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Teoria Quântica e Realidade

Bernard d’Espagnat
Scientific American – Janeiro de 1980 – pp. 80 a 95

Em ciências físicas, qualquer boa teoria deve ser capaz de fazer


previsões detalhadas. Para um experimento bem definido, a teoria
deverá especificar corretamente o resultado, ou pelo menos estabelecer
as probabilidades corretas para cada um dos resultados possíveis. Sob
este ponto de vista, a Mecânica Quântica é considerada
extraordinariamente boa. Em se tratando de moderna teoria
fundamental de átomos, moléculas, partículas elementares, radiação
eletromagnética e física do estado sólido, a Mecânica Quântica oferece
métodos para calcular os resultados experimentais em quaisquer desses
campos.

Porém, além de uma confirmação experimental, podemos pedir


algo mais a uma teoria. Espera-se que ela seja capaz de não só
determinar os resultados de um experimento, senão que nos dê
igualmente alguma compreensão dos fenômenos físicos que
presumivelmente sustentam os resultados observados. Em outras
palavras, a teoria não deve conformar-se em dar a posição de um
ponteiro sobre uma escala, mas explicar porque esse ponteiro assume
tal posição. Quando se deseja da Teoria Quântica esse tipo de
informação surgem algumas dificuldades conceituais. Em Mecânica
Quântica, por exemplo, uma partícula elementar – o elétron – é
determinado por uma expressão matemática denominada função de
ondas a qual pode descrevê-lo enquanto estando presente e espalhado
em uma grande região do espaço.

Esta representação não está em contradição com a experiência;


pelo contrário, a função de ondas dá, de maneira exata, a probabilidade
de se encontrar o elétron em um determinado lugar. No entanto,
quando se detecta realmente o elétron, ele nunca está espalhado, mas
em uma posição definida. Não está, pois totalmente clara qual é a
interpretação física que se deve associar à função de ondas, ou que
imagens podemos adotar para o modelo de um elétron. Por causa
dessas ambigüidades muitos físicos acabam considerando a Mecânica
Quântica como um simples conjunto de regras que permitem predizer
resultados de certos experimentos. Segundo tal ponto de vista a Teoria
Quântica trataria apenas de fenômenos observáveis (a posição
observada para o ponteiro), mas não de alguma realidade física
subjacente (a posição real do elétron).

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Ocorre, porém que tampouco uma tal renúncia é inteiramente
satisfatória. Mesmo aceitando que a Mecânica Quântica não seja mais
que um conjunto de regras ainda assim ela permanece em conflito com
uma imagem do mundo que muitas pessoas achariam óbvia e natural.
Esta imagem do mundo baseia-se em três hipóteses ou premissas que
devem ser aceitas sem demonstração.A primeira é o realismo, a
doutrina que estabelece que as ocorrências apreciadas nos fenômenos
observados devem ser causadas por alguma realidade física cuja
existência é independente do observador. A segunda premissa
estabelece que a inferência indutiva é uma forma válida de raciocínio
que se pode usar livremente; podemos pois deduzir conclusões legítimas
a partir de observações coerentes. A terceira premissa é a chamada
separabilidade de Einstein; aqui, estabelece-se que nenhum tipo de
influência pode se propagar com velocidade superior à da luz. As três
premissas de onde freqüentemente se supõe que decorrem verdades
bem estabelecidas, inclusive mesmo as verdades totalmente evidentes,
formam a base do que chamaremos Teorias Realistas Locais da
Natureza – TRL. A argumentação a partir de tais premisssas conduz a
uma predição explícita dos resultados de uma determinada categoria de
experimentos, na Física das Partículas Elementares. Mas podemos
recorrer também à Mecânica Quântica – MQ - para calcular os
resultados desses experimentos. As previsões, entretanto, são
diferentes. Portanto, ou as TRLs são falsas, ou a MQ é falsa.

Os experimentos em questão foram propostos inicialmente como


experimentos imaginários, isto é, experimentos puramente ideais. No
entanto nos últimos anos foram concluídas várias versões dos mesmos,
em aparatos reais. Ainda que nem todos os resultados sejam coerentes
entre si a maioria está de acordo com as predições da MQ; e é possível
que se coincidências extraordinárias não tenham distorcido os
resultados, as previsões da MQ possam ser confirmadas. Por
conseguinte as TRLs são, com grande probabilidade, errôneas. As três
premissas sobre as quais se baseiam estas teorias são fundamentais
para uma interpretação do mundo conforme o senso comum, até o
ponto em que a maioria das pessoas somente as abandonaria de muito
malgrado. Ao que tudo indica, entretanto, uma das premissas deverá
desfazer-se ou no mínimo modificar-se, sofrendo restrições em seu
alcance.

Os experimentos se referem a correlações entre eventos distantes


e suas causas. Sejam, por exemplo, duas partículas que distam entre si
alguns metros; suponhamos que se descobre que têm valores idênticos
de alguma propriedade física, digamos a carga elétrica. Se tal resultado
é obtido uma vez ou algumas poucas vezes podemos admitir que se

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trata de uma casualidade, mas se a correlação é detectada de uma
forma coerente em muitas medições, necessário se faz uma explicação
mais sistemática. Se os valores forem opostos e não iguais, isso em
nada muda a situação; apenas a correlação seria então negativa mas
sua ocorrência seria de igual tamanho, resultando igualmente
improvável que se devesse meramente ao acaso.

Quando afirmamos que há que se subentender a ocorrência de


uma correlação coerente entre tais eventos, ou que não existe nada
misterioso neles, a explicação oferecida está sempre relacionada de
alguma forma à causalidade. Ou um fenômeno origina o outro, ou
ambos têm uma causa comum. Enquanto não conhece essa relação a
mente não descansa. Mais, ainda: não é possível que o faça enquanto
apenas se conheçam regras empíricas para predizer correlações futuras.
Na Antigüidade observou-se uma correlação entre as marés e o
movimento da Lua, tendo-se formulado regras baseadas na experiência,
para predizer as marés futuras. Porém, enquanto Newton não introduziu
a Teoria da Gravitação Universal não foi possível sustentar que se havia
descoberto a causa das marés.

A necessidade de explicar as correlações observadas pressiona


tanto os físicos que às vezes chegam a postular uma causa comum
ainda que não existam mais provas que a mera correlação. Se uma tal
forma de proceder é ou não justificável nisto consiste o nó do conflito
entre a MQ e as TRLs. As correlações em questão surgem em
observações de partículas subatômicas, onde a descrição dada pela MQ
com todos os seus eventuais cortes epistemológicos, torna-se
indispensável. Podemos ilustrar as previsões das TRLs através da
consideração de como as correlações entre eventos distantes são
explicadas, primeiramente num contexto mais familiar, onde nem é
necessário usar a MQ.

Admitamos que um psicólogo tenha imaginado um teste simples,


no qual cada sujeito a ser avaliado só possa acertar ou errar a resposta,
sem a menor ambigüidade. Com o resultado na mesa o psicólogo
verifica que alguns acertaram, outros erraram. Ele não sabe, entretanto,
em quê um grupo se distingue do outro, salvo no que se refere aos
resultados do teste. Em outras palavras, não pode dizer que a prova
meça alguma atitude ou capacidade real dos sujeitos, nem que os
resultados sejam totalmente fortuitos.

Ainda que pareça não haver uma solução geral para esse
problema, em um caso particular, talvez possa ser resolvido.
Suponhamos que a prova seja apresentada não a um grupo de

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indivíduos, senão a um conjunto de maridos com suas respectivas e
únicas esposas. Seja admitida forte correlação verificada nas respostas.
O procedimento pode consistir em separar, antes do teste, os maridos
de suas mulheres, submetendo-os, em seguida, à prova em separado.
Ao analisar os resultados voltamos a verificar que uma parte da amostra
respondeu corretamente e que a outra falhou, com a peculiaridade de
que, nos casos em que o marido passou no teste também o fez a sua
esposa, e que quando fracassou o homem tampouco teve êxito a
mulher.

Se a correlação persiste mesmo depois de ter aplicado o teste a


muitos casais, o psicólogo pode concluir com segurança que a resposta
de cada indivíduo não se devia ao acaso no momento do teste. Pelo
contrário, a prova deve revelar alguma propriedade ou habilidade real
dos indivíduos. Estes devem possuir aquela aptidão detectada tanto
antes do exercício como inclusive antes de haverem sido separados. O
acaso pode ter influído de algum modo no desenvolvimento da
propriedade, já que nem todos os casais a possuiam, mas essa
incidência deve ter atuado em algum momento anterior à separação por
sexos. Nesse período prévio em que os maridos e suas esposas estavam
juntos, foi quando puderam adquirir alguma característica que os
haveria de permitir responder corretamente ao teste, isto é, com igual
resposta. Assim pois, a correlação fica explicada atribuindo-se a ela a
causa comum anterior à prova.

Outra explicação que se deve excluir antes de chegar à tal


conclusão é que os maridos e suas esposas teriam se comunicado
durante a realização do teste. Tendo havido comunicação, não é
necessário que exista uma aptidão comum anterior ao teste. Qualquer
casal que houvesse feito a prova em primeiro lugar poderia escolher a
resposta ao acaso e mandar a informação a outro, criando assim a
correlação observada. Ao responder a um teste psicológico não é difícil
entretanto evitar tais subterfúgios. Num extremo, as provas poderiam
ser realizadas em estrita simultaneidade e maridos e mulheres poderiam
instalar-se em lugares tão afastados que nenhum sinal, que viajasse a
velocidades inferiores à velocidade da luz, poderia chegar a tempo de
ter alguma utilidade.

Uma vez esclarecido que a prova mede alguma propriedade real, o


psicólogo pode dar um passo adiante e adotar um inferência indutiva.
Se os casais que foram pesquisados constituem uma amostra
significativa de um população de casais, satisfazendo certas condições
estatísitcas, o psicólogo pode inferir que qualquer casal daquela
população estará formado por marido e mulher que possuem ambos a

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propriedade aferida, ou não possuem. Pelo mesmo princípio, pode
concluir que em qualquer amostra grande e aleatória de casais, mesmo
aqueles que nunca foram submetidos à prova, deve exisitir casais que
apresentam a propriedade e outros tantos que dela carecem. A
confiabilidade dessas conclusões irá se aproximando do estado de
certeza à medida que cresce o tamanho da amostra. Por conseguinte,
infere-se que tanto a correlação dentro dos pares marido-esposa como
também a existência de diferenças entre os casais, persistem inclusive
naquela fração da população que não tenha sido submetida ao teste.

Estas conclusões estão baseadas nas três premissas que


constituem o fundamento das TRLs. O realismo é uma hipótese
necessária quando se admite que algumas provas medem propriedades
estáveis, que existem independentemente do experimentador. Foi
necessário supor a validade da inferência indutiva para extrapolar os
dados observados, estendendo as conclusões à parte da população que
não realizara a prova. A separabilidade foi incorporada a partir da
hipótese de que os maridos e suas esposas não podiam se comunicar.
Se as provas se desenvolveram em estrita simultaneidade, de modo a
que para que se comunicassem os casais deveriam usar um sinal que
fosse capaz de se propagar com v > c , então tal hipótese resulta
equivalente à separabilidade de Einstein.

À primeira vista, as conclusões extraídas desta experiência


hipotética no âmbito da psicologia parecem haver sido deduzidas dos
dados de modo absolutamente natural. Um epistemologista poderia
objetar, sem dúvidas, que as conclusões são incertas. Em particular, um
epistemologista que conhecesse os fundamentos da MQ poderia
argumentar que não há nenhuma necessidade, dentro da lógica, que
nos obrigue a aceitar as três premissas de raciocínio do psicólogo; por
conseguinte, tampouco que deveria existir uma correlação entre
maridos e esposas antes de que fossem submetidos ao teste, nem que
existam diferenças entre os casais antes de eles realizarem a prova. Ao
psicólogo, seguramente não parecerão sérias essas objeções; as
considerará expressão de dúvidas infundadas, ou crença muito pouco
científica em paradoxos. Na bibliografia relativa à MQ encontramos
numerosos argumentos similares ou formalmente equivalentes a este,
todos eles destinados a provar que as correlações e diferenças não têm
porque existirem antes que sejam medidas.

Uma característica singular da MQ é que suas previsões só


conseguem oferecer a probabilidade da ocorrência de um evento, não a
afirmação determinista de que o evento terá ou não lugar. A função de
ondas empregada para descrever o movimento de um partícula

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elementar é frequentemente interpretada em termos de probabilidade:
a probabilidade de uma partícula achar-se em determinado ponto é
proporcional ao quadrado da função de onda, no ponto. Como foi dito, a
função de ondas pode às vezes estar espalhada sobre grande região:
isto implica que a probabilidade pode estar amplamente distribuída. Daí,
quando se realiza uma medição em determinado ponto, a partícula é, ou
não, detectada; diz-se tratar-se de um colapso da função de ondas.
Suponhamos que se detecta a partícula. Do ponto de vista
epistemológico a questão que nos interessa seja elucidada será:
ocupava a partícula esta posição, inclusive antes de haver-se realizado a
medição?

As conclusões do psicólogo, caso seja possível a analogia,


implicam em que a partícula estava em posição bem definida desde o
começo, tanto quanto a aptidão descoberta em alguns elementos da
amostra preexistia à realização do teste. Segundo tal raciocínio a
posição da partícula nunca esteve indeterminada; o que acontecia era
que simplesmente era desconhecida do observador.

Grande parte dos mais renomados físicos especializados em MQ


estaria em desacordo. Mas, não todos: Einstein mostrou-se ao longo de
sua vida reticente ante a natureza probabilística das interpretações que
se consegue dar em MQ. A maioria de suas críticas incisivas a essas
interpretações fundamentam-se em um raciocínio que até certo ponto
assemelha-se ao raciocínio atribuído ao psicólogo. Em 1935, Einstein
publicou um trabalho com dois jovens colegas, Boris Podolski e Nathan
Rosen, onde formulou, exlicitamente, suas objeções. Não afirmava que
a Teoria Quântica era falsa; pelo contrário, admitia que algumas, pelo
menos, de suas previsões deviam ser corretas. Claramente, porém,
propunha que a descrição da natureza por meio da MQ resultava
incompleta ou aproximada. O movimento de uma partícula deve ser
descrito em termos de probabilidade, dizia, pela única razão que alguns
dos parâmetros que determinam o movimento não foram especificados.
Quando os valores dessas hipotéticas “variáveis ocultas” puderem ser
conhecidos, poder-se-á definir uma trajetória completamente
determinada.

Contra a proposta de Einstein inúmeros contra-argumentos têm


sido formulados. Por ora, mencionarei apenas um deles, fundado no
critério de utilidade. Esse argumento estabelece que é irrelevante que
existam ou não variáveis ocultas, no âmbito das diferenças entre os
casais, na ausência do teste. Mesmo que existam, não deveriam ser
incoporadas a uma teoria concebida para explicar o que é observável,
no âmbito dos eventos que foram ensaiados: podemos dizer, portanto,

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que carecem de existência científica. A exclusão das variáveis ocultas
fica justificada pela conjunção de três fatos: primeiro, o formalismo
matemático da teoria se simplifica quando prescindimos das varáveis
ocultas; segundo, este formalismo simplificado prediz resultados que
confirmam a experimentação; terceiro, a adição de variáveis ocultas à
teoria não daria lugar a novas previsões passíveis de serem verificadas.
Portanto, a afirmação de que existem variáveis ocultas transcende o
alcance dos experimentos e não é uma proposição da Física, mas sim da
metafísica.

Esta defesa da interpretação clássica da MQ elimina qualquer


variável oculta, por supérflua, e, em última instância, talvez por ser algo
sem sentido. Desenvolvimentos teóricos modernos demonstram que a
situação atual é bem diferente. A hipótese de que existem variáveis
ocultas conduz efetivamente a previsões experimentais que diferem das
previsões a que chegara a MQ. Teorias com variáveis ocultas e TRLs em
geral estabelecem limites à extensão sobre até onde certos eventos
distantes podem se achar correlacionados; a MQ, pelo contrário, prediz
que, em algumas circunstâncias, o limite pode ser superado. Portanto,
deveria ser possível, pelo menos em princípio, idealizar uma prova
experimental capaz de discriminar uma teoria da outra.

Suponhamos que um físico tenha idealizado uma demonstração


possível de ser realizada com partículas subatômicas, prótons, por
exemplo. Depois de muitas tentativas, descobre que há prótons que
passam no teste e outros que falham; mas ele não sabe se está
medindo uma propriedade real dos prótons, ou meramente medindo
flutuações ao acaso, em seu aparato. Por isso, propõe-se a aplicar a
prova a pares de prótons, não a prótons individuais. Os prótons que
constituem um par estão inicialmente muito próximos em decorrência
de um procedimento bem definido que é o mesmo para todos os pares.
Permite-se então que os prótons sejam separados; quando tenham
alcançado certa distância macroscópica, são submetidos ao teste,
simultaneamente para alguns pares, e com um intervalo de tempo entre
os testes, no caso dos pares restantes. O físico descobre uma estrita
correlação negativa: quando em um par um próton passa no teste, o
outro invariavelmente falha.

A situação do físico tem analogias óbvias com a do psicólogo que


realiza o teste com casais; podemos aplicar aqui o mesmo raciocínio. Se
as premissas aceitas forem as premissas do realismo, o livre recurso à
indução e a separabilidade de Einstein, o físico sentir-se-á em condições
de concluir que a prova mede alguma propriedade real dos prótons.
Para que a correlação possa se explicada, a propriedade deve preexistir

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à separação de prótons dentro de cada par, devendo ter um valor
definido para os mesmos, desde o momento em que existam até o
momento em que foram submetidos ao teste. E, mais ainda: ao separar
novos pares de prótons, pelo mesmo procedimento, o físico saberá que,
em cada caso, um próton apresentará a propriedade, o outro, não,
mesmo que nenhuma das duas partículas venha a ser submetida ao
teste.

Há alguma prova real que se possa aplicar a partículas


subatômicas e que produza resultados análogos? Existe. Trata-se da
medição de qualquer componente definida ao longo de um eixo
arbitrário do spin de uma partícula. O spin atribuído a uma partícula
subatômica é análogo ao momento angular de rotação de um corpo
macroscópico, a rotação da Terra, por exemplo, mas apenas em alguns
aspectos. Considere-se que para esta discussão não serão necessários
todos os detalhes de como se detecta o spin, em MQ. Basta dizer que o
spin vem representado por um vetor que se admite estar associado à
partícula. Uma projeção desse vetor sobre qualquer eixo, no espaço
tridimensional, é a componente do spin ao longo desse eixo. Uma
propriedade bem estabelecida, ainda que não menos surpreendente dos
prótons (e de muitas outras partículas) é que, qualquer que seja o eixo
escolhido para medir a componente do spin, os resultados só podem
assumir dois valores, que chamaremos + ou - . (A medição da
componente do momento angular da rotação da Terra daria resultados
diferentes segundo a direção da componente; e teria algum valor entre
zero e o valor total do momento angular terrestre).

Observa-se uma correlação estritamente negativa entre as


componentes do spin quando se junta dois prótons na configuração
quântica denominada singleto. Em outras palavras, se desejamos
separar dois prótons em estado singleto e medimos justamente a
mesma componente do spin em ambas as partículas, será sempre (+)
para um próton e (-) para o outro. Não há forma conhecida de predizer
que partícula terá a componente (+) e qual possuirá a componente (-);
sem que isso seja obstáculo para que a correlação fique bem
estabelecida. Tampouco muda a situação a escolha de qual componente
o físico deseja medir, desde que em ambas as partículas ele meça a
mesma componente. Não importa igualmente o quanto estejam
afastados os dois prótons antes do experimento, bastando que sejam
evitadas influências perturbadoras tais como a presença de outras
partículas ou de radiação.

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No que concerne a esta simples medição não há razão de conflito
entre as previsões da MQ e as das TRLs. Mas, podem acontecer
discrepâncias caso o experimento se complique um pouco.

O vetor que representa o spin de uma partícula é definido por


suas componentes nas direções dos três eixos no espaço, os quais
formam necessariamente três ângulos retos entre si. Para um vetor
associado a um corpo macroscópico qualquer poderia ocorrer a
suposição perfeitamente aceitável, de que as três componentes
tivessem seus três valores bem definidos, num dado instante. O fato de
desconhecermos o valor de uma componente não significa, talvez, seja
o seu valor indefinido. Entretanto, ao aplicarmos essa hipótese ao vetor
de spin de uma partícula a coisa parecerá altamente suspeita; surge
então de acordo com a interpretação quântica um exemplo, de fato, da
teoria das variáveis ocultas. O problema é que não dá para imaginar
nem mesmo teoricamente um experimento capaz de registrar
simultaneamente os três valores das componentes do spin. Os aparatos
estão capacitados para medir o valor de uma componente de cada vez.
E ao fazê-lo alteram os valores das demais componentes. Portanto, para
conhecer os valores das três componentes deveríamos fazer três
medições sucessivas. Quando a partícula saísse do terceiro aparato não
teria então as mesmas componentes de spin de quando entrou no
primeiro aparato.

Admita-se que os instrumentos possam medir apenas uma


componente do spin de cada vez, e que possamos construir um aparato
que meça a componente de spin ao longo de um dos três eixos
arbitrariamente escolhido. Designarei estes eixos por A, B e C e
indicarei os resultados dos experimentos como segue: se verificarmos
que o valor da componente do spin no eixo A é (+), indicaremos: A+; se
o valor da componente B é (-) indicaremos: B-, e assim sucessivamente.
O físico poderá sem dúvida preparar uma grande amostra de prótons na
configuração singleto. Observará que ao medir a componente A para
ambos os prótons de um mesmo par uns terão A+ e outros A- . Caso
decida então medir a componente B em vez de A, encontrará a mesma
correlação negativa: quando um próton for B+ seu parceiro no singleto
será B- . Igualmente, um próton C+ estará invariavelmente
acompanhado de um C- . Tais resultados são válidos
independentemente de como os eixos estão orientados.

Cabe destacar que nestes experimentos não se submete nenhum


próton a uma medição de mais de uma componente de seu spin. Mas se
o físico aceita as três premissas das TRLs pode deduzir, a partir de seus
resultados, conclusões sobre os valores das três componentes, seguindo

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um raciocínio muito parecido ao do psicólogo da aborgabem inicial.
Considerando um novo grupo de pares de prótons na configuração
singleto no qual não se tenha todavia realizado medições de spin (e
onde, talvez, jamais se fará medições), pode inferir que, em cada par,
um próton tem a propriedade A+ e o outro a propriedade A- .
Analogamente, pode concluir que em cada par um próton goza da
propriedade B+ e ou outro de B-; e que quando um acusa C+ o outro
será C-.

Estas conclusões exigem uma sutil e importante extensão do


significado associado à notação de tipo A+ . Antes A+ era somente um
possível resultado de uma medição da partícula; mas agora converteu-
se em um atributo dessa partícula, a partir de um determinado tipo de
raciocínio. Explicitando: se um próton não sujeito à medição detém a
propriedade de que uma medição ao longo do eixo A dará o resultado
definido por A+, então se afirma que o próton tem a propriedade A+ .
Em outras palavras, o físico se vê forçado a concluir que os prótons de
cada par possuem componentes de spin bem definidas em cada
instante. Podemos desconhecer as componentes, já que o físico não
pode dizer que próton do par tem a propriedade A+ e qual tem a
propriedade A-, uma vez que não chegou a realizar a correspondente
medição ao longo do eixo A, mas pode argumentar, a partir das
premissas das TRLs, que os valores estão bem definidos, inclusive na
ausência de qualquer medição. Este ponto de vista é contrário à
interpretação convencional da MQ, embora nenhum dos fatos até agora
abordados revelasse tal contradição.

Espera-se a ocorrência de uma correlação negativa estrita para


prótons no estado singleto exclusivamente no caso em que se mede a
mesma componente de spin para ambos os prótons. O que aconteceria
se os instrumentos estão dispostos de modo a medir distintas
componentes de spin? Para ser mais preciso, consideremos o exemplo
seguinte: junta-se pares de prótons em estado singleto pelo mesmo
método empregado nos experimentos anteriores; sua separação
acontece exatamente sob idênticas condições. Em cada próton,
medimos uma componente do spin em A, B ou C, escolhendo-se
livremente ao acaso qual componente mediremos em cada caso. Deve
acontecer, às vezes, de medirmos a mesma componente do spin em
ambos os prótons; mas, tais resultados são rejeitados, por não
acrescentarem nada. Os pares restantes constarão então de um próton
no qual a medição ocorreu ao longo do eixo A e outro (do mesmo par)
ao longo do eixo B ou de medição em A para o primeiro e medição em C
para o outro, ou ainda, um próton em B e o outro em C. Para simplificar
os pares de cada amostra serão denominados: AB, AC e BC. Quando um

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par for medido e der o resultado A+ para um próton e B+ para o outro
poderemos representá-lo por A+B+ . O número de tais indivíduos será
então: n[A+B+]. Cabe esperar uma relação entre estas quantidades?

Em 1964 John S. Bell, da Organização Européia de Pesquisas


Nucleares (CERN) descobriu essa relação. Bell demonstrou que para
qualquer grande amostra de pares de prótons na configuração singleto,
as hipótese das TRLs impunham um limite à correlação que se possa
esperar ao medirmos distintas componentes do spin. O limite é expresso
na forma de uma desigualdade, agora conhecida por Desigualdade de
Bell. Dadas as condições experimentais mencionadas antes, a
desigualdade de Bell estabelece que o número de pares A+B+ não pode
exceder a soma do número de pares A+C+ com o número de pares B+C+.
A desigualdade pode ser anotada pela seguinte expressão:

n[A+B+] ≤ n[A+C+] + n[B+C+]

Poderíamos escrever muitas desigualdades similares transpondo


os termos ou mudando os sinais. Como as direções ao largo das quais
se definem as componentes do spin foram escolhidas arbitrariamente,
todas essas formulações seriam intercambiáveis. Vamos nos deter
somente na forma apresentada.

A desigualdade de Bell pode ser demonstrada dentro do contexto


das TRLs mediante um simples raciocínio da Teoria dos Conjuntos. Aqui
é útil iniciarmos por uma hipótese contrária aos fatos: admitir que
existe uma forma de medir independentemente as duas componentes
do spin de uma partícula. Suponhamos que esse aparato inexistente
tenha revelado que um determinado próton tem componentes A+ e B- .
A terceira componente C, embora não tenha sido submetida à medição,
só poderá admitir C+ ou C- , o que nos permitiria concluir que o próton
pertence a algum dos grupos: A+B-C+ ou A+B-C- . Não existem outras
possibilidades.

Se são detectados muitos prótons com componentes de spin A+B-


pode-se escrever uma equação relativa:

N (A+B-) = N (A+B-C+) + N (A+B-C-) (I)

Observe-se que N(A+B-) representa o número de prótons


individuais com as duas componentes do spin A+ e B-, enquanto n[A+B-]

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representa o número de pares de prótons tais que uma partícula tem
componente A+ e a outra do par tem componente B- . A equação acima
estabelece um fato evidente: quando um conjunto de partículas é
separado em dois subconjuntos, o número total de partículas do
conjunto original deve ser igual à soma dos números de partículas dos
subconjuntos.

Os prótons que aparecem dotados de componentes de spin A+C-


podem ser analisados de modo análogo. Todo próton desse tipo deve
ser membro do conjunto A+B+C- ou do conjunto A+B-C-; o número total
N (A+C-) será, igualmente, dado por:

N (A+C-) = N (A+B+C-) + N (A+B-C-) (II)

Podemos avançar mais um passo. Se o número de prótons


+ -
N (A C ) é dado pela soma das duas parcelas da equação (II), então
necessariamente é uma quantidade não inferior ( ≥ ) a N (A+B-C-), que
é a segunda parcela. (A igualdade corresponderia ao estado em que as
componentes B do spin de todas as partículas fossem (-) de forma que
o subconjunto A+B+C- seria um conjunto vazio; no caso contrário,
N(A+C-) resultará maior. Em outras palavras, a parte não pode ser
maior do que o todo). Isto é:

N (A+C-) ≥ N (A+B-C-) (III)

Podemos recorrer de novo ao mesmo raciocínio para provar que o


número de prótons com componentes de spin B-C+ deve ser igual á
soma:

N (B-C+) = N (A+B-C+) + N (A-B-C+) (IV)

Pelas mesmas razões anteriores, vale a relação:

N (B-C+) ≥ N (A+B-C+) (V)

Acabamos de provar que N (B-C+) é ≥ N (A+B-C+) que é o primeiro


termo do membro à direita desta equação. Ficou demonstrado também
que N (A+C-) é ≥ N (A+B-C-) que é o segundo termo do mesmo membro
à direita da equação. Cabe, então, fazer as substituições apropriadas na
equação, trocando o sinal = pelo sinal ≤ .

O resultado dá a desigualdade:

N (A+B-) ≤ N (A+C-) + N (B-C+)

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Embora esta desigualdade tenha sido demonstrada formalmente
não pode ser verificada na prática de maneira direta, pela via
experimental, porque não existe aparato algum capaz de medir
independentemente as duas componentes do spin de um mesmo
próton. Mas os experimentos a que estamos nos referindo não
acontecem com prótons separados, e sim com pares de prótons
correlacionados. Portanto, se por um lado tais medições são
impossíveis, também são desnecessárias. Admitamos que seja feita a
detecção da componente do spin de um próton ao longo do eixo A, e
que seu valor obtido é A+. Desde que nenhuma outra característica da
partícula fosse levantada, o que poderíamos concluir? Nada. Porém, se
medirmos a componente de spin de seu companheiro de estado singleto
poderemos por exemplo obter B+, em outro eixo. Essa segunda medição
é uma informação adicional ainda que ambas as partículas hajam se
separado de uma distância significativa, ou que tal ensaio ocorra num
instante posterior ao ensaio anterior. Entretanto, com essa informção
adicional acerca da outra partícula, podemos determinar
inequivocamente na primeira partícula, um valor desconhecido e não
ensaiado, por meio de uma medida indireta. Quer dizer, medimos a
componente A+ no primeiro próton, por via direta, e afirmamos que ele
possui também a componente de spin B-.

Isso quer dizer que a observação de um par de prótons, um dos


quais tem a componente A+ e outro B+ pode significar a existência de
um único próton de componentes A+B-. Ora, estatisticamente é muito
simples calcular que a probabilidade de ocorrência dos pares
duplamente positivos, n[A+B+] é proporcional à probabilidade N (A+B-)
de ocorrência de prótons individuais, com componentes A+B-. Da
mesma forma, n[A+C+] resultará proporcional a N (A+C-) e por igual
razão n[B+C+] também será proporcional a N (B-C+). Em ambos os
casos a constante de proporcionalidade é a mesma. Para prótons
individuais submetidos cada um deles a uma dupla medição imaginária
foi demonstrada um desigualdade que estabelece que

N (A+B-) ≤ N (A+C-) + N (B-C+)

Na expresão, podemos então substituir os termos que não


admitem medição, por

n[A+B+] ≤ n[A+C+] + n[B+C+]

onde estão as probabilidades de ocorrência dos pares duplamente


positivos, que é a Desigualdade de Bell. Obviamente, a demonstração

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dessa desigualdade através deste raciocínio implica que as três
premissas das TRLs sejam válidas. Com efeito, é aqui que essas três
premissas têm sua aplicação mais importante, que é, em última
instância, a mais duvidosa. Ao aceitar as premissas, pela própria força
do raciocínio, segue-se que se deve aceitar também ser satisfeita a
Desigualdade de Bell. Mais ainda: nunca se especificou a orientação dos
três eixos A, B e C; logo, a desigualdade deverá ser válida
independentemente dos eixos escolhidos. A única possível violação da
desigualdade poderia ser o resultado de uma oscilação estatística donde
muitas partículas com spin A+ e B+ apareçam com coincidência fortuita.
Neste caso, a probabilidade desta ocorrência tende a zero quando
cresce o número de partículas medidas.

A Desigualdade de Bell constitui um predição explícita dos


resultados de um experimento. As regras da MQ podem ser também
utilizadas para predizer os resultados do mesmo experimento. Não vou
detalhar o modo pelo qual é deduzida a predição no formalismo
matemático da MQ; mas posso garantir, sem dúvidas, que o
procedimento é completamente explícito e objetivo, no sentido de que
qualquer um que aplique as regras corretamente obterá o mesmo
resultado. Surpreendentemente, as predições da MQ difrem das
predições das TRLs. Em particular, a MQ prediz que para algumas
medições de componentes de spin nos eixos A, B e C viola-se a
Desigualdade de Bell de modo que há mais pares de prótons A+B+ do
que a combinação de pares contida na soma [A+C+] + [B+C+], isto é:

n[A+B+] ≥ n[A+C+] + n[B+C+]

Portanto, as TRLs e a MQ são antagônicas.

O conflito TRL versus MQ sugere duas questões: em primeiro


lugar quais são os fatos experimentais que dão sustentação a esta
situação? A Desigualdade deve ser violada ou satisfeita? Qualquer que
seja o resultado experimental, ou há falhas na MQ ou nas TRLs. A
segunda questão é: qual é a premissa falsa na teoria refutada?

O experimento imaginário proposto em 1935 por Einstein,


Podolski e Rosen partia de medições da posição e do momento das
partículas. O experimento sobre as componentes do spin dos prótons foi
discutido pela primeira vez em 1952 por David Bohm, do Birkbeck
College, de Londres, ainda que no contexto de um experimento
imaginário. Foi preciso esperar até 1969 quando Bell introduziu sua
desigualdade para contemplar a possibilidade de experiências reais que
investigaram as questões apresentadas. A viabilidade de tais

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experiências foi discutida por John Clauser, da Universidade da
Califórnia, em Berkeley, R. A. Holt, da Universidade de Western Ontario
e Michael A. Horne e Abner Shimony, da Universidade de Boston. Eles
verificaram que para um experimento prático seria necessário
generalizar de algum modo a Desigualdade de Bell e que no entanto
continuaria sendo possível um prova significativa para as teorias em
conflito.

Não podemos menosprezar as dificuldades técnicas dos


experimentos. No experimento imaginário, ambos os prótons de cada
par alcançam sempre os instrumentos e estes dão sempre uma medição
inequívoca da componente do spin segundo a orientação do eixo
escolhido. Os aparatos reais não podem reproduzir estes resultados. Os
detectores não conseguem nunca um rendimento perfeito: muitos
prótons passam sem ser detectados. Devido às imperfeições dos
instrumentos o número de prótons computados em cada categoria não
pode ser aferido diretamente. Trata-se de contá-los levando-se em
conta a ineficiência dos instrumentos, imprecisão esta que se acrescenta
à incerteza dos resultados.

Dos sete experimentos realizados desde 1971, em seis não se


mediam as componentes de spin de prótons; em vez disso media-se a
polarização dos fótons, que são os quanta da radiação eletromagnética.
A polarização é uma propriedade do fóton que corresponde ao spin de
uma partícula material. Em uma série de experimentos colocavam-se os
átomos de um certo elemento e os isótopos em um estado excitado, a
partir da absorção de luz laser; permitia-se que logo retornassem ao
estado fundamental, em duas etapas. Em cada etapa emitia-se um
fóton de energia ou de comprimento de onda característico. Os fótons
moviam-se em direções opostas e tinham polarizações também opostas.
Em outras palavras, ao medir-se a polarização de ambos os fótons ao
longo de um única direção observava-se uma correleção negativa
estrita.

Nesses experimentos a diferença entre instrumentos ideais e reais


é muito clara. Não há nenhum aparato que possa, sozinho, interceptar
um fóton e dar diretamente sua polarização. São necessários dois
aparatos: um detector e um filtro. O filtro tem por finalidade deixar
passar fótons com um certo tipo de polarização e cortar ou desviar os
demais. O detector conta quantos fótons passam através do filtro.
Nenhum desses componentes é perfeito de modo que o fracasso em
detectar determinado fóton não significa necessariamente que ele não
apresentasse a polarização desejada.

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Realizaram-se também experimentos com raios γ, que são fótons
de alta energia. Os raios γ haviam sido criados no processo de
aniquilamento mútuo de elétrons e de suas antipartículas, os pósitrons.
Esse aniquilamento dá origem a raios γ, que são emitidos em direções
opostas e dotados de polarizações também opostas. Os experimentos
são, portanto, formalmente equivalentes aos da física atômica, mas os
aparatos exigidos são bastante distintos. Em geral os detectores se
mostram eficientes para fótons de alta energia, enquanto que o melhor
rendimento dos filtros polarizadores é alcançado para fótons de baixa
energia.

Em um experimento foram medidas as correlações das


componentes do spin de prótons. É muito semelhante, pois, ao
experimento imaginário original. Os pares de prótons são gerados ao se
injetar prótons de baixas energias em uma base constituída
originalmente de átomos de hidrogênio. O núcleo de um átomo de
hidrogênio contém um único próton. Quando um próton incidente
choca-se contra um núcleo de átomo de hidrogênio os dois prótons
interagem brevemente para formar a configuração singleto. Em seguida,
ambos os prótons saem do alvo, compartilhando o momento do próton
incidente; não havendo perturbação alguma, eles tendem a manter-se
nesta configuração. Medições preliminares da mesma componente de
spin de ambos os prótons dão resultados opostos.

Os instrumentos para um experimento com pares de prótons


consistem, novamente, de filtros e detectores. Em um desses
experimentos já realizado, o filtro era um lâmina de carbono que
dispersava cada próton em direção a um dos dois detectores, de acordo
com o valor da componente medida.

A menos da natureza das partículas sob investigação, o


experimento consta de três séries de duplas medições. Elegem-se três
eixos: A, B e C. Em geral, os ângulos entre eles se dispõem de maneira
a corresponder aos valores onde se espera uma maior discrepância
entre a MQ e as TRLs. São colocados, então, um filtro capaz de deixar
passar partículas com a polarização ou a componente de spin A+ e outro
a permitir a passagem de partículas com a componente B+. Uma vez
registrada uma amostra relativamente grande de partículas com tal
configuração, giram-se os filtros para que passem a medir as
componentes ao longo dos eixos A e C; anotam-se os novos dados. Por
último, apontam-se, novamente, os filtros para que meçam ao longo
das direções dos eixos B e C. Em seguida contam-se as coincidências
registradas em cada configuração e faz-se as necessárias correlações

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capazes de corrigir as limitações dos aparatos. Comparar, por fim, os
resultados com a Desigualdade de Bell reduz-se a uma simples soma.

Dos sete experimentos terminados, cinco estão de acordo com as


predições da MQ. Quer dizer, sinalizam para uma violação da
Desigualdade de Bell em algumas escolhas dos eixos A, B e C. Os outros
dois dão correlações não maiores do que as que são permitidas pela
Desigualdade de Bell, e conseqüentemente dão sustentação às TRLs. O
placar é de cinco a dois a favor da MQ. Porém, a sustentação da MQ é
muito maior do que esse placar sugere. Como os cinco experimentos
favoráveis à MQ foram realizados com amostras estatisticamente mais
significativas é muito razoável conferir a eles uma maior credibilidade.
Alguns desses cinco experimentos foram realizados depois de se tornar
públicos os dois resultados contrários, o que lhes permitiu incorporar
refinamentos na instrumentação explicitamente desenhados para evitar
qualquer desvio que pudesse estar originando os resultados
discrepantes. Clauser e Shimony acrescentam inclusive uma justificação
epistemológica para que sejam descartados os dois experimentos que
estão em desacordo com a maioria. É que a MQ prediz uma maior
correlação entre os fenômenos, enquanto que as TRLs predizem uma
correlação menor entre eles.

A verdadeira correlação pode ter sua evidência destruída no caso


de ocorrerem variados erros sistemáticos durante o experimento,
obtendo-se, assim, resultados dentro dos limites estabelecidos pela
Desigualdade de Bell. Por outro lado é difícil imaginar um erro
experimental capaz de criar uma correlação falsa em cinco
experimentos independentes. Mais, ainda: os resultados desses cinco
experimentos além de violarem a Desigualdade de Bell, o fazem
precisamente nos termos previstos pela MQ. Para que os resultados dos
cinco experimentos se devessem a coincidências fortuitas seria
necessário um enorme desvio estatístico, realmente inaceitável em face
da quantidade de partículas nas amostras que foram submetidas ao
ensaio.

Atualmente são projetadas novas provas voltadas para a


Desigualdade de Bell. E acha-se em preparação pelo menos mais outro
novo experimento. A maioria dos físicos ocupados com estes problemas
têm uma certeza profunda de que a questão está resolvida, segundo os
resultados dos cinco citados experimentos. Ou seja: para algumas
escolhas dos eixos A, B e C a Desiguldade de Bell pode ser violada, na
natureza; conseqüentemente, as TRLs são falsas.

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Ora, ao admitirmos demonstrada a falsidade das TRLs qual de
suas três premissas seria falsa? Para tentar responder a essa pergunta
seria bom nos assegurarmos de que não se adicionou hipóteses
adicionais ao formular a prova experimental.

Entretanto há de se admitir que pelo menos uma hipótese


subsidiária foi requerida. Devido às limitações dos instrumentos
práticos, tivemos de generalizar ligeiramente a Desigualdade de Bell,
admitindo-se válida tal generalização. Tal admissão não pode ser
provada. Parece muito improvável, no entanto, que tal circunstância
tenha conseguido alterar os fenômenos, de sorte que os resultados dos
experimentos não somente violaram a Desigualdade de Bell, senão,
também, que o fizeram precisamente conforme as previsões da MQ. Em
todo caso, cabe esperar que experimentos mais refinados sejam
capazes de provar a Desigualdade de Bell sem aquela generalização.
Como a hipótese subsidiária é passível de um comprovação
experimental, parece menos fundamental que as outras três, e por
coseguinte não iremos levá-la em consideração no que segue.

Um outro campo que se pode analisar para hipóteses não


reconhecidas é a prova da Desigualdade de Bell. De fato, tudo indica
que a prova depende da suposta validade da lógica ordinária bivalente,
segundo a qual toda proposição deve ser verdadeira ou falsa, e uma
componente do spin deve ser ou (+), ou (-). Algumas interpretações da
MQ têm introduzido a idéia de uma lógica plurivalente, porém tais
considerações nada têm a ver com os raciocínios aplicados nesta prova.
De fato, no contexto da prova é difícil até de se imaginar alguma
alternativa à lógica bivalente. Então, enquanto não se formule esse
sistema o melhor é esquecer esse problema.

O bloco todo de experimentos fundados nas idéias de Einstein,


Podolsky e Rosen é visto às vezes como mera prova das teorias de
variáveis ocultas. Os experimentos comprovam realmente essas teorias,
mas há de se ter bem claro que a existência de variáveis ocultas não é
nenhuma nova premissa das TRLs. Ao contrário, a existência de
parâmetros que especifiquem as propriedades deterministas de uma
partícula se deduz a partir das três hipóteses originais. Recorde-se que
o psicólogo não supôs que a prova que havia inventado pudesse medir
algum atributo real dos indivíduos submetidos ao teste; o que lhe
ocorreu foi deduzir a existência de tal atributo ao observar uma
correlação estrita. De igual modo se postulou a existência de variáveis
ocultas na raiz da correlação negativa detectada, ao se medir apenas
uma componente do spin, nos pares de prótons com a configuração
singleto.

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Talves não seja possível provar-se com rigor que na
argumentação em prol das TRLs não intervenha nenhuma outra
hipótese suplementar. De todo modo, a cadeia de raciocínios é
suficientemente simples o bastante para supor que se houvessem
outras hipótese implícitas, elas seriam facilmente reconhecíveis.
Todavia, não se encontrou nenhuma. Centraremos, pois, nossa atenção
nas três premissas: realismo, livre uso da indução e separabilidade de
Einstein.

Das três, o realismo constitui a premissa fundamental. Pode ser


enunciado formalmente, assim: devemos exigir de uma teoria algo mais
que a mera descrição dos acontecimentos. Também não basta uma
regra empírica para predizer os resultados de futuros experimentos. A
mente pede algo mais: não necessariamente determinismo – não existe
nada intrinsecamente irracional no caráter probabilístico -, senão, ao
menos, uma explicação objetiva das regularidades observadas, ou em
outras palavras, causas. Subsiste sob tal exigência a noção intuitiva de
que o mundo exterior a nós é real e que tem ao menos algumas
propriedades que existem independetemente da consciência humana.

Alguns filósofos, que poderíamos englobar sob o qualificativo de


positivistas têm rechaçado o ponto de vista realista. Os positivistas não
negam a existência do mundo exterior à mente; apenas consideram
sem sentido qualquer afirmação acerca da realidade externa que não se
refira de um modo direto às impressões sensoriais. No século XX alguns
positivistas radicais tiveram apreciável influência, ainda que indireta,
sobre a maneira de pensar da física teórica.

O sentido de paradoxo induzido pelo achado da violação da


Desigualdade de Bell pode mitigar-se adotando-se uma atitude
positivista. Caminho que foi proposto já faz tempo. Quando se pensa em
todas as conseqüências que comportaria o abandono do realismo se
descobre, todavia, que seria uma renúncia demasiado grande para que
fosse atraente. No contexto desta experiência o positivismo afirma que
não teria sentido atribuir nada que se parecesse a uma componente de
spin bem definida de uma partícula, antes de medir dita componente;
que a única grandeza com uma realidade passível de mensuração é a
própria observação, a impressão sensorial; e que deve-se descartar, em
última instância, a exigência do psicólogo de uma explicação objetiva da
notável correlação que encontra. Aplicando-se de um modo coerente
essa negativa de se buscar causas subjacentes para as regularidades
observadas, a ciência ficaria inteiramente reduzida a uma trivialidade. A
ciência ficaria reduzida a um receituário para predizer as observações

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futuras a partir das realizadas. Qualquer noção de ciência como “o
estudo da natureza” seria impossível. A natureza passaria a ser pura
ilusão. Podemos imaginar uma física baseada em princípios positivistas,
capaz de predizer todas as correlações dos eventos, deixando o mundo,
no entanto, totalmente incompreensível. Dadas às conseqüências
extremas a que nos levaria a abolição do realismo, inclinamo-nos por
admitir e sustentar a primeira premissa.

Na argumentação em que se baseiam as TRLs o realismo aparece


unido a outro ponto: trata-se de postular o livre uso da indução. A
indução permitiria ao físico extrapolar a partir de uma série de
correlações negativas observadas a conclusão de que qualquer par de
prótons na configuração singleto tem valores opostos para quaisquer
componentes do spin, mesmo que não se meça nenhuma das
componentes. A extrapolação se constituiu em um passo essencial na
prova da Desigualdade de Bell; porém é indefensável se o conceito de
propriedades não medidas carece de sentido.

Este uso da indução pode parecer a alguns o elo mais fraco na


corrente da argumentação. Logo depois que surgiu o texto de Einstein,
Podolsky e Rosen, Niels Bohr publicou uma réplica onde defendia a
complementaridade (Aurélio: aspecto ou manifestação diferente de
um mesmo fenômeno, que pode ser investigado ou medido
separadamente, mas não simultaneamente.) da descrição mecânico-
quântica da natureza. Fundava sua crítica em que o uso da indução que
Einstein fazia não estava justificado. A contestação de Bohr se constitui
no documento central do que posteriormente se veio a chamar a
interpretação de Copenhague da MQ. Seu raciocínio pode assim ser
sintetizado: uma partícula e um instrumento preparado para tomar uma
medida específica da mesma formam de alguma maneira um só
sistema, que ficaria modificado de modo essencial ao se substituir o
dispositivo instrumental. Em razão disso, não é permitido fazer
inferências sobre o estado da partícula sem especificar ao mesmo tempo
as posições dos instrumentos que com ela interagem.

Os pontos de vista de Bohr têm exercido ampla influência em


muitos físicos. O que é bom, em certo sentido. Até certo ponto, os
trabalhos recentes que estamos discutindo têm demonstrado que, nesta
matéria, ele estava mais próximo da verdade do que Einstein. Sem
dúvidas, quando examinamos as idéias de Bohr em seu estrito
conteúdo, surgem objeções muito parecidas às que se levantaram
contra a postura positivista. Porque o realismo nos dá a última causa
racional para o uso da indução, podemos argüir que Bohr não era
realista, ou não o era ao menos de uma maneira coerente. Qualquer

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explicação dos experimentos de correlação à distância que se baseie na
réplica de Bohr a Einstein, Podolsky e Rosen pode resultar inconsistente
inclusive com uma versão moderada do realismo.

Se temos de manter o realismo e o livre uso da indução, a


violação da Desigualdade de Bell só poderá ser explicada a partir da
suposição de que não seja válida a separabilidade de Einstein. No
experimento do psicólogo se entendia a separabilidade no sentido de
que os maridos e as esposas uma vez divididos, não podiam mais
comunicar-se entre si. No experimento físico a hipótese da
separabilidade expressava a idéia intuitivamente razoável de que as
componentes de spin de um próton não influíam nas do outro próton ,
se as partículas estivessem suficientemente separadas. A hipótese mais
restritiva da separabilidade de Einstein proíbe tal influência a menos que
via propagação com velocidade superior à da luz. Como se verifica, tal
hipótese deve passar a ser admitida como altamente questionável.

Antes de se defrontar com o estudo das conseqüências dessa


conclusão deve-se fazer notar que nenhum dos experimentos até então
realizados corroborou, rigorosamente, a hipótese da separabilidade de
Einstein. Em outros experimentos, as posições dos instrumentos
ficavam determinadas muito antes (na escala de tempo da física das
partículas). Portanto a disposição de um instrumento poderia,
razoavelmente, afetar eventos observados em outro instrumento, ou
poderia modificar variáveis ocultas na fonte de pares de prótons; em
nenhum dos dois casos seria necessário que a influência tivesse viajado
a uma velocidade superior à da luz. Bastaria que as posições dos
instrumentos se modificassem rapidamente para que se eliminasse tal
possibilidade. A decisão de medir certa componente do spin com um
detector não se faria até que fosse demasiado tarde para que qualquer
influência desta decisão pudesse alcançar o outro instrumento ou fonte,
mesmo à velocidade da luz, com tempo para altear a segunda medição.
Tal experimento está sendo realizado por Alain Aspect, do Instituto de
Ótica, da Universidade de Paris.

Independentemente do problema sobre a rapidez com que possa


viajar uma influência hipotética de um instrumento a outro, a existência
mesma dessa influência parece pouco provável. Haveria de alterar as
observações distantes e isso da maneira necessária para violar a
Desigualdade de Bell. Parece, pois, mais indicado buscar outra
explicação e supor, enquanto esperamos os resultados do experimento
de Aspect, que se viola a separabilidade ordinária, o mesmo ocorrerá
com a separabilidade de Einstein.

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Vimos considerando, ao largo do artigo, o par de prótons como se
se tratasse de entidades independentes que se reuniram no alvo e logo
voltaram a se separar. Mas também é possível entendê-los como
elementos de um sistema físico único que se cria durante a primeira
interação e vai se estendendo mais e mais no espaço, até que a
primeira medição o destrói. No que respeita à separabilidade, ambas as
explicações são equivalentes. Em cada caso uma violação da
separabilidade de Einstein requer ação à distância instantânea, quer
seja entre sistemas independentes, quer dentro de um único sistema
esticado.

Devemos então abandonar o princípio de propagação com


velocidade finita de sinais? Não podemos responder apressadamente à
questão. Esse princípio foi introduzido como uma premissa da Teoria da
Relatividade, e sem ela, perde sua coerência intrínseca. Mais, ainda:
sinais que viajem mais depressa que a luz darão origem a estranhos
paradoxos de causalidade: os observadores de alguns sistemas de
referência poderiam achar que um evento foi “causado” por outro que
ainda não aconteceu. Sem dúvidas, as influências instantâneas que
parece que operam nos experimentos de correlação à distância não
exigem uma tão drástica revisão das idéias em voga. Resulta bastante
verossimil que tais influências não poderiam ser utilizadas para
transmitir alguma informação “útil”, ordens ou instruções, por exemplo.
Nenhum evento que ocasione um outro evento pode ligar-se ao segundo
mediante esse mecanismo; as influências instantâneas só podem ser
transmitidas entre eventos relacionados por uma causa comum.
Portanto o conceito de sinal teria que voltar a ser definido com o
sentido de que apenas aqueles meios de comunicação que transmitem
informação útil deveriam denominar-se sinal. E o princípio da velocidade
finita para os sinais permaneceria a salvo.

Não obstante, mesmo esta solução chega a pôr em perigo o


realismo científico. A lei fundamental segundo a qual os sinais não
podem viajar a velocidades superiores à da luz vê diminuída a sua
importância; de constituinte da realidade exterior passa a ser mera
característica da experiência da comunicação humana. Ainda que isto
represente um passo em direção ao positivismo filosófico, o conceito de
uma realidade independente ou externa pode continuar sendo defendido
como uma explicação possível das regularidades observadas no
experimentos. Sem dúvidas, é necessário que a violação da
separabilidade de Einstein fique incluída como uma propriedade, mesmo
que uma propriedade bem escondida e contrária à intuição, desta
realidade independente. Há que se mencionar ainda que a refutação de
Bohr ao argumento de Einstein, a propósito da existência de variáveis

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ocultas, introduz uma violação implícita da separabilidade. Pois
fundamenta-se em uma estranha indivisibilidade do sistema de
partículas com os instrumentos de observação.

A argumentação que procede de uma correlação observada entre


a Desigualdade de Bell e a violação da separabilidade de Einstein não é
particularmente complicada, mas sim, indireta. Seria possível obter
igual resultado de uma forma mais direta? Acontece que a
demonstração seria impossível sem a Desigualdade de Bell, a menos
das suspeitas que realmente ocorreram. Trata-se de uma suspeita a
especular se não seria a função de ondas para um sistema de duas ou
mais partículas tão somente uma entidade não local, já que se admite
que ela se colapsa repentinamente e inclusive instantaneamente, no
momento da medição. Se imaginamos a função de ondas como uma
gelatina real de um tipo especial, o colapso instantâneo viola claramente
a separabilidade de Einstein. Porém tal ingênua hipótese nunca foi
levada a sério, porque a interpretação convencional da MQ não identifica
a função de ondas de um sistema com nada que possa ser entendido
como a realidade desse sistema. Bohr, por exemplo, considerava a
função de ondas como mera ferramenta para calcular. Além disso, Bohr
descreve a função de ondas de um sistema de várias partículas
exclusivamente sob enfoque que ignora a Teoria da Relatividade;
portanto sua estrutura dificilmente pode ser considerada um argumento
convincente contra a separabilidade de Einstein. Conseqüentemente, até
a poucos anos, podia-se crer em uma realidade externa, independente,
e ao mesmo tempo, considerar a separabilidade de Einstein como uma
lei completamente geral aplicável à dita realidade.

Uma resposta razoável aos experimentos de correlação à distância


é que seu resultado não tem conseqüências. Os mesmos experimentos
poderiam representar uma rara, e portanto interessante, prova dos
fenômenos mecânico-quânticos observados a grande distância; porém
os resultados não dão mais do que o esperado. Demonstram que a
teoria está de acordo com a experimentação e portanto não
acrescentam informação nova. Tal reação seria muito superficial. De
fato, os experimentos agora que já foram realizados, acabaram
resultam muito pouco a ver com a MQ. Mas isso não os trivializa, mas
sim revela que a sua importância está em outro lugar. Uma descoberta
que desacredita uma hipótese básica acerca do mundo, uma hipótese já
mantida há tanto tempo e raramente posta em dúvida, não é,
evidentemente, trivial. Trata-se de uma iluminação que merece o
reconhecimento.

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Muitas partículas ou agregdos de partículas que vêm sendo
considerados como objetos separados estiveram interacionados com
outros objetos, em algum momento do passado. A violação da
separabiliade implica que, em algum sentido, todos esses objetos
constituem um todo indivisível. Talvez em um mundo assim, a idéia de
uma realidade com existência independente possa manter parte de seu
significado, mas será um significado alterado e afastado da experiência
ordinária.

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