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RESUMO
Este estudo de campo tem como objetivo explorar o fenômeno do apego ao lugar em duas zonas rurais,
por meio de entrevistas com dois casais de 60 anos. Apesar de terem plena consciência das possíveis
dificuldades de locomoção na zona rural, esses casais optaram por permanecer no local devido ao
vínculo afetivo que estabeleceram com o lugar.
1. INTRODUÇÃO
2. DESENVOLVIMENTO
Foi realizada uma entrevista com dois casais: Terezinha (67 anos) e Wilson(63
anos 1; Zulmira (69 anos) e Sulamar (74 anos)2. Ambos aposentados que exercem
trabalho rural, como: plantio, pecuária e extração de madeira. O local, em que o casal
1 vive, sítio Umburana de Iguatu, possui elementos como: posto de saúde, comercio
local, escola de ensino fundamental, assim como o casal 2 – residente do sítio Riacho
Verde de Acopiara -, com exceção somente de posto de saúde. Ambos os casais
moram um pouco distantes de seus vizinhos. O objetivo dessa entrevista foi analisar
falas que se alinhassem com teóricos que estudam o apego ao lugar e enraizamento
e se a fala dos entrevistados se alinham ou não às teorias vistas.
ENTREVISTA CASAL 1:
Entrevistador: Moram aqui quanto tempo?
Terezinha- Bem, desde sempre, nasci aqui e cresci também
Wilson- Vim morar aqui após o casamento ,faz cerca de 40 anos
Entrevistador: O que acham de morar aqui?
Terezinha- É bom, mesmo maioria das coisas sendo difíceis a gente sempre
da um jeito de viver.
Wilson - É um lugar estranho de se morar se não tiver sustento, a gente se
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Após o término da entrevista foi feita a análise do que foi dito e algumas falas
que condizem com teóricos, como Zygmunt Bauman, que formulou o conceito de
"enraizamento líquido" que pode ser observado na fala dos entrevistados quando
mencionam que moram no local desde sempre ou há muitos anos. Eles se identificam
com o lugar e sentem que faz parte de sua identidade, mesmo reconhecendo as
dificuldades.Outro ponto importante é a tese de
Marc Augé um antropólogo que desenvolveu a ideia de "não lugares" e
"lugares antropológicos". O local descrito na entrevista, com elementos como posto
de saúde, comércio local e escola, pode ser considerado um "lugar antropológico",
onde ocorrem interações sociais e o desenvolvimento de relações pessoais. Por fim
O geógrafo John Agnew que propõe o conceito de "territorialidade" para entender os
laços emocionais e práticos que as pessoas estabelecem com um lugar específico.
Os entrevistados demonstram uma forte territorialidade ao mencionar que o local é
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ENTREVISTA CASAL 2:
Entrevistador: Ha quanto tempo moram aqui?
Zulmira – A gente veio pra cá em 77, então faz uns... 45,46 anos.
Sulamar – Eu vim em 1977, pra poder cuidar do terreno.
Entrevistador: O que acham de morar aqui?
Zulmira – Assim, no começo eu não gostava muito do lugar, porque só tinha
vindo aqui no sítio uma vez, bem antes de o avô dele perder a esposa e disse pra
Sulamar vir cuidar daqui. E eu também não conhecia muito o lugar. Aí depois que eu
casei com Sulamar e a avó dele morrer, ele veio pra cuidar do terreno e a gente veio
morar aqui e cuidar daqui. Mas aí com um bocado de tempo, porque eu demorei a me
acostumar com o lugar, acabei gostando daqui, né. Aí comecei a trabalhar como
professora aqui, costureira e cuidava da casa. Então era muito bom, porque eu
trabalhava praticamente em casa, que a escola era aqui do lado.
Sulamar – Eu gosto demais. Eu já tinha passado 15 anos aqui, saí e depois
voltei de novo.já fazia uma ruma de coisa. Aí quando meu avô perdeu minha avó ele
ficou desgostoso e mandou eu vir ser o vaqueiro do terreno, né, aí como eu já era
acostumado vir pra cá foi tudo muito tranquilo, já trabalhava com a agricultura e a
pecuária lá no Bandeira, aí quando vim pra cá o trabalho foi o mesmo.
Entrevistador:Como vocês definiriam os pontos negativos de onde vocês
moram?
Zulmira – O mais difícil aqui e manter as coisas arrumadas, né, por causa da
poeira e a terra. Que o meu trabalho é cuidar da casa e fazer comida. Aí também tem
essa questão de ter que ir na cidade resolver alguma coisa, que é uma peleja pra ir,
mas é só as vezes que a gente vai lá.
Sulamar – As dificuldades que eu tenho é só pra cuidar dos bichos, o tempo de
seca, né. Agora ta bom, que ta chovendo de vez em quando. E a pecuária eu deixe
mais de mão, por causa da doença que eu tive, aí hoje em dia eu só mexo com animal
mesmo que é o que da pra fazer.
Entrevistador: O que faz vocês continuarem aqui?
Zulmira – Foi criado um carinho, né, pelo lugar. Apesar de no começo não
gostar muito, com o tempo a gente foi conquistando nossas coisinhas, né. A gente so
tem que manter as coisas mesmo, né. É mais como uma sobrevivência mesmo.
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A partir da teoria de Giuliani (2004), é possível relacionar que esse casal possui
um grande apego funcional, pois eles se manteram naquele local devido a uma rotina
e trabalhos que já estavam acostumados, desse modo, ao exercerem papéis que já
lhes eram comuns, atribuíram recompensas que reforçaram o permanecimento deles.
É perceptível que o apego simbólico está mais relacionado ao senhor Sulamar, pois a
senhora Zulmira só criou raízes com a região depois que foi morar lá, já ele comenta
que quando pequeno já morou lá e sempre que possível vistava o local, então a partir
disso é notório que este senhor tinha um forte laço afetivo que remetia ao local e sua
família. Já em relação ao apego temporal, ambos possuem um vínculo afetivo com o
ambiente, pois além de terem construído sua família no local, o senhor tinha contato
direto com a terra por realizar trabalhos como pecuária e plantil, e a senhora por
realizar trabalhos para a comunidade local como professora, que pode ser atribuído
como um apego temporal social, devido o seu empenho na realização desse trabalho.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo de campo com os dois casais de 60 anos evidenciou o fenômeno do apego
ao lugar e o enraizamento. Mesmo cientes das limitações de mobilidade, eles optaram
por permanecer devido ao vínculo afetivo e emocional estabelecido com o ambiente
rural. Esses achados estão alinhados com teorias de estudiosos do apego ao lugar,
como Yi-Fu Tuan, Giuliani e Edward Relph, que enfatizam a importância dos
sentimentos de segurança, familiaridade, pertencimento e memória na
formação desse apego e
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4. REFERÊNCIAS
ALVES, R. B.; KUHNEN, A.; BATTISTON, M. “Lar Doce Lar”: Apego ao Lugar em
Área de Risco diante de Desastres Naturais. Psico, [S. l.], v. 46, n. 2, p. 155–164,
2015. DOI: 10.15448/1980-8623.2015.2.17484. Disponível em:
https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/17484.
Acesso em: 29 maio. 2023.
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/27365/Tese_DINTER_
EAESP_Lelis%20Maia%20Brito.pdf?sequence=1&isAllowed=y
file:///C:/Users/naell/Downloads/admin,+24+-
+EM+BUSCA+DO+SENTIDO+DO+LUGAR.pdf
https://ppgecoh.uneb.br/wp-content/uploads/2023/03/ELISANGELA-CAMPOS-
DAMASCENO-SARMENTO.pdf#page=45
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https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/77985