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Pancreática
e Hepática
SUMÁRIO
AVALIAÇÃO PANCREÁTICA ........................................................................................4
Referências ...................................................................................................................32
AVALIAÇÃO PANCREÁTICA
O pâncreas é uma glândula que pode ser dividida em pâncreas exócrino, constitu-
ído pelos ácinos pancreáticos que produzem e secretam enzimas digestivas no duo-
deno, e pâncreas endócrino, constituído pelas ilhotas de Langerhans, que produzem
hormônios e secretam na corrente sanguínea.
1. FUNÇÃO ENDÓCRINA DO
PÂNCREAS
No indivíduo adulto, o pâncreas endócrino consiste em aproximadamente um
milhão de ilhotas de Langerhans distribuídas por toda a glândula, porém representa
apenas 1-2% de toda massa pancreática. No interior das ilhotas possuem 3 tipos ce-
lulares principais que recebem destaque por sua produção hormonal.
As células Alfa correspondem a 25 % de todas as células da ilhota, produzem glu-
cagon, hormônio hiperglicemiante, com ação contrária à da insulina. Ele estimula a
glicogenólise (degradação do glicogênio em glicose) no fígado, a fim de aumentar a
glicose sanguínea.
As células Beta, correspondem a 60% do total, produzem a insulina, hormônio hi-
poglicemiante (responsável por colocar a glicose da corrente sanguínea para dentro
da célula), anabólico e de armazenamento do excesso de energia, interferindo no
metabolismo dos carboidratos, das gorduras e proteínas.
As células Delta representam 10% do total, produzem a somatostatina, inibidor
universal das células secretoras. A somatostatina ali produzida, por sua vez, agirá
no próprio tecido pancreático – Ilhotas de Langherans – como um potente inibidor
da secreção de insulina e do glucagon.
Amilase
Como dito anteriormente, a amilase é a enzima responsável pela lise de amido,
dando origem a polissacarídeos menores, etapa fundamental do processo de diges-
tão e absorção de carboidratos. Semelhante à amilase salivar, a pancreática - uma
endoamilase - age como produtos de sua atividade enzimática, teremos maltoses,
Lipase
A principal função da lipase pancreática é hidrolisar triglicerídeos em glicerol
e ácidos graxos livres. Ao contrário da amilase, a lipase pode ser reabsorvida nos
túbulos renais, o que aumenta sua meia-vida (6,9 a 13,7 horas). A lipase é principal-
mente sintetizada e armazenada como grânulos nas células acinares pancreáticas.
Sua atividade depende da presença de outra enzima, a colipase, que facilita a liga-
ção a gotículas de triglicerídeos e evita que seja desativada pelos sais biliares. A
lipase eleva-se duas a doze horas após início dos sintomas, com pico em 24 horas,
mas, em contraste com a amilase, continua elevada por um período mais prolon-
gado, de sete a dez dias. Possui sensibilidade de 50 a 99% e especificidade de 86 a
100%, sendo mais específica do que a amilase no diagnóstico de pancreatite aguda.
Os intervalos de referência variam consideravelmente, dependendo do laboratório.
Enzima responsável pela digestão de carboidratos Enzima responsável pela digestão de gorduras
Legenda: Organização esquemática em fluxograma para encadear a investigação da elevação das enzimas pancreáticas. Inicialmente, em três grandes grupos: elevação isolada de amilase, elevação isolada de lipase
ou elevação simultânea das duas enzimas. Em seguida, são apresentadas na coluna vertical ao lado, as principais causas para cada grupo e, em vermelho, algumas características específicas de cada causa.
Elastase sérica
Após sua produção nas células acinares do pâncreas, diante de quaisquer infla-
mações e lesões parenquimatosas desse órgão, a elastase é secretada na corrente
sanguínea. Dessa forma, por ser produzida exclusivamente pelo pâncreas, a elas-
tase sérica seria um marcador ideal de disfunção pancreática, seja na pancreatite
aguda ou durante episódios de agudização de pancreatites crônicas. Ainda, a elas-
tase possui meia vida mais longa quando comparada às demais enzimas pancre-
áticas (amilase e lipase). Nos testes empregados atualmente, para o diagnóstico
de pancreatites, sua sensibilidade é de 100% e sua especificidade, 96%. Agora,
você pode estar se perguntando: “E por que solicitamos amilase e lipase ainda?”.
Infelizmente, por possuir maior custo, a elastase sérica não está presente em nossa
prática clínica.
Síntese
Excreção
Por vezes, os rins figuram em nosso repertório como os únicos órgãos capazes
de fazer a excreção de metabólitos nocivos ao organismo. Contudo, catabólitos hi-
drossolúveis grandes e moléculas que estejam acopladas a proteínas plasmáticas
não possuem excreção renal e serão compostos da bile produzida pelo fígado. Os
processos de excreção hepática podem se resumir a dois grandes fenômenos: o
metabolismo da bilirrubina e a formação da bile, a ser excretada pelas vias bilia-
res até o trato gastrointestinal. Antes de mais nada, é fundamental compreender
quem é a bilirrubina. Nesse sentido, vamos relembrar que os eritrócitos – nossas
hemácias – são células que duram aproximadamente 120 dias na corrente san-
guínea antes de serem destruídas no baço. Na lise das hemácias, o grupo heme da
hemoglobina será capturado por células como macrófagos e células de Kupffer, no
fígado. Nessas células, um maquinário enzimático irá converter hemoglobina em
biliverdina, e biliverdina em bilirrubina. Essa bilirrubina – “livre/indireta” – circula
na corrente sanguínea atravessando, inclusive, a barreira hematoencefálica. No
fígado essa bilirrubina chamada de indireta ou não conjugada passa pelo proces-
so de conjugação e então é chamada de bilirrubina direta ou conjugada, e então é
excretada juntamente com a bile. A bile, então, será armazenada na vesícula biliar
e, majoritariamente, secretada pelas vias biliares até o trato gastrointestinal. Os
ácidos biliares de sua composição, ainda que sem função enzimática, desempenha-
rão papel importante na digestão de lipídios da dieta por agirem como detergentes,
diminuindo gotículas de gordura e facilitando seu processamento. Por outro lado, é
a bilirrubina ali presente que dará a coloração habitual – marrom – das fezes. Logo,
Metabolização
O fígado é responsável pela modificação química de várias substâncias, incluindo
hormônios endógenos e medicamentos. Essa transformação química, na maioria
das vezes, inativa a substância em questão, mas, em determinados casos, essas
substâncias passam para a forma ativa após metabolização hepática. Dessa forma,
toda substância exógena tem passagem obrigatória pelo fígado antes de chegar a
outros sistemas do corpo humano. Alguns exemplos de substâncias que devemos
ter em mente que possuem sua primeira passagem pelo fígado são os remédios
que prescrevemos, toxinas do ambiente e álcool. O fígado, por sua vez, está apto a
fazer a metabolização – inativação e eliminação dessas substâncias – por conter
no interior de seus hepatócitos o citocromo P450. Este nada mais é do que o nome
dado a uma família de enzimas responsáveis por catabolizar processos de desinto-
xicação. Talvez o exemplo mais famoso disso seja o álcool, amplamente consumido
na sociedade ocidental ainda que extremamente tóxico. Apesar de sua nocividade,
há níveis de consumo alcóolico em que o fígado consegue processá-lo, transfor-
mando-o em ácido acético, menos tóxico e passível de excreção pela urina.
Por outro lado, o fígado também é responsável pela metabolização de substân-
cias endógenas, incluindo hormônios como a insulina, prevenindo acúmulo de tais
moléculas na corrente sanguínea. Outra importante função de desintoxicação é a
transformação da amônia em ureia – o ciclo de Krebs-Henseleit: a digestão das
proteínas na luz intestinal (ação bacteriana) resulta na formação de amônia (NH3),
que é absorvida e convertida em ureia no fígado. A ureia é uma substância muito
menos tóxica do que a amônia e, além disso (por ser hidrossolúvel), é prontamente
eliminada pelos rins.
ALT e AST
A lesão dos hepatócitos leva à liberação na corrente sanguínea de enzimas in-
tracelulares tais como as aminotransferases. As mais comumente utilizadas como
exames laboratoriais na avaliação de lesão hepática são a alanina-aminotransfera-
se (ALT) [ou transaminase glutâmico-pirúvica-TGP] e a aspartato-aminotransferase
(AST) [ou transaminase oxaloacética TGO].
Os valores de referência variam amplamente entre os laboratórios, e diferem en-
tre homens e mulheres, tendo níveis mais elevados no público masculino. A AST é
uma enzima mitocondrial e está presente no fígado e em outros órgãos, incluindo
músculo cardíaco, músculo esquelético, rim e cérebro. A ALT é uma enzima citossó-
lica, está presente principalmente no fígado e, portanto, é um marcador mais espe-
cífico do que AST na lesão hepatocelular. Os níveis das elevações das enzimas não
se correlacionam com a gravidade da doença.
As aminotransferases séricas são elevadas na maioria das doenças hepáticas,
mas também podem ser elevadas em distúrbios extra-hepáticos. Dentre as causas
hepáticas podemos citar as hepatites virais, hepatite autoimune, doença hepática
alcoólica, doença hepática gordurosa não alcoólica, medicamentos e drogas ilícitas
e doenças metabólicas (doença de Wilson, hemocromatose, deficiência de 1-an-
titripsina.). Algumas causas de elevação de origem extra hepática são: desordens
musculares hereditárias ou adquiridas, exercícios extenuantes, falência cardíaca e
doença celíaca.
A magnitude das elevações de AST e ALT varia dependendo da causa da lesão
hepatocelular.
• Na doença hepática gordurosa alcoólica (DHGA), AST pode assumir valores 8x
maiores que o limite superior, enquanto a ALT, cerca de 5x maiores que o limite.
Já na doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA), a elevação de ALT e
AST podem ficar entre 2 a 4 vezes o limite superior. É importante notar que es-
ses valores estão frequentemente associados à sintomatologia dos pacientes,
ou seja, para pacientes assintomáticos e para pacientes com manifestações
evidentes da doença, os valores laboratoriais esperados são diferentes.
• Na hepatite viral aguda ou hepatite relacionada a toxinas com icterícia, temos
elevação importante das aminotransferases, a AST e ALT > 25 vezes o limite
superior do normal.
• Ainda que menos conhecidas que as esteatoses hepáticas, as causas para
aumento mais importante das enzimas AST e ALT – cerca de 50 vezes o limi-
te superior de normalidade, estão as hepatites isquêmicas (fígado de choque,
Podemos perceber dessa forma que os maiores níveis das enzimas hepáticas
são encontrados nos casos de hepatite isquêmica, hepatite viral aguda e hepatite
relacionada a toxinas como por exemplo a intoxicação por acetominofeno (parace-
tamol). Já na doença hepática gordurosa alcóolica e não alcóolica os níveis tendem
a ser mais baixos.
Gama GT
A Gama-Glutamil Transferase (“Gama-GT” ou “GGT”) é uma enzima de impor-
tância clínica por sua concentração sérica nos informar sobre acometimentos das
doenças do fígado e das vias biliares, ainda que sua maior concentração esteja no
tecido renal. Por ser um marcador sensível ao comprometimento da função hepa-
tobiliar, a GGT é comumente solicitada na avaliação destes doentes. Contudo, sua
baixa especificidade termina por limitar sua utilidade. Níveis elevados de gama-GT
são encontrados em uma variedade de condições patológicas, tais como, doença
pancreática, infarto agudo do miocárdio, doença pulmonar obstrutiva crônica, dia-
betes e alcoolismo. Outras causas frequentes para o aumento da GGT é, seja em
portadores de DHGNA ou não, o ganho ponderal importante e, por outro, o uso de
fenitoína ou barbitúricos, dentre outros medicamentos.
Por fim, a GGT também é utilizada para nos assegurar que um aumento da
fosfatase alcalina é de fato proveniente de hepatopatia, em detrimento de outras
etiologias. Ainda, a GGT pode embasar uma suspeita de etilismo em indivíduo que
apresente AST elevada e uma relação AST/ALT > 2.
LDH
O lactato desidrogenase (LDH) é uma enzima citoplasmática presente nos teci-
dos do corpo. Esse teste não é tão sensível quanto as aminotransferases séricas
na doença hepática e apresenta baixa especificidade diagnóstica. No passado, era
usado como marcador de infarto do miocárdio (embora não seja mais utilizado para
esse fim) e é um marcador de hemólise. Em pacientes com lesão hepatocelular agu-
da, um nível sérico acentuadamente elevado de LDH distingue hepatite isquêmica
(razão ALT / LDH menor que 1,5) da hepatite viral (razão ALT / LDH maior ou igual a
1,5) com sensibilidade e especificidade de 94 e 84 por cento, respectivamente. Um
nível sérico elevado de LDH é um marcador prognóstico adverso em pacientes com
melanoma metastático e pode ser a primeira indicação de metástases hepáticas.
Bilirrubinas
O hepatócito desempenha um papel importante no metabolismo da bilirrubina,
sendo dividido em 3 fases:
• Captação;
• Conjugação;
• Excreção.
A etapa limitante do processo é a fase 3 (excreção), pois para sua realização é
necessária a utilização de ATP, sendo a fase mais suscetível e a primeira a sofrer
quando ocorre dando nas células hepáticas.
Captação
No processo de captação, a bilirrubina ligada à albumina, chamada de indireta ou
não conjugada é captada pelos hepatócitos, sendo então dissociada da albumina e
se ligando a proteínas citoplasmáticas com o objetivo de não retornar para circula-
ção sanguínea.
Excreção
Após ser conjugada, essa bilirrubina precisa ser excretada para os canalículos bilia-
res para se juntar à bile. Para tal processo é necessário o uso de ATP, por isso chama-
mos atenção lá em cima de que esta é a etapa limitante, pois após um dano hepático e
menor disposição de ATP, esse processo não poderá ser concluído e teremos acúmulo
de bilirrubina direta no hepatócito, que irá retornar para corrente sanguínea.
Quando todo o processo é realizado e tudo deu certo, a bilirrubina se junta à bile
que será jogada no duodeno através da papila de vater. No intestino a bilirrubina
pode seguir dois caminhos, pode ser excretada nas fezes ou ser metabolizada em
urobilinogênio (maior parte) pelas bactérias presente no intestino grosso. O urobili-
nogênio é uma substância altamente solúvel, uma pequena parte é reabsorvida para
o fígado e circulação sanguínea através da mucosa intestinal e é posteriormente
eliminada pelos rins ou secretada novamente na bile. Após exposição da urina ao ar,
o urobilinogênio se oxida em urobilina, enquanto nas fezes, após oxidação, transfor-
ma-se em estercobilina, contribuindo para as colorações características da urina e
das fezes. O metabolismo da bilirrubina está resumido na figura a seguir..
Oxidação
3. Excreção UDP
glicuronitransferase
2. Conjugação
A icterícia pode ser originada a partir de diversas condições e doenças, para faci-
litar o raciocínio vamos classificá-las partir de 5 mecanismos básicos:
Doença hepatocelular
Infecção
Jejum prolongado
Diminuição Hemólise
Superprodução
da captação
Icterícia Neonatal
Síndrome de
Estenose Fisiológica (imaturidade
Dubin-Johnson enzimática do fígado)
Deficiência Adquirida da
Icterícia Colestática
Calculose UDP-GT (medicamentos,
da Gravidez
doença hepatocelular)
Síndrome de Gilbert
Colestase Intra-Hepática
Tumor (deficiência parcial
Recorrente (Benigna) da UDP-GT)
Crigler-Najjar tipo II
Colestase Induzida por
Corpo estranho (deficiência grave
Medicamentos da UDP-GT)
Infecção Crigler-Najjar tipo I
(ausência da UDP-GT)
Doença Hepatocelular
Síndrome de Rotor
Legenda: Resumo das principais causas de hiperbilirrubinemia. Acima, duas principais etiologias:
diminuição da captação de bilirrubina ou um excesso de sua produção. Por outro, abaixo, temos ou-
tros três eixos etiológicos possíveis: alterações da sua excreção, obstrução das vias biliares ou dimi-
nuição da sua conjugação hepática.
Albumina
A albumina é a proteína plasmática mais abundante. Aproximadamente 300 a
500 g de albumina são distribuídos nos fluidos corporais, e o fígado adulto médio
sintetiza aproximadamente 15 g por dia (200 mg/kg por dia). A taxa de síntese pode
dobrar em situações nas quais há uma rápida perda de albumina ou uma queda na
concentração sérica de albumina. A síntese e a função da albumina são reguladas
por uma variedade de fatores, incluindo estado nutricional, pressão oncótica sérica,
citocinas e hormônios. A meia-vida da albumina no soro é de aproximadamente 20
dias, com 4% do pool total de albumina sendo degradado diariamente.
5. AVALIAÇÃO DA METABOLIZAÇÃO
HEPÁTICA
Existem testes para a avaliação da metabolização hepática, como por exemplo, a
capacidade de eliminação da galactose, porém este não é disponível no Brasil.
• ALT:
• Homem: 10 a 55 unidade internacional / L.
• Mulher: 7 a 30 unidades internacionais / L.
• AST:
• Homem: 10 a 40 unidades internacionais / L.
• Mulher: 9 a 32 unidades internacionais / L.Gama-GT:
• Homens: 8 a 61 unidade internacional / L.
• Mulher: 5 a 36 unidades internacionais / L.
• LDH:
• Bilirrubina total: 0,0 a 1,0 mg / dL.
• Bilirrubina direta: 0,0 a 0,4 mg / dL.
• Bilirrubina indireta: 0,0 a 0,6 mg/dL.
• Tempo de protrombina (TP): 11,0 a 13,7 segundos.
• Albumina: 3,3 a 5,0 g / dL (33 a 50 g/L).
Legenda: Mapa mental com o resumo de todos os tópicos abordados neste supermaterial. Acima, os principais testes laboratoriais pertinentes à avaliação pancreática.
Abaixo, os testes pertinentes à avaliação hepática. Em vermelho, algumas particularidades de cada teste e suas indicações.
Referência da Imagem*:
Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://
www.shutterstock.com/pt/image-photo/man-checking-his-health-condition-
-yellowish-1186032016 >. Acesso em: 22 de janeiro de 2023.
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