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Caso clínico: Transtorno de Sintomas Somáticos e Transtornos Relacionados

(Transtorno de Ansiedade de Doença)

Pedro, um programador autônomo de 30 anos, foi encaminhado por um dos seus clínicos gerais
que vem acompanhando-o há algum tempo. O paciente é divorciado e tem uma filha - que vive
com a mãe - e ele a visita quinzenalmente, mas não pôde vê-la recentemente devido à sua
condição de saúde. Além disso, mencionou estar incapaz de trabalhar nas últimas semanas,
afirmando que o nível de estresse que ele tem experimentado é elevado, interferindo na sua
capacidade de programar e manter uma rotina normal.

Quando perguntado sobre sua infância, disse que seu pai frequentemente observava que ele
era uma criança "hiperativa" e muito ligada a ele. Ele conta que sua mãe faleceu quando ele
ainda era muito jovem e seu pai precisou criar ele sozinho, algo que Pedro narra com aparente
serenidade. Embora se lembre de ter tido momentos de nervosismo em sua vida, não se lembra
de nenhum deles ter sido extremo a ponto de causar sofrimento significativo. No entanto, conta
que seu pai sempre foi uma pessoa bastante ansiosa e que demonstrava preocupação excessiva
com doenças, muitas vezes recorrendo a remédios naturais em vez de medicamentos
farmacêuticos.

Durante a faculdade, Pedro sentiu fortes dores de cabeça que ele temia serem sinais de um
tumor cerebral, pois tinha o costume de pesquisar sintomas na internet - um hábito que afirma
ter herdado do pai. Este episódio durou cerca de 6 meses, período no qual foi diagnosticado
com enxaqueca. Pedro relatou preocupações ocasionais com sua saúde desde a faculdade, mas
nada que o distraísse seriamente. Suas preocupações atuais começaram há cerca de 2 anos e
foram se intensificando. O paciente declarou frustração com seu médico e teme que morra em
breve, deixando sua filha sem um pai.

Durante a consulta, Pedro estava visivelmente inquieto e tenso, mexendo-se constantemente


durante a maior parte da entrevista. Quando convidado a se sentar, recusou, alegando que
permanecer sentado por muito tempo poderia agravar seu tumor cerebral, fazendo com que ele
se espalhe. Quando solicitado a explicar por que ele havia ido à clínica, afirmou que seu médico
sugeriu que ele viesse porque acredita que a sua doença está "tudo na cabeça dele". O paciente
"sabe" que tem um nódulo no cérebro que é canceroso, mas seu médico não conseguiu
confirmar essa suspeita. Pedro relatou ter realizado vários exames médicos que não
conseguiram confirmar um diagnóstico de câncer. Ele afirmou: "Estou preocupado que, quando
os médicos perceberem que estou certo e encontrarem algo, seja tarde demais e eu acabe
morrendo". Pedro mostrou alguma resistência à ideia de aconselhamento de saúde mental, mas
geralmente foi cooperativo durante o processo de admissão. Ele nega qualquer histórico de
abuso na infância ou doença mental diagnosticada na família.

O paciente relata pensamentos intrusivos constantes de que ele realmente tem esse nódulo no
cérebro e acredita que pode senti-lo dentro de sua cabeça. O conteúdo obsessivo de seus
pensamentos inclui um medo profundo de que esse nódulo cresça e se espalhe pelo corpo, e
imagens desse nódulo parecem se "materializar" em sua mente, reforçando a ideia de que ele
realmente existe em seu organismo: "Às vezes estou trabalhando no computador e posso sentir
esse nódulo se movendo dentro da minha cabeça, é angustiante!".

Para aliviar a ansiedade e preocupação, o paciente relata como se envolve em uma busca
incessante de opiniões médicas e procedimentos de investigação e monitoramento de sua
saúde, e apesar da maioria dos resultados serem normais e os médicos negarem a presença de
um tumor cerebral, isso não parece tranquilizá-lo de maneira alguma. Pelo contrário, apenas
aumenta sua descrença nos profissionais de saúde e a certeza de que ele morrerá antes que
descubram o tumor em seu cérebro. Ele conta que, além da constante busca médica, passa
horas pesquisando na internet sobre tumores cerebrais e como tratá-los com remédios caseiros,
como forma de diminuir a ansiedade e preocupação com esse tumor. Ele expressa grande
insatisfação com a "incompetência" médica de não conseguir encontrar este tumor, e reitera o
seu medo de que possa ser tarde demais quando finalmente descobrirem.

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