O Espírito da Sofística, em comparação ao mundo pré-socrático, é uma novidade
radical. Não se ocupa mais da natureza, mas se volta para o ser humano e suas atividades. Entre os primeiros sofistas temos Protágoras (481-411), que teve uma vida errante, e depois Pródico de Julis, Hípias, Górgias (483-375) e Trasimaco.
Os sofistas se denominavam professores de virtude, entendendo virtude como
habilidade política e domínio da linguagem e da persuasão. Sua tese principal é a do relativismo cético, para a qual não há nenhuma verdade universalmente válida, pois podemos perceber a realidade de diferentes modos, modos que também variam de acordo com as pessoas e as diferentes culturas. Assim, as coisas são o que parecem para cada um, e o homem é a medida das coisas. Pode-se pensar aqui que se trate do homem enquanto indivíduo e também como entidade coletiva, de forma que as leis e ordenamentos políticos não são revelações eternas, mas existem por convenção, por acordo, resultado de deliberações e discussões. Cabe ressalvar que os sofistas floresceram no período da democracia ateniense, onde as questões fundamentais da polis eram discutidas na ágora, e não mais resolvidas pelos sacerdotes ou reis; a ordem política democrática tornou possível a participação dos cidadãos na vida política, o que tornava preciosos os dotes oratórios que os sofistas podiam ensinar.
Os sofistas foram os primeiros a conceber o conceito de Cultura (Paideia), que é a
formação do homem no seu ser concreto, como membro de um povo. Os sofistas eram professores errantes, que não se fixavam em alguma cidade, e que serviam mediante remuneração. Por isso, puderam enxergar que os valores, de uma cidade a outra, eram variáveis e incomensuráveis entre si, o que os inclinava ao relativismo. Ensinavam, portanto, a habilidade em viver em determinadas circunstâncias, a exercer a política não no sentido ideal de Platão, que supunha existir um Bem e uma Justiça ideais, mas segundo as diferentes facções e interesses em disputa, ou seja, conforme entendemos atualmente a Política.
Sua condição profissional também os inclinava ao relativismo. Sendo professores
errantes, ofereciam seu treinamento mediante remuneração, o que lhes permitia avaliar a subjetividade das necessidades humanas e o custo/benefício de cada ensinamento. Nisso se opunham aos filósofos clássicos desse período, aristocratas e possuidores de escravos, que não necessitavam trabalhar e podiam ter uma vida pensante e ociosa.
Protágoras ensinou em todas as cidades gregas, defendendo um fenomenismo
segundo a qual as coisas são o que parecem ser para cada um, inspirando-se nas ideias de Heráclito. Defendeu um agnosticismo religioso, afirmando que nada se pode saber dos deuses, que vivem em uma esfera que transcende a condição humana; também defendeu um certo relativismo cultural, pois, em suas viagens, percebeu que são variados os costumes e valores humanos, que muita vez divergem e se opõem entre si. Ele reconhece a necessidade da ordem política e civil que impeça o antagonismo geral, mas a considera fruto da convenção estabelecida entre todos, o que permite que ela tome variadas formas.
Para Sócrates e especialmente para Platão, pareceu que a relatividade cética
defendida pelos sofistas produziria grande instabilidade social e política, razão pela qual buscam conhecer o universal e encontrar uma concepção ética baseada no Bem e na Justiça que se pode conhecer pela razão, de forma ideal. Vídeos Recomendados:
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BIBLIOGRAFIA
ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia, volume 1. Tradução de Antônio Borges
Coelho, Franco de Souza e Manuel Patrício. Lisboa, Editorial Presença, 1976.
HIRSCHBERGER, Johannnes. História da Filosofia na Antiguidade. Tradução de
Alexandre Correa. São Paulo, Editora Herder, 1969.
MONDOLFO, Rodolfo. O Pensamento Antigo. Tradução de Lycurgo Gomes da Motta.