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Concurso formal e desígnios autônomos


Direito Penal % Concurso formal e crime continuado % Concurso formal

Origem: STJ

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Resumo

O concurso formal perfeito caracteriza-se quando o agente pratica duas ou mais


infrações penais mediante uma única ação ou omissão.
O concurso formal imperfeito, por sua vez, revela-se quando a conduta única (ação
ou omissão) é dolosa e os delitos concorrentes resultam de desígnios autônomos.
Essa distinção entre os dois tipos de concurso formal varia de acordo com o
elemento subjetivo que animou o agente ao iniciar a sua conduta.
A expressão "desígnios autônomos" refere-se a qualquer forma de dolo, seja ele
direto ou eventual.
A morte da mãe e da criança que estava em seu ventre, oriundas de uma só
conduta (facadas na nuca da mãe), resultaram de desígnios autônomos.
Em consequência disso, as penas devem ser aplicadas cumulativamente, conforme
a regra do concurso material.
STJ. 6ª Turma. HC 191490-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
27/9/2012.

Comentários

Concurso de crimes
Ocorre o concurso de crimes quando o agente pratica dois ou mais crimes. Esses crimes
podem ser praticados com apenas uma ou com mais de uma conduta.
Ex1: “X” atira contra “Y” com a `nalidade de matá-lo. A bala atravessa o corpo de “Y”,
atingindo também “Z”. Haverá concurso de crimes, considerando que houve a prática de
dois delitos (homicídio doloso contra “Y” e homicídio culposo contra “Z”). Esses dois
crimes foram praticados com apenas uma conduta.
Ex2: “X” decide roubar “Y” em um beco escuro. Após subtrair, com grave ameaça, a bolsa,
“X” resolve estuprar “Y”. Haverá concurso de crimes, considerando que houve a prática de
dois crimes (roubo e estupro). Esses dois crimes foram praticados com duas condutas.
Existem três espécies de concursos de crimes:
a) Concurso material (art. 69 do CP);
b) Concurso formal (art. 70 do CP);
c) Crime continuado (art. 71 do CP).

Desse modo, o concurso formal é uma espécie de concurso de crimes.

Conceito de concurso formal (ou concurso ideal)


Ocorre o concurso formal quando o agente, mediante uma única conduta, pratica dois ou
mais crimes, idênticos ou não.

Requisitos:
· Uma única conduta (uma única ação ou omissão);
· Pluralidade de crimes (dois ou mais crimes praticados).

Obs: você deve relembrar que conduta é diferente de ato. Se “João” desfere várias facadas
em “Maria” com o intuito de matá-la, ele pratica vários atos, mas uma só conduta.

Espécies
I – Concurso formal homogêneo e heterogêneo
HOMOGÊNEO HETEROGÊNEO
O agente, com uma única O agente, com uma única
conduta, pratica dois ou mais conduta, pratica dois ou mais
crimes idênticos. crimes diferentes.
Ex: o sujeito, dirigindo seu Ex: o sujeito, dirigindo seu
veículo de forma imprudente, veículo de forma imprudente,
avança na contramão e atinge avança na contramão e atinge
outro carro matando as duas outro carro matando uma
pessoas que lá estavam (dois pessoa que lá estava e ferindo a
homicídios culposos – art. 302 outra (um homicídio culposo e
do CTB). uma lesão corporal culposa –
art. 302 e 303 do CTB).

II – Concurso formal perfeito e imperfeito


PERFEITO (normal, próprio) IMPERFEITO (anormal,
impróprio)
O agente produziu dois ou mais Quando o agente, com uma
resultados criminosos, mas não única conduta, pratica dois ou
tinha o desígnio de praticá-los de mais crimes dolosos, tendo o
forma autônoma. desígnio de praticar cada um
deles (desígnios autônomos).
Ex1: João atira para matar Ex1: Jack quer matar Bill e Paul,
Maria, acertando-a. Ocorre que, seus inimigos. Para tanto, Jack
por culpa, atinge também Pedro, instala uma bomba no carro
causando-lhe lesões corporais. utilizado pelos dois, causando a
João não tinha o desígnio de morte de ambos. Jack matou
ferir Pedro. dois coelhos com uma cajadada
Ex2: motorista causa acidente e só.
mata 3 pessoas. Não havia o Ex2: Rambo vê seu inimigo
desígnio autônomo de praticar andando de mãos dadas com a
os diversos homicídios. namorada. Rambo pega seu
fuzil e resolve atirar em seu
inimigo. Alguém alerta Rambo:
“não atire agora, você poderá
acertar também a namorada”,
mas Rambo responde: “eu só
quero matá-lo, mas se pegar
nela também tanto faz. Não
estou nem aí”. Rambo, então,
desfere um único tiro que
perfura o corpo do inimigo e
acerta também a namorada.
Ambos morrem.
Pode ocorrer em duas situações: Ocorre, portanto, quando o
· DOLO + CULPA: quando o sujeito age com dolo em relação
a todos os crimes produzidos.
agente tinha dolo de praticar
um crime e os demais delitos
foram praticados por culpa Aqui é DOLO + DOLO. Pode ser:
(exemplo 1);
· Dolo direto + dolo direto
· CULPA + CULPA: quando o (exemplo 1);
agente não tinha a intenção de
· Dolo direto + dolo eventual
praticar nenhum dos delitos,
tendo todos eles ocorrido por (exemplo 2).
culpa (exemplo 2).

Fixação da pena: Fixação da pena


Regra geral: exasperação da No caso de concurso formal
pena: imperfeito, as penas dos
· Aplica-se a maior das penas, diversos crimes são sempre
SOMADAS. Isso porque o sujeito
aumentada de 1/6 até 1/2.
agiu com desígnios autônomos.
· Para aumentar mais ou
menos, o juiz leva em
consideração a quantidade de
crimes.

Exceção: concurso material


bené`co
O montante da pena para o
concurso formal não pode ser
maior do que a que seria
aplicada se fosse feito o
concurso material de crimes (ou
seja, se fossem somados todos
os crimes).
É o caso do exemplo 1, que
demos acima, sobre João. A
pena mínima para o homicídio
simples de Maria é 6 anos. A
pena mínima para a lesão
corporal culposa de Pedro é 2
meses.
Se fôssemos aplicar a pena do
homicídio aumentada de 1/6,
totalizaria 7 anos.
Se fôssemos somar as penas do
homicídio com a lesão corporal,
daria 6 anos e 2 meses.
Logo, nesse caso, é mais
bené`co para o réu aplicar a
regra do concurso material (que
é a soma das penas). É o que a
lei determina que se faça (art.
70, parágrafo único, do CP)
porque o concurso formal foi
idealizado para ajudar o réu.

Roubo de bens pertencentes a várias vítimas no mesmo contexto


O sujeito entra no ônibus e, com arma em punho, exige que oito passageiros entreguem
seus pertences (dois desses passageiros eram marido e mulher). Tipi`que a conduta.
O agente irá responder por oito roubos majorados (art. 157, § 2º, I, do CP) em concurso
formal (art. 70). Atenção: não se trata, portanto, de crime único!

Ocorre concurso formal quando o agente, mediante uma só ação, pratica crimes de
roubo contra vítimas diferentes, ainda que da mesma família, eis que caracterizada a
violação a patrimônios distintos. Precedentes. (...)
(HC 207.543/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, julgado em 17/04/2012)

Nesse caso, o concurso formal é próprio ou impróprio?


Segundo a jurisprudência majoritária, consiste em concurso formal PRÓPRIO. Veja recente
precedente:

(...) Praticado o crime de roubo mediante uma só ação contra vítimas distintas, no
mesmo contexto fático, resta con`gurado o concurso formal próprio, e não a hipótese de
crime único, visto que violados patrimônios distintos. (...)
(HC 197.684/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 18/06/2012)

Qual será o percentual de aumento que o juiz irá impor ao condenado:


1/2 (considerando que foram oito roubos).
Segundo o STJ, o critério para o aumento é o número de crimes praticados:
· 2 crimes – aumenta 1/6

· 3 crimes – aumenta 1/5

· 4 crimes – aumenta 1/4


· 5 crimes – aumenta 1/3

· 6 ou mais – aumenta 1/2

Concurso formal e pena de multa:

Art. 72. No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e


integralmente.

Concurso formal e prescrição:


Para que seja feito o cálculo da prescrição, o juiz irá considerar o total da pena com o
aumento do concurso formal ou levará em conta a pena de cada crime, isoladamente?
Para `ns de calcular a prescrição, o juiz considera a pena aplicada para cada um dos
delitos, isoladamente. Assim, não se calcula a prescrição com o aumento imposto pelo
concurso formal. O objetivo é que seja mais bené`co ao réu.

CP/Art. 119. No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a


pena de cada um, isoladamente.

Concurso formal e suspensão condicional do processo:


A suspensão condicional do processo é prevista no art. 89 da Lei n.° 9.099/95 e somente
pode ser aplicada para os réus que estejam sendo acusados de crimes cuja pena mínima
seja igual ou inferior a 1 (um) ano.
A pena do furto simples é de 1 a 4 anos. Logo, é possível a suspensão condicional.

E se a pessoa tiver praticado três furtos simples, em concurso formal, ela poderá ser
bene`ciada com a suspensão condicional do processo?
NÃO. Segundo entendeu a jurisprudência, para `ns de suspensão, deve-se considerar a
pena do crime já com o acréscimo decorrente do concurso formal. Veja:
Súmula 243-STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às
infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade
delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da
majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.

Concurso formal e Juizado Especial:


O Juizado Especial Criminal possui competência para julgar as contravenções penais e os
crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 anos (art. 61 da Lei n.° 9.099/95).
Imagine que o agente praticou, em concurso formal, três crimes, cuja pena máxima para
cada um deles é de 2 anos. Indaga-se: o julgamento será de competência do Juizado?
NÃO. É pací`ca a jurisprudência do STJ de que, no caso de concurso de crimes, a pena
considerada para `ns de `xação da competência do Juizado Especial Criminal será o
resultado da soma, no caso de concurso material, ou a exasperação, na hipótese de
concurso formal ou crime continuado, das penas máximas cominadas aos delitos. Assim,
se desse somatório resultar uma pena superior a 02 anos, `ca afastada a competência do
Juizado (HC 143.500/PE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma, julgado em
31/05/2011).

Caso concreto julgado pelo STJ em 2012


Após toda a explicação acima, imagine agora o seguinte caso julgado pelo STJ (com
adaptações):
“João”, com a intenção de ceifar a vida de “Maria” (que estava grávida de 8 meses e ele
sabia disso), desfere várias facadas em sua nuca. “Maria” e o feto morrem.
Se fosse uma prova do CESPE, como você tipi`caria a conduta de “João”?
“João” praticou homicídio (art. 121) e aborto provocado por terceiro (art. 125) em concurso
formal (art. 70).

A pergunta difícil vem agora: trata-se de concurso formal perfeito ou imperfeito?


Concurso formal IMPERFEITO (impróprio ou anormal).
Houve dolo direto em relação ao homicídio e dolo eventual no que se refere ao aborto.
Assim, o agente possuía desígnios autônomos com relação aos dois crimes praticados.
Tinha o dolo de praticar os dois delitos.

Como será calculada a pena de “João”?


A pena pelo homicídio será somada à pena do aborto (segunda parte do art. 70).

Em síntese:
O concurso formal perfeito caracteriza-se quando o agente pratica duas ou mais
infrações penais mediante uma única ação ou omissão.
O concurso formal imperfeito, por sua vez, revela-se quando a conduta única (ação ou
omissão) é dolosa e os delitos concorrentes resultam de desígnios autônomos.
Essa distinção entre os dois tipos de concurso formal varia de acordo com o elemento
subjetivo que animou o agente ao iniciar a sua conduta.
A expressão "desígnios autônomos" refere-se a qualquer forma de dolo, seja ele direto
ou eventual.
A morte da mãe e da criança que estava em seu ventre, oriundas de uma só conduta
(facadas na nuca da mãe, resultaram de desígnios autônomos.
Em consequência disso, as penas devem ser aplicadas cumulativamente, conforme a
regra do concurso material.
STJ. 6ª Turma. HC 191.490-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 27/9/2012.

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Como citar este texto

CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Concurso formal e desígnios autônomos. Buscador


Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4588e674d3f0faf9850
47d4c3f13ed0d>. Acesso em: 10/06/2022

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