IFilosofia

A apresentação da
Doutrina Maçônica

á quem pergunte qual a razão por Ir:. Raimundo Rodrigues-

~~ movimento São Paulo - SP
que a Maçonaria apresenta sua dou- ARLS:. "paz e Harmonia" nO 551 -
trina por etapas. Se observarmos Grande LOJaMaçônica do Estado de
harmonioso define-se São Paulo
bem, veremos que todo e qualquer estudo
na manifestação força- deve ser feito por etapas, partindo-se do iní-
cio da coisa a ser estudada, percorrendo-se
trabalho-planejamento:
a pouco e pouco o caminho que nos leve
súmula dos três graus sempre para a frente.
Pode até ser que apareça alguém que argu-
Simbólicos, mente que iniciou seus estudos filosóficos a
partir de Sócrates, por não se ter interessa-
desdobrados nas
do pelos pré-socráticos. Muito bem. Será
etapas da Pedra Bruta, que, realmente, nós conseguiríamos crescer
nos campos da filosofia sem conhecer a filo-
da Pedra Cúbica e da
sofia dos que vieram antes de Sócrates?
Prancheta". (Rosemiro O estudante de filosofia pode começar a
estudá-Ia de onde ele quiser, só que não sa-
Pereira Leal, in bemos qual seria o resultado desse estudo.
Nada há que proíba a quem queira estudar
~~Pesquisa
em
filosofia que comece aqui ou ali.
A Maçonaria é sábia; ela quer que o estudo
comece do ponto de partida de sua doutrina.
E há várias vantagens tiradas dessa obrigação.
A primeira é que todos nós, maçons, sempre
ficamos de curiosidade aguçada, pensando no
que viria depois. Não há, neste velho mundo,
quem ignore que a curiosidade é um dos gran-
des fatores da aprendizagem. E deve-se veri-
ficar que, além do estudo da doutrina, há ou-
tros estudos muito importantes, como a
ritualística e a história da Ordem.
 Os três primeiros graus englobam es-
tudos de matéria que, às vezes, se re-
pete. Entretanto, à medida que se
avança no conhecimento dessa maté-
ria, vão surgindo interpretações que
antes não nos ocorreram. Tal coisa
acontece porque também a repetição
é benéfica à aprendizagem. E não nos
referimos apenas à doutrina. Loja que
não pratica certos pontos da ritualística
com formalidade, no passar do tem-
po, grande parte de seus obreiros se
esquecem de como fazer a coisa e
podem, até, em visitando outras Lo-
jas, cair no ridículo. Daí por que o
Irmão Rosemiro Leal, já citado no ca-
beçalho deste ensaio, afirma:
que o trabalho
~~Evidente
nos templos maçônicos
não significa mera
diversão. Temos ali um
ritual que deve ser
repetido como um sino a
bater em nossa
inteligência,
despertando-nos, a cada
dia, para reflexões sobre
ontologia, axiologia e
teleologia".
Esse autor tem carradas de razão. Essa
repetição que acontece sempre em
cada Loja não deve ser feita maquinal-
mente e, às vezes, com displicência.
É bom e é salutar que nos ponhamos
sempre a buscar reflexões diferentes
para aquilo que obrigatoriamente se
repete. E não só para o que se repete.
Cada vez que ouvirmos falar em Pe-
dra-Bruta por que não fazer um
"examezinho" de consciência, procu-
rando descobrir se temos lutado para
extirpar de nosso interior, de nosso in-
telecto, de nosso espírito alguma da-
quelas coisas que não devem perma-
necer em nós? Por outro lado, medi-
tar para ver se temos melhorado ou
aumentado as virtudes que ornam o
nosso caráter.
Por que não pensar que seria o supra-
sumo da beleza espiritual se chegás-
semos, realmente, a polir a Pedra-Cú-
bica... o que, infelizmente, nunca irá
acontecer.
Uma outra coisa para a qual devemos
atentar: serão os Rituais do Simbolis-
mo perfeitos? No que tange à doutri-
na, não temos dúvida; se bem que, de
vez em quando, topemos com algu-
ma coisa que ali foi introduzida por
mão pouco hábil e que não tinha nem
competência, nem direito de fazê-Io.
A coisa mais comum que se ouve em
Loja são elogios às lições do Ritual:
- Lição maravilhosa, muito bem ela-
borada, rica de ensinamentos, muito
bonita!
Às vezes, quem faz o elogio, fica só
nisso, não aumentando um dedal de
conhecimento ao que foi lido.
Há defeitos, e defeitos graves na
ritualística posta em prática pela mai-
oria esmagadora de nossas Lojas.
A nossa crítica, e iremos formulá-Ia
agora, talvez até convicto de estarmos
pregando no deserto, não é contra os
Rituais e, sim, contra os responsáveis
pelas Lojas.
O Aprendiz só pode ter aumento de
salário diante de certas condições. É
necessário que tenha, no mínimo, sete
meses de Loja, a partir de sua Inicia-
ção, que tenha pelo menos 75% de
freqüência e que esteja em dia com a
Tesouraria.
Muito bem, o que é que acontece? O
Aprendiz tem sete meses de iniciado?
Recebeu as sete instruções? Tem 75%
de freqüência? Não deve à Loja? Au-
mento de salário nele! A principal coi-
sa dificilmente é cogitada: sabe ele o
mínimo necessário exigido para que vá
para a Coluna do Sul?
Temos aqui, debaixo dos olhos, o Re-
gulamento Geral de nossa Grande Loja
que, ao tratar da PASSAGEM DE
GRAU, no Art. 218, referindo-se a
Aprendizes e Companheiros, diz, no
inciso IV - um e outro deverão de-
monstrar conhecimento do Simbolis-
mo, da FilosofiaMaçônica, das Leisque
regem a Ordem (o grifo é nosso) e co-
nhecimento do grau.
Temos a impressão que dirigente de
Loja precisa tomar conhecimento ple-
no desse inciso IVdo Art .. 218 ... por-
que o que se vê é a pressa de fazer
com que o Aprendiz abaixe a Abeta.
Tudo o que dissemos sobre o aumen-
to de salário do Aprendiz serve tam-
bém para o Companheiro.
Passemos a um outro ponto: há lições
que nunca deveriam ser dadas em uma
única reunião.
Temos o orgulho de pertencer à Gran-
de Loja Maçônica do Estado de São
Paulo, portanto, o Ritualque está aber-
to, aqui e agora, é o de Aprendiz da
GLESP.
A primeira instrução trata de temas
importantíssimos e é a primeira que o
iniciado vai ter. Por ventura, já se de-
ram ao trabalho de contar quantas
páginas ela engloba? Sete páginas. Es-
crevemos SETE páginas. E são cinco
ou seis temas diferentes, entre os quais
análise dos instrumentos e utensílios
do Aprendiz rnaçom, terminando com
filosofia pura, isto é, estudo sobre o
Bem e o Mal, da maneira, com poucas
mudanças, como ensinaram Sócrates
e Aristóteles. Essa primeira instrução
deveria ser estudada por tópicos. Ve-
jamos como ficaria a divisão:
I° tópico: Sinal,toque e palavra; a mar-
cha do Aprendiz (a correlação com os
signos zodiacais), etc.
2° tópico: a Régua de 24 polegadas, o
Maço e o Cinzel.
3°tópico: o conhecimento baseado na
exatidão, ajudado pelo trabalho e efe-
tivado pela perseverança.
4° tópico: o Bem e o Mal (à luz da filo-
sofia).
5° tópico: As reflexões que a Maçona-
ria nos sugere.
Por essa divisão se verifica que a Pri-
meira Instrução não pode ser minis-
trada em uma só "aula". Seriam ne-
cessárias, no mínimo, três "Lojas",
para que se pudesse dar a Primeira
Instrução de maneira que os Aprendi-
zes pudessem apreender um mínimo
de tudo o que ela traz de útil para o
bom conhecimento da doutrina que ali
se encerra.
A segunda Instrução se estende por
SEIS páginas, englobando também o
que de mais importante existe em
todo o estudo do Primeiro Grau.
Vejamos o que se poderia fazer para
que essa Instrução fosse bem minis-
trada:
I° tópico: o Painel da Loja.
2° tópico: o formato da Loja.
3° tópico; as três Colunas, formadora
do triângulo regente e sustentáculo da
Loja.
4° tópico: A Escada de Jacob.
5° tópico: o Esquadro e o Compasso:
as jóias móveis e as jóias fixas.
Ao estudar a Escada de Jacob, apro-
veitar e fazer um rápido comentário
sobre as Três Grandes Luzes
Emblemáticas da Maçonaria.
Pelas divisões que acabamos de fazer,
fica bem claro que também a Segunda
Instrução não pode ser ministrada em
uma única Sessão.
Achamos um verdadeiro absurdo que
a sétima Instrução (oito páginas e
meia) seja dada em uma única Loja. Dai
a razão por que a coisa mais difícilque
existe é você encontrar um maçom
capaz de dissertar corretamente, e
sem inventar, sobre numerologia.
E o que é mais grave ... as leituras seri-
am bem feitas???
Cala-te boca!!!
Agora vai a pergunta: o defeito é do
Ritual? Não, não é. O Ritual é ótimo,
as lições estão muito bem distribuídas.
O defeito, meus queridos Irmãos, o
defeito é nosso - meu, teu, seu, nos-
so, vosso, de todos nós.
Não estamos exagerando. Estamos es-
crevendo esta matéria baseado nas
três Lojas por que passamos, nestes
27 anos de Maçonaria e uma porção
de outras por nós visitadas, aqui em
São Paulo e em vários outros lugares
do Brasil.
Temos, de nós para nós, que esta é
uma das razões porque muitos não
passam do I° Grau. E há quem Ihes
ponha a culpa, quando a culpa é nos-
sa, e só nossa, com a pressa de dar-
mos aumento de salário.
Tenho certeza absoluta que a modifi-
cação didática adotada pela Grande Loja
de Santa Catarina, inclusive com o es-
tudo da filosofiageral, dará certo e será
o primeiro passo para que as Potências
e Obediências brasileiras comecem a
pensar bem sobre o assunto.
Desculpem-nos os leitores pelo tom
incisivo deste ensaio. A maioria abso-
luta dos que me lêem, sabem que não
há exagero algum em nossas afirmati-
vas. Ao cabo de contas, nossa obriga-
ção, como maçom, é combater o que
está errado. Não somos contra nos-
sos Irmãos e, muito menos, contra
nossas Lojas. Somos, isto sim, de cor-
po e alma, contra o que está errado.
Vamos pôr a pressa de lado.
Lembremo-nos do velho ditado: a
pressa é inimiga da perfeição! _