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Residência Multiprofissional – 2017.

Thaís D. Silva

Antecedentes Históricos do SUS – Breve história da política de saúde do Brasil

Os principais marcos regulatórios da construção da saúde pública atual brasileira são a Constituição Federal de 1988
e o Projeto da Reforma Sanitária, os quais foram os responsáveis pela idealização e implantação do Sistema Único de
Saúde - SUS que tornou o acesso à saúde universal para todos os cidadãos.

1) Período Colonial/Imperial
 1500 – 1822: colônia de Portugal, ciclos do açúcar e mineração, trabalho escravo (período colonial)
** A implementação das políticas públicas de saúde no Brasil se deu no século XVI, com a vinda da família Real para o Brasil. Essa
implementação sofreu obstáculos como a carência de profissionais e o medo da população em relação ao tratamento oferecido
por esses profissionais, preferindo serem tratados por curandeiros.
- 1808: criação de centro de formação de médicos -> R J e Bahia

 1822 (independência) – 1889 (período imperial): crescimento da produção de café, trabalho escravo,
aumento do poder da burguesia, Proclamação da República, início do trabalho assalariado

 Diversas doenças transmissíveis (endemias e epidemias): não existia uma política de saúde, apenas eram
tomadas medidas pontuais para amenizar o quadro que eram abandonadas após o controle do surto
 A assistência médica se limitava as classes dominantes
 1892 foram criados os primeiros laboratórios Bacteriológicos que tinham o intuito de gerar melhores
condições sanitárias para as cidades urbanas

2) Primeiro Período Republicano (1889 – 1930)


- Campo político: domínio das redes agrárias de SP, MG e RJ (café e pecuária -> política café com leite)
- Campo econômico: aumento da produção industrial
- Predomínio de doenças pestilenciais (cólera, peste bubônica, febre amarela) e saneamento básico precário

* 1899: Peste Bubônica: criação de instituições de pesquisa, médicos especializados em bacteriologia


* As ações de saúde visavam o controle das doenças epidêmicas (áreas de portos principalmente) e
buscavam atrair imigrantes
* Oswaldo Cruz (Diretor do Departamento Federal de Saúde Pública): campanhas sanitárias; criado o
Instituto Soroterápico de Manguinhos  Instituto Oswaldo Cruz com a finalidade de pesquisa e
desenvolvimento de vacinas e soro contra as doenças (peste bubônica, por exemplo)

 1904: imposição legal da vacinação contra a varíola  revolta das vacinas


* Implantou medidas de desinfecção sanitária e de vacinação obrigatória anti-varíola que
desagradou à população, gerando um movimento que ficou conhecido como a Revolta da Vacina
 1920: Carlos Chagas assumiu o comando do Departamento Nacional de Saúde, criando programas
que introduziam a propaganda e a educação sanitária da população
* No ano de 1920, foram criados órgãos especializados no combate a doenças como tuberculose,
lepra e DST
* Criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) -> bases para o SUS
* Lei Eloi Chaves (1923): assistência médica como política pública
 Nascimento da saúde pública: fundamentados pela bacteriologia e microbiologia
 Surge a Previdência Social que vai incorporar a assistência médica aos trabalhadores como uma de
suas atribuições a partir de contribuição com as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) -> início
da responsabilidade do estado pela regulação da concessão de benefício
 Emerge nessa conjuntura a estruturação de dois modelos de intervenção nas questões de saúde:
sanitarista campanhista e curativo-privatista
Sanitarista-campanhista: uma política voltada à proteção do campos e portos para a garantia da
exportação de seu principal produto que era o café
Curativo-privatista: privilegia a assistência médica individual curativa, que era direito apenas dos
trabalhadores formais e rurais
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Thaís D. Silva

 1922: crise econômica


 1930: cresce a influência das indústrias – nova fase política (Getúlio Vargas)

3) Era Vargas (1930 – 1945)


 Fase de forte centralização política  êxodo rural
Processo de urbanização precária  proliferação de favelas
 Criação do Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio e do Ministério da Educação e Saúde
 Promoveu-se a vinculação dos sindicatos à Estrutura do Estado com exigência de pagamento de
contribuição sindical por parte dos empregados sindicalizados
 Aos problemas antigos de saúde da população (doenças endêmicas e epidêmicas) foram acrescidos
outros decorrentes da inserção no processo produtivo industrial e das condições precárias do modo
de viver (acidentes de trabalho, desnutrição)
 1933: transformar o CAPs em Instituto de Aposentadorias e Pensões (IAPs). A gestão passou para o
controle do Estado; estende-se a todas as categorias e organizava os trabalhadores por categoria
profissional e não por empresa
 Auge do sanitarismo campanhista
 A política de saúde adotada reforça a antiga dicotomia: as ações de caráter coletivo sob a gestão do
Ministério da Educação e Saúde, separadas das ações curativas e individuais, vinculadas as IAPs,
reforçando a dualidade do modelo assistencial
 1943: Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT)

4) Redemocratização – Nova República (1945 – 1964)


 1945: Fim da segunda Guerra Mundial – clima de democratização  deposição de Vargas 
eleições para presidente  Eurico Gaspar Dutra (1946 – 1951)
 Redução dos casos de tuberculose, malária e outras doenças transmissíveis por insetos
 Retorno Getúlio Vargas (1951 – 1954)
- Assistência médica expandiu-se em todos IAPs
 1953: o Ministério da Saúde se tornou independente da área da educação
 Juscelino Kubitschek (1956 – 1960) -> apoio do capital estrangeiro
Construção de Brasília: conquistas na Saúde Pública -> IAPs fortalecem o modelo de assistência
médica curativa aos seus segurados na perspectiva de manutenção do trabalhador saudável para a
produção. Algumas empresas insatisfeitas com os Institutos iniciam a contratação de serviços
médicos particulares  amplia-se o modelo médico assistencial privatista
 1961: Jânio Quadros: renuncia – João Goulart -> 1964 golpe das Forças Armadas -> Ditadura Militar

5) Período do Regime Militar (1964 – 1984)


 1 fase (1964 – 1968): institucionalização da ditadura – repressão a qualquer discordância
 2 fase (1968 – 1974): expansão da industrialização com capital internacional ou período do milagre
brasileiro
 3 fase (1974 – 1984): crise da política econômica

 1966: unificação dos IAPs com criação do Instituto Nacional de Previdência e Assistência Social (INPS),
subordinado ao Ministério do Trabalho e Previdência Social, com responsabilidade pelos benefícios
previdenciários e pela assistência médica dos segurados e seus familiares
 Contratação prioritária dos serviços privados de saúde
 Expansão da assistência médica da previdência a partir da inclusão dos trabalhadores rurais, empregadas
domésticas e trabalhadores autônomos
 Ministério da Saúde: perde poder e privilégios políticos
 Os sanitaristas perdem espaço – desvalorização do modelo sanitarista campanhista

** Privilégio do modelo clínico de caráter individual curativo e especializado e expansão do modelo médico-
assistencial privado
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 Desigualdade de acesso e diferenciação no atendimento de acordo com a clientela – exclusão de parcela


importante da população
 Expansão de clínicas e hospitais privados construídos com recursos da previdência
 Anos 70: crise do modelo de saúde  agravamento dos problemas – cresce a insatisfação – propício aos
movimentos sociais
 1975: a crise foi detectada na V Conferência Nacional de Saúde  Governo federal apresentou a proposta
de criação de um Sistema Nacional de Saúde através da Lei 6229  oposição dos empresários dificulta a
regulamentação da Lei
 1976: criado Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS) – novas experiências no
campo da saúde pública
 1977: criação do Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SIMPAS) composto pelo: INPS
(pagamento de benefícios aos assegurados), INAMPS (assistência médica individual e curativa por meio de
serviços privados contratados), LBA (assistência à população carente), IAPAS, DATAPREV (Empresa de
Processamento de Dados da Previdência Social), FUNABEM e CEME
 1978: Conferência do Alma Ata – começa a ser difundido no Brasil o conceito de atenção primária
 Departamentos de Medicina Preventiva das Faculdades de Medicina – consciência crítica dos problemas
sanitários do país
 Processo de redemocratização do país
 PREV Saúde [Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde] (Projeto VII Conferência Nacional de Saúde):
não foi implementado
* pressupostos: hierarquização das formas de atendimento por nível de complexidade, a integração desses
níveis e a regionalização dos atendimentos por áreas e populações definidas  não atendido pelo governo
 1981: criado o Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP) ligado ao INAMPS
que trás em seu plano a proposta de mudança do modelo assistencial, a melhoria da qualidade de atenção, a
ampliação de serviços para as populações urbanas e rurais, a descentralização e a hierarquização dos
serviços de saúde por nível de complexidade
 1983: Ações Integradas de Saúde (AIS) através de convênios com o Ministério da Saúde e da Providência
Social, recebem recursos que eram repassados aos municípios – construção de UBS

PREV-SAÚDE + CONASP + AIS  foram criados na década de 1980 e buscavam evitar as fraudes e lutar contra o
monopólio das empresas particulares de saúde

- Em SP – participação do movimento de saúde foi decisiva para as conquistas que se sucederam nos anos 70 e 80
- Aumento da participação social -> 1984 -> Diretas Já (Eleições Diretas)
- Morte de Tancredo Neves -> Sarney assume -> inicia-se a Nova República

Movimento de Reforma Sanitária


 Reforma sanitária: projeto articulado ao longo dos anos 70 e 80 no Brasil, na perspectiva de reformulação do
sistema de saúde que aprofundou no período do regime militar a sua característica de assistência médica
curativa fortemente vinculada ao setor privado e lucrativo, eminentemente excludente, curativo, pouco
resolutivo e dispendioso. Preconizava a criação de um sistema único de saúde, acabando o duplo comando
do Ministério da Saúde e do INAMPS
 A defesa desse projeto era encaminhada pelo movimento sanitário que aglutinava sanitaristas
comprometidos com as mudanças do sistema de saúde e diversos atores sociais entre os quais, lideranças
populares, trabalhadores, sindicatos, parlamentares de esquerda, intelectuais e estudantes de saúde e
entidades como CEPES e ABRASCO
 Tinha como ambição a valorização dos direitos à saúde e um modelo de atenção com ênfase na
integralidade. Teve como movimento expressivo a realização da VIII Conferência de Saúde em 1986. Embora
a maior parte das propostas discutidas e encaminhadas pelo movimento de Reforma Sanitária tenha sido
inscrita no capítulo da saúde da Nova Constituição de 1985, a reforma não se acaba com esse ato, uma vez
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que encaminhamentos para a devida implementação do SUS encontram barreiras estruturais e conjuntura
desfavorável no período pós-constituinte

6) Nova República (1985 – 1988)


 1985: Sarney – discussão da nova Carta Constitucional – participação de diversos segmentos sociais –
aspecto da democracia e garantia dos direitos e deveres da cidadania
 Diminuição das doenças imunopreveníveis e da mortalidade infantil, manutenção da mortalidade por
doenças cardiovasculares e neoplásicas, aumento da mortalidade por causas externas (acidentes de
trabalho, homicídios, etc), da epidemia da AIDS e surgimento da epidemia da dengue em algumas
capitais

VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986 em Brasília


Discutida criação do SUS (através da unificação do INAMPS e do Ministério da Saúde). A partir desta
conferência, foi instituído uma Comissão Nacional de Reforma Sanitária para encaminhamento das propostas à
Assembléia Nacional Constituinte e inscrição da nova Carta Magna. Enquanto se elaborava o arcabouço jurídico do
SUS no processo constituinte, um decreto da União de 1987  Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
(SUDS)  baseado no princípio de integração de todos os serviços de saúde, foi o responsável pela municipalização
da saúde e da fiscalização da aplicação das verbas destinadas à saúde.
O SUDS representa certo avanço na medida em que possibilitou a formação dos conselhos estaduais e
municipais de saúde, além de uma estadualização do INAMPS e concentração do poder nas secretarias estaduais de
saúde.

 Finalmente, em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, foi aprovado o SUS que incorporou a
maioria das propostas do movimento da Reforma Sanitária
 Foi criado em um período em que o Brasil se encontrava em grande instabilidade econômica. A reforma
sanitária, deparou, em 1988 – 1992, com dois governos, Fernando Collor e Itamar Franco, que, reforçaram o
projeto conservador em saúde, com implantação distorcida do SUS e apoio ao modelo médico assistencial
privatista reciclado.

 O SUS incorpora os princípios defendidos pela Reforma Sanitária, e seu tripé de sustentação se constitui nos
princípios de Descentralização, da Integralidade, da Assistência e da Participação da comunidade. O SUS é
um sistema público, ou seja, destinado a toda a população e financiado com recursos arrecadados através
dos impostos pagos pela população.

** Obs: Antes do SUS, a promoção e prevenção da Saúde eram realizadas pelo:


- Ministério da saúde
- Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

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