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EMPREENDEDORISMO

Grandes empresas
estão na busca por
empreendedores
Buscar oportunidades, ser persistente e assumir riscos calculados são
algumas das características do comportamento empreendedor
indispensáveis para quem quer ser dono do próprio negócio. A novidade é
que essas habilidades também estão na mira dos caça-talentos das
grandes empresas.
Em setembro, a Natura lançou um processo seletivo voltado para
empreendedores, com o objetivo de contratar 20 pessoas para compor um
grupo multidisciplinar de trabalho que vai atuar nas frentes de inovação da
empresa. O único pré-requisito para o programa – chamado CorageN – era
que o candidato tivesse mais de 18 anos e perfil empreendedor. O anúncio
da seleção foi um sucesso e atraiu mais de 21 mil inscrições para o início
do trabalho dentro da Natura ainda em novembro.
Os 20 selecionados atuarão juntos por 20 meses, nos moldes de uma
startup, em projetos especiais dentro de um ambiente de aceleração na
empresa e não estarão conectados às estruturas formais de áreas e cargos.
Além disso, eles terão à disposição mais de 200 mentores da Natura e do
mercado em geral. A ideia é que o grupo atue em projetos que contribuam
com a Natura no processo de inovação da empresa, como na área de novos
projetos e de remodelagem de negócios.

“Estamos em um momento de transformação, de inovação, nos


reinventando em vários sentidos e buscando novas formas de fazer
negócios”, diz o coordenador de marca empregadora da Natura, Rafael
Campolina. “Uma dessas mudanças consiste em trazer pessoas de perfis
diferentes para dentro da nossa rede e o perfil empreendedor pode agregar
muito para esse movimento de mudança, essencial para as nossas ambições
e desafios para os próximos anos”, diz.
Outro aspecto desse programa, segundo Campolina, é que de fato funcione
a lógica de que as pessoas se realizem no trabalho, e possam encontrar
espaço e ambiente adequados para fazer coisas que as deixam felizes.
“Sabemos que para o empreendedor isso é indispensável, porque ele quer
sempre deixar a assinatura dele no que faz”, completa.

Movimento
O caso da Natura não é isolado. Atualmente, já existe um movimento
importante das empresas de buscarem profissionais com perfil
empreendedor, mesmo que isso não seja comunicado diretamente nos
processos seletivos. Para Wilma Dal Col, diretora do ManpowerGroup no
Brasil, empresa líder mundial em recursos humanos, em algumas posições,
as empresas têm até dificuldade de encontrar esse profissional.

“A dificuldade está no fato de que as empresas esperam um candidato com


uma postura mais ativa, mais empreendedora, aquela pessoa que não se
conforma com o processo se ele é improdutivo, que tem inconformismo de
querer fazer as coisas melhor”, afirma. Para a executiva, um profissional
com esse perfil agrega valor para a organização. “Ele questiona o que é
improdutivo, tem senso de colaboração porque entende que ele fez parte do
negócio, isso o torna mais efetivo porque tem um trabalho mais focado no
resultado, onde ele está altamente compromissado”, explica.

Na prática, um profissional com perfil empreendedor pode interessar às


empresas por trazer para dentro delas um comportamento típico de startups.
Para Guilherme Arradi, coordenador do Centro de Referência em
Economia Criativa do Sebrae-SP, as grandes empresas buscam alternativas
para inovar e para se manter mais competitivas em um mundo cada vez
mais dinâmico.

“Nas startups, o empreendedor se diferencia em dois aspectos: técnicas e


comportamentos. O startupeiro aplica diariamente processos ágeis de testar,
validar e implementar produtos e serviços,com equipes compostas por
habilidades complementares, os chamados squads”, diz Arradi. “Ao atuar
em mercados inovadores, esses empreendedores desenvolvem a capacidade
de resolver problemas complexos, trabalhar de maneira colaborativa com
criatividade, flexibilidade, entre outras qualidades que interessam a
qualquer modelo de negócio que quer ser competitivo no futuro”, completa.
E como as empresas – e os próprios profissionais – conseguem saber quem
tem o perfil empreendedor?

De acordo com o consultor de marketing do Sebrae-SP Leandro Reale, das


dez características essenciais do empreendedor, cinco são baseadas em
atitudes. “A busca por oportunidades, persistência, comprometimento com
o que faz, por exemplo, são pontos fundamentais para que apareça aí um
empreendedor de sucesso”, afirma. De acordo com o consultor, esse perfil
exato de empreendedor não existe. “Quando tratamos de inovação, ao
reunir pensamentos diferentes fazemos com que a heterogeneidade traga
mais ideias e o processo seja ainda mais inovador. Nesse ambiente é que a
criatividade surge como uma busca real de resultado, que vai ser o que vai
manter esse negócio lucrativo”, destaca.

Como incentivar o
empreendedorismo na sua
empresa
Entenda o que fazer e o que não fazer para que algo verdadeiramente
novo e empreendedor nasça dentro da sua empresa
Por André Rezende*
Pessoas com espírito empreendedor dentro das empresas são um recurso
muito valioso: atitude de dono, paixão pelo negócio, autoconfiança, otimismo,
vontade de realizar, criatividade, perseverança, visão de conjunto e
proatividade são características valiosas que toda empresa ou instituição
deveria buscar em seus líderes atuais e futuros.

Saber identificar e desenvolver estes atributos entre os membros de sua equipe


cria uma vantagem competitiva verdadeiramente sustentável para qualquer
negócio. Criar um ambiente onde estas pessoas se sintam valorizadas,
realizadas e utilizando seu potencial pode levar muito longe qualquer
organização.

Os negócios atuais de uma empresa sem dúvida se beneficiam tremendamente


de contar com gente com o perfil descrito acima, mas fazer nascer algo
verdadeiramente novo dentro de uma organização estabelecida é um desafio
que inclui outros aspectos. A empresa estabelecida que quer manter-
se empreendedora e inovadora deve fazer um esforço consciente neste sentido,
caso contrário as demandas da operação sugarão todos os recursos de gestão
disponíveis.
Observe que falei de recursos de gestão, não de recursos financeiros. Para uma
empresa lucrativa e geradora de caixa pode ser relativamente simples alocar
determinado valor para uma nova iniciativa de negócios, é basicamente uma
decisão orçamentária. Já garantir que esta nova iniciativa tenha a atenção
necessária por parte da alta gestão da empresa e que não morra por falta de
atenção é um desafio bem diferente. Peter Drucker, meu guru maior, tem
algumas sugestões sobre o que fazer e o que não fazer.

Primeiro, o que fazer:


1. Organize o que é novo em separado do que é velho e existente, caso
contrário as pessoas darão atenção significativa somente ao que garante a
sobrevivência da empresa hoje, o que é perfeitamente natural e saudável.

2. Dê destaque ao que é novo, mesmo tendo em vista que, durante algum


tempo, só haverá consumo de recursos, na maior parte das vezes. Devem
haver “padrinhos” na alta gestão da empresa que, mesmo com dedicação
parcial, sejam responsáveis em fazer dar certo o que é novo e possam ser
cobrados por isto.

3. Reconheça que o que é novo talvez precise que recursos sejam apropriados
com um retorno previsto mais distante. É uma coisa nova, provavelmente
serão necessárias correções de rumo e há riscos. É provável que alguma
perseverança seja necessária. Do contrário, não seria empreendedorismo.
Agora, o que não fazer:
1. Não misture unidades administrativas e unidades empreendedoras. Não se
pode dar responsabilidade de inovar a pessoas que precisam explorar e
otimizar o que já existe.

2. A organização existente deve empreender e inovar em um caminho onde já


tenha vantagens e conhecimento. Não se trata de diversificar o negócio e sim
de aproveitar oportunidades onde possua vantagens competitivas. Como diz
Drucker, “o novo é sempre difícil o bastante para que não se deva tenta-lo em
uma área que não compreendemos”.

3. Na opinião de Drucker, raramente a aquisição de um novo negócio


empreendedor é um substituto para a atividade empreendedora que nasce
dentro da organização existente. Uma organização que não sabe ser
empreendedora rapidamente sufocará as características empreendedoras que
buscava ao adquirir o outro negócio.

Manter as características empreendedoras nas organizações existentes cria


excelentes oportunidades de expansão, ajuda a reter os talentos e ocupa os
espaços na vizinhança do negócio principal. No prazo longo, pode ser a
garantia de sobrevivência da companhia.

*André Rezende é fundador e presidente da Prática Fornos e Empreendedor


Endeavor desde 2008.

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