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FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS – AFYA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA


DISCIPLINA DE ESTÁGIO CURRICULAR EM APS II

ALUNA: XXX

PORTFÓLIO EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (APS)

No dia 13/04/2023, na USF Saúde e Vida em João Pessoa/PB, foi


conduzido por mim, Maria Cecília Alencar de Amorim, interna de medicina, e pela
residente Maria Luiza Bezerra Guedes, o atendimento longitudinal pela análise
do SOAP do paciente A.B.D.M., sexo masculino, 21 anos, estudante, portador
da Síndrome de Klinefelter e com diagnóstico de 5 anos, procedente de João
Pessoa e em uso de Deposteron a cada 28 dias, nega qualquer outra
comorbidade, condição crônica ou utilização de outra medicação rotineiramente.

O paciente adentrou o consultório em busca de ajuda devido à perda de


acompanhamento com endocrinologista pelo SUS após o início da pandemia, na
anamnese relata ter sido acompanhado por especialista no HULW na ala de
endocrinologia pediátrica dos 16 (idade ao qual iniciou investigação, diagnóstico
e início de suporte com Testosterona para combate de sinais comuns atrelados
à síndrome, visto que esta causa hipogonadismo) – como Bernadette (2021)
aponta em sua produção, a síndrome de Klinefelter é uma condição sub-
diagnosticada visto que apenas 25% dos portadores são diagnosticados e,
dentre esses, menos de 10% são diagnosticados antes da puberdade, com sua
grande maioria ainda buscando investigação diagnóstica costumeiramente na
faixa dos 30 anos quando vão atrás da compreensão do que os leva a ter
problemas com fertilidade (a síndrome de Klinefelter é citada por Ly et al (2021)
como sendo a principal causa de infertilidade masculina genética), isso faz com
que A.B.D.M. ainda tenha apresentado um diagnóstico bom, visto que este foi
feito ainda durante sua adolescência - até os 18 anos, porém, quando foi ser
passado para o setor de endocrinologia após maioridade, em 2020, se viu
incapacitado de ir à consulta devido ao pico recente de COVID-19 e não
conseguiu mais encaminhamento para acompanhamento lá. Refere tosse seca
sem sintomas associados e que é bastante alérgico (diz sofrer muito com o
tempo chuvoso e a ambiguidade atual do clima úmido, abafado e quente de João
Pessoa em abril).

A.B.D.M. solicitou também uma transcrição de solicitação de


densitometria óssea e USG de vias de bolsa testicular e vias urinárias visto que
conseguiu realizar um acompanhamento durante médio prazo na clínica Amor e
Saúde, porém, como primordialmente estuda, não consegue manter um
acompanhamento adequado e opta em esperar pelos exames no SUS e tentar
o retorno para o HULW para seguimento lá com o setor de endocrinologia como
discorrido previamente por ver como mais benéfico.

O paciente, no exame físico, apresentou-se BEG, LOTE, AAA, hidratado,


eupneico, normocorado, fácie atípica, orofaringe sem alterações, ausculta
cardiopulmonar sem alterações com BRNF e MV presentes, sem sopros,
desconforto respiratório ou RA, com PA de 130x70, FC de 87, FR de 18, Sat de
98, sem colhimento de glicemia de jejum na unidade visto que havia tomado café
antes da vinda para a consulta e temperatura axilar de 36,7ºC. Visto que o
mesmo trouxe exames laboratoriais de rotina feitos em 22.03.2023, estes foram
analisados com registro de Ureia de 30; Creatinina de 0,76; TGP de 18; TGO de
19; Glicemia jejum de 99; Colesterol Total de 135; HDL de 42; LDL de 77; TSH
de 1,7; T4 de 0,8; FSH de 50,54; LH de 29,12; Triglicerídeos de 78; Prolactina
de 8,57; Testosterona total de 89,15; Testosterona livre SHBG de 61,7
(Testosterona livre de 1,075); Vitamina D de 29,2; Hemoglobina de 11,7;
Leucócitos de 4500; Plaquetas de 185000; Somatomedina C de 388; PSA total
de 0,17, e, por fim, HB1AC de 5,7% (as alterações apresentadas nos exames ao
comparados com parâmetros normais se encontram dentro do limite de se
esperar devido às alterações causadas pela síndrome de Klinefelter).

Percebendo a frustração do paciente ao falar da incapacidade de já estar


sendo acompanhado no HULW, onde era alguns anos atrás, é mantido durante
a consulta um diálogo aberto e escuta, a fim de garantir o acolhimento e cuidado,
e para que possa realizar uma conduta satisfatória dentro das possibilidades da
atenção primária diante de um caso desse. Sob orientação da residente, solicito
encaminhamento à endocrinologia do HULW, solicito USG de bolsa escrotal,
solicito USG de rins e vias urinárias, solicito densitometria óssea, prescrevo
Loratadina 1mg/ml 10ml/dia durante 5 dias para queixa de tosse e realizo
orientações gerais e esclarecimento de dúvidas como, por exemplo, corroborar
para que se tranquilizasse visto que, por não ter retornado mais ao médico da
clínica a qual estava fazendo acompanhamento, ele próprio foi dar uma olhada
nos exames e se assustou com a diferença de sua taxa de FSH com os
parâmetros presentes no papel dos resultados dos exames (com o diálogo
aberto que ele compartilhou que se encontrava estressado com esses números
mas, eventualmente, após explicação sobre as mudanças dos hormônios
gonadotróficos devido à sua síndrome, como os números apresentados são de
se esperar visto até mesmo com corroboração da produção de Oliveira et al
(2022), e de que esses números não significavam nenhuma urgência, o mesmo
aparentou estar mais relaxado), orientei para que retornasse com os resultados
dos exames para análise deles, do quadro e avaliação de necessidade de
alguma atitude caso haja alguma alteração significativa constatada, e ao mesmo
ficar checando a espera pelo encaminhamento com o intuito de que não demore
em demasia.

Por meio de uma perspectiva hierarquizada com encaminhamento para


outro nível de complexidade no atendimento e utilizando da integralidade como
princípio do SUS, abordando diferentes demandas notadas na história e
conversa com o paciente, sua realidade social e visando um cuidado continuado,
libero o paciente com limpidez a respeito do impacto e importância de se tentar
implementar sempre uma abordagem aberta, conforme e visando uma
transmissão de confiança para com o paciente para que, assim, ele se sinta
confortável o suficiente para revelar fatos influentes em seu quadro, mas que
possam passar despercebidos pelo mesmo no início da consulta, visto que
mesmo ele chegando com um bom estado geral e aparentando não estar sob
fatores estressantes, foi apenas depois de um tempo de conversa na consulta
que se viu confortável em externa de que vinha se sentindo preocupado com os
números vistos nos exames, coisa que pode influenciar seu estado geral em
alguns casos mais significativos e, o quão casos menos corriqueiros assim
estimulam a minha formação visto que me vi em busca de materiais à respeito
da síndrome de Klinefelter para me atualizar e relembrar fatos chave que me
senti insegura e me vi questionando a residente após a consulta, a respeito de
todo o quadro, sua fisiopatologia e me sentir mais preparada para atendê-lo
quando retornar.

Me vejo animada para que no retorno do paciente possa colaborar de


forma mais sagaz com seu quadro e suas demandas. Foi muito importante para
mim atender esse paciente e poder estudar para ajudar a resolver melhor o caso.
Confesso que potencializou minha forma de aprender porque percebi um
sentido: preciso estudar para ajudar mais, para poder fazer parte do processo de
“resolver” ou tentar pelo menos ajudar o paciente a ter uma vida melhor. Sair dos
livros e interagir com os pacientes é bem rico e me deixou mais animada para
estudar apesar do cansaço que estava sentido por conta dos acúmulos da
semana.

REFERÊNCIAS

BERNADETTE, A. Klinefelter syndrome: an under-diagnosed genetic condition


with late diagnosis/Sindrome de Klinefelter: uma condicao genetica com
diagnostico tardio e sub-diagnosticada. Revista de Medicina, v. 100, n. 5, p. i–
i, set. 2021.

LY, A. et al. Fertility preservation in young men with Klinefelter syndrome: A


systematic review. Journal of Gynecology Obstetrics and Human
Reproduction, v. 50, n. 9, p. 102177, 2021. Disponível em:
<https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34087451/>. Acesso em: 19 abr. 2023.

OLIVEIRA, L. L. M. DE et al. SÍNDROME DE KLINEFELTER: UMA REVISÃO


BIBLIOGRÁFICA. Ciências da saúde: Pluralidade dos aspectos que
interferem na saúde humana 10, p. 1–10, fev. 2022.

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