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Ave-Marias

Cesário Verde
Índice

Biografia do autor Poema


01 02

Estrutura externa Estrutura interna


03 04
01
Biografia do
autor
Nascido em 1855 ,Cesário Verde
foi um poeta portugês, que foi,
considerado um dos muitos
percussores da poesia que foi
realizada em Portugal durante o
século XX. Acabou por falecer em
1886 com a doença da "época"
tuberculose.
Uma frustração que marcou Cesário teve a ver com os
conflitos mantidos em jornais e com autores consagrados
do tempo, tendo sido mal compreendido por quase todos.
Isso levou-o a lamentar, numa carta que, “literariamente,
parece que Cesário Verde não existe“. As contrariedades por
que Cesário se viu envolvido fizeram dele um isolado e um i
nconformista. Isso notou-sea nível das ideias (o projeto de
vida que desenvolveu), mas também no seu modo de
escrita, na sua criatividade e expressão estética.
02
Poema
Ave-Marias
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,


O gás extravasado enjoa-me, perturba-me;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,


Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!
Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,


De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos,
Embrenho-me a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

E evoco, então, as crónicas navais:


Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!
E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinido de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.

Num trem de praça arengam dois dentistas;


Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!

Vazam-se os arsenais e as oficinas;


Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.
Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.

Descalças! Nas descargas de carvão,


Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infeção!
03
Estrutura
externa
Tipo de composição poética

● Possui 11 quadras de quatro versos cada (quarteto);


● Composto por decassílabos e alexandrinos.

"Nas/nos/sas/ru/as/, ao/a/noi/te/cer ⇒ 10 sílabas métricas


Há/tal/so/tur/ni/da/de, há/tal/me/lan/co/li/a ⇒ 12 sílabas
métricas
Que as/som/bras/, o/bu/lì/cio, o/Te/jo, a/ma/re/sia ⇒12 sílabas
métricas
Des/per/tam-/me um/de/se/jo/abs/sur/do/de/so/frer" ⇒12 sílabas
métricas
Rima
● Emparelhada nos 2º e 3º versos
● Interpolada nos 1º e 4º versos

"Batem os carros de aluguer, ao fundo, ⇒A


Levando à via-férrea os que se vão. Felizes! ⇒B
Ocorrem-me em revista, exposições, países: ⇒B
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!" ⇒A
04
Estrutura
interna
Extrutura interna

Dividas em partes:

Primeira parte: estrofes 1 a 3


Segunda parte: estrofes 4 a 6
Terceira parte: estrofes 7 a 11
Primeira parte
Estado de
Tempo Espaço Personagens espírito do
autor
Melancolia e desejo
Conclui-se: muita absurdo (injustificado
Ao anoitecer Bulício, Tejo, maresia
gente nas ruas
de sofrer)

Aproximar da noite Céu baixo e de Infere-se a tristeza do


(edifícios onde se neblina, gás poeta, provocada pela
prepara o jantar e extravasado, edificios Turba (multidão) cor londrina.
pessoas a caminho de e chamines. Enjoo pelo gás.
casa Cor monótona
A felicidade dos que
partem, em
Ao fundo, carros de
oposição a
- aluguer, em direção - infelicidade dos que
ao comboio
ficam entre os quais o
poeta.
Segunda parte
Estado de
Tempo Espaço Personagens espírito do
autor
Ao cair das badaladas Infere-se a existência de
As casas de madeira
(velha tradição pessoas no interior das casas.
parecem gaiolas. São
anunciando o fim do como viveiro, nelas se
Os mestres carpinteiros, como -
trabalho com o toque dos morcegos abandonando o
amontoam as pessoas.
sinos). trabalho.
Os calafates, aos magotes, de O poeta, a cismar, por
Boqueirões, becos. Casi a jaquetão ao ombro,
- que se atracam botes. enfarruscados, secos,
boqueirões, por
becos.
regressam a casa.
Personagens de evasão: A realidade dura faz o
Tempo de evasão: recuo
Espaço de evasão: os mouros, heróis ressuscitados. poeta ter consciência
ao tempo dos
Descobrimentos. Camões a salvar Os Lusíadas a da necessidade que
Descobrimentos
nado. sente de evasão.
Terceira parte
Estado de espirito
Tempo Espaço Personagens
do autor
Infere-se a presença dos
No mar, vogam os
ingleses, nos
escaleres de O poeta declara-se
Fim de tarde. couraçados,os
um couraçado inglês. Em incomodado com o fim de
Hora de Jantar. privilegiados da sorte a
terra serve-se o jantar tarde.
jantar nos hotéis da
nos hotéis da moda.
moda.

Dois dentistas (arengam num


comboio de praça). Um
Um comboio de praça trôpego alerquim (um O Poeta revela simpatia
desfavorecido da
(onde discutem dois pelos desfavorecidos e
- dentistas). As varandas
sorte) braceja numas andas.
hostilidade para com os
Os querubins do lar (a
das casas.As lojas. criançada da a espera dos bafejados pela sorte.
pais , aos saltinhos,nas
varandas). Os comerciantes.
Terceira parte
Estado de
Tempo Espaço Personagens
espirito do autor
Conjectura-se: o Poeta
mostra ter consciência da
O operariado deixa o
vida miserável das varinas,
trabalho regressa a casa.
Arsenais e oficinas. O rio a mas também de que elas
- reluzir viscoso.
Asobreiras, apressadas. As
não têm consciência
varinas, em grupo,
disso (a felicidade está na
hercúlieas, galhofeiras.
ordem inversa da
consciência).

O Poeta compadece-se
com a vida das varinas e
As varinas, de troncos antevê a desgraçados seus
fortes como pilastras, agitam, filhos que prevê a
ao andar, as ancas opulentas. naufragarem nas
- -
Os seus filhos (que elas tormentas. O poeta,
embalam á cabeça), vão consciente, sofre pelas
dentro das canastras. varinas, que não revelam
ter consciência da
realidade que as afecta.
Terceira parte

Estado de
Tempo Espaço Personagens
espirito do autor
As varinas trabalharam, de
manhã à noite, nas descargas de
carvão, nas fragatas, vão
- - descalças. Estas moram num -
bairro sem condições (ai miam
gatas, o peixe podre gera focos
de infecções).
Linguagem e Estilo
Recursos
expressivos
● Enumeração - "Que as sombras, o bulício, o Tejo, a
Maresia" (est.1 verso 3)

● Sinestesia - "Cardume negro" (est.9 verso 3)

● Metafora - "Como morcegos, ao cair das badaladas,


Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros" (est.4
verso 3)

● Comparação - "Cor monótona e londrina" (est.2 verso 4)


05
Bibliografia
"Ave-Marias", de Cesário Verde - RTP
Ensina
https://www.passeiweb.com/o_sentimento_d
um_ocidenta/

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