OMS, 1957
apud CIPRIANO, 2004, p. 12).

Conforme Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) publicada pela Agência Nacional


de Vigilância Sanitária (ANVISA), o hospital é definido como:

Todo estabelecimento de saúde dotado de internação, meios diagnósticos e


terapêuticos, com o objetivo de prestar assistência médica curativa e de
reabilitação, podendo dispor de atividades de prevenção, assistência ambulatorial,
atendimento de urgência/ emergência e de ensino/ pesquisa (BRASIL, 2002).

Este conceito é aplicado para todos os estabelecimentos com pelo menos cinco leitos
para a internação de pacientes, que “garantam um atendimento básico de diagnóstico e
tratamento, com equipe clínica organizada e com prova de admissão e assistência
permanente prestada por médicos” (BRASIL, 2011).
Os hospitais evoluíram desde pequenos grupos estruturados informalmente até as
grandes organizações dos dias atuais, cujas características e funções transformam tais
instituições nas mais complexas e dinâmicas do setor saúde (BRASIL, 2011).
Na concepção de Gonçalves (1998), a principal função das organizações hospitalares
é proporcionar serviços de qualidade com os recursos disponíveis adequados às
necessidades da sociedade, atendendo aos doentes, promovendo a educação profissional,
conduzindo a pesquisas e exercendo a medicina preventiva e curativa. Para isso, devem
apresentar projeto arquitetônico, estrutura e densidade tecnológica compatíveis com suas
funções e complexidade, em escala adequada para operar com eficiência e qualidade. Em
2
Organización Mundial de la Salud. Comité de Expertos en Organización de la Asistencia Médica. Función de los
hospitales en los programas de protección de la salud. Ser Inform. Tecn., v.122, n.4, 1957.
21

geral, os hospitais são dotados de emergência, centro cirúrgico, unidades de tratamento


intensivo, semi-intensivo e internação, estrutura diagnóstica e serviços de apoio terapêutico,
como assistência farmacêutica, nutricional e hemoterápica (GOMES; REIS, 2003).
As características e complexidade das organizações hospitalares têm forte influência
na estrutura e nas atividades desenvolvidas pela FH, de maneira que sua organização está
diretamente relacionada com o tipo de assistência prestada pelo hospital, tornando-se
compatível com suas necessidades (MESSEDER, 2005). Para um melhor entendimento da
inserção da farmácia no complexo sistema hospitalar e para fins desta pesquisa adotou-se a
classificação, apresentada no quadro 1.
O hospital contemporâneo, seja ele público ou privado, representa a “emergência de
interesses submersos da produção industrial na saúde, apesar de seu resultado mais
aparente ser o cuidado ao doente” (RIBEIRO, 1993, p.30). Isso porque forma e qualifica
profissionais, recupera força de trabalho, movimenta e reproduz capital (RIBEIRO, 1993).
A todo instante, o hospital ajusta-se a um novo modelo que busca oferecer conforto,
além do tratamento e cura dos seus usuários, preocupado em proporcionar máximo bem-
estar e segurança. Assim, deixa-se de lado a visão austera de sua estrutura, para buscar um
clima familiar, harmônico e confortável, preocupado em proporcionar serviços de qualidade
e, ao mesmo tempo, eficientes, que os diferencie e preserve a sustentabilidade das
organizações (GALVÃO, 2003).
22

Quadro 1: Classificação das organizações hospitalares


CLASSIFICAÇÃO DESCRIÇÃO
 Público: integra o patrimônio Federal, Estadual, Municipal, autarquias
e fundações instituídas pelo poder público.
 Privado filantrópico: reserva assistência gratuita para população
carente. Não remunera sua diretoria e os lucros são direcionados à
manutenção e desenvolvimento da instituição.
Natureza
 Privado sem fins lucrativos ou beneficentes: presta assistência
Jurídica
principalmente para seus associados. Fundado e mantido por
contribuições ou doações. Não remunera sua diretoria e os lucros obtidos
são direcionados à manutenção e desenvolvimento da instituição.
 Privados com fins lucrativos: presta serviços para auferir resultados
financeiros lucrativos.
 Geral: presta assistência aos pacientes portadores de doenças das
especialidades médicas básicas (clínica médica, cirurgia geral, clínica
ginecológica e obstétrica e clínica pediátrica).
Natureza da
 Geral com especialidades: presta assistência aos pacientes portadores
assistência
de doenças de várias especialidades, além das básicas.
 Especializado: presta assistência aos pacientes portadores de doenças
específicas ou predominantes.
 Secundário: presta serviços com recursos básicos de diagnósticos
(laboratório de análises clínicas, radiologia, eletrocardiografia, possuem
leitos para áreas básicas da medicina ou seja, clínica médica, cirurgia
geral, clínica ginecológica e obstétrica e clínica pediátrica).
Nível de
 Terciário: presta cuidados gerais, contemplados em várias
atenção
especialidades e se destinam também ao ensino.
 Quaternário: presta cuidados gerais, contemplados em várias
especialidades, onde o desenvolvimento da pesquisa e o avanço
tecnológico os destacam no País.
 Pequeno: tem capacidade menor ou igual a 50 leitos;
 Médio: possui de 51 a 150 leitos;
Porte
 Grande: oferece de 151 até 500 leitos;
 Especial: possui mais de 500 leitos.
 Monobloco: oferece serviços concentrados em uma única edificação;
 Multibloco: distribui serviços em edificações de médio ou grande
porte, interligados ou não;
Sistema de  Pavilhonar: divide os serviços em prédios isolados de pequeno porte,
edificação interligados ou não;
 Horizontal: possui estrutura predominantemente disposta na
horizontal;
 Vertical: apresenta estrutura principalmente na dimensão vertical.
 Aberto: permite que médicos externos à instituição efetuem
internações e assistência aos seus pacientes, tendo ou não médicos
efetivos.
Corpo Clínico
 Fechado: possui corpo clínico permanente, permitindo apenas
eventualmente (mediante permissão especial) o exercício de profissionais
externos.
Fonte: Adaptado de CIPRIANO, 2004.
23

2.2 QUALIDADE EM SAÚDE

Qualidade, segundo Ferreira (2008, p. 669), é a “propriedade, atributo ou condição


das coisas ou das pessoas, que as distingue das outras e lhes determina a natureza.
Superioridade, excelência de alguém ou de algo. Dote, virtude”.
O termo qualidade apresenta inúmeras definições na literatura, devido ao seu caráter
pluridimensional, que pode assumir vários sentidos de natureza objetiva ou subjetiva
(UCHIMURA; BOSE, 2002). Nesse contexto, a qualidade, na sua dimensão objetiva, é passível
de mensuração, sendo considerada um atributo de objetos ou pessoas e, portanto,
generalizável (UCHIMURA; BOSE, 2002). Em sua dimensão subjetiva, pode ser considerada
uma expressão da sensibilidade humana, que não pode ser medida. Tem estreita relação
com “o espaço das vivências, das emoções, do sentimento, os quais não cabe quantificar,
uma vez que expressam singularidades” (UCHIMURA; BOSE, 2002, p. 1565).
Demo3 (1999, apud UCHIMURA; BOSE, 2002, p.1565) identifica dois tipos de
qualidade: a formal e a política. A primeira está relacionada a “instrumentos, formas,
técnicas e métodos” diante dos desafios do desenvolvimento, em uma dimensão objetiva,
mensurável. A outra estaria relacionada a finalidades, valores e conteúdos, assumindo uma
dimensão subjetiva, simbólica. Desta forma, explicita-se mais uma vez a qualidade valendo-
se de suas dimensões objetiva e subjetiva.
Há quem considere que qualidade em saúde seja a ausência de enfermidades, o que,
no entanto, pode ser insuficiente sob a luz do conceito saúde. A qualidade pode implicar em
contornos muito amplos, que ultrapassam o foco da eliminação das doenças, característico
do modelo médico tradicional, em direção à busca pelo bem estar social e melhores
condições de vida (AKERMAN; NADANOVSKY, 2000). Escolher entre apenas uma das
possíveis definições de qualidade, no campo da saúde, pode levar à omissão de aspectos
significativos e complexos da área em questão, reduzindo seu conceito pluridimendional,
que também admite a subjetividade.
Contudo, a qualidade dos programas e serviços de saúde ainda é tratada, quase que
exclusivamente, de maneira objetiva e quantitativa. Conforme Uchimura e Bosi (2002)
predominam, na literatura científica, os estudos que consideram a qualidade da saúde
unicamente com base em sua “dimensão formal, baseado em um de seus componentes ou

3
DEMO, P. Avaliação Qualitativa. São Paulo: Editora Cortez, 1999.
24

elementos, conferindo um tratamento reducionista ou unidimensional à qualidade”.


Conforme ressalta Nuto4 (1999, apud UCHIMURA; BOSI, 2002, p.1565) “esse conceito
mantido pelos serviços de saúde resulta da apropriação da racionalidade científica moderna,
em que o conhecimento biológico se superpõe a qualquer discussão e descoberta dos
significantes socioculturais”.
A discussão a respeito de qualidade carrega consigo a noção, implícita ou explícita, de
avaliação, a partir da determinação de valores, pela realização de um julgamento (MALIK;
SCHIESARI5, 1998, apud CIPRIANO, 2004). É coerente afirmar que a qualidade nos serviços de
saúde depende da busca contínua pela melhoria dos processos de atendimento ao paciente,
considerando a segurança do usuário e dos profissionais que trabalham no serviço, a
distribuição eficiente dos recursos materiais, financeiros e humanos, a redução do
desperdício e a adequação dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos, a fim de permitir
o melhor resultado possível em termos dos benefícios na saúde dos pacientes. Para tanto é
necessária a implementação de ações em toda a organização a fim de aumentar a eficiência
e a efetividade das atividades e dos processos (RODRIGUES, 2004).
Entendendo-se que o principal objetivo das unidades de atendimento seria oferecer
serviços de saúde com a melhor qualidade possível, carece aqui discutir a evolução e as
possíveis dimensões do atributo qualidade no âmbito da avaliação dos serviços de saúde.

2.2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS

As atividades relacionadas à qualidade do cuidado coincidem com o início da história


registrada da medicina, com Hamurabi e Hipócrates (CARVALHO et al., 2004). Entretanto, os
primeiros registros formais, de modelos direcionados à gestão da qualidade da assistência
médica, datam do século XIX com a enfermeira britânica Florence Nightingale (CAMPOS,
2006). Na ocasião, foram desenvolvidos métodos de coleta de dados para melhorar a
qualidade do atendimento prestado aos feridos de guerra, que revolucionaram a abordagem
dos fenômenos sociais e permitiram o surgimento de movimentos para a melhoria das
condições de saúde e qualidade de vida da população (CAMPOS, 2006).

4
NUTO, S. S.; NATIONS, M. K. Avaliação qualitativa dos serviços como processo de construção de cidadania.
Ação Coletiva, Brasília, v.2, p.25-29, 1999.
5
MALIK, A.M.; SCHIESARI, L.M.C. Qualidade na gestão local de serviços e ações de saúde. São Paulo: Ed.
Fundação Petrópolis: Faculdade de Saúde Pública; 1998.
25

A avaliação da qualidade em saúde, propriamente dita, iniciou-se no século XX e


desenvolveu-se lentamente, pois custou a ser considerada como aspecto essencial da
medicina (REIS et al., 1990). O primeiro trabalho clássico sobre avaliação dos serviços de
saúde, denominado a study in hospital efficiency: the first five years, foi publicado em 1916
por Codman (REIS et al., 1990). Este trabalho, influenciado pelo relatório Flexner de 1910,
apresenta uma metodologia de “avaliação rotineira do estado de saúde dos pacientes, para
estabelecer os resultados finais das intervenções médicas intra-hospitalares, atribuindo o
sucesso ou o insucesso dos tratamentos” (REIS et al., 1990, p.51).
Sob a influência do trabalho de Codman, em 1913, foi fundado o Colégio Americano
de Cirurgiões (CAC), que assume a responsabilidade pela “avaliação da qualidade das
práticas cirúrgicas e dos hospitais, através do estabelecimento do Programa de Padronização
Hospitalar” (REIS et al., 1990, p. 51).
Como resultado de todo esse movimento, a cultura da qualidade difundiu-se
rapidamente através dos espaços acadêmicos e institucionais, ocasionando a aprovação de
leis mais complexas na área da saúde, que enfatizavam os aspectos de avaliação, educação e
consultoria hospitalar (FELDMAN; GATTO; CUNHA, 2005). Com isso, na década de 1960, a
maior parte dos hospitais americanos já havia atingido os padrões mínimos preconizados
inicialmente (FELDMAN; GATTO; CUNHA, 2005).
Ao mesmo tempo em que surgiam organizações e programas voltados
especificamente à melhoria da qualidade dos serviços hospitalares, um segundo conjunto de
eventos também desempenhou um papel importante no movimento de ampliação da
qualidade dos serviços de saúde: a expansão do consumo de medicamentos em todo o
mundo ocidental. Como ilustração deste fenômeno, Messeder (2005, p.5) afirma que entre
1950 e 1960 foram incorporados 400 novos produtos à farmacopeia americana.
Contudo, este vertiginoso crescimento da produção e do consumo de medicamentos
foi acompanhado de graves acidentes. Entre os registros mais marcantes estão o emprego
do solvente dietilenoglicol em um xarope de sulfanilamida na década de 1930 e a epidemia
de focomelia pelo uso da talidomida por gestantes no início da década de 1960. Ao lado de
outros acidentes, estes eventos contribuíram para criação da agência americana reguladora
de alimentos e drogas, mudanças na legislação sanitária e publicação de trabalhos voltados à
26

identificação e análise de reações adversas a medicamentos (LAPORTE; TOGNONI6, 1993


apud SILVA, 2003). Estes trabalhos contribuíram para intensificar os estudos de utilização de
medicamentos, consolidando a farmacoepidemiologia como ciência e a farmacovigilância
como importante instrumento sanitário para a promoção da qualidade em saúde (SILVA,
2003).
Apesar disso, o movimento de melhoria da qualidade em saúde tornou-se maior e
mais complexo nas últimas três décadas do século XX, influenciado por movimentos pela
qualidade no setor industrial, como forma de garantir sua sobrevivência e hegemonia na
sociedade moderna (BERWICK; GODFREY; ROESSNER7, 1991 apud SILVA, 2003).
As primeiras pesquisas no campo da avaliação em saúde, ainda na década de 1970,
foram motivadas por “um certo grau de desconfiança e insegurança da sociedade em
relação aos serviços” (BERWICK; GODFREY; ROESSNER7, 1991 apud SILVA, 2003, p. 31). O
modelo, denominado quality assurence, baseava-se na “garantia de padrões mínimos de
qualidade, através do monitoramento do desempenho de casos individuais, pelo uso de
indicadores que determinavam se atingiam certo padrão e se estavam dentro de limites
aceitáveis” (CARVALHO et al., 2004, p.220).
Carvalho e colaboradores (2004) destacam que problemas com este modelo levaram
à experimentação da abordagem industrial de melhoria contínua da qualidade, cuja atenção
deixa de ser focada em casos individuais, para analisar as estatísticas de padrões de
assistência ofertados. De acordo com esta teoria, “a melhoria da qualidade depende da
compreensão e da revisão dos processos de produção/prestação de serviços, baseados nos
dados gerados pelos próprios processos” (CARVALHO et al., 2004, p.220). O foco é a
“melhoria contínua por toda a organização, através do empenho constante para se reduzir o
desperdício, o trabalho refeito e a complexidade” (CARVALHO et al., 2004, p.220).
É somente na década de 1980 sobretudo entre 1985 e 1989, que uma certa redução
da distância entre os movimentos pela qualidade no setor industrial e na saúde veio a
acontecer, motivada por pressões econômicas (SILVA, 2003). Com os crescentes custos e
complexidade da atenção médica, decorrentes do uso indiscriminado de tecnologias e
procedimentos cada vez mais sofisticados, acontece um impulso objetivo para a expansão

6
LAPORTE, J.R.; TOGNONI, G. Princípios de epidemiología Del medicamento. 2ª ed. Barcelona: Masson; 1993.
7
BERWICK, D.M.; GODFREY, A.B., ROESSNER, J. Curing health care: new strategies for quality improvement. San
Francisco: Jossey-Bass; 1991.
27

de trabalhos e pesquisas de avaliação da qualidade em saúde. Reis e colaboradores


destacam essa tendência, caracterizando a dificuldade de padronização nos cuidados e a
frequente incorporação de tecnologias não substitutivas.

O cuidado médico, além de difícil padronização, não possui valor de troca, mas tão
somente valor de uso para aquele que o consome. Alia-se a este fato que, ao
contrário do que ocorre na evolução da manufatura para a indústria, a incorporação
tecnológica não substitui o trabalho vivo consumido no cuidado, nem tecnologias
mais antigas (REIS et al., 1990, p.52).

Tornou-se, assim, imperativo conhecer melhor o que acontecia de fato nos serviços
de saúde, qual a sua real participação na dinâmica social, e quais os seus efeitos para os
indivíduos e para a sociedade. Desta forma, as estratégias de avaliação se tornaram uma
ferramenta importante para permitir a racionalização das decisões e das práticas, visto que
os resultados poderiam ser úteis para facilitar a tomada de decisão e subsidiar intervenções
necessárias (MESSEDER, 2005).
A qualidade, portanto, deixou de ser apenas um requisito dos serviços oferecidos,
assumindo um papel estratégico para melhorar a competitividade das instituições, pelo
aumento da eficácia de suas operações. Perez Arias e Feller reforçam esta percepção ao
afirmar que:

O incremento desenfreado dos custos ultrapassou o previsível e desejável, ainda


que em países ricos. O gasto anárquico beneficia alguns setores e prejudica outros,
sem que isto signifique maior eficácia. O aumento global dos custos e a
incorporação de grande quantidade de tecnologia para o diagnóstico e tratamento
de enfermidades não têm dado, como resultado, a redução da morbimortalidade.
A qualidade da atenção médica sofre uma evidente deterioração devido, entre
outras causas, à diluição da responsabilidade que é transpassada e atomizada por
8
numerosos atores intervenientes (PEREZ ARIAS ; FELLER apud REIS et al., 1990,
p.52).

Como consequência direta deste cenário de profundas transformações, a criação de


instrumentos, destinados à melhoria da qualidade da assistência na saúde, tornou-se um
fenômeno universal, deixando de ser um mero conceito teórico para ser uma “realidade cuja
essência é garantir a sobrevivência das empresas” (LABBADIA et al., 2004, p.83).

8
PEREZ ARIAS, E. B.; FELLER, J. J. El Control de los Sistemas de Atención Médica Conceptualización y Mecánica
Operativa. Medicina y Sociedade, Buenos Aires, v.6, n.6, p. 239-246, 1983.
28

A demanda, cada vez mais expressiva, por conceitos de melhoria da qualidade, fez
com que diversos países desenvolvessem e sistematizassem métodos de avaliação, para
comparação de resultados e planejamento de metas, visando melhorias no âmbito da
prestação dos serviços de saúde (LABBADIA et al., 2004).

2.2.2 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS DE SAÚDE

No tocante ao movimento pela qualidade em saúde, é possível identificar uma


associação direta entre os temas da avaliação e da qualidade, conforme observado por
Labbadia e colaboradores.

Avaliação constitui um pilar fundamental de garantia da assistência na saúde e é


entendida como sendo um instrumento da gestão necessário para mensurar os
esforços de uma organização, a qualidade dos serviços prestados, bem como sua
utilidade e relevância social (LABBADIA et al., 2004, p.83).

De maneira mais específica, Worthen, Sanders e Fitzpatrick9 (1997, apud SILVA, 2003,
p.39) definem avaliação como a “identificação, clarificação e aplicação de critérios
defensáveis para determinar o valor e o mérito de um determinado objeto avaliado, sua
qualidade, utilidade, efetividade ou significado em relação a estes critérios”, definição que é
essencialmente compartilhada por Contandriopoulos (1997).
Um dos elementos comuns a estes autores é o fato de colocarem a definição de
critérios como condição essencial para se avaliar um objeto ou fenômeno. Pelo exposto,
para que se possa afirmar o que é bom ou ruim, o que está ou não correto, o que vale ou
não a pena, o que é mais custo-efetivo, o que mais satisfaz profissionais, consumidores e
financiadores, é necessário que critérios sejam estabelecidos pelos interessados e que o
processo de avaliação se dê com base nestes critérios, para que se estabeleça uma avaliação
sistemática (MESSEDER, 2005).
Conforme Alfoldi10 (apud ESHER et al., 2010, p.204), “critério é uma ferramenta típica
da avaliação e pode ser definido como uma dimensão padrão em função da qual a realidade
do objeto da avaliação receberá julgamento qualitativo e/ ou quantitativo”. A explicitação

9
WORTHEN, B.R.; SANDERS, J.R., FITZPATRICK, J.L. Program evaluation: alternative approaches and practical
nd
guidelines. 2 ed. New York: Longman; 1997.
10
ALFÖLDI, F. Savoir Évaluer en Action Sociale et Médico-Sociale. Paris: Dunod; 2006.
29

dos critérios utilizados aumenta a legitimidade da avaliação, por tornar o julgamento do


avaliador mais objetivo e passível de consideração por outros (MALIK e SCHIESARI 5, 1998
apud CIPRIANO, 2004).
Silva (2003, p.39) também explicita essa relação entre os critérios e o processo de
avaliativo, definindo avaliação como o “ato de medir um fenômeno ou o desempenho de um
processo, comparar os resultados obtidos com os critérios estabelecidos, e fazer uma análise
destes resultados considerando-se a natureza da diferença”.
O estabelecimento de critérios claros e definidos, acerca de um padrão de qualidade
nos serviços de saúde, requer um estudo aprofundado de tudo que envolva a assistência de
saúde, norteado por uma visão global da conjuntura atual (MALIK; SCHIESARI5, 1998 apud
CIPRIANO, 2004). Sendo assim, no processo de elaboração, escolha e aplicação de critérios
para avaliação da qualidade em saúde, a necessidade de chegar a consensos tornou-se
imperativa.
O termo qualidade estaria relacionado a um vasto espectro de características
desejáveis na prestação do cuidado. Uchimura e Bosi (2002) citam algumas publicações
(ACURCIO; CHERCHIGLIA; SANTOS, 1991; GATTINARA et al., 1995), nas quais a definição da
qualidade, no contexto dos serviços e programas de saúde, está apoiada nas seguintes
determinantes na prestação do cuidado:
 Competência profissional: habilidades técnicas, atitudes da equipe, habilidades
de comunicação;

 Satisfação dos usuários: tratamento recebido, resultados concretos, custo,


tempo;

 Acessibilidade da atenção: remoção de obstáculos culturais, sociais, geográficos,


econômicos para a utilização de serviços disponíveis;

 Eficácia: capacidade de produzir o efeito desejado, com o uso de normas


adequadas, tecnologia apropriada, respeito às normas pela equipe;

 Eficiência: relação entre o efeito real e os custos da produção;

 Efetividade: relação do impacto real com o impacto potencial numa situação


ideal;

 Eqüidade: distribuição dos serviços de acordo com as necessidades de saúde


objetivas e percebidas da população;
30

 Qualidade técnico-científica: nível de aplicação do conhecimento e da


tecnologia;

 Adequação: suprimento de número suficiente de serviços em relação às


necessidades e à demanda;

 Aceitabilidade: fornecimento de serviços que estão de acordo com as normas


culturais, sociais e outras, e com as expectativas dos usuários em potencial.

Todos esses determinantes abordam a qualidade sob a ótica de quem a define e/ ou


se beneficia, ou seja, os agentes dos serviços (stakeholders). Sendo assim, planejadores
poderiam estar interessados em enfatizar aspectos relativos à equidade na distribuição dos
serviços; administradores procurariam formas eficientes de provisão; médicos estariam
interessados nos resultados das suas condutas; e usuários dariam atenção a aspectos ligados
ao acesso ao cuidado e ao tratamento por parte dos profissionais de saúde (AKERMAN;
NADANOVSKY, 1992). Com isso, a qualidade pode ter seu significado reduzido a uma de suas
múltiplas dimensões.
Donabedian (1978) teceu expressivas considerações a respeito de modelos de
qualidade e sua aplicabilidade na área da saúde. De acordo com Messeder (2005, p. 30),
Donabedian apresenta três definições diferentes para qualidade da assistência: “absolutista,
que apresenta uma perspectiva meramente técnica; individualista, onde há incorporação
dos valores do consumidor; social, na qual a distribuição de benefícios para a população
assume maior importância”.
Segundo Donabedian11 (apud REIS et al., 1990, p.53), a avaliação da qualidade pode
determinar “o grau de sucesso das profissões relacionadas com a saúde, em se
autogovernarem, de modo a impedir a exploração ou a incompetência”. Além disso,
conforme o autor, o monitoramento da qualidade garante vigilância contínua, de tal forma
que desvios dos padrões possam ser precocemente detectados e corrigidos. Sendo assim, a
“qualidade da assistência deve proporcionar aos pacientes o máximo e mais completo bem-
estar, considerando o equilíbrio previsto entre ganhos e perdas decorrentes do processo de
assistência em toda a sua complexidade” (DONABEDIAN10, apud REIS et al., 1990, p.53).
O autor aponta a influência do desempenho profissional e o aprimoramento do
modelo de gestão como estratégias para a garantia e melhoria da qualidade e sugere que o

11
DONABEDIAN, A. The Quality of Medical Care. Science, v.200, n.4344, mai. 1978.
31

êxito depende do esforço permanente realizado no melhoramento da saúde, pela


monitorização e avaliação continuada da estrutura, do processo e dos resultados da
avaliação dos serviços (DONABEDIAN10, apud REIS et al., 1990). Nesse contexto, os estudos
de estrutura se desenvolvem, fundamentalmente, nos níveis institucionais, tomando como
base a teoria dos sistemas de atenção à saúde, já os estudos de processo e resultado podem
ter como referência o indivíduo, grupos de usuários ou toda a população (REIS et al., 1990).
O eixo estrutura envolve as características estáveis dos serviços de saúde, como
instalações, equipamentos, recursos humanos, materiais e financeiros. O eixo processos diz
respeito às interações e procedimentos envolvendo profissionais de saúde e pacientes, e o
eixo resultados engloba a realização do objetivo de curar, barrar a progressão, restaurar a
capacidade funcional, aliviar a dor, entre outros (SILVA, 2003).
Esses determinantes, no entanto, abordam os componentes objetivos da avaliação
da qualidade em serviços e programas de saúde sem, contudo, levar em consideração os
aspectos subjetivos inerentes ao conceito de qualidade. Sendo assim, não apreendem a
experiência vivencial de atores sociais (usuários, profissionais, gestores ou políticos) que
interagem com os programas ou serviços.
Em 1990, Donabedian especificou sete atributos-chave, essenciais e complementares
ao trinômio estrutura, processo e qualidade, para a obtenção da qualidade na prestação de
assistência à saúde, a saber:
 Eficácia: habilidade dos serviços de saúde em promover, sob as melhores
condições possíveis, os melhores resultados que visem o bem estar dos
pacientes;

 Efetividade: representa a melhoria possível, em condições normais, no bem


estar dos pacientes;

 Eficiência: custo associado à atenção à saúde;

 Otimização: forma de analisar efetividade e eficiência em termos relativos;

 Aceitabilidade: maneira de adaptar a atenção à saúde aos desejos, expectativas


e valores dos pacientes;

 Legitimidade: forma de garantir que a atenção à saúde se dá com bases nos


valores da sociedade e do indivíduo;

 Equidade: forma de analisar o acesso dos indivíduos a atenção à saúde.


32

Nessa publicação de Donabedian (1990), é possível constatar a presença de


elementos que sugerem a importância da subjetividade na análise da qualidade. Para o
autor, a qualidade da atenção à saúde deve definir-se como o grau em que os meios
desejados se utilizam para alcançar as maiores melhorias em saúde (DONABEDIAN, 1990).
Portanto, “a qualidade em saúde se refere à relação entre os meios e fins, em que os meios
compreendem o conjunto das estratégias técnicas, psicológicas e sociais de intervenção”
(UCHIMURA; BOSI, 2002, p.1566).
Acredita-se que a posição dos atores sociais, que avaliam ou emitem um julgamento,
influencia a definição de qualidade e a relevância de determinados critérios ou componentes
em detrimento de outros (ACURCIO; CHERCHIGLIA; SANTOS, 1991; AKERMAN;
NADANOVSKY, 1992; CARVALHO et al., 2004).
Os chamados estudos antropossociais, vertente cuja metodologia é baseada nos
indivíduos ou grupos sociais, apoiam-se no estudo da acessibilidade e, principalmente, da
satisfação dos usuários (REIS et al., 1990).
Satisfação do paciente pode ser definida como as “avaliações positivas individuais de
distintas dimensões do cuidado à saúde” (LINDER-PELZ12, 1982 apud VAISTMAN; ANDRADE,
2005, P.600) e reflete as percepções do paciente em relação às suas expectativas, valores e
desejos. Estas avaliações expressariam uma atitude, uma resposta afetiva baseada na crença
de que o cuidado possui certos atributos que podem ser avaliados pelos pacientes
(VAISTMAN; ANDRADE, 2005). Donabedian (1988) ilustra este pensamento ao descrever a
satisfação do paciente como medida importante da qualidade da atenção prestada, porque
proporciona informações sobre o êxito do prestador ao alcançar os valores e expectativas
dos usuários. Segundo o autor, a qualidade do cuidado deve ser julgada pela sua
conformidade com um conjunto de expectativas ou padrões que derivam de três fontes: a
técnica, que determina a eficácia; os valores e expectativas individuais, que determinam a
aceitabilidade; os valores sociais e as expectativas, que determinam a legitimidade.
A noção de satisfação tornou-se mais um dos elementos da avaliação da qualidade
em saúde, permitindo avançar no sentido de incorporar os não especialistas na definição de
parâmetros (VAISTMAN; ANDRADE, 2005). É justamente o julgamento destes atores que

12
LINDER-PELZ, S. Toward a Theory of Patient Satisfaction. Social Science and Medicine, v.16, p.577-582, 1982.
33

influencia a qualidade e a relevância que certos aspectos podem assumir dentro de uma
avaliação (ACURCIO; CHERCHIGLIA; SANTOS, 1991).
Para Donabedian (1990), a avaliação do ponto de vista dos usuários é feita,
sobretudo, por meio da categoria aceitabilidade, que se refere à conformidade dos serviços
oferecidos em relação às expectativas e aspirações individuais dos respondentes em relação
ao atendimento e suas próprias características individuais como idade, gênero, classe social
e estado psicológico. Neste sentido, a segurança surge como importante dimensão da
qualidade, considerada talvez como a mais crítica e decisiva para os pacientes, já que um
cuidado inseguro aumenta o risco de danos desnecessários, que podem ter impacto
negativo, representando um verdadeiro hiato entre os resultados possíveis e os alcançados
(ANVISA, 2013).
Assim, o desafio da avaliação da qualidade em saúde está em compreender o
complexo e conflituoso jogo de interesses e construir critérios que atendam diferentes
expectativas. Contudo, não deve ser considerada um fim em si mesma, mas um processo
onde um julgamento explícito é elaborado, e a partir daí desencadeia-se um movimento de
transformação na direção da qualidade previamente desejada.

2.2.2.1 Acreditação hospitalar

O verbete Acreditação não faz parte da maioria dos dicionários da língua portuguesa,
mas o verbo acreditar tem como uma de suas definições “dar crédito a; tornar digno de
crédito, confiança” (FERREIRA, 2008, p.92). Portanto, o adjetivo acreditado tem como
significado algo que tem crédito, que merece ou inspira confiança; autorizado ou
reconhecido por uma potência junto à outra (FERREIRA, 2008).
Segundo o glossário de termos comuns nos serviços de saúde do MERCOSUL (BRASIL,
2002), a acreditação é definida como:

Um procedimento de avaliação dos estabelecimentos de saúde, voluntário,


periódico e reservado que tende a garantir a qualidade da assistência integral, por
meio de padrões previamente aceitos. Acreditação pressupõe avaliação da
estrutura, de processos e resultados, e o estabelecimento será acreditado quando
a disposição e organização dos recursos e atividades conformem um processo cujo
resultado final é uma assistência à saúde de qualidade (BRASIL, 2002, p.1)
34

Dentre outros objetivos, visa principalmente a construção e o estabelecimento da


cultura da segurança, ou seja, a “redução a um mínimo aceitável do risco de dano
desnecessário ao paciente associado ao cuidado de saúde”, como medida efetiva para
garantia da qualidade (ANVISA, 2013, p.24). Desta forma, a acreditação hospitalar possui
uma forte abordagem educativa, baseada na reflexão da prática profissional, que leva a
elaboração de padrões de excelência de desempenho. Por ser um processo, sobretudo
reflexivo, sempre revela novas formas de visualizar e agir sobre os problemas da instituição
(SILVA, 2003).
Conforme Schiesari (1999), a acreditação de organizações de saúde originou-se nos
Estados Unidos da América (EUA) quando foi formado o CAC, que estabeleceu o programa
de padronização hospitalar em 1924. Segundo o mesmo autor, nesse programa foi definido
um conjunto de padrões mais apropriados para garantir a qualidade da assistência aos
pacientes, criando um ambiente adequado para proteger o médico e a prática clínica. Estes
padrões, no entanto, não levavam em consideração outras necessidades, como o
dimensionamento das equipes assistenciais não médicas, a avaliação dos resultados com o
paciente e o atendimento por 24 horas (FELDMAN; GATTO; CUNHA, 2005). Apesar disso, o
programa atingiu um grande número de hospitais e tornou-se tão complexo, abrangente e
caro que levou o CAC a juntar-se, em 1950, a outras importantes instituições médicas para
compor a Joint Commission on Accreditation of Hospitals (JCAH). Tal organização, de
natureza privada, ficou oficialmente responsável pela acreditação de hospitais, enfatizando
o trinômio avaliação, educação e consultoria (SCHIESARI, 1999).
Em 1959, a Canadian Medical Association desligou-se da comissão e formou o
Canadian Council, para desenvolver um programa semelhante, com algumas características
diferenciadas, de modo a adaptar-se às circunstâncias canadenses (CAMPOS, 2006).
Com a mudança do sistema de financiamento público da assistência médica nos EUA
e consequente adoção do Medicare e Medicaid, o governo federal americano estabeleceu,
através de legislação específica, que o credenciamento hospitalar e reembolso dos custos
assistenciais estaria condicionado a uma avaliação do cuidado médico (REIS et al., 1990).
Desta forma, somente os hospitais acreditados pela JCAH estariam habilitados a participar
do Medicare, já que observavam a maior parte dos requisitos necessários a seu
funcionamento. Uma vez certificados pelo Medicare, os hospitais estariam automaticamente
35

aptos a participar do Medicaid. Sendo assim, a acreditação possibilitava a participação dos


serviços de saúde em ambos os sistemas (REIS et al., 1990).
Com a adoção dos padrões mínimos pela maior parte dos hospitais americanos,
surgiu a necessidade de modificar o grau de exigência preconizado pela JCAH. Com isso, é
publicado o Accreditation Manual for Hospitals em 1970, contendo padrões ótimos de
qualidade, que consideram os processos e os resultados como elementos reveladores do
nível de prestação de assistência médica (SCHIESARI, 1999). Essa mudança no perfil dos
critérios, utilizados para o estabelecimento de padrões, indica a transição de atenção da
JCAH, originalmente preocupada com a estrutura dos serviços, para a consideração dos
processos e resultados da assistência (ANTUNES, 2002).
Paralelamente em 1974, a Austrália também inaugurou seu Conselho de Padrões
Hospitalares, fazendo com que o movimento em busca da qualidade em saúde, inspirado no
modelo norte-americano, ganhasse contornos mundiais (CAMPOS, 2006).
Como reflexo da expansão do escopo de atividades da acreditação, a JCAH alterou
sua denominação para Joint Commisson on Accreditation of Healthcare Organization
(JCAHO) em 1987. Com isso, sua atuação passou a enfatizar a assistência clínica monitorada
por indicadores de desempenho e cercada por programas educacionais, ressaltando estes
aspectos na publicação de uma série de documentos e recomendações com padrões
internacionais, que acabaram por direcionar sua atuação para fora dos EUA (SCHIESARI,
1999).
Com a publicação da agenda para a mudança, em 1988, a JCAHO definiu a filosofia e
a metodologia da gestão da qualidade como instrumentos válidos para o desenvolvimento
dos serviços de saúde, em um cenário que exigia cada vez mais racionalidade (SCHIESARI,
1999). A partir disso, a mensuração de seus resultados passou a ser expressa em níveis:
acreditação com distinção, acreditação sem recomendação, acreditação com recomendação
e acreditação condicional. Sua atuação expandiu-se para o cenário internacional, passando a
denominar-se Joint Comission Internacional - JCI (SCHIESARI, 1999).
Em 1989, a OMS iniciou um trabalho com a área hospitalar na América Latina,
adotando como tema a qualidade da assistência, no qual a acreditação passou a ser vista
como elemento importante para desencadear e apoiar iniciativas de qualidade nos serviços
de saúde. Sua pretensão principal era:
36

Contribuir para uma mudança planejada de hábitos, de maneira a provocar nos


profissionais de todos os níveis e serviços um novo estímulo para avaliar as
debilidades e forças da instituição, com o planejamento de metas claras e
mobilização constante para o aprimoramento dos objetivos no que se refere à
garantia da qualidade da atenção médica (ANTUNES, 2002, p.26).

Paralelamente, Espanha, Polônia e Zâmbia desenvolveram experiências que


ampliaram a disseminação do conceito e a busca por qualidade em saúde através da
acreditação hospitalar, contribuindo para a expansão mundial do fenômeno a partir da
década de 1990 (SILVA, 2003).
Na mesma ocasião, mais precisamente em 1990, foi firmado um convênio entre a
Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) e a Federação Latino-americana de Hospitais
para a produção de um manual de Padrões de Acreditação para a América Latina,
estruturado em padrões e níveis de complexidade, onde a avaliação final seria determinada
pelo nível mínimo atingido (CAMPOS, 2006).
Acompanhando as mudanças propostas pela OMS, já em vigor na América Latina e
Caribe, e vivendo um momento de plena discussão sobre a reorganização do sistema de
saúde com a normatização do Sistema Único de Saúde (SUS), deu-se início ao processo de
acreditação brasileiro. Como forma de programar a avaliação da qualidade dos serviços de
saúde no cenário nacional, em 1992, foi apresentado o primeiro manual de acreditação
(NOVAES; PAGANINI, 1994). Em 1998, foi elaborada uma nova versão deste manual e
discutidas as normas técnicas que regulamentam o papel do órgão acreditador, a relação
entre a instituição acreditadora e o Ministério da Saúde (MS), o código de ética e o perfil do
avaliador (NOVAES; PAGANINI, 1994). Finalmente em 1999, o MS divulgou o projeto
Acreditação do Brasil por meio de um ciclo de palestras, cujo objetivo era apresentar,
sensibilizar e melhorar a compreensão sobre o sistema brasileiro de acreditação, bem como
criar a ONA (SCHIESARI, 1999). Oficializada pela Portaria No. 538 de 17 de Abril de 2001, a
ONA foi reconhecida pela ANVISA em 2002, por intermédio da Resolução No. 921, que
estabeleceu um convênio de cooperação técnica entre as duas entidades (CIPRIANO, 2004).
A ONA é uma organização privada, sem fins lucrativos e de interesse coletivo, que
tem como principais objetivos:
37

A implantação e implementação em nível nacional de um processo permanente de


melhoria da qualidade da assistência à saúde, estimulando todos os serviços de
saúde a atingirem padrões mais elevados de qualidade, dentro do processo de
acreditação (ONA, 2010, p. 12).

É responsável pelo estabelecimento de padrões e pelo monitoramento do processo


de acreditação realizado por instituições acreditadoras (FELDMAN; GATTO; CUNHA, 2005,
p.217). Estas, por sua vez, são “empresas de direito privado, credenciadas pela ONA, com a
responsabilidade de proceder à avaliação e a certificação da qualidade dos serviços de saúde
em âmbito nacional” (FELDMAN; GATTO; CUNHA, 2005, p. 217).
O Programa brasileiro de acreditação hospitalar visa o amplo conhecimento a
respeito do processo permanente de melhoria da qualidade assistencial, mediante a
avaliação periódica do serviço de saúde, tomando como base o Manual Brasileiro de
Acreditação Hospitalar (FELDMAN; GATTO; CUNHA, 2005). O manual foi desenvolvido dentro
de um contexto que considera as características dos hospitais brasileiros, de maneira a
“adaptar-se às pronunciadas diferenças existentes entre as várias regiões geográficas do
país, às distintas complexidades das instituições e ao processo evolutivo da ciência e da
administração de serviços de saúde” (FELDMAN; GATTO; CUNHA, 2005, p. 217).
O manual é composto por seções e subseções. As seções representam os serviços,
setores ou unidades, com características semelhantes, para que a instituição seja avaliada
segundo uma consistência sistêmica; as subseções tratam do escopo de cada serviço, setor
ou unidade, segundo três níveis, do mais simples ao mais complexo, sempre com um
processo de incorporação dos requisitos anteriores de menor complexidade (CIPRIANO,
2004). Cada subseção é composta por padrões que procuram avaliar estrutura, processo e
resultado dentro de um único serviço, setor ou unidade, sempre de forma interligada, onde
o “funcionamento de um componente interfere em todo o conjunto e no resultado final”
(CIPRIANO, 2004). Cada padrão é constituído por uma definição e uma lista de itens de
orientação que auxiliam na identificação do que se busca avaliar. Além disso, são divididos
por níveis, de acordo com seus princípios norteadores, conforme ilustrado no quadro 2. Um
nível superior só é alcançado quando o anterior tiver sido atingido (LABBADIA et al., 2004).
38

Quadro 2: Características, princípios orientadores e tipo de certificações adotado pela ONA


PRINCÍPIO TIPO DE
NÍVEL CARACTERÍSTICA INSTITUCIONAL VALIDADE
ORIENTADOR CERTIFICADO
Atende aos requisitos formais,
técnicos e de estrutura para a sua
atividade conforme legislação
1 Segurança Acreditada 2 anos
correspondente. Identifica riscos
específicos e os gerencia com foco
na segurança.
Gerencia os processos e suas
interações sistemicamente;
Estabelece sistemática de medição e
Organização Acreditada
2 avaliação dos processos. Possui 2 anos
(Processos) Plena
programa de educação e
treinamento continuado, voltado
para a melhoria de processos.
Utiliza perspectivas de medição
organizacional, alinhadas às
estratégias e correlacionadas aos
indicadores de desempenho dos
processos. Dispõe de sistemática de
Excelência na Acreditada
comparações com referenciais
3 Gestão com 3 anos
externos pertinentes, bem como
(Resultados) Excelência
evidências de tendência favorável
para indicadores. Apresenta
inovações e melhorias
implementadas, decorrentes do
processo de análise crítica.
Fonte: Adaptado de ONA, 2010.

Os parâmetros de qualidade adotados pela ONA têm passado por constantes


adequações, para atendimento às exigências internacionais de gestão de riscos com foco na
melhoria da segurança do paciente que, desde o ano 2000, tem sido tratada como questão
de alta prioridade pela OMS (ANVISA, 2013). Dentre as várias iniciativas relacionadas ao
assunto, o marco de confluência do movimento global ocorreu em 1999, com a publicação
do relatório sobre erros relacionados com a assistência à saúde, intitulado To err is human:
building a safer healh system (ANVISA, 2013). Outro marco importante deu-se em 2004,
quando a OMS lançou formalmente a Aliança Mundial para a segurança do paciente na 57ª
Assembléia Mundial da Saúde, recomendando aos países maior atenção ao tema, através do
despertar da consciência e do comprometimento político (ANVISA, 2013).
39

Desde então, várias nações vêm se articulando para cumprir as ações previstas na
aliança, através do lançamento de planos e alertas técnicos que concorram para a garantia
da segurança dos pacientes e a qualidade da assistência prestada, com base em metas
internacionais (ANVISA, 2013). No Brasil, o assunto ganhou força legal em 2013 com a
publicação da RDC 36, que institui ações para a promoção da segurança do paciente e
melhoria da qualidade dos serviços de saúde, a partir da criação de núcleos de
gerenciamento do risco para vigilância, monitoramento e notificações de eventos adversos.
Entre os eventos de interesse encontram-se aqueles relacionados ao uso de medicamentos,
produtos para saúde e terapias nutricionais (BRASIL, 2013).
Na mesma ocasião, a ONA associou-se a International Society for Quality in Health
Care (ISQUA), uma organização independente, sem fins lucrativos, cuja missão é melhorar a
qualidade e segurança dos cuidados de saúde no mundo. Seu programa de acreditação é
único, porque acredita os acreditadores e confere um reconhecimento mundial para
organizações acreditadas que atendem a padrões internacionalmente aprovados (JCI, 2013).
A acreditação representa uma distinção que a organização de saúde recebe pela
qualificação evidenciada, ao mesmo tempo em que sinaliza para os clientes e comunidade
que alcançou um padrão de gestão do negócio e da assistência externamente reconhecido
(ONA, 2010). Trata-se, portanto, de uma metodologia de consenso, racionalização,
ordenamento dos hospitais e, principalmente, de educação permanente do pessoal destes
serviços e de seus líderes, cujo objetivo final da avaliação será:

(...) demonstração da responsabilidade e comprometimento com a segurança, com


a ética profissional, com a eficiência dos procedimentos que realiza e com a
garantia da qualidade do atendimento, transmitindo, assim, confiança e
credibilidade para os clientes internos e externos, bem como para a sociedade
(ONA, 2010, p.12).

Segundo dados da ONA, em Junho de 2013, foi atingida a marca de mil acreditações
concedidas a partir da sua criação em 1999. Até Setembro de 2013, o Brasil contava com 203
hospitais acreditados pela ONA, em diferentes estágios de evolução no processo da
qualidade (ONA, 2013).
Diante de todo o exposto, conclui-se que a acreditação, como forma de avaliação em
saúde, sedimentou-se como um instrumento de gestão fundamental para garantia da
assistência prestada, na medida em que permite mensurar os esforços de uma organização
40

em relação à qualidade da assistência, sua utilidade e relevância social (LABBADIA et al.,


2004).

2.2.3 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA HOSPITALAR NO CONTEXTO DA ACREDITAÇÃO E DA


CULTURA DA SEGURANÇA

A normatização do SUS, em 1990, suscitou a necessidade de “elaboração de uma


política específica para o setor de medicamentos no Brasil, com o objetivo de garantir acesso
a uma assistência farmacêutica integral” (MAGARINOS-TORRES; OSÓRIO-DE-CASTRO; PEPE,
2007, p. 974). Com esse propósito foi aprovada, em 1998, a Política Nacional de
Medicamentos (PNM), através da Portaria Ministerial No. 3916/1998, visando “garantir a
necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional e
o acesso da população àqueles medicamentos considerados essenciais” (CIPRIANO, 2004,
p.4). Seguindo os preceitos adotados pela OMS, a PNM incorporou a AF como uma diretriz e
a definiu como:

Grupo de atividades relacionadas com o medicamento, destinadas a apoiar as


ações de saúde demandadas por uma comunidade. Envolve o abastecimento de
medicamentos em todas e em cada uma de suas etapas constitutivas, a
conservação e controle de qualidade, a segurança e a eficácia terapêutica dos
medicamentos, o acompanhamento e a avaliação da utilização, a obtenção e
difusão de informação sobre medicamentos e a educação permanente dos
profissionais de saúde, do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional
de medicamentos (BRASIL, 1998, p.22).

Observou-se uma lacuna de dez anos entre o estabelecimento do SUS e as iniciativas


para efetivação da AF como área de atuação do sistema, uma vez que as demandas para a
sua estruturação mantiveram-se reprimidas ao longo desse tempo (VIEIRA, 2008). Somente
a partir de então, o MS intensificou a elaboração de programas, com o propósito de garantir
e melhorar o acesso da população aos medicamentos. Entretanto, ainda observou-se um
descompasso na estruturação de tais programas, em relação aos seus componentes técnicos
(seleção, prescrição, dispensação e uso) e logísticos (programação, aquisição,
armazenamento e distribuição), evidenciando as fragilidades do sistema e suscitando novos
esforços para a reorientação da AF.
Em 2004, foi publicada a Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF),
através da Resolução No. 338 do Conselho Nacional de Saúde, que complementou a PNM e
41

deu maior importância à gestão e aos serviços, especialmente dispensação e atenção. Tal
Resolução “integra as ações de AF e privilegia a efetivação do acesso, da qualidade e da
humanização, como garantias para o uso racional e seguro de medicamentos” (OLIVEIRA,
BERMUDEZ; OSÓRIO-DE-CASTRO, 2007, p.91). Neste contexto, o acesso deixou de restringir-
se ao produto para focar também no usuário, principal beneficiário dos serviços, uma vez
que disponibilizar medicamentos não é o suficiente para melhorar as condições de saúde
dos indivíduos (OLIVEIRA, BERMUDEZ; OSÓRIO-DE-CASTRO, 2007).
Como resultado destas políticas, a AF ganhou amplitude e visão sistêmica, passando a
ser considerada uma das prioridades na assistência à saúde, “face à sua transversalidade
com as demais ações e programas” (CIPRIANO, 2004, p.4). O medicamento transformou-se
em um “insumo estratégico, com forte impacto sobre a capacidade resolutiva dos serviços
de saúde” (CIPRIANO, 2004, p.4), representando gastos que chegam a comprometer até 12%
do orçamento do MS (BRASIL, 2009).
Nasceu aí o entendimento de que a AF é um campo multidisciplinar, cuja visão
sistêmica corporifica-se em um ciclo (figura 1), constituído pelas etapas de seleção,
programação, aquisição, armazenamento, distribuição, dispensação e utilização de
medicamentos, que só se completa na medida em que a atividade anterior tenha sido
adequadamente realizada, gerando produtos próprios com interfaces nas ações da atenção
à saúde (CIPRIANO, 2004).

Figura 1: Ciclo da Assistência Farmacêutica.


Fonte: OLIVEIRA; BERMUDEZ; OSÓRIO-DE-CASTRO, 2007, p.15.
42

As diretrizes da AF, preconizadas na PNM E PNAF, estendem-se a todos os âmbitos de


inserção do medicamento e, portanto, são extensíveis ao ambiente hospitalar, cabendo ao
serviço de farmácia a responsabilidade pelo desenvolvimento das atividades que compõem
tal ciclo.
A FH é definida pela Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH) como
“unidade clínica, administrativa e econômica, dirigida por farmacêutico, ligada
hierarquicamente à direção do hospital e integrada funcionalmente com as demais unidades
administrativas e de assistência ao paciente” (SBRAFH, 2007, p. 8). Tem como principal
objetivo a contribuição “no processo de cuidado à saúde, visando melhorar a qualidade da
assistência prestada ao paciente, promovendo o uso seguro e racional de medicamentos e
produtos para a saúde” (SBRAFH, 2007, p.8). É considerada área estratégica, uma vez que
medicamentos e produtos para saúde são uns dos principais elementos geradores de
despesas nas organizações, transformando a FH no “centro gerador de custo mais
importante do hospital, onde devem dirigir-se todos os esforços, com o propósito de
garantir sua operacionalização, controle e estabelecer qualidade e eficiência em seus
procedimentos” (CIPRIANO, 2004, p. 6).

Assim, neste contexto, o serviço de farmácia requer um gerenciamento único, que


necessita de conhecimento técnico especializado para o desenvolvimento de atividades
administrativas, logísticas e clínicas, organizadas de acordo com o tipo e o nível de
complexidade do hospital onde se insere o serviço e centradas na organização sistêmica da
AF (MAGARINOS-TORRES; OSÓRIO-DE-CASTRO; PEPE, 2007,). Para isso, é fundamental que
as unidades hospitalares disponham de farmácias com infraestrutura física, recursos
humanos e materiais que permitam a integração dos serviços e o desenvolvimento eficiente
das ações sob sua responsabilidade, sobretudo por se tratar de um setor que demanda
elevados valores orçamentários (GONÇALEZ, 2012). Da mesma forma, é imprescindível que o
farmacêutico esteja articulado e integrado com a equipe multiprofissional, atuando na
identificação dos problemas, na sua hierarquização, no estabelecimento de prioridades, na
definição das estratégias e ações para intervenção na perspectiva de que a AF faça parte das
ações globais de saúde (PENAFORTE, 2006; PEREIRA; FREITAS, 2008; SANTANA, 2013).
Face ao exposto, a FH brasileira evoluiu ao longo das últimas décadas, agregando
atribuições e responsabilidades, passando da função essencial de produção e provisão de
43

produtos à preocupação com os serviços e resultados da AF (REIS, 2008), conforme


esquematizado na figura 2.

Figura 2: Evolução do foco da gestão na farmácia hospitalar


Fonte: Adaptado de REIS, 2008.

Apesar do exposto, a FH brasileira ainda é caracterizada por realidades distintas,


onde coexistem desde hospitais sem farmacêuticos até farmácias extremamente modernas
prestando toda a gama de serviços (GONÇALEZ, 2012). Seu desenvolvimento ainda encontra-
se em descompasso com o conjunto de demandas da atenção à saúde, pois historicamente
os procedimentos de aquisição e distribuição consolidaram-se como foco e limite de suas
atividades (BRASIL, 2009).
Somente nos anos mais recentes é que a AF em âmbito hospitalar ganhou corpo nas
discussões institucionais e acadêmicas, incorporando-se a todo o conjunto das ações em
saúde, ao centrar sua atenção no paciente e suas necessidades, mantendo o medicamento
como foco de trabalho (VARELA et al., 2011; SANTANA, 2013). Além da implementação da
farmácia clínica, outros fatores também contribuíram para grandes alterações nas práticas
da FH, com especial destaque para a gestão de produtos para saúde, os novos sistemas de
distribuição, a informatização e a automação de processos com foco na segurança das
operações (SANTANA, 2013).
No Brasil, esforços do MS, ANVISA e SBRAFH buscam assegurar a implantação e o
monitoramento de leis, políticas e recomendações que propiciem o uso seguro de todas as
tecnologias utilizadas na prestação da assistência, bem como o pleno desenvolvimento da
FH. Publicações recentes, discutidas a seguir, refletem o esforço da sociedade acadêmica e
44

do governo para conseguir a adequação dos serviços de farmácia e garantir a efetiva atuação
dos farmacêuticos segundo os conceitos internacionalmente aceitos.
Em revisão realizada por Magarinos-Torres, Osório-De-Castro e Pepe em 2006, foram
identificados sete componentes essenciais para o pleno desenvolvimento das atividades da
FH, destacados no quadro 3.

Quadro 3: Componentes essenciais para o desenvolvimento das atividades da FH brasileira


Componente Objetivo
Prover estrutura organizacional e infraestrutura que viabilizem as ações
Gerenciamento
do Serviço de Farmácia.
Definir os medicamentos necessários para suprir as necessidades do
Seleção de
Hospital segundo critérios de eficácia e segurança, seguidos por
Medicamentos
qualidade, comodidade posológica e custo.
 Definir especificações técnicas e quantidades dos
medicamentos a serem adquiridos, tendo em vista o
estoque, os recursos e prazos disponíveis.
Programação
 Suprir a demanda do hospital, tendo em vista a
Aquisição
qualidade e o custo.
Logística Armazenamento
 Assegurar a qualidade dos produtos em estoque e
fornecer informações sobre as movimentações
realizadas.
Fornecer medicamentos em condições adequadas e
Distribuição
tempestivas com garantia de qualidade do processo.
Disponibilizar informação independente, objetiva e apropriada sobre
Informação medicamentos e seu uso racional a pacientes, profissionais de saúde e
gestores.
Seguimento Acompanhar o uso de medicamentos prescritos a cada paciente
Terapêutico individualmente, assegurando o uso racional.
Elaborar preparações magistrais e oficinais, disponíveis ou não no
Farmacotécnica mercado, e/ou fracionar especialidades farmacêuticas para atender às
Necessidades dos pacientes, resguardando a qualidade.
 Formar recursos humanos para a FH e para a assistência farmacêutica.
Ensino e
 Produzir informação e conhecimento que subsidiem o aprimoramento
pesquisa
das condutas e práticas vigentes.
Fonte: Adaptado de MAGARINOS-TORRES; OSÓRIO-DE-CASTRO; PEPE, 2006. p.975

Outra iniciativa importante foi a publicação pela SBRAFH, em 2007, do guia com
padrões mínimos para FH e serviços de saúde, no qual são reconhecidas seis grandes
atribuições essenciais para a organização e a provisão da AF nos hospitais brasileiros,
detalhadas a seguir:
45

Gestão:
 Estabelecer a sua missão, valores e visão de futuro;
 Definir organograma, preferencialmente celular, da Farmácia, inserido no organograma
institucional;
 Formular, implementar e acompanhar o planejamento estratégico para o cumprimento de
sua missão;
 Estabelecer indicadores para a avaliação do desempenho do serviço;
 Acompanhar e/ou monitorar a implementação das ações estabelecidas;
 Avaliar continuamente o estabelecimento de ações preventivas ou correção das não
conformidades;
 Prover corpo funcional capacitado, dimensionado adequadamente às necessidades do
serviço;
 Estabelecer atribuições e responsabilidades do corpo funcional;
 Promover treinamentos necessários e educação permanente do corpo funcional;
 Elaborar e revisar continuamente o Manual de Procedimentos Operacionais Padrão;
 Qualificar, quantificar e o gerenciar logística de suprimento de medicamentos e produtos
para saúde;
 Realizar acompanhamento do desempenho financeiro/orçamentário;
 Analisar custos das terapias medicamentosas de impacto econômico no hospital;
 Participar de comissões responsáveis pela formulação de políticas e procedimentos
relacionados à assistência farmacêutica (Comissão de Farmácia e Terapêutica, Comissão
de Controle de Infecção Hospitalar, Comissão de Ética, Comissão de Suporte Nutricional e
Comissão de Gerenciamento de Resíduos de Saúde, Comissão de Avaliação de
Tecnologias, Comissão de Riscos Hospitalares, dentre outras).

Desenvolvimento de infraestrutura:
 Disponibilizar equipamentos e instalações adequadas ao gerenciamento de suprimentos;
 Implantar um sistema de gestão informatizado;
 Disponibilizar recursos para a informação e comunicação;
 Disponibilizar salas para prática de atividades farmacêuticas, respeitando suas
necessidades técnicas;
 Disponibilizar serviços de manutenção, para assegurar o pleno funcionamento das
tecnologias disponíveis e instalações físicas;
 Implantar e manter sistemas de arquivo.

Preparo, distribuição, dispensação e controle de medicamentos e produtos para saúde:


 Armazenar, distribuir, dispensar e controlar dos medicamentos e produtos para saúde
usados pelos pacientes internados e ambulatoriais do hospital;
46

 Preparar, fracionar e reembalar medicamentos em condições ambientais (estrutura física),


tecnológicas (equipamentos) e pessoais (quantitativo e capacitação) adequadas ao grau
de complexidade da manipulação proposta, seja ela estéril ou não estéril;
 Implantar sistema racional de distribuição, de forma a buscar processos que promovam maior
segurança para o paciente;
 Analisar as prescrições médicas antes da dispensação, observando minimamente presença da
assinatura e identificação do prescritor, legibilidade, nome do medicamento, concentração,
dose, via de administração, posologia, incompatibilidades, interações medicamentosas,
diluentes e velocidade de infusão.

Otimização da terapia medicamentosa:


 Elaborar o perfil farmacoterapêutico dos pacientes, incluindo:
 Levantar história medicamentosa de pacientes pré-selecionados contida no prontuário do
paciente;
 Analisar prescrição médica quanto a seus componentes, quantidade, qualidade,
compatibilidade, interações, possibilidade de reações adversas e estabilidade, entre outros
aspectos relevantes;
 Monitorar a terapêutica farmacológica, em especial os casos com baixa adesão ao tratamento,
em uso de medicamentos potencialmente perigosos, em uso de medicamentos com maior
potencial de produzir eventos adversos, em uso de medicamentos de alto custo, crianças e
idosos;
 Participar na decisão do plano terapêutico;
 Avaliar continuamente a resposta terapêutica;
 Elaborar e implantar sistema de farmacovigilância.

Informação sobre medicamentos e produtos para saúde:


 Prover à equipe de saúde, estudantes e pacientes, informações técnico-científicas adequadas
sobre eficácia, segurança, qualidade e custos dos medicamentos e produtos para saúde a
partir de fontes adequadas de informações primárias, secundárias e terciárias, isentas e
atualizadas;
 Prover informações, baseadas em evidências, às comissões de farmácia e terapêutica,
licitações, controle de infecções, terapia nutricional, comitê de ética em pesquisa,
gerenciamento de riscos, gerenciamento de resíduos de saúde e avaliação de tecnologias;
 Registrar informações prestadas e intervenções farmacêuticas realizadas.

Ensino, educação e pesquisa:


 Promover, participar e apoiar ações de educação permanente, ensino e pesquisa nas suas
diversas atividades administrativas, técnicas e clínicas, com a participação de farmacêuticos,
demais profissionais e estudantes
47

Estes parâmetros foram reforçados com a recente publicação da Portaria Ministerial


4283/2010, que estabeleceu as novas diretrizes de atuação da FH e a definiu como:

Unidade clínico-assistencial, técnica e administrativa, onde se processam as


atividades relacionadas à assistência farmacêutica, dirigida exclusivamente por
farmacêutico, compondo a estrutura organizacional do hospital e integrada
funcionalmente com as demais unidades administrativas e de assistência ao
paciente (BRASIL, 2010, p.94).

Tais diretrizes visam assegurar o acesso da população a serviços farmacêuticos de


qualidade em hospitais, com foco na gestão estratégica, centrada na segurança, eficiência,
qualidade e racionalidade (Quadro 4).

Quadro 4: Diretrizes para a FH brasileira segundo MS


Desenvolvimento de ações inseridas na atenção integral à saúde:
 Gerenciamento de tecnologias
o Qualificação de fornecedores;
o Armazenamento, distribuição, dispensação e controle de medicamentos,
produtos para a saúde, produtos de higiene e saneantes usados pelos
pacientes;
Gestão o Avaliação farmacêutica das prescrições
 Manipulação
o Manipulação magistral e oficinal;
o Preparo de doses unitárias e unitarização de doses de medicamentos;
o Manipulação de nutrição parenteral, antineoplásicos e radiofármacos
 Cuidado ao paciente
Infraestrutura física, tecnológica e gestão da informação
Recursos humanos
Informação sobre medicamentos e outras tecnologias em saúde
Ensino, pesquisa e educação permanente em saúde
Fonte: Adaptado de BRASIL, 2010, p. 94.

Destaca-se o reconhecimento da necessidade de inserção do profissional


farmacêutico na equipe multidisciplinar, com atividades centradas no paciente, destacando
a visão integral do cuidado e a humanização da atenção. Além disso, ressaltou que o elenco
48

de atividades a serem desempenhadas pela farmácia dependerá da complexidade dos


hospitais, bem como da disponibilidade de tecnologia e recursos humanos.
Outro ponto de suma importância foi a revogação da Portaria 316/77, que isentava
hospitais com menos de 200 leitos da contratação de farmacêuticos, reforçando as
premissas estabelecidas para a prática da AF na PNAF, ao apresentar o conceito de serviços
farmacêuticos hospitalares como um direito da sociedade. A partir de sua publicação, a
Portaria 4283/2010 passou a ser mais um dos instrumentos na defesa da excelência dos
serviços farmacêuticos em hospitais, ressaltando que a atividade do farmacêutico no
cuidado ao paciente pressupõe:

O acesso a ele e seus familiares, ao prontuário, resultados de exames e demais


informações, incluindo o diálogo com a equipe que assiste o paciente, tendo como
garantia legal o registro às informações relevantes para a tomada de decisão da
equipe multiprofissional, bem como sugestões de conduta no manejo da
farmacoterapia, assinando as anotações apostas (BRASIL, 2010, p.95).

Uma outra referência igualmente importante é o guia com os parâmetros mínimos


para FH, publicado pela American Society of Health-System Pharmacists (ASHP) em 2013. Tal
documento serve de base para as recomendações emitidas pelos organismos internacionais
de acreditação, uma vez que medicamentos e demais insumos fornecidos pela FH, como
tecnologias em saúde, inserem obrigatoriamente as atividades relacionadas a este serviço
nas rotas de avaliação da qualidade, como forma de garantir a segurança do paciente, a
eficiência e a qualidade dos serviços prestados. Este guia permite um maior
aprofundamento quanto às práticas exercidas pela FH, em relação à gestão, aquisição,
preparação, embalagem, rotulagem, dispensação, administração e uso de medicamentos,
otimização e avaliação da eficácia da terapia medicamentosa, monitoramento de
tecnologias, ensino e pesquisa. Além disso, preenche importantes lacunas deixadas pelas
publicações nacionais, amplamente discutidas neste trabalho, ao exaltar a missão dos
farmacêuticos em ajudar a população a fazer o melhor uso dos medicamentos, não somente
focando no provisionamento e o acesso, mas principalmente nos resultados obtidos pela
prestação de seus serviços (ASHP, 2013).
Sendo assim, todos esses esforços, somados à participação das instituições de saúde
em programas de qualidade, impulsionaram o desenvolvimento da FH, na medida em que
aumentaram a consciência dos gestores quanto à necessidade de investimentos, uma vez
49

que a busca pela qualidade na AF é uma ação estratégica em saúde, que garante, sobretudo
eficiência das operações e segurança dos pacientes (CIPRIANO, 2004).
Várias das atividades que podem potencialmente causar danos aos pacientes estão
relacionadas a erros na utilização de medicamentos e outras tecnologias em saúde, sendo a
FH um dos atores principais deste cenário, já que a AF compreende um número considerável
de processos (OSÓRIO-DE-CASTRO; CASTILHO, 2004). A realização inadequada de qualquer
dos componentes do ciclo da AF pode expor pacientes a não solução de seus problemas de
saúde, ou mesmo, à possibilidade de agravamento do quadro clínico, seja pela
indisponibilidade de insumos necessários ao cuidado, pelo surgimento de eventos adversos
ou ainda pela ocorrência de erros de medicação (BATES et al., 1997; FAUS; MUÑOZ;
MARTINEZ, 2008).
Erro de medicação é definido como “qualquer evento evitável que, de fato ou
potencialmente, pode levar ao uso inadequado do medicamento” (ANVISA, 2013). Incluem
erros de prescrição, dispensação e administração, que podem ocorrer em mais de uma
etapa da cadeia de utilização de medicamentos (ASHP, 1993).
Falhas na dispensação significam o rompimento de um dos últimos elos na segurança
do uso dos medicamentos, demonstram fragilidade no processo de trabalho e indicam, em
uma relação direta, riscos maiores de ocorrência de acidentes graves (ANACLETO; PERINI;
ROSA, 2005). Quando os medicamentos são prescritos e/ou utilizados de maneira
inadequada, ou ainda quando os serviços farmacêuticos não estão bem estruturados e
organizados, observa-se o aumento dos riscos de agravos à saúde e dos custos envolvidos e,
acima de tudo, o não cumprimento da função para a qual existem: melhorar efetivamente a
qualidade de vida da população (BRASIL, 2009). Neste sentido, cabe à FH buscar estratégias
que viabilizem a realização plena de seu potencial de contribuição para a prevenção de
erros, garantindo a segurança do paciente hospitalizado, através do fornecimento de
medicamentos e produtos para saúde de forma interdisciplinar, racional, efetiva e
resolutiva, premissas essenciais de um atendimento de qualidade (MAGARINOS-TORRES;
OSÓRIO-DE-CASTRO; PEPE, 2007).
Assim, ao avaliar todo o ciclo da AF no âmbito hospitalar é possível atuar em pelo
menos três pontos, a fim de garantir a qualidade do atendimento e a segurança dos
pacientes: prescrição médica, dispensação e administração. As estratégias de prevenção de
erros baseiam-se fundamentalmente no desenvolvimento de sistemas de utilização seguros,
50

sendo necessário um contínuo esforço de revisão de processos e envolvimento da equipe.


Dentre as possíveis estratégias recomendadas pela ASHP (1993), destacam-se
resumidamente:

 Seleção adequada dos medicamentos e produtos para saúde empregados na


instituição, com adoção de guia farmacoterapêutico.
O guia farmacoterapêutico é identificado como instrumento de informação e gestão,
sendo referência para a comunidade hospitalar. Nele constam todos os
medicamentos e formulações padronizados pelo hospital, garantindo a racionalidade
das prescrições, além da adoção de condutas éticas e recomendáveis (PENAFORTE,
2006).
 Revisão da prescrição médica pelo farmacêutico antes da dispensação.
O farmacêutico é o único profissional apto a avaliar a prescrição médica, devido a sua
formação especializada, contribuindo para a formação de um elo que intensifica a
relação entre estes dois profissionais e o paciente (PENAFORTE, 2006). Esta é uma
etapa diária e fundamental para identificação, prevenção e redução de erros e
eventos adversos, na medida em que possibilita, dentre outros aspectos, a
adequação dos medicamentos prescritos aos protocolos institucionais, o ajuste de
doses e regimes posológicos, a identificação de incompatibilidades físico-químicas, a
avaliação das vias de administração, diluições empregadas e tempo de infusão, a
detecção de alergias, duplicidades terapêuticas e interações medicamentosas
importantes, entre outros aspectos (PENAFORTE, 2006).

 Participação ativa do farmacêutico no desenvolvimento, implementação e


monitoramento do plano terapêutico, junto da equipe multidisciplinar, com registro
sistemático de suas intervenções e avaliação contínua de processos.
Publicações recentes destacam resultados positivos decorrentes da presença efetiva
do farmacêutico junto à equipe de saúde, permitindo significativa redução no tempo
de internação e melhora da qualidade e segurança do atendimento, em razão do
acompanhamento e gerenciamento da terapia medicamentosa. Kilroy e Lafrate
(1993) destacaram que durante um período de quatro anos, todos os pedidos
médicos foram revisadas por um farmacêutico clínico em terapia intensiva. Como
resultado, 724 erros foram evitados, 9 potencialmente fatais, 155 graves, 361
moderados e 199 pouco significativos. Em uma revisão sistemática publicada em
2006, Kaboli e seus colaboradores reconheceram que farmacêuticos clínicos são um
recurso essencial para o uso seguro e racional de medicamentos e que sua
participação nos rounds (visitas médicas) proporciona maior interação equipe-
paciente, reduz a mortalidade, os custos com tratamentos e os eventos adversos,
melhorando a qualidade, segurança e efetividade do atendimento. Marshall, Finn e
Theodore (2008) mostraram que a presença ativa de um farmacêutico na UTI pode
facilitar a adesão a protocolos de sedação e reduzir com isso o tempo de ventilação
mecânica e, consequentemente, a morbidade imposta pela internação em UTI.
51

 Adoção de políticas para aquisição, armazenamento, dispensação e uso de


medicamentos e produtos para saúde, com destaque especial para os medicamentos
potencialmente perigosos.

 Adoção de sistemas de distribuição seguros.

Tal iniciativa garante a dispensação de medicamentos na forma mais pronta possível


para uso, evitando a manipulação no posto de enfermagem. Neste caso, a sistema de
distribuição por dose unitária torna-se fortemente recomendado (ANVISA, 2013).

 Redução de estoques satélites.

A FH deve responsabilizar-se pelo gerenciamento dos medicamentos e outras


tecnologias nas organizações de saúde. Neste caso, é recomendável que os serviços
farmacêuticos estejam disponíveis durante 24 h, garantindo que a dispensação
ocorra sempre a partir da farmácia para pacientes específicos, exceto em situações
de emergência, com a qualidade e integridade necessárias (ANVISA, 2013).

 Ações de fármaco e tecnovigilância.

Tais ações incluem o recebimento e análise de notificações, feitas pelos diferentes


usuários ou identificadas a partir de busca ativa, que resultarão em ações de
prevenção ou minimização de riscos, a partir da reorientação da prescrição,
dispensação e uso de medicamentos e outras tecnologias, assegurando o seu uso
racional (CAPUCHO, 2008).

 Informação apropriada, segura e disponível a qualquer tempo para a equipe de


saúde.
Informação sobre medicamentos é a “integração da localização, análise, adequação e
comunicação da informação sobre medicamentos, geralmente para uso de um
profissional de saúde em decisão visando ao benefício de um paciente” (ASCIONE;
MANIFOLD; PARENTI, 199413 apud GOMES; REIS, 2003). Atualmente, considera-se
imperioso que tanto a equipe de saúde quanto os pacientes de um hospital devam
contar com informações objetivas e independentes sobre medicamentos.
Frequentemente, a documentação que está ao alcance dos profissionais é aquela
proporcionada pela indústria farmacêutica, com alto componente publicitário e
comercial e os serviços de informação de medicamentos (SIM) são alternativas para
facilitar o acesso e a disponibilidade da informação, contribuindo para a
racionalização do uso dos medicamentos (GOMES; REIS, 2003).

 Informatização e automação como meios para evitar erros e efeitos adversos, bem
como garantir a rastreabilidade do processo.
No âmbito hospitalar, a tecnologia da informação (TI) pode ajudar a melhorar o
desempenho, a comunicação e a segurança, na medida em que minimiza a
13
ASCIONE FJ, MANIFOLD, CC, PARENTI MA. Principles of drug information as scientific literature evaluation.
Hamilton (IL): Drug intelligence Publications, 1994.
52

necessidade de interferência humana, resultando em maior velocidade nas


operações, redução de erros, aumento do controle e fidelidade das informações,
elementos essenciais para um gerenciamento eficiente.
O prontuário eletrônico do paciente constitui uma das principais ferramentas
tecnológicas para garantir a segurança do processo de utilização de medicamentos.
Este sistema limita a omissão de dados importantes, controla a informação sobre
alergias medicamentosas, evita prescrições ilegíveis e erros de transcrição. Estima-se
que a prescrição eletrônica, como parte do prontuário, possa evitar 65% dos erros de
medicação (BARRERA et al., 2009). O emprego de código de barras e sistemas
automatizados de distribuição garantem a dupla checagem e a rastreabilidade das
operações, a partir do monitoramento do recebimento, distribuição, dispensação e
administração de insumos mantendo-se o controle sobre o lote e a validade dos
mesmos nos diferentes processos (MALTA, 2010). Além disso, proporciona à FH
“redução no tempo gasto na operação, racionalização da mão de obra e agilização
das atividades desenvolvidas” (MARTINS; GOMES, 2013. P.118).

Recentemente, a ANVISA lançou publicação sobre qualidade e segurança nos serviços


de saúde, cujas propostas de ação e indicadores a serem monitorados pelas instituições se
coadunam com as orientações da ASHP, enfatizando que a cultura da segurança é premissa
fundamental para evitar erros de medicação nas etapas da prescrição, dispensação e
adminsitração (ANVISA, 2013).
A incessante busca pela redução de riscos na FH, como premissa de segurança, nada
mais é que o reflexo da uma mudança de consciência profissional, fortemente estimulada
pelos aparatos legais e pelos movimentos de qualidade em saúde, que acabam por resultar
em incremento de qualidade na AF. É justamente nesse contexto que a acreditação de
serviços de saúde surge como estratégia promissora para alcançar os mais elevados padrões
em um serviço de FH, na medida em que impõe o cumprimento da legislação e de
parâmetros de qualidade expressamente ligados ao tripé estrutura-processo-resultados,
tomando como base as recomendações emitidas pelas sociedades competentes no assunto,
discutidas anteriormente (CIPRIANO, 2004).
A FH está inserida no manual brasileiro de acreditação, na seção denominada
atenção ao paciente/cliente (MA 2), subseção assistência farmacêutica (MA 2/18). O manual
adota a definição de AF preconizada pela PNM e exige iniciativas que culminam em novas
competências profissionais, mudanças comportamentais, mobilização gerencial, inovações
estruturais e tecnológicas, além da melhoria permanente e contínua do atendimento
(CIPRIANO, 2004). Engloba a identificação de todos os fornecedores e clientes, processos e
53

políticas institucionais, bem como os produtos finais dos serviços prestados, prezando a total
satisfação e máxima obtenção de resultados (KÜHNER, 2005). Para isso, exige o
desenvolvimento de padrões, gerenciamento de processos, gestão participativa,
desenvolvimento humano, constância de propósito, comunicação e disseminação de
informações, garantia da qualidade e busca contínua pela perfeição (KÜHNER, 2005). Os
padrões especificam os requisitos mínimos, considerados essenciais, para a estruturação de
uma prática farmacêutica segura e integrada aos demais elementos da assistência ao
paciente.
Para conquista do primeiro nível da acreditação no âmbito da AF, os padrões estão
diretamente relacionados à organização e estrutura do serviço, no que tange os recursos
físicos, humanos, materiais, tecnológicos e financeiros (quadro 5). Para obtenção do selo de
acreditado pleno, a FH deverá evidenciar as interações com seus fornecedores e clientes,
padronizando e documentando os processos inerentes às operações, estabelecendo
sistemática de medicação de resultados com uso de indicadores de desempenho e tratando
as oportunidades de melhorias, apontadas como não conformidades processuais.
Finalmente, para tornar-se acreditada com excelência, a FH deverá gerenciar seus processos
e resultados, estabelecendo sistemáticas de comparações com referenciais externos, com
intuito de promover planos de melhorias contínuas na tríade estrutura-processos-
resultados, a partir do estabelecimento da relação de causa-efeito (ONA, 2010).
Diante do exposto, a busca por melhores qualificações para os serviços de saúde,
especialmente através da acreditação, tem contribuído para a adequação da FH, tornando-
se um caminho dos mais promissores para o seu desenvolvimento, a partir da
disponibilidade adequada de medicamentos e outras tecnologias, da sua qualidade e
conservação, da efetividade e segurança da terapêutica e sobretudo da eficiência das suas
atividades, capazes de promover a melhoria das condições de assistência à saúde e um
atendimento cada vez mais humanizado.
54

Quadro 5: Requisitos do padrão para acreditação na FH


 Profissionais com capacitação compatível, dimensionados à complexidade e perfil da
organização;
 Condições operacionais e de infraestrutura que permitam a execução das atividades
relacionadas à AF, considerando o perfil do serviço;
 Critérios e procedimentos de segurança para utilização e manuseio de materiais,
produtos e medicamentos;
 Gerenciamento do fluxo e demanda do serviço;
 Planejamento multidisciplinar para a estruturação do plano terapêutico;
 Avalia tecnicamente as prescrições;
 Disponibiliza e dispensa medicamentos assegurando a administração de doses
indicadas nos intervalos definidos e no período de tempo indicado;
 Evidências do monitoramento da indicação de medicamentos e realização de
procedimentos;
 Monitora as ações de esclarecimento ao paciente e/ou responsável;
 Comunicação efetiva com as áreas assistenciais e de apoio para assegurar a
continuidade da assistência;
 Processos farmacotécnicos que permitam obter boa qualidade de matéria-prima e
produto acabado;
 Desenvolvimento de ações de farmacovigilância;
 Sistema de informação com registros atualizados sobre o atendimento que assegure a
continuidade de cuidados;
 Mecanismos de validação dos procedimentos de rastreabilidade da informação;
 Assegura o suporte técnico e promove educação permanente dos profissionais de
saúde;
 Define planos de contingência;
 Monitora a qualificação dos fornecedores críticos;
 Monitora a manutenção preventiva e corretiva das instalações e equipamentos,
incluindo a calibração;
 Cumpre as diretrizes de prevenção e controle de infecção;
 Sistema de notificação e gerenciamento de eventos sentinela;
 Gerencia os resíduos
Fonte: ONA, 2010, p.117

2.3 GRUPO FOCAL

Nas palavras de Morgan14 (1996, apud BERENGER; ELLIOT; PARREIRA, 2012, p.230),
GF pode ser definido como “uma técnica de pesquisa que coleta dados por meio da

14
MORGAN, D.L. Focus Groups. Annual Review of Sociology, Palo Alto, v.22, p129-152, ago., 1996.
55

interação grupal, em um tópico determinado pelo pesquisador”, permitindo a exploração de


como os fatos são articulados, censurados, confrontados e alterados. Essa técnica facilita a
formação de ideias novas e originais, gera possibilidades contextualizadas pelo próprio
grupo de estudo, oportuniza a interpretação de crenças, valores, conceitos, conflitos, e
opiniões, possibilitando estreitamento em relação ao tema (RESSEL et al., 2008).
Os debates em grupo como forma de descobrir ideias remontam à época de Platão.
Entretanto, seu emprego como método e instrumento científico remonta à década de 40,
quando Robert Merton o empregou como instrumento complementar de esclarecimento em
trabalho com os soldados na segunda guerra mundial (BERENGER; ELLIOT; PARREIRA, 2012).
A partir da década de 1960, os debates de grupo foram extensivamente utilizados em
estudos de marketing e, a partir de 1970, o seu uso estendeu-se à antropologia e programas
de avaliação em educação e saúde, tanto quantitativas quanto qualitativos, passando a ser
largamente empregados em projetos de pesquisa (BERENGER; ELLIOT; PARREIRA, 2012).
Vários autores (RESSEL et al., 2008; MAZZA; MELO; CHIESA, 2010; SMEHA, 2010;
BACKES et al., 2011) têm empregado esta técnica em processos de avaliação em saúde, mais
especificamente em estágios exploratórios de uma pesquisa, quando se quer ampliar a
compreensão e a avaliação a respeito de um programa ou serviço, podendo ou não ser
utilizada em um estudo preliminar para posterior construção de instrumentos ou ainda estar
associado a outras técnicas de coleta de dados concomitantemente. “Ela é especialmente
apropriada nas pesquisas qualitativas, que objetivam explorar um foco” (RESSEL et al., 2008,
p.780).
Kind (2004) ressalta que, quando utilizado como técnica de coleta de dados, o GF
deve possibilitar a realização de ao menos dois grupos de discussão para cada tema
sugerido, a fim de garantir a saturação, evitando a superficialidade. A organização e o
planejamento criterioso de cada encontro refletirão nos resultados, permitindo maior
fidedignidade nos dados. A composição do grupo, o número de participantes, a
homogeneidade ou heterogeneidade dos mesmos, os recursos tecnológicos utilizados, o
local da realização e a organização dos encontros devem ser definidos previamente, a partir
dos propósitos da pesquisa (BERENGER; ELLIOT; PARREIRA, 2012). Recomenda-se que o
número de participantes, de cada grupo, varie de seis a quinze integrantes e que exista ao
menos um ponto de semelhança entre eles, já que a formação do GF é intencional. O tempo
de duração de cada encontro não deve ser superior a duas horas, a fim de evitar o cansaço e
56

desgaste mental. Já o local de realização deve ser agradável, acolhedor e de fácil acesso para
os participantes. A construção e o uso de guia, norteador dos temas, ajuda a sistematizar
questões e objetivos para cada GF, mantendo a discussão em foco, com o aprofundamento
necessário (RESSEL et al., 2008). A qualidade da discussão dos grupos deve ser garantida pela
presença de um moderador, que assumirá o papel de facilitador dos temas para discussão,
dando ênfase aos processos psicossociais que emergem do grupo, a partir das
multiplicidades de pontos de vista e processos emocionais ancorados na experiência
cotidiana dos participantes. Além disso, é desejável a presença de um observador, com a
finalidade de registrar os acontecimentos no decorrer dos encontros, considerando os
aspectos verbais e não verbais (RESSEL et al., 2008; MAZZA; MELO; CHIESA, 2010).
Na área de farmácia, mais especificamente, a técnica vem se fazendo cada vez mais
presente, ainda que de forma tímida. Yokaichiya (2004) utilizou o GF com equipes de
farmácia dos serviços de saúde do município de São Paulo, para conhecer as percepções dos
profissionais que atuam na dispensação de medicamentos às pessoas vivendo com a
síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA), tanto no que diz respeito às atividades do
seu cotidiano como aos aspectos gratificantes e estressantes dessa atividade. Galato e
colaboradores (2006) desenvolveram pictogramas com informações sobre utilização de
medicamentos, a partir dos resultados obtidos com o emprego do GF. Já Yokaichiya,
Figueiredo e Schraiber (2007) procuraram compreender as percepções de farmacêuticos,
técnicos e auxiliares, de unidades assistenciais do programa de doenças sexualmente
transmissíveis (DST) do município de São Paulo, sobre o seu papel nos desafios assistenciais
na adesão aos antirretrovirais por usuários de drogas injetáveis. McGrath e colaboradores
(2008) identificaram as percepções de médicos sobre o gerenciamento da terapia
medicamentosa promovida por farmacêuticos em farmácias comunitárias. Naves e
colaboradores (2010) investigaram a ocorrência da automedicação, suas motivações e a
qualidade do atendimento em farmácias a partir da realização de três grupos focais em um
serviço de referência para o tratamento de DST em Brasília.
Os estudos em questão reforçam a técnica como estratégia metodológica de
pesquisas qualitativas, avaliando aspectos relacionados à educação, promoção, programas e
projetos no âmbito da AF, reforçando a premissa de que é possível explorar o caráter
polissêmico da qualidade em qualquer área de atuação.
57

3. METODOLOGIA

O presente estudo é definido como descritivo, pois buscou descrever as


características de determinada população ou fenômeno (GIL, 1996). Pode ser classificado,
quanto aos fins, como exploratório, pelo fato dos estudos desenvolvidos sobre a temática
em questão serem, ainda, incipientes no Brasil. A pesquisa exploratória proporciona a
formação de ideias para o entendimento do conjunto do problema, atitudes e
comportamentos das pessoas (CIPRIANO, 2004). Ela é frequentemente utilizada na geração
de hipóteses e na identificação de variáveis que devem ser incluídas na pesquisa.
Já quanto aos meios de investigação, a pesquisa é classificada como de campo,
utilizando-se do método de estudo de casos múltiplos, porque foi realizado no local onde o
fato ocorre. Conforme Yin (2005), o estudo de caso investiga fenômenos contemporâneos
inseridos em algum contexto da vida real, quando as fronteiras entre fenômeno e contexto
não são muito claras e são utilizadas múltiplas fontes de evidência.

3.1 DETERMINAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO

Para o presente estudo, foram selecionados os hospitais privados, acreditados no


Estado do Rio de Janeiro, com certificados válidos e homologados pela ONA até Abril de
2012, pertencentes a uma grande operadora de saúde.
Com base neste critério, do universo de doze hospitais acreditados no Rio de Janeiro
pela ONA, seis estavam aptos a compor população da pesquisa. Entretanto, um deles
recusou-se a participar, reduzindo a amostra para um total de cinco hospitais.
Para fins de identificação e cumprimento dos requisitos éticos, os hospitais foram
designados por um código alfanumérico, correspondente à letra H, de hospital, e números
que irão variar de 1 a 5, conforme a ordem de aceitação da participação na pesquisa. Sendo
assim, os hospitais serão tratados por H1, H2, H3, H4 e H5.

3.2 SUJEITOS DA PESQUISA

O critério de inclusão dos entrevistados foi a efetiva participação em qualquer das


etapas do processo de acreditação na unidade hospitalar em questão, tanto gestores quanto
profissionais da assistência, lotados no serviço de farmácia ou clientes deste. Como critério
58

de exclusão foi considerado apenas o fato do profissional ter sido transferido ou desligado
da instituição durante o processo de acreditação, não tendo, portanto, vivenciado sua
conclusão.
Desta forma, participaram do estudo os farmacêuticos gestores, assim como um de
seus assistentes e os stakeholders, clientes internos do serviço de farmácia, aqui
representados por enfermeiros, ocupando cargos de gerência na unidade hospitalar, além
de gestores da qualidade. Vale ressaltar que nenhum dos gestores de qualidade era
farmacêutico.

3.3 COLETA DE DADOS

O desenvolvimento deste estudo ancorou-se na aplicação de um instrumento


investigativo e na técnica do GF, buscando assumir uma perspectiva pluridimensional, ao
considerar aspectos objetivos e subjetivos da qualidade. Para maior clareza do texto, serão
tratados separadamente os processos de coleta de dados de caracterização das unidades e
do GF.

3.3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS HOSPITAIS E DOS SERVIÇOS DE FARMÁCIA

Por se tratar de uma pesquisa relacionada à qualidade em serviços de saúde, foi


adotada a abordagem proposta por Donabedian (1988), com foco no eixo estrutura,
processo e resultado, por meio do emprego de questionário estruturado para
autoadministração.
Para elaboração dos questionários, foi realizado um levantamento bibliográfico,
visando identificar variáveis de qualidade que pudessem embasar a avaliação do impacto da
acreditação nos serviços de farmácia. Foram consultadas publicações nacionais e
internacionais sobre o tema, recuperadas a partir da BVS para acesso às bases de dados
Lilacs, Scielo, Medline, WHOLIS e PAHO, empregando-se as seguintes palavras-chave:
hospital, serviço de farmácia hospitalar, qualidade, avaliação e acreditação. O quadro 6
apresenta os estudos selecionados e empregados como referencial teórico, com breve
descrição dos seus objetivos.
59

Quadro 6: Publicações empregadas como referencial teórico para elaboração dos


questionários de pesquisa.
Sequencia Publicação
Objetivos
Numérica (autor/ ano)
Identificar, sistematizar e propor conjunto de indicadores
1 CIPRIANO, 2004 para monitoramento e gestão das atividades da FH, como
contribuição ao processo de acreditação hospitalar.
OSÓRIO-DE-CASTRO;
2 Realizar o diagnóstico da FH no Brasil.
CASTILHO, 2004
Desenvolver metodologia que determine tipologia dos
3 MESSEDER, 2005 serviços de FH, de acordo com desempenho das atividades
desenvolvidas, considerando a complexidade hospitalar.
Estudar a prática de farmacêuticos na assistência
4 PENAFORTE, 2006
farmacêutica em hospital universitário.
Desenvolver método de análise do desempenho dos
MESSEDER; OSÓRIO- serviços de FH, considerando o nível de complexidade do
5 DE-CASTRO; hospital em que está inserido e a interdependência das
CAMACHO, 2007 atividades, visando hierarquização dos serviços em termos
dos elementos de estrutura e processo.
Discutir a produção científica da FH brasileira direcionada à
MAGARINOS-TORRES;
internação, visando compreender o marco teórico, a
6 OSÓRIO-DE-CASTRO;
abordagem adotada, as características e prioridades do
PEPE, 2007
serviço.
Recomendar padrões mínimos que sirvam de guia para
7 SBRAFH, 2007 organização de unidades de FH e provisão de assistência
farmacêutica nos hospitais brasileiros.
Realizar uma avaliação das FH em hospitais estaduais do Rio
8 SILVA, 2010
de Janeiro.
Conceber diretrizes e relacionar estratégias, para organizar,
fortalecer e aprimorar as ações da assistência farmacêutica
9 BRASIL, 2010 em hospitais, tendo como eixos estruturantes a segurança e
a promoção do uso racional de medicamentos e de outras
tecnologias em saúde.
Servir como um guia básico para a provisão de serviços de
10 ASHP, 2013
FH.
Fonte: elaboração própria .

Foram desenvolvidos dois questionários, para caracterização do cenário do estudo:

a) Questionário de pesquisa para caracterização do hospital (Apêndice 1);


b) Questionário de pesquisa para caracterização da FH (Apêndice 2);

O questionário de caracterização do hospital (apêndice 1) é constituído por


perguntas fechadas, para levantamento dos dados institucionais. Foi enviado, por meio
eletrônico, à pessoa indicada pelo Diretor da unidade hospitalar e a respectiva devolução
ocorreu através de correio ou e-mail. O quadro 7 apresenta os pontos abordados pelo
60

questionário de caracterização do hospital, destacando os estudos que serviram de base


teórica para sua elaboração, identificados conforme sequencia numérica exibida no quadro
6.

Quadro 7: Objetivo e abordagem de questionário de pesquisa para caracterização da


unidade hospitalar
Principais aspectos Referência
Questionário Objetivo
abordados (Quadro 6)
Dimensionar a inserção da  Natureza da assistência
farmácia na estrutura  Nível de atenção
organizacional do hospital,  Corpo clínico
permitindo a descrição e  Quantitativo de leitos
Caracterização classificação da unidade em
 Quantitativo de 1e4
do Hospital relação ao tipo de
funcionários
assistência prestada e às
 Sistema de edificação
características físicas,
administrativas e legais da  Certificações
instituição.
Fonte: elaboração própria

Para caracterização da FH (apêndice 2), foi elaborado um questionário contendo


perguntas fechadas, organizadas em seções temáticas que correspondem a padrões
interligados e versam sobre organograma, estrutura física, atividades desenvolvidas pela
farmácia e inovações tecnológicas empregadas na dispensação. Tal questionário foi
respondido pelo gestor farmacêutico, visando identificar o nível de organização da farmácia,
em relação à estrutura e processos de trabalho, permitindo melhor conhecimento do serviço
e dos resultados da acreditação para a assistência farmacêutica. O quadro 8 apresenta breve
descrição das seções temáticas que compõem o questionário de caracterização da FH, com
destaque para os estudos que serviram de base teórica para sua elaboração, identificados
conforme sequencia numérica exibida no quadro 6.
61

Quadro 8: Objetivos e abordagens das seções temáticas que compõem questionário de


pesquisa para caracterização da FH
Seção Referência
Objetivo Principais aspectos abordados
temática (Quadro 6)
 Caracterizar a FH, analisando aspectos  Estrutura hierárquica do
Organograma

legais e técnicos relativos ao serviço;


organograma e recursos humanos  Quantitativo de 1,2,3,4,
empregados; colaboradores; 7,8,10
 Identificar alterações de quadro  Funções existentes.
decorrentes do processo de acreditação
 Caracterizar a FH, analisando aspectos  Área Física;
legais e técnicos, relativos à sua  Localização no Prédio
dimensão, localização na planta  Documentação;
Estrutura

hospitalar, estrutura física,  Estrutura de 1,2,3,


equipamentos utilizados e organização funcionamento; 4,7,8,10
administrativa;  Organização interna.
 Identificar as modificações resultantes
do processo de acreditação.
 Caracterizar a FH, identificando as  Gerenciamento;
Atividades desenvolvidas pela

atividades desenvolvidas por cada  Participação em comissões;


serviço; 
farmácia hospitalar

Logística;
 Identificar as atividades implantadas ou  Distribuição;
aprimoradas em decorrência do  Fracionamento; 1,2,3,5,
processo de acreditação;  Manipulação; 6,7,8,9,10
 Identificar o nível de impacto na  Farmácia Clínica;
segurança e eficiência do serviço  Informação;
prestado, como resultado das  Ensino;
implantações e aprimoramento das  Pesquisa.
atividades.
 Caracterizar a FH, identificando as  Prontuário eletrônico do
Inovações tecnológicas empregadas na

tecnologias inerentes à dispensação de paciente;


medicamentos;  Prescrição eletrônica;
 Identificar as tecnologias que foram  Aprazamento eletrônico;
implantadas ou aprimoradas em  Registro eletrônico da
decorrência do processo de acreditação; validação farmacêutica na
dispensação

 Identificar o nível de impacto na prescrição médica;


segurança e eficiência da dispensação  Distribuição horária 1,7,8,9,10
como resultado das implantações e automática;
aprimoramentos das tecnologias.  Código de barras;
 Rastreabilidade de lote e
validade;
 Abastecimento automático
de estoques satélites;
 Dispensários eletrônicos.
Fonte: elaboração própria – Pesquisa bibliográfica.
62

O questionário de caracterização da FH foi entregue em mãos ao gestor farmacêutico


da unidade hospitalar. Todos foram acompanhados de uma carta de apresentação, com
instruções gerais sobre o preenchimento. A devolução do questionário foi feita por
postagem ou pessoalmente à pesquisadora.

3.3.2 GRUPO FOCAL

Para conhecimento e compreensão das percepções de farmacêuticos e clientes,


sobre o impacto da acreditação na FH, foi aplicada a técnica do GF, onde entrevista e
observação estavam inseridas.
A seleção da técnica de GF visou permitir aos participantes explorarem seus pontos
de vista, a partir da profunda reflexão sobre o fenômeno e ampla troca de experiências,
buscando respostas pertinentes à questão em investigação, características atribuídas ao
método por BACKES e colaboradores (2011). Para isso foram empregados roteiros
estruturados, norteadores do encontro, contendo as questões a serem tratadas (quadro 9).
O roteiro teve como referencial teórico principal as publicações de Dall´Agnol e Trench
(1999), Ressel (2003), Manzo (2009), Loch-Neckel e Crepaldi (2009), além de Backes e
colaboradores (2011).
A técnica foi aplicada a dois grupos, em momentos distintos: um de farmacêuticos e
outro de partes interessadas. A composição de cada grupo baseou-se na existência de, ao
menos, um ponto de semelhança entre os participantes, representado, neste caso, pelas
atividades desenvolvidas no hospital.

O GF foi conduzido por um moderador, docente com atuação no ensino do curso de


farmácia da UFF, que ficou responsável por:

 Esclarecer a dinâmica das discussões e os aspectos éticos vinculados ao estudo,


obtendo assinatura dos termos de consentimento livre e esclarecido e compromisso
grupal de cada um dos participantes;
 Estimular o debate de forma isenta, garantindo a efetiva interação entre todos os
participantes;
 Elaborar a síntese da discussão, ao final do encontro, validando-a junto aos
participantes.
63

Quadro 9: Roteiro estruturado com perguntas norteadoras do GF


Grupo envolvido Perguntas norteadoras

Quais mudanças você percebeu nas atividades do serviço de


farmácia, como fruto da acreditação e como elas afetaram seu
serviço?

Que elementos facilitaram a adequação do seu serviço no


processo de acreditação e quais obstáculos você encontrou para
conduzir a acreditação na FH?

Hoje, como você avalia o desempenho da farmácia, em relação à


eficiência, confiabilidade, acessibilidade e segurança da
Farmacêuticos assistência prestada?

Como você avalia a contribuição da farmácia na qualidade do


atendimento global oferecido ao paciente?

Que impactos a acreditação trouxe para a assistência


farmacêutica em seu hospital?

De que forma a acreditação contribuiu para o seu


aprimoramento profissional?

Como você se considera atualmente, frente aos serviços da FH,


após o processo de acreditação?

De um modo geral, como você se considerava, frente ao serviço


da FH, antes do processo de acreditação?

Quais mudanças você percebeu nas atividades do serviço de


farmácia, como fruto da acreditação?

De que modo estas mudanças, impostas pela acreditação na


farmácia, afetaram o seu próprio trabalho?
Partes Interessadas
(stakeholders) Hoje, como você avalia o desempenho da farmácia, em relação à
eficiência, confiabilidade, acessibilidade e segurança da
assistência prestada?

Como você avalia a contribuição da farmácia na qualidade do


atendimento global oferecido ao paciente e clientes internos?

Como você se considera atualmente, frente aos serviços da FH,


após o processo de acreditação?

Fonte: elaboração própria – Pesquisa bibliográfica.


64

A pesquisadora exerceu o papel de observadora, apenas na seção de GF no qual


estavam presentes os clientes da FH, colaborando com o moderador no controle do tempo e
monitoramento do equipamento de gravação. Isso porque mantinha relação profissional
com todos os convidados, tendo inclusive posição hierárquica direta sobre os farmacêuticos.
Desta forma, garantiu-se a total liberdade de expressão dos participantes, evitando a
configuração de relações de poder. Um segundo observador, que assim como o moderador
é docente da faculdade de farmácia da UFF, participou das duas seções de GF e realizou
registros relacionados à dinâmica grupal, no que tange as falas e comportamento dos
participantes, para facilitar a posterior transcrição dos dados.
O ambiente dos dois encontros respeitou a privacidade e o acolhimento necessários
para a liberdade da expressão, bem como o conforto e relaxamento para a dinâmica do
grupo. Para tanto, aconteceu fora do local de trabalho dos participantes, em dias e horários
apropriados conforme a disponibilidade geral, de forma a garantir uma maior participação
dos sujeitos da pesquisa e assim obter maior riqueza de dados. Todas as seções de GF foram
gravadas em áudio e vídeo, visando assegurar maior fidedignidade na reprodução do
discurso dos participantes e tiveram duração aproximada de 2 horas e 30 minutos.
Posteriormente, as gravações foram transcritas por profissional especializada e contratada
exclusivamente para esta finalidade, a fim de garantir o registro literal de todas as falas, para
análise e elaboração do relatório final de pesquisa, respeitando os aspectos éticos.

3.4 VALIDAÇÃO DOS INSTRUMENTOS INVESTIGATIVOS

Para avaliar a eficiência dos instrumentos de coleta de dados, na identificação do


impacto do processo de acreditação na assistência farmacêutica em farmácias hospitalares,
foi realizado pré-teste em dois hospitais privados do município do Rio de Janeiro. Ambos
pertencem à mesma operadora de saúde mencionada no item 3.1 e tiveram seus
certificados validados e homologados pela ONA após Abril de 2012 e, portanto, não
integravam a amostra do estudo. O pré-teste foi realizado entre os meses de Janeiro e
Fevereiro de 2013. Estes hospitais foram caracterizados como de médio porte, prestadores
de atendimentos clínicos, cirúrgicos e intensivos, para crianças e adultos (tabela 1).
65

Para validação dos roteiros estruturados que foram utilizados no GF, foram aplicados
aos sujeitos da pesquisa questionários contendo perguntas abertas idênticas às do roteiro,
uma vez que não haveria condições técnicas para simulação de um GF.

Tabela 1: Dados para caracterização dos hospitais submetidos ao pré-teste


Características Hospital-Teste No. 1 Hospital-Teste No. 2
Ano de inauguração 1989 1947
Natureza da Assistência Geral Geral
Nível de atenção Terciária Terciária
Número de leitos 119 91
Corpo clínico Aberto Aberto
Sistema de edificação Vertical Multiblocos
o
N . Total de funcionários 483 397
Fonte: elaboração própria

Os questionários foram aplicados a três voluntários, sendo dois deles farmacêuticos,


e um gerente de enfermagem. Todos trabalhavam na instituição há mais de seis meses e
participaram do processo de acreditação pela ONA no nível I. Os sujeitos foram convidados
pela pesquisadora a responder os questionários através de autoadministração
supervisionada. Durante o preenchimento, os sujeitos responderam aos questionários
sozinhos e a pesquisadora permaneceu à disposição para eventuais dúvidas.
Os instrumentos foram completamente respondidos no tempo máximo de 40
minutos, sem qualquer relato de dificuldade ou incompreensão dos aspectos abordados. A
análise das respostas obtidas evidenciou que alguns enunciados sobre atividades
desenvolvidas pela FH e inovações tecnológicas aliadas à dispensação não estavam claros,
incitando a uma dupla interpretação por parte das respondentes. Para resolver esta
deficiência, foram executadas adequações de redação e redistribuição gráfica dos
elementos. As demais seções foram totalmente respondidas dentro do padrão esperado, o
que permite adequada compilação de dados para tratamento estatístico. As perguntas
abertas, de cunho subjetivo, foram adequadamente compreendidas e totalmente
respondidas, havendo, no entanto, um desenvolvimento sucinto e superficial das respostas.
Tal fato reforça a tese de que a estratégia de diálogo entre o pesquisador e o sujeito,
proposta para esta pesquisa, permitiria melhor captura de percepções e experiências.
Após etapa de validação, foram elaborados os questionários definitivos que foram
entregues aos sujeitos da pesquisa em mãos. Deu-se um prazo de 30 dias, após data de
66

envio, para devolução. Apenas um respondente solicitou esclarecimentos adicionais para o


preenchimento do questionário e todos foram devolvidos no prazo estabelecido.

3.5 ASPECTOS ÉTICOS

O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital


Universitário Antônio Pedro, através do parecer 167.129 de 10/12/2012. Todos os dados
coletados foram utilizados somente com finalidade acadêmica, destinando-se unicamente
aos propósitos deste estudo. Os mesmos foram adequadamente armazenados, para fins de
consulta exclusiva da própria pesquisadora.
Não foram identificados dados individuais dos hospitais. A investigadora atribuiu um
código alfanumérico a cada questionário, igualmente arquivado para consultas futuras. Já no
GF, cada participante foi identificado através de código alfanumérico, correspondente ao seu
cargo e hospital de origem. Desta forma, foi possível garantir o sigilo e o respeito aos
procedimentos éticos em pesquisa, particularmente a preservação do anonimato dos
participantes.
Seguindo as normas e diretrizes da Resolução 196/1996, vigente à época da
submissão, foi solicitada autorização à operadora de saúde responsável pelos hospitais, para
condução do projeto e coleta de dados nas unidades que compõem a população (apêndice
3). Além disso, a pesquisadora apresentou à direção, de cada hospital selecionado, o Termo
de Autorização para Realização de Projeto de Pesquisa (apêndice 4), que assegura o sigilo
absoluto em relação aos dados da pesquisa e pessoas envolvidas, não havendo menção à
identidade dos participantes, eliminando riscos e garantindo a total privacidade dos
envolvidos.
Após autorização da empresa e seus hospitais, foram apresentados aos sujeitos da
pesquisa o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (apêndice 5), com as informações
sobre o caráter da pesquisa, o propósito do estudo, a gravação das seções de GF, a utilização
dos resultados, a liberdade de participação ou recusa sem quaisquer sanções por parte da
instituição.
Para assegurar o sigilo ético entre os participantes, foi empregado o Termo de
Compromisso Grupal (apêndice 6), que relaciona os itens prioritários na conduta dos
67

participantes durante os encontros, privilegiando as regras básicas de convivência e o


compromisso ético bilateral, visando facilitar o processo interacional.
Não foram enviados relatórios, para a empresa na qual foi desenvolvida a pesquisa, a
fim de garantir a confidencialidade das informações. Da mesma forma, a referida empresa
não terá qualquer tipo de acesso aos dados originais obtidos através da aplicação de
questionários e GF.

3.6 TRATAMENTO DOS DADOS

A abordagem quantitativa é aplicável, ao estudo em questão, como instrumento


fundamental para tratamento dos dados resultantes da aplicação dos questionários
estruturados. Foram utilizadas planilhas (Microsoft Excell®) para geração de banco de dados
e posterior montagem de tabelas, gráficos, cálculos da estatística descritiva e teste de
hipótese, como forma de visualização, comparação e análise dos dados levantados na
pesquisa de campo.

O tratamento qualitativo foi empregado através da análise do conteúdo dos diálogos,


obtidos após transcrição das gravações de áudio e vídeo. Foram extraídos os temas centrais
discutidos pelos participantes, empregando-se a compilação por semelhança e o
agrupamento por categorias-chave, buscando revelar dimensões de entendimento que
poderiam permanecer inexploradas pelas técnicas convencionais de coleta de dados. Sendo
assim, cada depoimento foi examinado a partir de diferentes perspectivas, a fim de captar,
compreender e analisar os conhecimentos gerados pelo GF.
68

4 RESULTADO E DISCUSSÃO

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

Vinte profissionais de saúde, de diferentes categorias, foram convidados a participar


da pesquisa. Embora inicialmente todos tenham aceitado colaborar com o estudo, apenas
doze efetivamente concluíram todas as etapas propostas. As faltas deram-se exclusivamente
na etapa de realização do GF, em razão de imprevistos na agenda dos convidados (n=4),
férias (n=2) e desistência em participar da pesquisa (n=2). Houve mais de uma tentativa de
reagendamento das atividades, o que não alterou o cenário de faltas, levando à realização
dos encontros em datas convenientes à maioria dos participantes. Tal fato, no entanto, não
afetou a coleta de dados.
Os profissionais foram identificados por código alfanumérico correspondente ao
cargo e instituição de origem (Quadro 10). Foram coletadas informações para caracterização
dos sujeitos em relação à formação, idade, sexo e tempo de atuação institucional (Tabela 2).

Quadro 10: Codificação dos sujeitos convidados a participar da pesquisa


conforme cargo institucional, N=20. Rio de Janeiro (RJ), Brasil, 2013.
CARGO CÓDIGO PARTICIPAÇÃO CARGO CÓDIGO PARTICIPAÇÃO
FA01 Não GE01 Não
FA02 Não GE02 Não
Farmacêutico Gerente de
Assistente FA03 Não Enfermagem GE03 Sim
FA04 Não GE04 Sim
FA05 Sim GE05 Sim
GF01 Sim GQ01 Sim
GF02 Sim GQ02 Não
Gestor Gestor da
Farmacêutico GF03 Sim Qualidade GQ03 Não
GF04 Sim GQ04 Sim
GF05 Sim GQ05 Sim
Fonte: Elaboração própria

Os sujeitos são, em sua maioria, farmacêuticos (6), do sexo feminino (7), com idade
média de 41 anos (dp= 9,23; amplitude 29-52; mediana= 43,5 anos) e atuação institucional
média de 7,8 anos (dp= 8,51; amplitude 1,5 – 26; mediana= 4).
69

Tabela 2: Caracterização dos sujeitos participantes


da pesquisa, N=12. Rio de Janeiro (RJ), Brasil,
2013.
DADOS DOS PARTICIPANTES N
Farmacêutico 6
Categoria Enfermeiro 4
profissional
Fisioterapeuta 1
Médico 1
20 - 30 anos 1
30 - 40 anos 4
Idade
40 - 50 anos 5
> 50 anos 2
Masculino 5
Gênero
Feminino 7
Fonte: Elaboração própria

4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS HOSPITAIS

Todos os questionários (n=5) foram aplicados no mês de Março de 2013, tendo sido
devolvidos, através de e-mail, aproximadamente 30 dias após o envio, com respostas a 100%
das perguntas. Nenhum respondente relatou dificuldades ou solicitou esclarecimentos à
pesquisadora durante a resposta ao questionário.
A maioria dos hospitais (n=4) está localizada no município do Rio de Janeiro, com
exceção de uma unidade, localizada na cidade de Niterói. A maior parte dos hospitais
estudados (n=3) é de grande porte, apresenta uma média de 142 leitos ativos (dp=68,7;
amplitude 44-210; mediana= 170). Todos são dotados de serviços de emergência e possuem
centro cirúrgico e centro de terapia intensiva. Apenas dois possuem maternidade. Vale
ressaltar que algumas instituições são marcas tradicionais do cenário médico carioca e têm
alto nível de especialização, com unidades cardiointensivas, neurológicas, neo-natais e
transplantados. As tabelas 3 e 4 sumarizam as características das unidades estudadas.
A acreditação destas instituições ocorreu em períodos variados da história de cada
unidade, como reflexo da busca pela humanização e excelência em seus serviços, aliada à
competitividade e reconhecimento de mercado. Ressalta-se o fato de que, em dois destes
hospitais, o tipo de certificado ONA evoluiu considerando o cenário encontrado na etapa de
seleção da amostra realizada em Abril de 2012. Além disso, outras duas unidades
70

conquistaram o selo de acreditação internacional, emitido pelo Canadian Concil of


Acreditation no ano de 2012, fato que reflete e reforça a busca pela qualificação e segurança
do serviço prestado.

Tabela 3: Dados de caracterização das unidades hospitalares, N=5. Rio de Janeiro


(RJ), Brasil, 2013.
CARACTERÍSTICAS DOS HOSPITAIS H. 01 H. 02 H. 03 H. 04 H. 05
Ano de Inauguração 1959 1938 1990 1991 2006
Total 111 210 44 186 170
Número de leitos
Ativos 98 210 44 186 170
Média Mensal de internações 260 1100 170 1000 750
Número total de funcionários 925 1054 370 1250 1000
Acreditado - 2011 2009 2010 2011
Ano e tipo de Acreditado
- - 2011 2011 2012
certificação ONA pleno
Acreditado
2007 - - 2012 -
com Excelência
Fonte: elaboração própria – Questionário de caracterização do Hospital.

Tabela 4: Caracterização das unidades hospitalares quanto à natureza da assistência,


porte, nível de atenção, corpo clínico, sistema de edificação e tipo de certificação
ONA, N=5. Rio de Janeiro (RJ), Brasil, 2013.
CARACTERÍSTICAS DOS HOSPITAIS N
Geral 1
Natureza da Geral com especialidades 2
Assistência
Especializado 2
Terciária 4
Nível de atenção
Quaternária 1
Pequeno 1
Porte Médio 1
Grande 3
Aberto 4
Corpo Clínico
Fechado 1
Sistema de Vertical predominantemente 4
edificação Horizontal predominantemente 1
Acreditado 1
Certificação ONA Acreditado pleno 2
Acreditado com excelência 2
Outras Canadian Concil of Acreditation 2
Certificações Prêmio Nacional de Gestão em Saúde 1
Fonte: elaboração própria – Questionário de caracterização do Hospital.
71

4.3 CARACTERIZAÇÃO DA FARMÁCIA HOSPITALAR

Os questionários foram aplicados no mês de Março de 2013, tendo sido devolvidos


através de postagem aproximadamente 30 dias após a data da entrega, com respostas a
100% das perguntas. Em apenas um caso, houve necessidade da pesquisadora solicitar a
devolução do documento, uma vez que já havia se passado 45 dias da data de entrega.
Neste caso, foi preciso buscar tal questionário através de portador.
Todos os instrumentos (n=5) foram completamente respondidos e apenas um
participante relatou dificuldades no preenchimento do questionário, sendo necessário
auxílio da pesquisadora. A dúvida consistiu no fato do respondente não ter participado de
uma das etapas do processo de acreditação, que aconteceu em data anterior à sua admissão
na unidade hospitalar. Neste caso, o sujeito foi orientado a responder com base no histórico
que estivesse ao seu alcance, procurando considerar, como provas documentais, os
relatórios gerados pela instituição acreditadora em ocasião de visitas diagnóstica e de
avaliação final. Com isso, foi necessário enviar novo questionário, a pedido do próprio
respondente, a fim de evitar rasuras. Tal fato não comprometeu o prazo de devolução.
As seções temáticas, abordadas nos questionários, nortearão a discussão dos
resultados.

4.3.1 ORGANOGRAMA

Todas as farmácias encontram-se representadas como serviços inseridos no


organograma da unidade hospitalar, com subordinação à diretoria geral (n=1), diretoria
administrativa (n=1) ou diretoria médica (n=3). Além disso, possuem seu próprio
organograma, com definição hierárquica de cargos e responsabilidades, sendo todas
administradas por farmacêuticos.
Há 176 profissionais lotados nos diferentes serviços, distribuídos em sete funções
(gráfico 1). Cada FH dispõe, em média, de 35,2 funcionários (dp= 8,07). A função
predominante é a de auxiliar de farmácia (54,5%) também denominada, em alguns hospitais,
de auxiliar de almoxarifado, cuja principal atribuição é separar os medicamentos e produtos
para saúde destinados aos pacientes e setores hospitalares.
72

Gráfico 1: Tipos de funções exercidas pelos profissionais atuantes nas


farmácias hospitalares, N= 176. Rio de Janeiro (RJ), Brasil, 2013.
Fonte: elaboração própria – Questionário de caracterização da FH

Cada serviço possui em média 5,6 farmacêuticos (dp= 0,54) e presta AF 24 horas por
dia, nos sete dias da semana. O horário de funcionamento integral da farmácia é o ideal para
um atendimento de excelência e está de acordo com a legislação (BRASIL, 2010), os padrões
mínimos para o setor (SBRAFH, 2007; ASHP, 2013) e práticas seguras nos serviços de saúde
(ANVISA, 2013). Além disso, o quantitativo médio de profissionais pode ser considerado
satisfatório quando comparado com os dados publicados recentemente no censo da FH
(SBRAFH, 2010), que apresentou média nacional de 0,9 farmacêuticos por hospital privado.
A contratação de farmacêuticos foi, possivelmente, uma conquista recente,
evidenciada pelo fato de três serviços terem sido beneficiados por aumento do quadro, em
função das adaptações e implantações decorrentes do processo de acreditação. Em dois
destes hospitais, o quadro de farmacêuticos sofreu incremento de cinco profissionais, sendo
incorporadas as funções de clínico e plantonista. Apesar disso, os farmacêuticos ocupam
posição secundária no quantitativo de profissionais lotados na FH revelando diminuta,
porém crescente inserção desta categoria na equipe multidisciplinar. A tabela 5 reforça o
fato, ao demonstrar a relação farmacêutico/leito observada nos serviços.
73

Tabela 5: Relação farmacêutico/leito, N=5. Rio de Janeiro (RJ),


Brasil, 2013
Unidade Número de Relação
Leitos ativos
Hospitalar farmacêuticos Farmacêutico/ leito
H.01 6 98 1: 16
H.02 5 210 1: 42
H.03 6 44 1: 7
H.04 6 186 1: 31
H.05 5 170 1: 34
Fonte: elaboração própria – questionário de caracterização da FH

A relação média de 1 farmacêutico para cada 25 leitos foi observada, valor inferior ao
encontrado por Silva (2010) , que refere uma relação de 1 farmacêutico para cada 15 leitos.
Como não se buscou o detalhamento das funções exercidas por cada um dos farmacêuticos
contratados nas unidades hospitalares, não foi possível a comparação com os padrões
mínimos recomendados pela SBRAFH. Porém, se tomar como referencial apenas a tarefa de
maior impacto no dia-a-dia da FH, a SBRAFH recomenda uma relação de 1 farmacêutico para
cada grupo de 50 leitos na distribuição (SBRAFH, 2007). Com base neste parâmetro, os dados
sugerem que apenas dois serviços encontram-se em condições de realizar outras atividades
como aquelas voltadas à farmácia clínica, farmacovigilância e informações sobre
medicamentos. À luz destas atividades, conclui-se que o número de farmacêuticos pode
estar inadequado, frente às recomendações da SBRAFH (2007), que sugerem a adoção de
um profissional dedicado para cada uma destas funções. Vale ressaltar que o manual de
acreditação da ONA considera imprescindível a presença de número de farmacêuticos
compatível à complexidade e perfil da organização (ONA, 2010).
O expressivo número de assistentes aliado ao reduzido quantitativo de farmacêuticos
pode denotar um processo extremamente manual, centrado na logística (aquisição,
armazenamento, controle de estoque) e distribuição, pouco voltado para as questões
assistenciais, fato reforçado pelo relato de um serviço sobre a ampliação do quadro de
mensageiros, tão necessários em sistemas de distribuição de suprimentos.
Este cenário somado à inexistência de técnicos e à presença de apenas um estagiário
revela um quadro preponderantemente formado por profissionais de nível médio, sem
qualquer especialização ou formação direcionada para a atuação no segmento de FH. Tal
fato representa um “verdadeiro obstáculo ao desenvolvimento de serviços farmacêuticos
especializados, pelo baixo desempenho dos recursos humanos nos serviços de farmácia”
74

(OPAS, 1997) e pode contribuir para uma acentuada sobrecarga dos farmacêuticos,
favorecendo o comprometimento da qualidade e da segurança do serviço prestado.

4.3.2 ESTRUTURA

Todos os serviços estão legalmente registrados e possuem sua documentação


completa, devidamente licenciados junto à vigilância sanitária e com farmacêutico
responsável técnico registrado no conselho regional de farmácia.
Todos os serviços respondem pela gestão dos medicamentos da instituição. A maior
parte da amostra (n=4) também é responsável pela programação, controle e distribuição de
produtos para saúde, dietas industrializadas, órteses, próteses e materiais especiais (OPME).
Estas mesmas unidades afirmam controlar outros insumos, descritos como materiais para
higiene e consumo hospitalar, bem como itens de gráfica e papelaria, transformando o
serviço de farmácia em um grande centro de gestão de suprimentos hospitalares, com
complexidade inerente ao tipo de serviço ofertado pelo hospital. Todo este arsenal está
armazenado em uma estrutura física muitas vezes pequena para comportar o volume de
itens trabalhados, como mostra a tabela 6.

Tabela 6: Caracterização da estrutura física das farmácias


Hospitalares, N=5. Rio de Janeiro (RJ), Brasil, 2013
Estrutura Física do Serviço de Farmácia N
< 50 m2 1
Área física 51 a 150 m2 3
total em m2
> 151 m2 1
Localização Dentro do prédio principal 4
no Hospital Fora do prédio com acesso coberto 1
Subsolo 1
Localização Térreo 1
no prédio
Outro Andar 3
Fonte: elaboração própria – caracterização da FH

As dimensões das farmácias apresentaram relação direta com o número de leitos


hospitalares, como sugerido por Gomes e Reis (2003). Estes autores propõem a relação de
1,0 a 1,2 m2/ leito. Tomando por base este parâmetro, apenas dois hospitais apresentaram
dimensões abaixo do recomendado. Segundo Cipriano (2004), a área física está diretamente
75

condicionada ao tipo de atividade desenvolvida pelo serviço, além do porte e complexidade


do hospital, política de compras, informatização e automação. Desta forma, é razoável supor
que a dimensão reduzida pode comprometer a qualidade do armazenamento e distribuição
de insumos.
Ressalta-se que este estudo não se propôs a detalhar as diferentes áreas que
compõem cada serviço, não sendo possível aferir dimensões exatas, que permitam
adequada comparação com a legislação específica sobre a arquitetura hospitalar. Vale ainda
enfatizar que três serviços revelaram ter passado por ampliações e/ ou reformas como
consequência do processo de acreditação, sendo todas relacionadas à área de estocagem de
medicamentos, soluções parenterais de grandes volumes, dietas industrializadas e produtos
para saúde, por não estarem em conformidade com as exigências legais. As melhorias da
área física também foram acompanhadas por aquisição de mobiliários (armários corta-fogo),
estruturas para organização do serviço (básculas para armazenamento de medicamentos),
dispositivos de segurança (câmeras) e equipamentos (computadores, geladeiras, máquinas
automatizadas para fracionamento de medicamentos e termômetros de infravermelho),
refletindo a preocupação com a segurança e qualidade do armazenamento dos produtos.
Tais modificações visam atender aos critérios e procedimentos de segurança para a
utilização e manuseio de materiais, produtos e medicamentos, garantindo as condições
operacionais e de infraestrutura que permitam a execução das atividades relacionadas à AF,
de acordo com o perfil de cada serviço e conforme preconizado nos requisitos para
atendimento aos padrões da acreditação (ONA, 2010).
A maior parte dos serviços de farmácia está localizado no prédio principal da unidade
hospitalar, o que sugere uma distribuição equidistante tanto dos pontos de assistência aos
pacientes internados como dos setores de apoio a este atendimento, como por exemplo as
centrais de materiais esterilizados. As farmácias permitem ainda acesso dos usuários
internos e externos, favorecendo a comunicação e facilitando o recebimento e distribuição
dos insumos, como proposto por Cipriano (2004).
Algumas farmácias (n=4) adotam sistemas de distribuição descentralizados, na
medida em que possuem estruturas satélites para atender exclusivamente aos setores mais
críticos e/ou estratégicos da unidade hospitalar. Estes setores contam com profissionais
subordinados à farmácia central, ocupando a função de auxiliares de clínicas nos serviços de
terapia intensiva, centro cirúrgico, emergência, apartamentos e neo-natologia. Esta
76

estratégia está de acordo com as proposições de Lima, Silva e Reis (2003, p.358), que
afirmam:

A necessidade de descentralização da distribuição surge quando existem setores


com demanda diferenciada e/ou quando a edificação do hospital é do tipo
multiblocos ou com muitos andares e, ainda, quando a implementação de novos
serviços ou tecnologias no hospital implica expansão da área física da farmácia
(LIMA; SILVA; REIS, 2003, p. 358).

A tabela 7 ilustra a distribuição das farmácias satélites nos setores das unidades
hospitalares. Curiosamente, três hospitais relatam possuir estoques distribuídos pelos
setores, sem controle direto da farmácia. Tal fato evidencia a existência de um modelo
híbrido, onde coexistem farmácias satélites e estoques sob o controle da equipe assistencial.
Tal cenário contraria o conceito de descentralização e expõe os pacientes a riscos
desnecessários, comprometendo ainda a eficiência das operações, uma vez que os insumos
estão mais disponíveis e sujeitos ao desperdício, desvios e uso inadequado, demonstrando
certa fragilidade na cadeia de cuidados.

Tabela 7: Distribuição das farmácias satélites nos


setores Hospitalares, N=5. Rio de Janeiro (RJ), Brasil,
2013
Setores dotados de farmácias satélites N
UTI adulto 4
UTI neonatal 1
Centro Cirúrgico 4
Emergência 3
Hemodinâmica 1
Unidade de internação 2
Fonte: elaboração própria – Caracterização da FH

4.3.3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA FARMÁCIA HOSPITALAR

Os apêndices 7 e 8 apresentam, respectivamente, as atividades desenvolvidas em


cada uma das farmácias hospitalares e os dados sobre a influência da acreditação na
execução das referidas atividades por grupo de hospitais. Já a tabela 8 consolida o número
de atividades, identificadas como desejáveis para um serviço de farmácia, efetivamente
desenvolvidas antes e depois da acreditação.
77

Tabela 8: Número de atividades desenvolvidas pela


farmácia hospitalar em função da acreditação, N=5. Rio
de Janeiro (RJ), Brasil, 2013
Número de Atividades desenvolvidas
Hospital
Antes Depois
H.01 12 34
H.02 18 28
H.03 15 27
H.04 17 30
H.05 19 25
Média 16,2 28,8
Variância 7,7 11,7
Fonte: elaboração própria – Atividades da FH

Pode-se considerar que o desempenho dos serviços apresentou melhora, com


adequação de processos após acreditação. A diferença observada se mostrou significativa
(p=0,0088) para um nível de confiança de 95%.
Para maior clareza do texto, os resultados de cada componente da assistência
farmacêutica serão discutidos separadamente a seguir.

4.3.3.1 Gerenciamento

O levantamento de dados identificou que apenas uma farmácia não desempenha a


totalidade das atividades relacionadas a este componente, por não atender ao requisito da
descrição da missão e valores do seu serviço, que expressam a identidade organizacional de
uma FH em relação aos objetivos da unidade de saúde.
Todos os respondentes afirmaram já possuir procedimentos operacionais
padronizados (POP), descritos antes mesmo do processo de acreditação. Além disso, grande
parte da amostra (n=4) já mensurava indicadores de resultados. Este resultado evidencia a
existência de controle sistêmico de processos, o que pressupõe o entendimento do papel da
farmácia no todo, bem como a interação com os diferentes setores (PERAZOLLO et al.,
2006), atendendo ao requisito de gerenciamento do fluxo e demanda do serviço,
preconizado como requisito para a acreditação (ONA, 2010).
A principal contribuição do processo de acreditação em relação ao gerenciamento da
assistência farmacêutica foi o registro e tratamento de não conformidades, apontado por
todas as unidades como consequência da certificação. O gráfico 2 demonstra a distribuição
78

de frequências obtidas a partir das respostas para o tópico gerenciamento, comparando a


execução das atividades antes e depois do processo de acreditação.

Gráfico 2: Tipos de atividades de gerenciamento desempenhadas pelas farmácias


hospitalares, N=5. Rio de Janeiro (RJ), Brasil, 2013
Fonte: elaboração própria – Questionário de caracterização da FH

Algumas atividades sofreram aprimoramentos decorrentes do processo de


acreditação, com destaque para a mensuração de indicadores, citada por todos os
respondentes. Este estudo, porém, não levantou quais adaptações ou melhorias foram
implementadas.
Pode-se considerar que as mudanças refletem positivamente na busca pela
excelência e no amadurecimento na identificação e tratamento das falhas, através da
implementação de um sistema de liderança e práticas organizacionais baseadas em valores,
estratégias e planos, com foco nos clientes (internos e externos) do serviço. Este sistema se
concretiza através da gestão de pessoas e do monitoramento contínuo dos processos,
embasados por um sistema de informação e conhecimento para obtenção de resultados que
auxiliam a gestão e a tomada de decisões (PERAZOLLO et al., 2006). Tal fato demonstra
79

preocupação com a validação dos procedimentos de rastreabilidade da informação, para


atendimento dos requisitos do padrão (ONA, 2010).

4.3.3.2 Participação em comissões institucionais

Todos os serviços participam das comissões institucionais. Este resultado já era


esperado, tendo em vista a exigência de seu cumprimento para conquista do primeiro nível
de acreditação, uma vez que o padrão pressupõe, minimamente, a existência das comissões
de controle de infecção hospitalar (CCIH), gerenciamento de resíduos e qualificação de
fornecedores críticos (ONA, 2010).
A inserção do profissional farmacêutico em comissões foi afetada pelo processo de
acreditação nas unidades, conforme observado no gráfico 3.

Gráfico 3: Participação do farmacêutico em comissões institucionais, N=5. Rio de Janeiro


(RJ), Brasil, 2013
Fonte: elaboração própria – Questionário de caracterização da FH

Segundo Gomes e Reis (2003), a participação do farmacêutico nas comissões


internas, que fazem interface com a AF hospitalar, faz parte das competências da farmácia,
sendo essenciais para a implementação de programas de farmacovigilância, elaboração de
protocolos e avaliações farmacoeconômicas, conforme prevê a Portaria 4283/2010.
A observação dos dados evidencia que a única comissão onde todos os farmacêuticos
já estavam formalmente inseridos antes da acreditação era a de infecção hospitalar,
80

possivelmente em razão da exigência legal instituída pela Portaria MS 2616/1998. A


contribuição da farmácia, no controle das infecções hospitalares e promoção do uso racional
de antimicrobianos é considerada essencial pela ASHP (2013).
Outras comissões, como as de avaliação de fornecedores e gerenciamento de
resíduos de saúde, revelaram-se igualmente consolidadas em relação à participação do
farmacêutico, uma vez que apenas um respondente revelou ter sua inserção motivada pela
acreditação.
O grupo de gerenciamento de riscos e a equipe multidisciplinar de terapia nutricional
foram comissões institucionais consideradas como de destaque para a inclusão de
farmacêuticos, como resultado da acreditação.
O farmacêutico é um membro fixo da comissão de suporte nutricional e deve
trabalhar junto aos demais, no desenvolvimento de políticas e procedimentos que abranjam
aspectos farmacotécnicos e farmacológicos das preparações enterais e parenterais,
objetivando melhorias nos processos, otimização da terapia e redução de custos (GOMES;
REIS, 2003). Em 1998, com a publicação da Portaria 272 (BRASIL, 1998), a manipulação da
nutrição parenteral passou a ser considerada uma atividade exclusiva do farmacêutico,
facilitando sua incorporação nestas comissões. Apesar do respaldo legal e das inúmeras
contribuições que o farmacêutico propicia ao interagir com os demais membros da equipe
multiprofissional, em apenas uma unidade hospitalar o farmacêutico já era membro da
referida comissão antes da acreditação.
A comissão de gerenciamento de riscos deve instituir ações que garantam a
segurança do paciente e a qualidade da assistência em saúde, através da prevenção,
fiscalização, monitoramento e notificações de falhas (BRASIL, 2013). Apesar de existente na
maior parte dos hospitais que compõem amostra da pesquisa, tal comissão passou a ser
uma exigência legal recentemente, com a publicação da RDC 36/2013 e deve atuar na:

Aplicação sistêmica e contínua de iniciativas, procedimentos, condutas e recursos


na avaliação e controle de riscos e eventos adversos que afetam a segurança, a
saúde humana, a integridade profissional, o meio ambiente e a imagem
institucional (BRASIL, 2013).

Este fato representa um avanço e contribui fortemente para a redução de erros de


medicação, uma vez que pretende instituir protocolos para prescrição e uso de
81

medicamentos no ambiente hospitalar, corroborando ainda mais para a participação de


farmacêuticos com vistas à otimização e segurança da terapia medicamentosa.
Além da inserção formal do farmacêutico nas comissões institucionais, a acreditação
também teve um impacto positivo na ampliação e aprimoramento de sua participação.
Curiosamente, os dados revelam que apesar do farmacêutico estar presente na maioria das
comissões, sua participação possivelmente não estava consolidada, refletindo sua crescente
inserção nas equipes multidisciplinares como consequência da acreditação. O maior
destaque foi obtido pela comissão de controle de infecção hospitalar, onde três
respondentes apontaram o processo de acreditação como responsável pelo aprimoramento
da sua participação nesta comissão. Tal fato, certamente, preencheu o requisito de
“comunicação mais efetiva entre as áreas, assegurando a continuidade da assistência” (ONA,
2010, p.117).

4.3.3.3 Logística

“O farmacêutico hospitalar, como administrador de materiais, tem como objetivo


principal prover os medicamentos e demais tecnologias no momento em que são
requeridos, na quantidade necessária, com qualidade assegurada e ao menor custo possível”
(ROSA; GOMES; REIS, 2003, p.366). O gerenciamento de materiais exige do farmacêutico
hospitalar, além do domínio técnico, conhecimentos sobre logística, que refere-se ao
“processo de planejamento, implementação e controle do fluxo eficiente de produtos, bem
como dos fluxos de informações a eles relativos, desde a origem até o consumo, com o
propósito de atender aos requisitos dos clientes” (ROSA; GOMES; REIS, 2003, p.366).
O levantamento de dados identificou que todos os serviços (n=5) já desempenhavam
as atividades relacionadas à logística antes mesmo do processo de acreditação, o que já era
esperado, uma vez que medicamentos e outras tecnologias representam parte significativa
dos gastos hospitalares e o seu controle adequado é crucial para a saúde financeira das
instituições (GOMES; REIS, 2003). Tal fato reforça a condição histórica atribuída à FH, de
atuar como uma grande central de abastecimento, o que favoreceu para a descaracterização
do componente assistencial inerente à sua função.
À semelhança de outro estudo (SANTANA et al., 2013), observou-se que as farmácias
ainda se dedicam mais às atividades logísticas em detrimento das ações relacionadas ao
82

cuidado dos pacientes, evidenciando que o foco das atividades farmacêuticas ainda continua
sendo o insumo, o que não cabe dentro da visão de integralidade do cuidado. Apesar disso,
com exceção do processo de aquisição, todas as demais atividades do componente logístico
passaram por aprimoramentos decorrentes das exigências da acreditação. Merece ênfase
especial o processo de recebimento, onde a maioria dos respondentes (n=4) acusam alguma
melhoria, que pode ter relação direta com a adequação da área física e recursos humanos,
além da aquisição de móveis e equipamentos relacionadas por eles nos tópicos
organograma e estrutura.

4.3.3.4 Distribuição

O sistema de distribuição de medicamentos adotado por todas as farmácias


hospitalares é o de dose individualizada, apesar de um serviço alegar também distribuir
parte de seus medicamentos por dose coletiva. Acredita-se que esta unidade adote um
sistema de distribuição misto, onde a farmácia distribui alguns medicamentos mediante
solicitação e outros a partir da prescrição médica. Nestes casos, em geral, as unidades de
internação são atendidas pelo sistema individualizado e os serviços pelo sistema coletivo,
com ações centradas na enfermagem e passíveis de erros (GOMES; REIS, 2003; SANTANA et
al., 2013).
A acreditação permitiu o aprimoramento da distribuição de medicamentos e
produtos para saúde em três serviços. Acredita-se que estas melhorias tenham relação
direta com as inovações tecnológicas aliadas ao processo de dispensação que foram
implantadas com a acreditação, contribuindo para ajustes nas rotinas e aumento da
segurança, através de barreiras de controle. Este assunto será discutido adiante no tópico
4.3.4.
O componente distribuição ainda precisa de investimentos, considerando que a
totalidade dos hospitais avaliados não evoluiu para o sistema de distribuição por dose
unitária, o mais indicado para se evitar comprometimento da qualidade do cuidado, dado os
riscos dos erros de medicação. A implementação da dose unitária certamente contribuiria
sobremaneira para o atendimento do requisito “disponibiliza e dispensa medicamentos
assegurando a administração das doses indicadas, nos intervalos definidos e no período de
tempo indicado” (ONA, 2010, p.117).
83

4.3.3.5 Fracionamento e manipulação

Em relação ao fracionamento de formas farmacêuticas, todos os serviços (n=5)


referem fracionar apenas os sólidos orais, atividade que está relacionada com o sistema de
distribuição por dose individualizada empregada nas unidades consultadas. Nesse processo,
o medicamento é unitarizado, reembalado e identificado com novo rótulo, contendo
informações de lote, validade e código de barras para assegurar o rastreamento, garantindo
a integridade dos medicamentos (JARA, 2012). Isto é necessário em razão da dificuldade de
obtenção de doses prontas, já unitarizadas pela indústria farmacêutica, obrigando o setor
hospitalar a disponibilizar recursos humanos, adequar infraestrutura e aumentar os custos
operacionais (JARA, 2012). Esse processo pode apresentar falhas ocasionadas pelo exaustivo
trabalho manual, denunciando fragilidades na FH que prejudicam a qualidade e segurança
dos serviços prestados (JARA, 2012).
Além disso, nenhuma farmácia manipula fórmulas magistrais, nutrição parenteral e
citostáticos, indo ao encontro do sistema de distribuição adotado pelos hospitais que,
possivelmente, obtém seus produtos através de serviços terceirizados, apenas quando
necessário. Tais atividades, apesar de importantes, têm implantação e manutenção pouco
viáveis economicamente para a estrutura hospitalar, pois a “demanda pode ser baixa devido
ao porte e característica da assistência prestada” (CIPRIANO, 2004).
A ausência de farmacotécnica hospitalar pode não conferir total segurança ao
processo, uma vez que não há garantias de que haja a dispensação de medicamentos na
dose exata prescrita e na forma mais pronta possível. É consenso que a manipulação em
locais inadequados ou por profissionais inexperientes está associada a riscos, como erros no
preparo ou administração, incompatibilidade ou instabilidade pelo emprego de diluentes
incorretos ou ainda armazenamento inadequado com perda de eficácia ou aumento de
toxicidade (KÜHNER, 2005). Além disso, a manipulação contribui para a eficiência dos
processos, na medida em que permite o desenvolvimento de formulações de interesse
estratégico e/ou econômico para a FH, diminui custos para a instituição e racionaliza o uso
dos medicamentos, reduzindo disperdícios e perdas por caducidade (KÜHNER, 2005).
A terceirização destas atividades, quando presente, supre parcialmente tal carência.
Esse fato, no entanto, amplia e reforça a necessidade de estruturação de uma comissão que
84

avalie e qualifique os fornecedores, como forma de garantir o atendimento aos critérios de


segurança e qualidade destes produtos considerados de alta criticidade.
A acreditação permitiu o aprimoramento da atividade de fracionamento de sólidos
orais na maioria dos serviços (n= 4), possivelmente por exigir o cumprimento da legislação
relacionada à atividade (apêndice 8).
Entretanto, pode-se considerar que o processo de acreditação teve pouquíssima
influência sobre as atividades de fracionamento e manipulação, apesar de exigir processos
farmacotécnicos que garantam a qualidade dos produtos acabados (ONA, 2010). Supõe-se
que este assunto não tenha tanta relevância no resultado final da avaliação, uma vez que a
farmacotécnica não é considerada atividade básica da FH, podendo inclusive ser considerada
como item não aplicável.
À luz da segurança do paciente, este fato representa um verdadeiro paradoxo, já que
“a farmacotécnica hospitalar contribui significativamente com a qualidade do cuidado
farmacêutico prestado aos pacientes” (RICCI, 2008, p.171). O fracionamento e a
manipulação possibilitam ajustes de doses e o preparo de formulações adaptadas às
necessidades terapêuticas individuais de cada paciente, integrando-se à farmácia clínica para
prevenção e redução de riscos de erros de medicação. Essa pode ser uma deficiência
importante do manual no que tange os padrões preconizados para AF, na medida em que
valoriza pouco uma etapa fundamental do cuidado, negligenciando aspectos importantes da
qualidade e segurança no preparo de medicamentos.

4.3.3.6 Farmácia Clínica

No que tange às atividades clínicas, a avaliação técnica das prescrições, o


monitoramento da indicação de medicamentos, a orientação ao paciente, o suporte técnico
às equipes, a educação permanente dos profissionais de saúde, o planejamento
multidisciplinar para elaboração do plano terapêutico e as ações de farmacovigilância
precisam ser evidenciadas nas instituições para o efetivo cumprimento do padrão e
consequente conquista do selo de acreditação.
Os resultados demonstraram que as atividades clínicas são desempenhadas em todos
os serviços avaliados, em graus variados de complexidade (gráfico 4). Chama a atenção o
fato da avaliação farmacêutica da prescrição, o monitoramento de interações, a participação
85

nas visitas médicas, ações de farmacovigilância e a orientação para boas práticas de


administração de medicamentos serem executadas pela totalidade da amostra (n= 5).

Onde:
a = Avaliação Farmacêutica da prescrição médica
b = Intervenção farmacêutica e registro sistemático das atividades em prontuário
c = Plano formal para acompanhamento de pacientes internados
d = Monitoramento de interações medicamentosas
e = Participação nas visitas médicas/ Rounds
f = Participação na elaboração de protocolos terapêuticos
g = Reconciliação medicamentosa
h = Monitoramento do efeito de medicamentos de maior toxicidade/ risco
I = Farmacovigilância
J = Orientação para boas práticas de administração de medicamentos

Gráfico 4: Tipos de atividades clínicas desempenhadas pelas farmácias hospitalares, N=5.


Rio de Janeiro (RJ), Brasil, 2013
Fonte: elaboração própria – caracterização da Farmácia

A maioria das atividades clínicas foi implantada em decorrência da acreditação,


apesar de ainda estarem em franco desenvolvimento e não serem uma realidade igualmente
distribuída na amostra. Das dez atividades relacionadas, seis eram completamente
inexistentes antes da acreditação. Isto, por si só, representa enorme avanço no que tange à
prática da farmácia clínica, pois os estudos ainda demonstram que, no Brasil, este tipo de
86

atuação é nulo ou pouco expressivo em âmbito hospitalar (PENAFORTE, 2006; SILVA, 2010;
SANTANA et al., 2013).
Também merecem destaque o registro sistemático das intervenções farmacêuticas
em prontuário (n=4), o plano formal para acompanhamento de pacientes (n= 3) e a
reconciliação medicamentosa (n= 3) que, apesar de ainda não serem desenvolvidas por
todas as farmácias, estão presentes na maior parte dos serviços, evidenciando a crescente
inserção do farmacêutico na equipe multidisciplinar, como um dos agentes decisores no
processo medicamentoso. Importante salientar que o registro em prontuário está
expressamente definido na Portaria 4283/2010, no tópico cuidado ao paciente, enfatizando
a colaboração do farmacêutico na definição de condutas para manejo da farmacoterapia e
na retroalimentação da equipe e paciente, com informações para o uso seguro, racional e
eficiente de medicamentos e produtos para saúde (BRASIL, 2010).
A participação na elaboração de protocolos e o monitoramento do efeito dos
medicamentos de maior toxicidade/ risco foram identificados como pouco frequentes nos
serviços, o que pode ter relação com a evolução e sistematização do processo de qualidade
nas instituições em estudo, o nível de organização da FH ou até mesmo com o quadro
enxuto de farmacêuticos nas unidades pesquisadas. A elaboração de protocolos clínicos tem
por objetivo “estabelecer claramente os critérios de diagnóstico de cada doença e o
tratamento preconizado com os medicamentos disponíveis nas respectivas doses”
(PENAFORTE, 2006, p. 106). Sua formatação contribui para a instituição de mecanismos de
controle, acompanhamento e a verificação de resultados, para garantia de uma prescrição
segura e eficaz (PENAFORTE, 2006).
Já o monitoramento terapêutico de medicamentos de maior toxicidade/ risco tem,
como principal finalidade, avaliar a concentração biológica do fármaco dentro da faixa
terapêutica pré-estabelecida (PENAFORTE, 2006). Esta é considerada uma das principais
ferramentas dos programas de farmacovigilância, cujo escopo de trabalho contempla a
identificação e resolução de problemas relacionados a medicamentos, como queixas
técnicas, reações adversas, inefetividade terapêutica e erros de medicação. No entanto, este
estudo não identificou que tipos de práticas em farmacovigilância são desempenhadas por
cada unidade, no sentido de avaliar o grau de maturidade das mesmas e a existência de
redes sentinelas. É razoável supor que, pelo tempo de implantação, tais atividades limitem-
se à disseminação de informes/alertas e ao recebimento de queixas técnicas/ reações
87

adversas, garantindo a notificação e gerenciamento de tais eventos nas unidades em


questão.
Em relação ao aprimoramento das atividades clínicas previamente desempenhadas,
somente um serviço relatou melhorias na avaliação da prescrição, no monitoramento de
interações e nas ações de farmacovigilância como consequência da acreditação. Tal fato já
era esperado em razão da inexistência de tais práticas antes da acreditação na maior parte
das unidades consultadas .
Os resultados obtidos neste componente de atividades foram os mais expressivos,
com claras demonstrações de mudanças processuais, que transformam lentamente a
realidade da FH. Destaque especial deve ser dado à discreta mudança de atuação do
farmacêutico, que deixa de ser mero dispensador de medicamentos, focado na cadeia de
suprimentos, para atuar como agente provedor de cuidados assistenciais inserido na equipe
multidisciplinar (REIS, 2008; PEREIRA; FREITAS, 2008; GASPAR et al., 2009; SANTANA, 2013).

4.3.3.7 Informação

A informação sobre medicamentos é uma função básica do exercício profissional


farmacêutico e deve ser desempenhada na FH pelo centro de informações sobre
medicamentos, definido como o “local onde se reúnem, analisam, avaliam e fornecem
informações sobre medicamentos, visando seu uso racional” (SOUSA; SAKAI, 2008, p.237).
Estes podem ser representados informalmente pelos SIM, cuja principal função é a de
igualmente fornecer informações sobre medicamentos a partir de bibliografia básica para
consulta, sem a necessidade de estar organizado em uma área específica, com farmacêuticos
dedicados exclusivamente a esta atividade (SOUSA; SAKAI, 2008).
Apenas dois serviços revelaram possuir SIM, tendo sido um deles implantado em
decorrência da acreditação, que também propiciou adequações no serviço previamente
existente. Este trabalho, no entanto, não se propôs a levantar a existência de registros
sistematizados sobre os atendimentos prestados para a continuidade do cuidado. Tal fato
poderia possibilitar o levantamento de indicadores de atuação farmacêutica no processo
educacional de equipes e pacientes.
Já em relação à elaboração de guia farmacoterapêutico, dos três serviços que
possuem tal documento, apenas dois referem sua elaboração como resultado da
88

acreditação, face às exigências para atendimento do requisito. Sua inexistência em duas


unidades reflete a fragilidade das comissões de farmácia e terapêutica, que apesar de
formalmente instituídas em toda a amostra e contarem com a presença de farmacêuticos,
ainda não produziram um documento institucional que padronize e informe as regras de
utilização de seus medicamentos.

4.3.3.8 Ensino e pesquisa

Estes foram os requisitos com menor grau de desenvolvimento, uma vez que
apresentaram frequências de distribuição baixas.
Apenas duas unidades participam de programas de estágio, contribuindo para a
formação de novos profissionais farmacêuticos. Tal atividade não foi resultante do processo
de acreditação, cuja única influência foi o aprimoramento do programa em um serviço. Este
cenário está de acordo com os resultados apresentados por Osório de Castro e Castilho
(2004), que observaram a ausência destas atividades na grande maioria dos hospitais
brasileiros acompanhados no Projeto de Diagnóstico da FH no Brasil. Espera-se que o
crescimento das residências em FH possa contribuir para a mudança deste cenário.
Já em relação à atuação em pesquisas clínicas, apenas um serviço revelou
desempenhar tal atividade, iniciada após o processo de acreditação, fato já esperado face ao
cenário nacional exposto acima. Curiosamente, três unidades publicam trabalhos científicos,
duas delas antes mesmo da instauração da metodologia de avaliação da qualidade.

4.3.3.9 Inovações tecnológicas associadas à dispensação

A tabela 9 apresenta os tipos de inovações tecnológicas adotadas pelos hospitais


como resultado do processo de acreditação.
89

Tabela 9: Adoção de inovações tecnológicas pelos serviços de farmácia em função


da acreditação, N=5. Rio de Janeiro (RJ), Brasil, 2013
Total de serviços
Tipos de Inovações tecnológicas associadas à
Antes da Depois da
dispensação
acreditação acreditação
Prontuário eletrônico do paciente - 2
Prescrição eletrônica 1 2
Aprazamento eletrônico - 2
Registro eletrônico da validação farmacêutica da
- 1
prescrição médica
Distribuição horária automática - 4
Código de barras 1 3
Rastreabilidade de lote e validade - 4
Checagem eletrônica a beira do leito - -
Abastecimento automático de estoques satélites 5 -
Dispensários eletrônicos - -
Fonte: elaboração própria – Caracterização da FH

Apenas uma inovação, o abastecimento automático de estoque satélites, já era


adotada por todos os hospitais antes da acreditação, que resultou em aprimoramento dos
padrões de trabalho inerentes a esta tecnologia.
Observa-se que a metodologia contribuiu para a adoção de sistemas automatizados
na maioria dos serviços, já que sete inovações foram incorporadas aos processos de trabalho
das unidades após a certificação. Merecem destaque especial a adoção do código de barras
e a distribuição horária automatizada, com rastreabilidade de lote e validade dos insumos,
que foram adotadas na maioria dos serviços (n=4). Essas mudanças podem ser reflexo do
reconhecimento dos gestores sobre a fragilidade dos processos manuais, que podem
acarretar em perda de informações e eficiência, bem como erros, na medida em que tais
ferramentas gerenciais resultam em aumento da segurança, agilidade e qualidade das
operações (MALTA, 2010; JAMES et al., 2013). É possível supor ainda que grandes
investimentos financeiros tenham sido empregados para aquisição das ferramentas e
treinamentos do pessoal envolvido.
Apesar disso, o reconhecimento de que a tecnologia pode aprimorar a segurança dos
processos não foi unanimidade entre os hospitais, já que a distribuição de tais aparatos não
foi uniforme e algumas unidades não implantaram quaisquer destas inovações. Chama a
atenção o fato do prontuário eletrônico estar presente em apenas duas unidades, uma vez
que esta é uma das inovações diretamente relacionadas à redução do risco de erros de
90

dispensação (BARRERA et al., 2009). No entanto, as farmácias já garantem a rastreabilidade


das operações, fator igualmente importante na garantia da segurança dos processos de
trabalho. A checagem eletrônica à beira do leito, ausente em todas as unidades, é uma das
possibilidades de investimento futuro para aprimoramento da segurança do paciente.

4.4 PERCEPÇÃO DO IMPACTO DA ACREDITAÇÃO

Os respondentes foram convidados a identificar o impacto que as ações


implementadas e/ ou aprimoradas pela acreditação trouxeram para a AF.
Não houve unanimidade nas respostas, entretanto, a percepção foi de que a
acreditação impactou positivamente na melhora do serviço prestado pela FH, uma vez que
28 das 43 atividades relacionadas no questionário foram apontadas como responsáveis pelo
aumento de segurança e eficiência das operações (apêndice 9).
Na visão dos participantes, o gerenciamento e a farmácia clínica foram os
componentes que responderam mais intensamente às mudanças propostas pela acreditação
na AF. O registro de não conformidades e a avaliação farmacêutica da prescrição médica
foram identificadas por todos como as ações que promoveram maior impacto na FH nos
quesitos segurança e eficiência, seguidas imediatamente pelo controle de indicadores,
tratamento de não conformidades, intervenção farmacêutica/ registro sistemático das
atividades em prontuário e orientação para boas práticas de administração de
medicamentos.
Embora a maioria dos respondentes tenha percebido melhorias tanto na segurança
quanto na eficiência, poucas atividades foram relacionadas exclusivamente à apenas um
destes aspectos. Das 43 atividades investigadas, 18 foram associadas à segurança e 6 à
eficiência (apêndice 9). Curiosamente, algumas atividades sequer foram mencionadas como
responsáveis por melhorias, estando centralizadas nos componentes manipulação,
distribuição, fracionamento e ensino.
Já em relação às inovações tecnológicas, implementadas e/ ou aprimoradas pela
acreditação, observou-se que a percepção também foi de impacto positivo na segurança e
eficiência das operações. Das dez variáveis estudadas, sete foram apontadas como
responsáveis por este resultado (tabela 10), onde a distribuição horária automática
respondeu expressivamente pelo maior apelo em relação à eficiência e segurança dos
91

processos (n=4). Apenas duas inovações foram relacionadas exclusivamente ao aumento da


segurança e nenhuma, à eficiência.

Tabela 10: Tipo de impacto percebido pelos serviços de farmácia na adoção de


inovações tecnológicas após a acreditação, N=5. Rio de Janeiro (RJ), Brasil, 2013
Tipo de impacto
Inovações tecnológicas aliadas à dispensação
Segurança Eficiência Ambos
Prontuário eletrônico do paciente - - 2
Prescrição eletrônica - - 2
Aprazamento eletrônico - - 2
Registro eletrônico da validação farmacêutica da
- - 1
prescrição médica
Distribuição horária automática - - 4
Código de barras 1 - 2
Rastreabilidade de lote e validade 2 - 2
Checagem eletrônica a beira do leito - - -
Abastecimento automático de estoques satélites - - -
Dispensários eletrônicos - - -
Fonte: elaboração própria – Caracterização da FH

A percepção dos respondentes está de acordo com os resultados encontrados por


James e colaboradores (2013), cujo estudo identificou uma redução de 56% na taxa de erros
de dispensação e um aumento de produtividade de 43% após o emprego da automação,
melhorando a eficiência e a segurança da distribuição. Tal estudo apontou que os erros de
dispensação foram mais frequentes durante os períodos de alta carga de trabalho, devido ao
automatismo involuntário, fadiga e excesso de confiança dos funcionários, minimizado pelos
aparatos tecnológicos.
Adicionalmente, na perspectiva de expor toda a subjetividade do tema e garantir
uma maior compreensão das implicações do processo de acreditação para a FH, foi
empregada a técnica do GF. Tal ferramenta permitiu explorar as opiniões, experiências e
sentimentos dos indivíduos, que não poderiam ser identificadas unicamente com a
objetividade do questionário estruturado.
Foram realizados dois encontros, que contaram com uma participação homogênea
dos convidados, não sendo necessário o estímulo à fala pela moderadora, garantindo o
respeito mútuo e a interatividade dos participantes. Os convidados agradeceram o fato de
terem sido escolhidos, chegando a ser mencionada a oportunidade de participação em
92

outros encontros, devido à possibilidade de reflexão sobre os problemas e ampliação da


comunicação entre os agentes.
Os resultados, detalhados a seguir, foram ordenados e discutidos por categorias
temáticas, ilustradas com pequenos extratos dos depoimentos colhidos nas gravações.

4.4.1 ACREDITAÇÃO COMO FONTE DE MUDANÇAS NA AF

Mediante os testemunhos dos sujeitos da pesquisa evidenciou-se que a acreditação


promoveu mudanças na AF que favoreceram a reintrodução do farmacêutico no cenário
assistencial, deixando lentamente de ser um mero fornecedor de insumos, para atuar como
um membro da equipe multiprofissional.

A farmácia tinha o papel de meramente dispensar materiais e medicamentos (...)


Acho que esse modelo da acreditação veio trazer o foco assistencial, colocar a
assistência farmacêutica mais em evidência. E acho que aí há a grande mudança de
paradigma, da farmácia da época, no meu entendimento, para o modelo atual,
alavancado pela acreditação, é trazer o modelo farmacêutico mais com foco na
assistência. (GE05)

A farmácia foi acreditada pela primeira vez por um administrador, que era o chefe
da farmácia. Existia uma farmacêutica que era, dentro da hierarquia e do
organograma, um conselho consultivo; ela era apenas uma consultora dos
processos. Disso que a gente tinha, nós estamos falando de 6 anos atrás, ao que é e
existe hoje, a gente se inseriu 100%. (GF01)

Todo o meu setor com a acreditação foi muito mais longe. Não existia essa cultura.
Eu era um simples almoxarifado e passei a ser um serviço de farmácia hospitalar,
inserido na assistência. A gente queria muito ser visto como profissional de saúde,
né, não almoxarife e de quebra a acreditação traz isso (...) Todo mundo entendeu
que se a farmácia não for acreditada, o hospital também não vai. (GF02)

Houve importantes mudanças relacionadas à estrutura física, ao quadro de


farmacêuticos e aparatos tecnológicos na FH.

Prescrição eletrônica, código de barras, rastreabilidade. Não tem conversa; hoje


sem o sistema eletrônico, não vai. (GF01)
93

O que eu sinto de imediato foi além, desde a mudança de efetivo de farmacêuticos,


porque com a demanda das atividades multidiscipinares da acreditação, a gente
acaba tendo que ter um aumento do quadro de farmacêuticos e isso eu acho bem
positivo, porque a gente acaba fornecendo um serviço de qualidade de fato. Tem
essa parte de infraestrutura também, porque a farmácia, pelo menos nos hospitais
em que eu trabalhei, muita das vezes fica negligenciada em termos de
investimento e com o processo de acreditação, a gente consegue realmente
defender a necessidade de ter os mobiliários, os espaços adequados (...) a gente
consegue ter uma farmácia realmente com cara de farmácia hospitalar e não
somente como um estoque que está ali escondidinho, como um serviço que o
paciente não vê, ninguém vê, um serviço de apoio puro e simplesmente (GF03)

Entretanto, essas alterações não aconteceram de modo igualitário em todas as


unidades, corroborando os achados obtidos a partir dos questionários estruturados. Além
disso, não foram mencionadas pelos clientes, que não conseguiram perceber todas as ações
implementadas pela FH para o fornecimento de um serviço mais seguro e eficiente.

Estrutura física, ainda não mudei nada e é apontado toda vez como uma não
conformidade, mas em serviço foi abissal, assim, tomou outra dimensão. Eu ganhei
muito mais em processo. (GF01)

No meu caso a mudança maior foi na estrutura física. Eu ainda tô no processo...


(GF02)

De forma generalizada, as mudanças mais evidentes para os participantes estão


relacionadas ao aprimoramento contínuo dos processos inerentes à FH. Os relatos
evidenciaram, claramente, que o foco do trabalho do farmacêutico tem mudado da visão
simplista de dispensar medicamentos para o cuidado compreensivo do paciente. Essa
percepção, citada por farmacêuticos e seus clientes, vai ao encontro dos resultados obtidos
a partir dos questionários estruturados, que revelaram o incremento nas atividades
desenvolvidas pela FH, com ênfase para a farmácia clínica. Foi praticamente unânime a
constatação de que a acreditação favoreceu principalmente a estruturação desta prática,
garantindo a inserção da FH no contexto assistencial, como parte integrante do todo e
fundamental para a conquista do selo de qualidade.

A gente vê muito bem, os setores que tiveram piloto de farmácia clínica, eles
alavancaram, né, e isso trouxe uma lição da porta pra dentro para eles começarem
a redesenhar alguns processos. (GQ01)
94

Eu saio daqui muito fortalecida e um ponto de reflexão importante é que o serviço


da farmácia tá dentro do hospital, principalmente na questão da farmácia clínica,
né, que tá ali dentro do processo da recuperação, que é o grande objetivo da
unidade de saúde. (GE03)

Muitas vezes não se ouvia falar do farmacêutico, não se conhecia o farmacêutico,


não tinha a cultura do farmacêutico rodar pelo hospital, conversar com os médicos,
fazer a intervenção, ter a intervenção aceita, de notificar em prontuário, a opinião,
como que ele pode melhorar a assistência daquele paciente com o conhecimento
dele, junto da equipe da nutrição, então, quase não tinha o contato de nutricionista
com o farmacêutico, e a acreditação possibilitou isso tudo (GF03)

Com o processo de acreditação, como foi dito, a farmácia se envolve em


praticamente todos os setores do hospital, ela acaba permeando todas as funções
e tem contato com todos os profissionais do hospital. (FA05)

4.4.2 ASPECTOS FACILITADORES PARA A ACREDITAÇÃO NA FH

Todas as mudanças na AF foram favorecidas pelo interesse institucional em obter a


certificação, que exigiu dos gestores uma mudança de postura em relação à FH, no que
tange ao cumprimento da legislação e ao atendimento de padrões, garantindo
investimentos estruturais, adequações de quadro e o estímulo à revisão de processos.

É, eu acho que a acreditação veio para mudar. Se não fossem algumas exigências
da acreditação, eu acredito que ainda estaríamos com apenas um farmacêutico
(GE03).

A questão de colocar a farmácia aqui 24 horas, em tempo integral, não é uma


escolha, quer dizer, a acreditação vem resgatar a lei para fazer com que quem
toma a decisão entenda que isso é importante, relevante, para alcançar o objetivo
dele. (GE05)

A gente só não tinha poder de convencimento, que é isso que a acreditação nos
obrigou a ver, na verdade. Então, assim, ‘ó, sem isso não vai’, coisas que a gente já
lutava, porque nada daquilo ali pra gente é novo, aquilo é pura normatização,
cumprimento de regra, de lei, de norma, de boa prática, que a gente tem no
sangue (...) Assim, a acreditação veio para dizer o que a gente já ta gritando há
anos. (GF01)

Outro ponto relevante para a acreditação na FH foi o apoio da qualidade na


estruturação dos processos e na definição dos pontos cruciais para o desenvolvimento do
serviço.
Então, na farmácia, eu acho que a gente teve que se aprofundar mais. Até porque
no momento que a gente vai levar o report pra Direção, é a gente que de uma certa
forma blinda um pouco a farmácia, porque não é a farmácia que pediu pessoal, né.
O processo de acreditação precisa de um profissional pra poder ta atendendo uma
questão que o próprio modelo de acreditação tá colocando. Então, a gente de uma
certa forma, blinda e protege. E, eu acho que nesse momento, a gente tem um
pouquinho mais de poder de negociação. (GQ01)
95

Para os farmacêuticos, também foi primordial o apoio recebido de suas próprias


equipes, que permitiu enfrentar todas as não conformidades e oportunidades de melhoria
com maior facilidade.
E aí é bacana se a aceitação da equipe também é importante. O que eu ia fazer se
eles não tivessem olhado e pensado: eu vou agregar? A gente tava sentindo falta
disso (GF01).

A equipe que fazia parte no exato momento da acreditação. De um lado, teu chefe
carregando caixa, levando pra cá, pra lá; de outro, o mensageiro junto com você
virando a noite. Isso foi importante, vendo que você fez parte daquela estrutura ali.
(FA05)

4.4.3 OBSTÁCULOS PARA A ACREDITAÇÃO NA FH

Apesar dos indícios de mudança no foco de atuação da FH, houve unanimidade na


percepção de que a AF ainda está muito centrada na questão logística, reflexo de anos de
estagnação profissional e da falta de apoio dos próprios gestores. A alta administração ainda
enxerga a FH como um importante centro gerenciador de custos e investe o mínimo
necessário para garantir a certificação, permanecendo alheia aos anseios e pressões da
equipe multiprofissional por ações e atitudes mais efetivas da FH no processo de cuidado.

Eu vejo mudanças, óbvio, é claro isso, mas a farmácia e o almoxarifado são


estruturas administrativas que dão 40%, 60% do faturamento do hospital e é difícil
você convencer seu diretor de coisas tão óbvias pra gente (...) A verdade é essa, é
óbvio que durou porque é uma imposição, não é mais uma questão técnica. (GF01)

Eu ainda tenho muita dificuldade de mostrar a importância. Nós ainda temos


aquela coisa do dinheiro ali com a gente. Como temos 60% do dinheiro ali com a
gente, é muito mais fácil deles entenderem que a gente é setor de controle do que
um setor de prestação de serviços farmacêuticos e de assistência. Ainda é muito
difícil separar, como a gente tem 60% do financeiro, eles entendem que a gente
tem que ter só 10% de assistência, sabe, não tem o farmacêutico 24 horas, que
mais que precisa? O farmacêutico precisa mesmo fazer reconciliação? Isso não dá
pra fazer de outra maneira não, não dá pra pegar só 10 leitos e fazer? Um
farmacêutico só não faz? Então, eu ainda tenho essa dificuldade de mostrar que o
farmacêutico, precisa de muito mais do que tem hoje (GF02).

A farmácia começa a entender que o papel dela é importante também da porta pra
fora, mas não consegue avançar para o modelo, ainda por um entendimento da
administração engessado. A assistência fala, os gestores médicos falam da
necessidade, mas eles não conseguem se unir pra lutar por aquilo de uma forma
uníssona, entendeu, acho que a gente tá vivendo particularmente uma situação de
caos controlado (GQ01).

Acho que ainda falta uma longa estrada para poder fazer com que os processos que
a farmácia vem executando não sejam simplesmente a entrega de um produto. E
sim um modelo de gestão farmacêutica que possa ir além, de acordo com a
formação dele que é enfim, o papel assistencial (GE05)
96

Os dados sugerem que a clareza dos gestores, quanto à existência de diferentes


processos no âmbito da AF, ainda é relativa. Tal fato representa um importante obstáculo na
busca contínua pela qualidade da AF e um verdadeiro paradoxo. Araújo e Freitas (2006)
reforçam tal conclusão em trabalho que avaliou a AF em unidades de saúde de Ribeirão
Preto sob a perspectiva de farmacêuticos. Para os autores, a orientação das atividades da
FH permanece vinculada ao controle de estoque, ancorada na justificativa da garantia do
acesso ao medicamento e nas condições de trabalho oferecidas pelo empregador.
De fato, seria utópico pensar que todos os serviços poderiam passar do enfoque
meramente logístico para um modelo focado na clínica, já que as ações do farmacêutico
hospitalar, que visam melhorar os resultados da farmacoterapia, ainda são recentes no Brasil
(PENAFORTE, 2006; SILVA, 2010; SANTANA et al., 2013). Além disso, o uso correto e eficaz
dos medicamentos não pode estar dissociado da gestão destes produtos, que é o que
garantirá o abastecimento e o acesso a estas tecnologias.
Um dos entrevistados ressaltou alguns vieses, onde mesmo sendo apontadas não
conformidades, o selo é concedido, gerando certo incômodo e frustrações nos
farmacêuticos, cuja expectativa por mudanças é muito grande. Tal percepção leva ao stress
e desgaste do profissional, que ainda não tem autonomia gerencial e não consegue enxergar
a qualidade como processo de melhoria contínua e não imediata.

Apesar de ser uma não conformidade apontada em toda visita, ela nunca me
impediu de ser acreditada.(...) E quando você vê que a acreditação não traz uma
mudança efetiva numa cultura administrativa, aí você começa até a duvidar
daquilo. Será que isso é puramente mercadológico? Juro. Eu tenho várias críticas
(GF01).

Para os stakeholders, ainda percebe-se uma relativa acomodação dos profissionais


farmacêuticos, acompanhada de uma postura tímida e da dificuldade de compreensão do
seu papel no todo. Outra dificuldade mencionada, é que as responsabilidades, agora
reconhecidas e divididas sob a forma de pactos, nem sempre são devidamente assumidas,
evidenciando impasses entre as equipes e fragilidades nas relações, que contradizem a
interação tão exigida pela acreditação e ferem as expectativas, depositadas pelos clientes da
FH.
97

Quando veio o processo de acreditação, o nível de exigência, ele veio pra todo
mundo e eu acredito que esse nível de exigência, talvez, tenha se acelerado um
pouco mais da porta pra fora e aí quando foi pra dentro da farmácia, ela foi um
pouco reativa pra entender qual era o seu posicionamento nesse novo contexto.
(GQ01)

(...) e aí essa divisão de tarefas meio que criou um atrito de quem faz o quê. Não,
agora esse aqui é o teu papel e você tem que me entregar a droga para eu
administrar. Se a droga não tiver no teu estoque, isso é uma responsabilidade tua.
(...) Essa responsabilidade tá dividida, mas ainda não está assim assumida. (GE03)

Enfermagem e médico que notificam que a farmácia não cumpriu aquilo que
deveria cumprir. Daí, a percepção quando a gente entende que a expectativa que a
gente quer como produto de entrega era muito maior do que a farmácia deveria
entregar e não entregou (GE04).

Pelo pouco que eu vejo, é difícil você encontrar o farmacêutico que não fique só na
frente da dispensação, que tenha uma visão mais aberta. Isso é bom para o
mercado, isso é bom para a farmácia (GQ05).

Em publicação que propõe um modelo de acreditação para farmácias comunitárias,


Silva (2003) também conclui que o papel do farmacêutico está marcado por uma crise de
identidade, decorrente de um agir administrativo e, muitas vezes, anônimo, cercado de
pouco preparo técnico e quase nenhuma autonomia gerencial para promover mudanças.
Ressalta-se aqui que a gestão do uso de medicamentos e produtos para saúde tem como
forte componente, além do conhecimento técnico, as relações interpessoais e a habilidade
de comunicação em linguagem adequada, o que pode ser um fator limitante para execução
de procedimentos pelos profissionais atuantes na FH (ARAÚJO; FREITAS, 2006).
A visão dos clientes é parcialmente percebida pelos farmacêuticos, que sentem uma
grande carência em sua própria formação, sobretudo em relação aos aspectos clínicos,
contribuindo ainda mais para a dificuldade de interação entre as equipes.

A acreditação também ajudou bastante para isso e sem dúvida o trabalho do


farmacêutico deixa de ser aquela pessoa, aquele trabalho burocrático e tal e ser
inserido de fato na clínica, e aí acho que a dificuldade da gente, que a gente
começa a ver as defasagens realmente na nossa formação, que a gente não tem
uma formação voltada pra assistência ao paciente, clínica, conhecimento de
material, utilização de materiais e aí que se faz importante salientar as atividades
multidisciplinares até pra gente agregar conhecimento e a gente poder passar um
pouco da nossa visão que muitas das vezes é diferenciada dos outros profissionais
de saúde. (GF03)

Araújo e Freitas (2006) acrescentam que a formação acadêmica não oferece um


preparo adequado para o completo exercício da AF, dada a pouca atividade prática junto ao
usuário do medicamento. Neste caso, é preciso inclusive questionar qual modelo de
98

formação seria o mais adequado para sistematização da prática assistencial, já que a


adequação curricular dos cursos de farmácia deve contemplar tanto a melhoria dos
conhecimentos clínicos quanto holísticos, que possibilitarão uma atuação mais eficaz do
farmacêutico junto ao paciente (CHARLIE et al., 2010). A mudança, proveniente da
academia, certamente contribuirá para uma maior conscientização dos farmacêuticos sobre
o seu importante papel perante a sociedade (ARAÚJO; FREITAS, 2006).
Assim como no trabalho de Araújo e Freitas (2006), percebe-se que o enxuto
dimensionamento de quadro, acentuado pela oferta de mão de obra auxiliar pouco
qualificada, agrava a sobrecarga de trabalho, dificultando a implementação das ações e
melhorias esperadas para a AF. Estes fatos, acompanhados de certa resistência e sofrimento
para tornar a acreditação possível na FH, permitem que o farmacêutico se sinta acuado e,
por vezes, se esquive de algumas responsabilidades, contribuindo para o atendimento
parcial das expectativas dos clientes. Talvez os pontos negativos apresentados advenham da
própria novidade, pois o novo projeta insegurança e resistência imediatas, porém
momentâneas.

Se a alta administração não anda em conformidade com o que está sendo exigido
de uma acreditação, como a gente faz? Os objetivos têm que ser comuns, a
acreditação não pode estar em todos os setores e seu administrador não te dar
aumento de quadro. Então, essa dicotomia habita a minha cabeça, bastante e todo
dia. (...) Eu acho que todos aqui que passaram pela acreditação, não conseguiram
sem trabalhar em casa, final de semana. O horário de trabalho não é viável (GF01)

Os outros setores não entendiam, até então, o impacto do meu trabalho, o quanto
a gente estava inserido em todos os processos. Então, com a acreditação veio a
segurança do trabalho, a CCIH, a enfermagem, a fisioterapia, a qualidade....Todos
começaram a enxergar o setor de farmácia e a sua real importância na instituição,
porque todo mundo tinha que fazer seus pactos com o mínimo de interação e aí
foram me inserindo. Não era mais aquela coisa de cada um vê o seu, cada um toma
conta do seu. Então, foi um momento em que a demanda de atenção no setor de
farmácia foi imensa, explodiu. (GF02)

É, mesmo o efetivo estando maior do que já foi no passado, eu ainda concordo


plenamente que o farmacêutico no hospital ainda é sub-dimensionado. A gente
ainda tem um quadro predominante de auxiliares, em detrimento de farmacêuticos
e eu acho que o ideal seria justamente ou que fosse equilibrado ou que fosse mais
farmacêutico do que auxiliar. (...) A farmácia agora pra acreditação tem que ter
assistência. Assim como a enfermagem tem prestar assistência. Só que pra gente,
além da assistência, ainda tem logística. Enfermagem tem gerente de enfermagem,
coordenador de enfermagem, em cada setor muitas das vezes, supervisora,
plantonista e o farmacêutico? Só o coordenador, o plantonista e ponto final. Os
felizardos até têm rotina. Assim, se eu tenho logística e assistência, como é que eu
vou fazer isso com o efetivo que tenho em mãos? Porque a mesma assistência eu
também tenho que fazer (GF03).
99

(...) E, querendo ou não, o primeiro ponto que você pensa é: tem mais trabalho,
isso aqui não vai dar pra implantar, isso aqui nunca vai funcionar, isso aqui também
não vai pra frente; você sempre tende a pensar com pessimismo, mas com o tempo
você vai vendo que é possível fazer (GF05).

Assim como no presente estudo, Cunha (2012) identificou, em pesquisa qualitativa


que dimensionou a força de trabalho em FH da Secretaria de Saúde do Estado de Santa
Catarina, que a sobrecarga de trabalho por falta de mais profissionais, o estresse demasiado
pelo grau de responsabilidade e a excessiva interferência da atividade profissional na vida
particular, como os fatores negativos advindos da atividade farmacêutica hospitalar.
Urge a necessidade de uma maior conscientização da administração hospitalar para
investimentos, que contribuirão para a estruturação dos serviços de farmácia,
profissionalização das equipes e uma atuação mais centrada no sucesso da terapia
medicamentosa e da melhora da qualidade de vida do paciente.

4.4.4 IMPACTOS DA ACREDITAÇÃO PARA A AF

Na visão dos farmacêuticos, a acreditação impactou positivamente no desempenho


da FH, especialmente quando comparado com o momento anterior à certificação, apesar de
reconhecerem que ainda há um longo caminho a percorrer. O fato de não terem relacionado
diretamente a melhoria do desempenho com as dimensões da qualidade, utilizadas como
referencial neste trabalho, não deixa claro o real impacto da acreditação sobre a eficiência
do serviço mencionada por estes participantes.

A gente ainda não conseguiu chegar ao fim, não conseguiu estar em todas as
etapas do monitoramento (GF01).

Estamos no ideal? Não. Mas, comparativamente antes da acreditação, melhorou


sem dúvida. Porque não tinha nem farmacêutico! Passei a ter farmacêutico, a fazer
uma série de atividades que podem parecer básicas, mas que eu não fazia (GF02).

Os clientes também consideram que o desempenho da FH melhorou, embora seja


frágil e esteja longe do que realmente esperam, prejudicando a satisfação final. A
acessibilidade, a confiabilidade, a disponibilidade e, portanto, a eficiência ficam abaladas
pela quebra dos pactos gerados na dispensação, que não garantem a existência do produto
final no lugar e no momento requeridos, atendendo a todos os preceitos de segurança e
100

qualidade. Assim, o despertar para eventos, antes considerados normais e agora retratados
como não conformidades, foi notório, contribuindo sobremaneira para a prevenção e
resolução de problemas de naturezas variadas, bem como para o seu registro formal e
monitoramento com uso de indicadores, ferramentas da qualidade que fazem parte dos
requisitos da acreditação em prol da eficiência dos processos da AF.

É a partir deste momento que você tem farmacêutico, que você começa a
desenvolver protocolo e indicadores. (GF02)

Em todo processo de acreditação hoje, quando o avaliador vai ao hospital, ele quer
ver o registro do farmacêutico no prontuário do paciente. Ele quer ver, se não tiver,
não tem assistência farmacêutica. (GE03)

Eu afirmo que hoje a maior parte das notificações de não conformidade no


cumprimento de pactos ou de processos é da farmácia. (GE05)

No entanto, os clientes parecem desconhecer a totalidade e complexidade de


atividades inerentes à cadeia medicamentosa, porque para eles a qualidade do serviço
farmacêutico ainda está muito voltada para a dispensação, reforçando a subjetividade
inerente ao conceito. Esta percepção está de acordo com os resultados de Araújo e Freitas
(2006) que citam a interação do farmacêutico com a equipe de saúde como ocasional e
vinculada à ocorrência de problemas operacionais da gestão dos estoques ou de dúvidas
quanto à prescrição. Da mesma forma, Varela e colaboradores (2011) identificaram que as
funções farmacêuticas mais reconhecidas por outros profissionais de saúde ainda são o
fornecimento e distribuição de medicamentos.
Poucos clientes percebem que a responsabilidade pela cadeia medicamentosa é
coletiva e não apenas da FH, demonstrando certa dificuldade em captar os reais benefícios
da acreditação para a AF. Essa é uma visão paradoxal, pois afirmam querer uma farmácia
clínica ainda mais atuante, mas não conseguem enxergar além da entrega correta do
medicamento no local e hora requeridos. Neste sentido, cai por terra a visão de AF
multiprofissional e fica a dúvida de como garantir um trabalho clínico adequado, se as bases
estruturais da FH parecem não estar tão solidificada nos hospitais investigados, apesar das
mudanças evidenciadas.

Em relação a essa pergunta, como é que a gente avalia o desempenho, ele ainda é
frágil, mas um frágil muitas vezes compartilhado. Não é frágil somente na farmácia,
né? (GQ 01)
101

Pra criar a confiabilidade, eu preciso confiar no que está sendo dispensado. Então,
a dispensação é um ponto bastante importante que é o que vai dar confiança pra
gente executar o trabalho e ter continuidade. (GE03)

O foco é muito mais a dispensação do que a assistência, óbvio. Essa é uma grande
discussão nossa aqui, já que almejamos uma participação maior e mais afetiva na
área assistencial. A equipe de enfermagem, em uma análise geral, ela tá muito mais
interessada em ter uma dispensação coerente, do que ter uma assistência
farmacêutica. Já que ela que administra, é ela que monitora os efeitos indesejados,
as reações adversas, ela que notifica. Então, ela prefere ter o produto na mão, pra
poder fazer na hora certa, da maneira certa e não atrasar o trabalho dela. Se o
farmacêutico vai interagir, isso não é percebido ainda na realidade. Então, se for
fazer essa quebra na sua pergunta, o interesse maior é a dispensação. Isso é o que
eu, como cliente, mais espero. (GE05)

Os farmacêuticos têm consciência de que ainda não conseguem atender às


expectativas dos seus clientes, mesmo com a gradativa construção de um novo serviço,
cercado de recursos e aparatos tecnológicos para aumento da segurança e eficiência dos
processos. Nota-se que os profissionais se veem em um cenário permeado por cobrança e
pressão que, de certa forma, pode ser um atalho para desviar a atenção de processos falhos
nos setores atendidos pela FH. Compreendem que a construção de um atendimento de
qualidade não está restrita apenas à dispensação e não pode ser atribuída unicamente às
deficiências da FH, o que não é reconhecido por todos os clientes. Apesar do envolvimento
de vários atores nesta complexa operação, na prática, a responsabilidade pela AF cabe ao
profissional farmacêutico, pelo seu histórico vínculo indissociável com o medicamento.

Reconheceu-se a farmácia, mas será que não aproveitam esse reconhecimento


para também se isentar de algumas responsabilidades? (GF03)

Eles não têm noção dos processos que são inerentes àquela logística toda. ‘Você
toma conta de tudo isso aqui?’ Mas não sabem a real dificuldade. (FA05)

Apesar das divergências de opiniões, a percepção geral dos stakeholders é a de que a


FH se esforça para construir um novo pensar e agir em prol da segurança, que ainda está em
evolução e vai forçar a novas atitudes e práticas, preconizadas pela acreditação, para uma AF
de qualidade.
102

Quando você começa a notificar e ver as notificações, você vê as tratativas dessas


notificações, você vê que teve melhoras. Quando o grupo é participativo e tá
imbuído dessa eficiência, dessa eficácia, da eficiência da história, você vê que as
notificações começam a diminuir e não é por falta de estímulo de notificar ou por
uma parte punitiva. É porque os processos estão se organizando. (...) Assim, os
filtros e os gargalos estão sendo feitos para melhorar isso tudo. Eficiência,
confiabilidade, o acesso, a segurança, isso tudo tá sendo feito e eu até acho que tá
sendo bem feito. Eu acho que a gente vai ter que ter são os ajustes, a integração
das casas, dos negócios. (GQ05)

4.4.5 CONTRIBUIÇÕES DA ACREDITAÇÃO PARA AF

Na visão das partes interessadas, a acreditação promoveu mudanças na FH, que


ainda não foram capazes de gerar benefícios reais para o atendimento global prestado ao
paciente e não resultaram em profundas alterações na eficiência da AF.

Eu ainda não consigo ver toda essa contribuição da farmácia em relação à


qualidade de atendimento. Eu consigo ver o médico, eu consigo ver o da
enfermagem, o fisioterapeuta, mas da farmácia, para o paciente, não, não consigo
(GQ04).

É preocupante a gente não conseguir tangibilizar a importância ou o valor da


contribuição da farmácia dentro da qualidade. Talvez a acreditação passe e você
não perceba a mudança. (GE05)

Apesar disso, reconhecem que a inserção do farmacêutico na equipe


multiprofissional, promovida pela acreditação, afetou o seu próprio trabalho. Entendem que
agora há um responsável pelo cuidado, no que concerne a farmacoterapia, criando uma
divisão de tarefas e responsabilidades, conforme já evidenciado no tópico que trata dos
impactos. Isso fez com que seu nível de exigência aumentasse, contribuindo para uma visão
cada vez mais crítica sobre os processos da FH. Essa postura poderá, no futuro, garantir uma
participação maior da farmácia no cuidado, exigindo um serviço cada vez mais estruturado e
eficiente.
Isso é o lado positivo que a acreditação trouxe para a qualidade, só que o lado
oposto, tem essa questão da expectativa. Agora a gente quer mais, isso que você já
ta fazendo é muito pouco, a gente espera mais de vocês e aí essa diferença do que
eu quero e o que você pode me dar é a grande confusão. (GE05)

Varela e colaboradores (2011) mencionam, em seu estudo, que tal percepção é um


reflexo direto das mudanças nos sistemas de saúde, que têm exigido um envolvimento cada
vez maior dos farmacêuticos no cuidado dedicado ao paciente.
103

Para os farmacêuticos, o maior ganho está na mobilização institucional provocada


pela acreditação que, apesar do apelo mercadológico pela sustentabilidade empresarial,
permitiu o reconhecimento da importância da FH e alavancou algumas mudanças na
estrutura, no organograma e nos processos, afetando direta e positivamente o seu trabalho.
Essa contribuição certamente gerou um melhor atendimento ao cliente interno, apesar das
quebras de pacto já mencionadas.

Afeta. A gente faz todos os protocolos, a gente faz retirada de acesso precoce, o
antibiótico tá injetável, bota pra oral. Então, impactou sim. (GF01)

A legislação hospitalar brasileira não conseguiu um efeito tão forte quanto à


acreditação. Isso eu não tenho dúvida! É mercado, é marketing! (GF02)

É um selo de qualidade que vai render dinheiro para o hospital. Sem acreditação, o
hospital perde dinheiro! (GF03)

A farmácia passa a ter um rosto, os farmacêuticos passam a ser referência em


certos assuntos e as pessoas passam a olhar o próprio setor da farmácia também
(GF05).

Para Silva (2003), as alternativas processuais, que garantirão uma melhor operação
às farmácias, podem encontrar apoio no modelo de acreditação, cujas características
poderão ter grande importância na reconstrução do papel do farmacêutico. Suas bases
sociais e organizacionais, legítimas e sustentáveis, podem alavancar o desenvolvimento de
uma efetiva rotina de acompanhamento dos pacientes, com a documentação de todos os
procedimentos técnicos e a adoção de quadros com responsabilidades bem definidas, o que
pode dar ao farmacêutico a chance de uma transformação radical em suas atividades. Essa
conclusão também é compartilhada por Gonsalves (2012) que, ao propor a construção de
um modelo de administração estratégica em farmácia hospitalar, afirma que a acreditação
impulsiona a formação de uma estrutura baseada no realinhamento das atividades
desenvolvidas na FH, a fim de oferecer ao paciente uma AF segura, de boa qualidade e que
subterfuja desperdícios provenientes de desvios de qualidade técnico-administrativos.
Apesar dos avanços, os farmacêuticos reconhecem que a reorientação do serviço
ainda não foi o suficiente, porque não refletiu em mudanças drásticas no cuidado global
oferecido ao paciente e, por isso, não foi tão percebida pelos demais profissionais. Há muito
104

mais planejamento do que efetiva execução, o que pode mascarar o real impacto das ações
exercidas pela FH para a qualidade da AF.

Então, hoje a gente planeja. Se isso tá tendo impacto... Eu acho que tá, porque
acredito que eles tão cumprindo o que tá sendo planejado, mas a gente queria
estar lá pra ver o que o farmacêutico faz lá na beira do leito, mas eu não consigo.
(GF01)

Ressaltam, como contribuição relevante, o crescimento e amadurecimento


profissional, relatados com certa emoção e brilho no olhar.

Mudou a minha vida. Sou outra pessoa, 6 anos parece que eu passei 20. Mudou
tudo, crescimento, amadurecimento, botar a cara pra bater, tá de frente com a
família, tudo, ir pra outra acreditação, brigar pelo que você quer, você acreditar,
discordar da acreditação, falar que não é assim... (GF01)

Então, profissionalmente aconteceu isso. Eu consegui lembrar que existia


profissional de saúde em mim; arregaçar literalmente as mangas e voltar. (GF02)

Sem dúvida. Acho que mudou bastante. O meu crescimento profissional acho que
foi grande. (GF03)

Cunha (2012) identificou, no tocante a qualidade de vida no trabalho, que os


farmacêuticos são dedicados na execução das suas tarefas, trabalham por vocação e se
identificam com o que fazem.
Esse fato, no entanto, não impactou em incremento salarial para o grupo da FH,
mesmo com todo o envolvimento para obtenção do selo, levando a uma enorme frustração
da equipe de farmacêuticos, caracterizada por alto turn-over.

Você tem que cumprir 400 protocolos em um hospital, sem ganhar nada? Então,
ele vai pra qualquer lugar que não tenha isso (...) Quantos farmacêuticos você acha
que eu tive em 1 ano? Alta rotatividade (risos). Não ficava nem 15 dias” (GF02).

No confronto entre as razões positivas e os argumentos negativos apresentados


pelos farmacêuticos, observa-se que a valorização e o conhecimento adquiridos por cada
indivíduo superaram a pressão e a cobrança, já que é impossível conquistar melhorias sem o
aumento da responsabilidade. Assim é inegável que a recompensa voltada à valorização e ao
reconhecimento do profissional minimizaria a visão negativa apresentada pelos
participantes.
105

De forma geral, as mudanças decorrentes da acreditação não só contribuíram para


uma maior inserção da FH nas atividades de cuidado, como também vem exigindo dos
farmacêuticos uma postura cada vez mais ágil, aberta a mudanças de curto prazo e ao
mesmo tempo, gerencial, relacionadas à tomada de decisão, planejamento, organização,
criatividade, pensamento lógico e discernimento. O caminho a ser percorrido pela FH ainda é
longo, mas a mobilização em prol da qualidade da AF e o anseio da classe pelo novo
certamente promoverão profundas reestruturações neste segmento.
106

5 CONCLUSÃO

A presente dissertação identificou e descreveu o impacto do processo de acreditação


na AF de cinco hospitais privados, sob a perspectiva de farmacêuticos e clientes internos do
serviço de FH, atendendo aos objetivos da pesquisa.
O emprego do estudo de casos múltiplos, com uso de mais de uma fonte de
evidências, possibilitou a avaliação da FH no contexto da acreditação. Partindo-se da
aplicação de um instrumento investigativo e da técnica de GF, foi possível caracterizar as
unidades hospitalares e os serviços de farmácia, bem como apontar as mudanças, obstáculos
e percepções que o processo de qualidade, vivenciado através da acreditação, promoveu na
AF hospitalar, focando os eixos estrutura, processo e resultados.
Constatou-se, apesar da variabilidade de estágios de desenvolvimento, que a
acreditação resultou em investimentos em infraestrutura, recursos tecnológicos e humanos,
além do incremento da execução de atividades desejáveis para um serviço de FH, com
significância estatística na amostra estudada. Tais medidas permitiram a incorporação de
mais farmacêuticos nas comissões institucionais e nas atividades assistenciais, contribuindo
para a formação de pactos, gerenciamento dos riscos, registro e tratamento de não
conformidades, bem como para a expansão da farmácia clínica, componente com mais alta
expressividade dentre as atividades investigadas para a qualidade da AF e fortemente
mencionada pelos participantes no GF. Entretanto, a certificação teve pouca influência nos
componentes logística, distribuição, fracionamento, manipulação, informação, ensino e
pesquisa, embora tenha promovido pequenas adaptações na condução de tais atividades.
Para os farmacêuticos, as mudanças promovidas pela acreditação tiveram impacto no
desempenho da FH, aumentando a eficiência e a segurança da maior parte das atividades
desenvolvidas e contribuíram fortemente para o seu próprio amadurecimento e crescimento
profissional. Tal opinião não foi totalmente compartilhada pelos clientes internos, em cuja
perspectiva a certificação não conseguiu transformar radicalmente a realidade da FH, apesar
do reconhecimento do cenário de mudanças e do ciclo de melhorias pelos quais os serviços
vêm passando. Estes atores entendem que ainda há mais foco para o insumo e a FH ainda
centra sua atuação na logística e dispensação, em detrimento do paciente.
107

Nesse sentido, os encontros, promovidos para a realização do GF, permitiram uma


rica discussão sobre o papel do farmacêutico dispensador versus cuidador. De maneira geral,
pouco se realizou para que a inserção deste profissional na prática clínica fosse plena, dados
os inúmeros entraves que dificultam seu desenvolvimento no âmbito institucional. A
diversidade de funções, que ultrapassam a gestão do medicamento e do produto para
saúde, agravada por um quadro extremamente enxuto e pouco especializado, pode
comprometer a eficiência e a segurança das operações, contribuindo para a frustração das
expectativas depositadas no serviço prestado pela FH, que ainda é visto como pouco
acessível e confiável por seus clientes internos.
Além disso, a maioria dos atores tem a percepção de que é preciso melhorar a
remuneração e a formação acadêmica do farmacêutico, garantindo uma postura gerencial,
cercada de um forte embasamento assistencial, necessário à atuação clínica e ao
enfrentamento das adversidades. Não há dúvidas para os participantes de que uma atuação
segura, madura e bem estruturada do farmacêutico na área clínica trará o reconhecimento
da relevância de suas ações por toda equipe de saúde, na medida em que compartilhar
decisões e responsabilidades nos desfechos e solucionar problemas. E, finalmente, concluem
que a prática clínica precisa ser entendida pelos gestores, não apenas como uma
obrigatoriedade para a certificação e crescimento empresarial, mas sim como uma
necessidade, que deve ser fomentada para o sucesso terapêutico. Acreditam que o
reconhecimento, associado a uma justa remuneração e a melhores condições de trabalho
serão os fatores que vão possibilitar o pleno exercício da AF hospitalar.
No sentido de responder à hipótese formulada, o resultado foi positivo, na medida
em que as diretrizes da acreditação apontaram o caminho para o aprimoramento dos
serviços investigados, melhorando a eficiência, a qualidade e a segurança do serviço
prestado, a partir do cumprimento da legislação, boas práticas e padrões necessários à
promoção da AF. Observou-se que os serviços farmacêuticos hospitalares estão em
expansão na amostra avaliada, contribuindo para uma transformação lenta, porém contínua,
da realidade da FH, resultante de mudanças estruturais e processuais alavancadas pelo
processo de qualidade.
Entretanto, a contribuição da acreditação ainda é parcial, na medida em que as
expectativas não foram completamente atendidas, em um cenário de desempenho frágil
quando consideradas os resultados das atividades. Tanto para farmacêuticos quanto para as
108

partes interessadas, a qualidade do atendimento global oferecido ao paciente permanece


aquém do desejado, uma vez que o ciclo da AF ainda não se completa, gerando pouco
impacto no receptor final, o paciente. Talvez a maior contribuição da acreditação, nestes
hospitais, tenha sido a discreta mudança de atuação do farmacêutico, mencionada
anteriormente.
Ao identificar as oportunidades de melhorias estruturais, processuais, tecnológicas e
gerenciais, este trabalho poderá contribuir para uma melhor utilização dos recursos na FH,
na medida em que identifica as ações e inovações para a qualidade da AF. Ao promover a
reflexão das equipes sobre as mudanças conceituais e comportamentais que emergem do
processo de acreditação na AF, este estudo reafirma a importância da inserção da FH no
cuidado, como medida para a continuidade, eficiência e segurança da assistência prestada
ao paciente. Sob a ótica da saúde pública, estes certamente são os pontos de maior
relevância que a acreditação pode trazer para a AF.
Dado que o desenvolvimento da FH ainda vem ocorrendo de forma pontual, pouco
planejada e reconhecida pelos gestores, a adoção e a padronização de políticas e
indicadores, validados por entidades competentes no assunto, torna-se fundamental para
avaliar a estrutura e atividades da FH, corroborando os argumentos de Messeder (2005) e
Silva (2010) . São muitas as possibilidades de trabalho, já que há vários modelos de atuação
nas quais a prática farmacêutica hospitalar pode acontecer, porém todas devem estar
relacionadas ao incremento da qualidade na assistência, sempre considerando a
complexidade institucional e a estrutura multidisciplinar de cuidado. Essa iniciativa poderá
aumentar a compreensão sobre os resultados produzidos por cada serviço, público ou
privado, bem como os impactos de suas ações para os clientes internos e externos.
Vale ressaltar como limitações que o fato de um hospital recusar-se a participar da
pesquisa não permitiu captar possíveis diferenças no padrão de qualidade da AF desta
unidade em relação às demais, o que pode ter superestimado os resultados positivos da
acreditação na FH. Da mesma forma, a falta de alguns sujeitos na etapa do GF, em especial
farmacêuticos assistentes, pode ter dificultado a captura de percepções divergentes. Se toda
a população de estudo tivesse participado uniformemente, o resultado poderia ter sido
diferente, o que infelizmente não foi possível avaliar por outros meios.
Mesmo não sendo objetivo deste trabalho, o método não permitiu a hierarquização
de estruturas, processos e resultados dos serviços avaliados, uma vez que não buscou o
109

aprofundamento necessário para fins de diagnóstico e comparabilidade, o que colaboraria


para uma melhor análise da influência do fenômeno no desempenho dos serviços. Além
disso, não foi capaz de mensurar objetivamente a satisfação dos participantes em relação à
eficiência e segurança do serviço prestado e não possibilitou a realização de inferências.
Como sugestão para futuras pesquisas, a aplicação de um modelo lógico robusto,
com uso de técnica analítica apurada, poderá sanar tais deficiências e permitir a
generalização dos resultados.
110

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACURCIO, F.A.; CHERCHIGLIA, M.L.; SANTOS, M.A. Avaliação de qualidade de serviços de


saúde. Saúde em Debate, Londrina, v.33, p.50-53, dez. 1991.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Segurança do paciente e qualidade em


serviços de saúde: Assistência segura: Uma reflexão teórica aplicada à prática. Série:,1ª.
Edição, Brasília, 2013. Disponível em:
<http://www.anvisa.gov.br/hotsite/segurancadopaciente/documentos/junho/Modulo%201
%20-%20Assistencia%20Segura.pdf >. Acesso em 31/10/2013.

AKERMAN, M. e NADANOVSKY, P. avaliação dos serviços de saúde - Avaliar o quê? Cadernos


de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 8, n.4, p.361-365, out.-dez., 1992.

AMERICAN SOCIETY OF HEALTH SYSTEM PHARMACISTS. ASHP Guidelines: Preventing


medication errors in hospitals. American Journal of Health-System Pharmacy, Bethesda, v.50,
n.2, p.305–14, fev., 1993.

_____. _____.: Minimum standard for pharmacies in hospital. American Journal of Health-
System Pharmacy, Bethesda, v.70, n.18, p. 1619–30, set., 2013

ANACLETO, T.A.; PERINI, E.; ROSA, M.B. Medications errors and drug-dispensing systems in a
hospital pharmacy. Clinics, São Paulo, v.60, n.4, p.325-332, 2005.

ANTUNES, L.M. Implantação do processo de Acreditação baseado no manual das


organizações prestadoras de serviços hospitalares da ONA. Porto Alegre, 2002. 102 f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.

ARAÚJO, A.L.A; FREITAS, O. Concepções do profissional farmacêutico sobre a assistência


farmacêutica na unidade básica de saúde: dificuldades e elementos para a mudança. Revista
Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v.42, n.1, p. 137-146, 2006.

BACKES, D. S. et al. Grupo focal como técnica de coleta e análise de dados em pesquisas
qualitativas. O Mundo da Saúde, São Paulo, v.35, n. 4, p. 438-442, out.-dez, 2011.

BARRERA, J.C. et al. Gestión de La innovación tecnológica em la implantación de la


prescripción eletrônica asistida: estructura, proceso y resultados. Atención Farmaceutíca -
European Journal of Clinical Pharmacy, Barcelona, v.11, n.4, p.221-31, jul-ago., 2009.

BATES, D.W. et al. The costs of adverse drug events in hospitalized patients. Journal of
American Medical Association. v.277, n.4, p.307-311, jan. 1997.

BERENGER, M.M.; ELLIOT, L.G.; PARREIRA, A. Grupo focal. In ELLIOT, L.G. Instrumentos de
avaliação e pesquisa: caminhos para construção e validação. Rio de Janeiro: Wak Editora,
2012, 280 p., cap.6, p. 229-274.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria No 272, de 8 de Abril de 1998. Aprova o regulamento


técnico que fixa os requisitos mínimos exigidos para a terapia de nutrição parenteral. Diário
111

Oficial da União, Brasília, DF, 23 abr.1998. Disponível em: <


http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/d5fa69004745761c8411d43fbc4c6735/PORT
ARIA_272_1988.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em: 31/10/2013.

_____. _____. Portaria No 2616, de 12 de Maio de 1998. Aprova o regulamento técnico que
estabelece as diretrizes e normas para prevenção e o controle das infecções hospitalares.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13mai.1998. Disponível em: <
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis../gm/1998/prt2616_12_05_1998.html>. Acesso
em: 31/10/2013.

_____. _____. Portaria No 3916, de 30 de Outubro de 1998. Aprova a Política Nacional de


Medicamentos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n.215-E, p.18-22,10 nov.1998. Seção 1.

_____. _____. Portaria No 356, de 20 de Fevereiro de 2002. Aprova o Glossário de Termos


Comuns nos Serviços de Saúde do MERCOSUL. Disponível em:<
http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/b35ca400474583c18ed9de3fbc4c6735/PORT
ARIA+N%C2%BA+356-2002.pdf?MOD=AJPERES> Acesso em: 8/09/2013.

_____. _____. Resolução No. 50, de 21 de Fevereiro de 2002. Dispõe sobre o regulamento
técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de
estabelecimentos assistenciais de saúde. Disponível em:
<http://www.anvisa.gov.br/hotsite/segurancadopaciente/documentos/rdcs/RDC%20N%C2
%BA%2050-2002.pdf>. Acesso em: 28/09/2013.

_____._____. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Diretrizes para


estruturação de farmácias no âmbito do sistema Único de Saúde. Série A: Normas e Manuais
técnicos. Brasília, 44 p., 2009.

_____._____. Portaria No 4283, de 30 de Dezembro de 2010. Aprova as diretrizes e


estratégias para organização, fortalecimento e aprimoramento das ações e serviços de
farmácia no âmbito dos hospitais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n.251, p.94-95, 31
dez.2010. Seção 1.

_____._____. Secretaria de Atenção a Saúde. Cadernos Humaniza SUS - Atenção hospitalar.


Série B: Textos Básicos de Saúde, v. 3. Brasília, 268 p., 2011.

_____. _____.Resolução da Diretoria Colegiada RDC No. 36, de 25 de Julho de 2013. Institui
ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências.
Disponível em: <
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2013/rdc0036_25_07_2013.html>. Acesso
em 28/09/2013.

_____._____. Informações de saúde (TABNET). Disponível em:


<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?cnes/cnv/estabbr.def>. Acesso em: 14 fev.
2014.

CAMPOS, A.C.B. Avaliação de uma instituição hospitalar com base no programa de


acreditação hospitalar. Santa Maria, 2006. 110 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
Produção) - Centro de Tecnologia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2006.
112

CAPUCHO, H.C. Farmacovigilância hospitalar: Processos investigativos em farmacovigilância.


Separata de: Pharmacia Brasileira, Brasília, set.-out., 2008.

CARVALHO, C.O.M. et al. Qualidade em Saúde: Conceitos, Desafios e Perspectivas. Jornal


Brasileiro de Nefrologia, São Paulo, v.6, n. 4, p.216-222, dez.,2004.

CHARLIE, B.S.I.; FELLETO, E.; GASTELURRUTIA, F.A.; MARTINEZ, F.; FAUS, M.J. A holistic and
integrated approach to implementing cognitive pharmaceutical services, Ars Pharmaceutica,
Granada, v. 57, n. 2, p. 69-87, 2010.

CIPRIANO, S.L. Proposta de um conjunto de indicadores para utilização na farmácia


hospitalar com foco na acreditação hospitalar. São Paulo, 2004. Dissertação (Mestrado em
Saúde Pública) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.

CONTANDRIOPOULOS, A.P. et al. A avaliação na área da saúde: conceitos e métodos. In:


HARTZ, Z.M.A. Avaliação em saúde: dos modelos conceituais à prática na análise da
implantação de programas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1997, 132 p. capítulo 2, p. 29-48.

CUNHA, J.M.F. Dimensionamento da força de trabalho em uma farmácia hospitalar estadual:


uma proposta de implantação nas unidades hospitalares Estaduais de alta complexidade de
Santa Catarina. Florianópolis, 2012. Monografia (Especialização em gestão do trabalho e
educação em saúde). Escola de Saúde Pública de Santa Catarina Professor Mestre Osvaldo
de Oliveira Maciel, Florianópolis, 2012.

DALL´AGNOL, C.M. e TRENCH, M.H. Grupos focais como estratégia metodológica em


pesquisas na enfermagem. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v.20, n.1, p. 5-25,
jan.1999.

DONABEDIAN, A. The quality of care. How can it be assessed? Journal of American Medical
Association. v.260, n.12 p.1743-1748, set. 1988.

______. The seven pillars of quality. Archives of Pathology and Laboratory Medicine,
Northfield, v.114, p.1115-1119, nov. 1990.

ESHER, A. et al. Construindo Critérios de Julgamento em Avaliação: especialistas e satisfação


dos usuários com a dispensação do tratamento do HIV/Aids. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro, v.17, n.1, p. 203-214, jan.2012.

FAUS, M.J; MUÑOZ, P.A.; MARTINEZ, F. Atenção farmacêutica: serviços farmacêuticos


orientados ao paciente. In: _____. Atenção farmacêutica: conceitos, processos e casos
práticos. São Paulo: RCN Editora, 2008. 246 p.,cap.1, p. 29-47.

FELDMAN, L.B.; GATTO, M.A.F; CUNHA, I.C.K.O. História da evolução da qualidade hospitalar:
dos padrões a acreditação. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v.18, n. 2, p.213-219,
abr-jun, 2005.

FERREIRA, A.B.H. Miniaurélio: o minidicionário da língua portuguesa. 7ª. Ed, Curitiba: Ed.
Positivo; 2008. 896 p.
113

GALATO, F. et al. Desenvolvimento e validação de pictogramas para o uso correto de


medicamentos: descrição de um estudo-piloto. Acta Farmacéutica Bonaerense, Buenos
Aires, v.25, n.1, p.131-138, jan.-mar., 2006.

GALVAO, J. O segmento de saúde para o desenvolvimento regional no município de


Blumenau – SC: a participação do Hospital Santa Isabel. Blumenau, 2003. Dissertação
(Mestrado em Desenvolvimento Regional) - Centro de Ciências Humanas e da comunicação:
Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, 2003.

GASPAR, M. et al. Establecimiento de un indicador de calidad de atención farmacéutica.


Farmacia Hospitalaria, Madri. v.33, n.6, p.296-304, nov.-dez., 2009.

GATTINARA, B. C. et al. Percepción de la comunidad acerca de la calidad de los servicios de


salud públicos en los distritos Norte e Ichilo, Bolivia. Cadernos de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v.11, n.3, p.425-438, jul.-set., 1995.

GIL, A.C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 3ª. Ed. São Paulo: Atlas, 1996.

GOMES, M.J.V.M.; REIS, A.M.M. organizadores. Ciências farmacêuticas: uma abordagem em


farmácia hospitalar. São Paulo: Editora Atheneu; 2003, 559p.

GONÇALEZ, R. Sim, também é preciso administrar. Revista do Farmacêutico do Conselho


Regional de Farmácia do Estado de São Paulo, São Paulo, n.107, mai.- jun.–jul., 2012.

GONÇALVES, E.L. Estrutura organizacional do hospital moderno. RAE - Revista de


Administração de Empresas, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 80-90, jan.-mar. 1998.

GONSALVES, Z.S. Modelo de Administração Estratégica em Farmácia Hospitalar: o caso do


INTO. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado Profissional em Saúde Pública) - Escola
Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2012.

HOFFMANN, R.P. The six major JCAHO pharmacy standards. Hospital Pharmacy, v.23, n.11,
p.988- 990,nov.,1988.

JAMES, K.L. et al. The impact of automation on workload and dispensing errors in a hospital
pharmacy. International Journal of pharmacy practice, Aberdeen, v.21, n.2, p.92-104, abr.,
2013

JARA, M.C. Unitarização da dose e segurança do paciente: responsabilidade da farmácia


hospitalar ou da indústria farmacêutica? Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços
de Saúde, São Paulo, v.3, n.3, p.33-37, jul-set, 2012.

JOINT COMISSION INTERNATIONAL. Sobre a JCI: Acreditada pela ISQua. Disponível


em:<http://pt.jointcommissioninternational.org/enpt/ISQua-Accredited/>. Acesso em:
27/10/2013.

KABOLI, P. J. et al. Clinical Pharmacists and Inpatient Medical Care: A Systematic Review.
Archives of Internal Medicine. Chicago, v.166, n.9, p.955-964, mai. 2006.
114

KILROY, R. A.; LAFRATE, R. P. Provision of pharmaceutical care in the intensive care unit.
Critical Care Nursing Clinics of North America, Maryland, v.5, n.2, p.221-225, jun. 1993.

KÜHNER, D.O. Sistemas de manipulação, fracionamento e reenvase: seu hospital


trabalhando como uma engrenagem. São Paulo: Laboratório Eurofarma, 2005.

KIND, L. Notas para o trabalho com a técnica de grupos focais. Psicologia em Revista, Belo
Horizonte, v.10, n.15, p.124-136, jun.,2004.

KOWIATEK, J.G. et al. Monitoring compliance with JCAHO standards using a medication-
control review tool. American Journal of Health-System Pharmacy, Bethesda, v.59, n.18. p.
1763-1767, set., 2002.

LABBADIA, L.L. et al. O processo de acreditação hospitalar e a participação da enfermeira.


Revista Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v.12, n.1, p.83-87, jan.-abr.,2004.

LA FORGIA, G. M. E COUTTOLENC, B. F. Hospital Performance in Brazil: The Search for


Excellence. Washington: The World Bank, 2008. 360p.

LIMA, C.R.; SILVA, M.D.G.; REIS, V.L.S. Sistemas de distribuição de medicamentos em


farmácia hospitalar. In: GOMES, M.J.V.M.; REIS, A.M.M. organizadores. Ciências
farmacêuticas: uma abordagem em farmácia hospitalar. São Paulo: Editora Atheneu; 2003,
559p. cap.20, 347-362.

LOCH-NECKEL, G.; CREPALDI, M.A. Pharmacist contributions for basic care from the
perspective of professionals of familial health care teams. Brasilian Journal of
Pharmaceuticas Sciences, São Paulo, v.45, n.2, p.263-272, abr-jun, 2009.

MCGRATH, S.H. et al. Physician perceptions of pharmacist-provided medication therapy


management: Qualitative analysis. Journal of the American Pharmacists Association,
Washington, v.50, n.1, p.67–71,jan.-fev., 2010.

MAGARINOS-TORRES, R.; OSORIO-DE-CASTRO, C.G.S.; PEPE, V.L.E. Atividades da farmácia


hospitalar brasileira para com pacientes hospitalizados: uma revisão da literatura. Ciência &
Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n.4, p.973-984, jul-ago. 2007.

MALTA, N.G. Rastreabilidade de medicamentos na farmácia hospitalar. Separata de:


Pharmacia Brasileira, n.79, Nov.-dez.,2010.

MANZO, B.F. O processo de acreditação hospitalar na perspectiva de profissionais de saúde.


Belo Horizonte, 2009. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.

MARTINS, R.M.; GOMES, J.C.M. Experiência do hospital Estadual Sumaré na informatização e


automação da farmácia hospitalar. In: Storpirtis, S. et al. Ciência Farmacêuticas: farmácia
clínica e atenção farmacêutica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008, 489 p., cap.17,
p.117-122.
115

MARSHALL, J.; FINN, C. A.; THEODORE, A. C. Impact of a clinical pharmacist -enforced


intensive care unit sedation protocol on duration of mechanical ventilation and
hospital stay. Critical Care Medicine, Baltimore, v.36, n.2, p.427-433, fev. 2008.

MATOS, S. M. et al. Um Olhar sobre as ações do enfermeiro no processo de Acreditação.


Revista Mineira de Enfermagem, Belo Horizonte, v. 10, n. 4, p. 418-424, out-dez. 2006.

MATSOSO, M.P. Future vision and challenges for hospital pharmacy. American Journal of
Health-System Pharmacy, Bethesda, v. 66, n.5, Supl. 3, p.S9-12, mar., 2009.

MAZZA, V.A.; MELO, N.S.F.O.; CHIESA, A.M. O grupo focal como técnica de coleta de dados
na pesquisa qualitativa: relato de experiência. Cogitare Enfermagem, Curitiba, v.14, n.1,
p.183-188, jan.-mar.,2009

MESSEDER, A.M. Avaliação de Estrutura e Processo de Serviços de Farmácia Hospitalar


segundo nível de Complexidade do Hospital. Rio de Janeiro, 2005. Dissertação (Mestrado em
Saúde Pública) - Escola Nacional De Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz,
Rio de Janeiro, 2005.

MESSEDER, A.M.; OSORIO-DE-CASTRO, C.G.S.; CAMACHO, L.A.B. Projeto Diagnóstico da


Farmácia Hospitalar no Brasil: uma proposta de hierarquização dos serviços. Cadernos de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.23, n.4, p.835-844, abr, 2007.

MONTGOMERY, K. E SCHNELLER, E.S., Hospital´s strategies for orchestrating selection of


physician preference items, The Milbank Quarterly, New York, v.85, n. 2, p. 307 – 335,
jun.2007.

NAVES, J.O.S. et al. Automedicação: uma abordagem qualitativa de suas motivações. Ciência
& Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.15, suplemento 1, p.1751-1762, jun.2010.

NOVAES, H.M.; PAGANINI, J.M. Editores. La garantia de calidad: acreditacion de hospitales


para America Latina y Caribe. Washington: OPAS, 1992 (OPS. Serie HSD/SILOS-13).
OLIVEIRA, M.A.; BERMUDEZ, J.A.Z.; OSÓRIO-DE-CASTRO, C.G.S. Assistência farmacêutica e
acesso a medicamentos. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007, 112 p.

ORGANIZAÇÃO NACIONAL DE ACREDITAÇÃO. Manual Brasileiro de Acreditação das


Organizações Prestadoras de Serviços Hospitalares. Brasília, 2010. 164 p.

_____. Institucional: Certificações concedidas. Disponível em:


<https://www.ona.org.br/OrganizacoesCertificadas>. Acesso em 28/09/2013.

ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE SAÚDE. Guía para el desarrollo de servicios


farmacéuticos hospitalarios: Logística del Suministro de Medicamentos. Serie medicamentos
esenciales y tecnología. Washington: Opas; 1997. 31 p.

OSORIO-DE-CASTRO, C.G.S e CASTILHO, S.R. (organizadores). Diagnóstico da Farmácia


Hospitalar no Brasil. Rio de Janeiro: ENSP/Fiocruz: 2004. 152p.
116

PENAFORTE, T.R. Avaliação da atuação dos farmacêuticos na prestação da assistência


farmacêutica em um hospital universitário. Ribeirão Preto, 2006. 165 p. Dissertação
(Mestrado em Saúde da Comunidade) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto,
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2006.

PERAZOLLO, E. et al. Os conceitos da teoria de sistemas, alinhados ao modelo de gestão


Prêmio Nacional da Gestão em Saúde – PNGS, no gerenciamento da Farmácia Hospitalar.
Revista de Administração em Saúde, São Paulo, v.8, n.32, jul.– set., 2006.

PEREIRA, L. R. L.; FREITAS, O. A evolução da Atenção Farmacêutica e a perspectiva para o


Brasil. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, São Paulo, v. 44, n. 4, p. 601-612,
out./dez. 2008.

REIS, A.M.M. Farmácia Hospitalar: Planejamento, missão e visão. In: Storpirtis, S. et al.
Ciência Farmacêuticas: farmácia clínica e atenção farmacêutica. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2008, 489 p., cap.10, p.101-106.

REIS, E.J.F.B. et al. Avaliação da qualidade dos serviços de saúde: notas bibliográficas.
Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, Mar. 1990.

RESSEL, L.B. Vivenciando a sexualidade na assistência de enfermagem: um estudo na


perspectiva cultural. São Paulo, 2003. 333 p. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Escola de
Enfermagem da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

RIBEIRO, H.P. O Hospital: historia e crise. São Paulo: Cortez, 1993. 135 p.

RICCI, M.C.S. Farmacotécnica hospitalar: formas farmacêuticas não estéreis. In: Storpirtis, S.
et al. Ciência Farmacêuticas: farmácia clínica e atenção farmacêutica. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008, 489 p., cap.18, p.171-181.

RICH, D.S. Pharmacies' noncompliance with 2009 Joint Commission hospital accreditation
requirements. American Journal of Health-System Pharmacy, Bethesda, v.67, n.2, p.144–
147, jan., 2010.

RODRIGUES, E.A.A. Uma revisão da acreditação hospitalar como método de avaliação de


qualidade e da experiência brasileira. Rio de Janeiro, 2004. 75 p. Dissertação (Mestrado
Profissional em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde) – Escola Nacional de Saúde Pública
Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2004.

ROSA, M.B.; GOMES, M.J.V.M.; REIS, A.M.M. Abastecimento e gerenciamento de materiais.


In: GOMES, M.J.V.M.; REIS, A.M.M. organizadores. Ciências farmacêuticas: uma abordagem
em farmácia hospitalar. São Paulo: Editora Atheneu; 2003, 559p. cap.21, 365-386.

SANTANA, R.S. et al. Assistência farmacêutica de uma rede de hospitais públicos: proposta
de utilização das diretrizes ministeriais para avaliação do serviço. Revista Brasileira de
Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde, São Paulo, v.4, n.1, p.29-34, jan-mar, 2013.
117

SCHIESARI, L.M.C. Cenário da Acreditação Hospitalar no Brasil: evolução histórica e


referências externas. São Paulo, 1999. 162 p. Dissertação (Mestrado em Administração
Hospitalar) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999.

SILVA, M.J.S. Avaliação da Farmácia Hospitalar em Hospitais estaduais do Rio de Janeiro. Rio
de Janeiro, 2010. 128 p. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) – Escola Nacional de
Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2010.

SILVA, R.R. Acreditação de farmácias: a construção de um modelo. São Paulo, 2003. 197 p.
Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São
Paulo, São Paulo. 2003.

SMEHA, L. N. Aspectos epistemológicos subjacentes a escolha da técnica do grupo focal na


pesquisa qualitativa. Revista de Psicologia da IMED, Passo Fundo, v.1, n.2, p.260-268, jul.-
dez., 2009.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE FARMÁCIA HOSPITALAR - SBRAFH. Padrões mínimos para a


farmácia hospitalar e serviços de saúde, Goiânia, 2007, 19p.

_____. 1º. Censo brasileiro da farmácia hospitalar, 2010. Disponível em:


<http://www.sbrafh.org.br/site/index/library/sc/4>. Acesso em: 28/09/2013.

SOUSA, A.B.; SAKAI, M.C. Centro de informações sobre medicamentos.In: Storpirtis, S. et al.
Ciência Farmacêuticas: farmácia clínica e atenção farmacêutica. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2008, 489 p., cap.25, p.237-250.

TRAVERSO D.M. L; et al. Aplicación de un programa de acreditación en servicios de farmacia


hospitalarios en Argentina. Farmacia Hospitalaria; Madri, v. 26, n.6, p. 356-365, nov, 2002.

UCHIMURA, K.Y. E BOSI, M.L.M. Qualidade e subjetividade na avaliação de programas e


serviços em saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.18, n.6, p.1561-1569, nov-
dez, 2002.

VAITSMAN, J.; ANDRADE, G.R.B. Satisfação e responsividade: formas de medir a qualidade e


a humanização da assistência à saúde. Ciência e Saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.10, n.3,
p.599-613, jul-set, 2005.

VARELA, N.M.D. et al. What is the role of the pharmacist? Physicians’ and nurses’
perspectives in community and hospital settings of Santiago de Cuba. São Paulo, Brazilian
Journal of pharmaceutical sciences, v. 47, n.4, p. 709-718, out-dec.2011

VECINA NETO, G. E MALIK, A.M., Tendências na assistência hospitalar, Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 4, p. 825 – 839, jul.-ago., 2007.

VIEIRA, F.S. Qualificação dos serviços farmacêuticos no Brasil: aspectos inconclusos da


agenda do Sistema Único de Saúde. Revista Panamericana de Salud Pública, Washington,
v.24, n.2, p.91-100, ago. 2008.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005. 212p.
118

YOKAICHIYA. C.M. Em busca da atenção farmacêutica: um estudo sobre os fatores


gratificantes e estressantes do trabalho das equipes de farmácia dos serviços municipais de
DST/Aids de São Paulo. São Paulo, 2004. 95p. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Instituto
de Pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde de São, Universidade de São Paulo, São Paulo.
2004.

YOKAICHIYA, C.M., FIGUEIREDO, W.S.; SCHRAIBER, L.B. Usuários de drogas injetáveis e


terapia anti-retroviral:percepções das equipes defarmácia. Revista de Saúde Pública, São
Paulo, v.41, Supl. 2, p.14-21, dec.2007.

YOUNG, D. Rural, small hospitals face JCAHO challenges. American Journal of Health-System
Pharmacy, Bethesda, v.61, n.12, p.1221-1222, jun., 2004.
119

APÊNDICE 1

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA - CARACTERIZAÇÃO DO HOSPITAL

ANO DE
HOSPITAL: INAUGURAÇÃO:

ENDEREÇO:

BAIRRO: CEP: MUNICÍPIO:


RESP. PELAS
INFORMAÇOES: CARGO:

TELEFONE: E-MAIL:
NATUREZA DA ASSISTÊNCIA

( ) Geral ( ) Geral com especialidades ( ) Especializado

NÍVEL DE ATENÇÃO
( ) Secundária ( ) Terciária ( ) Quaternária
NÚMERO DE LEITOS MÉDIA MENSAL DE INTERNAÇÕES
Total: __________ Ativos: __________ Média: __________

QUANTO AO CORPO CLÍNICO

( ) Aberto ( ) Fechado
SISTEMA DE EDIFICAÇÃO

( ) Pavilhonar ( ) Monobloco ( ) Multibloco


( ) Vertical (predominante) ( ) Horizontal (predominante)
NÚMERO TOTAL DE FUNCIONÁRIOS OUTRAS CERTIFICAÇÕES

Total: _______________________ ( ) JCAHO ( ) Canadense ( ) PNGS/ FNQ

CERTIFICAÇÃO ONA

( ) Nível 1 Ano da certificação: __________


( ) Nível 2 Ano da certificação: __________
( ) Nível 3 Ano da certificação: __________
120

APÊNDICE 2

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA: CARACTERIZAÇÃO DA FARMÁCIA HOSPITALAR


CÓDIGO DE
HOSPITAL: IDENTIFICAÇÃO:

NOME: MÊS E ANO DE CONTRATAÇÃO:

E-MAIL: TELEFONE:

ORGANOGRAMA

A farmácia tem um organograma? ( ) SIM ( ) NÃO


A farmácia está subordinada diretamente a quem? _______________________________________________
Número total de funcionários: _______________
Número total de funcionários por categoria:
( ) Farmacêuticos ( ) Planejadores de Demanda ( ) Estagiários ( )Técnicos de Farmácia ( ) Auxiliares de Farmácia/ Almoxarifado
( ) Auxiliares de Clínicas ( ) Auxiliares Administrativos ( ) Mensageiros ( ) Outros:__________________________________________
Houve aumento de quadro decorrente do processo de acreditação? ( ) SIM ( ) NÃO
Se sim, relacione o incremento: ________________________________________________________________________________________________

ESTRUTURA
2 2
Área Física total da farmácia em m : ( ) <50 m ( ) 51 a 150 m2 ( ) > 151 m2
Localização da Farmácia no Hospital:
( ) No prédio principal ( ) Fora do prédio com acesso coberto ( ) Fora do prédio com necessidade de circulação
Localização da Farmácia no Prédio: ( ) Subsolo ( ) Térreo ( ) Outro andar
Horário de Funcionamento com Farmacêutico: ( )8H ( ) 12 H ( ) 24 H
A farmácia possui documentos sanitários atualizados? ( ) SIM ( ) NÃO
Se não, relacione quais estão em atraso e os motivos: _________________________________________________________________________
Produtos armazenados: ( ) Medicamentos ( ) Material Hospitalar ( ) Dietas Industrializadas ( ) OPME
Possui Farmácia Satélite? ( ) SIM ( ) NÃO
Assinale os setores onde estão localizadas as farmácia satélites:
( ) UTI Adulto ( ) UTI Neo Natal ( ) Centro Cirúrgico ( ) Emergência ( ) Hemodinâmica
( ) Outros: _________________________________________________________________________________
Possui estoque em setores não controlados pela farmácia (não considerar carros de parada)? ( ) SIM ( ) NÃO
Relacione os estoques não controlados pela farmácia:____________________________________________________
Houve ampliação ou melhorias na estrutura física da farmácia decorrente do processo de acreditação? ( ) SIM ( ) NÃO
Se sim, relacione o incremento: ________________________________________________________________________________________________
Houve aquisição de mobiliários ou equipamentos para guarda, conservação ou controle de medicamentos e demais insumos decorrente do processo
de acreditação?
( ) SIM ( ) NÃO
Se sim, relacione o incremento: ________________________________________________________________________________________________

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA FARMÁCIA HOSPITALAR

Aponte com (X) todas as atividades desenvolvidas pelo serviço de farmácia. Adicionalmente, informe se estas atividades já existiam, foram
implementadas ou aprimoradas como consequência da acreditação, marcando a coluna correspondente. Naquelas atividades marcadas como
implementadas ou aprimoradas, sinalize se provocaram impacto na segurança, na eficiência do seu serviço ou em ambos.
121

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA FARMÁCIA HOSPITALAR (CONTINUAÇÃO)

EXISTENTE IMPLEMENTADA APRIMORADA


ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
SIM NÃO ANTES DA COM A COM A SEGURANÇA EFICIÊNCIA AMBOS
PELA FARMÁCIA HOSPITALAR?
ACREDITAÇÃO ACREDITAÇÃO ACREDITAÇÃO
Elaboração e descrição de
Procedimentos
Operacionais Padronizados
Descrição da Missão e
Gerenciamento

Visão do serviço
Controle de Indicadores
Registro de não
conformidades

Tratamento de não
conformidades
Participação do farmacêutico em comissões

Comissão de Farmácia e
Terapêutica/ Padronização

Comissão de Controle de
infecção Hospitalar

Equipe multidisciplinar de
terapia nutricional

Grupo de gerenciamento
do risco
Grupo de Gerenciamento
de resíduos de serviços de
saúde
Avaliação de fornecedores
Cadastro de fornecedores
Programação de compra
Logística

Aquisição
Recebimento
Estocagem e guarda
Controle de estoque
Fracionamento Distribuição

Dose coletiva
Dose individualizada
Dose unitária
Sólidos orais
Sólidos não orais
Líquidos
Injetáveis

Fórmulas magistrais
Manipulação

Nutrição parenteral

Citostáticos
Avaliação Farmacêutica da
prescrição médica
Intervenção farmacêutica e
Farmácia Clínica

registro sistemático das


atividades em prontuário
Plano formal para
acompanhamento de
pacientes internados
Monitoramento de
interação medicamentosa
122

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA FARMÁCIA HOSPITALAR (CONTINUAÇÃO)

EXISTENTE IMPLEMENTADA APRIMORADA


ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA
SIM NÃO ANTES DA COM A COM A SEGURANÇA EFICIÊNCIA AMBOS
FARMÁCIA HOSPITALAR?
ACREDITAÇÃO ACREDITAÇÃO ACREDITAÇÃO

Participação nas visitas médicas


Participação na elaboração de
protocolos terapêuticos
Farmácia Clinica

Reconciliação medicamentosa
Monitoramento do efeito de
medicamentos de maior
toxicidade/ risco
Farmacovigilância
Orientação para boas práticas
de administração de
medicamentos
Ensino Informação

CIM

Elaboração de Guia
Farmacoterapêutico
Estágio acadêmico
Cursos de Pós-Graduação
Participação em ensaios
Pesquisa

clínicos
Publicação de trabalhos
científicos
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS ALIADAS A DISPENSAÇÃO

Aponte quais inovações tecnológicas aliadas a dispensação são empregadas pelo serviço de farmácia, identificando-as com um (X). Adicionalmente,
informe se estas inovações já existiam, foram implementadas ou aprimoradas como consequência da acreditação, marcando a coluna
correspondente. Naquelas inovações marcadas como implementadas ou aprimoradas, sinalize se provocaram impacto na segurança, na eficiência do
seu serviço ou em ambos.

EXISTENTE IMPLEMENTADA APRIMORADA


INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS ALIADAS
SIM NÃO ANTES DA COM A COM A SEGURANÇA EFICIÊNCIA AMBOS
A DISPENSAÇÃO?
ACREDITAÇÃO ACREDITAÇÃO ACREDITAÇÃO
Prontuário eletrônico do paciente
Prescrição eletrônica
Aprazamento eletrônico
Registro eletrônico da validação
farmacêutica da prescrição médica
Distribuição horária automática
Código de barras
Rastreabilidade de lote e validade
Checagem eletrônica a beira do leito
Abastecimento automático de
estoques satélites
Dispensários eletrônicos
123

APÊNDICE 3

AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA

Eu, _____________________________________________, diretor da empresa


___________________, autorizo a pesquisadora Esterlita Bouças, CPF n° 078.621.937-84, a
executar o projeto intitulado “IMPLICAÇÕES DO PROCESSO DE ACREDITAÇÃO PARA OS
SERVIÇOS DE FARMÁCIA DE HOSPITAIS PRIVADOS SOB A PERSPECTIVA DA QUALIDADE DA
ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA: UM ESTUDO DE CASO”.

O presente estudo poderá ser desenvolvido nos Hospitais do grupo, previamente


selecionados, de forma que os resultados da pesquisa sejam utilizados com finalidade
puramente acadêmica e divulgados de forma consolidada, para garantir o sigilo das
informações institucionais.

Rio de Janeiro, _____ de _____________ de 20 ____.

___________________________________________

Assinatura
124

APÊNDICE 4

TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA

Eu, _______________________________________________, Diretor do Hospital


___________________________________________, declaro ter lido e concordar com o
parecer ético emitido pelo CEP da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
Fluminense, conhecer e cumprir as Resoluções Éticas Brasileiras, em especial a Resolução
CNS 196/96. Esta instituição está ciente de suas co-responsabilidades como instituição co-
participante do projeto de pesquisa intitulado “IMPLICAÇÕES DO PROCESSO DE
ACREDITAÇÃO PARA OS SERVIÇOS DE FARMÁCIA DE HOSPITAIS PRIVADOS, SOB A
PERSPECTIVA DA QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA: UM ESTUDO DE CASO”, e de
seu compromisso no resguardo da segurança e bem-estar dos sujeitos de pesquisa nela
recrutados, dispondo de infra-estrutura necessária para a garantia de tal segurança e bem-
estar.
Sendo assim, autorizo a pesquisadora Esterlita Bouças, CPF n° 078.621.937-84, a
desenvolver o referido projeto nas dependências do hospital, de forma que os resultados da
pesquisa sejam utilizados com finalidade puramente acadêmica e divulgados de forma
consolidada, para garantir o sigilo das informações institucionais.

Rio de Janeiro, ___de ____________________ de ______.

___________________________________________

Assinatura
125

APÊNDICE 5

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título do Projeto: Implicações do processo de acreditação para os serviços de farmácia de hospitais


privados sob a perspectiva da qualidade da assistência farmacêutica: um estudo de caso
Pesquisador Responsável: Prof. Dra. Débora Omena Futuro
Instituição a que pertence o Pesquisador Responsável: Universidade Federal Fluminense
Telefones para contato: (21) 2629-9578 ou (21) 8103-8463
Nome do voluntário: ___________________________________________________________
Idade: ______________________ anos R.G. ___________________________________

Convidamos você a participar do projeto de pesquisa supracitado, cujo objetivo será analisar
os impactos do processo de acreditação na assistência farmacêutica, sob a perspectiva de
farmacêuticos e outros profissionais de saúde.
A justificativa deste estudo se fundamenta na crescente demanda por eficiência e
profissionalização nas farmácias hospitalares, fruto dos processos de acreditação, como garantia de
qualidade e segurança do serviço prestado.
Sua participação é muito importante e, portanto, será voluntária. Consistirá em responder a
um questionário e/ ou participar de dinâmica de discussões, cujo áudio e vídeo serão gravados.
Todas as informações serão confidenciais e tratadas de forma anônima e sigilosa. Alguns trechos,
obtidos na dinâmica, serão reproduzidos, sem que haja identificação do seu nome ou hospital onde
trabalha, a fim de preservar a sua identidade e privacidade.
Este estudo não oferece riscos ou desconfortos para você e não haverá prejuízos ou
punições, caso você se recuse a participar da pesquisa. Além disso, a qualquer momento, você
poderá retirar seu consentimento, deixando de participar do estudo.

Esterlita Bouças
Aluna do Mestrado Profissional em
Administração e Gestão da Assistência Farmacêutica

Declaração de consentimento:

Eu, ________________________________________, RG no______________________, declaro ter


sido informado e concordo em participar como voluntário do projeto de pesquisa descrito acima.
Niterói, _______ de _____________________ 20____.
_______________________________________________________________________
Assinatura
126

APÊNDICE 6

TERMO DE COMPROMISSO GRUPAL

Os itens, abaixo relacionados, dispõem sobre o Termo de Compromisso Grupal que deverá
conduzir as discussões e os encontros do GRUPO FOCAL realizado na pesquisa de tese
“IMPLICAÇÕES DO PROCESSO DE ACREDITAÇÃO PARA OS SERVIÇOS DE FARMÁCIA DE
HOSPITAIS PRIVADOS SOB A PERSPECTIVA DA QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA:
UM ESTUDO DE CASO”
Este termo assegura:
1. Respeito pela fala do outro, evitando deboches, críticas depreciativas, censuras ou
interrupções.
2. Liberdade de expressão, ao expor toda e qualquer ideia acerca do tema em foco, sem
receio de ser censurado ou avaliado quanto ao certo e ao errado, ao expressar opiniões
contrárias as do grupo.
3. Espaço para que todos possam falar, exercitando o ouvir e o esperar por sua vez de falar,
de maneira que todos expressem suas ideias.
4. Pontualidade para o horário de início e término do encontro.
5. Notificação ao moderador do grupo sobre qualquer desistência de participação nos
encontros, para que esta informe aos demais participantes.
6. Sigilo compartilhado entre todos os participantes do grupo, garantindo o compromisso
ético.

Tendo conhecimento e concordando com este Termo de Compromisso Grupal,


subscrevemos em ____________________________________________________________.

Niterói, _____ de _____________ de 20 _____.


127

APÊNDICE 7

Quadro 1: Atividades desenvolvidas pelo serviço de farmácia em função da unidade hospitalar


Atividades desenvolvidas por componente da
H. 01 H. 02 H. 03 H. 04 H. 05
assistência farmacêutica
Elaboração e descrição de
Procedimentos Operacionais X X X X X
Padronizados
Descrição da Missão e Visão do
X X X X
Gerenciamento serviço
Controle de Indicadores X X X X X
Registro de não conformidades X X X X X
Tratamento de não
X X X X X
conformidades
Comissão de Farmácia e
X X X X X
Terapêutica/ Padronização
Comissão de Controle de
X X X X X
infecção Hospitalar
Participação do Equipe multidisciplinar de
X X X X X
farmacêutico em terapia nutricional
comissões Grupo de gerenciamento do
X X X X X
risco
Grupo de Gerenciamento de
X X X X X
resíduos de serviços de saúde
Avaliação de fornecedores X X X X X
Cadastro de fornecedores X X X X X
Programação de compra X X X X X
Aquisição X X X X X
Logística
Recebimento X X X X X
Estocagem e guarda X X X X X
Controle de estoque X X X X X
Dose coletiva X
Distribuição Dose individualizada X X X X X
Dose unitária
Sólidos orais X X X X X
Sólidos não orais
Fracionamento
Líquidos
Injetáveis
Fórmulas magistrais
Manipulação Nutrição parenteral
Citostáticos
128

Quadro 1 (continuação): Atividades desenvolvidas pelo serviço de farmácia em função da


unidade hospitalar
Atividades desenvolvidas por componente da H. H. H. H. H.
assistência farmacêutica 01 02 03 04 05
Avaliação Farmacêutica da
X X X X X
prescrição médica
Intervenção farmacêutica e
registro sistemático das X X X X
atividades em prontuário
Plano formal para
acompanhamento de X X X
pacientes internados
Monitoramento de
X X X X X
interações medicamentosas
Participação nas visitas
X X X X X
Farmácia Clínica médicas/ Rounds
Participação na elaboração
X
de protocolos terapêuticos
Reconciliação
X X X
medicamentosa
Monitoramento do efeito de
medicamentos de maior X X
toxicidade/ risco
Farmacovigilância X X X X X
Orientação para boas práticas
de administração de X X X X X
medicamentos
SIM X X
Informação Elaboração de Guia
X X X
Farmacoterapêutico
Estágio acadêmico X X
Ensino
Cursos de Pós-Graduação
Participação em ensaios
X
clínicos
Pesquisa
Publicação de trabalhos
X X X
científicos
Fonte: Elaboração Própria – Caracterização da FH
129

APÊNDICE 8

Tabela 2: Impacto da acreditação sobre o número de atividades desenvolvidas


pelas farmácias hospitalares
Existentes Implantadas Aprimoradas
Atividades desenvolvidas por componente da
antes da com a com a
assistência farmacêutica
acreditação acreditação acreditação
Elaboração e descrição de
Procedimentos
4 1 2
Operacionais
Padronizados
Descrição da Missão e
1 3 0
Gerenciamento Visão do serviço
Controle de Indicadores 5 0 5
Registro de não
2 3 2
conformidades
Tratamento de não
0 5 0
conformidades
Comissão de Farmácia e
Terapêutica/ 3 2 1
Padronização
Comissão de Controle de
5 0 3
infecção Hospitalar
Equipe multidisciplinar de
Participação do 1 4 0
terapia nutricional
farmacêutico em
Grupo de gerenciamento
comissões 0 5 0
do risco
Grupo de Gerenciamento
de resíduos de serviços de 4 1 2
saúde
Avaliação de
4 1 2
fornecedores
Cadastro de fornecedores 5 0 2
Programação de compra 5 0 1
Aquisição 5 0 0
Logística
Recebimento 5 0 4
Estocagem e guarda 5 0 3
Controle de estoque 5 0 3
Dose coletiva 1 0 0
Distribuição Dose individualizada 5 0 3
Dose unitária 0 0 0
Sólidos orais 5 0 4
Sólidos não orais 0 0 0
Fracionamento
Líquidos 0 0 0
Injetáveis 0 0 0
130

Tabela 2 (continuação): Impacto da acreditação sobre o número de atividades


desenvolvidas pelas farmácias hospitalares
Existentes Implantadas Aprimoradas
Atividades desenvolvidas por componente da
antes da com a com a
assistência farmacêutica
acreditação acreditação acreditação
Fórmulas magistrais 0 0 0
Manipulação Nutrição parenteral 0 0 0
Citostáticos 0 0 0
Avaliação Farmacêutica da
1 4 1
prescrição médica
Intervenção farmacêutica
e registro sistemático das 0 4 0
atividades em prontuário
Plano formal para
acompanhamento de 0 3 0
pacientes internados
Monitoramento de
interações 1 4 1
medicamentosas
Participação nas visitas
Farmácia Clínica 1 4 0
médicas/ Rounds
Participação na elaboração
0 1 0
de protocolos terapêuticos
Reconciliação
0 3 0
medicamentosa
Monitoramento do efeito
de medicamentos de 0 2 0
maior toxicidade/ risco
Farmacovigilância 2 3 1
Orientação para boas
práticas de administração 1 5 0
de medicamentos
SIM 1 1 1
Informação Elaboração de Guia
1 2 0
Farmacoterapêutico
Estágio acadêmico 2 0 1
Ensino
Cursos de Pós-Graduação 0 0 0
Participação em ensaios
0 1 0
clínicos
Pesquisa
Publicação de trabalhos
2 1 0
científicos
Fonte: Elaboração Própria – Caracterização da FH
131

APÊNDICE 9

Tabela 3: Impacto da acreditação na segurança e eficiência das atividades


desenvolvidas pelas farmácias hospitalares
Atividades desenvolvidas por componente da assistência
Segurança Eficiência Ambos
farmacêutica
Elaboração e descrição de
Procedimentos Operacionais 0 0 3
Padronizados
Gerenciamento Descrição da Missão e Visão do serviço 0 3 0
Controle de Indicadores 0 1 4
Registro de não conformidades 0 0 5
Tratamento de não conformidades 0 1 4
Comissão de Farmácia e Terapêutica/
1 0 2
Padronização
Comissão de Controle de infecção
1 0 2
Hospitalar
Participação do
Equipe multidisciplinar de terapia
farmacêutico 1 1 2
nutricional
em comissões
Grupo de gerenciamento do risco 3 0 2
Grupo de Gerenciamento de resíduos de
2 0 1
serviços de saúde
Avaliação de fornecedores 1 0 2
Cadastro de fornecedores 2 0 0
Programação de compra 0 0 1
Logística Recebimento 1 0 3
Estocagem e guarda 0 0 3
Controle de estoque 0 0 3
Dose coletiva 0 0 0
Distribuição Dose individualizada 1 0 2
Dose unitária 0 0 0
Sólidos orais 1 0 3
Sólidos não orais 0 0 0
Fracionamento
Líquidos 0 0 0
Injetáveis 0 0 0
Fórmulas magistrais 0 0 0
Manipulação Nutrição parenteral 0 0 0
Citostáticos 0 0 0
Avaliação Farmacêutica da prescrição
0 0 5
médica
Intervenção farmacêutica e registro
Farmácia Clínica sistemático das atividades em 0 0 4
prontuário
Plano formal para acompanhamento de
1 0 2
pacientes internados
132

Tabela 3 (continuação): Impacto da acreditação na segurança e eficiência das


atividades desenvolvidas pelas farmácias hospitalares
Atividades desenvolvidas por
componente da assistência Segurança Eficiência Ambos
farmacêutica
Monitoramento de
interações 3 0 3
medicamentosas
Participação nas
visitas médicas/ 0 0 3
Rounds
Participação na
elaboração de
0 0 1
protocolos
terapêuticos
Farmácia Reconciliação
1 0 2
Clínica medicamentosa
Monitoramento do
efeito de
medicamentos de 0 0 1
maior toxicidade/
risco
Farmacovigilância 3 0 1
Orientação para boas
práticas de
1 0 4
administração de
medicamentos
SIM 1 0 1
Informação Elaboração de Guia
1 0 1
Farmacoterapêutico
Estágio acadêmico 0 1 0
Cursos de Pós-
Ensino 0 0 0
Graduação
Participação em
1 0 0
ensaios clínicos
Pesquisa
Publicação de
0 1 0
trabalhos científicos
Fonte: Elaboração Própria – Caracterização da FH

Você também pode gostar