Você está na página 1de 3

04/11/2022

1 A estrutura ternária
Forma um todo aquilo que tem princípio, meio e fim.
Aristóteles, A Poética.

A primeira definição da estrutura ternária foi elaborada por Aristóteles há cerca de 2500
anos. No entanto, a estrutura atualmente recomendada por numerosos manuais como
sendo uma garantia de sucesso corresponde ainda à noção aristotélica. Mas, como já
dissemos, esta noção não é a única e existem outras estruturas além da ternária que
funcionam na narrativa cinematográfica.
3

Apesar de tudo, “é perturbante verificar que muitos filmes se conformam a esse modelo
nos Estados Unidos e noutros países, incluindo em obras modernas, o que levaria a
demonstrar que esse paradigma é relativamente independente dos critérios do classicismo
e do modernismo.”

4

O paradigma ternário desenvolvido por Field baseia-se num roteiro de 120 páginas e pode
ser sucintamente ilustrado pelo seguinte esquema:
Princípio – Ato I: exposição e localização (páginas 1-30).
Meio – Ato II: desenvolvimento do enredo (páginas 30-90).
Fim – Ato III: resolução do conflito e fim (páginas 90-120).

5 Primeiro ato
O primeiro ato é, antes de tudo, um ato de exposição durante o qual o espectador recebe
todas as informações que lhe permitirão compreender a orientação do enredo. A matéria,
a atmosfera, as personagens, os lugares, o estilo e sobretudo o tema devem ser fixadas
na exposição.
6

Estas informações são rapidamente comunicadas nas primeiras 15 páginas do roteiro,


permitindo assim o desenvolvimento do enredo e suscitando no espectador o interesse e
a curiosidade, que se traduzem pelas várias questões que ele é levado a colocar sobre a
progressão do enredo.

7

O fim do primeiro ato é frequentemente marcado por um acontecimento catalizador, uma


crise que leva o enredo a uma progressão ascendente e antecipa os acontecimentos
vindouros. O primeiro ato, tal como todos os outros, baseia a sua estrutura interna na
progressão dramática, que assenta no princípio de causalidade.

8 Segundo ato
O segundo ato é o mais longo. A partir de peripécias cuja função estrutural fundamental é
impelir o enredo para o clímax que geralmente lhe pontua o fim, o segundo ato
desenvolve o enredo, consolida os conflitos, elabora os obstáculos e as dificuldades que
as personagens vão encontrar e, deste modo, aprofunda o tema.

9

O segundo ato começa normalmente com um “turning point”. O “turning point”, traduzido

1
04/11/2022

por reviravolta, nó dramático, impulso dramático ou tempo forte, é um elemento


específico do enredo que força a ação a mover-se, geralmente numa direção nova e
inesperada. Estruturalmente, aparece no início do segundo ato e no início do terceiro.

10

Após um primeiro ato de cadência regular, alguns autores aproveitam o segundo ato para
aprofundarem melhor as personagens e as suas motivações
11 Terceiro ato
A função do último ato é levar o enredo ao seu clímax e resolver os conflitos. Muito mais
curto do que o segundo, exige do roteirista uma atenção muito particular, pois todos os
fios da história devem ser reunidos de forma coerente. Muitos roteiristas conhecem o fim
do seu enredo. Callie Khourie sabia, antes de escrever o roteiro, que as duas personagens
de Thelma e Louise iriam morrer.

12

A estrutura de um roteiro apoia-se em dois elementos essenciais:


O ritmo: Todo roteirista é um escravo do tempo – seja qual for a trama que ele quiser
contar, de um dia na vida de uma pessoa a várias décadas na história de uma nação, ele
precisa fazê-lo em, idealmente, 120 minutos, equivalendo a 120 páginas impressas.
13

É preciso pensar nessas páginas como tempo, e não como texto (privilégio da literatura).
Como usar esse tempo é o primeiro desafio para a montagem da estrutura: quantas
páginas/minutos cada personagem, situação e sentimento pedem? Onde se deter ou se
aprofundar? Onde economizar tempo com montagens, sequências simultâneas ou
intercaladas? Qual o ritmo geral que trama e premissa pedem para melhor expressar o
tempo.
14

A montagem dará o ritmo final do filme, mas a proposta inicial deve estar incluída desde
o início no modo como o autor administra o tempo de cada um de seus elementos
dramáticos.”
15

O arco da narrativa: Um filme é uma jornada, e o roteiro é seu mapa. Protagonistas


movimentam-se não apenas no espaço, mas principalmente no espaço interior, ao sabor
de crises e resoluções. Idealmente, eles devem chegar ao final do filme o mais
transformados possíveis, ou seja: narrativa e existencialmente o mais distante possível do
lugar – físico, metafísico, emocional – onde começaram.

16

O argumento cinematográfico. Dominique Parent-Altier. Lisboa: Edições Texto&Grafia,


2011.
Como ver um filme. Ana Maria Bahiana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012


17 O sexto sentido
Dr. Crowe: - Seu pai contava estórias para você dormir?
(o menino Cole não responde.)
Dr. Crowe: - Era uma vez um jovem príncipe que resolveu fazer um passeio de carro e aí
ele chamou o motorista dele e eles passearam, passearam, passearam. Eles passearam à
beça. Passearam tanto que o príncipe dormiu e, quando acordou, percebeu que eles ainda

2
04/11/2022

estavam passeando. Era um passeio longo.



18

Cole: - Dr. Crowe, o senhor nunca contou estória antes.


Dr. Crowe: - É verdade.
Cole: - O senhor tem que acrescentar umas viradas, coisas assim.
Dr. Crowe: - Viradas como? Me dá um exemplo.
Cole: - A gasolina deles pode ter acabado.”

Você também pode gostar