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ATIVIDADE AVALIATIVA EM DUPLA

DISCIPLINA: CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO BÁSICA


Professor(a): Glaucia Maria dos Reis Silva
Curso: PEDAGOGIA Turno: Noturno
Alunos(as): Estefane Danielle Cândida Silva e
Shirley Patrícia Pereira
Valor Total: 20 pts. Data da entrega: 08/02/2021 Nota:
Leia atentamente o texto. Com base em sua leitura responda as questões.

SEÇÃO 1: O ESTABELECIMENTO DE UM CURRÍCULO OFICIAL1

Objetivo: Identificar vantagens e desvantagens no estabelecimento de um currículo oficial nacional

Você sabe que a educação pela sua própria natureza (que pressupõe intencionalidade e escolhas) é
fundamentalmente política e, portanto, sujeita a influências quase sempre conflituosas. O campo do
currículo, pela sua íntima relação com a Educação, também está sujeito às mesmas “intempéries”: é também
um campo conflituoso.

O currículo de uma escola ou de uma rede está ligado a uma pretensão de padronização nacional,
maior ou menor, que identifica estruturas e conteúdos básicos das disciplinas e é regida por metas e
objetivos comuns balizadores de um processo instrucional que possa ser objeto de um sistema de avaliação
de âmbito nacional.

Vimos que o objetivo desta seção é identificar vantagens e desvantagens no estabelecimento de um


currículo oficial nacional, que deve ser igualmente seguido por todos os professores das escolas e das redes.
Comecemos pelas desvantagens

DESVANTAGENS NO ESTABELECIMENTO DE UM CURRÍCULO OFICIAL

O estabelecimento de um currículo oficial é uma decisão comum a quase todos os países ocidentais
e tornou-se uma prática generalizada ao longo do século XX. Embora generalizada, a prática foi objeto de
duras críticas por parte de um bom número de educadores, especialmente aqueles ligados, a partir dos anos
oitenta, à tendência pós-moderna. Moreira (1999) constrói uma boa síntese de argumentos levantados
contra o “currículo oficial”. Valemo-nos de suas pesquisas para apresentar alguns desses argumentos.

Alguns autores se opõe a tal prática caminhando no campo da política. Entendem eles que a proposta
de um currículo oficial nacional estaria ligada a uma proposta de governo neoliberal, cujo objetivo mais forte
seria tornar possível o atrelamento do sistema escolar a um sistema nacional de avaliação quantitativa. Tal
sistema avaliativo teria como fins não declarados a classificação das escolas e o controle do trabalho
docente. Sobretudo, o tipo de indivíduo que se pretende formar numa proposta dessa natureza está
fundamentalmente ligado a concepções gratas ao mercado de trabalho. A melhoria das oportunidades de
vida das chamadas “minorias” (mulheres, pessoas pertencentes a etnias não dominantes na sociedade,
pessoas idosas e mesmo trabalhadores) não estaria nessa pauta. As finalidades da educação seriam, então,
ditadas pelo compromisso de modernização da sociedade, antes que pela proposta de humanização da
sociedade. Como há fortes indícios de que o programa neoliberal de modernização, que vem desfrutando
condição de hegemonia na sociedade ocidentais, tem implementado desigualdades e aumentado o número
de excluídos, seria lícito perguntar a que senhores semelhantes esta proposta vem servindo.

O argumento de um currículo nacional em prol de uma cultura comum e justificada como necessária
à preservação da identidade nacional tende a privilegiar e dar voz aos grupos dominantes, com uma
consequente exclusão dos grupos ditos “oprimidos”. Michael Apple (1997), estudioso do campo, é de

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Este texto faz parte do Volume 1 – Gestão do Currículo e Avaliação do Curso de Formação de Gestores da Educação Pública
opinião que existe uma política do conhecimento oficial, sendo esta defendida como uma postura neutra
face aos problemas do mundo, mas que, na verdade, nada mais é do que uma política de elite, que privilegia
algumas culturas em detrimento de outras.

Outra crítica merecedora de destaque diz respeito ao processo de desqualificação dos professores
imposto pela tentativa de implantação de um currículo nacional, em função do nível de detalhamento das
prescrições que lhe são impostas. Tais práticas implicariam um retorno a práticas tecnicistas que
determinavam a separação entre a concepção e a execução da prática pedagógica: equipes técnicas num
âmbito distanciado planejariam as ações a serem executadas por outros, no âmbito escolar. Além dessa
desqualificação, há, também, segundo Apple (1997), o risco da intensificação, ou seja, um acúmulo de tarefas
a serem demandadas ao professor, competindo com uma permanente escassez de tempo e resultando
numa prática pedagógica carente de qualidade.

Uma outra crítica diz respeito ao que tem sido denominado de “caráter conservador” das propostas
de currículo nacional: existiria um descompasso entre as intenções de modernização e o conservadorismo
expresso na seleção e na organização dos conteúdos escolares. Tomando como exemplo o currículo das
escolas inglesas, eles argumentam que em 1904 ele era quase o mesmo daquele proposto em 1987: inglês,
matemática, ciências, história, geografia, Artes, educação física, tecnologia e música. Não difere muito do
currículo de nossas escolas, não é mesmo?

VANTAGENS NO ESTABELECIMENTO DE UM CURRÍCULO OFICIAL

Possivelmente, o argumento mais forte de que dispomos a favor dos currículos oficiais é que, quando
falamos de educação de qualidade para todos, estamos falando de aprendizagem para todos.

Quando diretrizes e parâmetros curriculares sugerem um mínimo curricular a ser desenvolvido nas
escolas, estão propondo um trabalho com aqueles conhecimentos que crianças e adolescentes no mundo
entendido como se “civilizado” adquirem. Esses conhecimentos fazem parte do patrimônio científico e
cultural que a Humanidade vem acumulando ao longo da História. É por uma questão de justiça que todos,
ricos e pobres, rapazes e moças, negros e brancos devem ter a possibilidade de acesso a esse patrimônio.
Não cabe à escola distribuir equanimemente os bens materiais existentes no país com vistas a uma sociedade
mais justa, mas é função da educação colocar ao alcance de todos os educandos os saberes escolares que
fazem parte do patrimônio científico e cultural a que nos referimos. É a isto que podemos chamar de
democratização da Educação.

O princípio da autonomia (da escola e do professor), um mote das pedagogias progressistas, não deve
ser entendido como a possibilidade de se ensinar apenas o que o professor gosta ou sabe melhor, ou o que
a escola entende que é melhor para aquela clientela: os alunos ficarem submetidos a uma arbitrariedade
que poderia levar a bons resultados, mas, também, a resultados desastrosos, dependendo das
circunstâncias.

Um outro aspecto importante diz respeito à “contextualização do ensino”, indiscutivelmente, um


outro pilar das propostas pedagógicas progressistas: a interação com as experiências prévias dos alunos e a
conexão com a sua realidade não deve ser um impedimento para que, partindo dessas situações
particularizadas, os professores conduzam os alunos a um nível mais complexo de aprendizagem, a
generalizações e conteúdos mais abstratos, cuidadosamente mais organizados e estruturados.

Até mesmo o ensino por meio de projetos - outra bandeira progressista - que pressupõe uma
abordagem globalizada, interdisciplinar, não pode ignorar a estrutura disciplinar. Cada campo de saber tem
bases epistemológicas que devem ser respeitadas - caso contrário o conhecimento ficaria “aligeirado”,
“barateado” – e os alunos têm o direito de acesso a esse saber organizado. A abordagem “interdisciplinar”
é saudável - os professores das diferentes disciplinas devem ter a preocupação de mostrar o tema em pauta
do ponto de vista de seu campo de saber, estabelecendo conexões com os demais campos -, mas a
verdadeira interdisciplinaridade é construída pelo estudante. Portanto, devemos fugir dessa falsa dicotomia:
priorização de conteúdos ou de metodologia? Faz-se necessário priorizar metodologia e conteúdo: ambos
são importantes!

Com relação à possível conexão entre currículo nacional e processo nacional de avaliação, há
estudiosos que justificam tal ligação com base no argumento de que um currículo nacional requeria a criação
de novos exames - uma tarefa difícil em muitos aspectos -, mas que exigiria maior cuidado, por parte de
administradores professores e alunos, com as matérias e processos de ensino.

O argumento de que o currículo nacional tende a privilegiar o discurso das classes ditas “dominantes”
leva-nos a indagar, sem querer minimizar ou “deletar” a fala dos “oprimidos”, se seria desejável substituir,
no currículo escolar, o discurso dito dominante pelo alternativo. Caricaturando, com o propósito de ilustrar
melhor a situação, perguntamos: deveríamos substituir nas escolas, por exemplo, o ensino da língua culta,
padrão, pelo ensino da gíria ou jargão de grupos minoritários? Embora esses outros saberes possam ser
explorados de forma rica por professores e alunos, esses têm o direito de adquirir os conhecimentos que a
sociedade e o mundo do trabalho valorizam, sob pena de ficarem à margem, engrossando o exército dos
excluídos.

REFERENCIAS

APPLE, Michael W. Conhecimento Oficial: A educação democrática numa era conservadora. Petrópolis:
Vozes, 1997.

MOREIRA, Antônio Flavio Barbosa. Currículo: políticas e práticas. 13. ed. Campinas: Papirus, 1999.

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QUESTÕES:
1- De acordo com o texto lido, quais as desvantagens de estabelecer um currículo oficial? Aponte
e discuta pelo menos três argumentos.
Resposta:
➔ Um currículo nacional em prol de uma cultura tende a privilegiar e dar voz aos grupos
dominantes, tendo como consequência a exclusão dos grupos ditos oprimidos.
➔ Constituindo o saber técnico, vindo de outros profissionais, que geraria assim a desqualificação
dos profissionais escolares (docentes) e levaria ao acumulo de tarefas a serem demandadas aos
professores.
➔ Instauraria o “carácter conservador” das propostas de currículo nacional, em que traria
desordem entre os propósitos de modernização e conservadorismo dos conteúdos abordados
nas escolas.
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2- Assinale com um X os argumentos que são usados pelos críticos da política de currículo oficial.
O estabelecimento de m currículo oficial
a) Atrela o sistema escolar a um sistema nacional de avaliação.
b) Privilegia os métodos em relação aos conteúdos do ensino.
c) Está fundamentalmente ligado ao mercado de trabalho.
d) Privilegia e dá voz apenas aos grupos dominantes.
e) Constitui uma proposta inovadora que se baseia no saber técnico
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3- Há vantagens em se estabelecer um currículo oficial. Com base no texto lido, aponte quais
seriam essas vantagens.
Resposta:
Aprendizagem para todos; procura a dar a todas as crianças e adolescentes os saberes que a classe dita
“civilizada” recebe; a escolha curricular feita pelos professores ou pela escola pode trazer resultados
negativos; independente da realidade do aluno, ele não pode ser impedido de ser conduzido ao nível
mais complexo de aprendizagem; o ensino por meio de projetos que presume uma abordagem
globalizada não ignora a estrutura disciplinar; a excessiva “contextualização do ensino” pode ter como
consequência o aligeiramento do currículo escolar; outros saberes como gírias ou jargões podem ser
explorado, porém os alunos têm direito de adquirir, que são a base da sociedade e do mundo do
trabalho.
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4- Abaixo estão alguns argumentos usados por educadores em defesa do estabelecimento de um
currículo oficial. Identifique o argumento que NÃO é utilizado por eles (marque com um X):
a) Um currículo oficial procura dar as crianças e adolescentes os conhecimentos que o mundo
dito civilizado adquire.
b) A escolha curricular como responsabilidade do professor submete os alunos a
arbitrariedades que podem ser boas ou más.
c) A excessiva “contextualização do ensino” pode levar ao aligeiramento ou barateamento do
currículo escolar.
d) Nada impede que a escola venha a privilegiar a cultura de grupos minoritários em
detrimento do discurso hegemônico.
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5- Qual sua opinião em relação a implementação de um Currículo Oficial? Acredita que ele traz
vantagens ou desvantagens? Redija um pequeno texto apresentando suas ideias.
Resposta:
De início, com a implementação do currículo oficial traz para todas as escolas, tanto para as públicas
quanto para as particulares, um ponto de partida, contribuindo para que tenhamos um ensino mais
“organizado”. Pois, uma vez que se não tivéssemos ele (que é a base para todas as escolas), talvez
traria resultados negativos do que se têm hoje, um ensino péssimo e péssimo para as instituições.
Pensando a respeito das desvantagens e vantagens vale pontuar questões sobre a desqualificação de
professores e a exclusão dos grupos ditos oprimidos, pois tende a dar voz aos grupos dominantes.
Mediante a isso, cabe continuar os particulares com o currículo oficial, contudo com reformas, por
exemplo, as escolas (principalmente as das classes menos favorecidas) passarem a utilizar não
somente o que consta no currículo, mas também a estimularem os estudantes (que tendem a serem
oprimidos) a se questionarem e a mudarem sua própria realidade, saindo do oprimido para dominante.
Bom trabalho!
(Qualquer dúvida entrar em contato pelo e-mail: glaucia.silva@ifmg.edu.br)

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