Você está na página 1de 19

UNIVERSIDADE POLITECNICA-APOLITECNICA

Instituto Superior de Humanidade Ciência e Tecnologia

Curso de Psicologia Clínica e de Aconselhamento

Cadeira de Psicopatologia do Jovem e do Adulto

Impacto Psicológico da Violência Física Conjugal ou entre Parcerio.

1º Grupo
Amina António Juma

Carmila Edmara Velez Gaspar

Dulce Afonso de Emílio Colaço

Firosa Emília Candrinho

Quelimane
2023
1º Grupo

Amina António Juma

Carmila Edmara Velez Gaspar

Dulce Afonso de Emílio Colaço

Firosa Emília Candrinho

Impacto Psicológico da Violência Física Conjugal ou entre Parcerio.

Trabalho escrito para apresentação e defesa


como parte de avaliação do segundo teste da
disciplina de Psicopatologia do Jovem e do
Adulto no Instituto Superior de Humanidades
Ciência e Tecnologia; sob orientação da
docente Aeke Oswalda M. De Magalhães

Quelimane
2023
Sumário
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................4
2.IMPACTO PSICOLÓGICO DA VIOLÊNCIA FÍSICA CONJUGAL OU ENTRE
PARCEIRO..............................................................................................................................................6
2.1. Consequências Psicológicas da Violência Fisica Conjugal ou entre Parceiros..................7

2.1.1. Distúrbio de Stress Pós-Traumático..................................................................................9

2.1.2. As reacções de Stress Pós-Traumático..............................................................................9

2.1.3. Exposição de crianças e jovens a violência conjugal......................................................11

3 CONCLUSÃO................................................................................................................................14
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................16
1 INTRODUÇÃO

No presente trabalho falar-se-á sobre Impacto psicologico da violencia fisica conjugal ou


entre parcerio.

Um estudo recente da Organização Mundial da saúde (OMS), 2005 sobre a saúde das
mulheres e a violência doméstica contra as mulheres, que abrangeu vários países, mostra que
pelo menos metade das disseram terem sido agredidas física ou sexualmente antes dos 15
anos. Em geral, a grande maioria destas agressões foi perpetrada por um parceiro íntimo do
sexo masculino. A violência contra as mulheres é um abuso dos direitos humanos básicos. Na
maioria dos casos, a violência é cometida por seus parceiros, que apresentam um
comportamento de controle com agressões físicas, coerção sexual e abuso. Para além de
agressões físicas, as mulheres vítimas de violência sofrem de problemas de saúde e
psicológicos.

“A experiência das mulheres violentadas implica um conjunto de sentimentos


relacionados com a violência, que vão desde a confusão sobre o que provoca a violência, até
sentimentos de desespero sobre a possibilidade de parar com a mesma, sentimentos de
isolamento e depressão por estarem sob o controle violento dos seus maridos. Por vezes,
algumas mulheres consideram o suicídio como uma opção para fugirem da violência” (Voices
of the Poor, World Bank, 2000). Muitas vezes se descreve como um fenómeno que está a
crescer em todo o mundo e que tem um impacto psicologico enorme na vida das vítimas, das
suas famílias e da sociedade. Embora a violência possa afectar homens e mulheres, as
mulheres são, sem dúvida, as principais vítimas, devido à sua posição na família.

Temos como objectivo geral compreender o Impacto Psicológico da Violência Física


Conjugal ou entre Parcerio. Compreender o impacto psicológico é de grande importância na
procura de soluções efectivas para apoiar as vítimas e a sociedade. Saber como reconhecer os
sinais de um sofrimento escondido é essencial para uma intervenção multidisciplinar para a
prevenção, tratamento, reduzir as consequências e erradicar a incidência da violência fisica
conjugal.

E como objectivos especificos conhecer quais as Consequências Psicológicas da


violência fisica conjugal ou entre parceiros e Identificar quais as reacções de Stress Pós-

4
Traumático. Neste trabalho, a metodologia usada foi a de recolha de dados mais
predominantes para a elaboração deste trabalho. Para comentar e argumentar algumas
descrições, usamos como auxilio algumas fontes bibliográficas e documentos normativos de
educação (plano curricular) além das fontes dos sites da internet.

5
2. IMPACTO PSICOLÓGICO DA VIOLÊNCIA FÍSICA

CONJUGAL OU ENTRE PARCEIRO

A definição da violência, segundo a Organização Mundial da saúde (OMS) em 2000,


abarca o seguinte: “Manifestações de violência de natureza física, sexual e psicológica que
ocorrem na família e na comunidade em geral, incluindo a agressão física, o abuso sexual de
crianças, violação, mutilação genital da mulher e outras práticas tradicionais lesivas das
mulheres, violência não conjugal e violência relacionada com a exploração de mulheres,
prostituição forçada e violência perpetrada ou condenada pelo Estado”.

A violência física é denominada por qualquer tipo de agressão física, tal como estalos,
pontapés, socos, entre outros. Segundo o critério definido pela Organização Das Nações
Unidas, a violência física, tal como qualquer outro género de violência, viola os direitos
humanos, coloca obstáculos à igualdade de género e afeta significativa e intensamente a
integridade física e a saúde mental das vítimas, principalmente, das mulheres vítimas
de violência (Lima, Buchele, & Clímaco, 2008).

Em muitos relatos verifica-se mesmo a morte da vítima por violência física


permanente e grave, além de que, na maioria dos mesmos, a vítima está submetida a maiores
riscos dentro de casa do que fora desta (Lima, Buchele, & Clímaco, 2008). Também se lhe
associa a violência sexual por meio de violação e abuso ou mesmo por assédio, quando o
agressor obriga a ter relações sexuais contra a sua vontade que, em algumas culturas é vista
como um dever da esposa para com o marido (Schraiber et al, 2007).

Os motivos que levam a prática da violência são vários, desde o uso de drogas, a raiva,
ignorância, demonstração de extremo poder e, principalmente a ingestão de bebidas
alcoólicas. O uso abusivo de álcool e outras drogas, associados a outras pequenas frustrações
da vida diária da vida conjugal, contribuem para aparição de condutas violentas, no geral as
drogas e o álcool associados foram um coquetel explosivo. Além disso, homens que abusam
dessas substâncias tem uma probabilidade maior de exercer maus tratos contra suas mulheres
do que os que não consomem essas substâncias (Tijeiras et al., 2005 Apud Silva et al., 2021).
Estas situações têm como origem a desigualdade de género em que o homem é o ser
dominante e a mulher a submissa (Schraiber et al, 2007).

6
Lima, Buchele e Clímaco (2008) entendem, tendo em conta a questão da desigualdade
de género, que, na maioria dos casos, há uma enorme preocupação no que diz respeito à
intervenção junto da vítima, no entanto, a intervenção junto do agressor também é
fundamental, já que em ambos os casos há necessidade de auxílio. Esta intervenção será
realizada, tanto para com a vítima como para com o agressor, com o objetivo de conseguir
promover uma transformação significativa de comportamento desajustado para que se elimine
a relação de violência (Lima, Buchele, & Clímaco, 2008).

De referir que a violência física é, na maioria dos casos, acompanhada


pela violência sexual e pela violência psicológica (Schraiber et al, 2007).

As ações de violência causam, em geral, efeitos diversos para a vida da mulher,


independente da sua idade e condição social. Os referidos efeitos perpassam de sequelas
físicas a traumas e demais consequências de ordem psicológicas, o que geralmente resulta em
maior ônus para a sociedade como um todo, dado que as mulheres agredidas tendem a sofrer
com baixa autoestima e muitas vezes problemas de saúde, que as impossibilitam total ou
parcialmente de desenvolverem atividades laborativas (Cruz, 2019).

Sem dúvida nenhuma, as mulheres, mais do que os homens, são as maiores vítimas da
violência.

2.1. Consequências Psicológicas da Violência Fisica Conjugal ou

entre Parceiros

De acordo com Andrade, Viana e Silveira (2006), as mulheres são mais suscetíveis
que os homens a apresentarem sintomas depressivos e ansiosos, além de serem mais
vulneráveis ao desenvolvimento de transtornos mentais. Essa diferença pode ser explicada por
fatores biológicos e psicossociais, como as alterações hormonais, as pressões sociais em torno
do papel feminino, a exposição ao estresse, entre outros.

A violência também tem sido apontada como fator de risco ao desenvolvimento e


agravo de transtornos mentais em mulheres (Andrade; Viana; Silveira, 2006). Os abusos
vivenciados nos relacionamentos íntimos geram consequências negativas à saúde da mulher,
tanto física quanto psicológica, e causam significativo comprometimento da qualidade de vida
(Lucena Et Al.,2017; Ballone, 2008).

7
A violência contra a mulher representa um problema mundial de saúde pública, pois
afeta tanto a saúde física quanto emocional das vítimas (Mota; Silva, 2019), desencadeando
uma sequência de sintomas como: ansiedade, medo, sentimento de inferioridade, insegurança,
baixa autoestima e grande sofrimento psíquico, que requerem tratamento diferenciado com o
psicólogo (Oliveira Et Al., 2017).

A violência fisica, enquanto fenômeno que viola a dignidade humana da mulher,


impacta a percepção da mulher sobre si mesma, atingindo o seu bem- estar e sua vida social.
Em algumas mulheres que vivem ou vivenciaram por um determinado período a violência, o
comprometimento psicológico resultante faz com que elas tenham dificuldades em perceber
sua própria realidade, pois “a pessoa sob jugo não é mais senhora de seus pensamentos, está
literalmente invadida pelo psiquismo do parceiro e não tem mais um espaço mental próprio”
(Hirigoyen, 2006, P.182).

As consequências da violência contra a mulher relatadas com maior frequência são a


depressão e o disturbio de stresse pós-traumático– DSPT. Além disso, também são
observados disturbios de ansiedade, alimentares, abuso de álcool e substâncias, e presença de
doenças físicas relacionadas a fatores psicossomáticos, como a síndrome do intestino irritável
e a fibromialgia (Andrade; Viana; Silveira, 2006).

Em relação ao DSPT, o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais


(DSM-V) traz como característica principal do transtorno o desenvolvimento de sintomas
após a exposição a situações ou eventos traumáticos.

Os principais sintomas apresentados são:lembranças recorrentes e intrusivas do


trauma; sensação de estar revivendo o evento; evitação de memórias, situações e lugares
relacionados ao evento traumático; sofrimento psicológico intenso e reações fisiológicas
diante da exposição a sinais que remetam ao trauma; lapso de memória em relação ao evento
traumático; problemas de sono; hiper vigilância; humor irritadiço; e perda de interesse em
atividades sociais. O DSPT pode provocar incapacidades sociais, profissionais e físicas, bem
como é associado a ideação suicida e tentativas de suicídio (APA, 2014).

Os sintomas psicológicos freqüentemente encontrados em vítimas dessa violência são:


insônia, pesadelos, falta de concentração, irritabilidade, falta de apetite, e até o aparecimento
de sérios problemas mentais como a depressão, ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-
traumático, além de comportamentos auto-destrutivos, como o uso de álcool e drogas, ou
mesmo tentativas de suicídio.

8
2.1.1. Distúrbio de Stress Pós-Traumático

Em 1980 foi introduzido o conceito de DSPT (Distúrbio de Stress Pós-Traumático),


pela Associação de Psiquiatria Americana, como uma nova desordem psiquiátrica. O conceito
foi desenvolvido na base de experiências com os veteranos da guerra do Vietname. Depois do
seu regresso da guerra eles apresentavam uma série de problemas e de dificuldades em se
reintegrarem na família e na vida social. Eles tinham vários sintomas de stress psicológico
causado pelas memórias das experiências durante a guerra.

Desde que este conceito foi introduzido no Manual de Estatísticas de Diagnóstico das
Doenças Mentais (DSM), tornou-se claro que as síndromas psicológicas dos sobreviventes de
abuso sexual e violência doméstica eram de facto os mesmos encontrados entre os
sobreviventes de guerra: “Mulheres e crianças que foram agredidas e violadas são vítimas de
guerra. A Histeria é uma neurose da guerra entre os sexos” (Herman, 1992).

Contudo, não há dúvida de que o DSPT contribui para o reconhecimento dos efeitos
de eventos traumáticos tal como a violência doméstica, na saúde pública e mental. Mulheres
sofrendo de consequências da violência doméstica não são malucas ou anormais – a verdade é
que elas simplesmente estão afectadas por eventos cruéis que alteram as suas vidas e destroem
o seu bem-estar. O conhecimento psicológico no atendimento às vítimas e a educação
psicológica como um meio de apoiar famílias e comunidades têm uma grande importância.

2.1.2. As reacções de Stress Pós-Traumático

A definição de trauma envolve todos os eventos ou acções que podem resultar em


morte, assim como também em lesões sérias, ou ameaças à integridade física ou psicológica
do próprio ou de outros. A resposta das pessoas a esses eventos envolve medo intenso,
sensação de desamparo e horror (DSM V).

Deve fazer-se uma distinção entre os eventos que ocorrem uma vez e estão limitados
no tempo (por exemplo, um acidente de carro ou umas cheias) e os eventos que não estão
isolados e que ocorrem numa situação de média ou longa duração (por exemplo, a guerra ou a
violência doméstica).

Os traumas de Tipo I são os produzidos de eventos singulares e os traumas de Tipo


II resultam da exposição prolongada a repetidas situação stressantes.

As reacções normais que se podem esperar depois de se ter sobrevivido a experiências


traumáticas são: ter memórias vividas dos eventos, pesadelos, vigilância constante, ansiedade

9
e medo, abuso na ingestão de medicamentos ou outras substâncias, falar de mais, ter
problemas sexuais, dores de corpo, tristeza, raiva, agressividade, desespero, culpa, falta de
confiança nos outros, auto-isolamento, etc. A razão para estas respostas tão fortes é porque os
sobreviventes se sentem como se essa experiência estivesse aprisionada no seu corpo e na sua
mente. Foi tão horrível e dolorosa que as pessoas tentam esquecer ou evitam pensar no que
aconteceu. Sobreviventes de traumas oscilam entre a tentativa de esquecer o que aconteceu e
entre serem assolados com recordações intensas do evento. Esta reacção é completamente
normal e dura alguns dias ou semanas. Quando uma mulher recebe apoio da família ou de
outros, isso ajuda-a a compreender as suas reacções de modo a que ela não sinta que está a
ficar doida.

Quando se trata de traumas de Tipo I, a maioria das pessoas pode recuperar-se


completamente, especialmente quando tem o suporte da família ou dos amigos sempre que
necessário. Nos casos em que as reacções se manifestam por mais de três meses, necessita-se
de dar atenção especial.

A violência doméstica causa um trauma de Tipo II, o chamado DSPT, e as reacções


podem durar por muito tempo, até anos. Judith Herman refere-se a mudanças complexas de
personalidade que podem ser causadas por experiências traumatizantes, duradouras ou
contínuas, tal como o abuso sexual, o incesto e a violência doméstica. Ela descreve várias
categorias de sintomas tais como a somatização, as mudanças na regulação do afecto e dos
impulsos, a dissociação, mudanças na identidade, mudanças na percepção do agressor,
mudanças nas relações com os outros e mudanças na percepção do sentido da vida.

Finalmente, Herman (1992) afirma que a depressão é a constatação mais comum em


todos os estudos clínicos de pessoas cronicamente traumatizadas.

Van der Kolk (2000) menciona que, nas crianças vítimas de abuso sexual e nos casos
de violação das mulheres por parceiros do sexo masculino, é frequente surgirem reacções que
se mantêm de forma duradoura. Uma mulher que é vítima de violência cometida pelo seu
marido ou parceiro íntimo está em alto risco de desenvolver problemas de saúde mental que a
afectarão e atingirão também as suas crianças. Esses eventos perturbarão o seu
comportamento, a maneira como ela se relaciona com os outros, a percepção de si mesma e a
sua auto-estima, o seu espírito e o seu ser existencial.

10
2.1.3. Exposição de crianças e jovens a violência conjugal

O termo “exposição” ajusta-se melhor à situação em estudo, na medida em que se


considera mais inclusivo, e acaba por se revelar um constructo mais complexo, que envolve
mais que o simples facto de a criança ter presenciado, ou não, episódios de violência. Na
realidade, segundo Holden (2003), a exposição das crianças dá-se não só quando presenciam
os episódios de violência entre o casal, mas também quando ouvem ou testemunham as
marcas físicas ou a intervenção policial. De acordo com o mesmo autor, a exposição a
violência interparental pode ser categorizada em dez tipos, envolvendo vitimização direta e
indireta, que evoluem de ostensibly unaware, quando a criança não presenciou nem tomou
conhecimento de episódios de violência, até victimized, considerando as crianças que foram
vítimas diretas de uma agressão física ou psicológica. A vitimização indireta das crianças
ocorre também, com frequência, quando são utilizadas pelo agressor como instrumentos de
abuso1, isto é, como forma de ameaça e controlo sobre a vítima (APAV, 2016).

Para Burman e Duffy-Feins (2007, pp. 156), a exposição a violência conjugal constitui
efetivamente uma forma de mau trato psicológico, uma vez que:

“Estas crianças são também vítimas de violência doméstica, mesmo que possam não
ser alvos diretos do abuso. Estão a ser maltratadas, quer intencional ou não intencionalmente,
através de uma desatenção ou indiferença incapacitantes, e/ou negligência face ao seu bem-
estar desenvolvimental”.

As consequências que decorrem da exposição das crianças a violência conjugal são


agravadas pela proximidade e pela relevância que o contexto tem para o seu desenvolvimento,
sendo os intervenientes as pessoas que toma como figuras de referência (Sani, 2011). As
crianças esperam, de forma natural, que os pais lhes proporcionem um ambiente seguro e
tranquilo, livre de perigo. No entanto, o ambiente violento anula a perceção que a criança tem
do contexto familiar, enquanto lugar privilegiado de tolerância e aceitação, passando, ao
invés, a ser percebido como um ambiente de tensão, perigoso e imprevisível (Burman &
Duffy-Feins, 2007; Cater, 2014).

De facto, “ser exposto a um dos progenitores ser agredido, verbal ou fisicamente, é


psicologicamente ativador, emocionalmente stressante e, por vezes, indutor de trauma.
Observar violência gera medo pela segurança do próprio, bem como pela segurança da
vítima” (Holden, 2003, pp. 156). Desta forma levantam-se obstáculos ao desenvolvimento, ao
ser inviabilizado o sentimento de segurança, dando lugar a sentimentos de vulnerabilidade

11
(Burman & Duffy-Feins, 2007; Coutinho & Sani, 2008a; Lourenço, Baptista, Senra, Almeida,
& Bhona, 2013). Neste âmbito, o sentimento de segurança pode ser colocado em causa
quando o progenitor vitimizado recorre ao filho em busca de conforto e apoio, ocorrendo a
parentificação, sendo a criança levada a dar proteção a alguém de quem espera que lha
proporcione a si (Stephens, 1999).

Assim, a vivência deste tipo de situações tem impacto ao nível da saúde mental,
verificando-se um maior risco de surgirem sintomas de stress pós-traumático (Kilpatrick, Litt,
& Williams, 1997), bem como problemas comportamentais, relacionais, físicos e sociais
(Coutinho & Sani, 2008a; Sani, 2011) que se irão refletir ao longo de todo o ciclo de vida.
Podem manifestar-se reações regressivas e maladaptativas, como enurese, chuchar no dedo e
fazer birras. Podem ainda verificar-se perturbações do sono, terrores noturnos, ansiedade,
irritabilidade, depressão, baixos níveis de autoestima, competências sociais limitadas e
flashbacks recorrentes dos eventos traumáticos (Coutinho & Sani, 2008; Fantuzzo et al.,
1991).

Em particular, a regulação emocional desadequada, na qual os cuidadores têm um


papel fundamental, pode originar o desenvolvimento de comportamentos antissociais (Keenan
& Shaw, 2003). Constatam-se também consequências ao nível do desempenho escolar, que
tende a ser mais fraco, comparativamente a outras crianças (Brancalhone, Fogo, & Williams,
2004; Coutinho & Sani, 2008a). Podem surgir também sentimentos de culpa, vergonha,
preocupação ou irritação quando as crianças acreditam que têm responsabilidade na mediação
dos conflitos dos pais, mas não são capazes de controlar a situação (Sani, 2011).

Holden (2003) sugere que o impacto da exposição a violência conjugal nas crianças
deriva de vários fatores, como a gravidade das lesões que possam derivar de agressões físicas,
variáveis temporais, características do agressor e da vítima e proximidade da criança dos
intervenientes. Um estudo realizado por Georgsson, Almqvist e Broberg (2011) revelou que
as raparigas que foram expostas a agressões à mãe por parte do seu pai biológico evidenciam
ser mais afetadas face àquelas cuja mãe era agredida por outro companheiro, observando-se o
mesmo padrão quando comparadas crianças que tinham ou não contacto continuado com o
agressor.

Por outro lado, as crianças não são afetadas todas da mesma forma e a exposição à
violência conjugal não conduz necessariamente a um desajustamento psicológico. Embora
algumas crianças possam desenvolver psicopatologia, outras podem não ter qualquer

12
consequência negativa no seu funcionamento psicológico (Sani, 2006, cit in Coutinho & Sani,
2008b; Sani, 2011).

Para Correia et al. (2018), os comportamentos depressivos e suicidas representam um


grande indicativo do comprometimento psicológico em mulheres vítimas de violência
doméstica.

De acordo com Day et al. (2003), os efeitos psicológicos decorrentes da violência


contra a mulher são muitas vezes mais graves que as consequências físicas, pois como afetam
diretamente a autoestima, favorecem o surgimento de transtornos psicológicos graves que
prejudicam a saúde psicológica e em consequência a qualidade de vida da mulher vítima do
abuso.

Netto et al.(2014), em conformidade com o que afirma Day et al. (2003), verificaram
que as consequências da violência afetam de forma degradante e agressiva a integridade da
mulher, destruindo sua autoestima e sua independência. E a diminuição da autoestima, aliada
aos sentimentos depressivos, dificulta ainda mais a busca por ajuda (ADEODATO et al.,
2005).

Segundo a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10


(1993), os principais sintomas para o diagnóstico de depressão são: diminuição do humor,
redução da energia e perda de interesse, redução da concentração, diminuição da autoestima e
da autoconfiança, diminuição do apetite, distúrbios de sono e fadiga.

E tambem ha sintomas que sugerem a presença de transtorno mental comum. De


acordo com Goldberg e Huxley (1992) citados por Santos et al. (2019), o termo transtorno
mental comum se refere às situações de saúde em que os sintomas apresentados, como
insônia, fadiga, irritabilidade, queixas somáticas, entre outros, não preenchem os critérios para
diagnóstico de transtornos dentro das classificações existentes, porém causam significativos
prejuízos psicossociais e à funcionalidade. Com isso, é possível observar que mesmo quando
não há um diagnóstico evidente, a violência provoca sintomas capazes de trazer elevados
prejuízos à vida das mulheres, e como constatado por Mota e Silva (2019), os danos
psicoemocionais, se não tratados, podem evoluir para quadros patológicos graves.

13
3 CONCLUSÃO

Chegado a conclusao do trabalho foi possivel concluir que existe inúmeros resultantes
de saúde mental associados a violência doméstica, como depressão, ansiedade e abuso de
substâncias, condições crônicas e episódicas, que podem ocorrer com frequência variável em
períodos de tempo mais longos (Baco, et al., 2018

A questão da violência contra a mulher associada, especificamente, à saúde mental é


uma discussão que vem ganhando espaço por sua importância e urgência. Neste sentido, uma
maior aproximação da Psicologia com esta temática vem ocorrendo na medida em que as
pessoas buscam os consultórios e as demais instituições, públicas ou privadas, para relatar
diversas formas de sofrimento social causados pelas desigualdades e conflitos entre homens e
mulheres, sendo estas as que se tornam mais vulneráveis. Os psicólogos, portanto, têm um
importante papel ao contribuir para a compreensão dos processos intersubjetivos que
constituem essas relações (Conselho Regional de Psicologia, 2018).

A violência por parceiro íntimo tende a levar as mulheres vítimas ao isolamento,


diminuir sua produtividade e renda familiar, além de causar danos à sua saúde mental e
reprodutiva, causando danos ao seu bem-estar e dignidade. Isso gera prejuízos para a
sociedade e pode impactar negativamente na educação das novas gerações (Formiga, et al.,
2021)

Segundo Levine (1999), a violência conjugal pode trazer diversas consequências por
meio de transtornos, mas também nas relacões cotidianas. Quando os sintomas se tornam
frequentes e permanentes, passam a se expressar de forma patológica, como DSPT,
transtornos alimentares, depressão, tentativa de suicídio, dificuldade nas relacões afetivas e
sexuais.

Mulheres que sofrem violência sexual apresentam índices mais severos de transtornos
e consequências psicológicas, como DSPT, depressão, ansiedade, transtornos alimentares,
distúrbios sexuais e distúrbios do humor. Outras variáveis podem ser agregadas, como maior
consumo ou abuso de álcool e de drogas, problemas de saúde, reducão da qualidade de vida e
comprometimento do sentimento de satisfacão com a vida, o corpo, a vida sexual e os
relacionamentos interpessoais. Existe significativa associac ̧ão entre violência sexual e altos

14
índices do DSPT, com sintomas que incluem dissociac ̧ão, congelamento e hipervigilância e
podem permanecer por muito tempo.

O excesso alimentar e o abuso de drogas e álcool são usados por algumas vítimas
como forma de diminuir a ansiedade e reprimir as memórias traumáticas. O DSPT pode ser
observado como mediador entre a violência sexual e os transtornos alimentares, como
tentativa de autoprotecão contra nova violência. Pode atuar também como mediador no
desenvolvimento de transtornos sexuais, embora não esteja suficientemente esclarecido o
papel do ato de penetracao nessas disfuncões. As vítimas geralmente apresentam maior
insatisfacão sexual, perda de prazer, medo e dor, sintomas que podem permanecer após anos
da violência. A relac ̧ão com a própria imagem, a autoestima e as relacões afetivas também
são afetadas negativamente e limitam a qualidade de vida. Existe permanência desses
transtornos, que podem ser duradouros e estender-se por muitos anos na vida dessas mulheres.

15
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bailey, B. (2010). Partner violence during pregnancy: prevalence, effects, screening and
manegement. International Journal of Women's Health, 2, 183-197.

Brito, P. G., Fogo, J. C., & Williams, L. C. de A. (2020). Crianças Expostas à Violência
Conjugal: Avaliação do Desempenho Académico. Psicologia: Teoria E Pesquisa, 20(2), 113
117.

Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10 (1993); Porto


Alegre

Dias, P., & Gonçalves, M. (1999). Avaliação da Ansiedade e da Depressão em Crianças


e Adolescentes (STAIC-C2, CMAS-R, FSSC-R e CDI): Estudo normativo para a população
portuguesa. In A. P. Soares, S. Araújo, & S. Caires (Eds.), Avaliação Psicológica: Formas e
Contextos (Vol. VI, pp. 553–564). Braga: APPORT.

De Jong, J., Komproe I., Van Ommeren, M., Van De Put, W. (2001), Lifetime Events And
Post-Traumatic Stress Disorder In Four Post-Conflict Settings. In: Journal Of The American
Medical Association, 286. Pp. 555-562

Friedman, M.; Jarsanson, J. (1994), The Applicability Of The Post-Traumatic Stress


Disorder Concept To Refugees. Washington Dc: American Psychological Organisation.

Santos, A. G. D., Monteiro, C. F. D. S., Feitosa, C. D. A., Veloso, C., Nogueira, L. T., &
Andrade, E. M. L. R. (2018). Tipos de transtornos mentais não psicóticos em mulheres
adultas violentadas por parceiro íntimo: uma revisão integrativa. Revista da Escola de
Enfermagem da USP, 52.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2014.

16
Lima, P. Buchele, A. & Clímaco, D. 2008. (2011). Crianças Vítimas de Violência:
representações e impacto do fenómeno. (A. Sani, Ed.). Porto: Universidade Fernando
Pessoa.

Westermeyer, J.; Willams, C. (1986), Refugees’ Mental Health Issues in Resettlement


Countries. New York: Hemisphere.

Who (2000), “Violence Against Women”. Fact Sheet Nº 239

Who (2001), “Child Maltreatment”. Fact Sheet Nº 150

Who (2005), Multi-Country Study On Women’s Health And Domestic Violence Against


Women

Outras fontes:

Coutinho, M. J., & Sani, A. I. (2008b). Evidência empírica na abordagem sobre as


consequências da exposição à violência interparental. Revista Da Faculdade de Ciências Da
Saúde, 5, 284–293. Retirado em 14/05/23 de: http://hdl.handle.net/10284/970

Lima, Daniel Costa, Buchele, Fátima, & Clímaco, Danilo De Assis. (2008). Homens,
Gênero E Violência Contra A Mulher. Saúde Soc. São Paulo, V.17, N.2, P.69-81, 2008.
Retirado em 14/05/23 de: Http://Www.Revistas.Usp.Br/Sausoc/Article/View/7578/9100;

Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) (2010). Retirado em 14/05/23 de:


http://www.apav.pt/portal/.

Dantas-Berger, S. M., & Giffin, K. (2005). A violência nas relações de conjugalidade:


invisibilidade e banalização da violência sexual? Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(2),
417–425. Retirado em 14/05/23 de: http://doi.org/10.1590/S0102-311X2005000200008

Figueiredo, B. (1998). Maus tratos à criança e ao adolescente (II): Considerações a


respeito do impacto desenvolvimental. Psicologia: Teoria, Investigação E Prática, 3, 197–
216. Retirado em 14/05/23 de: http://hdl.handle.net/1822/41713

Machado, T. (2009). Vinculação aos pais: retorno às origens. Psicologia, Educação E


Cultura, XIII(1). Retirado em 14/05/23 de: https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/15052

Ribeiro, M. C. O., & Sani, A. I. (2009). Risco, protecção e resiliência em situações de


violência. Revista Da Faculdade de Ciências Da Saúde, Porto: Edições Universidade
Fernando Pessoa, 6, 400–407. Retirado em 14/05/23 de: http://hdl.handle.net/10284/1294

17
Organização das Nações Unidas. Mulheres Brasil (2020). Violência contra mulheres e
meninas é pandemia invisível. Brasília (DF): ONU Mulheres Brasil. Retirado em 14/05/23 de:
https://www.onumulheres.org.br/noticias/violencia-contra-as-mulheres-e-meninas-e-
pandemia-invisivel-afirma-diretoraexecutiva-da-onumulhere

Organização Pan-Americana de Saúde (2020). OPAS/OMS Violência contra as Mulheres.


Retirado em 14/05/23 de: https://www.paho.org/pt/topics/violence-against-women

Organização Pan-Americana de Saúde (2018). OPAS/OMS. Depressão. Retirado em


14/05/23 de: https://www.paho.org/pt/topicos/depressa

Freitas et al. (2020) Consequências físicas e psicológicas da violência doméstica para a


saúde da mulher e para a vida escolar dos filhos. Revista Desenvolvimento Social, Montes
Claros, v.16, n.1, p. 19-32. Retirado em 14/05/23 de:

https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/article/view/2023.

Hatzenberger, Roberta et al. (2010) Transtorno de stresse pós-traumático e prejuízos


cognitivos em mulheres vítimas de violência pelo parceiro íntimo. Ciência e Cognição. Rio
de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 94-110. Retirado em 14/05/23 de:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S180658212010000200009&lng=pt&nrm=iso.
Modena, M. R. (2021). Conceitos e formas de violência. Caxias do Sul, RS: Educs.
Retirado em 14/05/23 de: https://www.ucs.br/site/midia/arquivos/ebookconceitos-
formas_2.pdf..

Nogueira, R. L. (2020) Impacto da violência psicológica sobre o cérebro. In: Pela paz em
casa: diga não à violência. Retirado em 14/05/23 de:

https://www.youtube.com/watch?v=VgXtfsnp8w&ab_channel=Dra.ReginaL
%C3%BAciaNogueira.

Oliveira, A. M.; Bergami, G. B. (2018). Esquemas desadaptativos de mulheres em


relacionamentos abusivos: uma discussão teórica. Revista Científica da Faculdade de
Educação e meio Ambiente, Ariquemes, v. 9,n. 2, p. 796-802, jul. /dez. 2018. Retirado em
14/05/23 de: http://www.faema.edu.br/revistas/index.php/Revista-FAEMA/article/view/637.

Rolim, E. A. (2020). Impacto que as relações abusivas causam nocérebro. Retirado em


14/05/23 de:

18
https://www.youtube.com/watch?v=HFkLiHRrK0s&ab_channel=ElianadeAgostiniRolim.

Santos, A. G.; Monteiro, C. F. S.(2018) Domínios dos transtornos mentais comuns em


mulheres que relatam violência por parceiro íntimo. Revista Latino-Americana de
Enfermagem. Ribeirão Preto, v. 26. e3099, Ribeirão Preto, nov. Retirado em 14/05/23
de:https://www.scielo.br/scielo.php?
pid=S010411692018000100385&script=sci_arttext&tlng=pt.

19

Você também pode gostar