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ELETROCONVULSIOTERAPIA
2023
História
A eletroconvulsioterapia (ECT) foi descoberta em 1938 por Ciarleti e
Bini. O primeiro paciente foi um indivíduo que vivia nas ruas de Romas, e que
devido a episódios de esquizofrenia foi internado diversas vezes em clínicas
filantrópicas, os bons resultados apresentados pelo uso de eletrochoque neste
indivíduo confirmaram que a terapia poderia ser útil no tratamento de diversos
agravos mentais. (Fukuda, Ilza Marlene, K. et al. 2017)
A parti desse resultado a ECT passou a ser comumente usada em
diversos tratamentos, sendo vista por muitos como uma terapia agressiva e
desumana, principalmente após a década de 50 com o surgimento dos
psicotrópicos, consideradas menos agressivos. Na década de 70/80 o
procedimento foi deturpado pela mídia com o início da luta antimanicomial já
que na época muitos pacientes foram submetidos a uma má indicação da
técnica. Mesmo com o aumento da construção cientifica em torno da terapia a
ECT ainda sofre estigmas, e o seu uso ainda é hostilizado, sendo associada no
meio midiático como um tratamento bárbaro. (José, B. B., Cruz. M. C. 2019)
A terapia apenas restabeleceu sua credibilidade com a incorporação de
uso de aparelhos modernos, que podem dosar a carga exata para cada tipo de
tratamento, com a possibilidade de controlar a frequência de cada correte
elétrica, a onda utilizada e sua duração, o tratamento de eletroconvulsioteria
moderno se diferencia da técnica anterior por utilizar o uso de anestesia e
acompanhamento de sinais vitais e eletroencefalograma (EEG), visando assim
prestar um atendimento humanizado e garantindo assim a prevenção dos
possíveis agravos. (José, B. B., Cruz. M. C. 2019)
O tratamento também é conhecido como eletrochoque, onde ocorre uma
estimulação cerebral não farmacológica com o objetivo de produzir alterações
no comportamento e melhoras nos sintomas psiquiátricos. Por mais que exista
um grande estigma o procedimento é muito utilizado na psiquiatria e sua
prática é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina através da
resolução CFM nº 2057/2013.(José, B. B., Cruz. M. C. 2019)
O procedimento consiste em induzir artificialmente uma crise convulsiva
tônico-clônica no paciente, pela passagem de uma corrente elétrica de 70 a
130 volts e de 50 a 100 miliampères, por meio de eletrodos colocados em uma
ou em ambas as têmporas. Os mecanismos de Ação ainda são desconhecidos,
sendo levantado algumas teorias como a teoria dos neurotransmissores, teoria
neuroendócrina e teoria anticonvulsiva. (Fukuda, Ilza Marlene, K. et al.2017)
Teorias
Por mais que exista avanços na medicina moderna os mecanismos de
ações da ECT ainda são desconhecidos, e existem algumas teorias que giram
em torno do procedimento sendo as mais discutidas;
Na Teoria dos neurotransmissores ou monoaminas acredita-se que a
ECT ativa sistemas adrenérgicos, aumentando a sensibilidade dos receptores
dopaminérgicos, reduzindo a captação de serotoninas, ativando o sistema
nervoso periférico e a liberação da secreção de glândulas endócrinas. ( Rosa, M.
A., Marina O. R. 2015)
Procedimento
Após estabelecida a indicação de ECT, o paciente deve passar uma
avaliação clínica que envolve três pontos, avaliação da gravidade do quadro
psiquiátrico, avaliar as funções cognitivas e avaliação os possíveis efeitos
colaterais. A avaliação de gravidade é necessária para que os efeitos
terapêuticos sejam devidamente estudados, já a avaliação de função
cognitiva é realizada por meio de testes neuropsicológicos afim de avaliar a
memória, este teste é primordial pois nele podemos avaliar alguns possíveis
efeitos colaterais da ECT, já na avaliação dos possíveis efeitos colaterais
será analisado fatores de risco já pré-existentes que podem a vir a trazer
alguma complicação no decorrer do procedimento. (Silva, M.L.B, Caldas. M.T.
2008)
Um exame físico e anamnese detalhados são de suma importância para
prevenir e identificar problemáticas e complicações no decorrer do
procedimento, sendo necessário também a solicitação de alguns exames para
investigar os mesmos, alguns exemplos são;
Hemograma completo para afastar anemias, quadros infecciosos
e inflamatórios;
International Normalized Ratio (INR) e Partial Thromboplastin
Time (PTT), indicados para pacientes que fazem o uso de
anticoagulantes;
Glicemia basal, uma vez que a ECT diminui o metabolismo da
glicose;
As provas de função renal (ureia e creatinina e de função
hepática).
TGO e TGP para nortear quais os medicamentos que ser o
utilizados durante o procedimento
Hormônio estimulante da tireoide T deve ser dosado, já que a
ECT gera o aumento oxcarbazepina para evitar convulsões e
confusão mental .
Exames complementares como radiografia de tórax e da espinha
dorsal, eletroencefalograma (EEG), eletrocardiograma (ECG) e
avaliação pré-anestésica são necessários.
(José, B. B., Cruz. M. C. 2019)
No decorrer do procedimento o paciente deve ser atendido por uma equipe
multidisciplinar, comporta por psiquiatra, psicólogo, enfermeiro especialista e
técnico de enfermagem. Atualmente existem 4 maquinas que são usadas e que
por intermédio delas podemos estabelecer os estímulos necessários para cada
procedimento sendo elas a Ectron , Ectonus , MECTA SR2 e JR2, Thymatron-
DGx, cada maquina dessa pode fornecer estímulos de pulsos elétricos de 1 a 2
milessegundos. E a técnica consiste em causar crises convulsivas por meio
dos estímulos elétricos causados por dois eletrodos nas têmporas, para cada
paciente e seu caso existe um número adequado de sessões e um numero
adequado de estímulos elétrico para causar a convulsão. (Perizzolo, et al;
2003)
No momento da aplicação, o paciente deve estar em jejum de 6 á 8
horas, as próteses dentárias e outras devem ser retiradas, a bexiga e o reto
devem ser esvaziados e é aplicada ainda uma anestesia. Na hora da sessão,
quando já deitado, busca-se proteger o paciente de movimentos extremos na
hora da convulsão, que ocasionariam possíveis fraturas, coloca-se na boca um
calço depressor da língua ou uma mordaça para se prevenirem mordidas e/ou
deslocamentos na mandíbula. (Silva, M.L.B, Caldas. M.T. 2008)
Os fármacos mais comuns no procedimento são os anticolinérgicos
muscarínicos como drogas pré-anestésicas para reduzir secreções e impedir
as bradiarritmias, como a atropina e glicopirrolato. O metoexital e o propofol
como anestésicos de primeira escolha pois são eficazes por apresentarem a
meia-vida curta e serem pouco cardiotóxicos. Outras alternativas são o
etomidato, a cetamina e a alfetanila. A succinilcolina deve ser utilizada como
relaxante muscular com a função de evitar fraturas ou lesões, já que impede a
movimentação do paciente, sendo contraindicado em casos de hipertermia
maligna e síndrome neuroléptica. (José, B. B., Cruz. M. C. 2019)
A intensidade do estímulo é usualmente calculada a
partir do limiar convulsivo, o qual deve ser empiricamente
determinado na primeira sessão de ECT. O limiar
convulsivo é determinado calibrando o aparelho de ECT
com a menor quantidade de energia capaz de induzir a
convulsão. Se esta dose não induz o resultado Eletrodo
do vértex Unilateral direita Bilateral ou bitemporal
Bifrontal desejado, o aparelho é novamente calibrado
para uma dose um pouco mais alta até a indução da
convulsão. Então, é estabelecido o limiar convulsivo que
será utilizado como referência durante o restante do
tratamento. O estímulo é dependente do local em que se
posicionam os eletrodos. A dose de tratamento sugerida
para as posições bilateral ou bifrontal é de 1,5 a 2 vezes
a do limiar convulsivo. Sugere-se para o posicionamento
unilateral direito um estímulo de 6 vezes o limiar
convulsivo, baseado em estudos demonstrando que as
convulsões precisam ser provocadas por estímulos que
sejam várias vezes superiores ao limiar a fim de se obter
eficácia máxima neste posicionamento. É comum que
durante um tratamento de ECT seja necessário realizar
incrementos na dose de tratamento por haver elevação
do limiar convulsivo. (Mantovani, L., Figueiredo, G. R 2012)
PREPARO DO PACIENTE
Buscar informar o paciente sobre o procedimento, com total cuidado de
não deixa-lo ansioso, visando promover um tratamento acolhedor e
empático.
Informar a família sobre o procedimento e pedir que assinem o termo de
consentimento. (Estes últimos devem estar cientes tanto dos benefícios
como dos riscos do tratamento)
Realizar um exame físico e anamnese para investigar problemas que
possam causar alguma reação adversa ou alguma contra-indicação.
No dia do tratamento o paciente deverá:
1) permanecer em jejum absoluto, a fim de evitar vômitos e refluxo destes para
as vias respiratórias;
2) ser levado ao banheiro e ser estimulado a urinar e evacuar, pois o
tratamento provoca relaxamento momentâneo dos esfíncteres anal e uretral; a
enfermeira precisará estar atenta para que o paciente não aproveite a
oportunidade para beber água;
3) retirar próteses dentárias, óculos, grampos ou qualquer outro objeto de metal
de uso habitual;
4) conservar os cabelos secos;
5) usar roupas folgadas — de preferência roupas do hospital — que permitam
ampla movimentação.
Realizar controle de sinais vitais
ASSISTÊNCIA DURANTE O TRATAMENTO
O paciente é colocado em decúbito dorsal, com membros superiores ao longo
do corpo e membros inferiores no mesmo alinhamento do corpo, sem flexão; os
funcionários (enfermeira e auxiliar) permanecem um de cada lado da cama; um
passa o braço esquerdo sob o dorso do paciente e apoia a mão no seu ombro;
com a outra mão segura firmemente a sua mandíbula, para evitar luxação
buco-maxilar, após ser colocado o protetor de língua que é destinado a prevenir
ferimentos desta. O outro passa a solução salina na região têmporo-frontal do
paciente para facilitar a passagem da corrente elétrica; o médico, então, aplica
a descarga elétrica. Esta se dá de modo gradativo, em frações de segundos,
até atingir a voltagem máxima desejada — corrente elétrica alternada de 70 a
120 volts, durante 0,1 a 0,5 segundos.
REFERÊNCIAS
ROSA, Moacyr A.; ROSA, Marina O. Fundamentos da eletroconvulsoterapia. Grupo A,
2015. E-book. ISBN 9788582711477. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582711477/. Acesso em: 25 jun. 2023.
FUKUDA, Ilza Marlene K.; STEFANELLI, Maguida C.; ARANTES, Evalda C. Enfermagem
psiquiátrica em suas dimensões assistenciais. Editora Manole, 2017. E-book. ISBN
9788520455326. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520455326/. Acesso em: 25 jun. 2023
Perizzolo, J., Berlim, M. T., Szobot, C. M., Lima, A. F. B. da S., Schestatsky, S., & Fleck, M. P.
de A.. (2003). Aspectos da prática da eletroconvulsoterapia: uma revisão sistemática.
Revista De Psiquiatria Do Rio Grande Do Sul, 25(2), 327–334 https://doi.org/10.1590/S0101-
81082003000200009
Moser, C. M., Lobato, M. I., & Belmonte-de-Abreu, P.. (2005). Evidências da eficácia da
eletroconvulsoterapia na prática psiquiátrica. Revista De Psiquiatria Do Rio Grande Do Sul,
27(3), 302–310. https://doi.org/10.1590/S0101-81082005000300009
José, B. B., & Cruz, M. C. C. da. (2020). Eletroconvulsoterapia como prática psiquiátrica:
revisão de literatura. ARCHIVES OF HEALTH INVESTIGATION, 8(10).
https://doi.org/10.21270/archi.v8i10.3609